ࡱ> `}bjbj:c%v.T8<R4Wv"uuuuuuu$ whuy2ummmuu44t4t4tmu4tmu4t4t4t P71*p4tu$v<Wv4tzrz4tz4tTn"64tKdB]uus^Wvmmmm$ $ A morte e os funerais de presidentes como momentos de reescrita de suas biografias e da memria nacional Douglas Attila Marcelino* Resumo: Esta pesquisa procura refletir sobre a morte e os funerais de presidentes como instrumentos para a anlise das reconstrues da memria nacional. Ela parte da perspectiva de que tais episdios constituem momentos favorveis reescrita da biografia do morto ilustre e de uma determinada verso da histria do pas. O caso escolhido para estudo foi o da morte e dos funerais de Tancredo Neves. Seu adoecimento e morte pouco tempo antes de assumir a presidncia da Repblica, num momento considerado crtico da histria do pas, tiveram papis importantes na ampla veiculao de uma representao da nao com forte carga emocional e alto grau de identificao coletiva. Ao mesmo tempo, difundiam-se representaes que reconstituam sua trajetria, auxiliando na veiculao de imagens heroicizadoras e santificadoras da sua personagem. Palavras-chave: Tancredo Neves; memria nacional; Nova Repblica Abstract: This research studies the death and the republican Brazilian presidents' funerals as instruments for the analysis of the reconstructions of a national political memory, understanding such episodes as favorable moments for the production of a certain biography of the illustrious dead and for the reconstruction of a certain version of the history of the country. This text is centered in the case of Tancredo Neves. The elect president's death, on the eve of the call "New Republic", was important in the projection of a representation of the nation with strong emotional load and high degree of collective identification. On the other hand, an image of Tancredo Neves as the only capable of to solve the national political crisis it was built. Key-words: Tancredo Neves; national memory; New Republic No so muitos os estudos sobre os rituais e liturgias cvicas da histria brasileira mais recente, sobretudo se consideradas somente as pesquisas sobre os cerimoniais fnebres de importantes figuras polticas do perodo republicano. Esses, entretanto, constituem momentos importantes para a anlise das reconstrues da memria nacional, particularmente no caso dos funerais de um presidente da Repblica, quando as atenes dos principais meios de comunicao do pas se voltam todas numa mesma direo. A morte e os funerais de Tancredo Neves compem um momento privilegiado para esse tipo de anlise, pois, aos elementos mencionados, assomaram-se as peculiaridades da conjuntura poltico-institucional do pas, que envolviam no apenas o fim da ditadura militar, mas tambm o surgimento de enormes expectativas num projeto de reconstruo da Repblica (a anunciada Nova Repblica, que predizia a chegada de um novo tempo no qual as verdadeiras intenes dos heris do movimento de novembro de 1889 poderiam ser efetivamente levados a cabo). A enorme frustrao dessas expectativas que a morte do presidente eleito gerava, assim como as incertezas e temores advindos da possibilidade do retorno a uma situao em que predominavam solues autoritrias para os problemas do pas, ajudavam a transformar aquele num evento marcadamente excepcional, conforme se poder perceber por uma sucinta descrio de alguns dos seus principais episdios. Avaliado em cerca de dois milhes de pessoas, o cerimonial de homenagem ao presidente que faleceu antes de assumir o poder foi o maior do pas em nmero de populares presentes, ultrapassando at mesmo o de Getlio Vargas. Marcado por gestuais simblicos bastante singulares, como a farta utilizao dos smbolos nacionais por parte da populao, o enterro de Tancredo Neves contrastava com a sisudez e a discrio presente nos funerais de alguns dos generais-presidentes do regime que ento se encerrava. Diferentemente desses casos, nos quais uma meticulosa ordenao cerimonial geralmente procurava contrabalanar a pouco expressiva participao da populao, a ritualstica de homenagem a Tancredo Neves conjugava um excessivo aparato simblico de panteonizao com a informalidade tpica das manifestaes populares. Assim, alm do grande nmero de pessoas, os cerimoniais contaram com o maior aparato militar utilizado para homenagear um chefe de Estado e seus restos mortais percorreram o mais extenso trajeto j feito no cortejo fnebre de um presidente brasileiro, passando por quatro cidades diferentes: So Paulo, Braslia, Belo Horizonte e So Joo del Rei. Expressando as reconfiguraes da sua imagem que permearam o perodo logo anterior sua morte, as cerimnias fnebres conjugavam sentidos intensamente atribudos sua figura, simultaneamente representada como um grande estadista e algum bastante prximo, um heri nacional e um homem comum do interior de Minas Gerais. Aqueles momentosos eventos, nesse sentido, constituam uma espcie de pice de um processo simblico que colocou em jogo tambm a prpria identidade nacional, impulsionando a construo de representaes sobre o pas com forte grau de identificao coletiva. Interrogar-se sobre as imagens de Tancredo Neves construdas no perodo e as reelaboraes por que passava a memria nacional o principal objetivo da pesquisa que estamos desenvolvendo. De fato, a prolongada agonia do mrtir da democracia, diariamente transmitida pelos meios de comunicao, serviu para acentuar a dramaticidade ganha pelo evento, que contou com cenas inusitadas, como as que antecederam a sada do corpo de So Paulo, prenunciando as quebras de protocolos e as manifestaes simblicas que depois tambm marcariam os cortejos de Braslia, Belo Horizonte e So Joo del Rei: Na dor e no silncio em frente ao Instituto do Corao, ouvia-se at um canto de um bem-te-vi (...). Mas o caixo apareceu sobre o carro do corpo de bombeiros e comeou a exploso dos gritos, palmas, cnticos, refres. O povo, em massa compacta, correndo, afastou os batedores e outros carros: tomou, fora, o privilgio de escoltar a urna morturia por mais de dez quilmetros. Diante do obelisco e do mausolu do silncio do soldado constitucionalista, vagas humanas ocupavam todos os espaos, compondo a maior manifestao cvica que So Paulo j conhecera. Segundo os jornais do perodo, a multido que aguardava em frente ao Instituto do Corao se conteve apenas num primeiro momento, passando em seguida a tomar conta de tudo, atravessando as barreiras dos esquemas de segurana, afastando os batedores e ditando, com sua dor coletiva e sua emoo, seu prprio cerimonial: os carros oficiais foram esquecidos e o caminho vermelho do corpo de bombeiros foi acariciado e protegido. A urna morturia foi acompanhada por um nmero imenso de populares que, correndo, andando, cantando, chorando, a conduziram por mais de dez quilmetros, conformando, segundo a revista Manchete, um cortejo sem precedentes na histria do pas. Assim, nem Getlio Vargas, que deu um tiro no corao em 1954, nem Juscelino Kubitscheck, que morreu num acidente de automvel em 1976, conseguiram reunir multido to grande. Aps o cortejo de So Paulo, o esquife seguiu para Braslia, onde cenas semelhantes puderam ser observadas. Ali, mais do que nas outras cidades, o cerimonial em sua homenagem remetia simbologia do poder do Estado, solidificada nas construes arquitetnicas da capital, onde a ritualizao poltica ganhava real significado. Envolto na bandeira nacional, o corpo de Tancredo Neves foi velado no salo nobre do Palcio do Planalto, aps uma missa celebrada por D. Luciano Mendes ter destacado sua atuao como pacificador do pas. Alm da subida da rampa do Palcio (feita nos ombros de cadetes da Marinha, do Exrcito e da Aeronutica), a elaborao de uma rplica da faixa presidencial para ser colocada no corpo inanimado de Tancredo Neves simbolizava seu empossamento na Presidncia da Repblica. Por outro lado, as movimentaes populares em sua homenagem assumiam o significado de uma retomada de Braslia das mos dos militares, que passava a ser reivindicada juntamente com outros smbolos nacionais: ao passo que o Palcio do Planalto era, pela primeira vez, aberto ao acesso popular, uma manifestao na Praa dos Trs Poderes demandava que a imensa bandeira nacional inaugurada no governo Mdici fosse posta a meio-pau para sinalizar o luto nacional. A morte de Tancredo Neves acontecia num momento em que despontava o que muitos analistas chamaram de clima de renovao cvica ou de retomada dos smbolos nacionais pelos populares, conforme j tinha se evidenciado no comeo do ano anterior, por conta das grandiosas manifestaes da campanha pelas eleies diretas. Agora, mais do que nunca, os funerais de um presidente assumiam novas feies, acentuando a conjugao do extremo ordenamento que compe um ritual fnebre com a informalidade advinda das emotivas manifestaes populares (conforme j se tinha presenciado nas exquias de presidentes como Getlio Vargas e Juscelino Kubitschek). Eventos como o canto Um, dois, trs, quatro, cinco, mil, Tancredo continua presidente do Brasil! e o uso pouco solene dos smbolos nacionais so demonstrativos do que tambm aconteceu no cortejo da capital: Protegidos do sol por uma imensa bandeira do Brasil, o povo que caminhava na contramo, indo ao encontro do corpo, parou defronte rodoviria. Eram 14h 5min, a bandeira foi esticada no cho, enquanto se cantava o Hino Nacional. No final, quando algum quis ensaiar palmas, diluram-se todos os rudos e fez-se um minuto de silncio. A caminhada foi reiniciada, com a bandeira iada no prprio povo. O povo unido jamais ser vencido; O povo na rua, a luta continua, proclamavam em unssono. Antes da cerimnia religiosa do Palcio do Planalto, o corpo de Tancredo Neves tinha percorrido uma caminhada de mais de quatro horas iniciada no Aeroporto de Braslia, onde foram freqentes cenas de choro convulsivo ou mesmo de desmaios repentinos. Os meios de comunicao afinados com os ideais da Nova Repblica (conforme defendidos por Tancredo, que pregava a passagem democracia a partir da conciliao, e no do conflito), claro est, aproveitavam o momento para dar maior evidncia s atitudes que denunciavam o clima de patriotismo e civismo que marcava aquela conjuntura. Essa era, certamente, a melhor forma de manter vivas as teses esposadas por Tancredo Neves, conforme pode ser visto nas matrias de revistas como Manchete, ou mesmo nas cenas selecionadas pelo Jornal do Brasil: a bandeira de 200 metros quadrados que subiu a rampa do Congresso no dia da eleio de Tancredo reapareceu ontem em Braslia, conduzida pelos mesmos jovens que, no se sabe ao certo como, conseguem tom-la emprestada ao Palcio do Planalto. Depois das solenidades da capital federal, os restos mortais do presidente eleito seguiram ainda para Minas Gerais, passando pela capital mineira e por sua cidade natal, So Joo del Rei. Em Belo Horizonte, a agitao popular provocou tumultos e acidentes em frente ao Palcio da Liberdade devido ao empurra-empurra das pessoas que queriam ver de perto a urna morturia. A confuso levou a viva Risoleta Neves a discursar pedindo calma aos presentes, o que aumentou ainda mais a aura de herona que vinha sendo criada em torno de sua figura (como, alis, j tinha acontecido com Sarah Kubitschek por ocasio da morte de Juscelino). Aps a chegada do esquife em So Joo del Rei, as solenidades de homenagem a Tancredo Neves se descolaram da simbologia do poder estatal para adentrar mais intensamente na atmosfera religiosa: ali, o cerimonial da presidncia se encerrou e toda a liturgia ficou a cargo da Venervel Ordem Terceira de So Francisco de Assis, da qual ele tinha sido ministro jubilado. Reeditando um cerimonial j bicentenrio na cidade, o corpo de Tancredo Neves foi enterrado no cemitrio que fica atrs da igreja da irmandade, onde estavam sepultadas sete geraes da famlia Neves. Contraditando com o cerimonial de Braslia, aquele foi um ritual projetado para a participao dos familiares e dos amigos, que dariam seu ltimo adeus ao presidente (grau de intimidade que, na pequena So Joo del Rei, poderia ser expandido simbolicamente para todos os so-joanenses). A grande quantidade de pessoas presentes para velar o corpo, entretanto, acabou atrasando o desfecho do ritual, transformando aquela que deveria ser uma solenidade mais restrita num cerimonial bem maior do que o planejado. De qualquer modo, toda a liturgia e os elementos simblicos mobilizados remetiam proximidade com o presidente eleito, celebrando-se menos o estadista do que o homem comum do interior de Minas Gerais, o membro da famlia Neves, cujas geraes anteriores j tinham fincado razes duradouras naquela cidade interiorana. Ali homenageava-se o Dr. Tancredo, forma de tratamento que, embora j fosse utilizada anteriormente e remetesse para sua antiga atuao como advogado na regio, passou a ser repetida com mais freqncia aps seu adoecimento, sugerindo um forte grau de intimidade com sua figura. Com o cerimonial de So Joo del Rei, as solenidades feitas para celebrar a figura do estadista, do heri nacional, foram complementadas com as homenagens que remetiam mais s imagens do santo e do amigo, sentidos cujo adoecimento e morte de Tancredo Neves tinham tornado muito mais freqentes no noticirio nacional. Na verdade, no havia maior contradio entre aquilo que se tinha verificado na conjuntura anterior aos funerais e o esposado nas cerimnias. Desde fins dos anos 1970, um processo de reelaborao da biografia de Tancredo Neves se encontrava em curso, no obstante as mudanas simblicas mais efetivas na construo de representaes acerca da sua personagem tenham ganhado mais espao j nos anos 1980. Momentos como aqueles que sucederam sua candidatura Presidncia da Repblica, sua vitria no Colgio Eleitoral e, particularmente, a internao na vspera da posse, constituem marcos fundamentais nos quais imagens de sua suposta heroicidade e santidade se fortaleceram. Do mesmo modo, sua morte e seus funerais conformaram o auge desse processo de construo simblica, que tambm colocava em jogo representaes acerca da prpria coletividade nacional. Reconstituir essas reelaboraes da sua imagem e as releituras da histria nacional que elas ensejavam, portanto, o objetivo da nossa pesquisa, que pretende demonstrar como o corpo de Tancredo Neves passou a simbolizar a prpria redefinio da nacionalidade, num momento em que os mitos fundadores da nao foram intensamente reelaborados. Para tanto, por outro lado, a pesquisa segue caminhos diversos, sendo o mais importante deles a anlise dos funerais de Tancredo Neves. Torna-se necessrio, por outro lado, destacar quais as outras formas de abordagem do fenmeno mencionado. Uma delas corresponde anlise do programa O martrio do Dr. Tancredo, transmitido pela Rede Globo de Televiso na noite do dia correspondente morte do presidente eleito. Projetando elementos do clima de redescoberta do nacional que permeava aquela conjuntura, o Jornal Nacional de 21 de abril foi, certamente, um programa planejado com bastante antecedncia pela emissora. Retomando imagens intensamente projetadas nas semanas anteriores e conjugando-as com uma retrospectiva que encadeava aqueles eventos de forma peculiar, o programa, ao mesmo tempo em que sintetizava aspectos fundamentais da transmisso televisiva do perodo, conformava uma imagem do pas com forte apelo no imaginrio nacional. De fato, as prprias caractersticas da televiso como meio de comunicao, ao exigir a elaborao de uma mensagem acessvel s pessoas das mais diferentes regies do pas, auxiliaram na construo de uma imagem mediana, amparada em elementos que, embora diversos, podem ser facilmente identificveis como caracteristicamente nacionais. Claramente perceptvel, nesse sentido, foi a explorao de imagens do interior do pas, por vezes contrastadas com o cosmopolitismo da capital ou de outras regies metropolitanas, mas sem dvida acentuando uma representao da nao com uma forte carga emocional e grande capacidade de identificao: imagens de um povo sofrido, humilde, fraterno e resignado somaram-se ao retrospecto dos acontecimentos envolvendo a morte do presidente eleito e fazendo confundirem-se as representaes de um sobre as do outro. A imagem de Tancredo Neves apresentada no programa, portanto, assumia uma caracterstica mtica tal como caracterizada pelos estudiosos do fenmeno: representao do personagem corresponderia toda uma imagem da nao, uma percepo sobre o modo de ser dos brasileiros e daquilo que constitui sua trajetria especfica como comunidade nacional (GIRARDET, 1987). Uma segunda forma de abordagem do problema refere-se ao tratamento de uma documentao bastante peculiar. Ao longo dos dias e meses posteriores morte do presidente eleito, centenas de cartas foram deixadas no seu tmulo por populares, na Igreja de So Francisco de Assis, So Joo del Rei. Material to rico quanto inusitado, tal conjunto documental dificilmente possuir equivalentes para outros perodos histricos, pelo menos no que concerne s representaes de populares sobre uma figura presidencial na conjuntura de seu adoecimento e morte. De um modo geral, ele indica que a maior parte dos autores das cartas mencionadas acreditava na santidade da alma de Tancredo Neves, fazendo dessa uma dimenso importante daquela experincia histrica, inclusive por apontar a fragilidade de concepes que compreendem o campo poltico como um espao completamente racionalizado. O maior interesse do material, por outro lado, remete novamente ao problema da reconstruo da identidade nacional naquela conjuntura. De fato, por um lado, as cartas deixadas no tmulo de Tancredo Neves constituem-se em indcios importantes da persistncia de aspectos caros s tradies religiosas brasileiras, como a crena no papel dos mortos e dos santos como protetores dos vivos, que se relaciona s suas supostas possibilidades de interseo junto divindade e j perpassavam a casa grande no perodo colonial (FREYRE, 1980). Por outro lado, que mais nos interessa, elas remetem projeo de uma imagem da nao, na qual o mundo dos mortos funcionaria como um lugar de compensao das mazelas vividas cotidianamente por um povo sofrido e injustiado. O forte sentimento de pertena a uma comunidade nacional construdo naquela conjuntura estimulava naqueles que escreviam tais cartas a convico de que Tancredo Neves, ainda que morto (ou justamente por isso), deveria continuar atuando em favor do desenvolvimento do pas. Para muitos daqueles que escreviam cartas alma de Tancredo, no outro mundo, ele apenas continuaria a misso patritica iniciada ainda em vida, seja no que concerne ao estabelecimento definitivo da democracia, seja no que diz respeito melhoria das condies da populao ou ao fortalecimento da unidade nacional. Assim, sua cruzada pela conciliao da nao poderia ter continuidade, inclusive no que diz respeito manuteno do sentimento cvico de unio que, muitas vezes demandado nas cartas mencionadas, se amparava na percepo de que foi ele o responsvel pelo resgate do orgulho de ser brasileiro e pertencer a uma ptria unificada em favor de um destino em comum. Por fim, nossa pesquisa visa tratar tambm de uma outra forma de elaborao sobre a identidade nacional no momento que se seguiu morte de Tancredo Neves. Os acontecimentos de maro e abril de 1985, mais do que nunca, ofereciam uma narrativa vigorosa para a literatura de cordel e no toa, nesse sentido, que a intensa produo de folhetos sobre o tema tenha levado alguns analistas a identificar aquele como um dos eventos mais tratados pelos poetas populares (CURRAN, 2003: 217). As peculiaridades de uma forma de enredo fortemente marcado pelos traos de uma narrativa herica, centrada na luta entre o Bem e o Mal, se mostravam em sintonia com os acontecimentos daquela conjuntura, na qual a representao de um personagem arquetpico (to ao gosto dos cordis) parecia no contradizer a realidade. Permeada por traos de messianismo (CURRAN, 2003), a literatura cordeliana encontrava em Tancredo Neves e na sua morte um novo personagem, que ocupava, assim, um lugar que antes j fora representado, dentre outros, por Getlio Vargas, cujo suicdio tambm inspirou uma quantidade impressionante de folhetos (LESSA, 1982: 63-64). Alm disso, o papel anti-herico freqentemente designado pelos cordis ao povo brasileiro (em sua luta cotidiana contra inmeras adversidades), casava-se com o sentido trgico daqueles acontecimentos, fomentando uma narrativa sobre a histria do pas igualmente sintonizada com caractersticas marcantes dessa forma de literatura popular. Pretendemos demonstrar, nesse sentido, como a narrativa presente nos folhetos (permeada pelo sentimento de um povo que sofre cotidianamente com a misria e o desamparo) projetava um sentido trgico histria nacional, compreendida como a luta incessante de um povo por uma liberdade nunca alcanada. As sete cirurgias s quais foi submetido Tancredo Neves forneciam uma moldura fantstica para o sistema de valores de inspirao religiosa que, baseado sobretudo no catolicismo tradicional (CURRAN, 2003: 48), atravessava a literatura de cordel, justificando a identificao e as analogias entre aqueles eventos e as provaes do martirolgio cristo. J sua morte em 21 de abril conformava um desfecho final bastante propcio quela forma narrativa, para alm de evidenciar uma continuidade na batalha pela libertao nacional, j que o recurso tpica da chegada ao cu de personagens hericos (que, l de cima, tambm podem atuar pela redeno do povo) tambm uma constante do gnero cordeliano. Conjuntamente com os funerais produzidos em homenagem a Tancredo Neves, tais objetos de analise fundamentam-se na percepo de que a conjuntura da morte de determinados presidentes um momento fundamental de construo memorialstica, conformando-se como importantes marcos a partir dos quais suas memrias entram definitivamente no campo das lutas simblicas. comum encontrarmos a concepo de que, aps a morte de um personagem ilustre, ele entra para a histria do pas, donde parte-se para encadear os eventos de sua vida de modo a explicar sua importncia na construo da nao (parece sintomtico que, aps a morte de um presidente, praticamente todos os jornais do pas publiquem sua biografia e seus feitos mais importantes em favor do desenvolvimento nacional). a partir do seu falecimento, portanto, que se acirram as disputas pela sua memria, sendo esse um momento privilegiado para a feitura de biografias e para a tentativa de captar os movimentos da memria nacional. E a entrada da sua memria no plano das lutas simblicas j comea a se configurar no momento do ritual fnebre em sua homenagem, certamente uma ocasio cuja influncia ser importante nas imagens que depois vo vigorar sobre aquela figura histrica. Em casos emblemticos, como o da morte de Tancredo Neves (e, em alguma medida, de Getlio Vargas, anteriormente), tais reelaboraes memorialsticas se acompanharam de uma releitura da prpria histria nacional, fundamentado uma retomada dos mitos fundadores da nacionalidade e fornecendo elementos para que narrativas sobre aquilo que caracterizaria o modo de ser dos brasileiros interferissem nas reconfiguraes da memria poltica nacional. Bibliografia sumria: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: reflexes sobre a origem e a difuso do nacionalismo. So Paulo: Companhia das Letras, 2008. BRITTO, Antonio. Assim morreu Tancredo. Porto Alegre: L&PM, 1985. CATROGA, Fernando. Entre Deuses e Csares. Secularizao, Laicidade e Religio Civil. 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Multido avaliada em 2 milhes de pessoas que no se contentou em assistir das caladas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23 abr. 1985, p. 1.  Segundo O Estado de So Paulo, no cortejo fnebre de Castelo Branco, alm de no se perceber a presena de populares, havia tanto silncio que somente se ouvia o arrastar dos ps no asfalto. O Estado de So Paulo, So Paulo, 20 jul. 1967, p. 8.  Vrias matrias de jornais e revistas, logo aps a morte de Tancredo Neves, se referiram a ele como o mrtir da democracia ou outros eptetos enobrecedores de sua figura. Ver, por exemplo, a edio histrica da revista Manchete, Rio de Janeiro, 26 abr. 1985.  Vagas humanas irresistveis afastaram os batedores e se juntaram ao carro com a urna funerria. Manchete, 26 abr. 1985, p. 90.  Morre Tancredo, renasce a liberdade. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23 abr. 1985, p. 8.  Em toda a histria do Brasil, jamais houve um cortejo to monumental. Manchete, Rio de Janeiro, 26 abr. 1985, p. 92.  Na missa, d. Luciano lembra Tancredo como pacificador. Folha de S. Paulo, So Paulo, 24 abr. 1985, p. 8.  Povo de Braslia leva o Presidente ao Planalto. O Globo, Rio de Janeiro, 23 abr. 1985, p. 6.  Multido avaliada em 2 milhes de pessoas que no se contentou em assistir das caladas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23 abr. 1985, p. 1.  Morre Tancredo, renasce a liberdade. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23 abr. 1985, p. 8.  O programa mencionado pode ser consultado no vdeo Tancredo Neves - O presidente da democracia, existente no arquivo Tancredo Neves do Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil da Fundao Getlio Vargas. Classificao: TN vdeo 005, fita 2 (0:00:02 - 4:05:47).  A intensiva transmisso pela televiso dos acontecimentos referentes ao adoecimento e morte de Tancredo Neves impossibilita qualquer tentativa de anlise mais exaustiva da programao veiculada (inclusive pela dificuldade de acesso ao contedo do noticirio dirio). Por outro lado, o fato de ter sido planejado com antecedncia, mobilizando imagens e narrativas que se repetiram com demasiada freqncia na programao dos dias anteriores e nas rememoraes posteriores, indica a importncia do programa nas reelaboraes das memria coletiva acerca daquele fenmeno.  Gilberto Freyre relaciona isso com as razes ibricas do catolicismo brasileiro.  Segundo Mark Curran, a morte de Tancredo Neves foi provavelmente o segundo evento da histria nacional mais representado na literatura de cordel, perdendo apenas para o suicdio de Getlio Vargas, em 1954. Vale destacar, por outro lado, que estas estimativas so pouco precisas devido ao carter efmero da produo cordeliana. Considerando os folhetos sobre Tancredo Neves, o autor Verssimo de Melo, por outro lado, contabilizou mais de cem obras, no obstante o nmero total de cordis provavelmente seja bem mais numeroso (MELO, 1986).  Segundo dados mencionados por Orgenes Lessa, folhetos como Vida e morte de Getlio Vargas, de Jos Joo dos Santos, e Vida e tragdia do Presidente Getlio Vargas, de Antnio Teodoro dos Santos, teriam tido, na poca, uma tiragem de 200.000 e 280.000 exemplares respectivamente. J um outro autor, Delarme Monteiro da Silva, teria vendido cerca de 40.000 exemplares de um folheto sobre a morte de Getlio Vargas na prpria tarde seguinte ao suicdio.  Estamos cientes dos problemas que acercam o uso da expresso literatura popular, que tende a tratar de forma simplificada e dicotmica a diviso entre uma cultura popular e uma cultura erudita. Vrios autores j chamaram ateno para o problema (entre eles, Roger Chartier, que critica a supervalorizao do recorte social para a anlise dos usos e da difuso dos objetos culturais, e Carlo Ginzburg, que prope uma anlise centrada numa influncia recproca entre a cultura das classes subalternas e a cultura dominante). Torna-se impossvel, entretanto, aprofundar aqui esta problemtica.  O autor identifica tal caracterstica sobretudo na literatura de cordel clssica, do tempo de Leandro Gomes de Barros (assim como s suas razes na tradio literria popular de Portugal e Espanha), mas destaca sua permanncia em toda a literatura de cordel do sculo XX.     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