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Atщ que numa madrugada de segunda-feira, o sonho aparece desfeito numa tela gigante no meio da praчa, no final de uma festa de Sуo Josщ. A segunda-feira que seria de cinzas estava apenas comeчando no instante em que o sonho de Cruzeiro do Nordeste acabou. Passa um minuto da meia-noite de domingo quando a imagem ampliada da atriz Sophia Loren anuncia: "Roberto!" Nenhum desses homens, mulheres e crianчas sentados na praчa com velas de romaria acesas precisa conhecer o tal Roberto – este que abre o sorriso escancarado dos vencedores -, para saber que perdeu. Roberto Benigni, o que fez de um campo de concentraчуo uma espщcie de parque de diversѕes no vitorioso A Vida Щ Bela, ri enquanto a professora Wanderlucy Bezerra, que dois anos antes, nessa mesma praчa, diante da banca da escrevedora Dora (Fernanda Montenegro) ditava uma carta para a mуe falecida, aponta os olhos molhados para a chama da vela. Fernando dos Santos, 34 anos, que trabalhou como seguranчa da equipe no tempo em que um sonho bom chamado Central do Brasil passou por aqui, chora como nуo chorou no dia em que o Brasil perdeu a Copa do Mundo para a Franчa. “A gente perdeu tanta noite de sono para fazer essas cenas bonitas...”, murmura, como se fosse um pouquinho dono daquelas cenas bonitas que o mesmo telуo exibira horas antes. CINEMA E PROGRESSO A praчa jс vai ficando vazia quando, duas horas depois, um Jack Nicholson em tamanho gigante traz o segundo e њltimo aviso fњnebre para Cruzeiro do Nordeste: Fernanda Montenegro, ou “a dona Fernanda”, ou simplesmente “a Fernanda”, tambщm nуo ganhou o Oscar, esse prъmio que dona Josefa Conceiчуo, 59 anos, nunca soube exatamente do que se tratava: “Oscar? Щ uma coisa feita de ouro, щ nуo?”. Dona Josefa, que no filme aparece rezando na Casa de Oraчуo quando Dora cai desmaiada, sѓ tinha uma certeza: fosse ou nуo fosse de ouro, esse tal Oscar era importante que sѓ. Importante para o Brasil? Para o cinema brasileiro? Antes de tudo, importante para este povoado de 600 e poucos habitantes рs margens de duas BRs que se cruzam. “A gente merecia ganhar”, desabafa a varredora de rua Quitщria Alves Feitosa, 50 anos, sete filhos, enquanto o plсstico verde da garrafa de guaranс que protege a chama da vela se dissolve em suas mуos. A histѓria de como o povo de Cruzeiro do Nordeste passou a merecer o Oscar comeчou a ser contada numa manhу de fevereiro de 1997, quando Walter Salles e sua trupe desembarcaram por ali. No princэpio, talvez fosse sѓ a oportunidade de ganhar dinheiro onde nуo havia dinheiro a ser ganho, o encantamento de ver andando na rua artista de cinema que nуo se via nem em cinema, porque cinema nunca teve mesmo. Mas em seguida, era jс uma ligaчуo antiga e eterna entre os moradores e o filme. Como se Cruzeiro do Nordeste e Central do Brasil fossem uma coisa sѓ. Enquanto o filme acumulava prъmios internacionais, a cidade ganhava calчamento, mсquina de transformar em potсvel a сgua salobra dos poчos, agъncia de Correios. E virava notэcia. TERRA DO OSCAR Para entender um pouco o que aconteceu nestes dois њltimos anos, podemos falar de duas meninas. Ou desses dois cadernos que elas carregam para baixo e para cima. Roseane Veras, cuja mуe щ faxineira na escola, tem 14 anos. Jщssica Talita Silva, filha de pai desempregado, tem 11. A cerimєnia do Oscar, essa de final infeliz, ainda nуo comeчou. O telуo exibe a cѓpia em vэdeo de Central do Brasil. Elas jс viram o filme um monte de vezes: na praчa, na escola e atщ no clube onde esta noite ­ ao contrсrio do sucesso obtido na vщspera pela banda Tampa de Crush ­ os forrozeiros da Chс de Boldo tocam para ninguщm, uma vez que o povoado estс em vigэlia diante do telуo. As meninas recitam em voz alta os diсlogos do filme, que conhecem de cor. Interrompem a dublagem para contar o que se passou: “Antes, tinha sempre alguщm indo embora daqui. Agora, tem atщ gente chegando!”, comemora Jщssica. “O povo de fora dizia que Cruzeiro do Nordeste era que nem carniчa, nуo prestava pra nada. Agora, щ a terra de Central do Brasil, a terra do Oscar”, completa Roseane, horas antes de Cruzeiro do Nordeste deixar de ser a terra do Oscar. Jщssica e Roseane tъm, cada uma delas, um caderno de autѓgrafos. Comeчaram com os de Fernanda Montenegro, Walter Salles, Vinэcius de Oliveira. Logo, os artistas acabaram. As duas passaram, entуo, a encher as folhas com as assinaturas de jornalistas: famosos como Maurэcio Kubrusly ­ encarregado de transformar a esperanчa e a dor do povoado em flashes ao vivo para o Fantсstico ­ ou completamente anєnimos ­ mas ainda assim importantes demais para um lugarejo onde nunca acontecia nada que merecesse a atenчуo dessa gente que chega do Rio, Sуo Paulo, Brasэlia com suas lentes e perguntas. Os jornalistas foram embora ontem mesmo, de madrugada. Talvez nуo voltem nunca mais. VIDA REAL Mas a vida em Cruzeiro do Nordeste nуo щ sѓ tristeza depois da noite do Oscar. O povoado e os moradores deixaram de ser nada e ninguщm. Da сgua encanada, sѓ Deus e o governo federal sabem, mas o calчamento comeчou a chegar. Na sexta-feira anterior, dia de Sуo Josщ, os Correios inauguraram a primeira agъncia comunitсria (para lugares com mais de 500 habitantes) do Brasil, justamente na cidade que serve de cenсrio para o filme onde as cartas quase nunca chegam ao destinatсrio. Com os R$ 1.800,00 doados por Fernanda Montenegro no inэcio do mъs, a escola vai ter cisterna e caixa d'сgua. “Como ensinar higiene para os alunos, se nуo podэamos dar a eles nem сgua para lavar as mуos?”, agradece a diretora, Lucilda Feitosa. “Central do Brasil abriu muitas portas. Quando a imprensa comeчa a se interessar por alguma coisa, os polэticos tambщm se interessam”, avalia o suplente de vereador Josщ Pereira da Silva, o Zezinho. “Mas eu vejo muita coisa que a gente sonhou indo para o ar: a conclusуo do calчamento, a сgua encanada...” Mais prѓspero comerciante do povoado, o dono do posto de gasolina Elias Siqueira ­ que, escondido nos telhados, fez com uma filmadora domщstica o making off clandestino de Central do Brasil ­ resumia numa frase a tragщdia do Oscar: “Tenho medo que tudo volte a ser o que era antes.” Mas o final dessa histѓria pode estar em aberto. Talvez a experiъncia de viajar com Dora e Josuщ faчa com que Cruzeiro do Nordeste nуo seja mais a mesma. Socorro, mulher de Fernando, o homem que de madrugada chorava o Oscar perdido, voltou a estudar depois de parir cinco filhos. Estс na sexta sщrie. Mсrcio, 18 anos, o filho mais velho, escreve e dirige peчas de teatro como nunca. E pode ser que, daqui para frente, todos lutem ainda mais pelo sonho da сgua encanada. Mas tambщm pode ser que a vida volte ao normal. Uma vida que, na vida real, nunca foi tуo bela em Cruzeiro do Nordeste.  01FHX^y=Jš Ќ Р в ‹œiwј k|Zd”Ÿ~DO^o! # $ њёњююшхшхпхпхшхпхшхпхпхпххпхпхпхх 6CJ]CJ 5CJ\CJ56CJ$\] 5CJ$\$GП Р е Ж hi9‘’“”žŸƒ! # $ §§§§§§§§§§§§§ћ§§§љ§$ ўАа/ Ар=!АЅ"АЅ#‰$‰%А i0@ёџ0 Normal_HmHsHtH4@4 Tэtulo 1$@& 5CJ\6A@ђџЁ6 Fonte parсg. padrуo4B@ђ4 Corpo de textoCJ$(џџџџGПРеЖ h i 9‘’“”žŸƒ!#&˜0€€˜0€€˜0€€˜0€€˜0€€˜0€€˜0€€˜0€€˜0€€˜0€€˜0€€˜0€€˜0€€0€€˜0€€˜0€€˜0€ƒ˜0€ƒ˜0€€$ $ $ &1G&”Ђ&џџJosщ Rezende Jr.5C:\Meus documentos\Correio\Site\Central (derrota).docJosщ Rezende Jr.5C:\Meus documentos\Correio\Site\Central (derrota).docJosщ Rezende Jr.5C:\Meus documentos\Correio\Site\Central (derrota).docJosщ Rezende Jr.5C:\Meus documentos\Correio\Site\Central (derrota).docJosщ Rezende Jr.5C:\Meus documentos\Correio\Site\Central (derrota).docJosщ Rezende Jr.5C:\Meus documentos\Correio\Site\Central (derrota).docJosщ Rezende Jr.aC:\WINDOWS\Application Data\Microsoft\Word\Salvamento de AutoRecuperaчуo de Central (derrota).asdJosщ Rezende Jr.aC:\WINDOWS\Application Data\Microsoft\Word\Salvamento de AutoRecuperaчуo de Central (derrota).asdJosщ Rezende Jr.5C:\Meus documentos\Correio\Site\Central (derrota).docJosщ Rezende Jr.aC:\WINDOWS\Application Data\Microsoft\Word\Salvamento de AutoRecuperaчуo de Central (derrota).asd&џ@€GG~јGG$@@џџUnknownџџџџџџџџџџџџG‡:џTimes New Roman5€Symbol3& ‡:џArial"ё‰№ФЉі„RІom[FP84 1!№ЅРДД€0d~ №пџџDate: Mon 22-Mar-1999Josщ Rezende Jr.Josщ Rezende Jr.ўџZр…ŸђљOhЋ‘+'Гй0€ˆАМифј   < H T`hpxфDate: Mon 22-Mar-19999ateJosщ Rezende Jr.199osщ Normal.doteJosщ Rezende Jr.19980щMicrosoft Word 9.09@PЗв@Œыїb˜Р@ђЅ|lС4ўџZеЭеœ.“—+,љЎ0 hp|„Œ” œЄЌД М оф 1 ~ќ Date: Mon 22-Mar-1999 Tэtulo ўџџџўџџџ !"#$ўџџџ&'()*+,ўџџџ§џџџ/ўџџџўџџџўџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџRoot Entryџџџџџџџџ РF фƒlС1€1TableџџџџџџџџџџџџWordDocumentџџџџџџџџ(SummaryInformation(џџџџDocumentSummaryInformation8џџџџџџџџџџџџ%CompObjџџџџoObjectPoolџџџџџџџџџџџџ фƒlС фƒlСџџџџџџџџџџџџўџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџџўџ џџџџ РFDocumento do Microsoft Word MSWordDocWord.Document.8є9Вq