ࡱ> 5@>bjbj22.XX>|""""$>"|-8"(""""""",,,,,,,$M.R0,""""","",+++""",+",++++"" pz~H'")~++,0-+51+^51+51+$""+""""",,|+ O que letramento e alfabetizao SOARES, Magda Becker . Janeiro/99 Neste texto, vamos discutir conceitos e, portanto, palavras, ou, se quiserem, vamos discutir palavras e, portanto, conceitos: os conceitos alfabetizao e letramento, as palavras alfabetizao e letramento. Em um primeiro momento, gostaria de fazer um "passeio" pelo campo semntico em que se inserem essas palavras, esses conceitos. So palavras de uso comum, conhecidas, exceto talvez letramento, palavra ainda desconhecida ou mal entendida, ou ainda no plenamente compreendida pela maioria das pessoas, porque palavra que entrou na nossa lngua h muito pouco tempo. ALFABETIZAO ALFABETIZAR ALFABETIZADO ANALFABETISMO ANALFABETO LETRAMENTO LETRADO ILETRADO ALFABETISMO No precisamos definir essas palavras, porque estamos familiarizados com elas, talvez com exceo apenas da palavra letramento. Mas vou me deter nelas para conduzir nossa reflexo em direo ao sentido de letramento. Vejamos as definies que aparecem no dicionrio Aurlio: analfabetismo: estado ou condio de analfabeto a(n) + alfabet + ismo -i zar: sufixo, indica: tornar, fazer com que. Exemplos: suavizar: tornar suave; industrializar: tornar industrial Alfabetizar tornar o indivduo capaz de ler e escrever. Alfabetizao: ao de alfabetizar Alfabet + iza(r) + co -o: sufixo que forma substantivos indica: ao Exemplos: traio: ao de trair nomeao: ao de nomear Alfabetizao a ao de alfabetizar, de tornar "alfabeto". Causa estranheza o uso desa palavra "alfabeto", na expresso "tornar alfabeto". que dispomos da palavra analfabeto, mas no temos o contrrio dela: temos a palavra negativa, mas no temos a palavra positiva. no campo semntico dessas palavras que conhecemos bem - analfabetismo, analfabeto, alfabetizao, alfabetizar - que surge a palavra letramento. Como surgiu essa palavra e o que quer ela dizer? LETRAMENTO? Conhecemos as palavras letrado e iletrado: Letrado: versado em letras, erudito iletrado: que no tem conhecimentos literrios uma pessoa letrada = uma pessoa erudita, versada em letras (letras significando literatura, lnguas) uma pessoa iletrada = uma pessoa que no tem conhecimentos literrios, que no erudita; analfabeta, ou quase analfabeta. O sentido que temos atribudo aos adjetivos letrado e iletrado no est relacionado com o sentido da palavra letramento. A palavra letramento ainda no est dicionarizada, porque foi introduzida muito recentemente na lngua portuguesa, tanto que quase podemos datar com preciso sua entrada na nossa lngua, identificar quando e onde essa palavra foi usada pela primeira vez. Parece que a palavra letramento apareceu pela primeira vez no livro de  HYPERLINK "Javascript:abretela1()" Mary Kato: No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingustica, de 1986. A palavra letramento no , como se v, definida pela autora e, depois dessa referncia, usada vrias vezes no livro; foi, provavelmente, essa a primeira vez que a palavra letramento apareceu na lngua portuguesa - 1986. Depois da referncia de Mary Kato, em 1986, a palavra letramento aparece em 1988, no livro que, pode-se dizer, lanou a palavra no mundo da educao, dedica pginas definio de letramento e busca distinguir letramento de alfabetizao: o livro Adultos no alfabetizados - o avesso do avesso, de Leda Verdiani Tfouni (So Paulo, Pontes, 1988, Coleo Linguagem/Perspectivas) um estudo sobre o modo de falar e de pensar de adultos analfabetos. Mais recentemente, a palavra tornou-se bastante corrente, aparecendo at mesmo em ttulo de livros, por exemplo: Os significados do letramento, coletnea de textos organizada por ngela Kleiman, (Campinas, Mercado das Letras, 1995) e Alfabetizao e letramento, da mesma Leda Verdiani Tfouni, anteriormente mencionada (So Paulo, Cortez, 1995, Coleo Questes de nossa poca). Na busca de esclarecer o que seja letramento, talvez seja interessante refletirmos sobre o seguinte: vivemos sculos sem precisar da palavra letramento; a partir dos anos 80, comeamos a precisar dessa palavra, inventamos essa palavra - por qu, para qu? Por que aparecem palavras novas na lngua? Resposta: Na lngua sempre aparecem palavras novas quando fenmenos novos ocorrem, quando uma nova idia, um novo fato, um novo objeto surgem, so inventados, e ento necessrio ter um nome para aquilo, porque o ser humano no sabe viver sem nomear as coisas: enquanto ns no as nomeamos, as coisas parecem no existir. Um exemplo: hoje em dia se usa com muita freqncia a palavra globalizao, abrimos o jornal e l est a palavra globalizao; poucos anos atrs, ningum usava essa palavra, no no sentido com que a estamos usando atualmente. Por que surgiu a palavra globalizao( Porque surgiu um fenmeno novo na economia mundial, e foi preciso dar um nome a esse fenmeno novo -surge assim a palavra nova. Portanto: o termo letramento surgiu porque apareceu um fato novo para o qual precisvamos de um nome, um fenmeno que no existia antes, ou, se existia, no nos dvamos conta dele e, como no nos dvamos conta dele, no tnhamos um nome para ele. Trs perguntas precisam agora ser respondidas: Qual o significado dessa palavra letramento? Por que surgiu essa nova palavra, letramento? Onde fomos buscar essa nova palavra, letramento? Comecemos por responder ltima pergunta. Onde fomos buscar a palavra letramento? Na verdade, a palavra letramento uma traduo para o Portugus da palavra inglesa literacy; os dicionrios definem assim essa palavra: literacy = the condition of being literate littera + cy palavra latina = letra -cy: sufixo, indica qualidade, condio, estado. Exemplo: innocency: condio de inocente. Traduzindo a definio acima, literacy "a condio de ser letrado" - dando palavra letrado" sentido diferente daquele que vem tendo em portugus. Em ingls, o sentido de literate : literate: educated; especially able to read and write (educado; especificamente, que tem a habilidade de ler e escrever) Literate , pois, o adjetivo que caracteriza a pessoa que domina a leitura e a escrita, e literacy designa o estado ou condio daquele que literate, daquele que no s sabe ler e escrever, mas tambm faz uso competente e freqente da leitura e da escrita. H, assim, uma diferena entre saber ler e escrever, ser alfabetizado, e viver na condio ou estado de quem sabe ler e escrever, ser letrado (atribuindo a essa palavra o sentido que tem literate em ingls). Ou seja: a pessoa que aprende a ler e a escrever - que se torna alfabetizada - e que passa a fazer uso da leitura e da escrita, a envolver-se nas prticas sociais de leitura e de escrita - que se torna letrada - diferente de uma pessoa que ou no sabe ler e escrever - analfabeta - ou, sabendo ler e escrever, no faz uso da leitura e da escrita - alfabetizada, mas no letrada, no vive no estado ou condio de quem sabe ler e escrever e pratica a leitura e a escrita. O adjetivo letrado, e seu feminino letrada sero usados no restante deste texto com um significado que no o que tm (por enquanto) nos dicionrios: sero usados para caracterizar a pessoa que, alm de saber ler e escrever, faz uso freqente e competente da leitura e da escrita. Sero usados tambm os adjetivos iletrado/iletrada como seus antnimos. Estado ou condio: essas palavras so importantes para que se compreendam as diferenas entre analfabeto, alfabetizado e letrado; o pressuposto que quem aprende a ler e a escrever e passa a usar a leitura e a escrita, a envolver-se em prticas de leitura e de escrita, torna-se uma pessoa diferente, adquire um outro estado, uma outra condio. Socialmente e culturalmente, a pessoa letrada j no a mesma que era quando analfabeta ou iletrada, ela passa a ter uma outra condio social e cultural - no se trata propriamente de mudar de nvel ou de classe social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua insero na cultura - sua relao com os outros, com o contexto, com os bens culturais torna-se diferente. H a hiptese de que tornar-se letrado tambm tornar-se cognitivamente diferente: a pessoa passa a ter uma forma de pensar diferente da forma de pensar de uma pessoa analfabeta ou iletrada. Tornar-se letrado traz, tambm, conseqncias lingsticas: alguns estudos tm mostrado que o letrado fala de forma diferente do iletrado e do analfabeto; por exemplo: pesquisas que caracterizaram a lngua oral de adultos antes de serem alfabetizados, e a compararam com a lngua oral que usavam depois de alfabetizados, concluram que, aps aprender a ler e a escrever, esses adultos passaram a falar de forma diferente, evidenciando que o convvio com a lngua escrita teve como conseqncias mudanas no uso da lngua oral, nas estruturas lingsticas e no vocabulrio. Enfim: a hiptese que aprender a ler e a escrever e, alm disso, fazer uso da leitura e da escrita transformam o indivduo, levam o indivduo a um outro estado ou condio sob vrios aspectos: social, cultural, cognitivo, lingstico, entre outros. Tentamos responder, at aqui, a uma das trs perguntas anterior. Busquemos, agora, a resposta primeira pergunta. Finalmente, uma definio de letramento Chegamos finalmente palavra e ao conceito letramento: letra + mento forma portuguesa da palavra latina littera -mento: sufixo, indica resultado de uma ao. Exemplo: ferimento = resultado da ao de ferir. Portanto: letramento o resultado da ao de "letrar-se", se dermos ao verbo "letrar-se" o sentido de "tornar-se letrado". LETRAMENTO Resultado da ao de ensinar e aprender as prticas sociais de leitura e escrita O estado ou condio que adquire um grupo social ou um indivduo como conseqncia de ter-se apropriado da escrita e de suas prticas sociais Observao importante: ter-se apropriado da escrita diferente de ter aprendido a ler e a escrever: aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em lngua escrita e de decodificar a lngua escrita; apropriar-se da escrita tornar a escrita "prpria", ou seja, assumi-la como sua "propriedade" . Retomemos a grande diferena entre alfabetizao e letramento, entre alfabetizado e letrado: um indivduo alfabetizado no necessariamente um indivduo letrado; alfabetizado aquele indivduo que sabe ler e escrever; j o indivduo letrado, o indivduo que vive em estado de letramento, no s aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente s demandas sociais de leitura e de escrita. Letramento definido num poema Uma estudante norte-americana, de origem asitica, Kate M. Chong, ao escrever sua histria pessoal de letramento, define-o em um poema: O QUE LETRAMENTO? Letramento no um gancho em que se pendura cada som enunciado, no treinamento repetitivo de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramtica. Letramento diverso leitura luz de vela ou l fora, luz do sol. So notcias sobre o presidente O tempo, os artistas da TV e mesmo Mnica e Cebolinha nos jornais de domingo. uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabns e cartas de velhos amigos. viajar para pases desconhecidos, sem deixar sua cama, rir e chorar com personagens, heris e grandes amigos. um atlas do mundo, sinais de trnsito, caas ao tesouro, manuais, instrues, guias, e orientaes em bulas de remdios, para que voc no fique perdido. Letramento , sobretudo, um mapa do corao do homem, um mapa de quem voc , e de tudo que voc pode ser. O poema mostra que letramento muito mais que alfabetizao. Ele expressa muito bem como o letramento um estado, uma condio: o estado ou condio de quem interage com diferentes portadores de leitura e de escrita, com diferentes gneros e tipos de leitura e de escrita, com as diferentes funes que a leitura e a escrita desempenham na nossa vida. Enfim: letramento o estado ou condio de quem se envolve nas numerosas e variadas prticas sociais de leitura e de escrita. Por que surgiu a palavra letramento? A palavra analfabetismo nos familiar, usamos essa palavra h sculos, ela j est presente em textos do tempo em que ramos Colnia de Portugal. um fenmeno interessante: usamos, h sculos, o substantivo que nega (recorde a anlise da palavra analfabetismo na pgina 2: a(n) + alfabetismo = privao de alfabetismo), e no sentamos necessidade do substantivo que afirmasse: alfabetismo ou letramento. Por que s agora, no fim do sculo XX, a palavra letramento se tornou necessria? Palavras novas aparecem quando novas idias ou novos fenmenos surgem. Convivemos com o fato de existirem pessoas que no sabem ler e escrever, pessoas analfabetas, desde o Brasil Colnia, e ao longo dos sculos temos enfrentado o problema de alfabetizar, de ensinar as pessoas a ler e escrever; portanto: o fenmeno do estado ou condio de analfabeto ns o tnhamos (e ainda temos...), e por isso sempre tivemos um nome para ele: analfabetismo. medida que o analfabetismo vai sendo superado, que um nmero cada vez maior de pessoas aprende a ler e a escrever, e medida que, concomitantemente, a sociedade vai se tornando cada vez mais centrada na escrita (cada vez mais grafocntrica), um novo fenmeno se evidencia: no basta apenas aprender a ler e a escrever. As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas no ncessariamente incorporam a prtica da leitura e da escrita, no necessariamente adquirem competncia para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com as prticas sociais de escrita: no lem livros, jornais, revistas, no sabem redigir um ofcio, um requerimento, uma declarao, no sabem preencher um formulrio, sentem dificuldade para escrever um simples telegrama, uma carta, no conseguem encontrar informaes num catlogo telefnico, num contrato de trabalho, numa conta de luz, numa bula de remdio... Esse novo fenmeno s ganha visibilidade depois que minimamente resolvido o problema do analfabetismo e que o desenvolvimento social, cultural, econmico e poltico traz novas, intensas e variadas prticas de leitura e e de escrita, fazendo emergirem novas necessidades, alm de novas alternativas de lazer. Aflorando o novo fenmeno, foi preciso dar um nome a ele: quando uma nova palavra surge na lngua, que um novo fenmeno surgiu e teve de ser nomeado. Por isso, e para nomear esse novo fenmeno, surgiu a palavra letramento. Compreendido o que letramento, por que surgiu a palavra letramento, qual a origem da palavra letramento, pode-se voltar diferena entre letramento e alfabetizao: Alfabetizao = ao de ensinar/aprender a ler e a escrever Letramento = estado ou condio de quem no apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as prticas sociais que usam a escrita cultiva = dedica-se a atividades de leitura e escrita exerce = responde s demandas sociais de leitura e escrita Precisaramos de um verbo "letrar" para nomear a ao de levar os indivduos ao letramento... Assim, teramos alfabetizar e letrar como duas aes distintas, mas no inseparveis, ao contrrio: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das prticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado. Alfabetizado e/ou letrado - uma nova pergunta se impe. Como diferenciar o apenas alfabetizado do letrado? Eacute; difcil a resposta a essa pergunta, porque letramento envolve dois fenmenos bastante diferentes, a leitura e a escrita, cada um deles muito complexo, pois constitudo de uma multiplicidade de habilidades, comportamentos, conhecimentos: Ler um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem desde simplesmente decodificar slabas ou palavras at ler Grande Serto Veredas de Guimares Rosa... uma pessoa pode ser capaz de ler um bilhete, ou uma histria em quadrinhos, e no ser capaz de ler um romance, um editorial de jornal... Assim: ler um conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compem um longo e complexo continuum: em que ponto desse continuum uma pessoa deve estar, para ser considerada alfabetizada, no que se refere leitura? A partir de que ponto desse continuum uma pessoa pode ser considerada letrada, no que se refere leitura? Escrever tambm um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem desde simplesmente escrever o prprio nome at escrever uma tese de doutorado... uma pessoa pode ser capaz de escrever um bilhete, uma carta, mas no ser capaz de escrever uma argumentao defendendo um ponto de vista, escrever um ensaio sobre determinado assunto... Assim: escrever tambm um conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compem um longo e complexo continuum: em que ponto desse continuum uma pessoa deve estar, para ser considerada alfabetizada, no que se refere escrita? A partir de que ponto desse continuum uma pessoa pode ser considerada letrada, no que se refere escrita? Conclui-se que h diferentes tipos e nveis de letramento, dependendo das necessidades, das demandas do indivduo e de seu meio, do contexto social e cultural. analfabeto e alfabetizado, alfabetizado e letrado: conceitos imprecisos Eleies de 1996. O jornal Folha de S.Paulo em 19 de julho de 1996 publica a seguinte notcia: Candidaturas so impugnadas aps teste de alfabetizao O juiz eleitoral de Itapetininga, Jairo Sampaio Incane Filho, 38, impugnou 20 dos 80 candidatos a prefeito e vereador das cidades de Itapetininga, Sarapu e Alambari, na regio de Sorocaba (87 km a oeste de So Paulo). A impugnao foi motivada pelo fato de os candidatos terem sido reprovados em um teste de alfabetizao realizado pelo juiz, no Frum de Itapetininga. Incane Filho disse que fez o texto com base na exigncia contida na Lei Complementar n 64/90, de 1992, do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), que probe analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos. O juiz afirmou que convocou os 80 candidatos que disseram ter o 1 grau completo e nistraram dificuldades no preenchimento dos documentos para o registro de suas candidaturas. Os testes com os candidatos foram feitos individualmente. Seus nomes so mantidos em sigilo. "Pedi a todos que lessem e interpretassem um texto de um jornal infantil. Em seguida, pedi que cada um redigisse um texto expondo sua lgica", disse. Segundo incane Filho, erros gramaticais no foram levados em conta. "Apenas observei se o candidato tem condies de entender um texto, pois uma vez eleito, ele vai ter de trabalhar com leis e documentos." A assessoria de imprensa do TRE informou que o tribunal transmitiu uma recomendao aos juzes para que "em caso de dvida", faam "um teste de alfabetizao" nos candidatos. Baseado numa lei que "probe analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos", o juiz submeteu candidatos a prefeito e a vereador a "um teste de alfabetizao". Que razes levaram o juiz a supor que 80 candidatos eram analfabetos? Duas razes: 1) tinham 1 grau incompleto 2) mostraram dificuldades no preenchimento dos documentos para o registro de suas candidaturas Portanto: para o juiz, um alfabetizado seria algum que tivesse o 1 grau completo e preenchesse formulrios sem dificuldades. No entanto, o juiz admitiu que, embora no tendo o 1 grau completo e revelando dificuldades para preencher documentos de registro de candidatura, o candidato a prefeito ou vereador poderia ser considerado alfabetizado: Segundo o juiz, que comportamentos o candidato deveria demonstrar, para no ser considerado analfabeto? O candidato deveria: * Ler e interpretar um texto; * Redigir um texto sobre o texto lido. O juiz definiu ainda o nvel do texto que o candidato deveria ser capaz de interpretar e o critrio de correo das respostas do candidato: Segundo o juiz, o candidato deveria ser capaz de ler e interpretar que tipo de texto? texto de um jornal infantil Segundo o juiz, com que critrios os resultados do candidato deveriam ser avaliados? * no levar em conta erros gramaticais * verificar se o candidato tinha entendido o texto O juiz admitiu, pois, que um candidato a prefeito ou a vereador poderia no ter o 1 grau completo, poderia enfrentar dificuldades para preencher documentos, mas deveria ser capaz de ler e interpretar um texto de jornal infantil, e de redigir um texto sobre o que lera, mesmo cometendo erros gramaticais; e justificou esses critrios: Por que o juiz considerou que ser capaz de entender um texto era o critrio adequado para avaliar se o candidato a prefeito ou vereador poderia ser considerado alfabetizado? Porque, se eleito, ele teria de trabalhar com leis e documentos (que deveria saber ler e interpretar). O juiz mostrou ter dois conceitos de alfabetizao: um conceito genrico, aplicvel a qualquer pessoa - ter o 1 grau completo e ser capaz de preencher documentos, sem dificuldades; um conceito especfico, aplicvel a pessoas que exercem a funo de prefeito ou vereador - ser capaz de ler e interpretar textos legais e documentos oficiais. Talvez voc queira refletir um pouco mais sobre esse episdio: * A alfabetizao que o juiz considera necessria a prefeitos e vereadores estar sendo avaliada num teste que mede a capacidade de ler e interpretar um texto de jornal infantil ? * Fica claro que, para o juiz, as prticas sociais que envolvem a lngua escrita necessrias a prefeitos e vereadores so as de leitura de textos legais e documentos oficiais - esta uma concepo adequada? * Ser que se pode concordar que o nvel de alfabetizao de um indivduo deve ser definido pelas exigncias das prticas sociais especficas que ele precisa ter com a escrita, segundo sua insero no mundo do trabalho? * Pense: o juiz procura avaliar o nvel de alfabetizao ou o nvel de letramento dos candidatos? Mas continuemos, porque o episdio no termina a. Cerca de vinte dias depois, em 7 de agosto, o mesmo jornal Folha de S.Paulo publica a seguinte notcia: TRE aprova candidatura de reprovados em teste O plenrio do Tribunal Regional Eleitoral aprovou ontem a candidatura de 30 polticos que foram reprovados em um teste de alfabetizao aplicado pelo juiz eleitoral de Itapetininga, Jairo Sampaio Incane Filho, 38. O juiz havia impugnado as candidaturas de polticos das cidades de Itapetininga, Sarapu e Alambari, todas na regio de Sorocaba (87 km a oeste de So Paulo). Eles tiveram de ler o texto de um suplemento infantil de um jornal e escrever algo sobre o que leram. Incane Filho convocou para esse teste 80 candidatos que afirmaram no ter o primeiro grau completo. Os testes se basearam na lei complementar n 64/90, de 1992, que probe analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos. O TRE reformou a sentena do juiz, considerando que os candidatos tinham "rudimentos" da alfabetizao e que, portanto, no poderiam ser considerados analfabetos. para chegar a essa concluso, os juzes utilizaram a definio do dicionrio Aurlio para a palavra "analfabeto. O TRE dever julgar hoje outros onze recursos apresentados pelos candidatos impugnados daquelas cidades. A plicao de testes de alfabetizao uma orientao do prprio TRE a todos os juzes eleitorais do Estado. Entre os candidatos impugnados pelo juiz Incane Fillho, havia um ex-prefito e seis vereadores. Jos Luiz Holtz (PSDB), ex-prefeito de Sarapu, considerou a deciso do juiz de Itapetininga "um absurdo". Seu candidato a vice tambm foi impugnado. Segundo o juiz Incane Filho, o teste que aplicou no levou em considerao os erros gramaticais, mas apenas a capacidade dos candidatos de entender um texto. "Depois de eleitos, eles tero de trabalhar com leis e documentos", afirmou o juiz. O Tribunal Regional Eleitoral - TRE - foi contrrio ao conceito de alfabetizao do juiz, considerando que os candidatos reprovados no eram analfabetos porque tinham "rudimentos da alfabetizao": Qual o critrio do TRE para considerar que os candidatos no eram analfabetos? A definio do dicionrio Aurlio para a palavra "analfabeto". Recorde a definio de analfabeto do dicionrio Aurlio: analfabeto: que no conhece o alfabeto; que no sabe ler e escrever Portanto: o TRE considerou que os candidatos sabiam ler e escrever (j que tinham alguma ou algumas sries do 1 grau e, embora com dificuldades, enfrentaram os documentos de registro da candidatura), e assim, no eram analfabetos. O juiz eleitoral e o TRE mostraram ter conceitos diferentes de alfabetizao: o juiz eleitoral avaliava antes o letramento que a alfabetizao dos candidatos - embora desconhecesse o conceito de letramento, preocupava-se com as prticas sociais de leitura e escrita que eles deveriam ter; o TRE avaliou apenas a alfabetizao dos candidatos, porque se satisfez com os "rudimentos" de leitura e escrita que tinham, desconhecendo seu nvel de letramento, pois no considerou suas habilidades de usar a leitura e a escrita. Esse episdio evidencia: * a impreciso do conceito de alfabetizao - pessoas ou grupos tm conceitos diferentes, o conceito varia de acordo com a situao, com o contexto; * o fenmeno do letramento ainda pouco percebido em nossa sociedade. Analfabeto-alfabetizado, letrado-iletrado: variaes segundo as condies sociais e histricas Um bom exemplo da variao do conceito de alfabetizao ao longo do tempo e da dependncia entre o fenmeno do letramento e as condies culturais e sociais a comparao entre os critrios que foram no passado utilizados e os que hoje so utilizados para definir quem analfabeto ou quem alfabetizado nos recenseamentos da populao brasileira. At a dcada de 40, o formulrio do Censo definia o indivduo como analfabeto ou alfabetizado perguntando-lhe se sabia assinar o nome: as condies culturais, sociais e polticas do pas, at ento, no exigiam muito mais que isso de grande parte da populao. As pessoas aprendiam a desenhar o nome, apenas para poder votar ou assinar um contrato de trabalho. A partir dos anos 40, o formulrio do Censo passou a usar uma outra pergunta: sabe ler e escrever um bilhete simples( Apesar da impropriedade da pergunta [se quiser saber por qu, leia o quadro abaixo], ela j expressa um critrio para definir quem alfabetizado ou analfabeto que avana em relao ao critrio de apenas saber escrever o nome: definir como analfabeto aquele que no sabe ler e escrever um bilhete simples indica j uma preocupao com os usos sociais da escrita, aproxima-se, pois, do conceito de letramento, e revela uma outra expectativa com relao ao alfabetizado - uma expectativa de que seja tambm letrado. A mudana de critrio para avaliao dos ndices de analfabetismo no Brasil revela mudanas histricas, sociais, culturais. A comparao dos critrios utilizados aqui com os utilizados em pases do Primeiro Mundo pode ser esclarecedora. Analfabetismo no Primeiro Mundo? surpreendente quando os jornais noticiam a preocupao com altos nveis de "analfabetismo" em pases como os Estados Unidos, a Frana, a Inglaterra; surpreendente porque: como podem ter altos nveis de analfabetismo pases em que a escolaridade bsica realmente obrigatria e, portanto, praticamente toda a populao conclui o ensino fundamental (que, nos pases citados, tem durao maior que a do nosso ensino fundamental - 10 anos nos Estados Unidos e na Frana, 11 anos na Inglaterra). que, quando a nossa mdia traduz para o portugus a preocupao desses pases, traduz illiteracy (ingls) e illetrisme (francs) por analfabetismo. Na verdade, no existe analfabetismo nesses pases, isto , o nmero de pessoas que no sabem ler ou escrever aproxima-se de zero; a preocupao, pois, no com os nveis de analfabetismo, mas com os nveis de letramento, com a dificuldade que adultos e jovens revelam para fazer uso adequado da leitura e da escrita: sabem ler e escrever, mas enfrentam dificuldades para escrever um ofcio, preencher um formulrio, registrar a candidatura a um emprego - os nveis de letramento que so baixos. No Brasil, h j algumas poucas pesquisas que procuram avaliar o nvel de letramento de jovens e adultos; a tendncia tem sido considerar como alfabetizado (o termo mais adequado seria letrado) o indivduo que tenha pelo menos completado a 4 srie do ensino fundamental, com base no pressuposto de que so necessrios no mnimo quatro anos de escolaridade para a apropriao da leitura e da escrita e de seus usos sociais. Quando se calcula o analfabetismo no Brasil com base nesse critrio, o ndice cresce assustadoramente... Condies para o letramento Termos despertado para o fenmeno do letramento - estarmos incorporando essa palavra ao nosso vocabulrio educacional - significa que j compreendemos que nosso problema no apenas ensinar a ler e a escrever, mas , tambm, e sobretudo, levar os indivduos - crianas e adultos - a fazer uso da leitura e da escrita, envolver-se em prticas sociais de leitura e de escrita. No entanto, infere-se, de tudo que foi dito, que o nvel de letramento de grupos sociais relaciona-se fundamentalmente com as suas condies sociais, culturais e econmicas. preciso que haja, pois, condies para o letramento. Uma primeira condio que haja escolarizao real e efetiva da populao - s nos demos conta da necessidade de letramento quando o acesso escolaridade se ampliou e tivemos mais pessoas sabendo ler e escrever, passando a aspirar a um pouco mais do que simplesmente aprender a ler e a escrever. Uma segunda condio que haja disponibilidade de material de leitura. O que ocorre nos pases do Terceiro Mundo que se alfabetizam crianas e adultos, mas no lhes so dadas as condies para ler e escrever: no h material impresso posto disposio, no h livrarias, o preo dos livros e at dos jornais e revistas inacessvel, h um nmero muito pequeno de bibliotecas. Como possvel tornar-se letrado em tais condies( Isso explica o fracasso das campanhas de alfabetizao em nosso pas: contentam-se em ensinar a ler e escrever; deveriam, em seguida, criar condies para que os alfabetizados passassem a ficar imersos em um ambiente de letramento, para que pudessem entrar no mundo letrado, ou seja, num mundo em que as pessoas tm acesso leitura e escrita, tm acesso aos livros, revistas e jornais, tm acesso s livrarias e bibliotecas, vivem em tais condies sociais que a leitura e a escrita tm uma funo para elas e tornam-se uma necessidade e uma forma de lazer. Letramento e escola, letramento e educao de jovens e adultos Quais as conseqncias de tudo isso para a escola? Para a educao de jovens e adultos? O que significa alfabetizar? O que significa "letrar"? Quais as diferenas entre alfabetizar e "letrar"? Como alfabetizar "letrando"? Quando se pode dizer que uma criana ou um adulto esto alfabetizados? Quando se pode dizer que esto letrados? Quais so as condies para que o aprender a ler e a escrever seja algo que realmente tenha sentido, uso e funo para as pessoas( sempre bom terminar com perguntas e no com solues; diz o grande escritor portugus Saramago: Tudo no mundo est dando respostas, o que demora o tempo das perguntas. A esto as perguntas; busquemos as respostas.  Este texto foi originalmente publicado no livro Letramento, um tema em trs gneros. Belo Horizonte,  HYPERLINK "http://www.autenticaeditora.com.br" \t "hotlink" Editora Autntica, 1998.  "#EF& 3 V l 6 C Z p q !.cFX(嶩|h*Rd0JCJOJQJaJjh*RdCJOJQJUaJh*Rd6CJOJQJ]aJh*Rd6CJOJQJ]h*RdCJOJQJh*Rd5CJOJQJ\aJh*RdOJQJaJh*RdCJOJQJaJh*RdCJOJQJaJh*Rd5CJOJQJ\aJ0#FG   & V l dh$Ifgd*Rd$dh$Ifa$gd*RdK$$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*Rd> 6 Z q w tc$dh$Ifa$gd*RdK$$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*RdMkd$IfK$L$0 o634a$dh$Ifa$gd*RdK$$dh$Ifa$gd*Rd w !ppppp$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*RdQkdf$IfK$L$T0[~634aT$dh$Ifa$gd*RdK$$dh$Ifa$gd*Rd F(\<wxt$dh$Ifa$gd*RdK$$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*RdP5cmxtV} 4@A_dfs  b k #㸮㛋㮸~h*Rd5CJOJQJ\h*RdCJOJQJaJmH sH $h*Rd5CJOJQJ\aJmH sH h*RdCJOJQJh*Rd6CJOJQJ]h*Rd5CJOJQJ\aJh*Rd6CJOJQJ]aJh*RdCJOJQJaJjh*RdCJOJQJUaJ-tum*V 4Aeftte$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*RdK$$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*RdMkd$IfK$L$0H!634a  !#%|&((+,{lllllllll$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*Rddkd6$IfK$L$TF 5 H! 6    34aT$dh$Ifa$gd*RdK$ #%%%%)%1%,,,,,---8-I-^-i-r--./-2J2:8^8RB`BBBCCICOCPEEzF~FHILLL4MR)T澱th*RdCJOJQJaJ"h*Rd56CJOJQJ\]aJ"h*Rd56CJOJQJ\]aJh*Rd5CJOJQJ\h*Rd6CJOJQJ]h*RdCJOJQJh*Rd5CJOJQJ\aJh*Rd6CJOJQJ]aJh*RdCJOJQJaJh*RdCJOJQJ^JaJ-,,,,,,---$Fdh$If^`Fa$gd*RdK$$dh$Ifa$gd*RdK$$dh$If^a$gd*RdK$$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*Rd--..m...H0-2L2223}}j$dh$If^a$gd*Rd$dh$Ifa$gd*Rd$dh$Ifa$gd*Rddkd$IfK$L$TF H!6    34aT 3+3H3[3j3333334*4C4^4444445!5L5a555556$dh$If^a$gd*Rd6686V6W698:8`8J: <ARBBCICCEPEEzFFHIKUL$dh$If[$\$^a$gd*Rd$dh$If^a$gd*RdULLLL5MNNtO%PQQR;SSSSTTlUUU V1VVW$dh$If^a$gd*Rd$dh$If[$\$^a$gd*Rd)T5T]UiUZZ[[_'_D_q_eggMrmrxy€Hz{|σ 12;=>廙ukgh(h*RdCJOJQJ h*Rd0J5CJOJQJ\aJ%jh*Rd5CJOJQJU\aJ"h*Rd56CJOJQJ\]aJj:h*RdCJOJQJUaJh*Rd5CJOJQJ\aJh*RdCJOJQJaJh*Rd6CJOJQJ]aJh*RdCJOJQJaJh*Rd6CJOJQJ]aJ$W2WWWW3YYJZZ[[[\h]E^^D_r_H`Ma,b@cd ee$dh$If^a$gd*Rd$dh$If[$\$^a$gd*RdeefgVggghjjvkkkl|mn_qMrorvxyzu{|$dh$If^a$gd*Rd$dh$If[$\$^a$gd*Rd|Ā;V#Jz|;<$dh$If^a$gd*Rd$dh$If[$\$^a$gd*Rd<=>?kd$$IfTH!H!H!634aT,1h/ =!"#$% d$IfK$L$!vh5 5P #v #vP :V 6534h$IfK$L$!vh5[5# #v[#v# :V 6534Td$IfK$L$!vh55#v#v:V 6534$IfK$L$!vh5 5P5#v #vP#v:V 6,5 534T|$IfK$L$!vh5 5P5@#v #vP#v@:V 6,534TDd<\  3 S"((O$$If!vh5H!#vH!:V H!65H!34 T@`@ *RdNormalCJ_HaJmHsHtH>A@> Fonte parg. padroTi@T  Tabela normal4 l4a ,k@, Sem listaR^`R *Rd Normal (Web)dd[$\$OJPJQJ^J6U`6 *Rd Hyperlink >*B*ph>|#FG&Vl6Zqw!F( \ < wxtum*V 4Aef | #$$$$$$%%%%&&m&&&H(-*L***+++H+[+j++++++,*,C,^,,,,,,-!-L-a-----..8.V.W.90:0`0J2 49R::;I;;=P==z>>@ACUDDDD5EFFtG%HIIJ;KKKKLLlMMM N1NNO2OOOO3QQJRRSSSThUEVVDWrWHXMY,Z@[\ ]]]^_V___`bbvcccd|ef_iMjojnpqrustxxy;yVyyyzzz#{J{z{|{;|<|=|@|0@000000000000000 00000 0 0000 00000 0 00000000000000000000 00 0 00000000 0 00 0 0000000000000000 0 0 0 000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000 0 0#FGtu%%J{z{|{;|<|=|@|My00My00My00My00`@0 Oy00`@0 Oy00`@0 Oy00`@0 Oy0 0`@0 My0 0(My0 0My0 0@0My00 @0 0p`#)T>CILR w t,-36ULWe|<>DFGHJKMNOPQSTUV>E   {|1|>|X4X4:D ]dgkZadgru8<z @ P f p  r |   m u v | (r|4;>@prbj$$$$%%%%%%%%{((^)h)-*7*******++Q-V---j.t...//S0]0z11111111(2224455n8o8999999::5:?:j:z:::;;;;<<a<i<====CCeEkEEEEEFFGG!I'IVV6X`ddZgbgq]qRuTuPvVvyyzz@|#GVqw4f$$yy{=|@|@| ANTA-VIRUS( l:*RdlqwtuAef$%%%%<|=|@|@FFFFf!>|@@UnknownGz Times New Roman5Symbol3& z Arial7&  VerdanaI& ??Arial Unicode MS"qܥFݥFih?ih?!24{{ 3QH)? l:"O que letramento e alfabetizao ANTA-VIRUS ANTA-VIRUSOh+'0  , H T `lt|#O que letramento e alfabetizaor qu ANTA-VIRUSrNTANTANormalR ANTA-VIRUSr1TAMicrosoft Word 10.0@F#@CH'@sgH'ih՜.+,D՜.+,T hp  S&PCi?{A #O que letramento e alfabetizao Ttulo, 8@ _PID_HLINKSA 9'$http://www.autenticaeditora.com.br/|mjavascript:abretela1()  !"#$%&'()*+,-./0123456789:;<=>?@ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWYZ[\]^_abcdefghijklmnopqrstuvwxz{|}~Root Entry FP~H'Data X1Table`51WordDocument.SummaryInformation(yDocumentSummaryInformation8CompObjn  FDocumento do Microsoft Word MSWordDocWord.Document.89q