ࡱ> xyz{|}~#`B}bjbjmm1ptP P P 8 d d2 .|2444444$hM"XDDDXmDDDD2DD2DDrfT l\UP D<0"D"" DDDDDDDDXXDDDDDDDDP P $  S os Fusquinhas Votaro no Itamar HYPERLINK \l "process1" \o "Click here!"S os Fusquinhas Votaro no ItamarHYPERLINK \l "process2" \o "Click here!"menumark  eBooksBrasil  S os Fusquinhas Votaro no Itamar Jos Luiz Dutra de Toledo Edio eBooksBrasil.com www.eBooksBrasil.com Copyright Jos Luiz Dutra de Toledo joluduto@netsite.com.br  S os Fusquinhas Votaro no Itamar Jos Luiz Dutra de Toledo N D I C E HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"O Autor HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Alguns setores das esquerdas tm uma viso infantil do poder HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"As crianas de hoje entendem de computadores melhor que os adultos, mas confundem escorpio com barata e podem morrer numa dessas confuses!... HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Ideologia e racismo na histria das devoes catlicas brasileiras HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Itamar Franco quer dar uma de rei absolutista, no caso Luiz XVI, e proclama: LHYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"tat cHYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"est moi! HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Le peuple c'est moi HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Livres Impresses e abaixo-assinado contra espritas de porco HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Manifesto contra a srdida demagogia HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Minha alma no pequena, mas ser que vale a pena? HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Miss Brasil 2001 adverte: a fome ronda os lares da classe mdia HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Mundividncias de um habitante de uma caverna eletrnica no fim do segundo milnio HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Ningum diz tudo o que pensa ou sente e se o dissssemos o mundo teria um enfarte fulminante HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"O enjo paulista HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"O leite das feras HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"O moderno realismo poltico de Fernando Henrique Cardoso nos sugere um adeus s iluses HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"O que nos faz querer viver ou continuar vivendo? HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"O ltimo encontro de escritores HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Os cachorros no so racistas HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Os inesquecveis perfumes de uma das minhas bisavs HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Ossos, msculos, vermes e flores... HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Out-doors dos meus caminhos HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Ouvindo Elvis Presley num nibus com ar condicionado, no fim de Novembro de 1999 HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Porque evitamos os porqus? HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Precisamos de uma sociedade que seja melhor que as drogas!... HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Projeto mais sapos para o bem do Brasil HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Proust e a doena HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!" 1914-1921 HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Quem tem medo de Itamar Franco? HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Salvador Felipe Jacinto Dali i Domenech, um dos mais impressionantes e patticos cronistas do Inconsciente no cotidiano derretimento do tempo no espao atemporal HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Sobre a mesmice dos dias HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Sons de tambores excitavam anes num cortejo de Folia de Reis HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Textos Mineiros HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Tomo leite com acar queimado com o Czar Nicolau II e esfrego os meus ps nos dele HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Traduzir no trair, propiciar dilogos, reescrever o irremedivel abismo profundo a separar as lnguas e gentes do mundo, props Paul Celan HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Um cachorro faminto bate minha porta HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Um cavalo amarrado s margens de uma avenida olha o matagal ressecado e queimado e montes de lixo e no v gua para beber HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Um macho grita para o outro: HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!" Desmaia, anda, desmaia! Desmaia logo, cara!... HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Uma Babel de olhares suplicantes e de bocas desejantes e de esqueletos de peixes eleva-se ao cyber-espao: olho por osso e dente HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Uma histria com comeo, meio e fim, certinha, bonitinha, seqenciada, escatolgica, teleolgica, linear e moralista como um conto de fada ideolgica e manipuladora HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Uma procisso apocalptica HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Uma tarde feliz HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Vrios contos num s conto ou leia um e pense em vrios outros HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Vertical HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!" Horizontal HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Viva a baronesa das frutas!... HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"Yoga para nervosos  O Autor Jos Luiz Dutra de Toledo, historiador, professor, cronista, calabora desde 1969 com vrios suplementos culturais mineiros, paulistas, cearenses, sergipanos, fluminenses e do exterior. Mestre em Histria pela UNESP-Franca-SP (1990), Prmio Clio (1992) da Academia Paulistana da Histria. Professor da rede municipal de ensino de Ribeiro Preto-SP, apreciador da msica contempornea de Zeca Baleiro, Chico Science, Banda Nao Zumb, Tom Z e Milton Nascimento. Capricorniano, nasceu em 22 de Dezembro de 1951, em Tabuleiro-Minas Gerais, filho de Joaquim Ribeiro de Toledo Netto e de Slvia Dutra Toledo; estudou no Grupo escolar Menelick de Carvalho (escola estadual de Tabuleiro-MG), no Ginsio Comercial Joo XXIII (escola comunitria de Tabuleiro-MG), na Escola Agrcola Federal de Rio Pomba-MG, no Colgio Estadual Sebastio Patrus de Souza de Juiz de Fora-MG; na Universidade Federal de Juiz de Fora e na Universidade Estadual Paulista campus de Franca-SP (tempo de escolaridade: 23 anos interruptos, sempre em escolas pblicas, nunca estudou em escolas particulares); trabalhou em Juiz de Fora-MG, Chcara-MG, Porto Alegre-RS, Gravata-RS, Sobradinho Joazeiro-BA (CHESF), So Paulo-SP, Altinpolis-SP, Franca-SP e em Ribeiro Preto-SP; presidiu o Diretrio Acadmico Tristo de Atayde do Instituto de Cincias Humanas e de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora-MG e na mesma poca (1972/1975) venceu concurso para a monitoria da disciplina Histria das Idias Polticas I no Departamento de Histria do mesmo Instituto acima citado. J viveu em Rio Pomba-MG, Juiz de Fora-MG, Porto Alegre-RS, So Paulo-SP, Sobradinho-BA, Altinpolis-SP, Ribeiro Preto-SP e em Piumh-MG em variados e diversos endereos nestas mesmas cidades, repetindo as famosas sinas de Fernando Pessoa e de Dostoievski. Mora em Ribeiro Preto e regio desde 1984. Acumula mais de 1500 textos publicados mas at hoje no tinha conseguido publicar sequer um dos seus 23 livros inditos mas encadernados e guardados numa vulnervel arca de p de madeira colada (compensado). Publicou entre 1969 e 1999 mais de dois mil textos em jornais, fanzines, suplementos culturais e revistas literrias de pelo menos doze estados brasileiros e Distrito Federal; professor em escolas pblicas e particulares entre 1973 e 1995; organiza desde Abril de 1995 a Hemeroteca da Secretaria Municipal da Educao de Ribeiro Preto Ribeiro Preto/Estado de So Paulo/Brasil. Seus dois volumes de coletneas de textos publicados em jornais brasileiros nos 7 primeiros meses de 1998 foram includos no acervo da Biblioteca Nacional do Uruguay em 18 de Janeiro de 1999. Aprecia muito moranga cozida com rodelas de cebolas e ovos cozidos, abbora dgua com quiabo, carne de porco, arroz, feijo e ang..."no posso comer doces mas adoro pudins dietticos de coco, figos secos da Turquia, bolos dietticos, gelatinas, etc.. e sou narcisista, por que no haveria de s-lo??..." Ama os animais e as plantas, no esotrico, nem direitista, nem centrista, nem esquerdista, nem extremista, nem anarquista, irrotulvel, mas apoiou Fernando Henrique Cardoso para o mandato presidencial (1999/2002). Atualmente tenta implantar o seu projeto de um Centro de Expresses e Estudos sobre Imaginrios, Mentalidades e Tendncias Contemporneas, um desdobramento das projees de Ivan Illitch, educador mexicano que no CIDOC Cuernavaca anteviu uma sociedade sem escola, na qual o conhecimento seria cultivado em pequenos grupos de interesses especficos. Mais ou menos como hoje ocorre em torno de sites e home-pages da internet. No caso, busca-se intercmbios e formas de divulgao e registros de reflexes, estudos e manifestaes inspiradas ou suscitadas por questes atinentes aos nossos imaginrios, mentalidades e tendncias contemporneas. O Centro est, provisoriamente, instalado rua Vinte e Um de Abril, nmero 77 Vila Tibrio Ribeiro Preto Estado de So Paulo Brasil 14050460 e-mail: dutol@netsite.com.br, para o qual o leitor est convidado a contribuir.  Alguns setores das esquerdas tm uma viso infantil do poder No Capitalismo, sonhar que todo o mundo seja igualmente filho do Papai Noel, como se os presentes que carrega em seu saco para distribuio equnime e justa no tenham custado nada, como se do cu houvessem cado, como num passe de mgica irrealizvel em qualquer sistema scio-econmico, numa mgica realizao eventual da mtica igualdade a satisfazer a crescente massa de despossudos panfletrios-improdutivos,...eis aqu uma das quimeras pr-natalinas das mais babacas. Outro dia, no, outra noite, no programa de entrevistas Roda Viva da TV Cultura de So Paulo, deixando escapar esta sua imagem infantil sobre o que seja poder (justo e messinico), Marcelo Rubens Paiva, autor de Feliz Ano Velho soltou uma destas: no caso da clnica de idosos Santa Genoveva, onde muitos ancios morriam por descaso e inanio, aquele jovem escritor sonhava com o todo poderoso presidente Fernando Henrique Cardoso mandando o Exrcito Nacional isolar a rea daquela casa de repouso e al descendo de helicptero com voz de priso para todos os responsveis pelo que ocorria naquela espcie atual de campo de concentrao. Eu compreendo e louvo a indignao de Marcelo Rubens Paiva, mas um presidente da Repblica no nenhum super-heri de revista em quadrinhos, F.H.C. no Bat-man, nem Antonio Conselheiro, nem o rei Dom Sebastio, nem o Zrro. Alm disto, tal concepo de governo intervencionista, no se coaduna com o to cantado mas pouco respeitado Estado de Direito (to desrespeitado pelos extremistas de Direita e de Esquerda), em suma, uma idia autoritria do que seja exercer o poder ou como se procede um governo que pretenda justia social. Marcelo transforma os donos da Clnica Santa Genoveva em bodes expiatrios de uma sociedade hipcrita que h muito tempo vem relegando ao abandono os raros idosos sobreviventes em nosso pas, descartando-os como objetos exauridos, bagaos secos e superados numa sociedade de consumo voraz e suicida, vida por novas tecnologias para suas cavernas eletrnicas, por novas formas de usar e descartar os outros, seja em salas de bate-papo do universo-on-line, seja at em sua prpria famlia, no seu partido, no seu bairro ou cidade ou na sua igreja.  As crianas de hoje entendem de computadores melhor que os adultos, mas confundem escorpio com barata e podem morrer numa dessas confuses!... Isidore Ducasse, assim se chamava o recm-nascido filho do cnsul francs na Montevideo de 1846... Isidore, que mais tarde se chamaria conde de Lautramont, o outro de Montevideo em traduo literal do codinome em francs. Nosso conde de Lautramont seria uma mistura de marqus de Sade (verso franco-uruguaia), um pr-surrealista, um neo-barroco, um romntico heterodoxo, um baudelaireano com rarssimas aluses a Willian Blake e sequer uma a respeito do nevoeiro misterioso sobre a sua biografia. Morreu com 24 anos, em 1870.. alis, morreu com a mesma idade na qual morrera sua me.. uma mulher que fora empregada ou servial de seu pai e que morreria um ano e poucos meses depois do seu nascimento... morte materna tambm envolta em misteriosa nvoa.. assim como quem ou o que teria motivado a sua ida aos 14 anos de idade para estudar em liceu provinciano francs. Alm de cartas esparsas e alguns poemas, a parte mais importante e inquietante da sua obra est em seus seis Cantos de Maldoror, ttulo referente teso de mijo conhecida na Frana como mal da aurora? Outra inquietante dvida lautramontiana! Enquanto passeava pelas soturnas ruas de la Ciudad Vieja de Montevideo fiquei a imaginar em qual daqueles solares teria vivido os seus 14 anos uruguaios o cruel inimigo do Criador e arquiteto requintado de uma das verses poticas mais horripilantes do Mal. Cheguei a pensar que fra no prdio da atual Chancelaria de la Repblica Oriental del Uruguay... mas como est na avenida 18 de Julio, um tanto longe de la Ciudad Vieja, julguei disparatada tal hiptese. Outra coisa intrigante: quando fui Biblioteca Nacional del Uruguay oferecer uma das minhas vinte e duas coletneas de textos publicados, tentei adquirir alguma publicao ou ensaio sobre este poeta (classificado no fichrio desta monumental instituio) entre os poetas franco- uruguaios mas me disseram que nada tinham a me oferecer sobre Lautramont. Quando papai me exportou para um internato localizado a doze quilmetros da cidadezinha em que nasci, eu tinha a mesma idade em que Isidore Ducasse seguira para estudar na Frana. Ser que foi por vontade prpria? Ou porque o pai o quisesse afrancesar? Ou por j estar suficientemente afrancesado pelo pai desejou ardentemente respirar ares franceses mais devassos e cosmopolitas? Mas com apenas 14 anos j teria tais ndoles demonacas? Tudo depende do que vislumbrara nos pores da casa montevideana do pai e cnsul da ptria de Sade!... Do Uruguai Lautramont s descreveria paisagens litorneas e narraria evolues de guerras, naufrgios fantasmagricos em suas traioeiras costas, ventos praianos, passeios a cavalo sob capas esvoaantes aos ventos praieiros da Banda Oriental... e no muito mais que isso... referncias aos pais, claro.. mas sem localiz-las no Uruguay!.. Muitos preferem l-lo l no seu pas natal com lentes esotricas, mas alguns trechos de erudio hermtica e enciclopdica dos Cantos de Maldoror insinuam timidamente algumas exegeses nestas direes perceptveis s aos iniciados... e olha que a Frana foi uma das mais frteis ptrias da Maonaria!.. Mas o que teria a ver Sade e maonaria? Nada, a meu ver. Lautramont muito mais uma sntese entre Sade, Rimbaud, Baudelaire, W. Blake, Paul Vrlaine e anunciador proftico da verve maldita da cultura francesa do sculo XX (Andr Brton, Blaise Cendrars, Antonin Artaud, Georges Bataille, Jean Cocteau, Jean Genet e talvez Andr Gide). Sade, homem barroco, sugeriu muito do neo-barroquismo latino-americano de Lautramont, antepassado no muito longnquo de Severo Sarduy.... erva dentre as muitas outras ervas do caldeiro fervente e atormentante da erudio labirntica e atordoante de Jos Lzama Lima, ensasta cubano autor do romance Paradiso e mestre espiritual do citado Severo Sarduy. Troncos e esteios fundamentais da rvore genealgica do contemporneo neobarroquismo neobarroso platino e latino-americano de Ruben Dario, Julio Herrera y Reissig, Octvio Paz, Alejo Carpentier, Miguel Angel Asturias, Nestor Perlonguer, Joo do Rio, Adolfo Caminha, Antonio Carlos Villaa, Joo Guimares Rosa, Glauco Mattoso, Caetano Veloso, Glauber Rocha, Di Cavalcante, Milton Nascimento, Jorge Luis Borges, Joo de Minas, Cruz e Sousa, Alphonsus Guimaraens, Euclides da Cunha, Heitor Villa Lobos, Astor Piazolla, Monteiro Lobato, Assis Valente, Joozinho Trinta, Luiz Mott, Cartola, Pedro Nava e outros diabos retorcidos dos cerrados sertanejos do Brasil e de outras plagas hispano-americanas. Um contemporneo deslocado ou no bem sintonizado com o cronolgico. Uma verve mstica e/ou satnica do olhar latino-americano sobre o outro, o que nos diferente, estranho, o que ousa... S uma palavra me devora: aquela que o meu corao no diz. (Sueli Costa). Eu anuncio a m nova de Maldoror: numa era de escassez e virtualidades eleva-se o clamor por justia. O ceticismo pascaliano diante de to polissmico clamor propicia a Maldoror mais motivos para suas divertidas incurses transgressoras. Em seletos fragmentos pinados dos seis Cantos de Maldoror, Lautramont par lui mme: Queria, eu que nada novo lhe ensino, que no sentisse uma eterna vergonha ante minhas amargas verdades; porm, a realizao deste desejo no seria conforme as leis da natureza... Os lobos e os bandoleiros no se devoram entre si... a humanidade no tem direito a queixar-se... que me importa uma legio de tormentas?!... Meus pais me abandonaram.. j no sei o que fazer. O carro dos seres cadavricos, estranhos e mudos, desapareceu no horizonte e s se v a rua silenciosa... Minha poesia consistir, s, em atacar, por todos os meios, ao homem, esta besta selvagem, e ao Criador, que no devia ter gerado semelhante criatura. Recebi a vida como uma ferida e no permiti que o suicdio curasse a cicatriz. Descobriram em minha fronte uma gota de esperma, uma gota de sangue. A primeira havia brotado dos espasmos de uma cortes!... A segunda havia saltado das veias do mrtir!... Odiosos estigmas!... Pois bem, escuta... a confisso de um homem que lembra ter vivido meio sculo, sob a aparncia de um tubaro, nas correntes submarinas que varrem as costas da frica... No arrojarei a teus ps a mscara da virtude... teu respeitoso discpulo na perversidade, porm, no como um temvel rival.. j que no te disputo a palma do mal, no creio que outro o faa: antes deveria igualar-se a mim, o que no coisa fcil... a montanha j no est alegre... permanece solitria como um ancio... as casas existem, mas no se poderia dizer o mesmo sobre aqueles que nelas j no existem. As emanaes dos cadveres chegam j at mim. Quisera beijar seus ps, porm meus braos se fecham s sobre o vapor transparente. O fantasma se esquiva de mim: me ajuda a buscar seu prprio corpo. Finjo ignorar que meu olhar pode dar a morte, inclusive aos planetas que giram pelo espao.. me encontro situado diante do desconhecimento de minha prpria imagem... contra o ventre do granito... a plida via lctea dos eternos pesares. Noite aps noite, obrigo aos meus lvidos olhos a olharem as estrelas atravs dos cristais da minha janela. A eternidade muge como um mar distante. Quando a noite escurece o curso das horas, quem no combateu contra a influncia do sonho na barriga empapada de glacial suor? Era uma noite de inverno. Enquanto a brisa soprava entre os abetos, o Criador abriu sua porta, em meio s trevas, e fez sair um pederasta. (...) O atade conhece o caminho e avana aps a tnica esvoaante do consolador. Os parentes e amigos do defunto fechavam o prstito. Este avana com majestade, como um navio que no teme o afundamento. ... Os grilos e os sapos seguem a poucos passos a festa morturia; to pouco eles ignoram que suas modestas presenas nos funerais de algum seja algum dia notada. (...) Que me deixe baixar pelo rio do meu destino, atravs de uma crescente srie de gloriosos crimes... Assim se realizar a profecia do galo, quando vislumbrou o futuro no fundo do candelabro. Pea ao cu que o caranguejo ermito alcance a tempo a caverna dos peregrinos e lhes comunique em poucas palavras o relato do trapeiro de Clignancourt... O espelho da suprema convulso da agonia... exageraes do medo materno... clculos do meu esprito.. O homem de lbios de bronze se retira. Qual era seu objetivo? Ganhar um amigo toda prova. Um descarnado esqueleto permanece suspenso na superfcie esfrica e convexa da cpula do Panthon: quando o vento o balana, segundo se diz, os estudantes do bairro latino, temendo uma semelhante sorte, elevam aos cus uma curta prece. So insignificantes rumores que, ningum est obrigado a acreditar, e aptos s para assustar crianas. (...) Escuta bem o que te digo: dirige para trs teus passos e no para frente, como o olhar de um filho que evita, respeitosamente, a contemplao da augusta face materna. A brisa que nos golpeava o rosto, penetrava sob nossos mantos e fazia com que os cabelos de nossas cabeas deitassem revoltamente para trs. A gaivota, com os seus gritos e os movimentos das suas asas, se esforava inutilmente em nos advertir sobre a possvel proximidade da tormenta. Antes dos editores dos Cantos de Maldoror comearem a vend-los, os primeiros exemplares da obra-prima de Lautramont foram recolhidos, impedidos de carem sob as vistas dos ousados leitores da mais conceituada cultura humanista ocidental depois da hegemonia greco-romana e da Idade Mdia crist e ainda baluarte ps-iluminista da liberdade de expresso. Se no fosse a ousadia de Len Bloy, intelectual catlico heterodoxo, o primeiro a apresentar e divulgar a obra de Lautramont, talvez poucos teriam conhecido estes cantos malditos, j vrias vezes publicados na Frana, na Espanha, no Brasil, na Argentina e em outros pases hispano-americanos. Talvez Maldoror tenha inspirado a cena inicial do filme Un chin andalouz de Luiz Buuel e Salvador Dali ou tenha guiado o Ladro de bicicletas de Rosselini, ou seja uma verso oitocentista do barroquismo sadiano mas uma coisa precisa ser gritada: este poeta franco-uruguaio precisa ser mais conhecido e estudado!...  Ideologia e racismo na histria das devoes catlicas brasileiras (........) Esprito mpio por que no pensas na morte? Saiba que ela fere na hora marcada. Zanoto Varginha-MG Nossa Senhora do Rosrio era uma devoo tradicional e amplamente disseminada entre os contingentes negros desde a colonizao portuguesa do Brasil. Claro, os brancos tambm veneravam e reverenciavam a Me do Rosrio, devoo esta difundida pelos frades dominicanos, arautos das devassas inquisitoriais. Nossa Senhora Aparecida, embora de tez negra, a padroeira do branco Brasil catlico. Em Ribeiro Preto-SP, a igreja do Rosrio, na Vila Tibrio, est localizada numa praa que, em qualquer cidade do interior do Brasil seria chamada de praa do Rosrio, ali ganhou o nome de Corao de Maria. Ser que esta escolha de outro nome expressa contedos racistas na devoo catlica da populao deste bairro ribeiropretano majoritariamente descendente de italianos? Em Piumhi-MG, a igreja do Rosrio dos Pretos, tem em seu altar-mor, no lugar de Nossa Senhora do Rosrio, uma imagem da branqussima Nossa Senhora de Ftima, a virgem-musa dos catlicos conservadores brasileiros que previu o fim do comunismo no fim do sculo e que provavelmente ali ganhou afresco no teto, vitral e altar-mor em homenagem ao padre portugus Abel, vigrio piumhiense nos anos 50 com ndole nitidamente conservadora. Antigamente, no dia 12 de Outubro era dia de congada e de Nossa Senhora do Rosrio dos pretos e dos brancos e hoje virou dia da negra (talvez s na pele) Nossa Senhora Aparecida, antiga devoo militar medieval, hoje padroeira do Brasil branco e catlico. O espao infinito. Ns somos finitos. Eu sou mortal. O tempo infinito. Ns somos finitos. Eu sou mortal. Na interseo de espaos e tempos infinitos, continuamos finitos mortais como o sapo surpreendido h pouco no meu (?) jardim. Continuamos infinitamente pequenos diante da imensido crescente do universo e to desprotegidos quanto uma macia e mansa cadela cor de caramelo que caminha com dificuldade (por ter uma de suas patas traseiras esmagadas e da qual pende uma enorme e surrealista unhona tipo gancho) pela estao Rodoviria de Passos-MG cata de restos de salgados ao cho atirados pelos brutalizados passageiros que por ali passam. Sua meiguice a mais convincente prova do martrio santificador dos animais deste fim de sculo. Os lbios ulcerados da vagina desta cachorra fizeram doer meu corao. Em Piumhi-MG, h quase 50 anos, um adolescente carroceiro esteve envolvido no rapto da mulher do juiz e, por isso, foi sentenciado e preso. Uma reedio sertaneja do rapto de Helena de Tria e do seqestro das sabinas? Quando estive, em 1990, em Diamantina-MG, um ex-motorista de J K me levou, em seu txi, a vrias cachorras que despencam em torno desta lendria cidade histrica mineira. Agora, no dia 15 de Outubro de 1999, chego a Piumhi-MG e sou conduzido at a nossa casa na Eduardo Heringer pelo motorista de txi Joo Goulart. Com tantos ex-presidentes em meu dia-a-dia pressinto estar ficando famoso ou beira de ir morar no Alvorada. Por pouco, os habitantes do futuro canil do Quinto Peloto de Polcia Militar de Piumhi-MG no se divertiro com os ossos de uma criana, cuja tumba veio luz durante as escavaes para o alicerce desta dependncia para os aliados dos homens da lei. Tal sepultura era uma das muitas que se aglomeravam no Cemitrio Eclesistico de Piumhi, criado pelos padres Balbnios em 1828 e desativado pelo poder pblico municipal em 1932, quando foi aberto a toda a comunidade piumhiense o antigo cemitrio dos Protestantes, que, assim, passava a ser o atual Cemitrio Municipal da Saudade, no bairro das Pindabas, em Piumhi-MG. Tal sepultura infantil ali localizada, era uma tosca construo de tijolos com dimenses aproximadas de 80 cm. X 40 cm., guardava alguns restos do caixo e restos de um anjinho. Alas metlicas cobertas de ferrugem, pregos, pequenos pedaos de ossos, vestgios de ramos de cipreste e at um pouco da mortalha que cobriu o corpo daquela criana morta era tudo que restava daquela annima e curta histria. Recentemente, pg. 14 Mundo da Folha de So Paulo, em sua edio de 8 de Outubro de 1999, informou-se que: um cemitrio de crianas, que pode ser do sculo IX, foi encontrado em um povoado a cerca de 20 km. De Barcelona, capital da Catalunha. A escavao foi feita durante a restaurao de uma igreja. Peas de cermica dos sculos X ao XIV e ossos de padres dos sculos XVII e XVIII tambm foram encontrados.  Itamar Franco quer dar uma de rei absolutista, no caso Luiz XVI, e proclama: Ltat cest moi! Saudades da Escola de Samba Turunas do Riachuelo de Juiz de Fora, na qual desfilei no Carnaval de 1973!... Escola de samba muito apoiada pelos amigos do ento prefeito Itamar Franco!... Os mineiros de Piumh esto apavorados com a possibilidade de uma guerra civil entre Minas Gerais (cujo governador acusa o governo federal de perseguir e isolar o seu estado) unidas ao Rio Grande do Sul (governada, segundo vrios internautas, por um Olvio que tem os quatro ps no cho e que gosta muito de um martelo) contra o governo federal encabeado pelo no-populista Fernando Henrique Cardoso. Para comeo de papo, em 1961 o Rio Grande do Sul brizolista ameaou enfrentar o resto do pas (sozinho) para garantir a posse do gacho Jango, derrubado 3 anos depois pelos militares e sem qualquer reao militar riograndense do sul. Em recentes pesquisas de opinio pblica feitas nos estados destes dois governos rebeldes, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, revelou-se uma opinio pblica amplamente favorvel negociao com o governo federal e contrria renegociao das dvidas dos seus estados. A maioria j sacou que vai ser o prprio povo quem vai pagar os calotes de seus governos locais. Ou, j percebeu que a negociao estabelecida anteriormente foi a melhor para as economias dos seus estados. Afinal, Mrio Covas j deixou isto bem claro. Policiais e professores mineiros esto indignados com os atrasos nos pagamentos de seus salrios. Os mdicos da rede pblica estadual de sade tambm. O calote de Itamar agravou ainda mais este problema dos funcionrios da mquina de servios pblicos de Minas Gerais. Enquanto isto o sr. Itamar Augusto Cautiero Franco insiste em confundir a sua richa pessoal com o presidente da Repblica com o que ele chama de isolamento do povo mineiro. Alis, Itamar no o povo mineiro, desmentindo o seu estilo absolutista, o estado de Minas Gerais no confunde barroco com absolutismo, nem se confunde com a pessoa de seu governador. Minas um dos 27 estados da Repblica Federativa do Brasil (que h mais de cem anos se ressente da falta de clareza e de justia em seu precrio arranjo federativo) e o sr. Itamar apenas um dos passageiros governadores de um estado deste conjunto catico de estados brasileiros. A vitria da Imperatriz Leopoldinense assinala a entronizao de um novo Imperador carioca: Luizinho Drummond. O calote oportunista de Itamar e suas reunies, chamadas pelo governador do Mato Grosso do Sul de clube do Bolinha, no passou de um fracassado gesto demaggico no qual tentou faturar politicamente com a fragilizao do presidente F H Cardoso, desorientado com a crise financeira, econmica, social, poltica e cultural brasileira. O deputado do PPB paraense, Gerson Peres s neste caso tem razo: No existe salvao sem sacrifcio. (citao bblica). No sou eu quem diz, Otvio Frias Filho, diretor editorial da Folha de So Paulo quem escreve o seguinte: Itamar Franco um demagogo irresponsvel que precipitou, com a moratria de Minas, a derrocada cambial. No, Itamar um patriota que teve a coragem de declarar que o rei o Real est nu. Ele conseguiu dividir o pas em dois campos, colocando-se temporariamente no centro da discrdia e dos refletores... Na afobao de folcloriz-lo, o jornal The New York Times publicou que ele usa peruca. (pgina 2 do primeiro caderno da Folha de So Paulo em sua edio de 11 de Fevereiro de 1999). De perucas? Minas no Versailles!.. O mesmo jornalista, e empresrio poderoso na mdia paulistana, analisa a posio poltica de Itamar: um nacionalismo populista mais voltado a garantir direitos do que as condies necessrias para sustent-los.. No comeo de 89, quando a candidatura Collor ainda tinha mais que uma esperana, menos que uma chance, Itamar, que jogava na Segunda diviso, topou ser vice. Demorou anos at se dar conta de que a ruptura apregoada por Collor nos palanques era oposta sua, era a que nos levaria ao choque da internacionalizao. Em outras palavras chamou Itamar de sonso ou bobo que demora a sentir que a ficha caiu. A bem da verdade, me lembro que Itamar e Collor brigaram vrias vezes durante a campanha presidencial de 1989 e durante estas desavenas Itamar ameaou renunciar candidatura de Vice na chapa de Collor. Agora, as celeumas e querelas de Itamar contra FHC tem levado alguns a verem algumas semelhanas entre as conjunturas polticas de 1964 (golpe contra Jango) e a de hoje (quando j se props nova eleio presidencial, ouviram-se rumores sobre golpe contra FHC e at aventou-se a possibilidade do Congresso abrir processo de impeachment contra o presidente reeleito). Mas vrios historiadores entraram no debate e mostraram que tais semelhanas so s aparentes. Tanto em 1964 como em 1999, governadores articulavam frentes polticas contra o governo federal. S isto. E continuo citando o jornalista Otvio Frias: Mais incrvel ainda, seu governo estabeleceu uma continuidade entre as administraes Collor e FHC, que ele to pouco atinou que no faria outra coisa seno aprofundar a internacionalizao. Itamar atravessou todos esses anos como o Mr. Magoo dos desenhos, impermevel ao sentido das confuses que ocorrem a seu lado. E acrescento: e embaixador do governo de FHC em Portugal e, depois, na OE.A Washington D. C., s custas do povo brasileiro. Comparado ao personagem do filme Forest Gump, Itamar, segundo Otvio Frias Filho, um poltico banal, hesitante e intempestivo que, no entanto, pensa, fala e sente como o povo, quando o governo parece perder a cabea e o povo, a pacincia. Mas as pesquisas de opinio pblica revelam que uma ampla e folgada maioria dos gachos e dos mineiros quer os seus governadores negociando com FHC e abandonando suas infelizes idias de moratrias e calotes. Ideologicamente e elitistamente, Itamar e Olvio recusam privatizaes. O radicalismo intempestivo destes dois governadores est sendo criticado por vrios outros governadores de oposio. Itamar, s vsperas do Carnaval, tresloucadamente, convocou o Alto Comando da Polcia Militar de Minas Gerais tendo em vista atos de hostilidade crescente contra o povo mineiro. Outros dizem que Itamar est com medo no de uma revolta popular, mas sim de uma nova rebelio de policiais mineiros. Tudo isto reforou o medo dos piumhienses de uma guerra de Minas mais Rio Grande do Sul contra os demais 25 estados da Federao Brasileira. Se tal ocorresse, nossa histria republicana estaria at hoje como h mais de cem anos atrs, ou seja, estaramos vivendo os seculares conflitos armados entre oligarcas provincianos e o poder central. A convocao por Itamar do Alto Comando da Polcia Militar do Estado de Minas Gerais ocorreu, ironicamente, s vsperas do Carnaval de 1999. Se tal guerra arrebentasse seria a guerra das serpentinas contra os confetes. Na pgina 1-4 Brasil da edio de 12 de Fevereiro de 1999 da Folha de So Paulo noticia-se que uma tradicional loja de fantasias de Belo Horizonte vendia com muita sada mscaras caricaturais do governador Itamar. Mscaras com topete e tudo. Era a mais vendida mscara carnavalesca na capital mineira. Enquanto isto o sr. Itamar evitava aparecer em pblico e ainda nos informava que, mais uma vez, Itamar estava hesitante: ainda no sabia se iria passar o Carnaval em Juiz de Fora, onde um bloco escolheu a sua figura como tema para o seu desfile neste ano. S espero que Itamar no escandalize os mineiros com a sua proximidade poltica em relao s sem calcinhas. Mas a imprensa paulistana insiste em carnavalizar a figura poltica do novo governador mineiro. Ainda no embalo de Otvio Frias Filho, Eliane Cantanhede, na segunda pgina da Folha de So Paulo em sua edio de 12 de Fevereiro de 1999, assevera que: Em vez de convocar a PM, o governador Itamar Franco deveria fazer como o presidente Itamar Franco e convocar Lilian Ramos. Foi justamente no Carnaval que os jornais do mundo todo publicaram as fotos do ento presidente da Repblica com a modelo sem calcinha. E parece que Itamar gosta mesmo de um Carnaval. Sua gesto no governo mineiro um verdadeiro batuque contra o governo federal e o ex-amigo e o ex- primeiro-ministro Fernando Henrique Cardoso. Decretou a moratria e aguou o apetite dos urubs pelo Real. Depois recusou-se a falar com FHC. Virou o governador do no. Agora essa de convocar a milicada da PM para se trancar com ele no Palcio da Liberdade na vspera do Carnaval o samba do crioulo doido. No caso de Itamar tudo to possvel quanto impossvel. Mas, no fundo, no fundo, o que ele fez foi s aumentar a confuso. Alm de aumentar a confuso, Itamar apareceu mais que o presidente Fernando Henrique. Em minha viagem ao Uruguai na segunda quinzena de Janeiro de 1999, vi nas bancas de jornais de Montevideo que s dava Itamar nas primeiras pginas do jornal El Pas e de outros grandes jornais uruguaios. Parecia at que o presidente brasileiro era Itamar Franco!.. Neste sentido, Itamar apareceu demais, se expe ao risco de se configurar como uma personalidade ridcula e estapafrdia. Nada conforme o discreto charme da poltica mineira clssica de Tancredo, J. K., Benedito Valadares, Jos Maria Alkimim, Afonso Arinos de Mello franco, Pedro Aleixo, Milton Campos, Aliomar Baleeiro e Bias Fortes. Deus salve Minas de seus governantes, meu deus!.. Sem Itamar viria o pior: Newton Cardoso! Valha-nos Deus! Faa o Itamar criar juzo enquanto tempo!...  Le peuple c'est moi (...) O futuro de uma nao no o que se teme. Mas, sim, o que ousarmos. Carlos Lacerda poltico e jornalista que viveu entre 1914 e 1977 Nenhuma criana ou adolescente ser objeto de qualquer forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso, punido na forma de lei qualquer atentado, por ao ou omisso, aos seus direitos fundamentais. (Artigo quinto do Estatuto da Criana e do Adolescente) Ou seja: a utopia hegemnica no citado Estatuto passa por cima de uma constatao sociolgica e poltica na qual a sociedade que negligencia, violenta, oprime e explora adultos, fatalmente procede ou proceder da mesma forma com os adolescentes e as crianas. Como e porque com estes segmentos scio-etrios a sociedade se portaria de outra maneira? Por uma questo de condescendncia voluntria e generosa? Lembremo-nos da orientao eclesistica que justificava a escravizao dos negros e, ao mesmo tempo, condenava a escravizao dos ndios e, no entanto, ambos negros e ndios- acabaram sendo escravizados, mesmo que por distintas formas. Quando o professorado (segmento social da lumpen-intelectualidade da cultura brasileira) questiona a angelical ideologia dos formuladores do Estatuto brasileiro da Criana e do Adolescente, quase sempre, tal manifestao vista como conservadora e reacionria .Mas o hiato entre esta classificao, a realidade e a utopia est se aprofundando inquietantemente. A reivindicao de creches pode, mais certamente, apenas estar possibilitando o trabalho extra-domstico das mes. A dicotomia entre os cuidados prestados s crianas nas creches e a educao pr-escolar agua ainda mais o milenar dualismo entre corpo e alma . Diferentes tratamentos para quem indivisvel . Os adultos continuam definindo o que sejam ou o que no sejam as necessidades infants . Nenhum texto legal prev recursos que encaminhem garantias de tratamento ou atendimento e respeito aos direitos, necessidades e realizao do paradisaco bem estar infantil . Marcel Proust e Jorge Luis Borges nos sugeriram que o nico paraso detectvel um paraso perdido. A dvida sobre os reais propsitos dos educadores de crianas mais a fragilidade poltica deste setor educacional fazem com que os governos no assegurem condies favorveis a uma poltica do bem-estar da criana pequena. Assim, muitas das nossas crianas permanecero encarceradas em creches ou trancafiadas em seus barracos por cadeados fechados por suas prprias mes, resolutas em suas determinaes de no facilitar o aproveitamento de seus filhos por traficantes e assaltantes . Antes de corroborarmos a fala daqueles que apregoam o antes isso do que nada (tica dos que tambm usam politicamente as questes da infncia como matrias-primas para seus slogans eleitoreiros veja o filme A IDADE DA INOCNCIA de Franois Truffaut) denunciamos a educao para a subalternidade nas creches que educam crianas para esperarem a troca de fraldas, esperarem o pinico, o copo dgua que pode nem vir, ou esperar alimentos ... Creches que formam aqueles que reaparecero mais tarde em filas de bancos, I.N.S.S., escolas e de supermercados. Tais descasos e a lgica do pequeno poder poltico gerado em torno de questes relativas s crianas refletem a histria das demarcaes da infncia na histria da humanidade e seus provveis desdobramentos nas condies de vida adulta destas crianas de hoje . Quando tocamos nestes impasses polticos e educacionais estamos conscientes de que tais temas pesaro e marcaro as perspectivas que decidiro a prxima sobrevivncia da humanidade. Tardes de Lindia Sinto que se encerra um ciclo em minha vida . s vezes me vejo limpando a lixeira. J expurguei tudo que devia, tenho dito. The End. Lgrimas. Tristeza. Star. Glamour... H exatamente dez anos passei a publicar mais frequentemente meus artigos em diversos jornais de vrios estados brasileiros e agora j tenho pelo menos um mil textos por este Brasil afora .Um certo enfado me domina e quero partir para uma nova empreitada. No acho que seria publicar livros. talvez meus horizontes me levem a explorar as limitadas vastides da lgica binria da Informtica ou, quem sabe?, viagens, msicas, fotografias, novas amizades, alguma novidade vai pintar ou rolar para melhorar ainda mais a minha vida . Assim creio. Ouo a Abertura do Parsifal de Wagner, a melhor msica para consolidar a sensao acima manifesta .Porta-retrato com foto de algum ser querido em cima de uma das minhas estantes para livros...Um lder indgena desafia a ventania do velho Oeste e, naqueles filmes classificados como far-west, chega bem na frente da cmera para um daqueles closes com cocar e decisivas e inabalveis resolues. Se eu escrevesse agora um texto sobre o chorar sozinho num banheiro sujo eu s estaria parafraseando ou citando Cazuza...Se eu escrevesse sobre o luar em um cemitrio eu estaria relembrando Georges Bernanos . Se eu voltasse a escrever sobre uma silenciosa tempestade de neve em um sombrio cemitrio de Dublin eu estaria recordando uma passagem de um conto ou de uma novela de James Joyce que John Houston traduziu para a linguagem cinematogrfica no filme Os vivos e os mortos. Se eu registrasse, em minhas crnicas, aquilo que s eu sofr, eu o faria com os instrumentos e jeitos que herdei da civilizao em que exist . S saberia faz-lo com formas e contedos sofridos por outros . No vivo nem viv a angstia da influncia. No entanto, no sei se conseguiria ter de novo, em meu jardim de Piumh-MG, rosas to formosas (contrastando com um celestial azulado to marcante e inesquecvel) como aquelas que vov Argelina me proporcionou h quarenta anos, em Tabuleiro-MG. Os nicos parasos, repito com Proust e Borges, so os parasos perdidos e deles que eu retiro agora a primeira caneca de plstico com flores parecendo bordadas em ponto de cruz sobre um fundo azul claro e na qual beb uma das mais refrescantes limonadas de minha vida!... S no parto de memrias nossas utopias seriam possveis .S debaixo de nossas noturnas barracas de cobertores, suando, nos libertvamos daquilo que rondava nossos escuros quartos de dormir e de enfrentar pesadelos.  Livres Impresses e abaixo-assinado contra espritas de porco A cada dia me conveno que os anjos do nosso mundo, dos nossos tempos, so os cachorros, os pandas, os passarinhos, os botos e os bises. Talvez os gatos tambm. H mais de dois sculos nossos anjos eram os que revelavam a msica dos cus, a msica da terra assanhada pelos cus, Mozart, Scarlatti, Vivaldi, Sibelius, Pergolesi, Bach, Haydn e, mais recentemente, Rossini, Wagner, Puccini, Beethoven, Chopin, Offenbach, Verdi, Bizet, Ravel, Carlos Gomes, frei Jesuno do Monte Carmelo, padre Jos Maurcio Nunes Garcia, Tchaikovski, Villa-Lobos, Debussy, Erik Satie, Bhrams, Paderwisky, Prokofieff, Shubert, Gounod, Gershwin e Cole Porter. Se no dia ou na noite da minha morte ainda existirem cachorros, passarinhos, Mrios Quintanas, pandas, gatos, tigres, botos, rinocerontes, hipoptamos e lontras, capivaras e macacos, elefantes e girafas, morrerei contente. Estes anjos me alaro aos cus. S agora, ao ler Montaillou de Emmanoel Le Roy Ladurie, eu entendi porque as pessoas mais prximas da morte diziam aos seus descendentes deserdados que no lhes deixariam uma unha sequer dos seus pertences. Isto porque, na Idade Mdia, os mais prximos do fim colecionavam seus fios de cabelos e unhas (ou outras partes no perecveis do seu corpo) para legarem aos amigos e parentes mais prximos aps as suas mortes. A mente medieval do Imperador Carlos V, da Alemanha, Espanha e Holanda, pode ter sido o modelo humano com o qual Miguel de Cervantes cunhou o arquetpico Dom Quixote de la Mancha (Chronos ou Saturno?). Proust e Flaubert, para mim, foram outros anjos. Como hoje o foram Pasolini, Bergman, Visconti, Fellini, Rosselini, Tennessee Williams, Sergei Paradjanov, Jean Luc Godard e Luiz Rosemberg Filho, Antonioni de Blow-up... David Cronemberg... Werner Herzog, Buuel, Saura, Truffaut, Scorcese ... Antonio Bispo do Rosrio... Len Hirzmann, Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos... Rogrio Sganzerla e Fernando Arrabal, ponto final. Quem poderia contestar minha hiptese pela qual minha cadela boxer Saragoza descenderia das negras cadelas (da germnica Floresta Negra) da matilha trazida da Alemanha para a Hispania pelo louro e medieval Carlos V, pai do Imperador Felipe II, Imperador Sol Onipotente e Onipresente porque em seu imprio, que ia das Filipinas aos Andes, passando pelo Brasil e colnias do litoral noroeste africano, Marrocos, Cuba e Chile... onde o sol nunca se punha? Carlos V era como Dom Quixote: embora vivesse em pleno sculo XVI, insistia em viver no apogeu do Medievo cristo. H 3 semanas, uma pedagoga concordou com os que acham que eu sou um E.T. deslocado no tempo e no espao. S porque eu acho que os automveis no deveriam sequer Ter existido em nosso mundo. Os carros tambm no sobrevivero neste mundo que nasceu e findar sem os seres humanos, viventes devassos e suicidas que um dia se eliminaram num ping-pong de bombas de neutros. Acho que Carlos Heitor Cony est querendo dar uma de Jos Saramago brasileiro. Besteira a dele! Outro dia Cony me levou a gargalhadas ao lembrar da resposta que dera no incio dos anos 60 ao jornalista que, numa entrevista, lhe pergunta qual o seu msico predileto. E o cronista da Folha de So Paulo (que no publica em seu Painel dos Leitores reclamaes de soropositivos discriminados pela seguradora do Banespa, a COSESP) respondeu: Meu msico favorito o autor de Ciranda, cirandinha. Atiraram na garagem daqui de casa uma cachorrinha vira-lata de 3 meses de idade e infestada por carrapatos. Procurei por 2 dias um dono para esta rejeitada e no consegui arrum-lo. Como tenho trauma de rejeio, adotamos a coitada que agora no digna de d, Lancia. L e pelcia. Assim formamos em nossa casa um conjunto familiar de cinco coraes a esperarem pelo ano 2000. Uisque misturado no pecado. Destilarias escocesas agora incentivam unio do bom malte at com coca-cola. manchete da primeira pgina da Gazeta Mercantil em sua edio de 13 de Julho de 1999. Pecado eu, diabtico, no poder mais tomar um uisquezinho de vez em quando. Ai que saudades daqueles bombons com ncleos de rum! Hum!.. Delcia!.. E aqueles sorvetes de figo! Ah!... Meu currculo patolgico, de ser humano que viveu oitenta por cento do seu tempo de vida envolvido com instituies escolares, convence a qualquer um que sou, de fato, um homem histrico: j tive lcera duodenal, hepatite B, sfilis, tuberculose, gonorria, micoses, herpes e, agora, a sndrome da imunodeficincia adquirida. Mas no tive leptospirose, toxoplasmose, cncer, hantavirose nem hansenase... Ainda bem, seno eu iria para as pginas hericas e hercleas do Guinness Book. Mas o pulso ainda pulsa. (Tits). Viva David Cronemberg! Agora, no universo humano, imaginar j realizar. Minhas mos tremem ao segurar alguns objetos. rias de Puccini formam a trilha sonora do filme Violncia e paixo de Luchino Visconti. Que lindo!... (.....) A tecnologia uma extenso do corpo humano. A tecnologia a mais pura expresso da vontade humana. Acho que ns atingimos um ponto crtico na histria da sexualidade humana. Ns no precisamos mais manter relaes sexuais para a procriao. Se quisermos, podemos nos livrar do sexo, sem que isso signifique a extino da raa humana. Embora primariamente o sexo sempre tenha sido visto como um ato de propagao e prazer, outros aspectos dele estiveram mais evidentes nas ltimas dcadas: o poltico, o do poder, o do modismo. E estamos num momento crucial, em que o sexo est sendo redefinido, reinventado mesmo. Tomamos como exemplo o cenrio do modismo. Hoje, voc pode colocar um piercing no umbigo, uma tatuagem na canela. Ns tambm temos acessos a cirurgias plsticas para alterar ou mudar anatomicamente tanto a genitlia masculina quanto a feminina. Se existem os mais variados tipos de operaes sexuais, porque no ir mais longe no sentido da criao de novos rgos sexuais que no resultem em gravidez? Este momento de grande avano tecnolgico traz um novo entendimento sexual. Quis jogar com essas idias em eXistenZ. (David Cronemberg). La Zarzuela.. assim chamavam ao restaurante no qual duas tarntulas danavam la tarantella. Walter dispensou a carona de Eurpedes (porteiro do hotel Belas Artes de Piumh-MG) e foi caminhando at a sua casa na rua Dr. Eduardo Heringer. Caminhava e lembrava-se da sua histria pessoal num cenrio natal que s existia aos cacos. Walter Benjamin explicaria o cenrio trgico de Walter e de todos os homens deslocados e com identidades caotizadas em nosso mundo contemporneo. Parece que ns, humanos, somos massas proticas ps-concepes, plenas de cheiros sacanas e erticos. Como queijos com odores de chul a ejacularem espermas que lembram mingau de inhame com um pouco de maizena. Meu ritmo de absoro, digesto e de formulao de respostas s informaes recebidas o mesmo de um ruminante e, por isso, fico desorientado com a presente abundncia de informaes. Tenho recebido tantos cartes, fanzines, jornais, cds, livros, cartas, telefonemas e e-mails que, por excesso de nutrientes intelectuais, vou formando pilhas angustiantes de feno literrio para o meu posterior deleite ruminatrio. Sou lento, R. H vrios dias no paro de ouvir o lbum de rias para piano de Puccini, mas ainda no vi seus 7 vdeos experimentais e, muito menos consegui ler o precioso livro que organizaste e publicaste sobre o cineasta Jean Luc Godard. Sobre o cinema de Luchino Visconti, vou lhe confidenciar o seguinte: os filmes que mais aprecio na filmografia deste refinado discpulo de Antonio Gramsci so: Il inocente e Violncia e paixo. E, para aprofundar o turbilho informativo deste fim de sculo, passa na minha rua uma perua, se locomovendo com lentido, emitindo o seguinte aviso em alto-falante: A deliciosa pamonha com receita mineira est passando na sua porta, para pronta entrega, a preo de ocasio. Mensagem repetida quinze vezes. Morro de medo da crise que vivemos. Teremos uma guerra mundial? O mundo acabar no ano 2000? Preciso reaprender aquela musiquinha sobre o fim do mundo composta por Assis Valente... beijei na boca de quem no conhecia.. peguei na mo de quem no devia... Em Ribeiro Preto-SP o povo aprecia muito uma galinhada. Eu no gosto deste prato e se quiser embrulhar meu estmago me ofeream aquelas canjas de galinha que servem s parturientes em resguardo e que motivaram o seguinte refro que ouvi nos campos de futebol da minha infncia: canja, canja, canja de galinha!.. Arruma outro time pr jogar na nossa linha!... Acho que o hormnio testosterona emanava indistintamente das obras de Ernest Hemingway e Vinicius de Morais, mas nem por isso estes 2 escritores no teriam tido sequer uma ou outra vivncia homossexual. Tem muita gente ganhando dinheiro revelando homossexualismos embutidos em trajetrias de celebridades literrias. Vamos acabar logo com esta charlatanice ou chantagem da era da mediocridade: a cada dia que passa mais e mais creio no seguinte: de louco, de mdico, de poeta e de gay todo mundo tem um pouco. Acho que s o Leonel Brizola e o Jece Valado no concordariam comigo.. ehehehe... Calor no inverno do sudeste brasileiro em 1999, s vsperas do fim do mundo, moo!... Uma reforma ministerial frustrante, um presidente da Repblica desorientado, um pas apavorado, uma sociedade violenta e violentada e muito barulho de motos e carros nas ruas.. nibus roncam e poluem.. e aqui em Ribeiro Preto uma neve preta de fagulhas apagadas de queimadas em canaviais me faz sentir que estamos todos submetidos aos interesses nada saudveis e nada limpos dos usineiros da regio.. Ai da economia do nordeste paulista sem a indstria sucro-alcoleira! Estamos num beco sem sada? Um forte cheiro de borracha queimada envolvia-me ao desembarcar do nibus Iguatemi, voltando de um encontro cujo desfecho foi o cancelamento irrevogvel do I Encontro de Escritores do Interior Paulista e do Sul de Minas. Encontro j divulgado e articulado e previsto para os dias 21 e 22 de Agosto de 1999, no projeto Espao Cultural Ponto Xis Ribeiro Preto. No quarteiro dos fundos da Catedral Metropolitana de Ribeiro Preto temos um grande salo de Bingo parecido com aqueles cassinos de Las Vegas. Tambm em Ribeiro Preto vivemos apartheid social: uma estao rodoviria para pobres (no final da Av. Jernimo Gonalves) e outra para ricos embarcarem para a capital, uma mini-Rodoviria, perto do Estdio do Comercial. Esperamos por um Mandela de verdade em Ribeiro Preto.  Manifesto contra a srdida demagogia Sobre as crticas de Lula, Ciro Gomes, Brizola, Tarso F. Genro, Requio, Itamar e cia.ltda.. ao Programa de Reestruturao do Sistema Financeiro (ou PROER) bom que se deixe claro que tal iniciativa poltica no foi meramente um socorro as ricos banqueiros daqu ou dacol, mas um necessrio e urgente reforo no sistema bancrio usado como depositrio das poupanas e bens de todos os brasileiros. Nenhuma sociedade capitalista do mundo contemporneo funciona com todos os seus bancos faldos ou desacreditados. Outra coisa: quanto a candidatura reeleio de nosso presidente da Repblica, Fernando Henrique Cardoso, necessrio dizer que se tal reeleio se consumar daqu a um ano, o Brasil estar mostrando ao horizonte globalizado da economia internacional que goza de, pelo menos, um tanto de estabilidade poltica, condio material bsica para novos investimentos estrangeiros em nosso pas ou nossa melhor integrao ao fluxo das riquezas do mundo atual. S os demagogos passam por cima desta conjectura ou possibilidade. Infelizmente a demagogia uma erva daninha que se alastra por todo o pas, compactuada ora com a corrupo ou com o corporativismo e precisamos achar uma sada no- autoritria para a superao deste quadro. H poucos dias o infeliz ministro da Sade teria dito que os remdios distribudos aos doentes de AIDS no Brasil estariam prejudicando as dotaes oramentrias para o tratamento de doenas que atinjam um nmero maior de brasileiros (potencialmente eleitores). Mas o ministro, ao afirmar tal besteira, fingiu desconhecer que a economia que se faz na reduo expressiva das internaes de imunodeprimidos muito mais aceitvel que uma interrupo no fornecimento de tais medicamentos. Caso o governo brasileiro proceda tal interrupo o Brasil estaria produzindo um novo super-vrus da AIDS contra o qual novas e longas e carssimas pesquisas seriam a curto prazo desanimadoras, como os discursos dos demagogos. O mito da Criana Salvadora No foi o Cristianismo a primeira religio a alardear o potencial salvador de uma criana (como o nosso natalino Menino Jesus). Antes do Cristianismo, o Judasmo depositou em um menino rescm-nascido, que descia o caudaloso rio Nilo num cestinho de vime ou junco, a tarefa de libertador e salvador dos Hebreus da escravido no Egito. Era Moiss!... To universal o mito da Criana Salvadora que no Brasil pr-Cabralino algumas tribos consumidoras de mandioca repassavam aos seus descendentes uma lenda na qual a menina encantadora Man morre no auge de uma crise de escasss de alimentos e, as lgrimas abundantes dos que choravam sua morte propiciaram o renascimento de Man sob a forma de mandioca, alimento que salvaria seu povo da fome e da morte. Outros povos e culturas ofereciam aos deuses vidas de crianas para concretizarem operaes salvficas entre suas divindades e suas gentes. At mesmo os Hebreus realizaram tais sacrifcios de crianas. Aztecas, Maias e Incas tambm ofereceram vidas humanas aos deuses. Alguns povos africanos tambm ofereciam vidas infants aos seus orixs. No Cristianismo ibero-americano tivemos, at dcadas atrs, procisses de crianas vestidas de anjos para coroarem a Virgem Maria. Belas imagens!... A virtualidade como transio temporal entre o ser e o no ser durante a presente crise global dos juros e cmbios H pelo menos seis sculos a nascente economia de mercado ocidental europia j operava com a virtual produo futura de bens ou riquezas contidas em cartas de crdito e aes de Bolsas que se especializavam em determinados produtos, como por exemplo a bolsa de Moscou era a Bolsa das peles e das carnes; Bruxelas era a bolsa dos tecidos finos; algumas feiras se especializavam na venda de brinquedos, instrumentos musicais, perfumes, vidros e cristais, queijos, vinhos e champagnes, mveis e livros, etc.... Mercadejar o que j existe mais concreto e palpvel; vender o futuro estmulo `a produo e prova de garantia, certeza ou estabilidade nos fluxos dos mercados. Se na economia o dilema shakespeareano entre o ser e o no ser redundou na tragdia mais antiga da humanidade (ter ou no-ter), o encontro histrico destes impasses na presente virtualidade dos mercados, na atual tecnologia da virtualidade informtica conflui tambm para a alegoria barroca da ampuleta, na qual se mostram cada vez mais indissociveis a morte e a vida, razo e no-razo, desejo e necessidade, trabalho e lazer, paixo e amor e at Eros e Tanatos.  Minha alma no pequena, mas ser que vale a pena? Hilda Hilst e sua obra incompreendida me lanam no abismo da incerteza melanclica: porque fazemos questo do reconhecimento? As rivalidades entre escritores (Andr Gide teria prejudicado a edio das primeiras obras de Marcel Proust) e as desonestidades editoriais dos que fazem as mdias mercadolgicas e as sacanagens de alguns jornais e fanzines sem critrios ticos na montagem de colagens de fragmentos de correspondncias ou textos de cartas trocadas entre escritores do chamado circuto alternativo me fazem ver um panorama de concreta barbrie cultural. As listas dos cem mais importantes pintores do sculo XX provavelmente no incluro o pintor modernista francs Emile Othon Friesz mas, para mim, sua tela Outono em Honfleur (Automne Honfleur) pintada em 1906 e hoje integrando a coleo do Museu de Arte Moderna de Paris, e agora exposta no Museu de Arte Moderna de So Paulo, figuraria na lista dos cem leos sobre telas mais interessantes da histria da pintura nos dois ltimos milnios! No exagero, veja a tela citada e comprove. No entanto, eu nunca ouvira falar deste artista plstico francs. O pintor egpcio-paranaense Alberto Massuda anda triste: perdeu o amplo apartamento que alugava no centro de Curitiba e agora vive encolhido numa gaiola-studio designada no mercado imobilirio como Kitinete (a respeito do drama deste conceituado artista plstico, leia o Caderno G da Gazeta do Povo de Curitiba em sua edio de 6 de Agosto de 1998. Minha alma no pequena, mas ser que vale a pena? No sou um romntico a reclamar um fluxo de bens culturais desencadeado margem de uma economia de mercado globalizado. Minha inquietao de outra ordem: ser que vale a pena investir tanta energia e to extenso projeto de vida na criao de objetos e textos de valor histrico-cultural a serem aleatoriamente avaliados ou canonizados por critrios mercadolgicos ou ideolgicos? Ser que vale uma tumba a glria ou o reconhecimento pstumo. Quando at o gado bovino, as galinhas e os cachorros ouvem Tchaikovsy, Bach, Vivaldi, Beethoven, Mozart, Sibelius, e Haendel, oitenta e nove por cento das massas populares e da medocre classe mdia preferem danas do tcham, dana da garrafa, o sambo fundo-de-quintal do sapatinho e outras miserites culturais. At as porcas j provaram que produzem mais carne e banha quando ouvem Verdi, Erik Satie, Carlos Gomes e Offenbach. Nossa mediocridade nos leva a sambar em louvor de calcinhas, bundinhas e garrafinhas. Por isto dizem escritores e dramaturgos que a espcie humana est em extino ou no tem futuro ou uma espcie que no deu certo. Minha sensibilidade no fechada nem rgida, mas ser que vale a pena? Quando alguns disseminam a fome, a ignorncia, as pestes, os vrus e as bactrias muitos acham que o nico monstro o manaco motoboy que estuprou e ameaou devorar os cadveres das suas incontveis vtimas. Minha alma ps-helnica, mas ser que vale a pena? Puxe e imprima via Internet textos do jornal parisiense Le Monde sobre o Maio de 1968: interessantssimos documentos histricos sobre as tendncias do mundo contemporneo. Nos fins de semana praticamente sufocante e impossvel aproveitar ou apreciar a exposio de Salvador Dal no Museu de Arte de So Paulo-Av. Paulista,1578-Saint Paul cross manacs: uma fila para comprar ingressos, outra para chegar a uma catraca que nos d acesso a um mini shopping de objetos, livros, lbuns e cartes reproduzindo designers, estilos e obras de Dal, mais uma fila para sair deste mini shopping e uma quilomtrica fila para ir vendo pea por pea da exposio Salvador Dal: telas, aquarelas, croqus, projetos, painis, esculturas e ensaios fotogrficos, etc.. Ufa! .. Ambiente pouco propcio aos prazeres estticos! Ou a viagens surrealistas!.. Haja flego!.. Comea agora a mega-exposio de Caravaggio- o mais polmico pintor barroco italiano do sculo XVII (dezessete). A Assessoria de Comunicao Social da Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul (sediada rua dos Andradas nmero 736 segundo andar sala 10 Centro Porto Alegre RS Brasil 90010110 fone: 051-2266974), agradeceu os textos de minha autoria a este rgo pblico por mim enviados, oferecendo-me edies do jornal RS Cultura, publicaes recentes da Casa de Cultura Mrio Quintana e um precioso Calendrio Cultural Gacho com todos os cursos, simpsios, seminrios, concursos, mostras, espetculos musicais e opersticos, teatrais e cinematogrficos, eventos literrios e feiras de livros, exposies de artes plsticas a ocorrerem na capital riograndense do sul, no interior do estado de Caio Fernando Abreu e em Buenos-Aires, informando-nos ainda sobre os endereos de todos os tipos de entidades e instituies pblicas ou privadas dos mbitos culturais e artsticos de Porto Alegre, interior do Rio Grande do Sul e Buenos-Aires.... o Mercosul em sua faceta cultural. O Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeiro Preto anuncia a promoo de muitos concursos (literrios, de msica, cinema ou vdeo, fotografia, humor e artes plsticas. Inscries at 18 de Setembro deste ano,claro!... Informe-se na sede do prprio sindicato: rua XI de Agosto, 361 Campos Elseos ou na biblioteca da Secretaria Municipal da Educao com Cida Fascino. Dona Ivone Freitas Grellet, qual o novo telefone do Bonfim Notcias? Voc tem certeza que j me mandou todas as edies do Bonfim Notcias de meados de Junho at a primeira quinzena deste Agosto? A coluna literria mais antiga e conceituada do interior mineiro, assinada h quarenta anos por Zanoto, no Correio do Sul de Varginha-MG, tem publicado, eventualmente, a coluna Eu bem te v na rua, publicada h alguns meses pelo seu generoso Bonfim Notcias, canal de expresso deste importante distrito do municpio paulista de Ribeiro Preto, terra do milagroso menino Pedro! Cidade vizinha de Monte Alto, onde est o tmulo da Santa Izildinha, to invocada na atual novela das oito... e cidade vizinha de Jardinpolis, cidade que sedia a capela do Bom Jesus da Lapa, fundada no incio deste sculo pela polmica e milagrosa Pequena!.. Capela da Lapa para a qual todos os anos, em 6 de Agosto, tantos romeiros e peregrinos se dirigem para l formularem suas promessas ou l depositarem seus agradecimentos por graas alcanadas sob as diferentes formas de ex-votos (mos, ps ou cabeas de cera, fotografias, vestidos de noivas, muletas, fotos ou mechas de cabelos, pinturas e quadros com temas sacros. Por hoje s, meus caros leitores! Abraos do professor Jos Luiz Dutra de Toledo.  Miss Brasil 2001 adverte: a fome ronda os lares da classe mdia Me lembro como se fosse agora: h 30 anos, numa noite de Julho de 1969, enrolados em cobertores, deitados em colches espalhados pela casa de nossos pais (recebamos a visita da famlia da tia Celeste do Rio de Janeiro e, nessas circunstncias, perdamos nossas camas para as visitas) e tremendo de frio, assistimos Neil Armstrong pisar pela primeira vez na Lua. Foi uma puta emoo. Eu tinha 17 anos e 7 meses!.. E no me lembrava que, na mesma semana que o primeiro ser humano da nossa espcie pisava na Lua, realizava-se na costa leste americana o festival hippie e de Rock, com ntido carter pacifista, conhecido como Woodstock/1969!... Trinta anos! muito tempo, no? Um tero de um sculo!.. Quase que um tero de sculo!... Apocalipse e Armagedon em marcha no mundo ps-Guerra-Fria: vivemos um pesadelo traumtico. As fomes e as pestes tornaram-se de massa e policlassistas. Privar-me da internet me desespera tanto quanto a fome de frutas, de amor, de ptalas de rosas e de cereais. Uma amiga octogenria agoniza em Belm do Par. Mais uma perda s vsperas do ano 2000? Este papo alarmista j no o papo do louco que passa gritando num viaduto ao longo do filme Paris-Texas de Wim Wenders. Vivemos o triunfo da razo paranica. Mame, no chore!.. No tem jeito!... Para a razo paranica, para morrer basta estar vivo e tudo possvel e nada impossvel. A doena-sinal (ou sintoma) dos nossos tempos a sndrome do pnico. Sirenes e luzes de ambulncias, de viaturas policiais e de bombeiros eletrizam os ares urbanos, reforando nossa disposio de no sair to cedo de casa e de deixar o mundo estourar l fora. Ser que foram os americanos que nos legaram este impulso de instaurarmos em meio ao presente caos mundial nossos particulares e individualistas parasos residenciais e neles vivermos a iluso de que estamos num outro mundo, distante do mundo dos telejornais e das aulas de geografia e do mundo que comea na calada de nossas casas? Que o nosso mundo c de dentro nada tem a ver com o mundo l de fora? Gostaria tanto de viver serenamente tudo, mas os nossos tempos me inquietam. Na boca de um caixa de supermercado uma menina de 14 anos levou minha caixinha de pudim diet sabor chocolate, deixando-me apenas a de mamo papaia. o fim do mundo, gente!.. Estou desorientado de tanta raiva desta larapiazinha!.. Com a fome rondando os lares da classe mdia, briguei por causa de uma caixinha de pudim diet sabor chocolate!... Que vergonha, meu falecido pai comerciante!... J no estou mais certo do valor literrio da minha escrita. Talvez esta minha forma de expresso tenha mritos extra-literrios. Esta falta de convico sobre o valor esttico do que escrevo abate-me, desprovendo-me de um dos sentidos para a minha existncia. Ser que o que escrevo vale como um documento revelador dos nossos tempos? Sim, claro que vale como um registro dos nossos desequilbrios contemporneos; responde um historiador que mora l dentro de mim. O som da gua despencando da torneira sobre os azulejos do tanque de lavar roupas ou uma lmpada inutilmente acesa, as horas de conexo internet, uma televiso ligada sem telespectadores ou um aparelho de som que tocou por vrias horas e no foi ainda desligado s me causam aquele medo mensal das tarifas de gua, luz e telefone. Aqui no estado de So Paulo s vezes tenho a sensao de que quem no tem tanquinho tem mquina de lavar roupa ou vice versa. gua e luz: contas que andam juntas, uma puxa a outra. Meu Deus, que mundo mais desconfortvel! Tudo mquina, ou trabalho ou conta a pagar! Cruzes!.. Os assanhaos engaiolados talvez sejam os ltimos de uma espcie de pssaros j em extino. Um dia sonhei s com espcies de passarinhos j extintos. No meu sonho vi um que trazia uma espcie de bico ou ponta de espada retorcida no topo da cabea... vi tambm um que trazia os ps guarnecidos com uns braceletes de couro preto adornados com tachinhas prateadas, estilo heavy metal. Um andao de gripe virtica (sado provavelmente da floresta amaznica) atingiu So Paulo, deixando milhares de nocauteados, inclusive o meu amigo pugilista Jos Otvio Salles... Outros penderam entre a pneumonia e a tosse com febre alta por vrios dias. o fim do mundo, gente!.. Est chegando o ano 2000!.. H mais de um ano venho notando que meus textos esto deixando de ser publicados na maioria dos jornais que os publicava quase regularmente. J imaginava o que poderia ser, mas hoje uma leitora paulistana, moradora nas adjacncias da Av. Paulista, embora alguns a classifiquem como uma senhora de Santana, abriu o jogo quando lhe propus a compra de um exemplar das minhas coletneas e livros artesanais: sua literatura inteligente mas transgressora. At o stalinista Georg Luckcs defendia uma literatura que enfrentasse o touro, que desse combate aos minotauros de nossos labirintos... como Garcia Lorca, Andr Gide, Oscar Wilde, Baudelaire, Verlaine, Rimbaud e Virgnia Woolf.. e muitos mais... mas, parece que nossa hipocrisia catlica muito enraizada ou a discrio vale mais que a literatura em si. Mas, tudo bem. A revista literria vanguardista curitibana Medusa recusou minhas textuais colaboraes, mas meus ensaios e crnicas, desde 1998, esto sendo publicados por revistas literrias eletrnicas como a Proa da Palavra (de Porto Alegre), a Blocos (do Rio de Janeiro), a Nau da palavra (do Vale do Paraba) e agora Verbo (de Braslia). Uma porta se fecha, mas muitas se abrem para as minhas inquietaes, aconchegando-as no vasto labirinto contemporneo da Internet. Jean Cocteau escreveu: Aquele que corre menos do que a beleza s pode produzir obras medocres; o que corre to rpido quanto ela produzir obras banais; o que corre mais rpido do que a beleza corre o risco de ser incompreendido, vilipendiado, objeto de sarcasmo, de dio e de desprezo. Mas, se ele parar no meio do caminho e permitir beleza cansada o alcanar, nascer uma obra-prima que ser o produto da fuso da beleza admitida e da beleza revelada. (citao feita pelo artista plstico francs Georges Mathieu, nascido em 1921, expoente da corrente artstica chamada abstrao lrica). No palco, trs grupos entoam canes aparentemente desconexas. esquerda, um grupo canta assim: Pra, Pedro! Pedro, pra! Pedro, pra! Pra, Pedro! Pra, Pedro! Pedro, pra! Este Pedro uma parada!. direita, um outro coral entoa a seguinte cantiga: No aperta, Aparcio, no aperta! No aperta, Aparcio, no aperta! No aperta, Aparcio, no aperta, no aperta, Aparcio, no aperta, no!..... E no centro do palco um outro grupo canta assim: Mereces o desprezo, e nada mais! Podes chorar, podes sofrer que eu no volto atrs!.. (...) Eu vou tirar voc deste lugar, eu vou tirar voc deste lugar, para voc ficar comigo, e no ser triste e nem pensar no que passou.. eu vou tirar voc desse lugar!. No conheo essa senhora, mas seu nome extico, Fataumata Touray, seu pas de origem, Gmbia, e sua residncia atual, a cidade catal de Banyoles, me bastam para reconstituir sua histria. (....) .. morrer tragicamente morrer de morte natural. (...) No preciso ir ao hospital Josep Trueta, de Girona, onde lhe esto agora soldando as costelas, os pulsos, os ossos e os dentes que ela quebrou quando saltou pela janela do segundo andar do edifcio onde morava, para divisar sua pele da cor do bano, seu cabelo duro de passa de uva, seu nariz achatado, os lbios grossos, esses dentes que foram alvssimos antes de se quebrarem, os olhos sem idade e os grandes ps nodosos, inchadssimos de tanto andar. So esses enormes ps gretados, de calos geolgicos e unhas violceas, de dermatoses com crostas e dedos petrificados, o que acho mais digno de admirao e reverncia na Sra. Fataumata Touray. Esto andando desde que nasceu, l na remotssima Gmbia, pas que muito pouca gente sabe onde fica. Porque a quem no mundo interessa e para que pode servir saber onde fica a Gmbia? (...) Os jovens que quiseram transformar Fataumata Touray em brasas no so racistas nem xenfobos. So farristas. Quer dizer, rapazes indceis, travessos, malcriados. (...) Por que esses jovens doentes de tdio, nada racistas, no queimaram a casa do prefeito, o Sr. Pere Bosch? Por que esses rapazes nada xenfobos no deram uma volta, com seus gales de gasolina, pela casa do conselheiro Poms? Por que escolheram o tugrio de Fataumata? Sei muito bem a resposta: por mero acaso. Ou talvez porque as casas de imigrantes no sejam de pedra, mas de materiais ignbeis, e ardem e crepitam muitssimo melhor. (...) Tudo possvel neste mundo, at isso. Mas uma coisa de que estou inteiramente seguro que ela no ficar para conviver com seus desconhecidos incendirios na capital do Pla de lEstany. E que, to logo saia do hospital, os sbios ps retomaro a caminhada, correndo rpido, sem rumo, pelos perigosos caminhos cheios de fogueiras da Europa, bero e modelo da civilizao ocidental. (...) Alarmar-se com isso parece ser de pssimo gosto, uma manifestao de parania ou de sinistras intenes polticas. (...) Essa uma histria banal na Europa de fins do segundo milnio, onde tentar queimar vivos os imigrantes de pele, ou culturas, ou religies exticas turcos, negros, rabes ou ciganos se vai tornando um esporte de risco cada vez mais difundido. (....) A fome faz milagres, estimula a imaginao e a inventiva, atira o ser humano para as empresas mais audazes. Milhares de espanhis que h cinco sculos passavam tanta fome quanto Fataumata, escaparam da Extremadura, Andaluzia, Galcia, Castela e realizaram essa violenta epopia: a conquista e colonizao da Amrica. Mario Vargas Llosa em artigo intitulado Os ps de Fataumata, publicado na pgina A-2 do jornal O Estado de So Paulo em sua edio de 25 de Julho de 1999. O tdio juvenil bem como o cada vez mais profundo mal estar da civilizao contempornea me amedronta e me faz ver o quo prximos estamos de um abismo suicida e como o nosso destino se nos afigura repelente e asqueroso. No sei por que algumas putrefantes almas humanas ainda se arvoram a manifestaes hipcritas e to ftidas quanto os esgotos que fluem de seus lares. Desde menino achava que a literatura fosse crtica antes de ser inveno. Li Tolsti, Camus, Elliot entre os 14 e 18 anos: nos trs encontrei um violento mal-estar em relao vida social. (...) At hoje acredito que a verdadeira crtica (que se distingue do estudo universitrio, cientfico ou histrico da literatura) seja tambm crtica da sociedade. (...) Uma crtica literria chata e obscura um contra-senso, uma verdadeira traio. (...) A grande maioria diz o que as editoras e os autores querem que se diga. E a j estamos na publicidade. (...) ... transformaram a poesia em assunto de seminrio universitrio. (...) Mas o que hoje mais impressiona a quantidade de pessoas que escrevem. Parece que escrever e ser publicado um dos direitos reivindicados: se escreve para ser aceito e no para ser realmente lido. Alm do que existem hoje mais escritores do que leitores. uma situao paradoxal e ingovernvel, que paralisou a crtica. (...) E com freqncia acontece que os mais conhecidos, publicados pelas editoras, no so de fato os melhores. Muitas vezes se trata de razes no literrias: relaes pessoais, favores recprocos, simples inrcia, etc. ... No apenas o pblico da poesia feito somente de poetas ou aspirantes poesia: o problema que nem mesmo os poetas lem muita poesia. Uma arte sem pblico real corre srios riscos. Tentem imaginar o que aconteceria msica se ningum fosse capaz de distinguir a msica do rudo.... o que est acontecendo com a poesia. (...) preciso tornar a literatura presente na sala de aula. (...) Trata-se tambm de lembrar que os autores escreveram para serem lidos, no para serem ensinados. Muitos deles se sentiriam mal em relao ao uso que se faz na escola e na universidade de seus livros. (...) preciso acima de tudo criar leitores. S mais tarde alguns deles iro se tornar estudiosos. Alm do mais, que tipo de estudioso ser aquele que negou e matou dentro de si mesmo o leitor apaixonado? Existe um mtodo simples para entender essas coisas. perguntar se o estudioso de Virglio ou de Baudelaire l Virglio ou Baudelaire nas horas de folga ou s os estuda nas horas de trabalho. (trechos da entrevista de Alfonso Berardinelli, crtico literrio italiano contemporneo, ex professor da Universidade de Veneza e que abandonou a vida acadmica, concedida aos professores de cursinhos pr- universitrios Luiz Soares Dulci e Maria Betnia Amoroso, publicada no pedante caderno Mais da Folha de So Paulo em sua edio de 25 de Julho de 1999). Sem dvida, o espao cultural literrio brasileiro cada vez mais rido ou desrtico, desanimador. Escritores confundem militncia esquerdista com expresso literria e incluem Chico Buarque, J Soares, Luiz Fernando Verssimo e outros bem sucedidos porta-vozes de tendncias polticas no rol dos escritores da literatura brasileira contempornea. E, tendo em vista o que disse acima Berardinelli, o panorama brasileiro parecido com o de vrios pases europeus, s que mais trgico e pattico quando percebemos as conexes polticas entre as nossas misrias sociais, econmicas e culturais. (...) ... o sol um astro radioso, porm terrvel... Penso que o mal faz parte do homem, que ele humano. Os cristos pensam que o homem um ser decado. (...) S um ser livre capaz de crueldade. O animal no pratica o mal. Em compensao, a herana mais preciosa do cristianismo sua concepo da pessoa: todo homem, toda mulher um ser nico e sagrado. O sculo 20 se esqueceu disso no nazismo, mas no pensamento revolucionrio tambm. (...) O que impressionou de imediato nos Estados Unidos no foi a cultura, mas a vida. por isso que gosto muito desse pas, apesar de seus pecados. (...) A corrente de pensamento que mais me impressionou na ndia foi um pensamento expulso, o budismo. Para mim, o caminho de volta para o Ocidente passou pelo budismo. (...) Sempre tive uma espcie de recuo diante do monotesmo, que a meu ver a raiz da intolerncia ocidental. Veja o cristianismo, mas tambm o Isl. Ora, o budismo profundamente ateu. No acredita em um Deus criador. (...) Porque os pensamentos polticos em sua maioria foram insensveis s paixes humanas, aos crimes, aos amores, a vida cotidiana, a tudo aquilo que enche as pginas dos jornais. S os poetas e os dramaturgos Shakespeare abordam esses assuntos. (...) Gostaria de dizer, para terminar, que o pensamento poltico devia ter como tarefa a reconstruo da pessoa humana. (...) ... a cincia comea a redescobrir a alma no prprio corpo. sobre essa base que preciso reconstituir a pessoa antes de pensar na reforma da sociedade. No se deve recair nos velhos erros revolucionrios e, no entanto, se deve proclamar que nossas sociedades precisam de reformas profundas. Octavio Paz, em entrevista concedida em 1996, em Paris, a Jacques Juliard. Tais reformas profundas no ocorrem nem no Brasil nem em Cuba nem na Argentina porque nossas elites esquerdistas e direitistas se travestem de revolucionrias para viabilizarem seus acessos ao poder, ostentam um prfido e fingido bom gosto esttico, acham chic curtir Tom Jobim ou Chico Buarque ou Astor Piazola e defendem as escolas doutrinadoras e esquerdizantes de Fidel Castro ou o sistema de sade pblica cubano (em troca do qual o governo cubano interditou as liberdades democrticas e a reflexo sobre os direitos humanos na sociedade cubana) e at promovem viagens tursticas de apoio ao regime ditatorial e militarista cubano. Gosto de ouvir msicas de Tom Jobim, mas quando vejo larpias corruptas da classe mdia parasitando, dilapidando e exaurindo recursos para a sade pblica, a educao e a cultura brasileira, ouvindo, em micro- computadores de reparties pblicas, Cds deste clssico msico carioca, passo a sentir as vertigens de um ceticismo to estonteante quanto a que sentiria em uma infinita caminhada pelo Inferno da Divina Comdia de Dante Alighieri. Conheo at um jovem artista do PFL de Ribeiro Preto-SP que j foi a um convescote com Fidel Castro, em Habana, gente!.. D para acreditar? .. .. Bem que o Glauber Rocha h 25 anos atrs nos dizia que estava em marcha em todo o mundo uma guerra na qual os ricos (de direita ou de esquerda) tentavam esmagar os pobres (de direita ou de esquerda). O ecstasy, nesse sentido, como uma metfora, porque comercializado, comprado e vendido, mas tambm uma maneira de as pessoas se sentirem mais felizes, de se socializarem. A pea mostra personagens de um mundo em que o mercado impera, mas que buscam sadas. (....) Mas claro que o teatro americano mais conservador. Os crticos l ainda buscam no teatro um lugar onde voc possa ver pessoas gentis fazerem coisas boas (ri), o que obviamente voc no tem em Shopping and Fucking. Mark Ravenhill, teatrlogo ingls contemporneo, autor das peas Handbag e Shopping and Fucking, entre outras. Aquilo que no me mata me fortalece. Friedrich Nietzche. ... espantoso o que as pessoas tm de agentar devido a seus genitores sem falar em seus genitais... Por que fazer perguntas se as respostas no te agradam?... Seremos obrigados a deix-lo ir embora. J temos dois existencialistas no xadrez. (...) Ir a um pub, o Zodiac em Tower Hamlets, aconteceu quando minha memria se viu amputada, depois de me lanar num programa de dez minutos sobre a essncia do conhecimento, fruto da inevitvel indagao a respeito da filosofia. (..) ... este o fim da minha permanncia na filosofia, ou, pelo menos o fim de minha carreira como pensador de nove s cinco. (...) No entendo por que as pessoas teimam em continuar fingindo que existem quatro estaes nesta terra. (...) Tudo to descartvel e chato que me espanto por minha conscincia se dar ao trabalho de cumprir sua funo. (...) Pareo-me com pedras de calamento demasiadamente seculares. (...) No h futuro suficiente para todos. (...) Carncia de futuro. Um passado e tanto que me ultrapassou. Faam sua escolha. J tive importantes lapsos muitas vezes antes. (...) Eu sucumbira a um ataque de querer descobrir o mundo de verdade, um devaneio que nos aprisiona a quase todos durante certo tempo. (...) Ento o presente no estava presente. Meus sentidos foram censurados. O futuro cortou meu crdito. (...) ... e meu rosto olhava para cima. (...) O que aconteceu exatamente eu jamais consegui reconstituir. (...) ... memrias, fico, efuses amorosas ou um guia para a Zululndia o que a maioria das pessoas alimenta como projeto e guarda na cabea, sob priso cerebral, para morrerem sem escrever... (...) Under the Frog (expresso hngara que significa viver abaixo do cu do cachorro ttulo do meu livro que ironizava os regimes comunistas do leste.. e agora, com o meu livro A Gangue do Pensamento lano sarcasmos e ridicularizo o idealismo ocidental. (...) o marxista aquele cara que, por conta prpria, resolve que a vanguarda do proletariado e, a partir da, acha que pode fazer o que bem quiser porque a histria o apoiar. (...) E tambm os avisamos: ao entrarmos num banco para assalt-lo nos proclamamos a Gangue do Pensamento. Se os bancrios e banqueiros nos responderem com citaes de clssicos, deixaremos o banco em paz. Nosso lema: somente a cultura poder salv-lo da Gangue do Pensamento. No chame a Polcia, leia os clssicos. No compre um alarme, compre um Zeno!... (...) Depois de todos esses anos, o que tem a filosofia, e na verdade o conhecimento humano, a dizer de si? (...) Como todos sabemos, a soluo para um problema realmente difcil abandon-lo. do escritor Tibor Fischer, em seu livro intitulado A Gangue do Pensamento, publicado em 1999, no Rio de Janeiro pela Editora Rocco. Encontrei agora noitinha, quando voltava do trabalho, descendo a Capito Salomo, o ex-aluno Glauber. Acho que falei demais ou o quanto no devia. Glauber um barato!.. Fiquei satisfeito em rev-lo.. Agora quero ouvir Carlo Santana e tomar minha cerveja no- alcolica Kronenbier. Hum! Que delcia! Geladssima! Putzzz!.. Boa noite!..  Mundividncias de um habitante de uma caverna eletrnica no fim do segundo milnio Ouv numa noite dessas, durante o fluir da pera La Traviata, que o amor o palpitar de todo o universo. Mas tambm h poucas noites, ao fechar os meus olhos para tentar dormir. Ouv numa noite destas, assistindo pera La Traviata, que o amor o palpitar de todo o universo. .Mas tambm h poucas noites, ao fechar os meus olhos para tentar dormir, s duas da madrugada, jorrou, jorrou, jorrou..... uma cascata de genitlias e carnalidades humanas: era o meu crebro expurgando o excessivo nmero de imagens brutalmente erticas que inundou as minhas vistas por muitas horas Internet- Universo on-line. No fim do sculo vinte posso rever, quando quiser, graas ao vdeo-cassete e aos cd-roms, preciosidades enciclopdicas e cinematogrficas como Danando na chuva, O stimo selo (filme de Ingmar Bergman), Spartakus, Girassis da Rssia ou Teorema de Pier Paolo Pasolini, ouvir Karajan, Toscanini, Maria Callas ou Caetano Veloso/anos 70 em cds, beber uma cerveja no alcolica holandesa ou operar resgates de fragmentos de minha memria de dcadas atrs revendo, sem qualquer tecnologia ou mquina assistindo com os olhos fechados ao filme, franquista segundo alguns, Marcelino Po e Vinho, por que no? Hoje v, num caderno de turismo de um matutino paulistano, homens virs portugueses em tanques repletos de uvas para os ps ps-helnicos daqueles vares esmagarem .Pisoteando-as para que do seu suco fermentado se tenha o mais famoso vinho ibrico, o do Porto. Com esta globalizao cultural a permitir que este humilde funcionrio pblico possa visitar a minha desejada Braga via- Internet, s no esto satisfeitos os stalinistas nacionalistas e os nazi-fascistas ou os desempregados pelo prprio comodismo imobilista. (....) No sei como nem porque, at posso estar sendo incoerente, mas admiro muito as msicas de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Milton Nascimento e a literatura de Jos Saramago mas h muito no concordo... com a maioria das suas manifestaes polticas. Porque ser que isto ocorre comigo ou com os que admiram Jorge Luis Borges e se consideram de esquerda? Ainda bem que todos os nossos inimigos so mortais, todos morrero, disse Paul Valry. Tambm no entendo os que combatem contra o consumis mo e o desemprego em nome de uma sociedade mais livre e justa (Pascal j dizia que qualquer um de ns se considera justo e o que seria a justia em nossas conflitivas sociedades seno a sobreposio ou a hegemonia de um conceito ideolgico de justia sobre os demais conceitos e ideologias por a circulantes?) quando se sabe que sem consumo e sem consumismos no haver mais empregos e sem emprego ou sem as empreitadas espordicas do futuro mundo sem empregos estveis ningum sobreviver!?.... Sou to ignorante que no consigo decifrar a hipocrisia cnica das esquerdas que condenam as prises consumistas engendradas pelo Capitalismo .Assim como nos evangelhos e nas guerras santas da Cristandade ansiosa por mil anos de felicidade com um s rebanho e um s pastor, ou um s partido, ou s uma central sindical,os comunistas e socialistas defendem um tal de centralismo democrtico ou um unitarismo paradisaco e milenarista, sem dores, livres de todo mal, numa harmoniosa e ditatorial partilha espontnea dos bens comunais e prescindindo de leis, do Estado e das Igrejas. P.H. Xavier ou Raul Bopp (na esplndida crnica de P.H. Xavier, intitulada O passado feito por ns mesmos, publicada no jornal Correio do Sul de Varginha, Minas Gerais, em sua edio de 12 de Dezembro de 1997, pg. 5 do primeiro caderno, solta uma destas: E t, linda Soraya, em que ignotas solides sem eco escondeste o teu vulto romntico de rainha triste? De minha parte, j perd o sono muitas vezes desejoso de ir a Marienbad. Eu digo e repito que realmente o universo misterioso. Enfim, nas utpicas e milenaristas guerras santas maniquestas da histria do Cristianismo (pr e ps-franciscano) e nos regimes ps-jacobinos que nos acenaram com justos e sombrios parasos pr ou ps-Chernobyll ou nos iludiram com promessas de resgates de parasos perdidos, a nossa libertao no ocorreu pois s vivemos e sonhamos pesadelos totalitrios e os cultos a um s pastor, a devoo e a proclamao de uma s f trouxe mais situaes inquisitoriais e infernais ao mundo atual. Leiam, a propsito do que at aqu vimos pensando, o livro do historiador francs Jean Delumeau, intitulado Mil anos de felicidade uma histria do paraso, editora Compahia das Letras So Paulo 1997. Afinal, aqueles que prometem a felicidade queles que no tm medo de ser feliz deviam esclarecer mais transparentemente os passos operacionais de suas mgicas utopias. bvio que prometem a felicidade porque quase todos ns fomos fisgados pelo anzol que nos levar mais cedo ao den. Prometem a felicidade porque querem o poder a qualquer custo e o povo a qualquer custo quer satisfazer suas necessidades e fantasias e desejos. legtimo que tenhamos nossas aspiraes mas menos doloroso e menos infeliz realiz-los sabendo que toda conquista implica em uma opo e ao fazermos tal opo estamos aceitando alguma perda ou algum custo material, emocional ou espiritual .Mas, vejamos o seguinte, em nossos projetos de felicidade devemos conhecer transparentemente e mais ntidamente os mitos, os valores e as imagens que herdamos de antepassados e vanguardistas, entre tais mitos est o prprio mito da felicidade, nsia milenar repassada por todas as geraes s que lhes sucederam, quimera utpica de altos custos para todos ns e para o nosso planeta.  Ningum diz tudo o que pensa ou sente e se o dissssemos o mundo teria um enfarte fulminante Crnica de: Neo-barroco Toda pessoa que diz sempre a verdade acaba sendo apanhada em flagrante. Oscar Wilde O que eu digo verdade e vrias vezes realmente fui flagrado. Mas, como homem moderno (ou ps-moderno) omito um mea culpa. Tem hora que a gente tem de se fazer de boba, diz Diva. Departamento de Investigao da Vida Alheia. Ativando a circulao dos meus demnios atravs dos meus circuitos de neurnios, eu os deixo estafados e me torno angelical. O bblico cinismo divino hoje evanglico. Uma ex adolescente disse na televiso: se tem uma coisa que no muda o fato de que todos os dias mudamos algumas coisas em nossas vidas. A boca do cu seria to platnica quanto o cu da boca? O futuro ser passado, o presente j foi futuro e o passado teria sido o nascedouro de muita coisa e de muitos seres que nem chegaram a nascer, abortados por desencontros imprevisveis e, muito menos, comearam a existir e a prosperarem. E tudo se quebrou e virou um quebra-cabea no qual cada um de ns tenta mont-lo sua maneira. Eu aqui me limito a revelar cacos amontoados em minha labirntica trajetria. Meu primeiro livro de cabeceira no foi da coleo Livro de Cabeceira do Homem da editora Civilizao Brasileira de nio Silveira (coleo lanada no fim dos anos sessenta), mas, sim, o meu primeiro livro de cabeceira foi Romain Rolland par lui mme, traduzido para o portugus, e comprado numa livraria da avenida Amaral Peixoto, no centro da ento capital fluminense, Niteri. No passado, no presente e no futuro brilham os luminosos lrios das estrelas (Cruz e Souza), desabrochados em faustosos brocados do Firmamento (Cruz e Souza) como se extasiados diante das trevas que suportam ps de lua e mida terra (Jos Lzama Lima) com o beneplcito omisso do Superior. Paul Valry s admitia a beleza leve da pluma se a mesma ainda estivesse viva no dorso da ave que a fez brotar do inexistente. Meu vo alienado e aleatrio um passeio pelo que me constituiu. Como a Jos Lzama Lima, arrepiam-me a firmeza mentida do espelho e o canto gregoriano do rio -enxurrada que busca o poente da foz sem gritos para ajudar na fuga do dormir. E acrescenta Cruz e Souza:.... aps o esmaecer da luz, a Via Lctea resplende como um solto colar de diamantes e a Lua surge opaca, embaciada, num tom de marfim velho. Minha lngua uma labareda em desesperada busca de alvio e serenidade. O mais expressivo artista plstico brasileiro do sculo XX um outro mulato, como o Aleijadinho dos sculos XVIII e XIX, chamado Antonio Bispo do Rosrio, e eu sou seu Arcipreste, a regar os ciprestes dos jardins das cinzas. Meus sapatos so de um couro cinza camurado como os plos de um rato comum do dia-a-dia. Ningum nos molda de novo com terra e barro, ningum evoca o nosso p. Ningum. (..) Louvado sejas, Ningum. Por ti queremos florescer/ Ao teu encontro. (Paul Celan traduzido por Cludia Cavalcante)... S em parte concordo com Allen Ginsberg (1926/ 1997): o mtodo deve ser a mais pura carne assada com molho simblico de champignons, mostarda, aspargos e uma pitadinha do mais autntico curry (tempero indiano)..... regada a raros relatos crus. Com menos de cinco anos de idade cai sobre estacas de ps de tomate na horta da minha casa e quase furei meu olho esquerdo. Minha sala de psicanlise na cozinha do meu local de trabalho: l tempero alfaces calmantes com minhas lgrimas salgadas. Fui dipo, hoje sou Saturno. profunda e irreversvel a minha descrena em relao a todas as formas e atitudes revolucionrias. Para mim o que se busca s uma suspeita virao de mesa, quem no est no poder ou quem partilha fatias de poder (por eles consideradas insatisfatrias), assume o mando da nao totalitariamente, s isto. Eu gostava muito de inhoque e h mais de um ano no preparamos tal massa aqui em casa. Me ds champanhe em uma taa no formato de seios maternos? Minha loucura expressa me consola. Edith Piaf canta La vie en rose, mas eu prefiro outra cano do seu repertrio: Non je ne regrette rien. Gosto mais desta sua cano. Hoje vou comer bolo diettico de chocolate. H muito tempo no vejo um jogo de futebol na roa, nem vejo algum com gumex no cabelo e nem tento mais saltar do bonde em movimento, nem existem mais bondes!.. Ser que estou ficando no passado?... Eu gosto de mingau de fub com couve rasgada, uma pimentinha malagueta, e feijo preto e, suando, e tomando pratadas desse mingau, muitas mes amamentavam seus bebs louros ao mesmo tempo que portavam bolsas de couro cru cheias de fraldas e babadores. Adoro at hoje a essncia do talco Johnsons. Reminiscncias olfativas e proustianas da minha infncia. Um mar de f oculta annimos naufrgios. Estudantes revolucionrios da Unio Nacional dos Estudantes e, provavelmente da Juventude Universitria Catlica, em Setembro de 1959, quando eu voltava de trem da minha Primeira Comunho em Congonhas do Campo Minas Gerais, ao entrarmos num tnel (e eu nunca tinha visto a escurido de um tnel), comearam a gritar que estava ocorrendo um desastre ou que estava acabando o mundo. Danei a gritar aterrorizado. Papai custou a conter meu pnico e minha me, envergonhada, ria sem graa e me beliscava, dizendo: Fica quieto, bobo!.. Estes estudantes me introduziram no mundo do medo e, talvez por isso, at hoje associo arquetipicamente revoluo e terror, medo e fim do mundo, modernidade e baguna... talvez eu seja descendente de algum inconfidente mineiro ou de algum revolucionrio francs guilhotinado ou tenha tido algum dos meus milhes de ancestrais sacrificados beira de algum caminho pelos soldados de Carlos Magno.. no sei.. s sei que algo profundo me ocorreu a partir daquela desrespeitosa e agressiva instalao do medo de um desastre final em minha sobressaltada alma infantil. Chegar ao lugar ao qual nos destinamos um milagre, partir um gesto de esperana.. fluxos e refluxos em nossas dores, festas, chegadas e partidas, viagens.. Minha literatura um ex-voto de gratido pela continuidade da minha vida num mundo no qual a vida tem cada vez menos valor ou sentido. Estrias votivas ouvidas num labirinto repleto por uivantes peregrinos a baterem desesperadamente nas portas de baslicas, mesquitas e sinagogas fechadas por tteres de estados ateus. Impedidos de ingressarem naqueles espaos sagrados, banquetearam em frente de uma deslumbrante cachoeira, em torno da qual comiam, cantavam, estalavam os dedos como castanholas, danavam e lavavam seus corpos e suas almas com gua diamantina, ovelhas assadas oferecidas em lindas e longas mesas forradas com toalhas brancas ou pretas salpicadas com multicoloridas e perfumadas flores, ao ritmo de msicas dos povos do Cucaso. Encostado a um muro de uma fbrica desativada, e vestindo cala e jaqueta de jeans, sou cortejado pelos homens que passam em carros ou em motocicletas... eles admiram o meu estilo ps-moderno diante do mundo contemporneo, no qual volto para casa em nibus super- lotado por aflitos seres genericamente designados como humanos. O sculo e o milnio esto se esvaindo na ampulheta do deus Chronos.... As eventuais festas e comemoraes suspendem as agruras do cotidiano. Ao luar, em seus reflexos sobre nuvens em formatos de carneirinhos prateados, Jesus apascenta suas ovelhas, enquanto lhe escapam, para regies trevosas, as desgarradas de seu celestial rebanho de almas. Duas horas antes, ngela Maria e Pery Ribeiro cantavam a Ave Maria Brasileira.. Emocionante!.. O patriarca ortodoxo, embora seja a favor do ditador da Iugoslvia, nos abenoa com o seu cajado de ouro de pastor dos eslavos cristos e a sua capa de ouro cheira incenso e mirra da Prsia, aps dcadas de rituais em meio a fumaas e odores msticos, que em formas aleatrias ascendem aos cus dos retbulos em estilo Pedro, o Grande, adornados com colunas salomnicas. Nesta hora, em minha casa russa, eu lavava meus ps em gua morna, tomava leite aquecido sobre uma camada de acar tostado e preparava-me para dormir com os anjos num quarto com paredes da cor de salmo com arabescos dourados. Em meus sonhos, uma voluptuosa cobra ostentava um couro de ona com manchas de ouro de dezoito quilates. E quando fumei maconha pela primeira vez me imaginei sob uma chuva de pingos luminosos de ouro mineiro e na mais profunda e serena solido. Enquanto no Brasil quase todos os projetos de resssocializao de pessoas idosas levam a bailes aparentemente animados por lances quase jocosos, na Inglaterra uma parcela expressiva das pessoas com mais de sessenta e cinco anos de vida, abandonadas por suas famlias, comeam a consumir drogas e, outras, a praticarem assaltos mo armada em bancos e supermercados. A caravela com a qual este Ulysses joyceano singra os mares de vinagre do mundo ps-moderno semelhante ao arcabouo de um avestruz. Uma vez em terra, corro para a minha caverna eletrnica para navegar ao sabor das ondas da internet. E quando estou no epicentro verde azulado de um deserto de gua salgada, quero caminhar a p at os confins desse ovo planetrio. Um novo golpe de estado no Qunia nem sequer alterou o fluxograma das rotas areas africanas. Quando o acar elaborado nos caules surge no fundo das flores, como xcaras mal lavadas um grande esforo se produz no solo de onde, sbito, as borboletas alam vo. (incio do texto potico A borboleta de Francis Ponge 1899/1988). As barbricas violncias nos estdios de futebol ingleses e holandeses me levam a pensar na hiptese spengleriana de decadncia do ocidente ou de declnio da civilizao europia, agora to violenta quanto os povos empobrecidos e marginalizados da sia, da frica e da Amrica Latina e de outros guetos de descendentes de indgenas, hispano-americanos, asiticos e negros nas sociedades norte-americanas. Diante da ameaa de runa que paira sobre a civilizao que ainda precariamente ordena esse mundo sinto pavor diante da possibilidade de um vcuo civilizatrio ou diante da emergncia de despotismos fundamentalistas e ideolgicos a sucederem o legado que orientou o desenvolvimento histrico ocidental aps a decadncia do Imprio Romano e a hegemonia da Igreja em questes do poder temporal medieval. (...) que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi. Caetano Veloso, na letra da sua msica Sampa. Tanto me excitam nossa cumplicidade e sensualidades diante dos nossos cheiros e formas culturais de existir nos trpicos brasileiros!.. A santa rebola em cima do andor ao som do dobrado da banda de msica Santa Ceclia, de Tabuleiro Minas Gerais. Se a Bahia o nosso bero, Minas o nosso oratrio, Pernambuco foi o nosso engenho, de onde saiu grande parte do acar que condimentou nosso sonho brasileiro. O Rio de Janeiro a festa, a algazarra de papagaios carnavalescos. E o Rio Grande do Sul a mais saudvel configurao do vigor e virilidade da alma brasileira. O Paran a terra da pinha e da erva-mate dos nossos chs com torradas em nossos dias de crianas classe mdia com diarria. O Mato Grosso do Sul o cenrio mais deslumbrante do paradisaco casamento entre a terra e a gua. O Mato Grosso do ouro de Cuiab, a terra que lembra Rondon, o amigo dos ndios... O Acre que foi boliviano.. o Amazonas dos bois de Parintins e da nossa mais profunda alma cabocla, o Par da Virgem de Nazar... O Maranho dos babauais.. o Piau, nosso bero pr-cabralino? O Cear dos jangadeiros e do padre Ccero.. O Rio Grande do Norte dos cajueiros e de Luiz da Cmara Cascudo.. a Paraba de Ariano Suassuna e da minha cunhada Alda... Gois da Cora Coralina e seus tachos de goiabada e mangada.. as Alagoas de Graciliano Ramos, o Sergipe e sua Aracaj.. a Nossa Senhora da Penha de Vila Velha do Esprito Santo e suas areias monasticas de Guarapari e os barriga-verdes de Santa Catarina, litornea e interiorana, turstica e industrial, germnica e brasileira.. E So Paulo do mundo encantado de Monteiro Lobato e das prostitutas com meias de seda preta e fbricas e rodovias super-modernas... So Paulo dramtica, violenta e arrojada!... Quando sumirmos neste mundo, alguns diro que cavamos covas profundas e nelas nos metemos em espirais sem fundo, sem fim. Atrs de Paul Celan. Foi l em Conceio do Formoso que se deu a concepo de Joaquim meu pai, filho de Argelina com Pedro o formoso. Meu av paterno se parecia um bocado com o ex-governador paulista Adhemar de Barros. Os paulistas sempre me lembram tambm dos bombons brigadeiros, das paocas de amendoim de Campinas, do caf de Ribeiro Preto, de Batatais, Altinpolis e de Franca e, como New York nos lembra o Empire State, Sampa nos encanta e nos amedronta com o seu altssimo edifcio do BANESPA, ou o apavorante restaurante de vidro no terrao do edifcio Itlia.. Brasil.. meu Brasil brasileiro!.. Meu mulato inzoneiro!...  O enjo paulista Aps vinte anos de vida em So Paulo, consigo sentir um profundo enfastio e nusea abatendo a alma paulista. So Paulo decai, se empobrece. As universidades paulistas no vislumbram mais superaes para suas viciosas espirais acadmicas. A direita patrimonialista tucana est gritando: Esto matando a nossa galinha dos ovos de ouro, gente! Paul Claudel afirmava que o cu to azul que s o sangue mais vermelho. Pois eu afirmo que as listras pretas da bandeira paulista no podem ser mais pretas do que as suas listras brancas. O confronto cultural entre Minas e So Paulo se reatualiza. Joo Guimares Rosa no via a obra de Mrio de Andrade como um dos parmetros esttico-literrios para a sua narrativa romanesca. Rosa repelia os abrasileiramentos e os programas e plataformas de Mrio, recusava seus paradgmas plebeizantes e empobrecedores da lngua, apoiados numa sintaxe popular (filha da ignorncia ou da indigncia verbal). Leia, a respeito desta questo, o ensaio de Leda Tenrio da Motta intitulado As margens do sentido em Guimares Rosa em seu volume de ensaios Catedral em obras, publicado em So Paulo pela Iluminuras em 1995. Os horizontes platinos chafurdam num catico pntano nostlgico e irreversvel. A Paulicia ps-industrial, anmica, nem se cora diante do escuro e ftido Tiet. Seu histrico rio virou um emblema do auto-desrespeito paulista. Mazzaroppi o Carlitos paulista. Hoje, a TV Globo a Hollywood paulista. A Catedral da S precisa ser restaurada seno desaba. Falta-nos f. A falta de dissimulaes, o jogo aberto, pesado e ostensivo, as colunas greco-romanas-estadunidenses, a preguia soturna aps um jantar/banquete de sapecas empresrios gays paulistas, nada disto, por ora, ter um Proust altura para descrever e narrar. Hebe Camargo est muito longe de ser uma condessa Chevign... dona Lila Covas seria a anttese da duquesa de Guermantes!... Quem seria o Swann paulista? Z Simo? Darcy Penteado teria sido o Sainte-Beuve da Paulicia? Creio que nenhuma dessas comparaes sejam razoveis. Os paulistas j nem vo mais de terno e gravata aos cinemas, nem desembarcam de trens com aquelas capas europias de gabardine..... e, se no inverno, com capas negras de l, como as que os franceses e os alemes de Dsserldrff envergam!.... (....) O amor o espao e o tempo tornados sensveis ao corao... No se ama ningum quando se ama. Marcel Proust. Em So Paulo, o libertino cosmopolita cede lugar aos tarados, aos sdicos policiais, aos delegados devassos ou aos moto-boys do parque do Estado!...Assombraes sexuais esvoaam pelas estaes do metr paulistano, por praas e saunas, relax e cemitrios paulistanos. Favos e nichos psicoteraputicos em espiges da selva de pedra paulista no salvaro o moo que no pra de desejar os calos dos ps de um jogador de futebol. Cai a mscara da objetividade cientfica uspiana/unicampiana ou puquiana. (...) Eu gostava de navegar nesse lago, avizinhar-me do rochedo imvel, medi-lo por inteiro, encobrir-me em sua sombra espessa. (Marcel Proust). Nos subterrneos paulistas desenterro os cheiros patriarcais do passado bandeirante, peidos, hlitos matinais de bordis, cheiros de mijos em colches de palha de milho, baforadas caipiras de cigarros de fumo de corda ou de rolo, maus hlitos de dentes podres..... Hortas viosas regadas com cristais multicoloridos de gua dos riachos no poludos de outrora nos proporcionavam almoos deliciosos e sonolentos. A boca de pedra da cisterna da dona Raquel, fresca como um osis, a espreguiadeira dos gatos da vizinha que tosse porque nunca tira da boca o seu cigarro de palha. Proust pergunta se a realidade s se forma na memria. Monteiro Lobato bem que poderia ter sido o Proust paulista mas no o foi. s vezes na vida, sob o golpe de uma emoo excepcional, a gente diz o que pensa. (...) Pois muitas vezes desejei rever uma pessoa sem me dar conta de que era simplesmente porque ela me recordava uma sebe de pilriteiros, e cheguei a crer e a fazer crer num renascimento de afeio quando no havia mais que um simples desejo de viagem. (...) mais azul parecia a lonjura dos bosques... (...) as pessoas mais sinceras tm sempre algo de hipocrisia e ao falar com um terceiro, se despojam da opinio que tm a seu respeito, expressando-a logo que o outro se retira... (...) pois no pensamos em ns e sim em sair de ns. (...) as mesmas emoes no se produzem simultaneamente, numa ordem preestabelecida, em todos os homens. (...) Acho muito razovel a crena cltica de que as almas daqueles a quem perdemos, se acham cativas nalgum ser inferior, num animal, um vegetal, uma coisa inanimada, efetivamente perdidas para ns at o dia, que para muitos nunca chega, em que nos sucede passar por perto da rvore, entrar na posse do objeto que lhe serve de priso. Ento elas palpitam, nos chamam, e, logo que as reconhecemos, est quebrado o encanto. Libertadas por ns, venceram a morte e voltam a viver conosco. assim como o nosso passado. Trabalho perdido procurar evoc-lo, todos os esforos da nossa inteligncia permanecem inteis. Est ele oculto, fora do seu domnio e do seu alcance, nalgum objeto material (na sensao que nos daria esse material) que ns nem suspeitamos. Esse objeto, s do acaso depende que o encontremos antes de morrer, ou que no o encontremos nunca. Marcel Proust. Para Rolland Barthes, Proust compreendeu que no tinha que contar sua vida, mas que sua vida tinha a significao de uma obra de arte. (Cf. in: BARTHES, R. Le Bruissement de la langue Paris Seuil 1984 p.319). Dialogando com o pensamento de Barthes, Proust aduz: A verdade no precisa ser dita para ser manifestada. So Paulo ainda no est em busca do tempo perdido, por isso ainda no tem o seu Marcel Proust. Ou W. Benjamin tinha razo em seu ensaio sobre a crise do discurso narrativo ocidental? As flores das laranjeiras de Bebedouro, as tulipas tropicais da Holambra ou os roseirais de So Roque ainda no foram traduzidos em cores e em perfumes. Os bolos formigueiros de Altinpolis-SP ainda no suscitaram catrticas e revolucionrias lembranas como as madeleines oferecidas a Proust por sua tia. Os Moreira Salles, os Setubal, os Piva ainda no investiram muito em arte e cultura, mas j o fazem. Na alegria arbitrria da imaginao, cachorrada para mim festa. A grosseria da burguesia do interior paulista me lana ao ventre da nobreza. Em So Paulo, os ricos odeiam os pobres, sentem nojo dos pobres. E o conceito de pobre da burguesia paulista o mais pobre deste mundo. Em So Paulo, a burguesia s imita. Aqui, mais honestamente, como no livro da Leda Tenrio da Motta, tudo citao. Em sua fazenda Pimenta, Batatais-SP, o casal Roberto/Beatriz busca alguma similitude com o perfume stendhalino de milhares de violetas. A imensa bacia orolgica paulista to antiga!... O perfume das savas o mais autntico perfume caipira paulista. Acho que acabei de dar uma de amigo tamandu das savas, coitadas!... Levei minha marquesa de So Paulo at Braslia e, de l, com uma cunhada, ela seguiu at a sua provncia do Par. Antes, tremendo de frio e com o sol raiando no Planalto Central, tomamos um caf num bar da Rodoviria de Braslia. Esta minha nobre amiga sempre atribua-me a superior condio de paulista. Talvez pelo tamanho do meu corpo, maior que o corpo mdio dos paraenses. Exclama Marcel Proust em meus ouvidos: Como, em psicologia, o sofrimento vai mais longe que a psicologia!... Da idade das cousas idade do couro e das cordas vocais, meu trajeto paulista ensinou-me a sentir nojo e asco pelo esnobismo grosseiro e abrutalhado dos paulistas. O poeta alemo Heine repassou a Freud e a Proust o seguinte chiste: um calista e agente de loterias (agora entendo porque conheci tantos engraxates que vendiam bilhetes lotricos) contava, com orgulho, que tratara os calos do banqueiro judeu Salomo de Rotschild e que, durante o servio, o tal ricao sentara-se ao seu lado, tratando-o de igual para igual, muito familionariamente. Em So Paulo tambm os pobres fingem gostar dos ricos, puxam seus sacos e quando os encontram em semforos, em seus caros carros importados, os cumprimentam ostentando intimidade com o bacana. a mmese social e poltica paulista. H muito no como um virado moda paulista. O lembrvel sem limites, nos adverte Leda Tenrio da Motta. Mas hoje comi lombo de porco assado, moda da empregada da me do Ra. Um assado artesanal, caseiro. Adeus carne de panela oculta por banha de porco!.. Dava-me vertigem ver, abaixo de mim e no obstante em mim, como se eu tivesse lguas de altura, tantos anos. Marcel Proust. A poesia uma dana sem caminho, sem sair do lugar... a prosa uma marcha, pensou Paul Valry. E completou: ...entre a voz e o pensamento, entre o pensamento e a voz, entre a presena e a ausncia oscila o pndulo potico. A poesia paulista brota na arca do negro profeta-cantor Itamar Assumpo, na lngua porosa do podlatra Glauco Mattoso, nos textos da decadente duquesa Hilda Hilst ou na msica da ex-roqueira e ex- marginal Rita Lee. Jatos indefinidos e imprevisveis como a vida!.. A literatura paulista pobre como a sua burguesia. Jos Mindlin o maior biblifilo do pas e ex- dono da Metal Leve. Uma exceo. Oswald de Andrade o exemplo mais contundente da pobreza autoritria e modernista da literatura paulista. O verdadeiro escritor um homem que no encontra palavras. Paul Valry citado por Leda Tenrio da Motta, em obra aqui citada. Tudo citao., repito. O meu primeiro e infantil contato com o mundo paulista foi comendo paoquinhas de amendoim, vendidas no interior de Minas por caminhonetes (com carrocerias azul-marinho fechadas) da fbrica de doces Campineira. Nunca li nada do poeta francs Henri Michaux. Mas, um reveillon interrompido por uma crise de desamor, numa aristocrtica herdade dos Cintra, na zona rural de Bragana Paulista, no chegou a me traumatizar. John Lennon acabara de ser assassinado. Nunca mais esqueci os mordomos me servindo sucos beira da piscina da fazenda, nem dos mveis art-nouveau com vidros de gua de cheiro lils. Criados mudos cobertos por frias pedras de mrmore!... Ser que parecer causa o aparecimento do objeto? Para o poeta Francis Ponge nossas derrotas nunca sero completas. Ter ou ter tido a maior parte da riqueza nacional no fez de So Paulo a capital cultural do Brasil. As universidades paulistas tornaram-se insuportavelmente enfadonhas e pegajosas. As livrarias paulistas viraram shoppings de livros ou onde se compram livros por quilo!.. Os espetculos, shows e vernissages das noites paulistas nos so oferecidos como eventos- mercadorias da indstria cultural paulista, brasileira ou global. Em So Paulo vi concretamente que uma andorinha sozinha no faz vero. O Festival de Msica Erudita de Campos do Jordo muito frio, chocho, vazio, suntuoso e politiqueiro. Tenho um profundo desprezo por estes rituais estreis de novos poderosos ou novos ricos da incompetente e decadente cultura paulista. Prefiro viver entre dois infinitos: os caminhos da vida e o sono perptuo da morte. Desci de uma das bocas da area baleia da empresa de aviao uruguaia e na alfndega de Cumbica me perguntaram se era estrangeiro. Disse que no. E, em seguida, me dispensaram de apresentar documentos e me deram boa vinda!. Fiquei aliviado ao voltar a pisar solo ptrio. Assim, pela primeira vez, me senti, a um s tempo, brasileiro, mineiro, gacho, paraense e paulista. Mas em que difeririam as almas dos bois brasileiros e as almas dos bois do Uruguay? Ser to no serto ou to ser no deserto, no essa a minha questo fundamental. Existiria uma questo que me seja fundamental? No, tudo me banal neste bananal. Tudo bang-bang no meio deste intenso big-bang!...  O leite das feras Vov era vigiada pelos porteiros que temiam o vai-e-vem de seus namorados. Movimentado o apartamento daquela benquista senhora!... Um dia, vov caiu de pernas abertas no assoalho encerado da sala quando exibia s suas netas mais queridas seus passos de ballet prediletos e l ficou imobilizada pela dor e pela emoo por vrios minutos. Sua filha Lgia, com uma verruga nas costas ressaltada pelo decote do seu vestido de mulher escandalosa dos anos 50, chega e a guinda ao sof celestial no qual cessaram as dores e suas cansadas carnes reviveram conforto e alvio. No existe o mal sem o bem e vice versa. Melanclica a moderna descrena nos desenvolvimentos escatolgicos ou teleolgicos ou ideolgicos. Est todo mundo querendo danar o rock da mula manca, gente!.. Vov misturava todos os tempos no liqidificador da sua oficina de sabores, cheiros, perfumes e sentidos. Nunca fiz concurso para trabalhar no Banco do Brasil. Mas sempre gostei de dinheiro ou do que com ele pudesse ter. Nestor Perlonguer denunciou a perseguio de africanos em feiras de grandes cidades do norte italiano, a expulso de portugueses da Sua e confessou desejar que a Frana fosse invadida pelos rabes. Sou uma folha sem rvore. A rvore tambm se posta contra a peste. O Brasil um pas com nome de rvore e suicida devastando suas florestas, se drogando e seduzido por lderes mafiosos, violentos e criminosos. Este o mais desastroso resultado do nosso machismo ignorante e irresponsvel. Entediam-me os elogios ao invivel, assustam-me os vcuos de poder que em breve sero preenchidos pela truculncia poltica das gangs de bandidos sinistramente fascistas ou stalinistas dos nossos tempos. Adeus aos meus sonhos de avels e aos cheiros de brinquedos novos nas manhs de dias de Natal!... Mercados, negcios, desejos e fantasias, caminhes verdes de madeira, vozes humanas glorificando a Divindade rondam e conformam nossas inconclusas identidades. Nunca morrerei afogado no rio Ouse, Sussex, sudeste da Inglaterra. (....) No tenho aptido para amizades. Entre dois amigos, um sempre escravo do outro, embora (..) nenhum dos dois o reconhea; ser escravo coisa que no consigo e mandar, nesse caso, um trabalho enfadonho porque alm de tudo ainda preciso enganar; alm do mais tenho um criado e dinheiro. Mikhail Lirmontov (1814/1841). O vestido de Marylin Monroe era tecido por fios de lgrimas diamantinas e, com as mos postas sobre o seu sonhado tronco, serpenteava um rosrio de prolas coaguladas do leite da loba que amamentou Rmulo e Remo. A gravata do lder messinico esvoaa insuflada pela ventania que avassala os canaviais dos ilimitados horizontes de nossas labirnticas paisagens. A f nos horizontalizou, nos padronizou, nos aplainou, nos esmagou. Eu teria curiosidade e interesse de presenciar uma parada militar gay em Berlin. II Para Donaldo Schller, James Joyce prepara Otvio Paz. Quando o poeta e ensasta mexicano diz que a poesia no nega, a poesia diz, de uma vez s, sim e no. Otvio Paz diferencia prosa de poesia: a prosa diz sim e no; na poesia sim e no se eqivalem. (Confira na pgina 21 da revista D.O. Leitura So Paulo IMESP Agosto de 1999). Meu niilismo se aprofundou em minhas noites na boca do lixo. Jean Genet, Fassbinder, Lcio Cardoso, Jorge Luis Borges, Jean Cocteau e Allan Ginsberg me mostraram a errncia mutante e migrante do amor. Nunca li Jacques Derrida. S li trechos de livros de Gilles Deleuze. No me queira mal por isso. Apenas citarei como o fez Borges, esta frase do catlico Lon Bloy: Nenhum nome sabe quem s. Uma azeitona d sabor de mar ao cu da minha boca, onde passeiam os noturnos sonhos de Esmeralda, anfitri que comigo jantou num restaurante no qual, absorto, acompanhei o enigmtico caminho de um peixe cor de pssego num deserto de horizontes, enquadrado num repugnante e montono aqurio. No nmero 26 da revista literria portoalegrense Blau edio de Junho de 1999, Maria Regina Barcelos Bettiol critica o pas que valoriza a bunda em detrimento da inteligncia. Ser que coc vale mais que idias e sonhos? Viva o msico cubano Ibrahim Ferrer!... Schreber, o poltico alemo e o paranico mais conhecido da histria da humanidade, delirava em seus cultos ao ouro da luz solar reverberante. Freud, cem anos aps o lanamento de sua primeira obra psicanaltica, continua sendo quem melhor nos demonstrou a verdade contida nesta frase bblica: O que Paulo diz de Pedro diz mais de Paulo que de Pedro. O estilista mineiro Ronaldo Fraga proclama: O Imprio do Falso esparrama-se na bacia das almas e ao seu redor um coral de galinhas de camels da praa da Rodoviria de Belo Horizonte canta sem parar o dia inteiro, escandalizando os que chegam e os que partem da capital mineira. O vendedor de milagres atende numa sala de ex-votos. Por que ningum mais se lembra do Z Arig? E, novamente, o estilista Ronaldo Fraga aduz: E voc no precisa querer ser a mesma pessoa a vida inteira. (..) No saio para procurar alguma coisa especfica, saio para mexer. Se algum vendedor me pergunta o que procuro eu digo que no sei. Acho que o vendedor bacana no oferece o que a pessoa foi procurar, ele tem que oferecer aquilo que nem a pessoa sabia que estava querendo. Viva Artur Bispo do Rosrio!... Concordo com a corrente psicanaltica para a qual as pessoas histricas sero eternamente insatisfeitas. Sobre os histricos, nos diz Regina Teixeira da Costa, sempre que recebem alguma coisa desejavam outra. (..) a plena satisfao do gozo, seja ele qual for, produz angstia. (..) a angstia na histeria est relacionada ao desejo de manter o poder sobre o Outro, e como objeto de desejo desse Outro, continuar a control-lo. O histrico no se satisfaz na relao com o Outro para tornar-se imprescindvel a quem ele serve. A mscara da disponibilidade e da servido oculta a tirania do histrico. III Um personagem do romance Timbuktu de Paul Auster adverte o seu cachorro antes de viajar: No acredite em palavras doces. Proteo significa problema. Talvez os ces sejam anjos da guarda e se no o forem so deuses pois dog is god, 3 letras em 2 palavras que s se diferenciam apenas por um simples arranjo grfico, numa o D vem em primeiro lugar e na outra o G. E se a Bblia foi escrita por uma annima messalina dos tempos salomnicos? Voto em Shakespeare para o ttulo de homem do milnio. Jerusalm nem o que este nome significa: cidade da paz. Os chefes da primeira Cruzada crist para libertar Jerusalm da dominao muulmana, Godofredo de Bulhes, Tancredo e Reinaldo, durante esta guerra santa, apaixonaram-se por 3 guerreiras rabes chamadas Arminda, Clorinda e Hermnia. O amor liberta. As Cruzadas crists contra a dominao rabe na Terra Santa suscitaram o nimo para os reinos cristos desencadearem as guerras de reconquista da Pennsula Ibrica islamizada h sculos. As guerras pela reconquista sugeriram motivaes para as grandes navegaes dos sculos XV e XVI e suas decorrentes empresas colonizadoras, a violncia do colonizador contra as culturas indgenas e negras, lastreando e projetando-se nas atuais guerras dos Balcs, onde ainda se confrontam foras crists e islmicas. As guerras santas que ainda pipocam no Oriente Mdio no fim do sculo XX foram, em remota instncia, desencadeadas pelas Cruzadas medievais e pela violenta reconquista muulmana de Jerusalm em 1241 comandada pelo srio-curdo Saladim. Reconquista que recolocou, lado a lado, na mesma cidade da paz, rabes e judeus, povos que hoje l guerreiam um contra o outro pela posse de Jerusalm. Antes da instituio do Estado de Israel, no incio do sculo XX, a Palestina, o sul do Lbano, a Cis- Jordnia, o territrio do atual pas Israel serviram de cenrios da guerra santa entre judeus e rabes, embate que levou Hai Amin el Husayn, lder islmico no Oriente Mdio, a apoiar Hitler e a se exilar na Alemanha nazista que trucidava quela poca seis milhes de judeus em campos de concentrao. Este dio entre rabes e judeus no antigo. Ganhou foros de ira poltica e religiosa aps os movimentos sionistas do fim do sculo XIX que pregavam o direito dos judeus voltarem Terra Santa de onde foram expulsos no ano 70 da era Crist pelo imperador romano Tito. Esta animosidade recrudesceu aps 1948, com a instituio do Estado de Israel, reconhecida pela Organizao das Naes Unidas, e que culminaria na guerra dos 6 dias na qual, em 1967, os judeus retomam Jerusalm, as colinas srias de Golan, a Cisjordnia e o deserto do Negev na pennsula do Sinai. IV Alm dos labirintos territoriais da f e do Sagrado, convivemos ainda com os espectros industriais, as runas de fbricas e armazns, palcios das gangs, guetos, metrpoles caticas e violentas, ostentaes de fortunas e misrias extremas, mediocridades se generalizando, ftidas cloacas hidrogrficas e cus enfumaados. No palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro esguichavam lana- perfume e sopravam talco para as histricas apresentaes (naquele santurio da tradicional cultura carioca) de Richard Strauss, Nijinski, Sarah Bernhardt, Isadora Duncan, Bid Sayo, Mrcia Hayde, Maria Callas e Fernanda Montenegro. Eu adorava devorar barras de chocolate Diamante Negro. V Certamente ocultos ou driblando as percepes humanas subjazem s realidades um nmero infinito e indemonstrvel de universos. Desconfia-se, hoje em dia, de todas as modalidades de observao. Dentro de uma clula ou de um glbulo branco ou vermelho do seu sangue, ilustre leitor, ou nos cromossomas de um dos seus quintilies de espermatozides ou vulos, coexistem e pululam vrios mundos. Especulaes da fsica quntica contempornea como a que acima citei, h mais de cem anos, enlouqueciam em Paris o teatrlogo sueco Strindberg (confira lendo o seu livro intitulado Inferno editado no Brasil pela Max Limonad de So Paulo em 1982). Olhos de musgo e visco indagam sobre adiamentos, concepes, hesitaes, xitos, intuitos, intuies, impulsos, bom senso, dvidas e mistrios insondveis. Belo Horizonte... um cisne branco na cabea.. a lagoa da Pampulha ainda est sendo despoluda. Belssima a ninfa da tela Galatia, pintada em 1880 por Gustave Moreau!... Ser que a Marylin Monroe teria o mesmo destino de Brigitte Bardot se sobrevivesse at a alvorada do sculo XXI? No carnaval do Apocalipse, Fernando Arrabal, Ruth Escobar, Louis Aragon, Roberto Drummond, Joseph Stalin, Franz Kafka e Ceclia Meirelles dividiriam um mesmo camarote? Gostaria de ler o romance semitico A Ilha do Dia Anterior do italiano Umberto Eco. Seria Deus um imenso gorila King Kong que no alto do Empire State abraa a alva e apavorada donzela humanidade, resgatando-a do abismo sem fundo do caos? Salvando o homem da desordem geral do pensamento? Enquanto no possvel o conforto conclusivo, prefiro a errncia de um leitor das pginas de Tennesse Williams. Leda, no dorso de um flico cisne, navega rumo a Bizncio, sob um cu de lua minguante. Hei de ser um pecador at o final, e pensar, no meu leito de morte, em todas as noites que desperdicei na juventude. (...) Das discusses com os outros, fazemos retrica; das discusses conosco mesmos, poesia. W. B. Yeats. Conheci uma elucidativa parbola de talo Calvino na qual um meticuloso colecionador de vidrinhos com areia de todas as paisagens e micro- paisagens do nosso mundo viu-se reduzido ao gro primordial do infinito deserto universal no qual tudo se concentra ao mesmo tempo que se dispersa na simultaneidade do caos da unidade em luta contra as caleidoscpicas diferenas entre todos os seres e universos. Ser que j no sculo XVIII o matemtico sueco Swedenborg j tinha razo, tanto quanto o jansenista Blaise Pascal? Viva Antonio Conselheiro!... VI Gostarei muito se algum dia cheirar as rosas de Sevilla. Impressionado com a nudez dos santos mergulhei na nudez especial e ertica da alma humana. Despir-se rasgar aos olhos de Deus um vu inexistente. No o corpo que se despe, mas seus atos: o sujeito se humilha para expiar-se de seu lado animalesco. (..) Seu alvo o tempo, mas tambm o olhar que se mancha com sangue celestial. Quem olha se pe no lugar do alvo. E enaltece o vazio enquanto goza e se desmancha na carne. Quem goza tem os olhos de Teresa dvila. (...) O corpo que no goza feito para servir. E isso Sade demonstra como ningum. (..) A santa nudez veste-se de amor ao prximo. Este despojamento um sacrifcio. O corpo, no livre para gozar, mas para sofrer. Augusto Contador Borges, em recente edio do Suplemento Literrio Minas Gerais. At hoje( Novembro de 1999) nunca consegui ver o pnis de Jesus Cristo adulto. Porque censuramos at o sexo de Deus? VII O de cima sobe e o de baixo desce.. Acaba de dar entrada no hospital da Restaurao o corpo moribundo do bandido Perna Cabeluda. Chegou, em seguida, Saturno, o anunciador de novos tempos. Em Ribeiro Preto alguns se divertem abandonando cachorros de rua na rodovia Anhangera e aguardarem os seus espetaculares atropelamentos fatais... a os caminhes passam por cima e os molambos vo ficando l.. cada vez mais inseridos na crosta asfltica fssil da rodovia que no futuro revelar muitos dos requintes da nossa presente civilizao. VIII Emagrecer seria uma forma de se desnudar?  O moderno realismo poltico de Fernando Henrique Cardoso nos sugere um adeus s iluses Nicolau Maquiavel foi o prcer ou o primeiro grande arauto da moderna poltica ocidental. Nesta poltica em que os ingredientes teocrticos do estado familiar feudal vo perdendo flego e credibilidade o contedo mais enfatizado passa a ser a concretitude realista do poder em seus lastros culturais e scio-econmicos. Na transio entre a poltica medieval e a consolidao do estado nacional moderno o Antigo Regime foi uma mescla de passado senhorial, cesaropapismo, absolutismo monrquico, esperneios de fanatismos religiosos ocultando interesses e tramas polticas, cinismo e amoralismo corteso, aristocracias e vos ou fantasias de prncipes da Igreja e do Estado. O racionalismo e o Iluminismo ainda operaram polticamente com resqucios e anseios unitrios da poltica teocrtica tradicional, endeusando o Estado, a Razo, as leis, a ptria, muitas vezes em detrimento da lgica flexvel, fluente e compactuada do jogo democrtico. A sucesso secular de utopias, nacionalismos, socialismos, nazi-fascismos, bonapartismos, anarquismos e sociais-democracias desaguaram nos ftidos esturios dos totalitarismos dos sculos XIX e XX. O fim da guerra-fria (19451990) colocou e enfatizou a periculosidade acumulativa destes processos polticos das civilizaes ocidentais. Norberto Bobbio e Hannah Arendt juntamente com os sobreviventes da Escola de Frankfurt fundaram suas reflexes nas emergncias totalitrias e barbricas da Ocidentalidade. Aps o Maio de 1968 e o anncio de John Lennon de que o sonho acabou , entramos na era do adeus s iluses. No caso particular da histria poltica brasileira o iderio do presidente Fernando Henrique Cardoso nos prope um adeus aos populismos e corporativismos, um adeus aos puers nacionalismos de meados do sculo XX, um adeus s utopias derrotadas neste sculo extremista, um adeus aos estatismos intervencionistas ou paternalistas, um adeus as iluses que pautaram nossa embaraada e controvertida agenda no sculo que tambm nos d adeus. De Maquiavel a Fernando Henrique a modernidade requer, antes de tudo, realismo. Tudo tem um custo e algum deve pag-lo: eis a mais contundente lio do atual presidente brasileiro. Honestidade poltica hoje significa, em primeiro lugar, no ser um demaggico vendedor de iluses nem propagador de generosos ou messinicos discursos ideolgicos. Eis aqu o que essencial no realismo poltico de Fernando Henrique Cardoso.  O que nos faz querer viver ou continuar vivendo? crnica de: Neo-barroco At um cachorrinho abandonado na rua come e teima em continuar vivendo. At os pessimistas continuam vivos. Todos querem ir para o cu, mas ningum quer morrer. Parece que o impulso original que lanou os espermatozides de nossos pais sobre os vulos de nossas mes no termina na concepo que deu incio ao nosso embrionamento, continuando nos mobilizando em nossas instintivas ou ontolgicas lutas contra a morte e pela prorrogao de nossas vidas. Desesperados, refugiados de guerra sobem e descem ngremes montanhas cobertas de neve; crianas, jovens, ancios, todos em busca de uma nova vida em outro pas, resistindo limpeza tnica dos srvios em Kosovo ou na Macednia. Mendigos ftidos e maltrapilhos insistem em continuar vivos, vivendo nas ruas, nessas frias madrugadas do outono e do inverno de 1999, no hemisfrio sul deste planeta Terra to maltratado. O grupo Tits, em sua msica O pulso enumera uma srie de doenas fsicas, morais e psquicas e em seguida afirmam: e o pulso ainda pulsa. Me comovo com a resistncia dos que aprendem a conviver com doenas ainda incurveis e relutam em aceitar discriminaes que os conduzam s suas mortes sociais. Arrolando tantos exemplos de pessoas que atravessam adversidades e depresses, recusando-se a morrer, quase concluo que a melhor explicao para todos esses casos est na conscincia ou at na inconscincia e na instintiva busca ou defesa da prpria vida, numa remota ligao com o impulso espermtico que consumou nossa concepo, impulso esse que se configuraria ao longo de nossas vidas numa vigilante postura de auto-valorizao a nos sugerir sempre novos sonhos e novos projetos de vida e de amor. Isto o que nos leva a querer viver ou a querer continuar vivendo, a ver motivos para seguir existindo. Quando perdermos essas ntimas e profundas motivaes, morreremos ou nos suicidaremos. Mas, a natureza humana no monolgica, complexa, e muitas vezes incompreensvel e rica em casos excepcionais, individuais, apesar de mais de um sculo de massificao cultural e, talvez, milnios de manipulaes scio-polticas e dinmicas trocas comerciais engendradoras de fetiches mercadolgicos e coisificaes de sentimentos e sentidos desnorteadores de nossas existncias. Entre estes indivduos excepcionais cujos sentidos de existir no so comuns nem perceptveis aos olhares dos comuns mortais est a santa Lola de Rio Pomba. Mulher que tentou e viveu mais de setenta e cinco anos sem alimentos slidos, a no ser gua e uma diria hstia consagrada a ela enviada pelo proco de sua pequena e setecentista cidade mineira. Com a espinha quebrada aps cair de uma jabuticabeira, em torno dos seus nove anos de vida, nunca mais andou, passando a viver acamada, recebendo at a sua morte, com 87 anos, o corpo de Cristo em seu leito virginal e tendo como sentido mstico para a sua existncia demonstrar, com humildade crist, a efetiva possibilidade de continuar viva sem alimentar seu corpo animal. Quando eu era criana eu sonhava ser uma espcie de doutor Fausto goetheano voando com uma capa escura (que no nosso sculo virou a capa azul com emblema amarelo e vermelho do Super- man ou a escura capa de Bat man ou at os sombrios trajes do morcego conde Drcula) sobre o mundo, ostentando-lhe superioridade e o gozo de ver todos reduzidos sua pequens l das alturas celestiais ou, ainda, sonhava poder viver brincando vinte e quatro horas por dia sem depender de qualquer tipo de alimento. Lola realizou misticamente essa minha fantasia infantil e o seu fretro, ocorrido no dia 10 de Abril de 1999, foi um acontecimento histrico em sua regio natal. Fiquei sabendo da sua histria ainda menino. Fiquei curioso para conhec-la. Mas a minha curiosidade nunca pde ser satisfeita por que, reagindo e se defendendo das vrias reportagens sensacionalistas publicadas na ento lucrativa revista O Cruzeiro dos anos 50, adotou como norma imutvel para a sua existncia o isolamento ou a clausura mstica. Passou a receber apenas padres confiveis e familiares mais prximos. Quando estudava num internato federal para ensino agrcola, entre 1966 e 1968, situado prximo fazenda em que Lola vivia com sua irm Dorvina e um meigo sobrinho, fui vrias vezes sua casa, conversei muito com a sua irm e com o sobrinho, pedia-lhes a gua fresca de filtro de barro que sempre me davam para beber e sentia e observava, impressionado, o cheiro e o clima de igreja que se vivia naquele casaro cuja fachada ostentava mais de dez janelas envidraadas. Imagens do Sagrado Corao de Jesus e de Nossa Senhora das Graas, alm de crucifixos antigos e quadros envidraados de santos e santas catlicas enfumaados pelo tempo e engomadas toalhas brancas senhoriais e jarras com flores me remetiam aos mbitos propcios s vivncias e aos exerccios espirituais. A histria da santa Lola projetou-se sobre o incio da minha adolescncia, garantindo uma certa continuidade minha mstica e devota infncia, poca na qual brincava de fazer diversos santos e santas com barro e cujos olhos nasciam com o espetar de uma redonda ponta de pena de galinha na cabea de barro sagrada. Entronizava esses santos em andores de barro revestidos com papel prateado de embalagens de cigarro e, congregando a meninada da vizinhana, convencia-a a acompanhar as procisses que eu promovia, na qual eu era a um s tempo o padre, o que carregava o andor (tinha que ser eu a carregar o andor pois, uma vez, um dos que carregavam o andor saiu correndo com o santo e, de propsito, lanou-o longe) e ainda o msico que imitava toda uma banda de msica. Tais prstitos saiam de uma igreja que eu instalava num pequeno espao coberto por telhas, usado de vez em quando para proteger a lenha que a mame queimava no forno em que assava quitandas para o bar do papai e, quando vazio, este espao entre o forno e o muro que separava nossa casa da rua, virava uma baslica. Suas paredes ganhavam nichos nos quais aderia imagens de santos de barro e, no raras vezes, encontrei montes de fezes de crianas sacrlegas nesse sagrado recinto. Mesmo aps a minha formao universitria, j fazendo o meu mestrado e com quase quarenta anos, publiquei uma crnica no nico jornal de Rio Pomba, falando sobre a minha admirao esttica e espiritual pela histria de santa Lola. Esta crnica recebeu o ttulo Algumas fagulhas serficas do Barroco nas Minas Contemporneas e chegou at a ser publicada na pgina 4 do jornal Primeira Pgina de So Carlos, interior paulista, em sua edio de 11 de Maio de 1989. A seguir cito uma srie de trechos desta potica reafirmao da presena santa de Lola em minha histria. Numa fazenda, cuja fachada ostenta grande nmero de janelas e um portal para a entrada de tits, h quase sessenta e seis anos, Rio Pomba convive com o misterioso jejum mstico da santa Lola, suas fortes dores de cabea, seu olhar profundo, seus longos cabelos, seu duro leito de prazeres espirituais; seu dirio banquete eucarstico. Reedio contempornea do gozo e suplcio de santa Teresa de vila, ao lado da santa Rosa de So Sebastio do Paraso (sudoeste mineiro). Assim como o padre Antonio de Urucia reeditou a trajetria de Joo da Cruz. Peregrina esttica dos mistrios divinos, atraiu reprteres de todas as longitudes... .... ... Com a morte dos seus parentes mais prximos, Lola vive sua solido mstica, em seu imponente solar rural e barroco, em meio s flores, beija-flores, girassis e cristalinos regatos ensolarados. noite, grilos e sapos, corujas e galos integram, ao lado do coral de anglicos e celestiais msicos, a orquestra que musicaliza as Bodas e o Tantum ergo que esta anci e serfica virgem, iluminada por uma coroa de milenares diamantes, celebra diariamente com o seu Prncipe e Divino esposo. Luzes de candeias pontilham seu altar ao Corao de Jesus (devoo germnico-medieval institucionalizada no sculo XVIII, contra a qual se voltou o furor mstico dos jansenistas). Com o fogo dourado, suas humildes e gloriosas caminhadas espirituais, so conduzidas pelo fervor de uma assombrante f. Recusando o aspecto espetacular da sua mpar experincia e as sombras dos que portam insuportveis lamparinas bisbilhticas de querosene, Lola d continuidade a esta excelsa aura mstica da religiosidade barroca mineira persistente na cultura brasileira, apesar de abominada pelo esprito materialista-paulista. Minas ainda resiste, e remanescente na sua aura, brilham fagulhas de ouro de um passado, a um s tempo, opulento e miservel, sensual e espiritual, trgico e dadivoso. Esta mesma confluncia entre o sensual e o espiritual, anotada no final dessa crnica de dez anos atrs, me impressionava desde a minha infncia. Quando li vrias hagiografias de virgens mrtires que perderam suas vidas em defesa de suas castidades, passei a refletir e a me impressionar com as histrias de santas e santos nas quais a devassido, a perversidade e a luxria se avizinhavam da inocncia e da pureza, as obscenidades satnicas e pornogrficas tentadoras e enlouquecedoras coabitavam com anglicas e castas almas como as de santa Ins (supliciada por tesudos soldados romanos) e de santa Maria Goretti, rf de pai e morta com 12 punhaladas pelo filho de seu padrasto, Alissandro Serenelli, jovem louro e tarado que fugia da lida camponesa para ganh-la e lev-la ao pecado e s licenciosidades que vira estampadas em revistas e cartes pornogrficos que circulavam pelos arredores de Npoles no incio do sculo XX. Aps inteis e persistentes tentativas, desanimado e desnorteado pelos seus tentadores desejos, Serenelli matou o objeto de suas fantasias em Junho de 1906. Esta divina providncia de justapor pecado e santidade animava o meu antigo interesse mstico de revelar ou desvelar a identidade e o perfil tico do onthos divino, a sua mltipla e complexa potncia com perspectivas que passam pelo bem e pelo mal e ultrapassam estes arquetpicos parmetros ou paradgmas da moralidade crist (ainda maniquesta). A vida pregressa de santo Agostinho outro exemplo sublime do que acabo de colocar. Assim especulando, quase concluo que um dos sentidos mais profundos de nossas existncias parece residir em nossas prometicas tentativas de flagrar e iluminar a essncia da alma divina e dela, se possvel, se apossar. Ou seja, um dos sentidos para a humana existncia parece se configurar em nossos obscuros ou opacos intentos espermticos de chegar at Deus, solar e majestoso vulo-nicho mistrico do calor anmico da vida, tesouro que temos e que no queremos perder.  O ltimo encontro de escritores Marta me levava ao seu vale natal. L me mostrou umas pedras escuras recheadas por um metal que eu jurava que era ouro. Mas era mangans. Sa do vale da gua Limpa sob o ouro do por do sol, me sentindo um Ferno Dias Pais Leme. Ser que Deus teria dado, toa, quele pernstico menino o que no dera ao ilusrio descobridor de esmeraldas? Desde menino eu sonhei com um mapa mgico de uma mina que nunca encontrei. O primeiro cio da minha cachorra Saragoza me emocionou, levando-me ao pr- choro. Vou ser av. E ela danar ao som do agog, sem saa e com as suas canelinhas finas de boxer tigrada que s gosta de cachorro. Saragoza j moa. Porta de Livraria era o ttulo da coluna literria do ensasta e diplomata comunista Antonio Olinto no jornal carioca O Globo. Zanoto assina h mais de 40 anos a mais longeva e ecltica coluna literria do interior do Brasil, Di-versos Caminhos, no Correio do Sul de Varginha, Minas Gerais. E ainda me avisou que no do ramo. Escritores!... Entre eles temos ariscos, marcianos e anti-petiscos. Eu sou anti-petista, s isso. Mas, vejam bem, j votei no Lula para governador em 82 e para presidente no segundo turno de 1989. Na prxima eleio presidencial devo votar (um tanto a contragosto, meio desalentado) num desses quatro: Jayme Lerner, Anthony Garotinho, Joozinho Trinta ou Ciro Gomes... talvez Luiz Mott tendo como vice o godardiano Jomard Muniz de Britto. Antonio Ermrio de Moraes tambm seria um nome que eu sufragaria para presidente do Brasil. Saudades do lvaro Lins, do Otvio Farias, do Oto Maria Carpeaux, do Jos Honrio Rodrigues, do Gilberto Freyre, do Agripino Grieco, do Vtor Nunes Leal e do Milton Campos!.. E tambm do Ernane Stiro da Paraba, porque no? Conversei uma vez na Cantina do Lucas, na galeria do Edifcio Maletta, com o contista belorizontino Murilo Rubio. Mas perdi as anotaes que fizera durante e aps este inesquecvel dilogo. Outro papo ilustre foi com o crtico Fbio Lucas no Hotel do Senac em Ouro Preto-MG em Maio de 1993. Cheiro de goiaba de Fevereiro, passarinhos cantando apesar de presos em gaiolas, bolos de fub com erva doce assando por essa Amrica Latina a fora e eu buscando a possibilidade da imagem sintetizadora do processo do encanto. Pero en el paisaje americano... lo barroco es la naturaleza (...) Lo barroco, en lo americano nuestro, es el fiestn de la alharaca excesiva de la fruta. Jos Lzama Lima, Corona de las frutas, in: Imagen y posibilidad, Letras cubanas, Havana, 1981, p.34. Para mim o paraso perdido tinha um sabor de salada de goiabas, jabuticabas, pitangas, mangas, pedaos de cocos da Bahia e de bacurs do Par, encharcada em sucos de melancia e rom com cobertura de rapa de doce de leite colhida de tacho de cobre. Uma ambrosia celestial!... O presidente da Federao Paulista de Pugilismo cobra mil e quinhentos reais para que filmem o ringue das competies de luta livre por ele carimbadas. Gostaria de rever Rocco e seus irmos, filme de Luchino Visconti. E agora, Eunice Arruda, como ficam aqueles que no fazem poupana para morrer? Nem John Kennedy Jr. esperava morrer to bonito!.. Coitados dos dentuos expostos em cruis fretros reveladores!.. E do seu livro Risco, publicado em So Paulo, pela Nankin, em 1998, Eunice Arruda nos responde: No podemos deixar morrer nenhum nascimento. Sob as palavras um abismo. E h ouro no cu de crepsculo/ h um besouro que agoniza na calada/ e ventos vindos do oeste. Tenho usado tanto este corpo / justo que o deixe/ que eu o deite/ que o esqueam. (...) Cabe agora morrer o corpo/ dia a dia ir me desacostumando do rosto que eu chamava meu. Resposta pungente, de apertar o nosso corao. Se at para fazer a barba di, imagina quando eu disser bye bye para a minha capa ontolgica!... Zanoto, el Zorro de las Letras, me chamou de malabarista literrio. Advertncia ou elogio? Sei no.. mas hoje eu at falei com o Jos Nogueira sobre o meu prazer de viver morrendo. Ou melhor, o meu prazer de viver s diminuiu quando minha real diabetes proibiu-me goiabada casco. Mas que a Artemsia do Prado Torres coma mais goiabada casco, em parte por sua prpria gula e noutra parte por mim, que tive tal prazer interditado. Queijo Minas fresco ou verde eu posso... Acho que vou pegar um cineminha ali na nossa sala, depois que acabar de ouvir o CD Qualquer coisa do Caetano Veloso. Vou ver os Vdeos Experimentais de Luiz Rosemberg Filho. Caetano Veloso canta Eleonor Rigby, msica e letra de Lennon e Mc Cartney. O Suplemento Literrio do Minas Gerais voltou a ser o melhor suplemento literrio ou revista de literatura do Brasil s vsperas do ano 2000. charmosssimo, chiqussimo Caetano Veloso cantando For no one, tambm de Lennon e Mc Cartney. Viva Elisabete Beeshop amiga de Carlos Lacerda!... Sempre o Suplemento Literrio do Minas Gerais, desde 1967, nos apresentou algum padro de excelncia editorial, mas agora diferente: em pleno governo populista de Itamar irrompe nas pginas literrias da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais um surto de neo-barroquismo lzamiano que eu estou adorando. Em Dezembro de 1998, no texto Coral Bracho e no poema gua de Medusas de Josely Vianna Baptista tem incio este surto/ciclo. Caetano Veloso canta Lady Madonna e eu queria saborear ch de beladona. Muito ter sido por causa de voc, viu Nicinha?!... canta Caetano Veloso, Caetano Vel, Caetano V, Caetano, Caeta, Cae.. C Cosmopolitismo o nome do surto que grassa no Suplemento Literrio do Minas Gerais. Os intelectuais e escritores mineiros, desde o Areo Throno Episcopal de 1748 (quando poemavam temas babilnicos), j eram barrocos e cosmopolitas. Mergulho na msica colonial brasileira. Ladainha em F de Jos Joaquim Emerico Lobo de Mesquita. Embora reconhea o valor dos annimos e deletados, no posso negar a minha idolatria pela vida e a obra de Jos Maurcio Nunes Garcia. O cosmopolitismo ps-moderno a atualizao da viso barroca de Santo Ambrsio sobre o feminino na transio da Idade Mdia para o Renascimento: uma vitrine de amostras de belezas saudveis de todas as partes deste rico e devastado planeta. Labirinto feminino de trompas, nichos e ninhos insondveis de ovos da vida e da morte. Leila Miccolis sincera, sria, madura, leal e minha amiga. Confidente e conselheira. Uma das minhas na corte da literatura alternativa brasileira. Eduardo Waack, nessa corte, est com uma cara de Dom Pedro I devasso!.. Hugo Pontes seria o Dom Pedro II do nosso imprio da poesia visual; at agora no sei quem reencarna Joo do Rio um sculo depois da sua existncia. Serei eu? Paulo Valadares, de Campinas, o meu Gershon Schllen. O negcio ir direto ao nctar voltil das flores. Tudo efmero. At as letras? Entrei na sociedade de mercado, convivo com riscos, no encontro sereias distradas nem cu com azul de Cndido Portinari!... Quero vender minhas mercadorias poticas, quem as quer comprar? Me, eu vendo bananas, me! Me, mas eu sou honrado, me!.., canta Ney Matogrosso... Ai que platnica vergonha ao decidir vender minhas mercadorias poticas, meu Deus!.. Cad o meu filme de Sergei Paradjanov que no chega de New York, my God!... No me esqueo de Jeanne Marie Gagnebin, autora de vrios ensaios sobre a impressionante obra de Walter Benjamin. Jean Claude Bernardet: eruditamente acadmico e anti-acadmico. As conexes entre as altas, mdias e baixas culturas brasileiras hodiernas no tm merecido o necessrio interesse dos nossos intelectuais. Me sentiria muito honrado em sendo reencarnaes de Joo do Rio, Adolfo Caminha, Crus e Souza, Alphonsus Guimaraens, frei Jesuno do Monte Carmelo de It-SP ... Eu me sinto to cru!.. Sonho ser So Joo de la Cruz!.. Glauco Mattoso ou Pedro o Podre d no mesmo!.. No consigo entender o P. T. Agora h dois meses soube que grupos de contaminados pelo HIV em Porto Alegre tiveram que recorrer a uma instncia judiciria federal para que a prefeitura petista da capital gacha lhes oferecessem remdios anti-AIDS. E no discurso eleitoral petista defendem os direitos sociais e humanos dos soropositivos e/ ou imunodeprimidos. Ao mesmo tempo, o P. T. se relaciona muito bem com Fidel Castro que no trata humanamente nem os doentes de AIDS em Cuba nem os dissidentes e/ou oposicionistas. Stabat Mater Andante Moderato de Joo de Deus de Castro Lobo me emociona. Por outro lado, o P. T. acusa o prefeito de Ribeiro Preto de insensibilidade neo-liberal mas prefeitos petistas tambm demitem e, outra, salrios de funcionrios da C.U.T. so reduzidos!... Em nome da estabilidade. Entendem? .. Quanto aos vdeos experimentais do Luiz Rosemberg Filho: so muito contundentes, denuncistas e operam no limite tenso do fio da navalha entre o sangue quente na veia e o cadver gelado do I.M.L., muitas palavras dando a entender que as imagens no falam por si...trilhas musicais melhor trabalhadas que as imagens, algumas vezes repetitivas... vdeos entre o sacro e o profano .. o rural e o urbano.. o teleolgico, o teolgico e o ideolgico.. com desarvoros glauberianos dos ltimos dias. Com o fluxo das vanguardas dos anos 60 e 70, hoje o cinema de Luiz Rosemberg Filho seria tachado de manifestao da cultura da reclamao pelo crtico australiano Robert Hughes. Tensos como as evolues das ondas, desmitificadores e demolidores, esteticamente corrosivos e subliminares, com a eletricidade dos raios e dos relmpagos faiscando nas tenses das cpulas entre corpos terrestres e celestiais, porcos da lama, porcos dos mangues da pornografia aougueira, porcos dos palanques, porcas da TV, do cinema, gatos e gatas do cinema pornogrfico universal, Hitler esgrimando com Godard, Pasolini estocando Paulo VI, o Rio em guerra contra So Paulo. O cinema de Luiz Rosemberg Filho carioca? esquerdista e maiakovskiano na tenso entre o panfletrio e o no-panfletrio. Agora a luta de classes est sendo encenada no programa do Ratinho do SBT. Adoro receber o meu cach. Eu prefiro ir na casa do cliente. Ns vamos voltar amanh com mais um programa do Ratinho. Viva o meu cachorro de estimao! Antes se gritava: Viva Tenrio Cavalcante! Viva Arraes! Agora gritam: Fora F.M.I.!... As pichaes perderam sentidos.. os press-releases das ONGs viraram monlogos estreis e doutrinrios.. descrena em tudo e em todos o clima humano e histrico da ps-modernidade cnica? Morra o gato do vizinho! Viva Lancia!.. A outra tem a petulncia de vir na TV pedir a Deus para nunca ser velha, chata, insuportvel e ridcula, ou rabugenta. Rico ri a toa. Peo licena para no chorar, eu tinha tirado um tumor do rim direito, assim passei a rir direito, e se voc no puser os culos voc no enxerga nada. Sorria!.. No se lamente nem reclame da vida!.. Quem reclama muito da vida no tem Deus no corao. Fecham-se as cortinas do teatro ideolgico televisivo na noite de 20 de Julho de 1999. Eu sou jovem h muito mais tempo que voc . Bye bye! Tiau!.. Beijinho, beijinho, queijo/ queijo, po/ po.. de queijo cado eu choro pela minha nao desamparada por seus Geraldo Vandrs.. Ai que horror!.. E agora, Jos? .. A festa acabou...  Os cachorros no so racistas Prefiro me relacionar com pessoas e no com justificativas. Em vez de justificativas prefiro iniciativas. Embora os formatos corporais dos tipos mais diversos de cachorros nos levem a classific-los por raas (apuradas algumas vezes por manipulaes e experimentaes de geneticistas), entre eles todos se reconhecem como cachorros. Simplesmente cachorros!... Se um passa l do outro lado da rua, o nosso cachorro j se manifesta do lado de c. Latem, latem sem vergonha da cachorrada em que vivem...Para mim a risada canina a mais engraada dentre os sorrisos do nosso mundo animal. Galinhas dos ovos de ouro dos veterinrios, os cachorros foram condecorados com o ttulo de melhor amigo do homem. Joguei h pouco as cascas de uvas que chupei no lanche da tarde...lancei-as na grama do quintal para as pombas que por l ciscam possam lev-las para os seus animados sabaths....A pomba rola ou o fogo apagou Maria Anacleta do Amor divino foi a primeira a levar no bico dois bagaos de uvas para o seu ninho. Sinto necessidade de reler e relembrar as corajosas teses do ex-comunista francs Roger Garaudy, o admirvel. Me lembro da Revoluo dos bichos de George Orwell (livro ainda atual para entendermos o que se passa na Srvia, em Cuba, na Coria do Norte e sua presente dinastia comunista, na China a um s tempo comunista e capitalista, na Indonsia, no Iraque, na Lbia, na Sria, no Ir e nos partidos que louvam utopias historicamente derrotadas). Desde o Tratado de Polcia escrito em Pars no ano de 1783 por Delamare, a virtude passou a ser ostensivamente uma questo de Estado, um problema que at hoje o Estado vem tentando resolver encarcerando infratores ou transgressores. Aos desviados e transviados foi oferecido o rtulo de doentes circunscritos em hospitais e manicmios. Ainda valem as divisas ideolgicas de Howard e de Mayense: Se fomos um dia capazes de dominar animais ferozes, no devemos perder a esperana de corrigir o homem que se desviou. A viso puritana sobre o ser humano justifica a viso animalesca sobre os desviados ou infratores da ordem ou da desordem vigente. O laissez faire referenda o caos mafioso dos traficantes de drogas e de pornografias fascistides...Ningum ousa encarar o que existe atrs do espelho. O material humano desgasta se mil vezes mais rpido que as mquinas, mas ele substitudo ainda mais rapidamente. (Andr Glucksmann in A cozinheira e o canibal Rio de Janeiro Editora Paz e Terra 1978 pg. 114). Em todas as tendncias ideolgicas autoritrias se confunde esprito ou postura crtica com olhar policial ...isto h vinte e cinco anos era afirmado por Cac Diegues em seu conceito de patrulhas ideolgicas. Viva o direito a livre expresso!!... Resistncia contra a dispora internacional de vampiros bolcheviques disseminadores de desesperanas e, contraditoriamente, progadores da devoo ao santo Ernesto Che Guevara!...  Os inesquecveis perfumes de uma das minhas bisavs Eu lhe dei um daqueles adeus displicentes sem sentir o peso de um adeus que era irreversvel. Um adeus final para nunca mais. No sei quando o serto em que nasce o Rio So Francisco comeou a comer ossos humanos..... s sei que foi bem antes da cabeleira da minha bisav Ambrosina esvoaar disseminando aos quatro ventos os ftidos cheiros das bostas das escravas por ela surradas ... e muito depois da tarde em que quase virei personagem de romances de Franz Kafka tentando trocar uma nota de dez reais por duas de cinco e o dono da quitanda da praa dos txis julgou-me aleatoriamente, acusando-me de repassar notas falsas quando as notas que possua eu as passava de mo em mo no citado emprio e as recebera de um banco paulista e de uma agncia dos Correios e, como impossvel eu diferenciar a minha nota de dez das que ele possua em sua mquina registradora, como provar que cabea de cavalo no tem chifre e at conseguir tal prova quantas chibatadas no teria j sofrido? Quem no tem maldade no vive decorando nmero de sries nem detalhes de cdulas monetrias e o que tenho a ver com o fato de poucos dias antes da minha chegada a esta cidade por aqui terem passado elementos de quadrilhas de farsantes? Alm do mais, no sou desconhecido; j publiquei dezenas de artigos no nico jornal local... por que haveria de me expor numa cidade em que tive propriedade, onde muitos me conhecem, ou por que haveria de lidar com negcios transgressores se trabalho diariamente em projetos nos quais levo f e se c estou de frias? Em terra de tolos estrangeiros so sempre trapaceiros. Em horizontes subdesenvolvidos os nacionalistas so os vigaristas e os chantagistas. Kafka continua atualssimo nesta virada de sculo. Apesar da penltima virada de sculo ter sido to marcada por Dostoievsky, Flaubert, Thecov, M. Proust, Oscar Wilde, Len Tolstoi, mile Zola, Guy de Maupassant e Andr Gide, nesta virada de sculo e de milnio nossas bocas ainda podem estar to marcadas pelo mal hlito da mesma tuberculose que vitimou Franz Kafka!.... Os mercenrios de falsos remdios sociais continuam atuando nos mercados eleitorais. O caminho passa necessariamente por sade, educao, informao, habitaes, transportes etc... mas toda auto-estima deve estar referenciada na real aptido para criarmos valores, riquezas, conceitos, softwares, bens artsticos e culturais ou objetos civilizatrios. A auto-estima sem tais potencialidades e experincias mais auto-engano que auto-estima. As bandeiras do bvio ainda atraem e ainda no foram desmascaradas pelos raros inimigos das iluses baratas. Aqueles que glorificam escatolgicas utopias em nome de revolues progressistas so os piores adversrios da esperana pois nos levam, demagogicamente, a confundir paraso com tragdia ou nos levam a desconfiar de todos que venham at ns com projetos viveis e em andamento. Revoluo no tomar o poder sem saber o que fazer com o brinquedo tomado na marra. Para falar a verdade: quando aconteceu alguma revoluo que no tenha sido, antes de tudo, pacfica mutao nos parmetros existenciais, cotidianos, estticos e tecnolgicos? S os totalitrios e seus ingnuos seguidores, militantes e manipulados, ainda apelam para a violncia mgica e irresponsvel das armas, dos saques e invases de terras, ocupaes de bancos e de prdios pblicos . No creio na paz dos cemitrios, nem nos voluntarismos espontanestas nem, muito menos nos foradores de barra, obscurantistas e oportunistas. No creio em falsos remdios totalitrios. Mas tais falsos remdios esto acalentando barbries cancergenas. Supresses de defesas diante dos inimigos da palavra como ariete dos que lutam contra a ignorncia. Os superados pela histria recente em terra de cegos ainda reinam apesar de saberem que o pior cego aquele que no quer ver. Na caverna de Plato no existem apenas sombras mas tambm uma inquieta vizinhana com diversos tons de luminosidade. A alvorada no foi socialista mas o meio dia capitalista nos encaminha para um por-de-sol de medos, aflies e sinistros transplantes de memrias, mquinas loucas e escasss de oxignio, racionamento de gua potvel e a maior crise humana de identidade de todos os tempos. No deixarei de pedir ao jardineiro que no esquea de plantar pelo menos mais cinco mudas de arruda em volta da casa.... avisar-lhe que replantei as mudas de bico de papagaio em lugares nos quais no escuream a sala e se tal possibilidade de penumbra exagerada na sala se apresentar que se sacrifique o coqueirinho que se robustece um pouco abaixo do rumo da janela da sala. Determinaes do darwinismo vegetal excludente e eliminatrio. Algumas prefeituras do interior paulista sacrificam, cada uma, em seus departamentos de combates a vetores de zoonoses, mais de 40 cachorros diariamente!.... Santa Brigite Bardhot!.... Nossos pulmes so nossas asas (....) O crculo est despedaado em 4 ngulos. .... escombros dos jogos infants.- Ladislav Novomesky. Sonhar voar ao paraso onde nossos ps no pisaro. Viajar implica em passagens de tempos e espaos. Meus ps so razes passageiras e salientes, minha cabea contm antenas que me fazem um ser celestial. Meu esperma uma goma ou mingau de inhame csmico. Aquelas folhagens que aparecem em coroas fnebres esto brotando junto s escadarias que do acesso s nossas casas de Ribeiro Preto e de Piumhi-MG. Para mim o mais lindo jardim do mundo o meu. Acho isto por que fiz neste nosso jardim sertanejo de Piumhi uma mistura aleatria de coqueirinhos, samambaias, bambuzinhos, avencas, funcho, hortel, arbustos de cerrado, cactceas de coloraes verde-azuladas e rseas, ourios espinhosos usados em fachadas agressivas mas com floraes amarelas e cercas de espadas de So Jorge guarnecendo algumas bordas destas touceiras vegetais caticas. A voragem do tempo um caminho louco. A mquina do mundo ficou desnorteada. O moto contnuo ficou descontnuo. Os caminhos argilosos e secos no me so mais familiares. Os troves no ribombam como outrora. Nossas montanhas tornaram-se apocalipticamente ocas. O P. T. o pior quebra mola da Histria do Brasil. O M.S.T.U. apenas o brao armado das foras do retrocesso atuantes em nosso pas. Viva Ingmar Bergman!... Por trs do P.T. sculos de conservadorismo catlico (absorvido por stalinistas ou por anti-stalinistas)nos contemplam. E por trs de mim uma incmoda vizinhana in bus; um bando de maritacas patricinhas rumo ao aeroporto dos Confins fazendo questo de alardear sua viagem Disneyworld-Flrida-USA (roteiro classe-mdia Julho-Brasil). Belo Horizonte ainda me cheira a bala -de-cco, a roupa engomada e a hstia ainda no consagrada. No alto do morro do stio do tio Z Bonifcio, na varanda do engenho de acar e rapaduras nada restou.... nem fornalha, nem tacha e nem roda do moinho.... nem a rvore que oferecia floradas rseas s abelhas e em cujos galhos li a novela A Granja de Stepanchkovo de Fiodor Dostoivski existe mais. O tempo passou na janela e s Carolina o viu. As longas mos, os longos dedos alvos e as longas e alvas unhas das mos da passageira sentada na poltrona da frente no nibus em que viajo para a Zona da Mata mineira me lembram razes retorcidas, delgadas e nervosas . Quase tudo no universo humano inexato, impreciso, caleidoscpico, aleatrio e irrotulvel. O vento do fio do tempo no labirinto das nossas ontogneses frio, acelerado, inclemente como a neve que quase congelou o rei Henrique sob a janela do papa Gregrio h quase mil anos. Minha cidade-natal, Tabuleiro do Rio Pomba, a configurao mais realista do fim de meus sonhos primordiais. Foi na minha cidade que a Ana do Zzim Lianra, mulher das pernas cabeludas e das mos calejadas de puxar enxada, ameaou vrias vezes se jogar debaixo de carros em altas velocidades porque bloquearam seus proventos previdencirios com a morte de uma senhora que tinha o mesmo nome dela. Parte da mata que cobria a serra do Rola-Moa pegou fogo. Mineiridades em cinzas. Os gritos dos peixes nos dicionrios do mundo (texto dedicado alma do mrtir theco Jan Palach) Os tesouros do diabo barroco Salvator Rosa estiveram entre os tesouros da ranha Cristina da Sucia. Desc o rio Sulphur comendo queijadinhas adoadas com aspartame. As barbatanas do meu guarda chuva vieram de um peixe do mar Bltico, minhas calas foram feitas de sacos de empresas ensacadoras do porto de Rotterd, com frutas chilenas, v lees africanos, cheirei Almscar da Birmnia, tenho um relgio despertador de Taiwan, a pimenta que usei no creme de moranga do almoo veio do Mxico, os cajs que saboreei nas primaveras dos ltimos anos 80 deste sculo chegaram de avio expedidos de Belm-do-Par pela amiga Esmeralda.. Ganhei da mesma senhora paraense diversos perfumes franceses. Nem sei quantas vezes comi arroz do Ceilo. J ouv msicas marroquinas e palestinas. No me esqueo da linda lenda caucasiana do Achik Kheribe contada em filme paradisaco pelo russo Sergei Paradjanov. O livro de ensaios mais impressionante que l em 1997 foi do cubano Jos Lzama Lima. O mais belo livro sobre Espanha que l nos ltimos 3 anos foi escrito pelo crtico australiano Robert Hughes. Eu teria uma noite de terror se presenciasse a invaso noturna dos caranguejos gigantes da ilha Trindade, o ponto extremo do Brasil no Atlntico Central. Gostaria de ver nas Filipinas a luxuosa e a mais cara coleo de sapatos femininos do mundo, formada pela sua ex-primeira -dama Imelda Marcos. O mundo entrou em mim por todos os poros e assim vivemos o ideal moderno de ter agregados aos nossos corpos e s nossas mentes pedaos-reliquias e riquezas de todo o mundo. Santo Ambrsio achava que este ideal era feminino mas, sei l eu, a modernidade moda, sex-appeal, charme e escndalo e tudo isto feminino. O masculino o reduto dos resqucios do passado traduzidos pelo universo ps-moderno.A primavera de Praga foi a ltima utopia do sculo XX. A deposio de Alexander Dubcek e a auto-imolao de Jan Palach me trouxeram prostrao e descrena. Logo em seguida invaso da Tchecoslovquia pela URSS, a Frente Ampla de Oposio articulada no Brasil por Carlos Lacerda e Juscelino Kubtschek era desmantelada. No fogo que consumiu Jan Palach ouv ecos dos gritos dos peixes nas entranhas esverdeadas dos oceanos. Nunca mais acreditei em parasos nesta terra. Triunfo sobre escombros (......) Terrvel momento/ quando a vida/ num impulso tardio/ quer revisitar a memria./ inutilmente. (do poeta gacho Tarso Fernando Genro, em seu livro Luas nos ps de barro). Tabuleiro Minas Gerais a ltima parquia do Arcebispado de Mariana na Zona da Mata mineira. Seu proco o resoluto e erudito conhecedor do imaginrio e das mais belas configuraes dos cenrios litrgicos codificados pela milenar Igreja Catlica. Logo a seguir entraremos na Arquidiocese de Santo Antonio do Paraibuna e do Juiz de Fora. No dia de Corpus Christi do ano do Senhor Jesus Cristo de 1998 o setecentista arraial de Tabuleiro, banhado pelo Rio Formoso, afluente do Rio Pomba que, por sua vez, desgua no Rio Paraba do Sul, comemorou com pompa e ostentao litrgica a simbologia mxima da unidade catlica, o Triunfo da Eucaristia sobre os escombros da modernidade aparente. Um lampejo, uma ltima fagulha do mesmo ardor e luxo que mobilizou Ouro Preto em 24 de Maio de 1773 para o ostentatrio prstito que levou o Santssimo da igreja do Rosrio dos Pretos igreja do Pillar que, naquele clebre evento triunfal, era inaugurada. Deslocando-se por uma paisagem estranha aos olhos dos nativos ausentes, a procisso de Corpus Christi deste ano deteve-se junto s moradas do Sr. Marclio J. Mota, da sra. Leida e do sr. Aderito Gonalves onde foram montados altares de opulncia barroca com flores, cantoneiras, castiais e toalhas de linho com finos e raros bordados onde tivemos apropriados cenrios para benos do Santssimo com hinos eucarsticos, cantados em latim, pelo padre Paulo Csar Salgado, Enira Siqueira, Teresa Medeiros, Lucola Albino, Lurdinha Gonalves Pinheiro (tabuleirense radicada em Volta Redonda-RJ) e Marclio Jlio Mota. O gestual litrgico sacerdotal levou s lagrimas vrios participantes desta secular procisso catlica. Precisamos enfatizar, com esta breve notcia, os riscos de barbries provocadas pela perda de contato com a tradio e pelo fim da transcendncia da arte, incorporada vida. Tais advertncias vm sendo emitidas desde o incio do sculo XX pelo crtico marxista da Escola de Frankfurt Walter Benjamin e que aqu encontraram eco nas obras de Jos Guilherme Merquior e de Srgio Paulo Rouanet. Este ltimo Secretrio da Cultura no governo Fernando Collor, foi incisivo em seu artigo O falso irracionalista publicado no caderno Folhetim da Folha de So Paulo de primeiro de Setembro de 1985: Quem no pode lembrar do passado no pode sonhar com o futuro e portanto no pode criticar o presente. Se o sonho da razo s produziu monstros, preciso aprender por imagens nas escritas fragmentrias e estticas dos escombros amontoados pelo progresso da demncia. A cabeleira esvoaante da morta de alegria (e podre de rica) se assanha nas sineiras da flica torre da igreja oitocentista de Rio Pomba-MG Morte; espetculo ou tabu? Tristana o nome da mulher buelesca que comanda as redes desencadeadoras de pesadelos entre os moradores de uma aldeia da Galizia espanhola. A gorda capada um reservatrio de graxas e banhas. Casas da Banha, l que eu quero comparar. l que eu quero comprar. Os arautos da liberdade revolucionria escondem intenes autoritrias e os racionalismos ocultam irracionalismos e passionalismos sinistros e os irracionalismos podem ser difusores de novos modos racionalistas de ver o mundo, de pens-lo. Ver pensar? 32 tetravs mais 16 trisavs mais 8 bisavs e 4 avs e meus 2 pais me geraram e eu no gerei ningum, mas nem assim, eu me sinto estril muito menos impotente. Meus tetravs viveram no sculo XVIII. Meus pentavs (ao todo 64) viveram entre os sculos XVII e XVIII e me legaram geneticamente palavras e imagens de seus tempos e espaos. Se retrocedemos no tempo nossos ancestrais se multiplicam geomtricamente. Como podemos retroceder e reencontrarmos Ado e Eva? Tanto Ado quanto Eva foram mltiplos, coletivos e inmeros!... S os individuos que no se projetaram no futuro gerando filhos sentem o peso csmico da solido atemporal no dia a dia!... Minhas doenas resultaram destas ancestrais coletividades doentias. De genealogias desconhecidas, nossas doenas foram maleficadas . O ltimo luar nico verdadeiro e atemporal ocorre em Dezembro 1998. A partir da brilharo sobre o hemisfrio Norte as luas-espelhos que os russos lanaro para desequilibrar o meio ambiente e ameaar a vida no rtico que, assim, deixar de ter uma longa noite de seis meses a cada ano!...Depois de arrasar as florestas de carvalho e exterminar os bises da Litunia e de impor ao mundo o pesadelo Chernobyll os incompetentes e embriagados burocratas russos querem acabar com a emoo de apreciarmos o luar que nos nina h milhes de anos com a mesma nvoa lctea e deslumbrante arco-iris noturno!... Hoje, noitinha, no nibus em que voltava do trabalho, v dipo (o Rei) j com uma de suas vistas vazadas e morte e vida Severina. A ltima vinha com cara de militante profissional do M.S.T. (paga por entidades catlicas alems e de outros pases europeus). Acho muito coerente o endosso de Delfim Neto s teses petistas: entre ambos existem mais afinidades do que a nossa v filosofia possa especular. Uilcon Pereira me lembra azeitonas, bacalhoadas, ciganas e vus esvoaantes durante danas do ventre e licores da Europa Mediterrnea. Boris Casoy terrivelmente independente, por isto muitos o avaliam como o mais perigoso dos formadores de opinio neste pas. Concluindo; o diabo no to feio como se pinta. Conheci na Internet na noite passada mais um Rodolfo... Com a transformao do Sagrado em espetculo de noite clara, eclode uma revolta da carne numa dana das trevas, prazer total dentro da grande solido dos vizinhos da morte!... (...) O olhar o fundo do copo do ser humano. Walter Benjamin. Abaixo a cultura da reclamao!... Viva a dvida!.. Ter f esperar contra toda esperana.- Romanos. "Gnoto Sum Autum ou Conhece-te a t mesmo!.."(Scrates).O tuberculoso escritor existencialista argelino Albert Camus, autor de O Estrangeiro, O Mito de Ssifo, O Avesso e o Direito, A Peste e da pea teatral Calgula, era filho de uma faxineira.(...) Jamais aceitei pertencer a um partido poltico....Minha vida pode ter parecido a alguns confusa e, para falar a verdade, perfumada com o enxofre do demnio... A nica diferena entre um louco e eu, que eu no sou louco..... O corpo humano uma insondvel fbrica de odores de santidade que fica adormecida partir de seu nascimento e comea a funcionar aps a sua morte.... A beleza ser comestvel ou no ser. Eu sei o que como, eu no sei o que fao....Eu s gosto de msica ruim pomposa ou de msica confusa, exagerada, paroxstica, que faz rudos e que parece, quando o disco est bem arranhado, o som que se faz quando estamos a fritar sardinhas. timo!..Todo o meu corpo vive preso em minhas roupas. S o bigode as ultrapassa. Plantados como duas sentinelas, os meus bigodes protegem a entrada da minha pessoa.- Salvador Dal. (...) Glauber Rocha o Doutor Fausto mais profundo da cultura brasileira. Como Salvador Dal, Albert Camus nunca se comprometeu com ideologias dogmticas e ideolgicas e a sua ento incurvel tuberculose o tornava mais ainda um estranho na vida. No seu frio e sombrio jardim de lrios brancos sob frondosas mangueiras, o fotgrafo tabuleirense Aliades Dias de Oliveira fazia os seus jogos entre luzes e sombras. O mais trgico nas trajetrias dos espritos humanos foi descoberto por Chesterton: louco algum que perdeu tudo, exceto a razo. Tambm vejo lucidez no ensaio O Mito do Intelectual Niilista escrito por Vamireh Chacon e no qual concluiu que pior que a morte da f, s a morte da dvida. noite, em meu quarto escuro, fecho os olhos e experimento o pavor de ficar cego. Sou um homem da era das imagens/informaes. Na Idade Mdia, o abade cisterciense Richalm dizia que quando fechava os olhos sentia em torno de s enxames de demnios. Corazn Santo, t reinars em nosso encanto sempre sers!!.. Mezinha do Cu, eu no sei rezar, mas trago esta coroa pr te coroar/ Azul o teu manto, branco o teu vu. Eu quero ser tua Mezinha do Cu!... Oh Doce Jesus amado, do Cu Eterno Pai, aceita este resplendor, que eu Te ofereo com todo amor!!.. Senhor das Medalhas, Torre de Marfim, Arca da aliana, Senhora dos Remdios, Advogada nossa, Divina Providncia, Me de Misericrdia, Vida e Doura, Esperana nossa, Senhora da concrdia e da Consolao, Rainha dos aflitos, Deusa da Fecundidade, Sara do Novo Testamento e Fonte do mais lcteo elixir dos deuses a amamentar todos os acolhidos na primitiva Arca de No! Rogai por ns!... (...) Talvez os perfumes litrgicos de nossas vidas sejam inventos ao longo de nossas lutas contra a morte (livre putrefao crescentemente ftida) ou mais um recurso para escamotear os cheiros da nossa humana animalidade. As imagens desprendidas de todas as conexes mais primitivas ficam como preciosidades nos sbrios aposentos de nosso entendimento tardio.- Walter Benjamin in: Rua de mo nica Obras Escolhidas vol. II So Paulo Edit. Brasiliense-1987.Porque contm segredos, as relquias no so sinais de morte, assevera Andreas Huyssen. O frontispcio da igreja do Bonfim, mesmo com o seu culo e apesar do seu imponente fronto com medalho, afigura-se-me como um precipcio que me catapulta aos cus. Seus livros de pedra sabo me transportam mais arquetpica Caldia pr-Bblica!.. Sou um camel de imagens sacras e profanas h muito por mim continuamente escavadas em camadas bem fundas e seculares de nossas sensibilidades.  Ossos, msculos, vermes e flores... Quando pude ir a praia pela primeira vez eu ainda brincava de encher um balde plstico vermelho de areia...e, naquela poca de anos dourados cariocas, entusiasmava-me ao brincar com barcos de plstico na banheira l de casa...era to gostoso!!... Os filmes do diretor alemo Wim Wenders esto cada vez mais belssimos. To lindssimos esto os filmes de Wim Wenders que j me convenc da inutilidade de ficar lamentando o afastamento de Ingmar Bergman das lides cinematogrficas, ou desist de me entregar a choradeiras pelas mortes de Pasolini, de Visconti ou de Fellini ou ainda sobre a ineficcia de reclamar da falta de oportunidade de ver o filme de Martin Scorcese sobre o Tibet. O rock do grupo U-2 o mais representativo deste final de milnio e do encerramento deste nosso sculo XX. Como ainda no nasceu ningum do sculo XXI, podemos dizer que somos contemporneos de Antonim Artaud, Sigmund Freud, Jacqueline Kennedy, Aldo Moro , Palmiro Togliathi, Joo XXIII, Mahatma Gandhi, Bill Gates, Chou-En-Lai, Fidel Castro, Jos Lzama Lima, Severo Sarduy, Miguel Angel Asturias, Michel Foucault, Tennessee Williams, Capito Virgulino Ferreira Lampio e sua Maria Bonita, Joo do Rio, Franklin Delano Roosevelt, Winston Churchill, Charles De Gaulle, Emiliano Zapata, Octvio Paz, Mrio Vargas Llhosa, Alejo Carpentier, Martin Luther King, Nelson Mandella, Desmond Tutu, Yukio Mishima, Evita Pern, Getlio Vargas, Fernando Henrique Cardoso, Juscelino Kubitscheck de Oliveira, Carlos Lacerda, a fera da Penha, Madame Sat, Cara de cavalo, o bandido da Luz Vermelha, Jorge Luiz Borges, Yoko Ono, The Rolling Stones, Mrio Quintana, Jean Cocteau, Thomas Mann....e de Joseph Brodsky. (...) No me massacres mais, no me massacres mais...pois eu sou o Lampio cultural destes sertes paulistas! (recado de uma bichinha louca pr Eduardo de Mato). No meu banho noturno sentei-me no cho do banheiro, cruzei minhas pernas como numa meditao yoga, bem debaixo do chuveiro aberto...e, voltados para o vitr, meus olhos se entusiasmavam com os relmpagos a anunciarem tempestades. Perto do ralo danavam espirais de espuma de sabonete e meu corpo se libertava de uma incmoda malha de gordura formada em torno do mesmo aps um dia de calor sufocante...Agora os troves ribombam como os canhes de Navarone...falta pouco para a meia noite ...daqu a pouco estaremos na madrugada de 14 de Janeiro de 1998. Uma noite destas, se no me engano foi na noite de 9 de Janeiro de 1998, no cine Brasil da TV Cultura de So Paulo, Sylvio Back, ao explicar as cenas nas quais adolescentes da juventude nazista apareciam ns em seu filme Aleluia Gretchen (sobre a influncia nazista e integralista na vida poltica brasileira em seu perodo getuliano) disse que este costume dos jovens hitleristas expressava uma tentativa de convvio com as energias naturais. Mas Back no explicou com clareza as origens arqueo-genealgicas dos contedos desta tentativa nazista de resgate das foras naturais. Vou tentar explic-la fundamentado na leitura do livro Paisagem e Memria de Smon Schama: A Germnia era vista pelos antigos romanos como terra de povo brbaro e soturno, povo rude dos pntanos e das florestas do centro da Europa, nao truculenta e grosseira porm sincera e pura, gente no- apta vida urbana, ou seja, os germanos eram para os romanos um povo selvagem. Dentro deste esteretipo e dentro deste estgma criado pelos romanos a respeito dos ancestrais dos atuais alemes, imagem muito recorrente na literatura clssica romana principalmente no livro Germnia de Tcito estes povos surgiam barbudos e hosts do fundo de florestas e pntanos, guerreiros destitudos das artes retricas dos latinos, sem as urbanidades cerimoniosas e a ritualstica artificiosa das paisagens marmreas e frias dos centros do poder romano e dos demais embries judicos e gregos da atual civilizao ocidental e muito menos teorizavam sobre direitos e dignidades de estranhos ou desconhecidos. Os nazistas em seu nudismo explcitavam a tentativa de resgate desta vida sem subterfgios, busca de uma vida em contacto direto com a natureza (princpio e postura defendida pelos grupos de jovens alemes desde o final do sculo XIX grupos que contaram com a participao do futuro pensador marxista Walter Benjamin), o retorno bruta sinceridade original ou o retorno nudez ostensiva dos brbaros de ento. claro que os nazistas ficaram bem caracterizados pelos assombrosos prenncios ou como arautos anunciadores de dcadas e sculos de novas barbries contra a humanidade e contra todas as formas de vida neste mundo. S para completar esta nota, no mesmo programa de televiso no qual discutia seu filme, Sylvio Back disse que todos ns temos alguns venenos nazistas circulando em nossos sangues. Existiria alguma situao mais dramtica do que a cena na qual um ignorante que s sabe comer e fazer filhos caminha to seguro de s como se levasse em seu trax todas as certezas e verdades deste mundo? A presente onda de instigantes conquistas cientficas (como a possvel clonagem de seres humanos, drogas que retardam a velhice e novos tratamentos para a AIDS e o Cncer, as fotos do telescpio Huble, o teletransporte de um fton em um laboratrio de pesquisadores austracos, a perspectiva de imortalidade para os que implantarem num computador um sistema que reproduza fielmente todas as suas estruturas de vida emocional e intelectual, etc...) parece que veio ocupar o espao antes destinado s utopias paradisicas de felicidade terrena ou simplesmente o encanto de ideologias que tudo explicavam e que para tudo ofereciam respostas e certezas infalveis e a-histricas, ou, mais academicamente falando, os chamados paradgmas terico- ideolgicos. O sonho acabou e ao finado adveio uma nova era de apogeu cientfico para mais uma espetacular e futurista onda de mitificao das cincias ou a espera de um bem-estar social com o avano tcnico-cientfico at que novas guerras (agora seriam com armas nucleares e mais destrutivas?) e o advento de novas epidemias que eliminaro milhes de seres humanos e demais animais, at que um novo Titanic afunde de novo no meio de algum oceano, at que reapaream novos Frankesteins e novos doutores Marbuses para nos horrorizarem e nos fazerem novamente descrentes no progresso desta espcie tida por alguns cientistas como biologicamente inviavel...porque afinal Ssifo se fez homem em sua eternamente repetida tentativa de escalar e depositar pedras no alto de uma montanha na qual possa reconstruir sua ponte para os cus.Tentativas etenamente seguidas por novas voltas ao ponto de partida, ao zero primordial e assim por diante. A fissura entre utopia e cincia continuar a existir... Durante a ditadura militar e civil no Brasil, entre os anos de 1964 e 1985, as elites conservadoras de ento alegavam que o nosso pas no estava preparado para a democracia. Agora, em 1998, as elites corporativistas das nossas esquerdas esto repetindo o mesmo argumento dos seus adversrios no passado, ou seja, esto defendendo a tese do despreparo do nosso pas para entrar em rtmo de globalizao. Estas esquerdas ainda no entenderam que tal preparo se d ao longo de nossas caminhadas histricas e no ficando como Pedros pedreiros a esperarem os trens-balas do Japo para nos salvarem do nosso atraso secular. Quem diria que os argumentos conservadores do passado valeria para os pretensos transformadores da nossa sociedade!!??... As salas de bate-papos da Internet so amostras muito contundentes e representativas do desnorteio existencial da juventude dos grandes e mdios centros urbanos do nosso pas. Panoramas to assombrantes nos vm do visor como as borbulhantes imagens de nossos labirnticos circos de horrores neo-barrocos. ... H uma semana tive de escolher entre dois cds: um do Sinh, pai do samba carioca e outro do Luiz Gonzaga, rei do Baio. Escolhi o cd do Sinh e me arrepend. suas letrinhas repetitivas e popularescas me desanimaram a ouv-lo de novo. (16 a 17 de Janeiro de 1998)  Out-doors dos meus caminhos Sete homens e um destino, Ben-Hur, O fugitivo, Ron Montilla, Smirnoff, Saratoga, Coca Colla, Renner, Mappin, Hollywood, Good Year, Ron Merino, Dunlop, C. L. 65, Bosch, O Direito de Nascer, White Horse, Pullman, Merlin, Itacolomi, Facit, Shell, Kolynos, Casas da Banha, Bic, Philco, Ford, Mitsubish, Petrobrs, J. K. 65, Casa do Rdio, Sudamtex, Ponto Frio, ticas Fluminense, Casas Sendas, Hi Fi, Rin Tin Tin, Leite Moa, Maionese Helmans, TV Excelsior, Grapette, Master Card, Crush, Swift Armour, Pirelli, Esso, Po de Acar, Minister, Shelton, Beba Laranja Fanta, Carrefour, KLM, BASF, VARIG, Tostines, Montoro, So Luiz, Piraqu, Jornal do Brasil, TAM, White Martins, Trans Brasil, Brahma, VASP, Volkswagen, DKW Vemag, Perdigo, Drink Drehr, Sadia, Walitta, Massas Adria, Suita, All Star, Adocyl, Jardim da Saudade, Carlton, Forum, Sul Amrica Seguros, Amrica Fabril, Mococa, Caixa Econmica Federal, Fiat, 51, TV Aratu, Olho, Fiat Lux, Xarope de Mussamb, Dr. Kildare, Soutien Du Loren, cuecas Zorba, VISA, Meias Luppo, cuecas Mash, Othon Palace, Beverly, Kodak, Collor, Fiat Allis, Phebo, Fuji Films, Colrio Moura Brasil, Hilton, Zottis, GBOEx, Diretas j!..., Arisco, Martini, Maggi, OMO, Vodka Orloff, Rocha Hotel, Cine Prolar, penso Santa Maria, Ney Matogrosso, Povo desenvolvido povo limpo, Este um pas que vai para frente, A novia rebelde, Frente Brasil Popular Lula-Brizola, Rock in Rio, Halls, Richter, Rinso, Bom Bril, Firestone, Ipiranga, leo Violeta, Bardhall, Texaco, Confort, Philips, Pepsi, Sorvetes Kibon, Minuano, Olderich, Ziv, Strasburger, Samello, HB, Dnhill, Sabonete Lux o sabonete das estrelas..., Ice Kid Hortel, Casheemeere Bouquet, Rastro, Doriana, All Day, Pantanal, Vick Vaporub, pastilhas Valda, Cinzano, Chevrolet, Lojas Americanas, Royal Label Extra, Dancing Days, Casas Pernambucanas, O submarino amarelo, Colgate, Bat Masterson, Scaramouch, Os canhes de Navarone, Ney Braga, Colgio Machado Sobrinho, Gazeta, Ita, Titanic, Banco do Brasil, Baby do Brasil, Elba Ramalho, Adubos Mannah adubando d..., Rochgua, Trevo, D Paschoal, Citro Suco, Santa Marina, Cermica Porto Ferreira, Papa lguas, O gato de botas, Mercedes Benz, Itapemirim, Jell-o, Otcker, Gordura de coco Cristal, biscoitos GELCO, Catupiry, Polenguinho, Adidas, UOL, tnis Rainha, Capivarol, Unio Fabril Exportadora, Instituto Universal Brasileiro, Sandoz, Hipoglos, Azeitonas Vega, Anthony Garotinho, Ipilube HD, Nestl, Programa do Fausto, Nescaf, Ba da Felicidade, Papa Tudo, Arquivo X, Denorex, Grescim 2000, Molho de tomate Etti, Piza Hut, American Airlines, Pomarola, O pequeno Buda...  Ouvindo Elvis Presley num nibus com ar condicionado, no fim de Novembro de 1999 (...) Na Idade Mdia tudo signo e o visvel s vale porque esconde o invisvel. Emile Male O volume I nmero 2 da Revista Brasileira de Lingstica Terica e Aplicada editado em So Paulo-SP pelo Centro de Lingstica Aplicada e Instituto Yzigi em Dezembro de 1966 um documento bibliogrfico precioso para os estudiosos das lnguas e culturas indgenas brasileiras, interesse intelectual lingustico, antropolgico e sociolgico que se intensifica, curiosamente, antes, durante e aps o movimento militar ou golpe civil e militar no Brasil de 1964. A guerra fria levava as esquerdas e as direitas a desentocarem os ndios, ou melhor, leva-as aos confins ou aos redutos indgenas mais remotos. Tticas e estratgias para dominar todo o mundo, tempos e espaos de uma nova guerra santa pelo bem e contra o mal. Dez anos aps a queda ou demolio do muro de Berlin (1989), expoentes da esquerda (diga-se P.T.) afirmam, pela primeira vez no Brasil, que j no consideram mais vlidos os postulados tericos e as posturas metodolgicas e estratgicas do marxismo. Estamos no fim de 1999. No entanto, nos lembra o jornalista Janer Cristaldo, desde os anos 30, vrios intelectuais esquerdistas j denunciavam a esclerose e a caduquice totalitria, o oportunismo, a demagogia e a safadeza pseudo-vanguardista dos intelectuais e lderes polticos comunistas. Entre os que, h 70 anos, j no acreditavam mais em parasos utpicos socialistas podemos citar Panati Istrati, Andr Gide, Albert Camus, Arthur Koestler, George Orwell, Ernesto Sbato, Jorge Luis Borges, Carlos Lacerda, Walter Benjamin, ex-surrealistas e muitos outros. Em 1949, com a affaire Kravchenko, comprovava-se a existncia em todo o paraso stalinista de vrios infernos chamados gulags, campos de concentrao. Nos anos 50, a invaso da Hungria pelo Pacto de Varsvia (URSS e aliados do leste europeu) e as denncias do premier Nikita Kruschev sobre os crimes, os massacres e os expurgos na Rssia stalinista (at 1956) vinham desmascarar, de uma vez por todas, os adeptos das ditaduras de proletariados burocratas. Assim acelerava-se e encaminhava-se o presente adeus ocidental s utopias totalitrias inspiradas em Marx, Engels, Lnin, Stalin, Trotsky, Mao, Gramsci, Fidel e outros tteres. Nos anos 60, os lderes dos movimentos estudantis que pipocaram principalmente na Europa, Amrica do Norte e Amrica Latina mais notadamente os que ocorreram em 1968 mais a dramtica invaso da Tchecoslovquia e o esmagamento da Primavera de Praga vieram desmentir os burocratas partidrios da revoluo truculenta e expropriatria dos pases comunistas da Europa, sia, frica e Amrica Latina (bloco comunista anti-capitalista). A revista Selees do Readers Digest tinha razo. A onda hippie, a Contra-Cultura underground e a revoluo sexual e comportamental, mutaes nos costumes, crise familiar, os movimentos das chamadas minorias gays, negras e indgenas bagunavam tambm os coretos das bandas internacionalistas das esquerdas. O movimento feminista, a plula anti-concepcional, a queima de soutiens pelas seguidoras de Betty Friedan, o tabagismo ganhando os hlitos femininos, a moda unissex, a era do laqu e das mscaras da modernidade, o rock and roll e a exploso no consumo de drogas tambm levaram as esquerdas a outros becos sem sada. A derrota de Che Guevara em 1967 na Bolvia (onde os camponeses se aliaram aos militares no combate guerrilha guevarista) e, pouco depois, o golpe militar e o assassinato do presidente socialista chileno Salvador Allende e a dcada ditatorial da direita chilena mostravam que a guerra fria no acabava com a derrota americana no Vietn. Nos anos 70 e 80 ruem em quase todos os continentes longevas ditaduras (como as ditaduras franquista na Espanha e a salazarista em Portugal, esmorece-se o furor dos ditadores latino- americanos e vrios tteres subservientes aos EUA na frica e na sia e na Amrica Latina vo, como num jogo de domin, caindo, um a um.. Somoza, Selassi, os coronis gregos, os ditadores brasileiros, argentinos, peruanos, chilenos, haitianos, dominicanos, panamenhos... e por fim, liquida-se o Apartheid, regime racista da frica do Sul9o fim do Apartheid j se deu nos anos 90). Concomitante a esta queda de tteres subservientes ao Capitalismo, tambm como num jogo de domin, comeam a cair os ditadores comunistas da Romnia, da Bulgria, da Polnia, da Hungria, da Alemanha Democrtica, da Tchecoslovquia, da Iugoslvia, da Albnia, do Vietn, do Camboja e por pouco no cai o governo comunista chins que, para se manter no poder, massacra uma rebelio estudantil na praa Celestial de Pekin ante o olhar atnito e emocionado de todo o mundo. No fim dos anos 90, comeam a avanar os acordos entre catlicos e protestantes na Irlanda e entre israelenses e palestinos no Oriente Mdio ao mesmo tempo que ainda sentimos o cheiro das valas comuns nas quais lanaram os mortos nas guerras da Bsnia e da Tchechnia e de Angola e de outros pases da frica e da sia (mais notadamente no Timor Leste que se emancipa politicamente da Indonsia). Em meio a esta catica desordem mundial ps-guerra fria, as esquerdas brasileiras preferiram se aninhar mais aconchegantemente nas centrais sindicais, nos partidos e nas universidades, onde ainda imperam politicamente e intelectualmente apesar de estarem flagrantemente, no mnimo, ultrapassadas e corrodas pelo fluxo histrico. Agora, nem tudo ideologia. Se na Idade Mdia o imaginrio representava o irrepresentvel e o invisvel, hoje tudo imagem, tudo mscara, tudo simulacro, tudo uma forma de configurar um Way of life, tudo virtual, at o real virtual!... No sculo XIX, dizia Stendhal, vivemos numa sociedade hipcrita: quem libera a energia que possui, quem tenta viv-la o quanto ela merece supera a palavra com suas mentiras, mas com isso se desliga da vida social, escolhe(?) a morte social, s vezes a prpria morte. E no entanto, nesse destino rduo, o apaixonado o mais feliz dos homens. No sculo XX, o ensasta e cineasta italiano expulso e discriminado pelo Partido Comunista Italiano, Pier Paolo Pasolini, refutou radicalmente a poltica cultural fascista baseada na regra da dupla moral: uma moral para a arte e uma moral para a vida. Qualquer amor um pouquinho de sade, um descanso na loucura. Joo Guimares Rosa. Num tempo no qual quase tudo permitido (recusa-se ainda ao doente de AIDS o direito de amar e de viver a sua sexualidade), nos escreve a educadora e ensasta Nilza Amaral: os criadores de fico no deixam o transgressor, nesse caso o apaixonado e no o causador da paixo, sem o castigo merecido pelo prazer de viver contra as regras estabelecidas. o preo da paixo. Ou da inveja, que outra paixo. (Confira: http://www.baguete.com.br/literatura/literatura/asp). Os tempos so outros, eu sei, mas Elvis Presley ainda me emociona. Como diria Janer Cristaldo, nos albores do terceiro milnio, me sinto, me vejo, me percebo em plena perda das minhas perspectivas. Tal perda decorre da minha conscincia da imensido cronolgica de um novo milnio no qual s existirei por uma nfima parcela ou timo de tempo. Isto me desnorteia. Preciso reler as seis propostas para o prximo milnio, na verdade cinco escritas e uma no ar, obra clssica da ensastica do italiano talo Calvino.  Porque evitamos os porqus? Porque no nos preocupamos com a sorte das formigas? Porque sempre o pedestre que tem de se deter diante de um carro em movimento? Porque s gostamos de comer aquilo que no podemos? Porque temos vergonha de nossas sensualidades e sexualidades? Porque nunca dizemos sobre nossas dirias defecaes? Porque nunca gostamos da companhia de pessoas deprimidas? Porque evitamos os porqus?.... Segundo F. Dostoievski, em Crime e Castigo, feliz aquele que no tem o que fechar. E eu completo: nem o que esconder. Sobre o seu personagem Rasklnikof imaginava o velho monge anarquista russo: Talvez a fora dos seus desejos o fizera crer outrora que era desses homens a quem permitido mais que aos outros. E, por isso, no escuta at ao fim o que se lhe diz: nunca se interessa pelas coisas que interessam a toda gente. ... Quem sabe, sabe, conhece bem, como gostoso gostar de algum. maravilhoso o cd-rom Pop Filosofia de Jomard Muniz de Britto, principalmente na msica A lua luta por Lula, com letra sua e de Ricardo Silva. Como ainda no podes ouv-los, caros leitores, ouam alguns fragmentos da letra desta composio potico-musical-filosfica e poltica: A luta de classes no mais dialtica do que a luta dos corpos / A lua luta no cu da boca/ beija o estudante e mija o operrio/ ou, pelo contrrio, beija o operrio e mija o estudante. Neste e noutros trabalhos, Jomard exercita desmontagens poticas das palavras, explorando o paraso labirntico da lngua portuguesa abrasileirada, deixando vista resqucios de camadas subterrneas do formalismo ps-estruturalista.... belssimo este e outros livros, ensaios e poemas de Jomard e seu grupo recifense. A morte pior que a doena. Tenho dito... A vamp-model o anjo da morte. Uma fonte nascida do nada d luz uma gua purificadora que lava nossos crimes e impiedades. Misericrdia , a um s tempo, uma palavra e uma disposio cordial em extino. O politesmo o pai de uma viso fragmentada e caoticamente desconexa e labirntica do Universo. O Monotesmo a busca da ordem unitria e centralista, racionalista. Um dos lbuns mais lindos editados no sculo XX acaba de circular na Alemanha. o lbum Testamento do corpo no qual o fotgrafo Dino Pedriali expe fotos de Pier Paolo Pasolini n em seu castro. O discurso dos mais primitivos grupos humanos politesta. As tragdias desencadeadas nestas comunidades primitivas so coletivas, atingem individualmente a todos. Quem cr enxerga o desejo e entende o absurdo e mais facilmente lavado pela fonte do nada. Se temos os genes de nossos antepassados, como explicar que nossas clulas morrem e em um perodo de 7 anos recompomos todo o nosso corpo, com exceo de nossos permanentes crebros de Parmnides? O passado, a cada sete anos, zerado mas permanece no nada zerado ou zen de nossos genes, divino absurdo da existncia, Jomard!!.. Ningum culpado. Tudo lavvel ou descartvel!.. Isto nos deixa deriva, abalroados. Pairar acima do bom senso e das lgicas convencionais a melhor forma de visualizar a mediocridade hegemnica. Entre luzes e escurides, o homem um indefeso e minsculo inseto. Oh! Patrcia Patrstica Agostiniana!... At as nossas organizaes sociais nos levam a nos vermos como insetos sujeitos, o tempo todo, a qualquer tipo de tragdia. O abismo se chama agora e gora, canta Jomard Muniz de Britto. O trgico a configurao do impossvel? O homem debate-se convulsivamente diante do silncio andino e inodoro de Deus. Celebrar a vida inclui a constante lembrana e presena da morte. Jogar xadrez com a morte estar movido pela f e pelo intito de venc-la, vivendo-a a cada segundo.. vivendo-a e degustando-a profundamente. A primitiva intimidade do homem com o Divino enlaava homem e natureza e garantia o fluxo purificador da fonte misteriosa e cambiante do nada ontolgico. Desta fonte adveio a nossa necessidade de imaginrios. A morte uma das mos de Deus? O buraco Baco. Baco no beco da fome!, exclama Jomard!.. Vocs sabiam que cada um de ns humanos carregamos para l e para c, todos os dias, uma bunda? A morte sublime, impressionante, pattica ventania fria e sombria do inevitvel e ptrido futuro de todos ns!... A minha morte se desenrola ao som da abertura da pera Parsifal de Wagner. Sinistra, misteriosa e cnica como Deus em sua vitria atemporal. Todos passaro e ao 2000 chegarei. At l chegando, o resto no me importa, j serei um homem do sculo passado. J realizei a minha infantil meta. ndia fui em frias passear, tornar realidade um sonho meu.. Nunca fui a uma loja Soho. Sofisticada e insidiosamente ldica, como a morte, a moda contempornea dos costureiros mortais e terminais de nossos tempos. A rua Oscar Freyre um dos caminhos da morte. As flores tm cheiro de morte, mas nos encantam tanto!.. O perfume da morte francs e parece conter um pouco da essncia cida do limo. O gog do defunto uma cartilagem intil. O nariz do morto ostenta dois tneis desativados. As mos sobre o trax do falecido significam nada mais a fazer, nada tenho com isso, no comigo, morreu, pronto, fim de papo. Estou indo... fui. Para que moscas desocupadas no utilizem os tneis das narinas desativadas para suas andanas marginais (sobre os restos mortais da sopa conceptiva feita corpo prraloucamente andante at se configurar na sua verso final cadavrica) colocamos nesses orifcios nasais nauseantes dois chumaos do mais alvo algodo setecentista do Maranho, chumaos urgentes, os que mais ao alcance de nossas aflitas e preventivas mos estejam. Alvos chumaos simbolizadores da assepsia purificante do leo escorregadio do nada, do vazio, do outrora existente, do desativado. Viva Augusto dos Anjos! Para que a poesia no padea dos cursos de Letras ou em suplementos Mais ou menos literrios... Muitos poupam para assegurarem seus caixes, passam por necessidades para poderem morrer. No penso no dia de amanh nem no dia final. Dizem tambm que no tm medo de morrer. No fao tais poupanas para reter vida para eu morrer porque me disseram que os civilizados no deixam seus mortos insepultos. Por isso clamou Antgona no deserto. Deus d o frio conforme o cobertor e passarinho que come pedra sabe o c que tem. A morbidez do tema aqui expresso fica por conta do fregus que prefira a morbidez da iluso mentirosa, do falso conforto da fuga do real e concreto futuro que se avizinha... sorrateiramente como Drcula!.. Incmodo assunto, mas, queiramos ou no, toda civilizao se inicia com a ritualizao de funerais para os seus mortos. Antes os mortos eram devorados por formigas ou por vermes e fungos. Hoje temos geladeiras para cadveres, crematrios que nos levam mais rapidamente ao p ou s cinzas de onde brotamos. Somos p e ao p retornaremos e nos alimentamos com p de milho, pops filosofias, leite em p, adoro leite em p, gelatina em p, suco de uva em p, ovo em p e at da dor de J. Pois sempre encontramos algum que sofre muito mais que ns, nem que seja l no Antigo Testamento. O tempo pole a pedra m da metrpole. E a vaca muge: mommmm!.. monnnnn! monnn!... b!!.. onnnnnnnnnnnn........  Precisamos de uma sociedade que seja melhor que as drogas!... A sociedade brasileira, como um todo, est perdendo vergonhosamente para as drogas o seu veio de ouro mais valioso: os seus filhos mais jovens. Provavelmente os nossos preconceitos raciais, comportamentais, morais ou imorais e sexuais, a nossa mania de rotular desrespeitosamente e simplistamente o outro (para discrimin-lo e estigmatiz-lo) alm das nossas hipocrisias e polticas comportamentais equivocadas (e formadoras de guetos, gangs, antros, bocas, zonas e ONGs) so os ingredientes culturais que mais venenosamente e profundamente engendram uma cultura propiciadora de vcios, fugas, dependncias e compensaes (por drogas) para o nosso mal estar social. No creio que uma cultura preconceituosa e policialesca derrote o prazer suicida que a droga tem trazido a uma crescente e imensa populao de drogados neste nosso Brasil do fim do sculo XX. So inmeros os escritores, artistas, msicos, intelectuais, cientistas, empresrios, polticos e militares que consomem ou consumiram drogas e este dado (inquestionvel) me leva a crer que nenhum projeto cultural ser bem sucedido se explicitar uma proposta de confronto e combate contra o universo dos drogados. Aqueles que ainda consomem drogas so cada vez mais numerosos, o que para mim revela o fracasso das atuais campanhas de preveno contra os danos reais detonados pelo uso de drogas. Mas, por outro lado, precisamos acompanhar, com interesse cientfico e humanista, as discusses mdicas sobre benefcios da maconha no tratamento da AIDS e do cncer e, tambm, adotarmos uma postura mais sensvel e verdadeira para admitirmos que as reaes individuais a este ou quele tipo de droga no so as mesmas, o que desfaz os mentirosos estigmas e mitos do drogado como algum sempre agressivo e perigoso para a coletividade. Muitas vezes a propaganda contra as drogas veicula mentiras ou dados discutveis e cai no descrdito crescente daqueles que so os alvos preferenciais dos traficantes (jovens e crianas) e, assim, tal propaganda faz gol contra, em vez de prevenir e combater a disseminao do consumo das drogas, acaba por favorec-la de forma irreversvel. Investir na divulgao de idias religiosas ou de projetos artsticos, literrios, educativos ou culturais (como a oferta de bibliotecas, discotecas, videotecas e acessos a internet) sem uma perspectiva que combata os preconceitos, os moralismos, as hipocrisias marginalizadoras de legies de pessoas e as discriminaes indignantes s ir aumentar ainda mais o mercado consumidor de drogas, alcolicas ou no, tabagistas ou no, qumicas ou no. Precisamos deter o nosso furor inquisitorial contra drogados e traficantes para que possamos, pelo dilogo, superarmos o atual estgio de derrota de quaisquer valores (novos ou velhos) que venham a compor nossas necessrias e vitais posturas existenciais e humanistas diante do outro. Em nome da verdade... e do prazer de viver em paz e poeticamente....  Projeto mais sapos para o bem do Brasil O crescimento dos grandes centros urbanos brasileiros no fim do sculo XX est muito aqum da exploso demogrfica dos pernilongos. A multiplicao geomtrica dos insetos que zunem noturnamente e at diurnamente em nossos ouvidos, alm de nos picar nos mais imprevisveis pontos ou nos lugares mais difceis de coar, mais um sinal dos novos tempos. Eu vou morrer e no vou ver tudo!... Antigamente era mais limitada a proliferao desta populao de insetos. Os nossos crregos, ribeires, riachos e regatos eram menos sujos e alguns eram ainda lmpidos e cristalinos, com guas potveis e cantarolantes!.. beira destes riachos de guas inspidas, incolores e inodoras, prostravam-se centenas ou milhares de sapos, rs e pererecas que, inconscientemente, concorriam para o bem estar brasileiro, esticando suas lnguas (como se brincassem com aquelas lnguas de sogra que ganhvamos em festas de aniversrios) e deglutindo milhares de borrachudos e pernilongos. Assim, beneficiavam estes sapos o lazer dos pescadores e o sono dos justos. Antigamente dormia-se de toca branca em cama com dossel prova de muriocas e pernilongos remanescentes das caadas dos batrquios acima citados. Estes anfbios e feios animais teis foram dizimados pelo chamado bom gosto do homem urbano que sempre viveu dando chiliques contra a feiura e os sustos que lhe causavam estes montes de msculos, dedos e possantes pares de olhos vigilantes e caadores, optando pela multiplicao insalubre dos pestilentos pernilongos. Como os ribeires de nossas paisagens encontram-se to entupidos de lixo, esgotos e outros dejectos civilizatrios (como nossas veias e artrias internas, nossas veias externas esto tambm congestionadas de gs carbnico), os sapos tornaram-se espcie em extino e a super-populao de pernilongos est se proliferando num ritmo descontrolado e ilimitado. Nosso sono sagrado est ameaado pelos pernilongos nascidos nas guas podres de nossos ribeires putrefatos. Nossa sade pblica, mais uma vez, pode ser derrotada por estes mosquitos, que podem nos trazer de volta at a secular febre amarela!... Nossas coceiras e as picadas destes pernilongos esto nos stressando e abalando nossa produtividade cotidiana.... Mas, para comer tantas legies de pernilongos, haja sapos!.. Mas... para que haja sapos, precisamos de crregos, riachos e ribeiros lmpidos e cristalinos. Mas para que um s riacho se torne de novo potvel, cristalino e cantarolante como os de antigamente, nossas ambies precisam refluir a nveis ambientais mais educados, nossa poltica sanitria e ambiental e nossas novas posturas diante do mundo se tornarem mais coerentes e eficazes. Srias mesmo. Ser que o mal cheiro ribeirinho, o hlito cloacal dos mangues e o odor putrefato dos brejos poludos (onde no vicejam mais os lrios de so Jos) se coadunam com a progressiva e triunfal trajetria da modernidade? Quando eu era pequeno e vinha consultar, periodicamente, um oftalmologista na Cidade Maravilhosa, saindo dos puros vales da zona da Mata mineira, enfrentando a sinuosa e asfaltada estrada que ligava Juiz de Fora ao Rio de Janeiro, ao acabar de descer a serra de Petrpolis RJ e adentrar pela baixada fluminense e Av. Brasil, eu sentia aquele chic e moderno cheiro de cidade grande, hlito de capital cultural e ex capital federal, aquele bafo de mangue, esgotos, refinaria, fbricas, carros e nibus fumacentos e a baia mais bonita do mundo cheia de entulho, lodo, dejectos e todos os tipos de rejeitos urbanos e uma aura de progresso, atmosfera catinguenta, fedorenta e de autntica carnia me dava motivos para contar vantagens aos amigos de minha aldeia original, vaidoso e feliz por passar alguns dias em uma das cidades mais populosas e importantes do mundo!...em to impressionante cenrio poltico e scio-cultural!... O mal cheiro era o que indicava a chegada da metrpole carioca. S as grandes cidades cheiram mal!.. As cidades pequenas cheiram a rosas de vovs, a altares de Virgens e Senhoras das Dores e das Graas, a bero de nenm com talco Jonhson ou Pom pom e a mulheres com cremes faciais esperando seus maridos em finais de tardes.... Cidade pequena cheira a funcho, a hortel, a horta caseira, a chiqueiro de porco, a estbulo de bovinos e eqinos, a bailes com mulheres perfumadas com guas de cheiro do tempo do ona, cheiram a sacristia e a silncio de ciprestes de cemitrios, a leite de garrafa, a cambuquira, a ora-pro-nobis, a quiabo com ang com carne de porco.... e a tudo que de mais delicioso que o saudvel passado presentificou em nossos hbitos e costumes provincianos.  Proust e a doena 1914-1921 (colagem de trechos de cartas de Marcel Proust montada por Jos Luiz Dutra de Toledo El Citador) (...) Cheguei, infelizmente, quele estgio de falta de sade no qual o egosmo a condio da conservao. (...) Estou consternado com a doena da Sra. Gallimard. Espero, do fundo do corao, que Bize lhe faa bem. Ele de um saber infinito, mas modesto demais, pois falta-lhe um certo grau de charlatanismo, muitas vezes til para ficar com os doentes em suas mos. Em todo caso, esteja certo de que seu exame ser perfeito. (....) O grande aborrecimento com o estenodatilgrafo que, se comear agora a ditar quatro volumes e a reler sua datilografia, com minha sade, meus olhos etc., isso nos atrasar em pelo menos um ano (e mais ainda, acredito). (....) Caro amigo, Tive uma recada e no pude responder-lhe. E uma noite, quando estava relativamente bem, levantei-me e sa; ento tentei ir v-lo, pois no era tarde. (...) H quatro dias tenho um acesso de febre muito violento, com grande sofrimento. Assim, com grande dificuldade que lhe escrevo. (...) Se hoje no estivesse com tanta dor nos olhos, eu lhe contaria em detalhes como fiquei feliz, emocionado com essa carta em que o senhor me diz coisas to simpticas, to delicadas, com tanta simplicidade, doura e fora. (...) Alis, sinto muita dor nos olhos para ler e para escrever, mesmo cartas. E como estou doente demais para ir consultar um oculista, isso me parece irremedivel. (...) Em carta, de fim de Abril de 1916, a Gaston Gallimard, o romancista Marcel Proust diz: em suma, nunca l nada de Shakespeare. (...) Embora um pouco cansado de escrever tantas cartas,... (...) Fiquei to doente nestes tempos que, realmente, escrever uma linha, assinar um livro, era demais para meu odioso mal-estar. (...) Como lhe disse em meu pneumtico de sbado, uma fadiga repentina me impediu de responder antes sua carta. (...) Caro amigo, fiquei muito triste em saber, por sua carta, que o senhor estava doente. E tenho remorsos. Pois o senhor se cansou para me responder. Parecia-me ter-lhe dito que no valia a pena. Caro amigo, no quero ser indiscreto ao falar de sua sade, mas minha experincia de doena, dos mdicos, etc.., se me intil, porque eu no quero o que sei, e tambm porque, como creio ter lhe contado, a respeito de Robert Gangnat, costumo sair-me bem quando se trata de outra pessoa, mas fracasso quando se trata de mim. Ento, se o senhor quiser que falemos de sade e de mdicos, estou s suas ordens. Mas se o senhor tiver um bom mdico, e preferir no esticar, em conversas vs, a rea melanclica j bastante vasta que a doena traa ao redor do doente, no acrescente, sobretudo ao me escrever para dizer isso, mais uma fadiga s j existentes. (...) Uma lngua que no conhecemos um palcio fechado, onde aquela que amamos pode nos enganar. (...) No imaginava estar to certo quando lhe dizia: O senhor ver que s receberei as provas quando no puder mais corrigi-las. Vou conseguir, assim mesmo, pois essas primeiras crises se acalmam, deixando s a febre, que no impede, de modo algum, a correo das provas. Mesmo assim, no espero comear antes de 48 horas, e irei de vento em popa. O senhor esteve inacessvel, eu o estou agora, por pouco tempo; penso no senhor com imensa amizade. (...) H dez dias, no pude participar do ltimo jri do Prmio Blumenthal, pois estava com mais de quarenta graus de febre. (...) Acertei em me cuidar, pois minha febre cedeu completamente, e tambm a tosse. (...) Desculpe-me por um ligeiro agravamento de meu estado de sade esta noite que me fora a ditar este bilhete. (...) Gosto tanto de falar com o senhor que, agora que fiz o esforo de comear a escrever(depois, no entanto, de um dia e uma noite de crise sinistra, so 4 horas da manh) eu lhe diria de bom grado quais so, em literatura, as 4 piores coisas que h muito eu no lia. Mas quero guardar minhas foras (!) para o trabalho e poup-las da tagarelice literria. (...) uma linha, em meio a horrveis crises de asma.. (...) Celeste deve ter-lhe telefonado (neste momento ela est descansando, pois minhas horrveis crises de asma dia e noite no lhe do folga)... (...) Caro amigo, a fadiga por haver sofrido tanto, de uns dias para c, me faz parar. Transmita minha afeio a Jacques Rivire, a quem no pude responder e fique com uma boa parte para o senhor. (...) A felicidade tomada como um fim se destri inteiramente. Ela flui livremente naqueles que no buscam a satisfao e vivem desligados de s mesmos, voltados para uma idia. (...) Caro amigo, tive terrveis crises de asma nestes dias, alis sem relao com o meu estado geral, por isso sinto-me incapaz de lhe escrever hoje e de trabalhar na minha Prisioneira que refao pela quarta vez. (fragmentos de cartas de Proust a seu editor Gallimard, selecionados durante a leitura do livro de correspondncias Proust/Gallimard So Paulo EDUSP/Ars Poetica 1993 605 pginas.)  Quem tem medo de Itamar Franco? Cada estado da federao brasileira tem o seu merecido Jnio Quadros. O Rio Grande do Sul j teve o seu Brizola. Alagoas o seu Collor. O Cear o seu Ciro... e assim por diante.. Minas ganhou o seu Itamar. O Jnio mineiro chegou com um Vice bem ao estilo Adhemar de Barros: Newton Cardoso!... Como disse Daniel Piza, com ou sem Itamar, j tava mar. Quando o Vice de Collor o substituiu foi notvel a pouca motivao executiva do novo e complementar mandatrio. A imprensa achava mais interessante o namoro de Itamar com a Jnia Drummond e a ida do casal ao cinema X de Braslia do que os assuntos propriamente governamentais. S depois de se despedir da Presidncia, em primeiro de Janeiro de 1995, Itamar foi picado pela mosca transmissora da vontade de poder. Assim como Jnio da Silva Quadros, aps a renncia, se candidatando ao governo paulista e anunciando a sua disposio de voltar Presidncia... Para Daniel Piza, colunista do caderno Fim de Semana do jornal paulistano Gazeta Mercantil, s os chicanistas alardeiam por a que, finalmente, temos uma oposio. Que oposio? Itamar? O ex- Vice de Collor que tomou como smbolo de seu governo o renascer do Fusca? O Mrio Fofoca que foi flagrado num camarote de bicheiro acompanhado por uma modelo sem calcinha? O Pilatos do Po de Queijo que no quer assumir as contas legadas por seu antecessor e lava as mos num momento como este? E, concluindo a sua nota, afirma: Continuaremos nos comportando de acordo com a frase daquele embaixador americano: Os brasileiros gostam de ir at a beira do abismo, e ento recuar. O ex-prefeito de Juiz de Fora e ex senador emedebista triunfante em 1974 saiu do PMDB porque foi derrotado pelas tramas de Newton Cardoso na Conveno que indicou o ex prefeito de Contagem ao governo mineiro em 1986 quando Newto e Qurcia provocaram o nascimento do dissidente PSDB. Itamar, divorciado e sem namorada, convidou a ex namorada Jnia para acompanh-lo em sua posse no (anteriormente vrias vezes sonhado) governo mineiro. Jos Aparecido, assessor do presidente Jnio Quadros e ex secretrio da Cultura no governo Tancredo Neves e embaixador do Brasil em Portugal durante o mandato tampo de Itamar, volta cena poltica ao lado de Itamar no governo das Alterosas. O topete esvoaante de Itamar no me convence de que Itamar veio praticar o lema do oligarca juizdeforano Antonio Carlos, que, em 1930, conclamou assim as elites da era caf com leite: Faamos a Revoluo antes que o povo a faa! Itamar est mais para fi-lo porque qui-lo e never more. A Juiz de Fora de Murilo Mendes e de Pedro Nava merecia um Hamlet shakespeareano e no mais um Jnio Quadros paridor de crises!.. Que tal mais um cineminha com a ex, hem Governador?  Salvador Felipe Jacinto Dali i Domenech, um dos mais impressionantes e patticos cronistas do Inconsciente no cotidiano derretimento do tempo no espao atemporal Salvador Dali, alm de todos os graus e degraus da sua irreverente fama, foi um dos mais expressivos e graduados contestadores da mesmice entre os animais simblicos da humanidade contempornea. Pontfice articulador de irrealidades, realidades e sub-realidades, nas crnicas mais instigantes e impressionantes do inconsciente humano, Dali supervalorizou e assumiu papis inusitados como os de amante incondicional da mtica Gala Eluard, conde louco, arauto do mundo dos escndalos, criador de perfumes, polmico devorador e criador de imagens a um s tempo delirantes, histricas e metafsicas. Dali viveu de 1904 at Janeiro de 1989 e nasceu na Catalunha, provncia do leste espanhol conhecida pela sua milenar tradio de libertria autonomia em relao ao poder central, agora instalado em Madrid. Dali e Juan Mir so 2 frutos muito representativos do esprito catalo. Idelogo do politicamente incorreto, desconhecedor cnico das patrulhas ideolgicas, crtico desnorteado, assombrosamente espetacular, monarquista e aristocrtico, Salvador Dali trabalhou em suas pinturas, esculturas, desenhos, croquis, fotografias, filme feito com o surrealista compatriota Luiz Buuel e em seus objetos e painis aberrantes e bizarras amlgamas desconcertantes entre fragmentos simblicos dos imaginrios catlico e ertico, legados mticos e cones clssicos da histria da arte, tcnicas renascentistas e vorazes perspectivas labirnticas de atualizado e vertiginoso barroquismo orgistico, atemporalidades metafsicas e ontolgicas num imenso liqidificador/exaustor de imagens do sculo XX e de outros tempos e espaos contorcidos pelas voragens desnorteantes e incessantes do esprito humano. Salvador Dali viu e se pasmou diante dos escombros de duas guerras mundiais, do apogeu da cultura de massa, da guerra fria, da persistncia bimilenar do imaginrio catlico, do universo onrico da contracultura, da falncia das utopias, do psicodelismo hippie, da alvorada da era da Informtica e suas multimdias, da crise das vanguardas e da ps modernidade e da Pop Art. E, em tudo isto, Dali buscou temas, colagens, amlgamas aparentemente incongruentes e incrustaes estticas enriquecedoras da sua arte. Dali, genial como Leonardo da Vinci, pintou, esculpiu, filmou, fotografou, desenhou, escreveu sobre nosso mundo e as mltiplas vises que possamos ter sobre uma s paisagem... Um transgressor desafiador de cnones e um dos primeiros artistas a beberem da prdiga fonte da psicanlise freudiana. Se a psicanlise nos revelou as formas coercitivas pelas quais as civilizaes se impuseram aos indivduos, Dali, em cima destas constataes psicanalticas, fz da sua arte uma busca esttica da superao das deformaes e mutilaes existenciais e simblicas em ns operadas historicamente. Como Antonin Artaud, S. Freud, Jung, Andr Breton, Jean Cocteau, Max Ernest, Pablo Picasso, Juan Mir, Federico Garcia Lorca, Luiz Buuel e muitos outros vultos de sua gerao, Dali nos escancarou uma revelao: do caos coletivo s um avano humano possvel e evolutivo: a individualizao dos nossos universos no confronto com alteridades e diversidades. Entre buscas dadastas, surrealistas, abstratas e cubistas estes artistas no restringiram o lastro esttico das suas obras aos limites europeus. Na tela Abapor de Tarsila do Amaral, pintora modernista brasileira, lemos alguns laivos do surrealismo de Dali, porque no? Tanto Dali quanto Tarsila sacudiram as cortinas de couro ou de veludo das academias que sobreviveram ao sculo XIX.  Sobre a mesmice dos dias Uma perna adiante e outra atrs: assim caminha h muito tempo a humanidade. E nesta caminhada, alguns dos seus exemplares foram destacados: Scrates, Comenius, Thomas Hobbes, Gamal Abdel Nasser, Lin Piao, Roberto Carlos, Madonna, Mandela, Caio Julio Csar e muitos mais. Andy Wharol chegou a prever que no futuro cada um dos seis ou mais bilhes de seres humanos(?) teriam pelo menos seus 15 segundos de fama, mas no sei no... Em cada cultura se estrutura um ou vrios sistemas de legitimao do poder e dos valores que se fizerem hegemnicos e, assim, se processam e se instituem prmios, espaos em mdias ou outros procedimentos pelos quais se destacam os feitos de uns em detrimento das obras de outros vultos relegados ao anonimato cotidiano. Quando adolescente, li e folheei vrias antologias e em nenhuma delas vi explicitados os critrios e/ou cnones que orientaram a eleio dos poetas e cronistas que at s suas pginas chegaram. Foi a que comecei a perceber que por trs da fama agiam mos propulsoras que aclamavam triunfalmente uns e no consagravam os demais. Entre 1969 e 1976, quando estudei em Juiz de Fora MG, graas generosa confiana de uma de suas irms, pude conhecer a obra indita de um obscurecido poeta ps-romntico e bomio chamado Washington Novais. Poeta e cronista da Manchester mineira na primeira metade do sculo XX. Um lvares de Azevedo tardio na terra de Murilo Mendes, Pedro Nava e Fernando Gabeira. Ainda nos anos 70, li o ensaio O Sistema Intelectual Brasileiro de Luiz Costa Lima, publicado na natimorta revista literria carioca Jos, no qual, pela primeira vez, tomei conhecimento da existncia de sistemas de legitimao ou desvalorizao de obras artsticas e culturais. Ao mesmo tempo ficava intrigado: porque alguns artistas s ganham notoriedade aps vrias e renhidas dcadas de trabalho e outros nem assim conseguem ser reconhecidos? Outros s conseguem ser lembrados s vsperas de suas mortes ou postumamente. Citado em recente artigo de Rubens Ricupero para o Caderno de Economia da Folha de So Paulo, o vaqueiro Riobaldo Tatarana, personagem de Guimares Rosa, alude, de passagem, s nossas mltiplas demandas scio-culturais: Medo tenho no de ver morte, mas de ver nascimento... Tanta gente d susto de saber e nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocao de emprego, comida, sade, riqueza, ser importante, querendo chuva e negcios bons. Nem mesmo os mais humildes deixam de sonhar com o reconhecimento ou com a fama e vitrias na vida. Outros passam quase a vida inteira no mais injusto anonimato e s aparecem no fim de suas trajetrias tardiamente enaltecidas. Entre estes milhes de casos, um dos mais recentes o fenmeno Z Cco do Riacho, chamado por um documentarista alemo de o Beethoven do serto. Msico de vrios instrumentos, compositor de dobrados, valsas, polcas, mazurcas, calangos, lunds e outros gneros sertanejos e arteso polivalente, Jos Cco do Riacho s recentemente, no incio dos anos 80, teve a sua obra valorizada e, assim, conseguiu gravar 4 discos. Grande parte de sua obra se perdeu ou ficou sem ser registrada. Morto agora em Setembro de 1998, em Montes Claros, capital das Minas ridas e nordestinas, sua genialidade musical permaneceu desconhecida at poucos anos antes da sua partida. E talvez nem seja porque vivesse l nos cafunds ignorados e remotos dos nossos sertes: Clementina de Jesus, no Rio de Janeiro, teve destino semelhante ao seu. Tambm temos outros casos nos quais o reconhecimento veio muitos anos aps as suas mortes. Exemplos: Kilkerry, Sousndrade, Mestre Piranguinha, Qorpo Santo e vrios outros. A cultura brasileira no a nica na qual ocorreram ou ocorrem to inexplicveis ignorncias e obscurecimentos, desconhecimentos, ingratides ou trgicas distores em nosso sistema de legitimao de legados ou obras de valor cultural. Na Rssia sovitica e ps sovitica, ignorou-se ou escondeu-se a transgressora obra cinematogrfica do diretor Sergei Paradjanov. Na Alemanha, Hans Henry Jahnn (1894 1959), msico, construtor famoso de rgos, grande narrador e dramaturgo de linguagem poderosamente barroca (segundo observao feita por Anatol Rosenfeld em sua Histria da Literatura e Teatro Alemes), anarquista e anti-militarista, cronista das torturas impostas aos seres flagelados por impulsos demonacos, outro exemplo literrio de injusta condenao ao anonimato, alvo de obscuras rejeies. No Brasil, temos muitos exemplos de escritores esquecidos em caixas ou cantos de estantes ou nos pores de Academias ou no citados em monografias e teses sobre a histria da Literatura Brasileira. Joo do Rio, Adolfo Caminha (agora reeditado pela curiosidade atiada pelos movimentos gays), o excntrico e surpreendente Joo de Minas e muitos poetas, contistas e cronistas do chamado circuito alternativo permanecem esquecidos pela crtica literria dos grandes centros urbanos brasileiros. S alguns exemplos: Leila Miccollis, Almandrade, Uilcon Pereira, Sebastio Nunes, Mrcio Almeida, Hugo Pontes, Zanoto, Cludio Feldman, Djanira Pio, Teresinha Peron Bueno, Jomard Muniz Brito de Recife e muitos mais. Glauco Matoso do Jornal Dobrabil teceria uma lista ainda mais numerosa. Z Cco do Riacho morreu sonhando com a fortuna de ser dono de uma fazenda. Deixou na casa de sua filha, moradora em Montes Claros, uma caixa com mil CDs no vendidos. Poucos dias aps a sua morte, antes que sobre a sua obra fosse estendido o longo lenol do esquecimento, a TV Cultura de So Paulo reapresentou a sua participao num grande encontro de violeiros ocorrido no ano passado no SESC Pompia (rua Cllia) e a altaneira e saudvel Inezita Barroso prestou-lhe outra merecida homenagem Daqui para frente, Z Cco passa a ser pea obrigatria nos acervos dos musiclogos e pesquisadores da frtil cultura musical brasileira. E, no mais, mais um dentre os pouco lembrados e esquecidos. Numa cultura na qual irmo desconhece irmo nada do que exponho rara barbaridade. Uma pliade de msicos brasileiros (como Nan Vasconcelos, Egberto Gismonti, Tom Z, Itamar Assumpo, Jorge Mautner e Nego Nelson) continua fazendo mais sucesso no exterior do que aqui, onde se formaram. De Cuba conhecemos ou ouvimos falar muito mais do ditador Fidel Castro do que do erudito ensasta Jos Lzama Lima... e assim por diante... d tudo na mesma... a vida mesmo assim, algum tem que perder para outro entrar no jogo....So inmeros os Zs Ccos pelos ocos sertes de nosso mundo!....  Sons de tambores excitavam anes num cortejo de Folia de Reis Ao ouvir o coro do squito da Folia de Reis, sentiu irreprimveis mpetos de choro lacrimejante e compulsivo. Tudo pura adrenalina, mas eu prefiro gua de cheiro sem anilina. Praticante da escritura espontnea, adverte-me Olavo de Carvalho, corro o risco de perder o melhor de minha verve, como ocorreu com sua amiga Hilda Hilst. Ferrugem a cor do passado. As rugas so as eternas marcas do efmero. Naquela cidade o passado era to presente que at era confundido com o futuro. O enfermeiro, com cara de nojo, veio ver se o soro do meu cachorro est acabando. Saiu com cara de dentuo que comeu jil. Ornella Vanucci indagou-me uma vez: ser que a pipa tem vida prpria ou s o vento o seu alento? Tomar, uma vez por semana, dois pratos quentes de sopa de fub com mostardas rasgadas e ovos estrelados revigorante. A testa proeminente de uma plida e simiesca mulher alta e magra, que acompanhando a procisso de Nossa Senhora das Dores passou por minha janela, me impressionou tanto que no admito a possibilidade de esquec-la. Nem quando estiver passeando com Lautreamont por Montevidu. Gostaria imensamente de visitar alguma biblioteca de Vilna, capital da Litunia, terra de florestas (famosas pela outrora fartura de glandes de carvalhos) nas quais viveram os mais puros e derradeiros rebanhos de bises, bisonhos diplomatas devorados pelo permanentemente ameaador urso russo. A gua salgada do mar continua fria sob o mais inclemente bafo solar, e, numa praia do extremo leste sueco, um velho pescador arrasta, encurvado, um longo e gordo bacalhau. Foi isso que impressionou Ernest Hemingway? Acho que Hemingway nunca tomou Emulso Scott, nem leo de bacalhau, mas, certamente, usava Hipogloss contra queimaduras aps banhos de sol em praias cubanas e africanas. Puig Gross, autor de Nem Luz nem Trevas um clssico estudo e reflexo dialtica sobre a Idade Mdia, foi o reitor da Universidade de Buenos Aires durante o curto governo de Hector Cmpora. isto mesmo? Pois , o Eugnio era to formosamente inocente que, aos 18 anos, ainda dormia emborcado no bercinho no qual o embalaram em sua infncia. Dormia ao lado da cama dos seus pais. No era porque sentia medo dos sinistros soldados nazistas em suas elpticas evolues motociclsticas em pavorosos globos da morte fabricados na Nrenberg nazista. Eugnio era to formoso e ruralmente forte que seus filhos hoje so robustos troncos de jequitibs do Crrego dos Almeidas. Na varanda da cozinha da fazenda do Jlio e da tia Anita (pais do Eugnio) eu avistava dois morros afundados num eterno brejo. Estes dois montes estavam cobertos por um infindo bananal. Cenrio que me remetia aos de Gabriel Garcia Marques, em seu livro Cem anos de solido, romance que acabara de ler numa viagem a Piranga, Calambau e Catas Altas da Noruega (1971). Por onde andei vi tesouros da juventude em escuros pores de velhas casas, nas quais saboreei inesquecveis broas de fub com erva doce. Os alfarricoques ribeiropretanos que me perdoem: para uma cidade to pujante quanto a capital do nordeste paulista a prolongada hegemonia de vossas mediocridades pesar muito em breve nas cacundas burguesas destes ribeirinhos que tomam Toddy com sucrilhos e andam com bermudas de brim cqui que nem escoteiros escrotos ou como membros da juventude nazista e a exibirem meias de coloridos berrantes sob sandlias franciscanas. Os cheiros de tinta fresca me lembram meus brinquedos de madeira recm pintados e que, igualmente, me sugerem fantasias com ntidas aluses s nossas freudianas fases anais (principalmente a cor marrom, que tanto inspira os cacfagos!). A mania de limpeza das senhoras , para mim, uma clara expresso de nsia de pureza, porque culposamente se vem arrastando na cotidiana sujeira sexual dos seus leitos conjugais. Como vem sujeira em suas sexualidades, gastam quotas absurdas de gua potvel para lavarem suas casas e caladas, enquanto este precioso lquido comea a escacear nos maiores conglomerados urbanos brasileiros em 1999. Chuvas cidas e torrenciais desabam com freqncia sobre os cemitrios de automveis das pesadas barras das periferias metropolitanas asiticas, africanas e latino-americanas no fim do sculo XX. s vsperas da anual revoluo anal-carnavalesca de Orfeus, Eurdices, Medusas e ninfas cariocas. O filme do tempo , mais rapidamente, corrompidos pelo tempo tropical. Saturno impera nos novos, efmeros e proliferantes tempos labirnticos e financeiros da Contemporaneidade. As cinzas dos pavios douram as pginas amareladas de um livro de 1756 que tem os seguintes dizeres em sua pgina de rosto: Tratado Ceremonial da Missa Rezada Conforme as Rubricas do Missal Romano reformado. Offerecido Serfica, e Mystica Doutora S. Theresa de Jesus, pelo Padre Manoel Correa de Azambuja, Cura da Freguezia de N. S. da Graa da Torre de Val de todos. Lisboa, Na Officina junto a S. Bento de Xabregas Anno 1756 com todas as licenas necessrias. Vida nova, um desejo muito americano, garante o crtico Robert Hughes. Meu quarto e sua janela so a minha sacada, da qual contemplo o que mais prximo est do meu pessoal antro. Quem no tem as suas perdies? Ou estou rotundamente enganado? Ou depravado? Ou angelicalmente casto e em busca da transparente inocncia paradisaca da minha infncia? Ou algum a fim de exorcizar a maldio, o pecado e a morte s quais fomos condenados? Para mim, todas as cidades deveriam contar com um obelisco continuamente atualizvel por camadas sucessivas de pastas temticas de hemerotecas recentemente organizadas. Os monumentos morrem quando negligenciados. (Robert Hughes). Italianos adoram camisetas listradas. Tirei esta discutvel concluso vendo um lbum de fotos de imigrantes italianos estabelecidos entre 1875 e 1910 no nordeste paulista. Admiro muito os Quakers da Amrica do Norte Anglo-Saxnica . Parece que tal admirao comeou na minha infncia quando passei a saborear mingaus de aveia Quaker e tal admirao seria reforada no incio dos anos 70 do sculo XX quando li um ensaio sobre o liberalismo sexual e comportamental dos quakers numa revista da Editora Paz e Terra do Rio de Janeiro. Os cus do entardecer so to tristes!.. A suntuosa arquitetura pblica do Capitollium de Washington D. C. reatualiza a floresta de pernas das telas setecentistas em suas caneluras, colunas e canelosas arestas e fachadas imponentes e monumentais, metforas arquitetnicas sobre um grande Imprio e seu espetacular apogeu reatualizador da Pax Romana americanizada. Tudo em nome dos restos adulterados da nossa milenar civilizao ocidental crist. Caezare Palace Hotel.. foi num hotel que assassinaram o senador Robert Kennedy.. e no hall do Senado Romano apunhalaram Caio Jlio Csar. As lambadas das serpentes so to inesperadas quanto as traies fatais dos cus. Mas nenhum espetculo ser mais majesttico como um relmpago em cu noturno. Inesquecvel como a msica caipira Lembranas de Z Fortuna!... Funerria Descanse em paz cuida disso tudo, pode deixar com eles!.. At lavam se for o caso. Minha cadelinha correu amedrontada para debaixo da cama. Estou procurando uma roupa excitante. Do seu tamanho estamos em falta. Uma luz no fim do tnel mais um clich, caboclada!.. Os parentes tm vergonha quando morre algum dentre os seus. No vejo sentido em ver os coveiros como um horror, Sugar Baby!.. Assistam logo que puderem ao filme Estao Doura (alemo). Neste filme a atriz principal a mesma atriz gorda e tambm a personagem mais destacada no filme Bagd Caf. Lindo pouco, maravilhoso este filme, gente!.. Prxima estao: a felicidade fora dos trilhos. Viajarei brevemente para Montevidu em busca do poeta neo-barroco Conde de Lautramont, nascido na capital uruguaia e que no incio da sua juventude migrou para Paris onde viveu seus ltimos anos. Este poeta morreu h cem anos. Quero procurar em sebos e velhas livrarias de Montevidu algumas obras deste poeta que tanto admiro e pouco conheo!.. Para a minha cachorra Saragoza tudo comestvel, tudo bebvel, qualquer hora hora de dormir ou de brincar ou de morder ou de sonhar ou de correr ou desbravar o quintal, arrancar plantas, destruir jornais e esconder sapatos e sandlias. Ela ainda est no paraso. Por isso ela irrita e subverte o mundo dos adultos. Ela uma revolucionria sapeca, uma infanta sem causa e uma novia rebelde e inconformada com os arreios nos quais a metemos. Coitada! Ela comeou a perder irremediavelmente o seu den!.. Agora mesmo, enquanto eu usava o vaso sanitrio eu pensava: como que pode, no ? Atrs da parede na qual flui os nossos dejectos fisiolgicos est o meu computador!... E por falar nisto, a Parecidinha Pereira da Silva cagou atrs da bananeira! Que primitivismo adolescente de porta de banheiro pblico, meu Deus! Que vergonha, gente!..  Textos Mineiros 1 Saudades da Loo Glostora. Na noite de lua cheia da Quinta-feira santa, indo para o sudoeste de Minas Gerais, passei de nibus em frente ao Royal Park Motel de Passos MG. Um pouco depois de passarmos por esta casa de prazeres efmeros e eternos ou desprazeres duradouros, uma moa disse para um rapaz muito intrpido e ousado: O mal no o que entra mas, sim, o que sai da boca do homem. A tive vontade de perguntar: e o que entra e sai, entra e sai? mal ou bem? Mas, como ia dizendo, alm de no privadas, as conversas que rolavam eram plenamente audveis e descontradas. To descontrados vinham os passageiros mais jovens que uma moa de Capitlio, aparentando ser de boa famlia, apagava as luzinhas que focavam sua poltrona usando os ps em vez das mos. Atitude inconcebvel em uma moa direita de cem anos atrs, nos tempos que as moas que andavam a cavalo, para no abrirem as pernas, cavalgavam numa cadeirinha aveludada com as duas pernas voltadas para um lado s. Mais ou menos como esse meter os ps pelas mos ou funciona (?) o sistema de licitaes nos servios pblicos: vence a concorrncia a empresa que oferecer os preos mais baixos e, quase sempre, o barato sai caro. E quem paga esse barato que acaba saindo caro o povo. Assim os gestores dos estatutos e cdigos do servio pblico premiam a falta de qualidade ou o atraso tecnolgico nos produtos e nos servios licitados. Mas algo ainda mais srio ocorre nas Minas Gerais: o novo governador manda projeto para a Assemblia Legislativa no qual o governo mineiro anistia e premia com aposentadorias precoces (pagas pelo povo mineiro) os policiais e oficiais da Polcia Militar de Minas Gerais que, rebelados em meados de 1997, transformaram Belo Horizonte numa praa de guerra. Assim, o atual governo estadual mineiro comete mais um ato desastrado: o de beneficiar policiais insurgentes contra o governo anterior, abrindo brechas ou abrindo precedentes favorveis a novas desordens e indisciplinas de policiais que desconhecem a hierarquia e a histria de mais de duzentos anos da corporao policial militar mineira. Em nome da segurana pblica, desde o governo de Eduardo Azeredo, policiais mineiros, em vsperas de feriados prolongados, param os nibus que trazem aqueles que vem de outros estados para passarem a Semana Santa com os seus parentes ou amigos ou para conhecerem o tradicionalismo religioso mineiro e, aleatoriamente, escolhem cinco ou seis passageiros em cada nibus com quase ou mais de 50 passageiros (no nibus que eu vinha, um pedreiro e pai de famlia com dois filhos com menos de seis anos, que mora na periferia de So Sebastio do Paraso e trabalha na regio de Ribeiro Preto j foi vistoriado por mais de oito vezes consecutivas) e os submete a um ritual de busca ou a uma vistoria geral em pblico, sob os olhares apreensivos e constrangedores ou constrangidos dos demais passageiros, numa situao no mnimo vexaminosa. Alm disso, como ficam os direitos constitucionais de ir e vir de um cidado adoentado que transporta alimentos e medicamentos perecveis e que tem alterados os horrios de suas medicaes comprometendo at o desfecho dos seus tratamentos? Aquele que resistir a este tipo de inspeo ou abordagem policial pode ser preso, prev a legislao vigente. No meu ponto de vista, todos deveriam ser vistoriados e todas as bagagens deveriam ser vistoriadas. Mas, o nibus s saiu da Rodoviria de Ribeiro Preto aps mais de meia hora de embarque de todos os passageiros que levavam bagagens preparadas nos dois dias que antecederam quela viagem...o que, calculo eu, para serem vistoriadas todas as bagagens e passageiros, os cinco policiais demorariam no mnimo dez ou nove horas, o que constituiria um abuso ou um desrespeito frontal liberdade da maioria que no viciada em drogas nem comete ostensivas transgresses ao atual sistema legal. Isto configuraria toda blitz policial como um ato ilegal ou um ato sujeito incorrncias discriminatrias, ou as tornariam impraticveis e ilegais. Pareceu-me que tais intervenes tm efeito muito mais teatral do que de segurana pblica, como se viessem mostrar servios, enquanto a violncia s aumenta, alguns policiais entram no nibus, intimidando a maioria dos passageiros, pois a maioria dos brasileiros se sente insegura inclusive diante do aparato policial e judicirio que penosamente ajuda a manter e que nada faz para minorar a insegurana pblica. O que no entendo porque alguns desses policiais, durante essas batidas, ficam fora do nibus conversando descontraidamente e rindo, enquanto olham e se divertem sadicamente com o medo imposto queles passageiros indefesos e at apavorados. Diante dos policiais, ningum sabe como reivindicar, para cada um, o respeito que todos ns cidados brasileiros merecemos. O respeito que todo policial militar nos deve. Nossas polcias nos amedrontam quando nos deveriam proporcionar segurana e nossas leis continuam por ns desconhecidas e nosso sistema judicirio cada vez mais lento e injusto ou, em muitos casos, nos proporcionando uma justia de qualidade jurdica questionvel. Aumentam os casos de juizes presos por crimes assombrantes e apavorantes. Nossa justia tambm tem sido acusada de ser vulnervel aos interesses dos segmentos mais poderosos deste pas. Vulnerveis queles que solapam as bases materiais e morais sobre as quais construiramos um presente menos indecente e um futuro mais culto, civilizado ou menos barbrico. Embora no deseje a paralisao das votaes do Congresso Nacional, que deve continuar votando e apreciando propostas de reformas fiscais, tributrias e polticas, e ainda saiba sobre as motivaes demaggicas dos que esto propondo as comisses parlamentares de inqurito sobre desmandos e irregularidades nos sistemas judicirio e financeiro ou bancrio, sou a favor de uma jacobina devassa pblica dos bastidores e demais mbitos dos sistemas e dos poderes judicirio e bancrio nacionais e internacionais. Em todos os nveis: no plano municipal, estadual e federal. Assim como nos demais poderes da Repblica: Legislativo e Executivo. Com apenas um adendo: sem prejuzo das atividades legislativas mais prioritrias e emergentes, como, no caso, as reformas acima exemplificadas. O absurdo est muito presente nas decises judicirias. Franz Kafka, um dos escritores que melhor expressaram a perplexa e estonteante vertigem autoritria da humanidade no sculo XX, no escolheu a toa a prepotncia que flui nos processos da justia que se desfaz nesse mundo de miserveis poderosos. A justia cega, por isso tenho medo da justia imperfeita que apenas afirma interesses humanos parciais e muitas vezes escusos. Desumanos e interconflitantes. Olavo de Carvalho indaga: como pode um mesmo artigo do cdigo penal exigir o fim de todas as atitudes discriminatrias contra posturas comportamentais e sexuais, religies e etnias se os muulmanos, judeus e evanglicos, em suas doutrinas religiosas, no tm como aceitar os procedimentos prazerosos dos homossexuais, dos pedlatras, dos pedoflicos, sado-masoquistas, necroflicos e coprfagos e exibicionistas e nudistas? Temo, a um s tempo, a justia e a cegueira, a demagogia e o populismo. De esquerda ou de direita. Porque ambos so nojentamente oportunistas. Se o cego tem de lutar para dar uma forma ao mundo, a justia busca ou tenta se justificar monumentalizando-se em palcios e envergando pomposas togas seiscentistas e retricas cada vez mais pobres e medocres, avessas poesia ontolgica do mundo em curso. Nem tudo verdade, pois a realidade sempre escapa e escorrega quando a tentamos apreender pela informao, pela intelectual e filosfica abordagem de seres e coisas que em ns e em torno de ns orbitam e no desmentem o que disse Blaise Pascal: a verdade infinita. Talvez, por isso, o cineasta holands Johann van der Keuken diz que at uma pessoa altamente visual cega. Como cineasta, luto para produzir uma imagem que possa conter alguma verdade, ainda que por alguns segundos. Quando voc olha para os rostos das pessoas, o que v um grande mistrio. Assim, por esse motivo misterioso pelo qual as verdades se esvaem e se evaporam inexplicavelmente em brancos e timos imperceptveis, Keuken nos garante que a nica e possvel verdade em seus documentrios a sua presena por trs da cmera. Isto se ele de fato estiver lcido e de fato presente no manuseio ou no deslocamento desta mquina de tempos e imagens. Ningum capaz de explicar tudo no mundo, principalmente quando construmos explicaes antes do entendimento. Prticas retricas comuns aos legisladores, idelogos e jurisconsultos. 2 Sobre tudo e sobre nada, Aninha costura a vida e a morte. Nos filmes de Johann van der Keuken nada explicado ou contextualizado porque no incessante labirinto dispersivo da fragmentria mente humana tudo aparentemente desconexo, amplivel e infinito. Assim como o nmero de nichos de ethos, estticas, cones e plsticas vises caleidoscpicas, flexibilidades elsticas e caticas como a dos fractais concntricos e no-concntricos, descontnuos ou segmentados irregularmente. Nesses filmes tambm no se urdem juzos de valor. Isto perturba os que consomem seus documentrios. Catalisadoras de perplexidades e nada reveladoras nem denunciadoras, as pelculas de Keuken registram o vcuo ideolgico que a tudo envolve, o silncio ou o burburinho significativo de um mundo sem rumos, mltiplo, desconexo, complexo, intrincado e perplexante, que nos coloca ou nos faz atnitos diante do visvel e do invisvel que a tudo permeia, a instaurar dvidas e mistrios. Explicaes fora de hora ou que antecedam ao entendimento, matam o frescor instantneo e voltil da emoo que as imagens, palavras e cheiros, sons e idias nos sugerem. Mesmo aparentemente desconexo e fragmentrio, o documentrio de Keuken no deixa de ser um estilo de narrativa, por que no? Tudo descontrolvel, inclusive nossos olhares e nossas mentes. Ainda bem. Imagine a humanidade controlada por cabrestos e arreios mentais, ideolgicos e comportamentais. E se, de repente, e sem mais nem menos, entre quatro paredes, tudo pode acontecer, voc me tomaria como um louco desparafusado? E se, em seguida, novamente no estabeleo qualquer nexo entre o que dizia acima e simplesmente lhes digo, sem verticalismos nem horizontalismos seqenciais, que concordo com o historiador James Billington quando ele classifica o politicamente correto como uma obsesso fixa e unilateral de sub-culturas intelectuais cultoras de preconceitos ideolgicos, metodolgicos e conceituais, h 20 ou 30 anos superadas mas que at hoje no se deram conta da sua esclerose fossilizante? Mas, ao mesmo tempo, a crena mtica em revolues transformadoras do mundo virou uma religio que agoniza entre ressentidas e magoadas utopias fantasmagricas fracassadas. Para James Billington, a revoluo por mtodos violentos; sonho de idelogos passionalmente racionalistas e, desde as revolues europias dos sculos XVII e XVIII, cultivadas prometeicamente; no mais levada a srio no mundo de hoje. Tanto o conceito de revoluo social quanto o de revoluo nacional foram desacreditados, assevera Billington. Mesmo assim alguns setores intelectuais influentes nas universidades brasileiras no fim do sculo XX e amplos segmentos dos formadores de opinio nas mdias e nas religies continuam norteados por mitos e imaginrios revolucionrios alardeados com sucesso at trinta anos atrs. Porque ser que tais mentes (que se auto-avaliam como privilegiadas) sejam assim to renitentes quanto a lavadeira que, afogando-se e morrendo, ainda esfregava os dedos como se esmagasse pulga, s para chamar a sua inimiga, que a atirara no rio no qual se afogava, de pulguenta? Ou piolhenta? Piolhenta!.. Piolhenta!.. 3 Emoes ao ouvir msicas cantadas por Louis Armstrong Abandonei o tero da rede indgena e deitei no cho ladrilhado com falsas pginas de grantico existir. Arrepios de emoo universal. Ah! Sei l!.. Pode ser... mas os nacionalismos balcnicos de eslavos em confronto blico com cristos, latinos, muulmanos e, certamente, judeus, me sugerem a hiptese pela qual a humanidade ps-moderna contempornea esteja atada e ainda envolvida com mentalidades, sensibilidades, legados mticos e imaginrios milenares e, no fio da navalha, oscila entre a impersistncia e as longas duraes, o efmero volvel e voltil versus as tradies. E eu me coloco, como se colocou Ezra Pound, a favor da paixo potica, mas no a favor de uma paixo fascista ou bolchevique ou ideolgica, mas, sim, por uma paixo no-racionalista, questionadora dos vigentes estatutos do humano e que ame viver danando, trabalhando, comendo, fazendo sexo virtual e/ou real, lendo, vendo um filme interessante, viajando num avio boeing, falando ao telefone via satlite ou navegando na internet com pessoas com as quais se afine e que questione o esprito coletivista-utpico e busque novas quebradas no labirinto da existncia, nichos aconchegantes que nos livre momentaneamente do fluxo de vai-vens auto-destrutivos e inter-destrutivos... ou nada disto, que seja tudo diferente do que vem acontecendo. O auto-conhecimento atravs de uma masturbao na frente de uma alongada elipse espelhada. E terminarei girando como as hlices de um ventilador italiano Rinnai, da mltipla fragmentao acelerada e inexplicvel at a plenitude da unidade eucarstica no-barbrica. A revalorizao de barroquismos, neo-barroquismos e expressionismos. De 4 hlices me farei um disco pleno em movimento giratrio como o sol, senhor de seus filhos e planetas. Sou tarado por iniciaes sexuais e, para mim, a vida uma contnua iniciao sexual. Os seres assexuados no gozaro os cus. Na noite de Sexta-feira santa, em pleno serto enluarado do sudoeste mineiro, acompanhei a multido desencontrada que se acumulou na procisso do Nosso Senhor Morto ou no fnebre prstito ou cortejo ou enterro do filho do Pai dos Cus. Abril de 1999. Esta multido, que oscilava entre a ostentao de dignidade religiosa, ou de efmera credibilidade ou confiabilidade interpessoal, a militncia poltica esquerdista e esclerosada do tal clero progressista e uma diminuta resistncia das tradicionais e at simpticas beatas feiticeiras (que ainda medem o corpo do Senhor Morto com barbantes e linhas coloridas), este desencontrado prstito passa na frente das funerrias Sagrado Corao e Santa Rita. Escrever e ouvir msica do padre Jos Maurcio Nunes Garcia um desperdcio proporcionado pela mania de querer escrever tudo aquilo que se passa no meu sombrio e exultante, pessimista e otimista, intimista e escandaloso, preconceituoso e ousado, crebro masculino dotado de alma masculina livre de esteretipos sexistas. Politicamente correto e incorreto. Vou parar e ouvir uma fnebre missa do padre Jos Maurcio Nunes Garcia. O grande tema de todas as religies tem sido as eleies e as dinmicas unitrias ou fragmentrias, o poder e o no-poder; a mafiosidade atica e o puritanismo ingnuo ou devasso (como o de Tartufo, por exemplo) e desconhecedor da satnica e lautramontiana ou maldororiana alma humana, super-humana ou sub-humana. Uma cultura com imaginrio fnebre sofisticado e antigo revela muito da sua histria. O mais intrigante em tudo isso que quanto mais perto da morte (como ocorre com todos ns) mais intensamente vivemos. Comerei agora fatias ou nacos de queijo Minas fresco. Quer? O professor de Msica do padre Jos Maurcio Nunes Garcia nasceu e veio de Cachoeira do Campo (perto de Ouro Preto) para o Rio de Janeiro, onde muito contribuiu para a formao esttico-musical de um futuro mestre-de-capela real da corte de D. Joo VI no Rio de Janeiro (1808/1820). Tal corte ou a sua histria no bate com a verso caricata e pedante da carioca europocntrica Carla Camuratti. Mas tambm estava longe de ser como a dramtica, infausta e faustosa corte lisboeta de D. Joo V. Jos Saramago mais um mstico candidato a santo em meio ao tiroteio ideolgico deste final de sculo XX. Ser que viverei em dois distintos sculos? Ficarei ainda mais vaidoso de mim se tal possibilidade se realizar. O efetivo virou efmero e tudo insegurana e incerteza, da o meu vivo veio e vis conservador(?) ou aparentemente conservador? Por isso gosto do cinema de Sylvio Back, de Jlio Bressane, de Rogrio Sganzerla, de Glauber Rocha, Alex Vianny, Humberto Mauro e Nelson Pereira dos Santos... A religio do comunista Dyonlio Machado tinha ritual para cheirar rap de Moscou e cerimnia de lava-ps no Kremlim e no em Guaxup, onde se chupa p. Todos os subversivos foram conservadores defensores de ditaduras partidrias militarizadas, isso que .. Coca Colla pior que Crush... Quem bebe Grapete repete.. E quem bebe Crush repete e repete at se estourar de beber e no se satisfazer com a delcia incessante que beber e beber sem parar... Crush.. mais Crush... mais um Crush... 4 O enfastio de informaes nublou meus horizontes. Vivemos num mundo no qual as informaes sobre todos os itens e verbetes de enciclopdias, dicionrios, atlas e revistas valem tanto quanto nenhuma informao ou um nada informativo ou uma total e arrasante banalizao da informao. Estar ou no estar informado parece dar no mesmo. Avalanches de informaes nos massacram e nos desnorteiam. Parece que est em curso uma estratgia pela qual seria cada vez mais complexo e difcil se formar uma ntida viso de mundo ps-ideolgica, ou, at pelo contrrio, seria to fcil e cmodo insistir nas velhas vises ideolgicas de mundo, simplistas e postias, artificiais e foradas, que tenderemos a comprar momentneas e funcionais vises de mundo destitudas de paisagens e memrias, o que desembocaria no mesmo Ter ou no Ter uma contempornea viso de mundo, apenas uma a mais ou uma a menos na Babel cognitiva ou na Babel massificante de nossos horizontes cor de cobre... como no filme Querelle de Fassbinder... 5 Tristeza no fim do sculo. No me canso de ouvir o Trio em Mi Bemol KV498 composto em 1786 por Wolfgang Amadeus Mozart (1756/1791) para piano, clarinete e viola. Andante. Menuetto e Trio. Allegretto rondeaux. O cu o fundo imensurvel onde caminham cintilantes e peregrinas estrelas e planetas, satlites e avies. Estou com medo de uma nova guerra mundial se alastrar a partir da guerra entre etnias, naes, culturas, religies, cidades e micro-estados da ex-Iugoslvia (Kosovo, Macednia, Crocia, Srvia, Herzegovna, Eslovnia, Montenegro, Bsnia, etc..) e outros mesquinhos e fascistas interesses fermentados ao longo de dcadas de comunismo repressor e autoritrio. Derramei um pouquito de leo de eucalipto em vrios cantos da nossa casa mineira para espantar os maus espritos que nela possam Ter adentrado acompanhando uma insistente e saltitante perereca fria e repugnante. Cruzes beira das estradas no Domingo ensolarado de Pscoa de 1999. Sa perfumado do banho de banheira, durante o qual tomei vrias canecas de guaran diet. Sinto que essa nossa casa piumhiense est requerendo novas cores, novas pinturas, ampliaes e reformas. As faremos aos poucos, sem solavancos. Quando a minha cadelinha de 5 meses vai comigo ao supermercado ou aos correios, ela me transforma em sua carruagem e ela se transforma em vigoroso e ousado corcel que, aos pulos e saltos, vai me arrastando, apavorando alguns ou fazendo com que outros riam dessa cena engraada. Ouvir os Beatles com os meus 47 anos e alguns meses, em pleno 1999, me afigura como um exerccio de nostalgia masoquista. Desfiz-me das velhas roupas que colecionava em nosso guarda-roupa centenrio, estilo art-decot: elas sero mais teis nos corpos dos que delas necessitam. Entendo, tudo passa, at os nossos objetos pessoais, nossas roupas e nossos momentos... mas ser que nossas essncias so permanentes? 6 Cacos poticos pinados dos livros clssicos do romano Ovdio (pinagem feita por Jos Luiz Dutra de Toledo em textos traduzidos pelo grande poeta Jos Paulo Paes). Das janelas, em parte abertas, em parte cerradas, vinha luz semelhante que h dentro das matas. luz mortia do crepsculo, aps Febo sumir, ou de antes de a noite ir-se sem que seja dia. A esta luz que se ho de mostrar as jovens tmidas; nela o pudor medroso espera achar refgio... Tu, de to grande, lembras as antigas heronas e ocupas todo o leito ao nele te deitares... Colocou, por entre beijos de lnguas cobiosas, sua coxa lasciva debaixo da minha.. E me chamou seu dono e me disse umas coisas ternas com palavras vulgares para me excitar. Qual se tocados por cicuta glacial, meus membros em frouxido, abandonaram seu propsito; tronco inerte ali fiquei, um fantasma, um peso intil, sem nem mesmo saber se eu era corpo ou sombra... Mediante afagos, ela poderia despertar o carvalho, o rochedo, o diamante insensveis; despertar tudo quanto tem virilidade e vida: porm nem vida nem virilidade eu tinha... Foi se lavar para esconder a humilhao... Diz-lhe que estou vivo, mas no bem de sade: o prprio fato de eu estar vivo ddiva de um deus... Se a causa no boa, a defesa a piora... Quando eu era feliz, alentava-me o amor de um ttulo, movia-me o desejo de alcanar o renome; baste hoje eu no Ter dio poesia, que me foi fatdica: o exlio devo-o ao meu talento... difcil dizer se deves usar remo ou brisa... Mais que o mar hostil, a terra me d medo... Minha alma fez frente aos males e deu ao corpo fora de suportar o que era quase insuportvel!... O cavalo decrpito pasta nos campos.. Eu desejava Ter uma velhice plcida... Desde a infncia ilustrvamos a mente; fez-nos ir o ptrio zelo a Roma e aos seus mestres insignes. Com seu ardor de jovem, meu irmo tinha nascido para a eloqncia, as pugnas verbosas do foro. Mas a mim, criana ainda, atraiam os mistrios do cu e, s escondidas, a obra das Musas. ... Meu pai dizia: Porque tentas um estudo vo? O prprio Homero no deixou riqueza alguma. Tal fala me tocou; larguei o Helico de vez e tentei escrever palavras sem cadncia: por si mesma, vinha a cadncia certa do poema; saia em verso quanto eu buscasse dizer... Se extintos, tudo quanto de ns sobra s um nome.. No estudo conforto minha alma, iludo minhas dores... No nega o mundo terem os poetas so juzo e no sou eu a melhor prova desse dito? O gladiador ferido deixa as lutas, mas esquece pronto as velhas feridas e retoma as armas.... O nufrago que diz no quer mais saber de mar. Em pouco puxa remos na gua onde nadava. Assim tambm persigo, com constncia, um vo labor e volto s deusas que quisera nunca honrar.. A fora est na mente e no no corpo dbil.. E nega ao duro jugo o pescoo novio. A mim o fado acostumou-se a usar to cruelmente que h muito j no sou novato para os males... Magna a causa, amigos, a que no vos atrevestes... Aqui no cobrem os olmos os pmpanos da vide; fruto algum faz pender os galhos com seu peso... Disformes, os campos s produzem tristes absintos; Quanto amarga a terra, mostram-no seus frutos. Assim, por toda a margem esquerda do Ponto Euxino, no h nada que possa enviar-te o meu zelo. Mandei-te, porm, fechados num carcs, dardos cticos: possam eles fazer sangrar teus inimigos....  Tomo leite com acar queimado com o Czar Nicolau II e esfrego os meus ps nos dele Parece que, aps 500 anos da chegada de Pero Alvares Cabral Bahia, as nossas mdias continuam lamentando tal desembarque, como se estivessem a nos dizer que preferiria que o Brasil continuasse virgem e indgena como h cinco sculos, preferindo o isolamento deste nosso imenso territrio em relao s mltiplas redes mercantis que ento eram tecidas entre os cinco continentes deste planeta. Em vez de preferirem ir adiante, mltiplos setores sociais brasileiros, devidamente influenciados por estas mesmas mdias, querem andar para trs votando em Lula em Outubro. Pior que isto, apostam numa recada, trocando o que j conquistamos pelo delrio oportunista dos demagogos populistas que preferem o caos inflacionrio; apoiam os privilgios corporativistas das legies da classe mdia do funcionalismo pblico incompetente; optam pelo caos e pelo ataque agressivo contra os agentes da riqueza se investindo o papel messinico de salvador dos pobres e miserveis que, h sculos, vm sendo usados por todos que buscam o poder pelo poder, cegos diante da derrota histrica das suas utopias sucateadas pelo elitismo autoritrio dos ditadores comunistas de todo o mundo contemporneo (Fidel Castro, os secretrios gerais do PC sovitico encastelados no Kremlim, os mandatrios imperiais da Coria, do Norte, China e Indochina e os sultes anti Ocidentais do Oriente Mdio dos terroristas xiitas, Hesbollahs e Aiatols). Parece at que sina brasileira sempre foi a de dar 2 passos adiante e 20 para trs e depois comea a chorar, com a barriga cheia, denunciando as potncias capitalistas globalizadoras como se ns no tivssemos nenhuma forma de participao nas contnuas recadas ocorridas em nossa histria econmica de sucessivos retrocessos, ressentidos e imaturos. No sei quem foi que disse um dia destes que o esprito vira-lata se apossou de novo do Brasil. Nada tenho contra os vira-latas. Tenho um aqu em casa, ao qual amo mais do que a muitas pessoas h muito conhecidas pelo seu esprito predatrio e suicida. O Oriente est falido, super-populoso e super-explosivo. Fora do Oriente resta o Ocidente em frangalhos, aos cacos e em plena barbrie. Fora do Ocidente o vcuo de poder pode antecipar o Apocalpse nuclear. Tudo isto tem a ver com o desfecho do processo eleitoral brasileiro em 1998. Assim como na Copa do Mundo na Frana 1998, no mundo contemporneo nada ou ningum, a priori, favorito ou vencedor em potencial!... A barbrie desencadeada pelos torcedores ingleses em Marselha no dia 14 de junho me revelou a globalizao da violncia.... o globo da morte banalizada. O cenrio dourado dos patriarcas eslavos da Rssia Czarista: os ltimos cus e parasos aos quais muitos so chamados e poucos os escolhidos. Todos os parasos so apenas para diminutas elites (nem sempre elites scio-econmicas) e todos infernos nos envolvem desde o parto de luz at as nossas trevas sepulcrais. Meu Czar, adoro tomar leite quente com acar queimado!... Ah!.. vamos esfregar os dedes cascorentos de nossos ps de virs machos uns nos outros? A noite est to fria e chove l fora!.. E uma saudade imensa no vai embora!.. Vou descendo por todas as ruas... talvez eu volte.. Eu vou me embora sem medo daqu.. Gal Costa tem cara de quem gosta tambm de beber leite quente fervido em acar queimado.  Traduzir no trair, propiciar dilogos, reescrever o irremedivel abismo profundo a separar as lnguas e gentes do mundo, props Paul Celan Em plena inaugurao do novo esprito da unidade europia entre Eros e Tnatos, ouvimos um Requien Aeternam. O filho de um empresrio de Niteri que aluga carros das primeiras dcadas do sculo XX para cenas de novelas e seriados da TV Globo desconhece as factveis arqueo-genealogias proustianas das nossas sucessivas camadas geracionais de nostalgias. Aos que se refugiam nos nichos protetores e sacralizadores das Universidades: a Civilizao pode estar retornando sua condio original de um monte de fragmentos, cinzas e p. (?) Ocupados com a nossa prpria desapario, somos derrotados pelo irreversvel vcio da autodestruio. No sculo XIX, quando requisitadas sexualmente por seus maridos, e no querendo satisfaz-los, as mulheres alegavam alguma enfermidade. No fim do sculo XX, quando as sociedades temiam a propagao das preferncias homossexuais, a AIDS foi usada para a construo ideolgica da peste gay. Aps uma curta chuva de mangas, noventa e cinco por cento dos homossexuais continuavam vivos e a mais temida epidemia dos anos novecentos atingia e incapacitava fetos, bebs, adolescentes, senhoras casadas, mulheres solteiras ou divorciadas, homossexuais, viciados em drogas injetveis, hemoflicos, machos bissexuais e heterossexuais adultos e idosos. Artistas e intelectuais famosos e pessoas comuns. Hoje muitos homossexuais se vem como doentes pois, assim como as citadas mulheres do sculo XIX, na realidade s no encontram seus justos lugares. Parodio aqui um dos argumentos da escritora austraca Elfriede Jelinek Prmio Bchner 1998. Para esta solitria militante das causas femininas, a emancipao da mulher no foi mais que um movimento intelectual ou acadmico, to passageiro quanto uma ventania chamada de chuva de mangas no sudoeste mineiro. No repercutindo mais amplamente nas sociedades e culturas nas quais perduram milenares machismos. Jelinek se indigna tambm porque no consegue se impor com aquilo que diz. Tambm disse: Para escrever temos que desenvolver um outro Eu, um Eu que fale. Em suma, uma proteo contra a realidade. Escrevendo, nos desaparecemos e, em seguida, ressurgimos das cinzas, com nossos irrevelados e silenciosos perfs. Para Ernst Jnger, a verdadeira causa das nossas posturas e atos est na relao com que cada um mantenha com a morte. Em alguns atua como estmulo, em muitos como nojo. (12 de Agosto de 1988). Para o teuto-boliviano Eugen Gomringer, o abismo insupervel que profundamente separa as milhares de lnguas e dialetos dos povos humanos deste mundo poderia ser ultrapassado pela criao potica concretista, em sua aspirao de um sistema de comunicao que paire acima das barreiras lingusticas. Para os arautos dos nacionalismos e autoritarismos, elevar seus narcisismos categoria de fundamento de Estado, construir espelhos de autosatisfao e exterminar maciamente ou individualmente o no-ignorvel passou a ser a nica e arrogante sada: holocaustos e carnificinas. Isto ocorria ou ocorre quando no existem barqueiros tradutores que nos levem a conhecer e a dialogar com as nossas distintas cercanias e vizinhos ou brbaros distantes de nossos horizontes. Traduzir e propiciar dilogos entre pessoas e diferentes povos o ofcio do barqueiro escritor Joo Silvrio Trevisan, em sua discutida e eloqente novela Ana em Veneza (que em alguns aspectos me lembrou a temtica de Leila Perrone Moyss em seu livro 50 luas, sobre a viagem sem retorno de um ndio Carij de Santa Catarina, iniciada em 1502, levado Frana por um comerciante, do qual seria herdeiro). Barqueiros condutores das naves brias de nossas civilizaes em tormentosas guas. Como as que vi no fim do filme Aurora, de F. W. Murnau. Os muros e as muralhas e as portas de cavernas de tesouros ou de tumbas de todos os tempos ruram, ruem ou ruiro... levadas pelos ventos da leveza. Aquilo que os cegos no conseguem escrever nem tm coragem de ditar jamais poder ser escrito. Talvez ou mui certamente, o escritor venezuelano Arturo Uslar Pietri crvel quando diz: A Torre de Babel uma identidade. Meu grande problema saber quem sou eu, qual esta sociedade na qual vivo, no que temos acertado, em que temos nos equivocado e em esforar-me para que os outros entendam meu ponto de vista. (Aqui neste ponto Uslar Pietri me lembra Pasolini que disse: Morrer no desaparecer mas sim no ser mais compreendido.). ... H gente sensvel s cores, h gente sensvel aos sons e h gente sensvel s palavras... Depois de tudo, o fato fundamental que muitas vezes perdemos de vista que o universo que temos, tudo o que sabemos ou pretendemos saber, tudo que conhecemos ou pretendemos conhecer est em palavras. No podemos ir alm, nem um ponto alm ou aqum da palavra. Para o que no temos palavras, no temos nomes e no temos conhecimento. O Universo para ns um conjunto de smbolos de palavras. H um momento inconsciente, no qual uma pessoa que esteja descobrindo o mundo, descobre esse jogo misterioso no qual o mundo pode se fazer e se desfazer com palavras. Depois vem a necessidade de por as coisas por escrito. Por tudo isso e mais aquilo talvez tenha dito o escritor alemo Heirich Bll: As convices so grtis. (...) Estamos em busca de uma linguagem habitvel em um pas habitvel.. Por isso, na histria da humanidade, livros, lnguas, palavras, idias e imagens foram, so e sero interditadas por todos os sculos, Amm?  Um cachorro faminto bate minha porta Numa entrevista concedida ao jornalista Roberto Dvila o culto e erudito frei Leonardo Boff se equivocou citando o filsofo Blaise Pascal como um homem do sculo XVI, quando este mstico jansenista viveu no sculo XVII . Este descudo esquerdista com relao ao conhecimento historiogrfico um sinal inequvoco e preocupante de decadncia do humanismo e evidncia de que vale agora s a luta pelo poder. Um cachorro faminto bate minha porta e o olho desconsolado por saber que no posso acolher todos os cachorros desamparados neste mundo materialista em que vivemos e diante deste cachorro e de seu olhar pungente me desespero porque nada poderei fazer por ele e pelos demais seres vivos em risco de vida aqu e agora. A antropologia de Darcy Ribeiro constatou a no existncia de vacas abandonadas e a inexistncia de cabritos abandonados, mas no enxergou os milhes de cachorros abandonados em nossas ruas e bairros rurais...roas e sertes. A juventude com certeza uma tristeza. No tenho saudade da brancura Rinso, s lamento a dificuldade hodierna em se encontrar e comer fatias de goiabada casco. Que saudades eu tenho da dobradinha goiabada casco com queijo Minas fresco chamada nos bares sujinhos do bairro paulistano de Santo Amaro de Romeu e Julieta!!... Mas, quem podia prever que nos alagados arrozais do sul brasileiros fossem criar peixes? De tanto se envolverem com os cachorros internados numa clnica veterinria, os enfermeiros assumem feies fisionmicas caninas. Os hbitos fazem os monges!!... Eu estava propenso a votar em Marta Suplicy para governadora do estado de So Paulo mas...com a participao do seu esposo senador Eduardo Matarazzo na manifestao que reuniu aposentados e o direitista Arnaldo Faria de S e que tentou invadir o palcio do Planalto numa sugestiva simbologia putschista ...risquei o nome da deputada petista da minha lista de alternativas poltico eleitorais para 1998. A selvageria juvenil (seja de esquerda ou de direita) foi alvo das ltimas preocupaes terrenas de Pier Paolo Pasolini (morto por um adolescente italiano na praia de stia Roma no inicio de Novembro de 1975 . (...) Antes de os relgios existirem, todos tinham tempo. Hoje, todos tm relgios. Eno Theodoro Wanke ainda o melhor sal de fructa contra nossas indigestes cotidianas. (....) Msicas tocam na minha cabea. O baile est vazio. Eduardo Waack Mato SP. Em vez de criticarem o dedicado presidente da Repblica, dr. Fernando Henrique Cardoso, pelo fracasso nas votaes das reformas da Previdncia durante a presente convocao extraordinria da Cmara dos Deputados Federais, deveriam, com mais justia, acusar os deputados oposicionistas do PT, PC do B, PDT, PPS, PSB e alguns do PMDB e do PTB, deputados que fazem oposio sistemtica e, assim se portando, defendendo interesses corporativistas, fazem obstruo dos trabalhos legislativos, inviabilizando suas votaes por falta de quorum ou impedindo a ocorrncia de um nmero mnimo de sesses para a discusso e votao destas reformas constitucionais que reduziriam o custo Brasil e viabilizariam o oramento previdencirio nacional para os prximos meses e anos. Estes oposicionistas so os verdadeiros responsveis pela intil gastana federal com a convocao extraordinria do Congresso Nacional. Quanto as denncias do ditador anti capitalista Fidel Castro sobre a penria cubana ocasionada pelo bloqueio comercial imposto h quase quatro dcadas pelos Estados Unidos ao governo comunista que expropriou vrias empresas estadunidenses que operavam na ilha caribenha at a ditadura corrupta de Fulgncio Baptista, me chamam a ateno pelas contradies que encerram em s mesmas: se o regime cubano contra o capitalismo porque depender de relaes comerciais com o pas capitalista mais poderoso no mundo contemporneo??... Em pelo menos um ponto Fidel Castro e o Papa Joo Paulo II esto de acordo: ambos condenaram aos infernos terrenos os homossexuais. Pelo menos por isto ambos podem fumar cigarros da marca Free...um ponto em comum entre o catolicismo medieval do papa e o puritanismo ps sovitico de Fidel Castro...  Um cavalo amarrado s margens de uma avenida olha o matagal ressecado e queimado e montes de lixo e no v gua para beber (....) Se todo animal inspira ternura, o que aconteceu com os seres humanos? Joo Guimares Rosa. Eva viu a sava e no tem sade. O serto o oeste, o interior do continente. O serto terra de gente que come feijo rosinha. O serto tem paisagens profundamente horizontais e tristes. Eu no agento mais redigir textos que nem sairo em jornais. A poeira vermelha das estradas cobre de p de cobre os seres vivos e os inertes das paisagens estreis e desmemoriadas. A cauda de bronze do inseto lava-bunda no pesada e as paredes descascadas escondem camadas ignotas de tempos e sombras de antanho. Lancaster segue sendo para mim um perfume agressivo. O serto me lembra Marlboro, Pepsi-Cola, Blow-Up de Antonioni, Paris-Texas de Wim Wenders, cheiro de couro, anos 60, vastides solitrias e aparentemente silenciosas e abandonadas. Esculturas de temas arquetpicos orientais de G.T. O (Geraldo Teles de Oliveira) no se chocam com touros revestidos com malha de ao protetora de arsenais tecnolgicos sofisticados a imitarem vsceras bovinas. Os mais distantes confins do mundo, em termos de tempo e de espao, so os cenrios dos mais remotos dilogos entre a antropologia, a psicanlise e a lingistica, dilogos que suplantaram as conhecidas perspectivas evolucionistas. Tranas indgenas geometrizadas, cabaas de gua do Uakiti e fitas de couro multicoloridas em funerais indgenas..... l quando tinha 13 anos vrios contos sobre investidas de brancos contra aldeias indgenas norte-americanas na inesquecvel revista Selees do Readers Digest. .... Como o tempo voa!... Locomotivas e vages de passageiros j plenamente enferrujados na abandonada ferrovia Madeira Mamor viraram fantasmagricas estufas para plantas amaznicas ou alpendres sertanejos para curtir o por do sol. Bananais sul americanos verdejam nas escarpas mineiras da serra da Mantiqueira. Um universo civilizado por trgicas e patticas interrupes perplexantes ou boquiabertas, lacunas e reticncias ... H tanto tempo passei por Paranapiacaba que j nem me lembro mais daquela vila de ferrovirios com arquitetura inglesa. Hilde Weber, na Onirarte da dcada de 40, So Paulo SP, comps com 16 azulejos o mais belo mapa ilustrado do Brasil. As montanhas redondas da azulejada capela de So Francisco Pampulha Belo Horizonte MG me trazem lembranas de amores frustrados e desnorteios existenciais incontrolveis. Saudades de Roberto Burle Marx... lembranas de Djanira... O som do mundo eu s ouo com as conchas das minhas mos abobadando as sadas dos labirintos cavernosos dos meus ouvidos. E me pasmo com o som do mundo, Raimundo!.. O serto um mar de terras secas, de promessas e de espinhos, rosas e cips e robustas Anas anti Bergmanianas apreciadoras de ovos fritos de patas. Anas coradas e sonolentas se espalham em colches de palhas. Secas e sussurrantes. Ai que saudade, meu Deus!.. Nada ausncia de tempo e de espao. Tudo presena de vida e de morte. Sinto dores na coluna jnica de meu ser, sinto um n no corao e uma vontade triste de chorar at esvaziar as minhas bolsas de lgrimas, meu Senhor Bom Jesus de Bouas!.. O calor me desnorteia e me desanima. No h o que possa ser feito para dirimir o meu desespero. Um desespero de Vernica Voss, de Fassbinder, de Ana e os lobos de Carlo Saura, de Ana de Gritos e sussurros de I. Bergman... Ai que dor, ai que dor, ai que dor!... Uma quase certeza de que quase tudo soa em vo. Sei l, no sei, sei l no sei no... a vida muito mais do que os nossos olhos conseguem perceber, cantava Clementina de Jesus... Uma sauna ou uma nebulizao me fariam bem. E como fariam!.. A vegetao em torno da estrada de cho est amarelada de poeira. Caminhamos para uma belle epocque e nela teremos uma nova art nouveaux .. um novo Paul Klee, um novo Kandinsky e tudo se repetir por mais que cem anos de solido. Admiro uma amarela elipse ovalada de urina espumante no fundo do vaso sanitrio. O mito do tesouro perdido mais um fragmento do grande mito do paraso perdido. Folhas de comigo ningum pode e outros feitios e fetiches. Os que no vivem sem ar so como os peixes que no vivem fora da gua. Nossa gua o nosso ar. Em outras imagens o que nos mostra Antonio Maron Jnior com estas impressionantes palavras: Um bando de pombos pblicos atravessa o firmamento, ruidosos imitadores de peixes gordos alados. Cf. in: Ficar aqui sem ser ouvido por ningum edies Planet cpias e imagem 1998. O passarinho trina carinho vibrando de pleno gozo de viver um fim de tarde quente e desconsolador. Quase desolador. Um asceta sobre suas finas e ressequidas canelas avermelhadas e vivas. E arremata Antonio Maron Jnior: Ou seria mais honesto e divertido afogar se na verdade dbia? Todos enganam todos. As maiores verdades so inventadas. Procurando livrar-se dos papis da inteligncia, nesta fronteira entre o homem e a palavra, o barman cr que h de achar a narrativa capaz de libert lo do mal estar existencial, da sede de conhecimento e do espetculo da morte. (Cf. in: op. cit., pg. 21). Coluna Eu bem te v na rua apresentada semanalmente por Jos Luiz Dutra de Toledo no jornal Bonfim Notcias de Ribeiro Preto-SP. Receb com muito prazer e interesse de l-lo o terceiro volume da coleo Teatro Brasileiro editada em Belo Horizonte pela Hamdan Editora, com o patrocnio de vrias empresas capitalistas que no apostam mais na ignorncia como fator favorvel aos seus lucros, conforme ainda proclamam os nefastos arautos do autoritarismo socialista. Neste terceiro livro da srie temos as seguintes peas teatrais: O Homem Imortal de Luiz Alberto de Abreu, O mdico campons ou A Princesa Engasgada de Mrcia Frederico, Vida Privada de Mara Carvalho e Aniversrio de casamento de Srgio Abritta. Maiores informaes na Hamdan Editora- rua Leopoldina, 312/02 Santo Antonio Belo Horizonte- MG 30330230. Prenncio de chuva ou dias magros que gritam cai cai tanajura. Antonio Mariano de Lima Joo Pessoa Paraba. Uma soluo a velhice arguta? O barman acredita que no possvel confiar no conhecimento, nem nos homens. Tudo absurdo, porm de uma absurda luminosidade. (Antonio Maron Jnior poeta bahiano radicado em Londres). *************** Histria Universal: nunca soubemos amar em pleno vo como as andorinhas/ nem no auge do prazer pairar e se absorver no antdoto dos instantes/ ento escolhemos em vez do coito (viveiro de constelaes)/ lgrimas nos olhos e um banquete de asas. (Antonio Mariano de Lima). ************** Supercongestionada a temporada do teatro D. Pedro II de Ribeiro Preto. ************* Belssima festa do folclore, com danas e desfiles de trajes tpicos de diversas regies brasileiras (com a orientao de uma folclorista cearense radicada em Olmpia), exposio de medicina caseira e de fitomedicina popular, painis com trovas, mensagens de pra-choques de caminhes, mesa de doces e bolos, homenagens ao escritor Monteiro Lobato no cinqentenrio da sua morte (estavam lindas as 16 Emlias multicoloridas que l apareceram.. tnhamos Emlias gordas, magras, japonesas e negras e brancas mas todas bem atrevidas e saltitantes), mostra de desenhos de figuras do folclore brasileiro( lobisomens, mulas sem cabea, Iara, botos, o homem do saco, sac prr e curupiras), mostra de crculos com criativas perguntas do tipo O que , o que ? e um vasto e rico levantamento e mapeamento das mitologias brasileiras foi o que v, com admirao e esperana, na festa promovida na manh do sbado 29 de Agosto de 1998 pela Escola Municipal de Primeiro Grau Elisa Duboc, do Conjunto Habitacional Jardim Joo Rossi de Ribeiro Preto/SP. Esto de parabns todos os alunos, pais, professores e a diretora e dedicada professora Diana, evento que foi alm do ritual didtico-pedaggico, muito bom!... Quero mais!.. At a prxima!...  Um macho grita para o outro: Desmaia, anda, desmaia! Desmaia logo, cara!... Um ancio ano usa um telefone orelhinha (para crianas) e uma policial sueca adverte ao mundo sobre os riscos que assumimos ao usar um telefone pblico com teclado encerado por uma mistura qumica de LSD com estricnina que, uma vez tocada, entram em nossa corrente sangnea. Em nosso sangue as partculas de LSD nesse amlgama vo liberando a estricnina e nos matando. Mas esta policial sueca, chamada Tina, esqueceu-se da adrenalina que nossos pavores cotidianos lanam em nossa corrente sangnea toda vez que algum nos agride emocionalmente com piadinhas nojentamente preconceituosas. As pessoas no querem aprender mais nada e fogem dos livros clssicos como o diabo foge da cruz. Vi uma foto de uma homossexual sadomasoquista amarrado de cabea para baixo numa cruz sendo penetrado e chicoteado por outros parceiros de tara. Quem quer vender aplices federais, estaduais e municipais da Dvida Pblica da Repblica dos Estados Unidos do Brazil? Pois , h dez anos explodia tragicamente a usina nuclear ucraniana de Chernobbyl. Os olhos da minha cadelinha Saragoza revelam a alma infantil de uma an competitiva. Gostaria muito de ler poemas e ensaios do escritor polons Zbiniew Herbert (1924/1998). Escritor escorraado pelos sucessivos governos nazistas e stalinistas da Polnia... No podemos confundir humanismo ou tradio humanista ocidental com iderio socialista-marxista: so mbitos distintos e dissociveis. Vejo uma garrafa de vodka atirada aos ps de um longo muro escolar. Minha casa um canil e eu adoro uma cachorrada. Se vivemos numa sociedade de risco, eu, indivduo de risco, dependo cada vez mais de uma rede de contatos. Faa diariamente o seu network. Ocorre uma guerra dentro de mim. Meu pnis o meu totem. falta de uma cultura da palavra, prevalece a cultura da fora e do cinismo sinistro. A ausncia ou a escassez de meios de expresso foi intencionalmente provocada pelos educadores marxistas, para os quais a instituio escola s teria valor enquanto agncia doutrinadora num regime poltico socialista (no qual esses educadores estariam alojados no poder). Como estamos numa economia de mercado (leia Capitalismo), os educadores marxistas apostam no esvaziamento da escola enquanto espao das expresses scio-culturais das nossas depresses bergmanianas, das nossas perplexidades ps-modernas, dos nossos conflitos jeanlucgodardianos , dos nossos desejos pasolineanos, da nossa elegncia viscontiana e das nossas onricas e barrocas fantasias felinianas e, assim, favorecem e fomentam a ecloso de violncias sem palavras, sem idias, sem humanismos, sem sentidos e sem causas!... Como todo marxista que se preze s enxerga luta de classes pela frente, s v conflitos entre interesses antagnicos, adeus literatura no panfletria!... Bye bye Haendel!.. Adeus Mozart e Bach!.. So long Beethoven!.. Ciao Pirandello!.. Au revoir Verdi e Wagner!.. Nunca mais Chopin, J. L. Borges, F. Pessoa, F. Kafka ou Samuel Beckett!... Kant ento, nem de leve. Spencer, Kierkgaard, Poe, A. Comte, C. Darwin e Durkheim sumariamente censurados em nome de uma perspectiva construtivista!.. Olavo Bilac, est decretado, s foi patrono do Servio Militar e escritor parnasiano reacionrio e fim de papo. Sem discusso. Quanta pobreza cultural a nossa esquerda nos proporciona, magnnimo Joozinho Trinta!.. O senhor tinha e continua tendo razo: quem gosta e fomenta misrias so os intelectuais quase sempre de esquerda!.. Filosofia de esquina da Baixada da rua Jos Bonifcio Ribeiro Preto-SP: onde um rema, outro no pode remar, se no, no vira.... Foi no prefcio do clssico ensaio A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo de Max Weber que li: qualquer sistema, seja capitalista ou no, que apresente qualquer brecha que favorea alguma corrupo, conhecer e sofrer o nus scio-poltico e cultural da corrupo. No este ou aquele governo, ou este ou aquele regime ou sistema que ou no corrupto, mas ter corrupo todo e aquele sistema que deixe brechas para atos ilcitos ou aticos. Nesse caso, investiguemos os autores ou propiciadores dessas brechas, que, em ltima instncia, foram eleitos pelo povo e devem refletir uma certa endemia de desonestidades sociais. Sem tais vigilantes investigaes, todo poder corrompe. Seja aqui ou na China, em qualquer lugar. Um jato risca um caminho de plumas de algodo na aveludada capa noturna e enluarada da me Terra e eu, c embaixo, na estrada da morte que liga So Paulo a Curitiba, vivo sucessivos pesadelos em curvas e novos e infinitos roncos de gigantescas carretas ou jamantas de cem pneus a trepidarem numa faixa asfltica esburacada, estreita e ameaadora como a foice de Saturno. Sinto inveja dos que sobrevoam este inferno rodovirio. Um vento lautramontiano me recebeu em Curitiba. Folhas secas chovem nas praas secas mas verdes e onde, s vezes, flores de outono resistem proximidade do inverno. Curitiba metida a Boston. Curitiba metida a Barcelona. Curitiba metida a Miami. Curitiba metida a besta... tem um jeito hbrido de Mazzaroppi casado com polonesa. ... ou me sugere a hiptese de uma extenso bem sucedida do vale do Ribeira (donde alis provieram alguns de seus vultos histricos) ... ou uma plancie repousante atrs da ngreme e sombria costa que sobe desde o Uruguai, a guarnecer uma crosta continental que se envelhece cristalinamente medida que se afasta das fozes dos rios Amazonas e do Prata..... rumo ao norte e longe dos esturios citados, crosta que ganha altura orolgica e velhice geolgica... Ao sul de Curitiba, a foz do Prata, um esturio, uma enchente de fertilidade e fartura tambm provinda das guas paranaenses, prosperidade de celeiro... Estou em Curitiba, mas com olhos voltados para a Montevideo de Lautramont!.... Mas.... Curitiba vagueia andeja com capa alem nas canelas e tem um clima meio gtico, meio barroco, ps ou pr-Montevideo ... seus cemitrios so belssimos!... de fato criativa e ousada como Barcelona e Miami em sua arquitetura e urbanismo, sua gente a ama e dela se orgulha e pouco a suja.. Curitiba ecologicamente respirvel, apesar de alguns terrenos baldios com lixo... E Curitiba me recebeu com alvoroantes ventos lautramnicos.... lautramontianos... Oratrio Bach fica na entrada do bosque do Alemo, ao lado da torre dos filsofos, , para mim, a amostra mais singela da arquitetura mais mstica e germnica de Curitiba! O oratrio Bach est para Curitiba assim como a igreja de So Francisco da Pampulha est para Belo Horizonte. Sua pera de Arame a mais requintada paisagem urbanstica e cultural da Curitiba do fim do sculo XX. Todos os faris do saber de Curitiba me levam a pensar que o sucesso desse projeto cultural exige liberdade de expresso e criao e, ainda, um substrato cultural que pouqussimas cidades brasileiras tm neste momento. Obras das administraes de Jaime Lerner e Rafael Grecca (polticos que fazem histria no PFL!..) que muito me impressionam. Matuto enquanto se sucedem, na janela do meu nibus, as sombrias elevaes das serras prostradas entre Curitiba e So Paulo.... serras que me trazem tristezas como as que acometiam Lautramont seguindo aos 14 anos para estudos em liceus provincianos franceses, passando pelo ngreme litoral paranaense ou dele se distanciando, sem sequer ver Paranagu.. .. indo cegamente para o Norte.. para a morte aos 24 anos!.. Sua me morrera com a mesma idade. Curitiba tem um ar vampiresco, germnico, polcia gentil e polida, ar de Polnia dos trpicos j sem araucrias... at russos existem em Curitiba!... Suas casas, com decoraes arquitetnicas inusitadas, eruditas, eclticas, modernas, barrocas, ps-barrocas e europias, seculares algumas, me levam a paisagens urbanas da costa bltica. Mas, mesmo assim, Curitiba no cosmopolita e ostenta um vanguardismo provinciano... Que o digam Domingos Pellegrini Jr., Helena Kolody, Paulo Leminsky, Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Wilson Martins...qual a cidade de porte mdio brasileiro que possa ostentar to portentoso time literrio como este elenco de escritores paranaenses!.. Mas, como dizia o profeta rabe Mohammad, h na Terra uma imensido de boas aes mas so poucos os que disso se beneficiam. Ou seja, o bem estar curitibano requisita substrato cultural cada vez mais raro por esses sertes brasileiros... Cito de novo Mohammad: A verdade amarga e difcil de realizar; a Falsidade doce e fcil de conseguir. Tenho dito.  Uma Babel de olhares suplicantes e de bocas desejantes e de esqueletos de peixes eleva-se ao cyber-espao: olho por osso e dente (.....) Aquele que corre menos que a beleza s pode produzir obras medocres; o que corre to rpido quanto ela produzir obras banais; o que corre mais rpido do que a beleza corre o risco de ser incompreendido, vilipendiado, objeto de sarcasmo, de dio e de desprezo. Mas, se ele parar no meio do caminho e permitir beleza cansada o alcanar, nascer uma obra-prima que ser o produto da fuso da beleza admitida e da beleza revelada. (citando o artista plstico francs Georges Mathieu, nascido em 1921, expoente da corrente artstica conhecida como Abstrao Lrica). A seguir, eu passo a exibir a minha lista com os cinqenta cemitrios mais impressionantes do Brasil no fim do sculo XX: _Cemitrio de escravos da igreja de Nossa Senhora do Rosrio dos Pretos de Salvador- Bahia. _Carneiros da igreja da Conceio da Praia de Salvador Bahia. _Carneiros da igreja de Nossa Senhora do Pillar de Salvador Bahia _Carneiros da Ordem Terceira de So Francisco de Salvador Bahia _Carneiros da igreja da Ordem Terceira de So Domingos de Salvador Bahia _Carneiros da Santa Casa de Misericrdia de Salvador-BA _Catacumbas da Ordem Terceira do Carmo de Salvador-BA _Cemitrio do Campo Santo de Salvador-BA _Cemitrio da Quinta dos Lzaros de Salvador-BA _Cemitrio Ingls de Salvador-BA _Cemitrio Alemo de Salvador-BA _Cemitrio de So Tom das Letras-MG. _Cemitrio do Morumbi So Paulo-SP _Cemitrio de Mathias Barbosa Mathias Barbosa-MG. _Cemitrio de Piau Piau-MG _Cemitrio de So Miguel e Almas Partenon Porto Alegre-RS _Cemitrio de So Borja So Borja-RS _Cemitrio do Bonfim Belo Horizonte-MG _Cemitrio de So Joo Batista Botafogo Rio de Janeiro-RJ _Cemitrio do Caju Rio de Janeiro-RJ _Cemitrio de Jacarepagu Rio de Janeiro-RJ _Cemitrio da Ordem de So Francisco de Assis de Ouro Preto-MG _Cemitrio do Poo Rico Juiz de Fora-MG _Cemitrio da Consolao So Paulo-SP _Cemitrio So Paulo Pinheiros So Paulo-SP _Cemitrio da Vila Formosa So Paulo-SP _Cemitrio de Perus Perus-SP _Cemitrio de Canudos serto bahiano _Cemitrio de Joazeiro-BA _Cemitrio de Joazeiro-CE _Cemitrio Municipal de Petrolina-PE _Cemitrio de Palmeira dos ndios-AL _Cemitrio de So Roque-SP _Cemitrio de So Roque de Minas- S. Roque de Minas-MG _Cemitrio de Piumh-MG _Cemitrio do Centro de Franca Franca-SP _Cemitrio Central de Curitiba Curitiba-PR _Cemitrio de Cssia Cssia-MG _Cemitrio de Pratpolis Pratpolis-MG _Cemitrio de Batatais Batatais-SP _Cemitrio de Altinpolis-SP _Cemitrio de Santa Rita do Passa-Quatro Santa Rita do Passa-Quatro-SP _Cemitrio do Bonfim Salvador-BA _Cemitrio da Av. Saudade de Ribeiro Preto Ribeiro Preto-SP _Cemitrio do Ara So Paulo Capital-SP _Cemitrio de Congonhas do Campo Congonhas do Campo-MG _Crematrio da Vila Alpina So Paulo-SP _Cemitrio da Soledade Av. Serzedelo Correa Centro Belm do Par-PA _Cemitrio da rua Gentil Bittencourt perto da praa Cnego Baptista Campos Centro Belm-PA _Cemitrio de Ananindeua Ananindeua-PA _Cemitrio Santa Isabel ao lado da Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual Guam Belm-PA _Cemitrio Israelita da Av. Serzedelo Correa Centro Belm-PA _Cemitrio de Xapuri Xapuri-AC _Cemitrio Bom Pastor Ribeiro Preto-SP _Cemitrio da Boa Morte igreja da Boa Morte de Barbacena-MG _Cemitrio da Ordem de So Francisco de So Joo del Rey S. Joo del Rey-MG _Cemitrios de Mariana-MG Em vez de engolir os remdios na hora certa, eu quase tomei o relgio despertador para engoli-lo. Levei um susto!... Conta de Joaquim Ribeiro de Toledo Netto (meu pai) nos dias 29 e 30 de Maio de 1958 na Farmcia do Jos Motta de Tabuleiro-MG: 29/5 uma lata de Vick Vaporub 350, 29/5 _ um vidro de Clistin xarope _1762, 30/5_ Instantinas............................._ 150, _ um vidro de leite de magnsia de Philips 400, _ um vidro de gua oxygenada ..... _ 250, _uma ampola de Soro Glicosado 500 ml. _ 1884, Sulfadiazinas........................................................._ 120, Soma....................................................._4916, Jos Motta, esposo da farmacutica Janira Floriano Motta. As contas de farmcia tambm revelam as histrias das famlias. Em qualquer poca. Ainda no entendi por que a famlia do Di Cavalcante no permite a liberao do filme Di-Glauber, um obscurantismo babaca e que contraria a postura existencial do antepassado morto, avesso a todo tipo de ordem ou contra todo tipo de censura esttica ou moral. O tabu da morte outro ingrediente na interdio dessa magistral obra de arte glauberiana!... Quanto atraso, my God!... Outro dia, no meu trabalho, ouvi uma senhora, horrorizada, se referir ao fato de, no passado, se tirar foto de velrios. A eu lhe disse que a mame tinha a foto do velrio do seu irmozinho Salvador, morto com crupe, aos 2 anos, deitado no caixozinho branco com uma mosca pousada em seu nariz. Ela ficou arrepiada de pavor. Nestas horas sinto vontade de gargalhar, mas no sadismo no, creia!... Agora em Abril de 1999, vi no jornal O Imparcial de Rio Pomba-MG a foto do velrio da Santa Lola. De vez em quando os jornais sensacionalistas voltam a estampar fotos de velrios de crianas, jovens e adultos vtimas da onda de violncia e criminalidade que assola todo o Brasil ou talvez todo o mundo contemporneo. A morte, banalizada, ainda espetacular. Recentemente comoveu-me o choro de Mikhail Gorbatchev diante do caixo de sua mulher Raissa. Fiquei com d daquele que considero um dos maiores estadistas do sculo XX expondo a sua dor particular aos olhares invasores das mdias e intrusos. (....) No fui ao seu velrio, noite quente e maravilhosa. No tive curiosidade de v-lo como Nico Horta, uma figura de cera na sua lmpida imobilidade. (....) Mveis, tapetes, retratos, objetos que te acompanharam sempre, que foram de parentes e ancestrais, cenrio familiar sem o qual sucumbirias, cenrio algo misterioso, algo fnebre, impregnado de sndalo e incenso _ o retrato da menina morta sobre o desafinado clavicrdio que te dei, os castiais funerrios eretos num canto, o anjo que foi de um cemitrio fluminense velando teu sono solitrio, pois que vivias s naquele tempo. (...) O cupim paulistano metera os dentes na talhadssima moblia de um certo rei Faissal, moblia negra e insentvel. Atacara tambm o porta bibels de laca da Marquesa do Paran e as molduras das pinturas que ela legara, frutos do seu prprio diletntico e nobilirquico pincel. Tambm um outro cupim mais srio comeava a nos invadir. (trecho da crnica intitulada Cornlio Pena, escrita por Marques Rebelo, pseudnimo do escritor Eddy Dias da Cruz, nascido em 6 de Janeiro de 1906 na cidade do Rio de Janeiro e autor de uma das obras mais deliciosas da Histria da Literatura Brasileira: Cenas da vida brasileira). Citando Marques Rebelo eu presto a minha homenagem a um dos escritores que tantos prazeres literrios pde me proporcionar e, ainda, fao referncia minha admirao crescente pelos cronistas brasileiros do incio do sculo XX: Olavo Bilac, Coelho Neto, Joo do Rio e Marques Rebelo. A minha admirao pelo trabalho jornalstico e literrio de Joo do Rio aqui, pela ensima vez, reafirmada. No dia de Finados de 1999 eu lamento que no tenhamos vivido o dia do Juzo Final, nica oportunidade para conhecermos um nmero incalculvel de mortos que aqui neste mundo nos precederam ou de ns se despediram ou que nem tempo de se despedir de ns tiveram, Nosso Pai Eterno!... Hoje somos seis bilhes de mortos-vivos neste planeta!.... Queria comungar com os mortos, na vida eterna, Amm!......Mas no foi possvel. Que pena!... Asas de aves queimadas no cerrado carbonizado e fumegantes como os destroos de uma aeronave!... Queria ver os mortos vindo tona, ressuscitando de suas abissais tumbas ocenicas, interrompendo uma infinita e colossal sucesso de mars, ondas, ressacas e maremotos. Mas no foi possvel. Lgrimas de sal ocenico!...... Queria ver ressurgir, intactos, das chamas dos incndios, guerras, tufes, terremotos, atentados terroristas, exploses de artefatos nucleares em Hiroshima e Nagazaki e de acidentes aeronuticos, todos os mortos queimados pelo fogo da natureza, pelo fogo das ambies humanas, pelo fogo das nossas falhas tecnolgicas, pelo fogo dos nossos intentos suicidas!.. Ah, mas no consegui ver cena to dantesca. Gemidos de dor, sem alvio, lanados aos cus!... Queria assistir gloriosa ressurreio dos que morreram esmagados pelo rolo compressor dos estigmas que nossas sociedades engendraram para sufocar e matar mais rapidamente os que foram acometidos pela hansenase, pelo cncer, pela sfilis, pela tuberculose e pela AIDS!.. Mas esta ressurreio j ocorre entre aqueles que esto tecendo suas armaduras com fibras de vidro, dignidade, acrlico, auto-valorizao e megabites em redes de comunicao e intercmbios de informaes, emoes e prazeres!.... Asas sobrevoam incndios, garrafas com mensagens humanas flutuam durante maremotos, os livros dos mortos continuam legveis. Ns que aqui estamos por vs esperamos. Imprimir.  Uma histria com comeo, meio e fim, certinha, bonitinha, seqenciada, escatolgica, teleolgica, linear e moralista como um conto de fada ideolgica e manipuladora Para o crtico alemo Walter Benjamin, desde o fim do sculo XIX j era detectvel uma crise na narrativa romanesca ocidental. Depois de Thomas Mann, Proust, Tolstoi, Dostoievski, Flaubert e Balzac poucos e raros romancistas tivemos com suas envergaduras clssicas. Ulisses de James Joyce talvez seja o melhor documento literrio desta crise da narrativa romanesca clssica ocidental. Ainda para Benjamin, que considerava a histria um sucessivo amontoamento bablico de fragmentos significativos ao longo de um incessante furaco, a formao histrica dessa montanha de cacos-letras codificando uma escrita, descritiva e narrativa, das nossas paisagens e memrias, num labirntico e catico mundo de cones, signos e representaes coletivas, a mais viva rvore genealgica do universo humano neste planeta. Na mstica judica fundamental o ato de recolher os cacos do vaso sagrado quebrado na queda vertical dos cus terra. No catolicismo assim como noutras tradies espirituais do Extremo Oriente so arquetpicas as simbologias e as buscas humanas da unidade, o que consagra ou afirma o carter milenar da fragmentria alma humana. Na psicanlise freudiana se considera a hiptese da multiplicidade de eus coabitando ou abrigados em uma mesma individualidade. Ao tratarmos da cultura brasileira, Alceu de Amoroso Lima, Ariano Suassuna e Pedro Nava vislumbraram uma espcie de espinha dorsal unindo as culturas populares e as representaes coletivas do inter-regional vale sanfranciscano. Guimares Rosa ressaltava o carter plural das Minas Gerais e Carlos Drummond de Andrade via o Brasil como um arquiplago cultural. Mais uma vez, em torno dessa dualidade entre unidade e fragmentao das culturas e civilizaes, volto a citar uma srie de trechos, expresses e metforas que me chamaram a ateno no Sexto Canto de Maldoror do conde franco-uruguaio Lautramont, ei-los: Dramticos episdios de implacvel utilidade!.. Nosso heri advertiu que, ao freqentar as cavernas e ao tomar como refgio os lugares inacessveis, transgredia as regras da lgica e caa em um crculo vicioso. Pois sim, por um lado, favorecia assim sua repugnncia pelos homens, graas compensao da solido e do alheiamento, e circunscrevia passivamente seu limitado horizonte, entre retorcidos arbustos, por outro lado, sua atividade no alimentava nem nutria o minotauro de seus perversos instintos. Em conseqncia, decidiu aproximar-se das aglomeraes humanas persuadido de que, entre tantas vtimas l dispostas, suas distintas paixes falariam ou decidiriam como se satisfazer. Sabia que a polcia, esse escudo da civilizao, o perseguia com perseverana h muitos anos e que um verdadeiro exrcito de agentes e espies estava no seu encalo. Mesmo sem conseguir encontr-lo. Tambm desfazia, sua assombrosa habilidade, com suprema elegncia, as artimanhas mais indiscutveis do ponto de vista do seu xito, e das disposies da mais sbia meditao. (...) No h outro: era Maldoror!.. Hoje est em Madrid, amanh em So Petersburgo e depois em Pequim!.. potico Rocambole!.. Esse bandido Maldoror est, talvez, a 70 lguas daqui, porm, quem sabe?, esteja a poucos passos de vs? No fcil conseguir que os homens morram por completo, e a esto as leis; porm, com pacincia, se pode exterminar, uma a uma, as humanitrias formigas. Agora bem sei, desde os dias do meu nascimento, quando vivia com os primeiros antepassados da nossa raa, desde os mais longnquos tempos, colocados mais alm da histria, nos que, com sutis metamorfoses, assolava, em distintas pocas, as regies do globo por meio de conquistas e matanas, e propagava a guerra civil entre os cidados... membro a membro, ou coletivamente, a geraes inteiras cuja inumervel cifra no seria difcil conceber? O radiante passado fez brilhantes promessas ao porvir: as cumprirei. (...) Simples e majestosos cavaleiros, sua agraciada boca enobrece quando brota dos seus tatuados lbios... Acabo de provar que nada ridculo neste planeta. Planeta grotesco ainda que soberbo. (...) porm sabei que a poesia se fala em todas as partes onde no est o sorriso... Mervyn, filho da ruiva Inglaterra, ... Como pde o poente do Carrossel manter a constncia da sua neutralidade, quando ouviu os desgarradores gritos.. O relgio da Bolsa deu oito: no tarde! Escutada a ltima badalada, a rua Vivienne se enche com seus pedestres se apressando e se retirando pensativos para suas casas. Uma mulher desmaia e cai sobre o asfalto. Ningum a levanta: todos tm pressa para deixar esse lugar. Os portes so impetuosamente fechados e os habitantes se agasalham com suas mantas. Diria-se que a peste asitica revelava a sua presena. Assim, embora a maior parte da cidade se disponha a nadar nos gozos das festas noturnas, a rua Vivienne fica logo gelada e petrificada. Era visvel a extino ou a interrupo da vida como um corao que deixa de amar... e um fosco silncio se abate sobre a augusta capital francesa... Aonde estavam os lampies de gs? O que foi feito das mercenrias do amor? Nada... Solido e treva!.. (...) As tendas da rua Vivienne expem suas riquezas ante nossos maravilhados olhos iluminados por numerosos lampies de gs. Os cofres de caoba e os relgios de ouro lanam, pelas vitrines, raios de deslumbradora luz. (...) A soma dos dias j no conta quando se trata de apreciar a capacidade intelectual de um rosto srio. Sei ler a idade nas linhas fisionmicas da face: tem 16 anos e quatro meses!.. (...) a ratoeira perptua do tempo.. .. Mervyn, filho da ruiva Inglaterra, volta de uma aula de esgrima em casa de seu professor.. so oito e meia: uma grande presuno de sua parte fingir estar seguro quanto ao futuro. No pode, acaso, interpor-se em seu caminho algum obstculo imprevisto? (...) como o boomerang da Austrlia... como uma mquina infernal... porm regressou com nova sanha... Mervyn ignora porque suas artrias temporais palpitam com fora e apressa o passo, obcecado por um espanto cuja causa, vs e ele, buscais em vo. (...) v um velho gato musculoso, contemporneo das revolues s quais assistiram nossos pais, contemplando melancolicamente os raios da lua, que se abatem sobre a dormente plancie, avana, e faz um sinal a um cachorro que mexe, satisfeito, com o rabo. O nobre animal de raa felina aguarda, com valor, seu adversrio e vende cara a sua vida. (...) Mervyn complica mais, todavia, o perigo com sua prpria ignorncia... sem dvida, lhe impossvel adivinhar a realidade... no profeta, no digo o contrrio, e no se atribui a faculdade de o ser... um invencvel estremecimento percorre meus cabelos.. percorre o ptio, coberto de fina areia, e sobe os oito degraus da escada.. Aquele que renegou tudo, pai, me, Providncia, amor, ideal, para s pensar em si mesmo, cuidou para no seguir os precedentes passos.. Por fim, o pai levanta seu basto e lana sobre os presentes um olhar cheio de autoridade... O brumoso Tmisa transportar e acumular todavia notvel quantidade de limo antes que minhas foras estejam completamente esgotadas. Nesta inspita paisagem no parecem existir preservadoras leis. (...) o distanciamento dos combates martimos, minha espada de comodoro, colocada na parede, todavia no oxidou.. melhor farias fechando o conduto de tuas glndulas lacrimais... Filho, te suplico, reconhece tua famlia, teu pai quem te fala... a me se mantm afastada e, para obedecer as ordens do seu dono, tomou um livro e se esfora por se tranqilizar na presena do perigo que corre aquele a quem deu luz sua matriz. (...) meias de seda vermelha(...) vou buscar em minha alcova um frasco cheio de essncia de trementina, de que habitualmente me sirvo ao voltar do teatro ou quando leio narrao comovedora, consignada nos anais britnicos da cavalheiresca histria dos nossos antepassados(...) a corredeira de uma pessoa das classes inferiores(..) e volte ao meu lado com rosto alegre.. o frasco que talvez contenha o licor da vida entre suas paredes de cristal.. um leno indiano umedecido rodeia a cabea de Mervyn com os volteios da seda.. se ouvem os alegres gritos de uma caturrita das Filipinas colocada no espaldar da janela. (...) Acaso uma tumba suporta meus entorpecidos membros? Levo todavia ao ventre o medalho com o retrato da minha me? Solta os cachorros pois, esta noite, um reconhecvel ladro pode entrar em nossa casa enquanto estivermos sumidos no sonho. Pai e me meus, os reconheo e os agradeo por vossos cuidados. Chama meus irmos menores. Comprei para eles uns bombons e quero beijar-lhes Depois destas palavras, cai em um profundo estado letrgico. (...) os raios do sol refletem suas prismticas irradiaes nos cristais de Veneza e nas adamascadas cortinas. (...) caranguejo ermito recusa gros de ervilha cozidos. (..) esse decpodo utiliza uma concha de molusco para proteger seu exposto estmago. (...) Abre o piano, faz correr seus afilados dedos pelas teclas de marfim. As cordas de lato no ressoam.. Jovem, me interesso por voc. Quero plantar sua felicidade. O terei como companheiro e juntos empreenderemos longas peregrinaes por ilhas da Oceania. Mervyn, sabes que lhe amo e no preciso provar-lhe. Me conceder sua amizade, disso no duvido. Quando me conhecer melhor, no arrepender da confiana que ter me dispensado. Lhe protegerei dos perigos que sua inexperincia corre. Serei para voc um irmo e no lhe faltaro os melhores conselhos.. No mostra essa carta a ningum. Trs estrelas no lugar da assinatura! exclama Mervyn -; e uma mancha de sangue ao p da pgina Abundantes lgrimas caem sobre as estranhas frases que seus olhos tinham devorado e que abrem ao seu esprito o ilimitado campo de incertos e novos horizontes... Esconde a carta no seu peito. Seus professores observaram que aquele dia no parecia o mesmo; seus olhos se escureceram muito e o veio da reflexo excessiva caiu sobre a regio periorbital. Cada professor se ruborizava com o medo de no se achar altura intelectual do seu aluno.. apoia um cotovelo na mesa e permanece absorto em seus pensamentos, como um sonmbulo. (...) O cachorro lana um lgubre latido pois essa conduta no lhe parece natural, e o vento do exterior, penetrando desigualmente pela fissura longitudinal da janela, faz vacilar a chama, coberta por duas cpulas de cristal rosado da lmpada de bronze. .. Porm se conveniente aceitar a amizade de uma pessoa de mais idade, tambm o fazer-lhe compreender que nossos caracteres no so os mesmos... me apressarei a obedecer vossa incontestvel prudncia.. Porm, no confessvel a familiaridade no caso de uma ardente e forte intimidade, quando a perdio sria e convicta? (...) Tenho curiosidade em saber como averiguou o lugar onde mora minha glacial imobilidade.. uma bala cilindro-cnica atravessar a pele do rinoceronte, apesar da mulher de neve e do mendigo. E que o louco coroado haver de dizer a verdade sobre a fidelidade dos 14 punhais. (...) Que me deixe baixar pelo rio do meu destino, atravs de uma crescente srie de gloriosos crimes... Assim se realizar a profecia do galo, quando vislumbrou o futuro no fundo do candelabro. Pea ao cu que o caranguejo ermito alcance a tempo a caverna dos peregrinos e lhes comunique em poucas palavras o relato do trapeiro de Clignancourt. (...) O espelho da suprema convulso da agonia. (...) exageraes do medo materno (...) clculos do meu esprito. (...) Dizem que estou louco e imploro a caridade pblica. A nica coisa que sei que o canrio j no canta. (...) Os traos da felicidade se desenharam em seu rosto. (...) O homem de lbios de bronze se retira. Qual era seu objetivo? Ganhar um amigo toda prova... (...) Batiam seu temporal refgio(...) Eu sou s uma substncia limitada enquanto que ningum sabe de onde vem o outro e qual seu objetivo final. (...) Reflexes que encontraram eco at na cpula de azul(..) seus olhos indecisos e errabundos traem sua origem serfica (...) uma montanha de chifres de veados levantada por ndios, amontoada em teu corao(...) havia maquinado, muito tempo antes, um golpe prfido(...) Negra como a asa de um corvo (...) Era, em verdade, comovedor ver esses dois seres, separados pela idade, aproximando suas almas graas grandeza dos sentimentos. (...) inventar uma poesia completamente margem do ordinrio curso da natureza (...) Se a morte acaba com a fantstica delicadeza dos dois grandes braos dos meus ombros... quero ao menos que o enlutado leitor possa dizer-se: necessrio fazer-lhe justia.. (...) O que haveria de conseguir se tivesse vivido mais? (...) as enfurecidas ondas do mar maldororiano (..) viu com horror como o horizonte de seu pensamento se ampliava, confusamente, em crculos concntricos, pela matinal apario do rtmico golpear de uma bolsa icosadrica contra seu parapeito calcreo. (...) elpses superpostas (...) obelisco de bronze (...a boa qualidade do cnhamo. (...) em forma de meia-lua (..) ide a ver-lo vos mismo, si no me quereis crer (..) um descarnado esqueleto permanece suspenso na superfcie esfrica e convexa da cpula do Panthon: quando o vento o balana, segundo se diz, os estudantes do bairro latino, temendo uma semelhante sorte, elevam aos cus uma curta prece. So insignificantes rumores que, ningum est obrigado a acreditar, e aptos s para assustar crianas. The End de uma srie de seis artigos ou textos-collages nos quais citei fragmentos, trechos, metforas e outras figuras de linguagem usadas pelo Conde Lautramont em seus 6 Los Cantos de Maldoror, que foram finalizados entre 1868 e 1869, um ano antes da morte do seu autor, em Novembro de 1870, num quarto de hotel em Paris. Causa mortis: ignorada. Lautramont, Severo Sarduy, Ovdio, Rimbaud, Garcilazo de la Vega, Joseph Brodsky e Fernando Pessoa foram os poetas exilados que mais fundo falaram ao meu corao no fim dos anos 90 do sculo XX.  Uma procisso apocalptica frente do prstito um crucifixo de troncos de carvalhos lituanos e, nele, vinha um macaco crucificado de cabea para baixo. Todos marchavam ao som da msica Satisfaction do grupo de rock ingls The Rolling Stones. Logo depois vinha um squito de homens bons (ou comerciantes) de Barcelona. Atrs, seus serviais empurravam um carro que levava um brnzeo globo da morte e dentro deste rodopiavam sem se entrechocar quatro motoqueiros skin-heads Em seguida, uma extensa ala de prostitutas arrependidas desfilava portando posters de Marylin Monroe, de Santo Agostinho de Hipona, de Ramon Llull, de Fiodor Dostoievsky, de Maria Magdalena, de Maria Bonita a rainha do cangao, de Lou Salom, de Josephine Baker, de Buda ou Sidarta Gautama, de Santa Teresa dvila e de Jacqueline Bouvier Kennedy Onassis. Aquelas contritas damas e ex-sditas do deus Bacco eram sucedidas por um novo crculo de veculos, agora por automveis dos ureos tempos de Chicago dominada por All Capponne, mais ou menos l pelos anos 20 e 30, carros que giravam e avanavam no rumo do cortejo e eram dirigidos por gangsters de chapus, capas de chuva no estilo de Humphrey Boggart, fumando charutos cubanos e, de vez em quando, tomando uns tragos do mais fino e legtimo whiskey escocs. Vinham atrs deste assombroso crculo automobilstico, os confrades anos e seus filhos, um esquadro de descendentes dos moradores de Hiroshima e de Nagasaki poca das exploses atmicas dos Estados Unidos e, logo aps, um bando de mulheres rabes danando a dana do ventre e, ao mesmo tempo, atiravam multido que se acercava do prstito um punhado de galhinhos de manjerico, de alfazema, de funcho e de ptalas de rosas. Depois um grupo de hippies vinham fumando maconha calados com tnis feitos com fibras de cnhamo. E, por ltimo, a Legio das filhas de Maria Santssima vinham carregando Nossa Senhora das Dores com uma espada de prata cravada no seu corao num ostentatrio andor de vus, cetim, flores e bambuzinhos. A Virgem cambaleava em cima daquele luxuoso andor carregado por suas filhas no fim daquele impressionante e inesquecvel cortejo apocalptico. A ponte do poente O calor por aqu est infernal. s falta agora os diabinhos pipocarem no asfalto (com suas motos e calas ou perneiras de couro preto no estilo sado-masoquista deste final de milnio). A Beatriz me disse que Deus sdico e com tal afirmativa vindo dela fiquei at chocado. A medusa assusta a Santuza que canta a Vanuza no reservado de uma sala de Internet. A ponte entre o cu e a terra alcana no poente o seu transitrio apogeu com graduaes de luzes, de cores, de trevas e de massas constelares. Blade-Runner aqu mesmo. Os traficantes dominam esquinas e caladas. Meu nico refgio a intimidade do reservado-virtual. Mesmo assim as internets ou suas redes ficam nos sugerindo dicas de segurana. Se o terrorista Unabomber to radicalmente contra o avano tecnolgico, como ele explicaria o uso que tem feito da tecnologia para cartas-bombas? Ouv um chocalhar de navalhas e de tesouras. Acontecia uma briga entre travests. Crizete rolava no asfalto quente e mal cheiroso agarrada aos seios de silicone da Paulete. (escrito entre 5 e 8 de Janeiro de 1998) Em busca de uma histria filosfica do cinismo Estou aqum da genialidade de Jorge Luiz Borges, autor da Histria Universal da Infmia, e provavelmente o meu papel aqu no iria alm de propor uma questo ou um tema interessante. Se reconhecermos um potencial subversivamente a-tico na evoluo desta cnica faceta ontolgica do humano e a percepo filosfica da multiplicidade catica de seres e estares, egos, super-egos e alter-egos contidos em cada um de ns, creio que entenderemos a validade epistemolgica e existencial de rastrearmos a historicidade dos contedos cnicos na genealogia dos humanismos e nos estilos filosficos de viver, pensar e ser em constante sondagem das profundezas e complexidades de nossas almas. Muitos poetas e pensadores chegaram a detectar bandos de bichos vivendo ao mesmo tempo que ns em nosso prprio corpo. Outros viram como ns somos, a um s tempo, bestas e anjos. Na Alemanha um artista provoca escndalos de teores ticos e estticos expondo esculturas feitas com camadas e peas de cadveres humanos recobertas por material sinttico transparente. Parece-me, ao iniciar ou ao apresentar o tema que nos interessa, que a arte de sofismar enfrentou cnicamente a razo clssica greco-romana. Bizncio, tensamente acuada pelo oriente teocrtico e pelo ocidente (tensamente conflituado pela dualidade Igreja/estado familiar feudal), fz avanar a histria da retrica sofstica como arte de convencer, confundir, especular, enganar ou impor ortodoxias. Na Idade Mdia as estratgias de subverso cnica visavam aprimorar a arte do adultrio para que se atingisse um alvo todo poderoso: o estado-familiar feudal cristo .A este respeito leia Il Deccamern de Giovanni Boccaccio e ainda as obras que fazem a reflexo medieval sobre a dualidade entre a essncia e a existncia, quais sejam: A Divina Comdia de Dante Alighieri, os livros de So Boaventura, santo Agostinho, Ramon Llull, Santo Toms de Aquino, de Duns Scotto e de Petrarca. No realismo de Nicolau Maquiavel teramos uma nova gnese do cinismo realista, o cinismo da modernidade. No racionalismo cartesiano-iluminista a ltima tentativa ocidental de reforar a barragem filosfico-intelectual que tentava ocultar o lado obscuro e irracional da alma ocidental, um reino caleidoscopicamente instvel e tormentoso, ludica e perigosamente irracional, os ilusionismos disfarados pelos museus de cera e exposies de aberraes flagrantes e delineadas, espetculos de anes e aleijados, desenhos de monstros do Novo Mundo, telas de Jernimus Bosch, passionalismos tnicos ps-tribais, unitarismos totalitrios e falsos, etc... A expanso militarista e colonialista da Cristandade europia trouxe aos europeus uma outra forma de crise de identidade perante o outro totalmente desconhecido at ento, o homem do Novo Mundo, to estranho e extico como os e.t.s de nossos tempos. As guerras religiosas na Europa em meio s suas assombraes e orgias barrocas desencadeando as tramas do cinismo da ambigidade cortes e o ostentatrio e massacrante charme absolutista do Ancin Regime e, mais tarde, a deflagrao de conturbadas afirmaes de identidades tnico-nacionais, tudo isto foi expresso desta pattica crise de identidade da Europa ps sculo XVI . Afirmaes tnico-nacionalistas desencadeadas aps o terror jacobino e pela ndole napolenico-burguesa e que desaguariam no amplo e ftido esturio da primeira guerra-mundial (1914-1918). A declarao nietzcheana do bito de Deus e a viso kafkaniana sobre o absurdo totalitrio serviriam de parmetro para revermos o cinismo nazista que, reconhecendo a identidade de destinos entreo Criador e suas criaturas, criou o primeiro impasse do pensamento filosfico do sculo XX, qual seja, a concreta impossibilidade ou viabilidade existencial de um homogneo estatuto do ser humano. Karl Jaspers, Martin Heiddegger, Samuel Beckett, Eugene Ionesco, Jean Paul Sartre em sua pea teatral As mos sujas, Franz Kafka e tantos outros escorregaram dramaticamente nesta rdua e sinistra questo. O mais terrvel em tudo isto que a crise da filosofia ocidental na primeira metade do sculo XX foi oportunisticamente aproveitada pelos intelectuais nazistas para desencadearem suas sinistras e cnicas atrocidades. Tal crise servia como justificativa para a monstruosidade racista, anti- semita e massacradora de individualidades minoritrias ou incomuns...Mas George Orwell em 1984 nos mostraria que este pesadelo sinistro no ocorria s no mundo nazi-fascista, mas tambm na URSS...O Arquiplago Gulag de Alexander Soljenitzin e a obra literria de Joseph Brodsky serviriam para nos revelar o fascismo de esquerda....fascismo este at hoje elogiado por muitos intelectuais brasileiros super-consagrados...No vou cit-los, todos conhecemos estes tteres acadmicos... Retomando-se a estratgia pendular dos dualismos realimentadores da histria ocidental (por exemplo: Ocidente x Oriente; Turcos x Cristos; Catlicos x Protestantes; Capitalismo infernal e mafioso x Comunismo paradisaco e justiceiro, etc...), o mundo na Guerra-Fria apunha mitos longevos e arquetpicos, veiculando-os numa cultura massificante fabricada por partidos, empresrios, publicitrios ou marketeiros, idelogos, eminncias pardas, militantes e complexos industriais-militares . O desnorteio na chamada crise dos paradgmas e da ps-modernidade no mundo ps-guerra-fria e ps-tudo reflete o desmascaramento destes cnicos e oportunistas dualismos ocidentais entre inimigos que se realimentavam mutuamente. Dualismos e maniquesmos irreais, relativos, dinmicos, realimentadores de sistemas inter- beligerantes. Eis, neste sumrio texto, a minha viso histrica que preceder os estudos que tal temtica nos sugerir. Eis o trajeto histrico que pretendemos percorrer e estudar para podermos oferecer alguma reflexo interessante e dgna de credibilidade sobre o que nos envolve intelectualmente neste momento: Filosofia e Cinismo: historicidades e arqueo-genealogias de nossas estruturas intelectuais. Quando a natureza se vinga ou quando o mundo nos apresenta o preo de nossa conta No sudeste mineiro, a populao de Tabuleiro no consegue dormir no meio de uma super-aquecida floresta de edifcios de dois, trs e at quatro andares e ruas asfaltadas e poucas ou nenhuma rvore, floresta urbana que substituiu de forma grotesca paisagem buclica ou histrica de cidade pacata e estagnada aps a decadncia do seu coronelato. Muitos procuram as sacadas de seus apartamentos para dormirem ao relento e acordarem molhados de suor com a luz do sol batendo em seus olhos. As matas nativas que cercavam a cidade foram dizimadas pelos interesses de carvoeiros, ambies clericais e pela ignorncia a respeito dos efeitos dos desequilbrios ambientais em nossa qualidade de vida . Se neste vero Tabuleiro no pegar fogo, nada nos garante sobre o que possa ocorrer nos prximos anos...Resta saber se aps o imprio dos Neros tabuleirenses a cidade ressurgir das cinzas devidamente arborizada e com a sua bela praa coronel Joo Floriano restaurada. Infelizmente s alguns descendentes de Sebastio Neto, Aliaudes Dias de Oliveira, Anlia Neto, Ad Garius, Pedro Toledo, sr. Roldo tero mangueiras, coqueiros, goiabeiras e laranjeiras, rvores com copas frondosas e acolhedoras e frescas sombras para se refugiarem durante o trrido apocalpse tabuleirense. seus paiis sero mais disputados e caros que os apartamentos da Vieira souto em Ipanema, anotem a e depois vocs me diro se tais profecias no se cumpriro... Que tristeza!!... O pior que santo de casa no faz milagres. Cinismo e ceticismo Alguma coisa me faz suscitar a idia pela qual o cinismo sempre esteve associado ao niilismo e ao ceticismo ou simplesmente s nossas descrenas. No foi toa que ao descrdito e aos impasses da Repblica de Weimar adveio o sinistro nazismo e seus holocaustos. Se algum se faz descrente dos valores morais hegemnicos, subverte e transgride o legado mtico da sua civilizao e no cr mais em nenhum cnone ortodoxo (seja ele moral, poltico ou religioso 0 tal pessoa passa a exercitar a diablica retrica cnica e a emitir sarcsmicas ironias...Esta idia parece vigorar em todo o Ocidente h pelo menos dois mil anos....Por falar nisto, desde a Idade Mdia se diz que muito riso sinal de pouco siso. (7 de Janeiro de 1998) Pontos em comum entre a histria da Catalunha e a histria do Rio Grande do Sul O autonomismo ps Revoluo Farroupilha dos gachos brasileiros me lembra a milenar independncia cultural e poltica da Catalunha. Alm disto, uma outra curiosa coincidncia aproxima as histrias destes dois povos cujos imaginrios, em vrias reas, se interseccionam: No fim do sculo XIII, o versejador Jaume Roig, fundamentado nos anais jurdicos de Barcelona, faz aluso a verso barcelonense da lenda de Sweeney Todd na qual, segundo o arquiteto australiano Robert Hughes, autor de erudito volume intitulado Barcelona, um diablico barbeiro que transformava seus fregueses em tortas....isto l por volta de 1285....ou um pouco antes. Ento, este diablico barbeiro teve algumas seguidoras na Barcelona daquela poca. Uma estalajadeira e suas duas filhas figuram como personagens centrais dos seguintes versos de Jaume Roig: (...) Dos que vinham e al bebiam, matavam alguns; com a carne picada faziam pastis e das tripas faziam salsichas ou lingias, as mais finas (...) No equivocado bicentenrio de Porto Alegre, comemorado precipitadamente em 1941, Deusino Varella deu-se ao louvvel trabalho de recolher crnicas que Achylles Porto Alegre publicara em vrios jornais da capital gacha e a sua coletnea de crnicas do Achylles intitulou Histria Popular de Porto Alegre. Pois neste livro, reeditado em 1994 pela Unidade editorial da Secretaria Municipal de Cultura da prefeitura Municipal de Porto alegre-RS, temos uma curiosa crnica do autor citado e que tem como ttulo: As lingias de carne de gente. Crnica que resgatava a assombrosa memria de nauseantes crimes cometidos por Ramis que, servindo-se dos encantos fsicos da sua esposa Catarina, incitava-a a atrair forasteiros vindos do interior do Rio Grande do Sul para a capital da provncia. Catarina atraia-os at a sua casa e, em dado momento do idlio amoroso, num determinado cmodo, abria aos ps destes amantes incautos um grande alapo pelo qual caiam num poro onde Ramis retirava-lhes todo o dinheiro, jias, roupas e calado, exibia sua pilhagem sua vaidosa e tentadora Catarina e depois, esquartejava-os, separando, com os golpes de sua machadinha e suas facas, as vsceras, carnes, sebo e tripas e com isto fazia as caras e gostosas lingias que por muito tempo foram consumidas nos mais saudveis lares porto-alegrenses. (7 de Janeiro de 1998) O medo popular diante da desapropriao estatal dos nossos corpos Aparentemente no ocorre nenhuma relao entre estes trs exemplos de prepotncia autocrtica ou totalitria. primeiro; nos meios universitrios ainda se invoca o princpio do notrio saber para a seleo de palestrantes e professores visitantes. A CPEN do rumoroso escndalo petista tambm adotava o mesmo critrio. Segundo: documentaristas da maior rede de televiso do Brasil impem classificaes antropocntricas s evolues dos vos dos beija- flores denominando-as de o ballet dos beija-flores......como se toda a natureza tomasse a nomenclatura humana como referncias para as suas aes e existncias. Terceiro: no Senado Federal brasileiro aprovada a lei proposta pelo stalinista petista sergipano Jos Eduardo Dutra pela qual todos os brasileiros que no estejam contaminados por quaisquer doenas infecto-contagiosas (a temos um precedente que pode at reforar posturas discriminatrias) e que no se dispuserem a enfrentarem quilomtricas filas para ressalvarem em suas cdulas de identidade que no sero doadores de seus rgos aps as suas mortes sero, portanto, considerados doadores presumidos aps o diagnstico de morte cerebral emitido por uma junta mdica no- envolvida com os interesses de mdicos ou de pacientes interessados em rgos para transplantes. Logo no incio da vigncia desta lei que estatiza de forma bem stalinista os corpos de brasileiros (criada a Corpobrs), em Janeiro de 1998, enormes filas de brasileiros temerosos, a maioria deles oriundos de camadas populares, passaram a se formarem nos postos onde requerero uma nova carteira de identidade que registre sua opo pela no-doao post-morten de seus rgos. muitos dos brasileiros que no aceitam a doao presumida temem o mercado negro de rgos que visceja em torno de ambientes mdico- hospitalares no confiveis. Esta autntica afirmao individual de cidadania me sugere uma reflexo mais aprofundada sobre o livro do historiador bahiano Joo Jos Reis intitulado A morte uma festa: ritos fnebres e revolta popular no Brasil do sculo XIX, editado em So Paulo pela Editora Companhia das Letras no ano de 1995. Eis o fato motivador das pesquisas de Joo Jos Reis: Extraordinrio acontecimento teve lugar na Bahia do sculo passado: uma revolta contra um cemitrio. O episdio, que ficou conhecido como Cemiterada, ocorreu em 25 de Outubro de 1836. No dia seguinte entraria em vigor uma lei proibindo o tradicional costume de enterros nas igrejas e concedendo a uma companhia privada o monoplio dos enterros em Salvador por trinta anos. A Cemiterada comeou com uma manifestao de protesto convocada pelas irmandades e ordens-terceiras de Salvador, organizaes catlicas legais que, entre outras funes, cuidavam dos funerais de seus membros. Naquele dia, a cidade acordou com o barulho dos sinos de muitas igrejas. Os mesmos sinos usados na convocao para missas, procisses, festas religiosas e funerais eram agora dobrados para chamar ao protesto coletivo. A reunio fora marcada para acontecer no terreiro de Jesus, no adro da igreja da Ordem Terceira de So Domingos. De suas sedes, marcharam para al centenas de membros de Irmandades. A imposio racionalista e irracional de uma concepo mais moderna de higiene e de asseio detonou em 1836 na capital bahiana a ecloso da Cemiterada, uma revolta popular contra a medicalizao damorte. A morte deixava o mbito subjetivo religioso e era deslocado para o mbito estatal ou privado da sade pblica. Tem ou no tem a ver com a tradio cultural brasileira estes dois lances? Servio de divulgao da boa msica clssica Embora j tenha consumido fragmentos da msica de George Gershwin (1898/1937), s hoje ouvi a sua Rhapsody in Blue inteirinha, executada pela Orquestra Ferde Grof e com Leonard Bernstein ao piano. Belssima!... No h nada melhor do que um dia depois do outro, apreciando e aprendendo... Gershwin o mais novo dolo do meu templo pago. Neste meu templo ofereci nichos para J.S.Bach, Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven, Frederic Chopin, Tchaikovsky, Vivaldi, Offenbach, frei Jesuno do Monte Carmelo, padre Jos Maurcio Nunes Garcia, Carlos Gomes, Francisco Mignone, Zequinha de Abreu, Pixinguinha, Lamartine Babo, Luiz Gonzaga, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Assis Valente e Heitor Villa Lobos. Agora Gershwin acaba de ser entronizado em seu merecido nicho. Oua-o! Vai ficar maravilhado. (9 de Janeiro de 1998)  Uma tarde feliz (.....) A cmara regurgita de vates, o hospcio tem dzias de versejadores, as escolas grosas de nefelibatas, a cadeia fornadas de elegacos. (...) J em tempos tive vontade de escrever um livro notvel sobre o lugar da janela na civilizao carioca.(Joo Paulo Alberto Coelho Barreto, vulgo Joo do Rio mulato, gordo, homossexual, no tinha estampa para o Itamaraty, cronista, ensasta, jornalista, viveu entre 1881 e 1921 no Rio de janeiro, obviamente)" H dias venho ouvindo seguidamente cds. com msicas interpretadas por Carmem Miranda. Estas msicas, longe de me enjoarem, me trazem uma certa nostalgia feliz e um certo orgulho por conhecer to bem e h tantas dcadas o nosso maravilhoso Rio de Janeiro. L tambm, a quase mil quilmetros da capital cultural brasileira, uma inesquecvel crnica de Carlos Heitor Cony sobre a biografia e a obra do meu conterrneo Ary Barroso (nasc em Tabuleiro, perto da sua mineira e deliciosa Ub). Na tarde do domingo, trinta de Novembro de 1997, viv uma das mais felizes tardes de toda a minha vida de quase 46 anos. Fui gostosa praa da Vila Tibrio, praa com o potico nome de Corao de Maria do Rosrio... Lgico, estou em Ribeiro Preto, estado de So Paulo, onde vivo e trabalho. Nesta praa da Vila Tibrio fui passear com o meu cachorro. Este meu cachorro Arago, de quase treze anos, corria e deitava entre rvores, arbustos e relvas, plantas decorativas. Eu ficava perdido, quase sonolento e beira de um sonho, com uma deliciosa ventania sob um sol inclemente; o ondular das gramas, capins e plantas decorativas assanhadas pelo vento; as meninas gangorrando seus ancestrais anseios de aves voadoras em tempos que prenunciam nossa chegada ao planeta Marte. Olhando estas insaciveis gangorradeiras pensei como as brincadeiras infants nos ajudam a nos ajustar ao mundo prtico da vida que s os caminhoneiros conhecem. Ainda vive dentro de mim o deslumbramento de menino que acaba de ganhar inesquecveis caminhes e carros que eram movidos a corda. Chegando em casa com o Arago feliz e com a lngua de fora, tomei um lanche (granlia, leite, suco de maracuj e biscoitos sequilhos) . Ouvindo Carmem Miranda tomei um delicioso banho com sabonete Biocrema e logo depois, beb uma cerveja no-alcolica (de latinha). Recortei os jornais e arquivei os recortes colhidos neste fim de semana, reservei alguns destes recortes para as hemerotecas das escolas municipais ribeiro pretanas, escrev esta crnica que meu amigo Walter ir digit-la (ou, quem sabe?, eu mesmo o fao). E, a sent aquela feliz sensao do dever cumprido; sensao de um dia bem vivido; com liberdade para aliviar o calor deitando no cho frio da sala!... Mas, nada de restries!... Hoje foi um dia de exageros, gulodices, pratos altos como torres babilnicas ou aztecas. E a extravagncia que me felicita. No saberia viver o tempo todo com sapatos, meias, carpetes, lenos, palets, gravatas, cartes de crditos e outros cips da nossa civilizao. Outra coisa feliz = ouvindo Carmem Miranda cantando a msica de Lamartine Babo intitulada Isto l com Santo Antonio perceb a deliberada inteno do mitolgico compositor de criticar a corporativista burocracia do Estado Novo!... Fiquei em xtase.  Vrios contos num s conto ou leia um e pense em vrios outros conto de Neobarroco Eu tenho muitos casos para contar. Primeiro: quando eu morava na rua Frei Santo, minha lavadeira era uma senhora idosa e viva que nunca se cansava de se lembrar do marido e que tinha como mais prximo e fiel amigo o seu papagaio de 28 anos de idade. Todos os dias, esta senhora colocava o seu louro com gaiola ou puleiro na rvore que existia na frente da sua casa. Um dia, dona Lcia, a dona do papagaio, foi recolh-lo e cad? Roubaram o nico amigo que lhe restara!.. Que covardia!... Segundo conto: minha tia Dilma parecia com uma atriz de Hollywood e, por ser to bonita, fez questo de se casar com um cara estranho que fumava cachimbo, fazia filmes e fora um dos coroinhas mais amado pelo padre da igreja de So Matheus. Casou sem saber que seu marido Joo era homossexual... E com ele teve um casal de filhos. Brigavam muito. Um dia, ou melhor, uma noite apanhou o seu marido na cama com um dos motoristas da sua frota de txi. Entrou com um processo na Cria Arquidiocesana de So Paulo para anular o seu casamento com o Joo e teve a sua petio aprovada pelo Vaticano. E casou-se com o amante do seu marido. E, anos depois, misteriosamente, seu ex-marido Joo apareceu morto com 28 punhaladas num casaro numa rua central da cidade, numa cama rodeada por dois dos seus cachorros mais fiis. Quando o casal de filhos da tia Dilma ganhou idade e comeou a se casar e a se descasar sucessivamente, ela estava com cncer na boca . Seu mal obrigou-a a submeter-se a uma cirurgia de alto risco no pescoo. Durante a cirurgia o mdico cometeu alguns equvocos que prejudicaram radicalmente a mobilidade dos seus membros superiores e a mutilou de forma to trgica que tia Dilma tinha seguidas crises de desespero. E seus filhos em vez de lhe darem todo o apoio merecido, afastaram-se... sumiram... At o filho Denilson, que pouco antes do diagnstico da doena ser conhecido morava num apartamento no fundo da casa da me, tratou de mudar-se de residncia, indo morar bem longe da me. Sem empregada e sem o apoio que esperava dos seus parentes, tia Dilma morre de depresso e de cncer, aps cinco dcadas de intenso tabagismo e dirio convvio com produtos qumicos usados em sales de beleza. Terceiro: um escorpio escuro matou o filho de uma empregada da mame. Foi assim, sete horas da noite, este menino da Felinha jantou e foi dormir com a barriga cheia. Eles moravam numa casa de pau-a-pique e sap. O escorpio saiu de uma das fendas da parede de barro e picou o menino que logo logo comeou a ter uma enorme quantidade de manchas roxas pelo corpo. Levaram-no para o hospital mais prximo, que estava na vizinha cidade de Rio Pomba, mas de nada adiantou. J chegou l morto. Quarto: quando vou cidade em que nasci e da qual sa h mais de trinta e trs anos l chegando eu me sinto um estrangeiro. E onde eu moro sou considerado um forasteiro. Quem sou eu ou de onde sou eu? Eu sou de algum lugar ou meu lugar dentro de mim mesmo? Bem diziam os sbios medievais para os quais a vida humana na Terra essencialmente um desterro, um exlio. Quinto: uma colega de trabalho vive a louvar e a citar passagens da biografia da cantora lrica Maria Callas. Para ela, alm dos seus mritos artsticos, Maria era resoluta e determinada. Uma mulher empedernida que teve a coragem de negar ajuda prpria me, que lhe explorara no incio da sua carreira. Sexto: conheci a me da parteira que me tirou de dentro da minha me. Vivia na casa da dona Maricota, me da parteira que todos na minha idade chamavam em minha cidade natal de vov Lilica. Sua casa tinha cisterna com boca de pedra, bas recheados de revistas com fotos em vrias tonalidades de azul e de marrom, datadas das duas ou trs primeiras dcadas do sculo XX. Revistas que eu no me cansava de folhear. As camas destas ancis eram de ferro com design cheio de linhas voluptuosas, bem ao estilo belle poque. Nem sei como elas vieram a morrer.. ou..nem me lembro mais das suas mortes.. mas que j morrerem h muito tempo, isso j, lgico... seno j estariam com mais de 150 anos, o que inconcebvel em nossa presente condio humana. Mas quanto mais me aproximo do meu meio sculo de vida menos gente viva em meu passado eu localizo. Est prximo o meu fim. Oitavo conto: eu sei que o nmero oito um dos smbolos do infinito, mas neste oitavo conto trato de narrar o meu enterro. Morri num hospital, longe dos meus. Antes de morrer, colecionei fios de meus cabelos e lascas das minhas unhas para os meus amigos eternizarem tais partculas do meu ser em seus relicrios. No dia em que acordei morto e roxo, a manh estava fria e nublada como quando papai morreu. O maior incmodo trazido ou ocorrido aps a minha morte foi a correria dos raros amigos que se dispuseram a providenciar a documentao para a execuo e ritualizao do meu enterro. Indiferente a tudo isso permaneci em meu caixo at tamparem-no e me levarem para um cemitrio. Poucas pessoas e umas insistentes moscas participaram do meu velrio. No mais, foi como nos outros fretros... um rito para afirmar minha civilidade, pois no lhes custa lembrar que as primeiras civilizaes nasceram quando comearam a organizar os enterros de seus mortos. E, assim, com estas notaes sobre o meu humano enterro, encerro esta coletnea de contos que do o que pensar. The End.  Vertical Horizontal De dia, acordados pela razo solar vertical, hierarquizamos o mundo, ordenando-o com nossos valores-simulacros. noite, pelos pesadelos envolvendo seres sensuais e peludos como animais, nos defrontamos com as grades e as mscaras curriculares e corriqueiras, horizontalizamos paisagens dos nossos mundos fragmentrios, vivemos plenamente o caos labirntico da desordem infinita e horizontal. O mapa lingustico brasileiro, com os mltiplos escrachos e desleixos que cometemos com a nossa lngua portuguesa, estaria revelando, at hoje, as intensas ou as agudas resistncias tupi-guarani e afro-brasileira lngua dos brancos, cristos e colonizadores? (....) Eu defendo um olhar alucinado sobre a histria, um olhar que no aceita a histria como arquivo. poeta Horcio Costa. Na noite passada sonhei muito com a satisfao do meu desejo de comer muito bolo de milho com erva-doce, ou broa ou cub como dizem l onde nasci. Em meio a esses sonhos eu conversava animadamente com a minha av paterna, a falecida dona Argelina. Quantas saudades dos papos que entabulvamos!... Ser que Hegel tinha razo quando pensou que a concentrao de passado no presente constitui a natureza humana? O lembrar, s vezes, aleatrio aliciamento de Alices despencando nos abismos involuntrios da memria. Meu paraso agora todo de goiabada e de Monteiro Lobato. No busco mais o tempo perdido: eu vivo o tempo que perderei. Ns que aqui estamos por vs esperamos. Ablues so eventos fisiolgicos desconsiderados por Caldern de la Barca em A vida sonho. Ablues so lavagens superficiais refrescantes que nos aliviam epidermicamente para melhor sentirmos a leveza de um momento de prece pelo mundo. O contedo assrio-babilnico do patriarcalismo bblico e cristo no me leva a acreditar nos clichs dualistas e comparativos entre Oriente e Ocidente. A retrica clerical barroca se referia amide a este contedo mesopotmico agregado s complexidades do homem contemporneo. Minha av, depois de morta, foi morar na lua. E l vizinha de uma amiga que sonhava com ciganas esparrachadas em sales ladrilhados de hotis turcos. Os pssaros so to expressivos!... A alma requer expressividade. Fingir trair-se, autodepreciar-se. Um primo horrorizava-se com a voracidade brutalizante do meu animalesco apetite. Quando lia textos de Simone de Beauvoir, eu sentia que ela era estrangeira, de outra classe social e avanada em sua fidelidade a si mesma. J a escrita de Marguerite Duras, julgava, estava mais prxima da minha. O ressurgimento de literaturas enigmticas e exticas, ps- surrealistas, seria um processo de reciclagem esttica do passado? Uma ruminncia do homem do final do sculo XX? Kafka nos mostrou um mundo kafkaniano ps-pr-cambriano e muito craniano e cerebral. No sei se, aps a minha morte, irei morar num deserto lunar ou em Saturno. Adoro anis planetrios de poeira csmica!...  Viva a baronesa das frutas!... (...) Os americanos representam grande parte da alegria existente neste mundo...Americanos no so americanos, so os velhos homens humanos chegando, passando, atravessando... Caetano Veloso Sua sala tinha marinhas e anjos, alm de sofs recobertos com couro colorido de verde e braos de madeira envernizada e cheiro de cachorros ancios. Era magra e usava saia estilo Olvia Palito, sampaca, dentua e egiptomanaca. Descendente da aristocrtica famlia dos Malta de Minas Gerais e Rio de Janeiro, ocupava um solar branco, com janelas verdes, e mal conservado. Uma casa antiga, ilhada por edifcios da rua Dr. Constantino Paletta, no centro de Juiz de Fora Minas Gerais. Seu nome: Dila. Acolhia em seus domnios legies de patos, gatos e cachorros. Dois quartos da sua casa tinham at beliches para ces e gatos. Salv-los da indigncia e da violncia das ruas era a ltima nobreza que o mundo contemporneo reservou-lhe em sua decadente existncia. Embora fosse prima da Julimar, esposa do ministro juscelinista Vtor Nunes Leal (autor da clssica tese sociolgica intitulada Coronelismo, enxada e voto) e estivesse na condio de prima emprestada do crtico e futuro imortal Antonio Olinto e ainda descendesse de outro titular de cadeira na Academia Brasileira de Letras, sobrinha de Silva Mello, falecido confrade da manso literria de Machado de Assis, Dila Malta nunca passou de uma humilde pintora agregada Sociedade de Belas Artes Antonio Parreiras de Juiz de Fora e rf da professora Malvina do colgio Batista da Tijuca, Rio de Janeiro. E viuva de um eletricitrio alcolatra e homossexual chamado Antonio, com quem dormia acompanhada por alguns gatos e um romntico casal de cachorros formado por Cec e Per. (...) Meus 36 anos como psiclogo me ensinaram que em todas as sociedades h alguns indivduos que esto sintonizados, por natureza, com atitudes que visam inovao, e no ao conformismo... Timothy Leary 1920/1996. Pior destino coube a Aurora Bruzon, pianista de conceito internacional, sempre acompanhada por seu vampiresco e obeso amante annimo. Os conheci no hall do antigo Palace Hotel de Juiz de Fora, em 1969!.. O sorriso triste de Aurora me comove at hoje. Seu acompanhante tinha aquelas grossas sobrancelhas de francs e cheirava a fumo holands para cachimbo. Bochechudo, pescoo atarracado, aspecto exageradamente robusto. E ela, Aurora, fina, aristocrtica, infeliz, meiga e nostlgica ao me mostrar as fotos da sua marcante carreira de pianista, visivelmente interessada em que os dados que fosse me passando figurassem na reportagem que sobre o seu recital eu escreveria. Para tanto mantinha-se sempre aquiescente. E, nesta hora, Carlos Santana delirava multides hippies em Woodstock com seus ritmos alucinantes e psicodlicos. Nesta mesma poca, no trem Vera Cruz que ligava o Rio a Belo Horizonte, eu comeava a ler Cem anos de solido. E atravs do Waltinho do grupo Novo C.E.C. (Centro de Estudos Cinematogrficos), grupo fundado por Dcio Lopes, Carlinhos Miranda e outros intelectuais de Juiz de Fora nos anos 50 e que projetava filmes de arte na Galeria de Arte Celina Bracher, eu passei a conhecer mais que a msica de Janis Joplin e Jimmy Hendrix, com ele mergulhei fundo pela primeira vez no universo intelectual da Contra- Cultura. Hoje Waltinho um jornalista e crtico de arte do jornal Estado de Minas l de Belo Horizonte. E tambm nesta poca, como j deixei acima mais ou menos implcito, eu j escrevia e trabalhava como reprter da Gazeta Comercial de Paulo Lenz e Tho Sobrinho, de Juiz de Fora. E fazia no colgio estadual Sebastio Patruz de Souza o curso secundrio chamado Clssico, para os que fossem seguir carreiras da rea de Humanidades. Reminiscncias de 30 anos atrs!.. Cai de pra-quedas no labirinto metrpole So Paulo 1999... So Paulo um cemitrio com torres faiscantes em cima dos seus edifcios tmulos. O desespero de Vernica Voss... Meu amigo Jos Otvio Salles passeia de carro comigo. Ele, sem querer, foi me levando por onde eu e meu amigo Walter vivamos h quinze anos!.. Cenrios perdidos em minha histria em cacos como esta metrpole... cenrios que ainda me ferem, me doem l dentro. Nostalgia mata. Bixiga, Moema, Maurcio Villaa, cinemas, teatros, restaurantes, ruas, praas, estaes de metr, avenidas, centros culturais, sinagogas, igreja ortodoxa do Paraso, sanas, terminal rodovirio do Tiet, Arouche, minhoco, Glauco Mattoso, hotel de uma rede espanhola de hotelaria que, por um sistema de holofotes, troca de cor a toda hora, barracas de frutas, edifcios espelhados, self-service, nhocs, Ipiranga, Aclimao de Hudnilson Jr., Perdizes, vila Mariana, gua Branca, tnel Ayrton Senna... no h self-service que console minha fome. A reputao talvez seja a principal forma da arte. Harold Brodkey. (...) Quando deixarmos de roncar feito vespas em enxame ou nos volvermos cauda de redemoinho, ou quando terminarmos por escorrer sobre a terra como um relmpago de mortos, ento talvez chegue a todos o remdio. (Juan Rulfo 1918/ 1986 escritor mexicano). Estamos prximos de uma grande confuso ou j nela estamos emersos. J no consigo diferenciar o bem do mal. O mal contm o bem. O bem, por sua vez, contm o mal. No sei mais o que ilegal nem o que seja legal. As leis so convenincias noturnas congeladas em instituies mortas. J no sei o que seja humano ou desumano e, muito menos, o que diferencia o justo do injusto, pois todos querem a mesma coisa: o poder. H muito no sei o que mocinho nem o que bandido. H muito no creio em prncipes nem em princesas encantadas. Mas adoraria experimentar o sabor do sapatinho de diamantes da Cinderela. Uma mosca gorda listrada com as cores branca e preta veio posar no meu nariz de defunto e uma prima chamada ngela, uma magrela nojenta, veio espant-la. Dizem que a vagina desta minha prima aveludada... argh! que nojo! Ela foi criada l na Serrinha!..  Yoga para nervosos conto de: Neo-barroco S quem leu Joo do Rio, Lautramont e Baudelaire sabe explicar o meu descaso em relao aos escritos de Luiz Fernando Verssimo. S Freud explicaria o que eu vi na rua hoje: pai e filha vestindo roupas com cores idnticas!.. S uma cultura a-crtica como a que tnhamos poca dos sucessivos governos militares e a que ainda temos nesses tempos de desnorteios poltico-administrativos explicariam o fcil sucesso das msicas censuradas de Chico Buarque de Hollanda em suas corajosas e mrtires investidas contra o autoritarismo militar-consumista do Brasil 1964/2000 ou a confuso entre mdias poderosas, literatura e humorismo pretensamente crtico na grande vendagem dos livros de J Soares. Mas nem Sherlock Holmes, nem Agatha Christie explicariam convincentemente as ocorrncias que passo a lhes relatar. Dona Jlia era uma elegante e vaidosa bibliotecria numa repartio pblica de uma grande cidade do interior paulista. Roupas vaporosas, perfumes franceses e cortes de cabelo coadunantes com o seu perfil pessoal de uma senhora catlica viajada e de classe-mdia alta. Nas proximidades da sua mesa de trabalho afixava santinhos e, mesmo sobre a sua mesa, espalhava estampas com temas sacros do imaginrio catlico, livros sobre temas espirituais e religiosos, Dicionrio de Bons Conselhos, Aforismos e Mximas do moralista Emerson, jarrinhas com flores secas e delicadas, um rico exemplar da Bblia Sagrada com dorso dourado e aberto em algum salmo destacado por uma fitinha dourada, lencinho branco com meigos bordados tpicos objetos de uma senhora quase idosa e chic...alm de um perfumador de ambiente e alguns outros objetos ou coisas que sugeriam f, requinte e cultura. No era muito socivel. Seus trajes esvoaantes e seu jeito de mulher orgulhosa a afastavam da maioria dos funcionrios que trabalhavam na sua repartio. Como a biblioteca era pouco freqentada, ela l se trancava e por l ficava lendo, recortando textos xerocopiados, enviando ou recebendo malotes de livros de escolas ou, simplesmente, observando a buclica paisagem do bosque municipal (onde homossexuais, drogados e outros grupos marginalizados iam para cometerem suas transgresses), cenrio verdejante habitado por pssaros cantores e por macaquinhos famintos (aos quais atirava as cascas das frutas que levava para o seu principesco lanche das dez), ponto turstico amplamente visvel da nica janela da sala da biblioteca na qual dona Jlia trabalhava s pela manh. Embora faltasse de vez em quando ou no cumprisse rigorosamente seus horrios de servio pblico, mantinha-se altaneira, silenciosa, quase arrogante e isolada na sua sala de livros, antiga cela de mosteiro beneditino. Passava lpida, leve, ostentando passos nervosos de uma gara humilhada (mas resistente, herica e independente) toda vez que usava a passarela do poder, ou seja, os corredores da sua repartio, para se comunicar com seus superiores ou com funcionrios a ela subalternos, para assinar o ponto ou para pedir xerocpias de textos ou, ainda, se comunicar com usurios dos seus servios. Assim era a sua funcional rotina. Impassvel e imutvel e, s vezes, ausente, aptica e muito formal, quase cerimoniosa. Isto at que... ... .... Numa manh de sexta-feira, por volta das dez e meia, sem que da sua sala ningum ouvisse qualquer rumor ou rudo, vencendo todo o seu arrogante orgulho e com voz de pessoa agonizante e gravemente acidentada, Jlia- surpreendentemente- alcanou com dificuldade a porta da sala de Neide, em relao a qual sempre mantivera a sua aristocrtica mania de economizar gestos afetuosos, lhe implorando socorro, toda ensangentada! ... Neide trabalhava na sala mais prxima do local de trabalho da dona Jlia e no ouvira nada de anormal que explicasse tamanho estrago ou acidente vitimando sua colega de trabalho. Melhor dizendo, Neide era vizinha de claustro de dona Jlia. Com um dos cantos da sua boca afundados (como se tivesse levado um violento soco) e os dentes fora dos arcos gengivais, gotejando sangue e falando com dificuldade, Jlia foi socorrida por uma outra funcionria que desempenha neste rgo pblico o papel de relaes pblicas. Quanto mais tentava explicar o ocorrido, mais denso permanecia o misterioso e inexplicado evento. Jlia disse que tropeara numa cadeira mas isto no seria suficiente para lhe trazer tamanho trauma fsico. Se tropeasse numa cadeira com ps deslizando sobre rodinhas teria, em redor, mesas, estantes e outras cadeiras para ampar-la e os seus vizinhos de claustro ouviriam seus tropees e, dependendo do que percebessem, iriam at a sua sala para verem o que estava ocorrendo. Num exame acurado no cenrio ensangentado do seu acidente feito por algumas funcionrias daquela repartio algumas hipteses foram sugeridas (principalmente pela Neide): dona Jlia teria sido surpreendida por um incio de espasmo ou derrame cerebral seguido por um sbito desmaio, cuja durao ningum podia imaginar, e na queda perdera no s a memria mas, tambm, a integridade fsica da sua boca, dilacerada e obstruda por escuras placas de sangue coagulado. Outras sugeriram uma reao nervosa de Jlia displicncia de um guardinha que no atendera prontamente ao seu pedido de xerocpias. Horas depois do traumtico e misterioso acontecimento, soubemos que o seu estado era delicado, havia se submetido a uma cirurgia reparadora das regies labiais lesionadas (uma cirurgia plstica para reconstituir o lbio esquerdo e o arco gengival que o sustentava em termos de arquitetura fisionmica facial) e que ainda seria submetida, aps a reduo do inchao na regio machucada, a novas avaliaes de odontocirurgies. Dona Jlia ficar pelo menos quinze dias tomando s alimentos lquidos e, no mnimo, trinta dias afastada do trabalho. Sobre sua mesa, na tarde de sexta-feira, ainda continuavam junto com os objetos j arrolados, um copo plstico descartvel contendo uma parte do acar usado na tentativa de deter o sangramento em sua boca e um livro, de grossura mdia, com o seguinte ttulo: Yoga para nervosos.  RocketEdition TM eBooksBrasil www.ebooksbrasil.com Maio 2000 2000 Jos Luiz Dutra de Toledo joluduto@netsite.com.br HYPERLINK \l "000000_fusquinh_html" \o "Click here!"ndice     Trial version of ABC Amber Rocket eBook Converter http://www.processtext.com/abcrocketebook.html Trial version of ABC Amber Rocket eBook Converter http://www.processtext.com/abcrocketebook.html $%&'OPQstvwnfZfKh,5CJ\aJmH sH jrhVUmH sH h,mH sH 'j{h,h,OJQJU^Jjh,OJQJU^J*-h,>*B* CJOJQJ^JaJphsH*'jh,h,OJQJU^Jjh,OJQJU^J'h,B*CJOJQJ^JaJphsH-h,5B*CJOJQJ\^JaJphsHh,OJQJ^J$%&uveFkd$$If"I  34a-p Fkd$$If"I  34a-p $1$7$8$H$Ifp|A}, i k  ii1$7$8$H$$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$Fkd$$If"I  34a-p Q i j k * ²£ݣwaL9%jh,5CJU\aJmH sH (jh,5CJ0U\aJ0mH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *1j(h,h,5CJ0U\aJ0mH sH %jh,5CJ0U\aJ0mH sH h,5CJ0\aJ0mH sH j%hVCJUaJmH sH h,CJaJmH sH h,5CJ\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH %jS"hV5CJU\aJmH sH * + , h i k l 1 2 4 5 i j k 6 7 8 l ӽәӽәgӽәNӽә1j*h,h,5CJU\aJmH sH 1jY*h,h,5CJU\aJmH sH 1j)h,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1jC)h,h,5CJU\aJmH sH l m n o p q    ' ( * + _ ӽәӽәgӽәNӽә1j-h,h,5CJU\aJmH sH 1j,h,h,5CJU\aJmH sH 1j+h,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1jo+h,h,5CJU\aJmH sH _ ` a t u w x #$%IJLMӽәӽәgӽәNӽә1j*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1j-h,h,5CJU\aJmH sH /023ghiQRTUӽәӽәgӽәNӽә1jh1h,h,5CJU\aJmH sH 1j0h,h,5CJU\aJmH sH 1jR0h,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1j/h,h,5CJU\aJmH sH  wxz{:;=>rӽәӽәgӽәNӽә1j3h,h,5CJU\aJmH sH 1j 3h,h,5CJU\aJmH sH 1j~2h,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1j1h,h,5CJU\aJmH sH rst678[\^_ӽәӽәgӽәNӽә1j5h,h,5CJU\aJmH sH 1j55h,h,5CJU\aJmH sH 1j4h,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1j4h,h,5CJU\aJmH sH :;=>rst  >?@ghjkӽәӽәgӽәNӽә1j7h,h,5CJU\aJmH sH 1ja7h,h,5CJU\aJmH sH 1j6h,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1jK6h,h,5CJU\aJmH sH "#$./12fghӽәӽәgӽәNӽә1j:h,h,5CJU\aJmH sH 1j9h,h,5CJU\aJmH sH 1j9h,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1jw8h,h,5CJU\aJmH sH bcef+,./cdetuwxӽәӽәgӽәNӽә1jD<h,h,5CJU\aJmH sH 1j;h,h,5CJU\aJmH sH 1j.;h,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1j:h,h,5CJU\aJmH sH 9:;,-/0defӽәӽәgӽәNӽә1jp>h,h,5CJU\aJmH sH 1j=h,h,5CJU\aJmH sH 1jZ=h,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1j<h,h,5CJU\aJmH sH 789mnopqrӽәӽәgӽәNӽә1j@h,h,5CJU\aJmH sH 1j@h,h,5CJU\aJmH sH 1j?h,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1j>h,h,5CJU\aJmH sH qrtuFGHӽәӽәgӽәNӽә1jBh,h,5CJU\aJmH sH 1j=Bh,h,5CJU\aJmH sH 1jAh,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1j'Ah,h,5CJU\aJmH sH 89:EFHI}~ӽәӽәgӽәNӽә1jDh,h,5CJU\aJmH sH 1jiDh,h,5CJU\aJmH sH 1jCh,h,5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1jSCh,h,5CJU\aJmH sH  /////+022888h9A=S=ӽ~o~d~d~X~o~M~A~o~Mj^LhVUmH sH h,6]mH sH j5IhVUmH sH h,5\mH sH h,5CJ0\aJ0mH sH h,mH sH %j FhV5CJU\aJmH sH h,5CJ\aJmH sH (jh,5CJU\aJmH sH *+h,5>*B*CJ\aJmH phsH *%jh,5CJU\aJmH sH 1jEh,h,5CJU\aJmH sH //+088h9aaFaarr\sxzЦ $ii1$7$8$H$a$ ii1$7$8$H$1$7$8$H$S=DD,M>MK]]]_ `?`S`aaaFa}qqrrr\s~~@R")xyzЦ$ G ǽٽ[m #&8j YhVUmH sH jUhVUmH sH jRhVUmH sH h,5CJ0\aJ0mH sH jOhVUmH sH h,6]mH sH h,mH sH A G|}E~I;PVRVVl1$7$8$H$ ii1$7$8$H$$ii1$7$8$H$a$|}~(15Cnx@Oy   ,---%-:-8888F)FtIIIIIIPPGQ]QTTPVQVRVVVjehVUmH sH jbhVUmH sH h,6]mH sH je_hVUmH sH h,5CJ0\aJ0mH sH h,mH sH j9\hVUmH sH DVVWWYYYYYYYYZZI[^[d(d>dLdh4hllll mqq6rQrp|~|||af./0ANu3   X[~KOmuj ohVUmH sH jkhVUmH sH h,5\mH sH h,5CJ0\aJ0mH sH jhhVUmH sH h,mH sH h,6]mH sH Elll mam.0A  X[KOX[05d ii1$7$8$H$$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$X[05def9 : ; 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