ࡱ>  egXYZ[\]^_`abcd#`V% bjbjmm1  d8 \o2 ^ }ooooooo$0qhsooo}o}of9lp1o 85VnDQo,o0onD,t,t1o,t1o ooo\\\d\\\$  O Rio de Janeiro Atravs dos Jornais HYPERLINK \l "process1" \o "Click here!"000000-jornalfi  edio eBooksBrasil  O Rio de Janeiro Atravs dos Jornais Joo Marcos Weguelin Copyright: 1998 Escola do Futuro da Universidade de So Paulo Fonte Digital: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro A Escola do Futuro da Universidade de So Paulo www.bibvirt.futuro.usp Foto capa: Rio Orla - Galeria de Fotos do Rio de Janeiro http://www.rio-orla.com.br Verso para RocketEditionTM eBooksBrasil.com   HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!" 1888 - 1969 Desenvolvida por Joo Marcos Weguelin, esta pesquisa compila trechos de jornais de 1888 a 1969, retratando alguns dos personagens e episdios que influenciaram a histria recente brasileira - como o escritor Machado de Assis, o poltico Rui Barbosa e o msico Noel Rosa; a promulgao da Lei urea, a revoluo de 1964 etc. Foram consultados 62 jornais cariocas para reunir o acervo - o resultado, no entanto, um panorama que ultrapassa as fronteiras desse estado. HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Entre na pesquisa HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Fontes Bibliogrficas  Ano Tpico 1888 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Lei urea 1889 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Atentado contra D. Pedro II 1889 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Proclamao da Repblica 1892 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Jogo do Bicho 1892 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Primeiro bonde eltrico 1893 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Revolta da Armada 1897 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Salo de Novidades Paris no Rio 1897 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Atentado contra Prudente de Moraes 1900 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Bezerra de Menezes 1904 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Revolta da Vacina 1905 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Avenida Central 1908 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Machado de Assis 1909 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Teatro Municipal 1909 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Euclides da Cunha 1910 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Revolta dos Marinheiros 1912 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Baro do Rio Branco 1913 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Carestia 1913 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Pereira Passos 1914 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Edu Chaves 1915 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Pinheiro Machado 1918 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Alcindo Guanabara 1918 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Gripe Espanhola 1918 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Final da Primeira Guerra Mundial 1918 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Revolta dos Anarquistas 1918 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Olavo Bilac 1919 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Campeonato Sulamericano 1921 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Joo do Rio 1922 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Revolta do Forte 1922 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Lima Barreto 1923 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Rui Barbosa 1930 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Sinh 1930 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Revoluo de 30 1931 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Cristo Redentor 1935 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Intentona Comunista 1939 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Priso de Luiz Carlos Prestes 1936 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Pedro Ernesto 1937 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Noel Rosa 1937 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Golpe de 1937 1938 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Revolta Integralista 1945 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Vargas Deposto 1946 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Fechamento dos Cassinos 1950 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Copa de 1950 1952 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Francisco Alves 1954 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Morte Vargas 1962 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Mineirinho 1964 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Comcio da Central do Brasil 1964 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Revoluo de 1964 1968 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Edson Luis 1968 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Passeata dos Cem Mil 1969 - HYPERLINK \l "000000_jornalfi_html" \o "Click here!"Seqestro do Embaixador Americano  1) Lei urea (1888) "Lei 3.353 de 13 de Maio de 1888 Declara Extinta A Escravido no Brasil. A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Magestade o Imperador, o senhor D. Pedro II faz saber a todos os sditos do Imprio que a Assemblia Geral decretou e Ela sancionou a Lei seguinte: Art 1 - declarada extinta desde a data desta lei a escravido no Brasil. Art 2 - Revogam-se as disposies em contrrio. Manda portanto a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execuo da referida Lei pertencer, que a cumpram e faam cumprir e guardar to inteiramente como nela se contm. O Secretrio de Estado dos Negcios da Arquitetura, Comrcio e Obras Pblicas e interino dos Negcios Estrangeiros, bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de Sua Magestada o Imperador, a faa imprimir e correr. Dada no palcio do Rio de Janeiro, em 13 de Maio de 1888, 67 da Independncia e do Imprio. Princesa Regente Imperial - Rodrigo Augusto da Silva. Desde 1 hora da tarde de anteontem comeou a afluir no Arsenal da Marinha da corte grande nmero de senhoras e cavalheiros que ali iam esperar a chegada de Sua Alteza a Princesa Imperial Regente. As 2 horas e da tarde chegou a galeota imperial trazendo a seu bordo Sua Alteza a Princesa Regente acompanhada de seu augusto esposo Sua Alteza o Sr. Conde d'Eu, general Miranda Reis, e chefe de diviso Joo Mendes Salgado e dos ministros de agricultura e imprio. Sua Alteza trajava um vestido de sda cor de prolas, guarneado de rendas valencianas. Ao saltar no Arsenal foi Sua Alteza vistoriada pelas senhoras que ali se achavam, erguendo-se vivas a Sua Alteza e a Sua Magestade o Imperador. s 2 horas da tarde j era difcil atravessar-se o permetro compreendido nas proximidades do pao da cidade. Calculamos para mais de 10.000 o nmero de cidados, que ali aguardavam a chegada de Sua Alteza Princesa Regente. (...) Pouco antes das 3 horas da tarde, anunciada a chegada de Sua Alteza por entusiasmticos gritos do povo, que em delrio a aclamava, abrindo alas, ministrio, camaristas e damas do pao vieram receb-la porta. Acompanhada de seu augusto esposo, subiu a princesa, tendo formado alas na sacada grande nmero de senhoras que atiravam flores sobre a excelsa Regente. Em seguida a comisso do senado fez a sua entrada na sala do trono para apresentar a Sua Alteza os autgrafos da lei. Nesta raia acham-se direita do trono ministros e esquerda os semanrios e damas do pao. A comisso colocou-se em frente ao trono, junto ao qual estava Sua Alteza, de p, ento o sr. Senador Dantas, relator da comisso, depois de proferir algumas palavras, entregou os autgrafos ao presidente do conselho, para que este, por sua vez, os entregasse a Sua Alteza. O sr. ministro da agricultura, depois de traar por baixo dos autgrafos o seguinte: - Princesa Imperial Regente em nome de S.M. o Imperador, consente - entregou-os a Sua Alteza que os assinou bem como o decreto, servindo-se da riqussima e delicada pena de ouro que lhe foi oferecida. O povo que se aglomerava em frente do pao, ao saber que j estava sancionada a grande Lei chamou Sua Alteza, que aparecendo janela, foi saudada por estrepitosos vivas. (...)" Gazeta da Tarde, 15 de maio de 1888 "Durante o dia e a noite de ontem continuavam cheios de animao as festas comemorativas da liberdade nacional. A rua do Ouvidor, constantemente cheia de povo, apresentava o belo aspecto dos grandes dias fluminenses. As casas marginais primorosamente ornamentadas estavam repletas de senhoras. De tempos em tempos, aqui, al, acorria um viva aos heris da abolio cortava os ares estridentes. De ocasies em ocasies, um prestito passava saudando as redaes dos diversos jornais. Geral o contentamento, enfim, transbordando da grande alma popular, que andava cantando a epopia homerica da redeno." Cidade do Rio, 18 de maio de 1888 "A sesso do senado foi das mais imponentes e solenes que se tem visto. Antes de abrir-se a sesso, o povo que cercava todo o edifcio, com justificada avidez de assistir ao que ali se ia passar, invadiu os corredores e recintos da cmara vitalcia. As galerias, ocupadas por senhoras, davam um aspecto novo e entusiasmtico ao senado, onde reina a calma imperturbvel da experiencia. Ao terminar o seu discurso, o senador Correia, que se congratulou com o pas pela passagem do projeto, teve uma ovao por parte do povo. Apenas o senado aprovou quase unanimemente o projeto, irrompeu uma salva prolongada de palmas, e vivas e saudaes foram levantadas ao senado, ao gabinete 10 de maro, absolvio, aos senadores abolicionistas e a S.A. Imperial Regente. Sobre os senadores caiu nessa ocasio uma chuva de flores, que cobriu completamente o tapete; foram saltados muitos passarinhos e pombas. (...) Gazeta de Notcias, 14 de maio de 1888 "Continuavam ontem com extraordinria animao os festejos populares. Ondas de povo percorriam a rua do Ouvidor e outras ruas e praas, em todas as direes, manifestando por exploses do mais vivo contentamento o seu entusiasmo pela promulgao da gloriosa lei que, extingindo o elemento servil, assinalou o comeo de uma nova era de grandeza, de paz e de prosperidade para o imprio brasileiro. (...) Em cada frase pronunciada acerca do faustoso acontecimento traduzia-se o mais alto sentimento patritico, e parecia que vinham ela do corao, reverberaes de luz. Mal podemos descrever o que vimos. To imponente, to deslumbrante e magestoso o belssimo quado de um povo agitado pela febre do patriotismo, que s d'ele poder fazer idia quem o viu, como ns vimos. Afigura-se-nos que rarssimas so as histrias das naes os fatos comemorados pelo povo com tanta alegria, com tanto entusiasmo, como o da promulgao da gloriosa lei de 13 de maio de 1888." Gazeta de Notcias, 15 de maio de 1888 "O Carbonrio - Rio 14 de maio de 1888: - Coube ainda a muito dos descrentes desta reforma v-la realizada em nossos dias. Da essa alegria imensa, maior mesmo do que era dado esperar, de fato to auspicioso. Maior, porque a alegria de nossa populao to sincera, que no tem dado lugar a mais leves exprobao ao povo em sua expanso. Muitos eram os que desejavam de corao, ardentemente, anciosamente, mas no supunham v-la to cedo realizada. Foi talvez a isso devido a expanso relativamente acanhada do primeiro momento da lei. O golpe era muito profundo, a transformao era to grande como se fosse um renovamento da sociedade. Hoje como que nos sentimos em uma ptria nova, respirando um ambiente mais puro, lobrigando mais vastos horizontes. O futuro alm se nos mostra risonho e como que nos acena para um abrao de grandezas. Ns caminhavamos para a luz, atravs de uma sombra enorme e densa, projetada por essa assomrosa barreira colocada em meio da estrada que trilhavamos - a escravido. Para que sobre ns se projetasse um pouco dessa luz interna, que se derrama pelas naes cultas, era preciso que essa barreira caisse. Ento, apareceram para a grande derrubada os operrios do bem - uns fortes operrios, no parlamento e nas associaes ateram ombros assombrosa derrubada. E venceram! Foi ontem! Quando a grande barreira monstruosa da escravido desabou e caiu, sentiu-se a projeo de uma luz, que nos ilumina. Ficamos atnitos, deslumbrados, como se saissemos de um recinto de trevas para um campo de luz. Bem hajam os que tanto trabalharam por essa grande lei! No se poderia descrever o entusiasmo do povo desde o momento da promulgao da lei. A cidade vestiu-se de galas, o povo encheu-se goso, o governo cobriu-se de glria! Nas casas, como nas ruas, a alegria tem sido imensa, indizvel, franca e cordeal. Nenhum festejo organizado, nenhuma estudada e falsa manifestao de regozijo; de cada peito rompe um brado, de cada canto surge um homem, de cada homem sai um entusista. E por toda a parte o regozijo o mesmo, imenso, impossvel de descrever. que a felicidade que rebentou nesse dia imensamente grande, que completou para o Brasil a obra da sua independncia real, do tamanho de muitos anos de escravido. Devia ter sido assim to grande, to santa, to bela, a alegria do povo hebreu quando para alm das margens do Jordo, perdida nas nvoas do caminho terra do martrio, ele pde dizer ao descansar da fuga: - Enfim, estamos livres, e no seio de Abraham! Tanto podem hoje dizer os ex-escravos do Brasil, que longe do cativeiro, encontram-se finalmente no seio de irmos. Grande e santo dia esse em que se fez a liberdade da nossa ptria! O Carbonrio - 16 de maio de 1888 "Est extinta a escravido no Brasil. Desde ontem, 13 de maio de 1888, entramos para a comunho dos povos livres. Est apagada a ndoa da nossa ptria. J no fazemos exceo no mundo. Por uma srie de circunstncias felizes fizemos em uma semana uma lei que em outros pases levaria nos. Fizemos sem demora e sem uma gota de sangue. (...) Para o grande resultado de ontem concorreram todas as classes da comunho social, todos os partidos, todos os centros de atividade intelectual, moral, social do pas. A glria mais pura da abolio ficar de certo pertencendo ao movimento abolicionista, cuja histria no este o momento de escrever, mas que libertou provncias sem lei, converteu ambos os partidos sua idia, deu homens de Estado a ambos eles e nunca de outra coisa se preocupou seno dos escravos, inundando de luz a conscincia nacional.(...)" "Em todos os pontos do imprio repercutiu agradavelmente a notcia da promulgao e sano da lei que extingiu no Brasil a escravido. Durante a tarde e a noite de ontem fomos obsequiados com telegramas de congratulaes em nmero avultado e com prazer que publicamos todas essas felicitaes, que exprimem o jbilo nacional pela urea lei que destruiu os velhos moldes da sociedade brasileira e passou a ser a pgina mais gloriosa da legislao ptria." "O jbilo popular explodiu ontem como bem poucas vezes temos presenciado. Nenhum corao saberia conter a onda entusiasmo que o inundava, altaneira, grandiosa, efervescente. Desde pela manh, o grande acontecimento, que ser sempre o maior da histria brasileira, agitava as massas e as ruas centrais da cidade e imediaes do senado e pao imperial tinham festivo aspecto, constante e crescente movimento de povo, expansivo, radiante. Era finalmente chegado de atingir-se ao termo da grande conquista, campanha renhida, luta porfiada, sem trguas, em que a parte honesta da populao de todo o imprio se tinha empenhado desde h dez anos.O decreto da abolio tinha de ser assinado e para isso reuniu-se o senado extraordinariamente. (...) intil dizer que no rosto de toda gente transparecia a alegria franca, a boa alegria com que o patriota d mais um passo para o progresso da sua ptria. Fora como dentro o povo agitava-se irrequieto, em ondas movedias, espera do momento em que se declarasse que apenas faltava a assinatura da princesa regente para que o escravo tivesse desaparecido do Brasil. (...) Logo que se publicou a notcia da assinatura do decreto, as bandas de msica estacionadas em frente ao palcio executaram o hino nacional, e as manifestaes festivas mais se acentuaram prolongando-se at a noite. O entusiamo popular cresceu e avigorou-se rapidamente, e a instncias do povo Sua Alteza a Princesa Imperial assomou a uma das janelas do palcio, em meio de rudos e unnime saudao de mais de 10.000 pessoas que enchiam a praa D. Pedro II . (...)" O Paiz, 14 de maio de 1888 "No meio do entusiasmo do povo pelo sucesso do dia, revelava a multido a sincera satisfao pelas boas notcias que se haviam recebido acerca do estado de Sua Magestade o Imperador. O povo brasileiro no podia esquecer, nessa hora em que o ptria festejava a iniciao de uma nova era social, que em pas estrangeiro estava enfermo o seu Monarca, aquele que, verdadeiramente dedicado aos interesses nacionais, tem o seu nome inscrito nos fatos da histria do progresso do Brasil. (...)" Dirio de Notcias, 14 de maio de 1888 "Continuaram ontem os festejos em regozijo pela passagem da lei urea da extino da escravido. A rua do Ouvidor esteve cheia de povo todo o dia e durante uma grande parte da noite, sendo impossvel quase transitar-se por esta rua. Passaram encorporados os estudantes da Escola Politcnica, os empregados da cmara municipal e o Club Abraho Lincoln, composto de empregados da estrada de ferro D. Pedro II, todos acompanhados de bandas de msica. Uma comisso desta ltima sociedade, composta dos Srs. Henrique do Carmo, Loureno Viana, Bartolomeu Castro e Eduardo Dias de Moura, subiu ao nosso escritrio, sendo nessa ocasio abraada pela redao. (...)" "O tribunal do juri, ontem, manifestou de maneira eloqente que tambm se associava no regozijo geral pela extino da escravido. (...) Os empregados e despachantes da cmara municipal organizaram ontem uma esplndida e estrondosa manifestao aos vereadores, em regozijo extino total dos escravisados no Brasil. 1 hora da tarde mais ou menos, achando-se presentes todos os srs. vereadores, penetraram os manifestantes na sala das sesses, precedidos pela banda de msica do 1o batalho de infanteria. (...)" O Paiz, 15 de maio de 1888 AS MANCHETES Viva a Ptria Livre! Viva o Ministrio 10 de Maro! Viva o Gloriosa Dia 13 de Maio! Viva o Povo Brasileiro! Viva! (O Carbonrio) A Liberdade dos Escravos Hoje Lei do Pas (O Carbonrio) Brasil Livre Treze de Maio Extino dos Escravos (Gazeta de Notcias) As Festas da Igualdade (Cidade do Rio) A Gazeta da Tarde Ao Povo Brasileiro Pela Liberdade dos Escravos Lei 3353 de 13 de Maio de 1888 - (Gazeta da Tarde) A Festa Da Liberdade ( Gazeta da Tarde ) O Dirio de Notcias Significa Todo O Seu Jbilo Pela Nova Era da Vida E Da Nacionalidade Ontem Iniciada (Dirio de Notcias) Ave, Libertas! (O Paiz)  2) Atentado Contra D. Pedro II (1889) "Representava-se ontem no Sant'Anna a "Escola dos Maridos", traduo de Arthur Azevedo, e nos intervalos apresentava-se ao pblico a prodigiosa violinista Giulietta Dionesi. S.M. o Imperador, que desejava conhecer a traduo, tanto que supondo-o impressa mandara procur-la pelas livrarias, aproveitou o ensejo de ir ao teatro. O Sant'Anna achava-se repleto: platia e camarotes ocupados por pessoas da melhor sociedade; as galerias cheias da gente que de ordinrio a freqenta. No camarote imperial achavam-se, alm de SS. MM. o Imperador e a Imperatriz, SS. AA. a Sra. Princesa Imperial e o Sr. D. Pedro Augusto e camaristas de semana. O espetculo correu na melhor ordem. A atitude do povo era de todo o ponto pacfica e corts. Nem se quer se poderia suspeitar que houvesse ali o elemento de desordem que mais tarde se revelou. Terminado o espetculo, o povo que enchia o teatro procurou as sadas. A famlia imperial dirigiu-se para a porta, indo na frente a Sra. Princesa Imperial, seguida de Sua Magestade o Imperador, que dava o brao a Sua Magestade a Imperatriz e do Sr. Prncipe D. Pedro. O povo encostado para os lados, abria caminho a SS. MM., em silncio. Ao chegarem ao vestbulo do teatro, de um pequeno grupo de pessoas de baixa classe partiu um grito estentrico: "Viva o partido republicano". O Imperador parou imediatamente. Comeou ento uma confuso extraordinria. Grande nmero de pessoas prorompeu em vivas ao Imperador, acercando-se dele. As senhoras, tomadas de pnico, precitavam-se para o interior do teatro, de onde refluiam, empurradas pela onda dos que saiam. O tumulto generalizara-se: tanto na rua do Esprito Santo, como no largo do Rocio, nas circanias do teatro, vivas desencontrados se ouviram. Finalmente, pde S.M. tomar o carro, seguindo acompanhado do piquete, que o guardava de espadas desembainhadas. Ao passar, porm, pela frente da Maison Moderne, foram disparados trs tiros de revlver na direo do carro que o conduzia. Asseguram-nos que um desses tiros quase alcanou o Sr. D. Pedro Augusto. Felizmente S.M. o Imperador passou inclume. O sentimento da mais profunda indignao pintou-se em todos os semblantes dos que foram testemunhas desse baixo atentado. (...)" Novidades, 16 de julho de 1889 "Ontem noite quando terminava o espetculo no teatro Sant'Anna quando SS. Magestades Imperiais, SA. Princesa e SA. o Prncipe D. Pedro Augusto se dirigiam para o carro, um pequeno grupo de desordeiros levantou vivas Repblica. Travou-se ento um conflito que pouco durou pois foi abafado pela interveno do pblico sensato que tambm se retirava do teatro. Quando o coche imperial seguia para a praa da Constituio, um indivduo teve a leviandade de disparar um revlver evadindo-se em seguida para um estabelecimento prximo. Pouco depois, porm, foi preso pelo povo um homem que se supe ser o autor do atentado. hora em que escrevemos esta ele sendo interrogado na 1a estao policial." Dirio do Commrcio, 16 de julho de 1889 "SS. MM. e S.A. Imperial e S.A. o Prncipe D. Pedro, com seu sqito, se retiravam do teatro Sant'Anna, meia-noite de ante-ontem, quando no meio de um grupo que se achava porta do mesmo teatro partiu um viva Repblica. Abafado esse viva sob palavras e vivas monarquia, a D. Pedro II e famlia Imperial, gerais e estrepitosos, houve um ligeiro conflito, que mais susto causou do que teve resultados funestos. No meio desse tumulto, e aclamados pela multido, puderam os Augustos espectadores tomar o seu coche e retirar-se com sua comitiva e guarda. Apesar, porm, da retirada de SS. MM. e AA.., a agitao continuou por algum tempo e propagou-se pela vizinhana do teatro. Quando mais forte era o tumulto ouviu-se a detonao de um tiro de revlver, que foi dado prximo ao carro de SS. MM. quando este partia em direo do Pao da Cidade. Grande foi a confuso que causou esse atentado, que ningum podia prever nem esperar, o que deu lugar a ser impossvel, na ocasio, prender-se o criminoso, que evadiu-se, aproveitando-se do barulho e ocultando-se no meio da grande multido que estava no local. Entretanto, o agente da polcia Paulino Alberto de Magalhes capturou o espanhol Ramon Gonalves Fernandes sobre que caiam as suspeitas da autoria do crime. Em seu poder no foi encontrada arma alguma, nem foram suficientes as provas contra ele, pelo que foi posto em liberdade ontem de manh. Quando procediam as autoridades s primeiras diligncias chegou ao seu conhecimento que era conhecido o autor do atentado, que havia sido visto pelo Sr. Antnio Jos Nogueira, empregado do Maison Moderne. Por essas indicaes, das 2 para as 3 horas da madrugada, o 1o delegado de polcia, Dr. Bernardino Ferreira da Silva conseguiu prender, em um bonde da Companhia de Botafogo, na rua de Gonalves Dias, Adriano Augusto do Valle, que fra acusado de ter disparado os tiros de revlver." Dirio do Commrcio, 17 de julho de 1889 "Ao terminar o espetculo de ontem no teatro Sant'Anna, quando saam suas magestades, houve um grande movimento de povo dando vivas Repblica uns e outros monarquia, sendo em frente a Maison Moderne disparados alguns tiros. Ns os republicanos nada temos com essas arruaas, que devem ser levadas somente conta da polcia disfarada e da guarda criada para garantia do trono." Repblica Brazileira, 16 de julho de 1889 " (...) O desacato que sofreu o chefe do estado, alquebrado pelos anos e pela molstia, junto santa senhora que o acompanhava s pode ser levado conta da loucura daqueles que a todo transe procuram indispor e vilipendiar o nosso partido. Apelamos para o prprio imperador, e ele, que com coscincia nos diga, se julga que haja nesta terra um "verdadeiro republicano" que seja capaz de atentar contra a sua vida! Revolucionrios, sim, assassinos, nunca!" "Causou a mais viva impresso a notcia da deplorvel ocorrncia de ontem noite, s portas do teatro Sant'Anna e suas circumvizinhanas." Repblica Brazileira, 17 de julho de 1889 Um grupo, quando o Imperador saa do teatro em companhia de sua augusta famlia, levantou vivas repblica, o que produziu a maior confuso no povo, que em desafronta de Sua Magestade levantou vivas ao imperador. Sua Magestade embarcou em seguida no seu coche, que partiu a trote largo, e afirmam vrias pessoas que, no momento de passar aquele por defronte da Maison Moderne, ou Stat-Coblentz, ouviu-se a detonao de um tiro. Este fato deu ocorrncia o vulto de um atentado, que comoveu profundamente a opinio.(...) No podemos acreditar que houvesse a inteno de atentar contra a pessoa do Imperador. Repugna a ndole do nosso povo; no se conforma com os nossos sentimentos a premeditao de tal crime, contra o soberano que aboliu de fato a pena de morte. (...)" Cidade do Rio, 16 de julho de 1889 "Ontem, quando se retirava do teatro Sant'Anna, terminado o espetculo, foi sua magestade obrigada a parar porta de sada. Grande multido de indivduos achava ali postada e dentre ela partiu um grito sedicioso. Sua Magestade parou e no mesmo instante viu-se cercado por todos tantos o acompanhavam. Ao passar o carro em frente Maison Moderne, ouviu-se a detonao de alguns tiros. Fcil de imaginar-se o tumulto produzido por este fato. O piquete de cavalaria, que gurdava a carruagem imperial, marchou em disparada, acompanhando-a pela rua da Carioca, por ter o cocheiro fastigado os animais, afastando-os do lugar tumultuoso. A polcia compareceu imediatamente e foram dadas vrias ordens para conhecer-se qual o autor do atentado, at ento desconhecido. Intimadas vrias pessoas para virem Polcia, conseguiu por fim o dr. Bernardino Ferreira, 1o delegado, conhecer a verdade, por denncia de um cavalheiro. (...) A populao brasileira foi hoje dolorosamente impressionada, tomando-se da mais justa indignao pelo estpido atentado cometido ontem, noite, contra Sua Magestade o Imperador, quando este retirava-se com Sua Magestade a Imperatriz do teatro Sant'Anna. Era o sr. D. Pedro II o nico soberano deste sculo contra quem no tinha havido atentado de espcie alguma e isso abonava principalmente a brandura do corao brasileiro e dos nossos costumes. Infelizmente, houve ontem um atentado que no podemos atribuir seno inconscincia de quem o praticou: ou loucura ou embriaguez, pois, por honra do partido republicano, no acreditamos que tal ato dele partisse. Esse triste acontecimento ainda uma das consequncias da profunda anarquia que lavra nos espritos do Brasil, onde todas as noes de direito, dever e liberdade acham-se completamente obliteradas." Gazeta da Tarde, 16 de julho de 1889 AS MANCHETES Atentado Contra o Imperador Tiros de Revlver Priso do Criminoso (Novidades) Lamentvel (Dirio do Commrcio)  3) Proclamao da Repblica (1889) "A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, pois pode-se considerar finda a Monarquia, passando a regime francamente democrtico com todas as consequncias da Liberdade. Foi o exrcito quem operou esta magna transformao; assim como a de 7 de abril de 31 ele firmou a Monarquia constitucional acabando com o despotismo do Primeiro Imperador, hoje proclamou, no meio da maior tranqilidade e com solenidade realmente imponente, que queria outra forma de governo. Assim desaparece a nica Monarquia que existia na Amrica e, fazendo votos para que o novo regime encaminhe a nossa ptria a seus grandes destinos, esperamos que os vencedores sabero legitimar a posse do poder com o selo da moderao, benignidade e justia, impedindo qualquer violncia contra os vencidos e mostrando que a fora bem se concilia com a moderao. Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva a Liberdade!" Gazeta da Tarde, 15 de novembro de 1889 "Despertou ontem esta capital no meio de acontecimentos to graves e to imprevistos que as primeiras horas do dia foram de geral surpresa. Rompeu com o dia um movimento militar que, iniciado por alguns corpos do exrcito, generalizou-se rapidamente pela pronta adeso de toda a tropa de mar e terra existente na cidade. A conseqncia imediata desses fatos foi a retirada do ministrio de 7 de junho, presidido pelo Sr. Visconde do Ouro Preto, que teve de ceder intimao feita pelo Sr. Marechal Deodoro da Fonseca que assumiu a direo do movimento militar. exceo do lastimoso caso do Sr. Baro do Ladrio, que no querendo obedecer a uma ordem de priso que lhe fora intimada, resistiu armado e acabou ferido, nenhum ato de violncia contra a propriedade ou a segurana individual se deu at o momento em que escrevemos estas linhas. (...)" Jornal do Commrcio, 16 de novembro de 1889 "O dia de ontem foi de surpresas para a pacfica populao industrial desta cidade. Um mimistrio forte deposto sem combate, uma revoluo militar triunfante, os corpos constitucionais arredados sem discusso alguma e o regime de governo atacado com xito inesperado, so fatos que pareciam inexplicveis se no se conhecesse a ndole especial desta cidade, sempre disposta a aceitar os fatos consumados. (...) A revoluo de ontem filha unicamente das energias e esprito de classe dos militares, e foram os oficiais superiores que, passando-se para a causa democrtica, a tornaram vencedora no momento. Os elementos civis foram nulos ou improficuos e s apareceram depois de realizado o movimento, e segundo de esperar, para ocupar as posies oficiais. portanto, a classe militar que deve se considerar como nico poder existente de fato e do qual depende o xito ou insucesso da revoluo. Mesmo por no andar envolvida em nossas intrigas civis, mesmo pelas suas ilesas virtudes cvicas, que a classe militar poder evitar-nos os inconvenientes de uma surpresa que no tem ainda a sano do voto nacional." Dirio do Commrcio, 16 de novembro de 1889 "Constando ontem ao conselheiro de estado Andrade Figueira que os ministros do 6 de junho estavam presos no quartel general, dirigiu-se para ali s.ex.., e antes de falar aos ministros soube que a ordem de priso j havia sido suspensa. O conselheiro Andrade Figueira, ao ver os ministros, animou-se a se retirarem para suas reparties, prestando-se a acompanh-los, ao que no quiseram anuir, no obstante ponderar-lhes a convenincia de desvanecer-se assim o boato que corria. Ento os ministros declararam que haviam sido depostos de seus cargos pelo exrcito. intil encarecer a gravidade dos acontecimentos. Os nossos conselhos e advertncias, embora moderada e imparcialmente feitos, no foram atendidos. a situao to difcil que s d prudncia e do patriotismo se deve tirar conselho." A Nao, 16 de novembro de 1889 "Aps a gloriosa revoluo ontem efetivada e da qual resultou a deposio do sr. d. Pedro, que exercia em nome da Santssima Trinidade, o absoluto poder magesttico sobre o povo do Brasil, ao esprito pblico desde logo cedo acudiu a necessidade urgentssima de fazer sair quanto antes do solo da Ptria a famlia que deixou de reinar. Ontem mesmo esperava-se que essa indispensvel medida fosse prontamente executada pelo Governo Provisrio; mas as atenes com que os membros desse governo cercaram a pessoa do monarca decado chegaram, parece, ao ponto de permitir a D. Pedro a mais inteira liberdade de ao. O ex-Imperador abusou da magnanimidade com que era tratado, e, em vez de submeter-se revoluo triunfante, tentou opor-lhe meios em cuja eficcia s a verdadeira insnia poderia acreditar. reuniu o conselho do Estado pleno, e, no aceitando o fato consumado da sua deposio e da organizao do Governo Provisrio Republicano, quis confiar ao Sr. saraiva a incubncia de formar novo gabinete, malogrando assim os efeitos da revoluo vitoriosa. (...) Era imponente o aspecto que apresentavam as foras de terra e mar, firmadas no Campo da Aclamao, desde o amanhecer, em frente ao quartel do 1o, onde conservava-se prisioneiro do povo e dos militares o gabinete decado. Em constante evoluo, ao mando do general Deodoro da Fonseca, viam-se o 1o e 9o regimentos de cavalaria, 2o regimento de artilharia de campanha, 1o, 7o e 10o batalhes de infantaria, corpos de imperiais marinheiros e navais, corpos de alunos das escolas militares da praia Vermelha e Superior de Guerra, corpo de bombeiros e corpos de polcia da corte e provncia do Rio. Ali permanecendo durante horas, senhora da praa, a fora levantava sucessivos vivas liberdade, ao exrcito e armada, Repblica Brasileira! Cerca de 9 horas da manh, intimao do povo e do exrcito, o gabinete declarou-se demitido, pedindo o senhor Visconde de Ouro Preto ao general Deodora da Fonseca garantia para a sua pessoa e dos seus colegas. O sr. general respondeu-lhe que o povo e o exrcito no ofenderiam os cidados destitudos do governo e que os ex-ministros podiam se retirar na maior tranqilidade, como aconteceu. Ao ser comunicada ao povo e aos militares a queda do ministrio, levantaram-se aclamaes de todos os lados Repblica Brasileira e vivas estrepitosos, enquanto o parque de artilharia dava uma salva de 21 tiros, com os canhes Krupp assestados para a secretaria da guerra. O general Deodoro, o Sr. Quintino Bocayuva e o tenente-coronel Benjamin Constant foram ento disputados pelo povo e pelos militares, que os carregavam em verdadeiro trinfo. (...) Durante todo o dia e at alta hora da noite o povo percorreu as ruas do centro da cidade, formando diversos grupos precedidos de bandas de msica. Expansiva em seu entusiasmo, a populao erguia vivas e saudaes imprensa livre, aos bravos do exrcito e armada, ao general Deodoro, a Quintino Bocayuva e Repblica Brasileira. (...)" Correio do Povo, 16 de novembro de 1889 "A monarquia um dos muitos males necessrios a que esto sujeitos os povos de hoje, entregues influncia anarquista do militarismo e sujeitos s depredaes dos poderes doirados! No Brasil, o caso apresentou-se como um fenmeno de medo, espcie de terror coroado, que espantou de Portugal o rei Joo VI e o atirou, atnito, entre a exuberncia grandiosa de nosso clima e o incitarmento revolucionrio de nosso sangue. Um rei sempre o frio para um povo. (...) Comecemos de pensar. Esta Repblica que veio assim, no meio do delrio popular, cercada pela bonana esperanosa da paz; esta Repblica no sculo XIX que surgiu com a preciso dos fenmenos eltricos, sem desorganizar a vida da famlia, a vida co comrcio e a vida da indstria; esta Repblica americana que trouxe o smbolo da paz, que fez-se entre o pasmo e o temor dos monarquistas e a admirao dos sensatos - esta Repblica um compromisso de honra e um compromisso de sangue. (...)" Repblica Brazileira, 21 de novembro de 1889 "A populao desta cidade foi hoje, ao acordar, sobressaltada pela notcia de graves acontecimentos que se estavam passando no quartel general do exrcito, em ordem a despertar as mais srias inquietaes. Era assustador o aspecto que oferecia a praa da Aclamao, na parte em que se acha situado o referido exrcito e circumvizinhanas. O quartel estava fechado e guardado por uma fora do corpo militar de polcia, de baioneta calada, pronta ao primeiro ataque, corpo de bombeiros, 1o batalho de infantaria e batalho naval, municiado e dispondo de uma metralhadora. Deviam embarcar hoje dois batalhes, e como boatos alarmantes se haviam propalado sobre a provvel recusa daqueles corpos do exrcito, o ministrio providenciara para que se fizesse o embarque sem novidade. O Sr. Ministro da Guerra conservou-se at adiantadas horas da noite na sua repartio. Nmero superior a 400 praas do corpo de polcia estiveram de prontido, sendo retiradas at algumas que se achavam de servio nas estaes. Os regimentos de cavalaria nos 1 e 9 e o 2o de artilharia manifestaram-se em revolta e armados intentaram atacar o quartel general e do corpo de polcia. O comandante de um dos regimentos de cavalaria abandonou o quartel vista do nimo exaltado das praas. (...) No arsenal da marinha permaneceram at pela manh os srs. ministros da justia e marinha. (...) A verdade, porm, que o sr. ministro da marinha se apresentou porta do quartel general, sendo-lhe impedida a entrada pelo Sr. General Deodoro; respondendo o ministro que o governo ia cumprir o seu dever, puxou dois revlveres, empunhando-os em posio de disparar. Nessa ocasio um praa do exrcito disparou alguns tiros que atingiram S. Ex.. O sr. ministro caiu ferido, sendo transportado em braos para o palacete Itamaraty. Seguiram para a praa da Aclamao o corpo policial da provncia do Rio e contingente do batalho naval. Todo o movimento social da cidade acha-se paralisado. O comrcio em grande parte fechou as portas. As ruas mais freqentadas nos dias ordinrios esto desertas; raros transeuntes passam, apressados, como perseguidos. (...) O servio de bondes feito com grande irregularidade; h longos intervalos no trnsito dos carros, que chegam aos pontos de estao aos grupos de cinco e seis. (...) O pnico anda no ar e nas conscincias. (...)" Novidades, 15 de novembro de 1889 "Desde ante-ontem que o Brasil uma repblica federativa. O exrcito e a armada nacionais, confraternizando com o povo, completaram a limpeza da ptria, comeada no dia 13 de maio de 1888. (...) No se faz poltica na Vida Fluminense, no, senhores, no se faz. (...) Entretanto, para no espantar o leitor, diremos desde j que a nossa poltica ser mais o apanhado da peltica dos pelotiqueiros baratos que para maior glria desta terra esto a govern-la, do que prelees ligeiras sobre os rasgos da Razo Pura ou circular do ilustre sr. baro do Paran. Acresce ainda que a poltica e a preocupao constante deste pacientssimo povo, que toma caf dez vezes ao dia, no vacilando em gastar sucessivamente muitos trs vitens, isto , trs vezes mais do que aquela clebre moeda que clebre tambm tornou o honrado sr. presidente do conselho. (...) Peloticas e pelotiqueiros o que se encontra a dar com o pau. Veja-se a peltica do ministrio em relao ao exrcito. Dissemin-lo pelo Imprio, mas dissemin-lo de forma que em cada cidade fique apenas uma ala de batalho, e depois licenci-lo, aquartelando em seguida alguns batalhes da guarda nacional, eis o plano, ministerial, que desde sete dias corre de boca em boca, com os maiores visos de verdade. (...) bastante perigosa, porm, a cartada, e to perigosa, que h muito quem se persuada que no melhor da festa os trunfos no ficaro em mos dos membros do atual gabinete (...)" Vida Fluminense, 17 de novembro de 1889 "A populao fluminense despertou hoje com a notcia de que se havia o exrcito recusado a cumprir ordens do governo por julg-las ilegais e ofensivas ao seu brio. Dois batalhes que haviam recebido ordem de seguir para pontos afastados do Imprio, decidiram no obedecer esta ordem. A Noite de Ontem: s duas horas da madrugada estavam no quartel-general do exrcito, o sr. ajudante-general e diversos oficiais, Em forma, no quartel, estavam um batalho de infantaria e um regimento de cavalaria. Havia de prontido uma fora de mais de 400 praas do corpo de polcia. Para aumentar essa fora, foram retiradas praas de vrias estaes urbanas. at depois da meia-noite, esteve o ministrio em conferncia. Hoje: 6 horas da manh - O ministrio est reunido na secretaria do imprio. Esto fechados os quartis do 7o, do 10o e do Corpo de Bombeiros. desembarca na corte, vindo de Niteri, uma parte do Corpo de Polcia da provncia. Outra parte da fora est na ponte da Armao a espera da lancha que a conduza corte. 7 horas - Sobe a rua do Ouvidor uma fora de fuzileiros navais. Os soldados esto em p de guerra. Os oficiais trazem revlver. 8 horas - quse impossvel chegar ao Campo de Santana. uma fora do 10o est no largo da Lapa para impedir a passagem provvel de estudantes da Escola Militar. Das janelas do palacete Itamaraty parte uma descarga sobre o povo. 9 horas - porta de uma taverna, na esquina da rua so Loureno est sentado, com um ferimento na fronte, o sr. baro do Ladrio, ministro da marinha. O ferido est com um gramete ao lado. (...) Esto fechadas todas as estaes de polcia. 9 - (...) O quartel est fechado. Dentro est o batalho que no quer, segundo consta, seguir para onde foi removido. O ministrio continua reunido. 10 horas - (...) Confirma-se o boato de que o ministrio pediu demisso. (...) 10 horas e meia - Os alunos da Escola Militar sem ordem, nem todos fardados, mas armados, tendo frente uma corneta do 22o seguem para o Campo de Santana, dando vivas Nao brasileira e ao exrcito. O ministrio que estava preso e guardado pelo exrcito, rende-se. O general Deodoro entra no quartel em trinfo, abraado, entre aclamaes entusiasmticas. O exrcito d vivas Repblica. o grito que se ouve em todo o Campo de Santana. (...) 10 e - O general Deodoro carregado em trinfo. O 2o de artilharia d uma salva de 21 tiros. Povo, exrcito e marinha do vivas Nao brasileira. (...)" Cidade do Rio, 15 de novembro de 1889 AS MANCHETES Viva a Repblica Brasileira! Viva o Exrcito - Viva a Armada! Viva o Povo Brasileiro! (Correio do Povo) Revolta no Exrcito (Novidades) Viva a Repblica! (Repblica Brazileira) O Futuro do Brasil (Gazeta da Tarde) Viva o Exrcito Libertador! (Cidade do Rio)  4) O Jogo do Bicho (1892) "A empresa do Jardim Zoolgico realizou ontem um magnfico passeio campestre ao seu importante estabelecimento, situado no pitoresco bairro de Vila Isabel. Em bondes especiais dirigiram-se os convidados e representantes da imprensa quele local e depois de visitarem o hotel, que se acha nas melhores condies, os jardins, as gaiolas em que se acham os animais e aves, tomaram parte em um lauto jantar, em mesa de mais de 60 talheres, presidida pelo digno diretor daquela empresa, o sr. baro de Drummond. O 1o brinde foi levantado pelo sr. Sergio Ferreira ao sr. baro de Drummond, que em seguida com toda a gentileza brindou imprensa, sendo correspondido pelo nosso representante. Trocaram-se ainda outros brindes, sendo o ltimo ao sr. vice presidente da Repblica. Como meio de estabelecer a concorrncia pblica, tornando freqentado e conhecido aquele estabelecimento que faz honra ao seu fundador, a empresa organizou um prmio dirio que consiste em tirar sorte dentre 25 animais do Jardim Zoolgico o nome de um, que ser encerrado em uma caixa de madeira s 7 horas da manh e aberto s 5 horas da tarde, para ser exposto ao pblico. Cada portador de entrada com bilhete que tiver o animal figurado tem o prmio de 20$. Realizou-se ontem o 1o sorteio, recando o prmio no Avestruz, que deu uma recheiada poule de 460$000. A empresa tem em construo um grande salo especial para concertos, bailes pblicos, e vai estabelecer no jardim jogos infantis e outros diversos para o pblico. s 9 horas voltaram os convidados, pessoas de alta distino, penhorados todos gentileza do sr. baro de Drummond e seus dignos auxiliares. Foi uma festa esplndida." Jornal do Brasil, 4 de julho de 1892 " Jardim Zoolgico - A empresa deste importante estabelecimento de criao do benemrito baro de Drummond vai hoje inaugurar diferentes divertimentos ao pblico fluminense, que al ter diariamente um passatempo. O sr. M.I. Zevada, o gerente da empresa e conhecedor de vrios estabelecimentos europeus e americanos idnticos ao Jardim Zoolgico, d esperanas de engrandecer aquela instituio de mrito nacional. H um jantar de instalao, cujo convite muito agradecemos." O Tempo, 3 de julho de 1892 "A empresa Jardim Zoolgico deu domingo ltimo um grande banquete no magnfico restaurant que existe no Jardim. Para esse banquete tinham sido convidados a imprensa e vrias pessoas da nossa melhor sociedade. Correu animadssima a festa, no meio da maior cordialidade e da maior gentileza por parte dos diretores da emoresa. Durante todo o tempo em que estiveram presentes os convidados tocou uma excelente banda de msica as melhores peas de seu repertrio. A empresa est atualmente organisada sob grandes moldes, procurando o mais possvel distrair o pblico por todos os meios do seu alcance, organizando concertos, bailes pblicos, circos de cavalinhos, espetculos diversos, bilhares, jogos carteados, jogo de bola e outros modos de diverso. Alm disso, a empresa resolveu estabelecer um prmio de 20$ por meio de um sorteio original. Cada pessoa ao entrar no jardim receber por 1$, um bilhete com a indicao de um animal dos 25 que existem no jardim. Em um poste de 5 metros de altura, numa caixa fechada, ser colocado um quadro representando um dos animais e quem tiver no bilhete receber o prmio. A empresa deposita como garantia de pagamento dos prmios 10$000 em um banco. O servio de bondes vai ser aumentado proporcionando assim maior comodidade ao pblico." O Tempo, 6 de julho de 1892 "Jardim Zoolgico - Grande festa hoje no Jardim Zoolgico. Inaugura-se uma empresa de divertimentos pblicos, com rifas em que se pode tirar at 40:000$000. Uma fortuna." Dirio do Commrcio, 3 de julho de 1892 "Realizou-se ontem, como tinhamos anunciado, a inaugurao da nova empresa do Jardim Zoolgico. s 3 horas das tarde partiram do largo do Rocio em direo a Vila Isabel, dois bonds especiais dessa companhia, levando os convidados daquele empresa, sendo precedidos de uma banda de msica. Chegados ali foram os convidados recebidos pela administrao do Jardim, que gentilmente acompanhou-os na visita geral. s 5 horas desceu a caixa que continha a figura do animal que dominava o dia, de acordo com o programa. O avestruz foi o animal vencedor e que deu aos donos dos bilhetes respectivos os 20$ de prmio. Aps a vitria do avestruz a vitria do estmago. Deu-se comeo pois a um lauto e profuso banquete de 100 talheres, havendo por esta ocasio brindes de saudaes recprocas. festa compareceram muitas distintas senhoras, representantes da imprensa e outros muitos convidados." Dirio do Commrcio, 4 de julho de 1892 "A empresa do Jardim Zoolgico inaugurando hoje um restaurant no mesmo jardim, destinado a famlias, e onde estabeleceu graciosos jogos para crianas e distraes prprias a um magnfico logradouro pblico, oferece hoje aos seus convidados um jantar regado a fino champagne Clicot. A inaugurao ter lugar s 5 horas da tarde, sando um bonde especial para os convidados, s 3 horas, da praa da Constituio." Dirio de Notcias, 3 de julho de 1892 "A empresa do Jardim Zoolgico ofereceu ontem um jantar a vrios convidados, que em um bonde especial seguiram, s 3 horas da tarde, para o soberbo restaurante situado naquele jardim, em Vila Isabel. Para desejar que faa carreira este novo estabelecimento, basta desejar-lhe mais orientada administrao do que teve o seu antecessor." O Paiz, 4 de julho de 1892 "A empresa do Jardim Zoolgico ofereceu domingo, no restaurante al estabelecido, um lauto jantar a diversos cavalheiros." Gazeta de Notcias, 5 de julho de 1892 "H hoje festa no Jardim Zoolgico, inaugurando-se ali novos divertimentos." Jornal do Commrcio, 3 de julho de 1892 "Foram inaugurados ante-ontem diversos divertimentos no Jardim Zoolgico, entre os quais o do sorteio dos animais, que tem por fim animar a concorrncia quele estabelecimento. Esse sorteio consiste no seguinte: d'entre 25 animais escolhidos pela Empresa tirado um diariamente e metido em uma caixa quando comea a venda de entradas. s cinco horas da tarde, a um sinal dado, abre-se a caixa e a pessoa que tem a entrada com o nome e o desenho do animal, ganha-o como prmio. No prximo domingo o pblico l encontrar diversos divertimentos e jogos infantis. Est em construo uma grande sala destinada a bailes populares." Jornal do Commrcio, 5 de julho de 1892 "Venceu ontem o gato. A empresa pagou prmios na importncia de 1:420$000. O Jardim foi visitado por 1350 pessoas. O Sr. ministro da Guerra visitou ontem o Jardim Zoolgico em companhia do baro de Drummond. S. Ex. foi testemunha da forma dos prmios estabelecidos pela empresa, afim de animar a concorrncia daquele estabelecimento. Muito agradou a S. Ex. a ordem e asseio daquela vivenda de animaes." Dirio do Commrcio, 11 de julho de 1892 "O sr. ministro da Guerra visitou ontem o Jardim Zoolgico, percorrendo todas as suas dependncias, acompanhado pelo sr. baro de Drummond." Jornal do Brasil, 11 de julho de 1892 "O marechal Floriano Peixoto visitar brevemente o Jardim Zoolgico." Gazeta da Tarde, 8 de julho de 1892 "Para os azaristas - No Jardim Zoolgico venceu ontem o Avestruz. A empresa pagou de prmios 680$." O Tempo, 10 de julho de 1892 "Jardim Zoolgico - Venceu ontem o gato. A empresa pagou de prmios 1:100$." O Tempo, 14 de julho de 1892 "Jardim Zoolgico - Venceu ontem o cavalo. Pagou-se de prmios 740$. Amanh (domingo) das 3 horas da tarde em diante baver bondes diretos. Divertimentos diversos." O Tempo, 16 de julho de 1892 "Jardim Zoolgico - Venceu ontem o cachorro. Pagou-se de prmio 2:08$." O Tempo, 17 de julho de 1892 "No Jardim Zoolgico venceu ontem o pavo. Pagou-se prmio de 1:140$." O Tempo, 19 de julho de 1892 "Jardim Zoolgico - Venceu ontem o coelho. Pagou a empresa prmios na importncia de 640$000." Gazeta de Notcias, 6 de julho de 1892 ANNCIO: Jardim Zoolgico - Prmios Dirios Sobre Animais de 20$ a 40:000$ - Vendas das Entradas na Rua do Ouvidor No 129 e no Jardim. O Tempo, 12 de julho de 1892 "Ao Dr. 2o delegado dirigiu ontem o Dr. Chefe de Polcia o seguinte ofcio: - No empenho de procurar atrair concorrncia de visitantes ao Jardim Zoolgico, solicitou o seu diretor para certo recreio pblico licena, que lhe foi concedida pela polcia, em vista da feio disfaradamente inocente que da smples primeira descrio do divertimento parecia se deduzir. Entretanto, posta em prtica essa diverso, se verifica que tem ela o alcance de verdadeiro jogo, manifestamente proibido. Os bilhetes expostos venda contm a esperana puramente aleatria de um prmio em dinheiro, e o portador do bilhete somente ganha o prmio, se tem a felicidade de acertar com o nome a espcie do animal que est erguido no alto de um mastro. Esta diverso, prejudicial aos interesses dos incantos, que com a esperana enganadora de um incerto lucro se deixam ingenuamente seduzir, precisamente um verdadeiro jogo de azar, porque a perda e o ganho dependem exclusivamente do acaso e da sorte. Como semelhante divertimento no pode por mais tempo ser tolerado, e conquanto maior fundamento quanto certo que muitas queixas me tm sido dirigidas pelas pessoas lesadas, assim intimarei ao diretor do Jardim Zoolgico para que suspenda imediatamente a continuao do aludido jogo, sob pena de ser processado na coformidade dos arts. 369 e 370 do cdigo penal." O Tempo, 23 de julho de 1892 "Quem nasceu para dez ris nunca chega a vintm, - verdade que nenhum caipora capaz de contestar. Nestes dias de prosperidade, de progresso amamentado pelo papel moeda que s enxurradas de magnficos negcios engrandeceram o gnio das finanas, sabido que a melhor e mais segura indstria a do jogo e loterias sob todas as formas. J tinhamos cassinos, clubes, cercles e outros grandes estabelecimentos industriais que prosperam a bragas molhadas sem auxlio nem nada. Temos agora a loteria zoolgica, o vspora dos bichos, a rodas das alimarias. Atirei ao trabalho honrado, isto , ao novo jogo que o trabalho da poca. Aquele provrbio dos dez ris que no passa a vintm, haja o cmbio que houver, perseguiu-me at nesta inveno biolotrica. Os bichos fogem do caipora como o demo da caldeirinha. Caso singular! Perco sempre na mesma. Outro dia joguei no per, e saiu o pavo, galinceo como aquele e to vaidoso como o seu parente, mas com a diferena, que um me daria vinte mil ris e o outro fez-me perder mil ris. Comprei uma entrada com o "gato" e perdi nas garras do "tigre", ambos felinos, e diversos no estado de domesticidade e no estado selvagem. Para maior dos pecados, quando contava desforrar-me com o elefante, cuja corpulncia e fora devia arrazar tudo, caiu da caixinha a estampa corcunda do camelo. Tanto um como o outro so pachydermes, mas o camelo deu os vinte mil ris e o elefante nem um nickel. Sendo a loteria cientificamente zoolgica, porque no se aplicar o sensato e justo sistema esportivo de correr as poules por coudelarias? Neste caso os lotes seriam por famlias, gneros e espcies. Quem jogasse nos felinos poderia ganhar com o gato ou com o tigre entre os galinceos, o per seria to bom segundo como o pavo foi primeiro. Entre os roedores poderia eu achar dente de coelho ou apanhar ratazanas nedias e rolias com o seu recheio de notas de mil ris e farofa de vinte mil ditos. Quisesse eu jogar na alta e molharar-me-ia com os trepadores e se o tucano casse por qualquer descuido, o papagaio de vistosas penas me levaria s alturas das finanas. E os repteis no poderiam dar a fortuna do prmio gordo, tamanha a famlia e to rasteiro o seu genero? A rola biolotrica no est bem organizada; precisa de reforma, pelo menos enquanto eu perder nesse paco. O que no posso contestar que o sistema, como se dizia no tempo de Law, genuinamente popular. vir rua do Ouvidor s 5 horas da tarde, quando a caixa sobe para os que tem de ir ao cofre, para se reconhecer que que o inventor da vispora homem de gnio. Na primeira revoluo em que eu tenha influncia fal-o-hei ministro da Fazenda. Ento que o Brasil ver o que so bancos geniais de emisso e encilhamento de corar de vergonha todas as ruas Quincampoix e Alfndega passados e por vir. Ex digito, gigas. Por aqueles papis de bichos pintados, avalia-se o gnio de um povo e a moralidade de um regime poltico. Ganhar pelo trabalho uma velharia e custa uma vida inteira. Hoje reza-se por outra cartilha; o jogo, a sorte, o gio e a advocacia administrativa parlamentar que em um abrir e fechar de mos levam um homem a habitar palcios principescos em Lisboa ou pelintrar nos boulevards de Paris. O gnio que criou tudo isso bem sabe o que fez." Maximo Job , em O Tempo, 23 de julho de 1892  5) Primeiro Bonde Eltrico (1892) "Realiza-se hoje, 1 hora da tarde, na Companhia Botafogo, linha do Flamengo, a inaugurao do bond pela traco electrica. O bond sahir aquella hora do largo do Machado, seguindo para a praia do Flamengo, de onde vir at o largo da Carioca." Diario de Notcias, 8 de outubro de 1892 "Foi inaugurada hontem a traco electrica nos bonds da Companhia Jardim Botanico tendo inaugurao assistido o sr. marechal vice-presidente da Republica, os membros dos ministrios, representantes da directoria d'aquella companhia, da imprensa e grande numero de convidados. A experiencia correu bem e amanh daremos sobre ella circunstanciada noticia." Diario de Notcias, 9 de outubro de 1892 "Conforme haviamos noticiado realizou-se ante-hontem, com a presena do sr. vice-presidente da Republica, do seu estado maior, de alguns ministros e representantes da imprensa, a experiencia da traco electrica applicada nos bonds da Companhia Ferro Carril do Jardim Botanico, em a 1a seco da mesma companhia, que comprehende a linha do Flamengo. 1 hora, pouco mais ou menos, sahiram tres bem trabalhados e commodos bonds da frente do edificio do theatro Lyrico e cerca de 10 ou 12 minutos depois entraram nas officinas da companhia, rua Dois de Dezembro, fazendo nesse periodo de tempo o percurso que, pela traco animal, feito em 25. Apoz serem examinadas as officinas de electricidade, perfeitamente montadas, visitaram os convidados todas as officinas de ferreiro, corrieiro, carpinteiro, pintura e mais dependencias, officinas essas que occupam a extensa e vasta rea de sete mil metros quadrados, em tudo notando-se o maior asseio, ordem e regularidade, que muito abonam os esforos empregados pelo actual gerente de to importante empreza, que como era de prever, lutou com immensas difficuldades, por falta de pessoal idoneo habil para trabalhar com apparelhos electricos. Nas referidas officinas v-se grande numero de melhoramentos, ultimamente realizados pelo sr. dr. Cintra, que, tendo encontrado, quando tomou conta da gerencia da empreza, em servio 76 carros, todos americanos, e a extenso das linhas de 38 kilometros, dotou-a j com 130 carros, por demais confortaveis, todos feitos nas officinas da companhia, sendo actualmente a extenso das linhas de 58 kilometros. A extenso dos fios conductores, segundo as informaes que nos foram ministradas, de 14 e meio kilometros, sendo o trecho da praia do Flamengo o mais accidentado da linha. Depois de percorrido o estabelecimento, foi offerecido s pessoas presentes um esplendido lunch, no qual se fizeram muitos brindes, sendo o primeiro o do sr. coronel Malvino Reis, director da companhia, ao vice-presidente da Republica, ao ministerio e indendencia. Em seguida foram saudados a directoria e o gerente da empreza. O sr. ministro da marinha saudou a Republica dos Estados Unidos da America do Norte, sendo tambem cumprimentados o Congresso Nacional, o exercito, a armada e a imprensa. O brinde de honra foi erguido ao sr. marechal Floriano Peixoto, vice-presidente da Republica. Tendo-se tornado justamente credora a directoria da companhia Jardim Botnico de justos encomios, por ter conseguido estabelecer a traco electrica em os seus bonds, o que um grande melhoramento, no podemos, applaudindo-a, esquecer o nome do seu digno gerente o sr. dr. Carlos Cintra, que foi um verdadeiro here nessa campanha, que teve ante-hontem os applausos de todos, e os dos seus dignos auxiliares, os engenheiros electricistas drs. James Mitchel e Antonio Chermont, que muito concorreram para que fosse levado a effeito to brilhante commettimento. Em alguns logares por onde passavam os bonds foram photographados, tendo-se-nos informado que as primeiras despezas feitas com a installao dos apparelhos, apezar das differenas de cambio, no chegaram a 200:000$000. Durante o trajecto do bond innumeras pessoas agglomeravam-se nas ruas, justamente curiosa de apreciar o novo systema de traco, que, de futuro, ha de ser applicado por fora s estradas de ferro." Diario de Notcias, 10 de outubro de 1892 "Com a assistencia do Sr. Vice-Presidente da Republica e seu Estado Maior, Ministro da Marinha, intendentes Silveira Lobo, Abdon Milanez, Siqueira, Medeiros e Frana Leite, deputados geraes, representantes de diversas classes sociaes e da imprensa, realizou-se hontem a inaugurao da traco electrica da 1a seco da companhia que comprehende a linha do Flamengo. Pouco depois de 1 hora sahiro tres bem construidos e confortaveis bonds da frente do Theatro Lyrico e doze minutos depois entravo nas officinas da companhia rua Dous de Dezembro. Depois de examinadas as officinas de electricidade que se acho perfeitamente installadas, percorrero os visitantes todas as officinas de ferreiro, coreeiro, pintor, carpinteiro e mais dependencias da companhia, que occupo a extensa rea de sete mil metros quadrados, notando-se em tudo o maior asseio, ordem e regularidade, o que muito abona ao actual gerente que tem lutado com muitas dificuldades, sendo a menor a de falta de pessoal idoneo para as applicaes dos diversos misteres. De facto noto-se alli muito melhoramentos e grande augmento no numero de carros, pois quando o Dr. Cintra tomou conta da gerencia encontrou no servio 76 carros, todos americanos, sendo a extenso da linha de 38 kilometros, no entanto ha hoje 130 carros confortaveis, todos feitos nas officinas da companhia, sendo a extenso das linhas de 58 kilometros. A extenso dos fios conductores de 14 e meio kilometros, sendo esse trecho o mais accidentado da linha. Depois de percorrido o estabelecimento, foi offerecido aos visitantes um profuso lunch no qual se fizero muitos brindes sendo o primeiro ao coronel Malvino Reis director da companhia ao sr. vice-presidente da Republica, ao Ministerio e a Intendencia; em seguida foro saudadas a directoria e o gerente da Companhia; o Sr. Ministro da Marinha saudou a Republica dos Estados Unidos da America e Congresso Nacional, o exercito, a armada, a imprensa e alguns outros sendo o ultimo ao Sr. Marechal Floriano Peixoto. Esta Companhia a mais antiga de todas, inaugurou o seu trafego em 9 de outubro de 1868, sendo este primeiro trecho entre a cidade e o Largo do Machado e a rua Marques de Abrantes canto da praia de Botafogo foi inaugurada em 20 de novembro e o terceiro entre este ultimo ponto e o canto da rua S. Joaquim em 19 de dezembro do mesmo anno. Foi seu fundador e primeiro presidente o Sr. C. B. Greenough e superintendente deste o Thompson. A este succedeu E. P. Moaree em 29 de maro de 1869 o qual foi substituido por Simeo Miller em 24 de abril de 1875 tendo por sucessor o Dr. J. C. Coelho Cintra que foi nomeado gerente em 1 de setembro de 1889. 24 anos depois de sua inaugurao, coube a gloria a este gerente a primeira installao electrica definitiva na America do Sul para a substituio da traco animal pela electrica concorrendo para que ainda fosse esta Companhia, a primeira a adoptar esse grande emprehendimento, provado entre ns experimentalmente a resoluo do problema. (...)" Jornal do Commercio, 9 de outubro de 1992 "Realizou-se hontem a inaugurao official dos bonds por traco electrica da companhia ferro-carril do Jardim Botanico. Compareceram o sr. vice-presidente da Republica, o sr. ministro da marinha, algumas distinctas senhoras, intendentes municipaes, muitos engenheiros, e representantes do Economista, e desta folha. As pessoas presentes visitaram toda a estao do Largo do Machado, e, depois de percorridas as officinas de electricidade, onde se acham montados os motores para a traco e caldeao electricas, todas elegantemente ornadas de bandeiras e folhagens, sahiram os visitantes em tres carros, percorrendo toda a linha da 1a seco seco de electricidade. Em todo o estabelecimento notou-se o maior asseio, sendo cuidadosa e perfeita a montagem de machinas e apparelhos. Os carros, muito elegantes e confortaveis, so illuminados por cinco fcos incandescentes cada um, dando logar a 4o passageiros. Em seguida experiencia serviu-se profuso copo d'agua, erguendo-se por essa ocasio os seguintes brindes: Do Sr. coronel Malvino Reis ao Sr. marechal Floriano Peixoto; do intendente Silveira Lobo ao digno gerente da companhia, Dr. Cintra, que tornou uma realidade entre ns a substituio da traco animal pela traco electrica; do Sr. Dr. Constante Jardim ao progresso e ao Dr. Cintra; deste ultimo ao Sr. marechal Floriano Peixoto; do Sr. Dr. Nilo Peanha ao progresso; do Sr. baro Ribeiro de Almeida Imprensa; do Sr. Pederneiras, nosso collega do Jornal do Commercio, agradecendo e brindando o Sr. marechal Floriano Peixoto; do Sr. William Frederick Leeson ao progresso do Brazil; do Sr. dr. Nilo Peanha ao almirante Custodio Jos de Mello, deste ultimo ao povo americano; do Sr. Dr. Constante Jardim ao Sr. baro Ribeiro de Almeida, presidente da companhia. No regresso, os bonds electricos pararam no largo da Lapa, sendo photographados em um delles os Srs. marechal vice-presidente da Republica, seu ajudante de ordens capito Eduardo Silva, baro Ribeiro de Almeida, almirante Custodio Jos de Mello, coronel Malvino Reis e Dr. Coelho Cintra. Nossos cumprimentos ao gerente da companhia e seus dignos auxiliares, os engenheiros electricistas Drs. James Mitchell e Antonio Chermont, pelo feliz exito dos seus trabalhos. Os bonds electricos devem ser entregues hoje ao trafego publico." O Tempo, 9 de outubro de 1892 "Assistimos hontem experiencia de traco electrica na 1a seco da Companhia Ferro Carril do Jardim Botanico. Compareceram a essa experiencia o Exm. Sr. marechal Floriano Peixoto, com seu estado-maior, e os ministros da fazenda, marinha, guerra e interior. em visita rapida percorremos todas as dependencias da companhia na estao do Largo do Machado, notando-se n'ellas ordem e muito aceio. As officinas de electricidade acham-se montadas com esmero, e perfeitamente installados os apparelhos geradores, bem como os apparelhos da caldeao electrica. Em seguida o carro electrico percorreu toda a linha do Flamengo, sendo em sua passagem muito victoriado pelo povo, que se agglomerava principalmente nos caes do Flamengo, Russel e Lapa. Incontestavelmente a superioridade da traco electrica sobre a animal sob todos os pontos de vista, provada. Resta que a intendencia, desejando melhorar esta cidade, procure por todos os meios a substituio gradual da traco animal nas companhias existentes, dando-lhes um prazo mais ou menos razoavel. Estamos certos de que a Companhia do Jardim Botanico, em curto espao de tempo, ter substituido toda a sua traco animal pela electricidade." Gazeta de Notcias, 9 de outubro de 1892 "A companhia de bonds de Botafogo, inaugurou hontem a nova linha de bonds electricos. 1 da tarde partiram 3 bonds da rua da Guarda Velha, conduzindo o Sr. marechal vice-presidente da republica, capito Eduardo A. da Silva, seu ajudante de ordens, o Sr. contra-almirante C. de Mello, e convidados, com destino rua Dois de Dezembro, estao da companhia, fazendo todo o trajecto em 12 minutos. Ali foi servido um profuso lunch, onde se trocaram varios brindes, sobresahindo os dos Srs. coronel Malvino Reis, ao Sr. marechal Floriano, Dr. Nilo Peanha, baro Ribeiro de Almeida, Dr. Coelho Cintra, do Sr. contra-almirante Custodio Jos de Mello, ministro da marinha, ao povo americano e o brinde de honra feito ao Sr. marechal Floriano, pelo Sr. baro Ribeiro de Almeida. foi grande o numero de convidados. Entre elles se achavam senadores, deputados, intendentes, etc. O resultado da experiencia da electricidade nos bonds, foi satisfatoria." Jornal do Brasil, 9 de outubro de 1892  6) Revolta da Armada ( 1893) "Desde a madrugada de ontem comearam a circular notcias de graves acontecimentos. Soube-se que estava interrompido o trnsito da estrada de ferro central e que a marinha se puzera em atitude hostil ao governo do Sr. Marechal Floriano Peixoto. Depois foram, pouco a pouco, aparecendo os verdadeiros pormenores. (...) No Mar Segundo estamos informados da comearam pouco antes da meia noite pelo assalto ao encouraado Aquidaban, que apenas tinha a bordo o oficial de quarto, 1o tenente Mello Moraes. Isso feito, foi atacada e tomada a Armao, e, em seguida, os outros navios da esquadra e os vapores das companhias Lloyd Brasileiro, Lage e Frigorfica, que foram armados em p de guerra e incorporados esquadra revolucionria, Todos esses navios receberam grande quantidade de munico na Armao, colocando-se depois em linha prolongada terra. As torpedeiras foram tambm incorporadas esquadra e durante todo o dia percorreram a baa. Os navios revolucionrios so: os encouraados Aquidaban, Javary, Sete de Setembro, cruzadores Repblica, Trajano, Orion, corveta Amazonas, canhoneira Maraj, torpedeiras de alto mar e de lana. (...)" - Jornal do Brasil, 7 de setembro de 1893 "s 9 horas da manh uma lancha do cruzador Repblica apreendeu uma das lanchas do cruzador Almirante Tamandar. Pouco depois, atravessando a baa e rebocador Emperor, uma das lanchas que policiam o porto, deu dois apitos e, tendo aquele rebocador parado, aprisionou-o, deixando fundeado um saveiro que aquele conduzia. Foi tambm aprisionado o paquete Matilde, e mais tarde levados para a Armao os cruzadores Guanabara, Almirante Tamandar e a galeota Quinze de Novembro. O Jpiter foi incorporado esquadra. (...)" - Jornal do Brasil, 8 de setembro de 1893 "(...) Ao amanhecer o Aquidaban embandeirou em arco e toda a esquadra revoltada iou a bandeira nacional no topo do mastro grande em comemorao data de 7 de setembro. Depois das 7 da manh, do cais do Arsenal da Marinha comeou-se a observar os movimentos da torpedeira Marclio Dias, que por diversas vezes chegava fala aos navios estrangeiros, naturalmente para parlamentar, e do cruzador Repblica, auxiliado por diversas lanchas, para o ancoradouro dos paquetes de Lloyd, onde, depois de apreender diversas embarcaes pequenas, comeou a apoderar-se dos vapores ali fundeados, os quais eram conduzidos para junto da esquadra revoltada, por diversos rebocadores. O Jpiter foi tirado do lugar em que estava e encorporado esquadra, encarregando-se desse trabalho o 1o tenente Camiso de Mello. (...) Jornal do Commrcio, 8 de setembro de 1893 "Eis o que ontem se passou. s 6 horas da manh o Jpiter levantou ferro e foi fundear no canal do Engenho. Na passagem foi hostilizado pela bateria da Ilha do Governador. O Aquidaban recebeu carvo, que lhe levaram um saveiro e uma lancha da Ilha das Enxadas. Da Ilha do Governador foram disparados alguns tiros contra o Tamandar. tarde o forte de Gragoat bombardeou a fortaleza Villegaignon. Informam-nos que em Campos estp prontos para o servio dois batalhes da guarda nacional, o 11o e o 39o, com os oficiais j fardados e as companhias completas. Muitos oficiais de outros corpos tambm se fardaram e esperam ordem." Gazeta de Notcias, 9 de fevereiro de 1894 "O Dia de ontem raiou ao som estridente do forte canhoneio que houve de madrugada entre as fortalezas da barra, Gragoat, baterias do morro de S. Joo em Niteri e da Armao de um lado, e alguns navios da esquadra revoltosa e Villegaignon de outro. Foi uma luta renhida que se prolongou at cerca das 9 horas da manh. Cerca das 2 horas da manh quatro lanchas dos revoltosos largaram do Aquidaban e dirigiram-se para os lados da Armao, disparando para ali os seus canhes de tiro rpido e metralhadoras, e neste posto tiveram luta com as foras que guarnecem aquele estabelecimento e as da Ponta da Areia. Naquela ocasio deixaram os seus ancoradouros e aproximaram-se tambm da Armao o Aquidaban, o Liberdade e o frigorfico Jpiter, que tomaram parte no combate. As foras da Armao e Ponta da Areia atacaram com vivo fogo os navios e lanchas, atirando s 6 horas da manh as fortalezas de Santa Cruz e da Lage para Villegaignon, e S. Joo para a Ilha das Cobras. Villegaignon respondeu atirando para Gragoat. Este forte trocou disparos com o encouraado Aquidaban. Depois das 10 horas retiraram-se os navios e lanchas. O sr. general Argolo, chefe das foras que guarnecem Niteri, dirigiu ao sr. Ministro da Guerra o seguinte telegrama: "As foras legais destroaram os revolucionrios, que tentaram desembarque na Armao. Morreram trs oficiais e muintos marinheiros. Os revolucionrios refugiaram-se no fundo da baa." Consta que por notcias oficiais sabe-se que foram aprisionados 55 marinheiros e trs oficiais, um dos quais de nacionalidade estrangeira. s 5 horas a Ilha das Cobras atirou para terra. Nesta ilha houve ontem un incndio em um galpo. Pouco depois foi extinto. Da Ilha do Governador fizeram de manh alguns disparos contra o Tamandar , que pouco depois respondeu." Gazeta de Notcias, 10 de fevereiro de 1894 "Muito semelhante ao anterior foi o dia de ontem. A populao ainda se manteve tranqila, esperando os acontecimentos, com a mxima confian no governo e na vitria da Repblica. Nas ruas notou-se a animao dos dias normais. O comrcio conservou francamente abertas as suas portas, manifestando um total sossgo e despreocupao da revolta como se estivessem em poca de paz mais absoluta." Dirio de Notcias, 9 de fevereiro de 1894 Grande Vitrias das Foras Legais: "Na madrugada de ontem a populao da nossa capital foi despertada por um vivssimo tiroteio, entrecortado de sucessivos tiros de canho, anunciando um grande combate para os lados de Niteri. Efetivamente os revoltosos levados ao desespero em nossa baa pelo herosmo das foras legais e pela falta de viveres e disciplina a bordo, imaginaram dar um combate decisivo, pondo em movimento todas as suas foras e atacando simultneamente Maru, Ponta da Areia e sobretudo a apetecida Armao. O combate nesses trs pontos tornou-se renhidssimo, trocando a todo momento a artilharia de parte a parte e ouvindo-se continuadas descargas de fuzilaria.(...) Mal clareava o dia e em todos os pontos da cidade, de onde se podia divisar a luta travada, a populao aglomerava-se, anciosa de saber o que se passava, e confiada na bravura dos que defendiam a heroica Niteri. O combate ia muito renhido quando de repente as baterias da Ponta da Areia e da Armao cessaram o fogo, apriximando-se as lanchas e havendo todos os indcios de um desembarque. (...) Muito provavelmente por ttica, as guarnies desses pontos tinham-se concentrado e a marinhagem desenfreada julgava-se j senhora das posies, quando a ofensiva foi tomada, com valor, as foras desembarcadas foram cercadas pela infanteria e expulsas do territrio fluminense, deixando muitos mortos e feridos e fugindo vrios marinheiros a nado. Desalojados das posies, as bandeiras brancas foram arrancadas em meio aos vivas Repblica, e a esquadra revoltada, com menos duas lanchas, que foram a pique, fez-se ao largo, custando-lhe mais uma tremenda derrota, que certamente levar o ex-neutro da Ilha das Cobras a no tentar outro desembarque." Dirio de Notcias, 10 de fevereiro de 1894 "Pouco antes das 4 horas da manh de ontem fomos surpreendidos por vivas descargas de grosso canho, que repercutiam com grande estrondo no silncio profundo em que se achava mergulhada a cidade. Acudindo ao nosso posto de observao, vimos o Aquidaban e um dos frigorficos em servio da revolta restauradora, que haviam levantado ferro e aproavam bara a barra, achando-se j prximos de Villegaignon. Os holfotes de S. Joo e da Glria tinham, porm, projetado pouco antes os seus focos de luz sobre os dois vultos que se esgueiravam rapidamente pela treva densa, e das baterias legais e das fortalezas da barra, sempre vigilantes, rompeu desde logo vivssimo fogo sobre os dois navios. Assim descobertos e debaixo de um chuveiro de balas, ambos voltaram rapidamente para os ancoradouros que pouco antes haviam deixado, naturalmente no intuito de forar a sada da barra. E cessou assim o canhoneio." O Tempo, 9 de fevereiro de 1894 "Depois de longos dias de quse completa apatia em que estiveram mergulhados os revoltosos restauradores resolveram ontem operau uma ao sria e decisiva, que os arrancasse do estado de aniquilamento em que se acham. Custou-lhes, porm, caro a audcia. Mais uma derrota formidvel lhes foi infligida e mais uma vitria cheia de herosmo coube mocidade entusistica, s hostes nibilssimas dos bravos que defendem a repblica. (...) Os revoltosos atacaram hoje pela madrugada, simultaneamente, diversos pontos do litoral de Niteri, desembarcando em alguns deles, de onde foram no fim de pouco tempo desalojados, deixando muitos mortos e prisioneiros, entre estes alguns oficiais." O Tempo, 10 de fevereiro de 1894 "A iminncia do ataque decisivo candilhagem do mar, que desde 6 de setembro ensangenta duas cidades, reduz a runas a capital do Estado do Rio e infelicita e enxovalha a ptria, arrastando-a mais injustificvel das guerras civis, no podia deixar de ser ontem a principal preocupao de todos os espritos. Diante do aviso prvio, que foi dada a mais laga publicidade, as famlias moradoras no centro da cidade e nos pontos mais provavelmente expostos comearam muito cedo a retirada, enchendo literalmente os wagons da Estrada de Ferro Central do Brasil e os bondes das diferentes companhias, em demanda dos subrbios e dos arrabaldes mais arredados do litoral, onde se acham a abrigo das balas inimigas, que at h poucos dias tanto sangue generoso e inocente haviam feito derramar." O Tempo, 13 de maro de 1894 A Revolta - Vitria da Repblica: "Chegamos tarde para dar a notcia que repercutiu j como um hino festivo em toda a Repblica, desoprimida do ultraje dos bandidos, das desgraas que eles lhe cavaram desde 6 de setembro do ano passado. Est salva a Repblica! (...)" O Tempo, 15 de maro de 1894 "Est salva a Repblica! A Repblica que durante seis meses resistiu ao Aquidaban, Javar, Almirante Tamandar, Trajano, Guanabara e esquadrilhas de torpedeiras, piquetes e rebocadores, viu a imediata submisso dos revoltosos restauradores, no dia em que se anunciou a sua anciosamente esperada batalha." - BOLETIM D'O PAIZ - S TRS HORAS DA TARDE - "Os revoltosos acabam de se render discrio. Os oficiais refugiaram-se bordo dos navios de guerra ingleses, franceses e portugueses, abandonando os enfermos na Ilha das Enxadas. Os tiros que esto se ouvindo so para descarga dos canhes. As fortalezas e poucos fortificados apenas dispararam alguns tiros, que no foram correspondidos. Honra Repblica Brasileira. Honra s foras de terra, grande parte leal da oficialidade da esquadra!" O Paiz, 14 de maro de 1894 "A cidade do Rio de Janeiro respirou ontem, enfim, desopressa do pesadelo da revolta. As fisionomias tinham um ar radiante de contentamente e por toda a parte grandes grupos de populares, entusiasmados, festejavam delirantemente, a vitria da Repblica." O Paiz, 15 de maro de 1894 "O comandante superior da guarda nacional Dr. Fernando Mendes, acompanhado do seu estado-maior, comandantes das brigadas, corpos e oficialidades, foi ontem tarde cumprimentar os srs. marechal vice presidente da Repblica e ministro da Guerra. Quatro bandas de msica acompanhavam o prestito que depois dos cumprimentos percorreu diversas ruas da cidade. No palcio do governo, estando ausente o sr. marechal Floriano, foram os manifestantes recebidos pelo sr. capito Antnio Jos de Siqueira, secretrio de s.ex. (...)" Correio da Tarde, 15 de maro de 1894 "O cruzador Trajano, que foi rebocado para a Gamboa, est completamente perdido e quase imerso. Ao general Pimentel, comandante da 1a brigada de vigilncia no litoral apresentaram-se 31 soldados das foras legais, prisioneiros dos revoltosos nas ilhas do Engenho, Mocangu e Ponta da Armao. (...) O sr. coronel chefe da polcia desta capital dirigiu aos governantes dos estados o seguinte telegrama: - Neste momento foi dominada a revolta no porto do Rio de Janeiro. Antes de terminar o prazo de 48 horas, marcado pelo governo para comear as hostilidades, os revoltosos entregaram-se discrio, tendo antes abandonado fortalezas e navios e refugiando-se na ilha das Enxadas. Saldanha e mais oficiais esto asilados em navios de guerra estrangeiros. O governo trata de mandar forar para o Paran e Santa Catarina onde se acha o almirante Custdio de mello. Mil parabns. Viva a Repblica!" "Hoje s 3 horas da tarde haver bondes especiais disposio daqueles que quiserem cumprimentar os alunos da Escola Militar. (...) As reparties pblicas, praas ajardinadas e diversas casas particulares iluminaram ontem noite as suas fachadas. (...) Foram removidos para a Ilha das Enxadas os marinheiros presos que se achavam recolhidos ao 1o e 24o batalhes de infantaria." Correio da Tarde, 16 de maro de 1894  7) Salo de Novidades Paris no Rio (1897) "Quem no tiver tido a dita de assistir a um banho de mar com todas as suas peripcias e todos os seus atrativos, no precisa ter o incmodo de se erguer do leito s 6h da manh para ir ao Boqueiro do Passeio ou Praia da Saudade; bastante ir visitar o elegante salo Paris no Rio, onde o Animatgrafo Super Lumire, entre muitos outros, exibe um quadro desde gnero; e, tal a perfeio do extraordinrio aparelho que a iluso completa; quase se sente medo de que as ondas do mar, ultrapassando os limites do quadro, invadam o elegante salo." A Notcia, 15 de novembro de 1897 "Os srs. Segreto e Salles inauguraram ontem, na Rua do Ouvidor, andar trreo do Club dos Reporters, as funes que a vo dar com o animatgrafo Lumire. A sesso foi exclusivamente para a imprensa e o aparelho funcionou perfeitamente, agradando bastante. Os quadros da dana Serpentinas e o das melancias foram bisados. O aparelho movido por uma mola gs de fora de 15 cavalos, fabricado por White e Midleton. A instalao da eletricidade foi dirigida pelo engenheiro Augustro Grillet." Folha da Tarde, 31 de julho de 1897 PROPAGANDA: "Salve Sculo XIX Salve Amimatgrafo Lumire - A ltima palavra do engenho humano. A mais sublime maravilha de todos os sculos. Pinturas moverem-se, andarem-se, trabalharem, ouvirem, chorarem, morrerem, com tanta perfeio e nitidez, como se Homens, Animais e Coisas Naturais fossem, o assombro dos assomros. Salve Lumire! O Animatgrafo Lumire invento to magestoso, soberbo e imponente, que a prpria natureza, que privilegiou o seu autor, conserva-se esttica diante de sua pasmosa contemplao! A exibio dos diversos quadros, que sero expostos admirao do pblico, tp primoroso e sedutor atrativo, que, quem por ela uma vez surpreendido, procura irresistivelmente emergir sempre o seu esprito observador da deliciosa admirao desse assombroso espetculo! As Exmas. famlias desta capital encontraro Rua do Ouvidor no 141, um salo de espera digno de sua recepo e iluminado luz eltrica, das 12 horas s 10 da noite. Ao Animatgrafo, pois, de Lumire cabem hoje, de todo o mundo civilizado os aplausos bem merecidos de uma admirao, sem limites. 141 Rua do Ouvidor." Folha da Tarde, 9 de agosto de 1897 "Estive ante-ontem, pela primeira vez, no Salo Paris, e no perdi o meu tempo; realmente divertidssimo o Animatgrafo Super Lumire, pela entontecedora variedade das suas fotografias. Todas me agradaram, todas, mas nenhuma como as coloridas, que reproduzem, com uma preciso extraordinria, as danas serpentinas da Loie Fuller, ou do diabo por ela. Aquilo bom... e barato. Compete agora ao pblico animar o animatgrafo." Arthur Azevedo, em O Paiz, 24 de dezembro de 1897 PROPAGANDA: "Paris No Rio - Salo de Novidades - De Salles e Segretto - 141 Rua do Ouvidor - No dia primeiro foi inaugurado esse luxuoso salo com a exibio de maravilhosos quadros de fotografias animadas, reproduzidas pela importante mquina Vitoscpio - Super - Lumire, a primeira at hoje vinda Amrica do Sul. sesso todos os dias e todas as noites. Entrada 1$000." - Cidade do Rio, 4 de agosto de 1897 "O Salo de Novidades que funciona no andar trreo do edifcio Club dos Reporters tem sido extraordinariamente visitado." Gazeta da Tarde, 2 de setembro de 1897 "Paris no Rio! Esta fico hoje realidade, graas ao animatgrafo que funciona al, quase em frente nossa redao. So dez tostes que valem mil francos, e satisfaz-se um ideal muito ambicionado: ver Paris." Gazeta da Tarde, 4 de setembro de 1897 "O Animatgrafo Super Lumire, rua Moreira Cesar (*), foi ontem extraordinariamente concorrido por grande nmero de famlias. deveras curioso e deslumbrante o engenhoso aparelho, que reproduz em tamanho natural e com todos os movimentos da vida real cenas de muita animao." - Jornal do Brasil, 4 de outubro de 1897 (*) A Rua do Ouvidor se chamou Moreira Cesar de 1897 a 1916. "Uma sega de trigo - um dos quadros que esto sendo mostrados pelo Animatgrafo Super Lumire, do elegante salo Paris no Rio. Dizer que todos os movimentos so maravilhosamente reproduzidos, no bastante: quem assistir a exibio daquele quadro pde dizer que ja viu ceifa do trigo em Hamburgo. A cena to perfeita, que quase que se chega a ouvir o rudo dos cortadores a derrubar a preciosa planta. A sesso a que assistimos, estava presente grande nmero de senhoras. Bem digno de predileo das famlias o Paris no Rio, que se acha elegante e luxuosamente montado." Jornal do Brasil, 5 de novembro de 1897 " de fazer gua na boca, to bem reproduzida est e to natural a cena m Comedor de Melancias" quadro exibido na Animatgrafo Super Lumire no Paris no Rio. Ontem um espectador to iludido ficou que, aproximando se do quadro disse: - amigo, voc me d um pedao dessa melancia?" Jornal do Brasil, 14 de novembro de 1897 "Como um caso estupendo, conta a Bblia que Josu fez para o sol e, no entretanto, o Animatgrafo Super Lumire, no Paris no Rio, fal-o danar maxixe. Imagine-se o astro-rei cado nos requebros exagerados da nossa dana, como qualquer turuna da Cidade Nova! impagvel!" Jornal do Brasil, 25 de novembro de 1897 "Animatgrafo Super Lumire do Paris no Rio; h quadros de todos os assuntos; desde o que diverte, tendo engraados episdios, at os que pinta desastre. Para os apreciadores excntricos desde ltimos, isto , para os que gostam das comoes fortes, l est um intitulado 'Um Homem Apanhado Por Um Bonde'." Jornal do Brasil, 30 de dezembro de 1897  8) Atentado Contra Prudente de Moraes (1897) " (...) O crime poltico est, enfim, implantado nos costumes brasileiros. O assassinato de hoje, sem precedentes na nossa histria por isso mesmo, lanando profunda consternao no seio da sociedade, provoca a mais justa indignao. O brao que se estendeu contra a pessoa venerada de sr. presidente da Repblica; que assassinou os sr. marechal ministro da Guerra, e que feriu quase mortalmente o sr. coronel Luiz Mendes de Moraes, simplesmente o instrumento inconsciente dessa agremiao poltica que se quer impr ao pas pelo terror, pela anarquia." Narremos Os Fatos : "Acabavam de desembarcar na ponde do trapiche do Arsenal de Guerra o sr. presidente da Repblica, ladeado pelo sr. marechal ministro da Guerra e coronel Luiz Mendes de Moraes, chefe da casa militar. Grande nmero de oficiais de todas as patentes o acompanhavam. O povo abria alas passagem do venerado chefe da nao. Os vivas esturgiram nos ares e as bandas de msica fizeram ouvir o hino nacional. As ltimas notas deste acabavam de soar, quando um clamor se elevou do grupo de que fazia parte o Sr. Dr. Prudente de Moraes. O soldado Marcellino B. de Miranda, 3a companhia do 10o batalho de infantaria, armado de uma pequena faca, investira contra o Sr. Presidente da Repblica. Neste momento o S. Marechal Ministro da Guerra, em um rasgo de sublime heroicidade colocou-se entre o soldado e a cobiada vtima dos furores jacobinos, protegendo-se com o seu corpo e com a sua espada. A arma homicida penetrou fundo no corao do bravo e leal ministro. O coronel Mendes de Moraes, procurando tambm defender o Presidente da Repblica, recebeu grave ferimento no baixo ventre esquerdo. As espadas dos oficiais sairam das bainhas e ameaaram de morte o miservel assassino, que deveu a sua vida ao Sr. Presidente da Repblica, que declarou que o assassino pertencia Justia. Era uma hora e cinco minutos da tarde. Toda essa cena, rpida, mais rpida do que o tempo que gastamos em descrev-lo, passou-se sob uma amendoeira que defronta com o porto da Minerva. Trs minutos depois era cadver o Sr. Marechal Carlos Machado Bittencourt que foi conduzido nos braos de diversos oficiais e paisanos para a sala das entradas, da Intendncia da Guerra, de onde mais tarde foi transportado para a capela do Arsenal. O seu cadver est coberto com a bandeira nacional, e diversos amigos e parentes velam sua cabeceira. O Sr. Coronel Mendes de Moraes foi conduzido para a sua casa em padiola, carregado por 4 oficiais e acompanhado por uma fora do 10o batalho. O assassino, bastante machucado, em conseqncia da resistncia oposta no ato da priso, foi recolhido ao xadrez do arsenal, onde est incomunicvel." - Cidade do Rio, 5 de novembro de 1897 "A 1 hora da tarde foi apunhalado no Arsenal de Guerra, por ocasio do desembarque do general Barbosa e dos batalhes que voltavam de Canudos, o Sr. Marechal Carlos Machado Bittencourt, Ministro da Guerra. A notcia foi transmitida logo para o quartel-general, de onde partiu imediatamente o Sr. Canturia. O agressor foi um aspenada do 10o de infanteria. O golpe fora dirigido ao sr. Presidente da Repblica. O Sr. Ministro da Guerra, porm, antepondo-se ao agressor, foi vtima da fria deste, que lhe cravou trs vezes a arma, uma faca de lmina fina, no peito, na virilha e em uma das mos. Os oficiais do estado-maior do Sr. Presidente da Repblica atiraram-se sobre o soldado e espaldeiraram-no, sendo este preso pelo alferes Murat. Seguiu-se um tumulto extraordinrio. Consta ter sido ferido o coronel Mendes de Moraes. O marechal Bittencourt foi transportado para a arrecadao do Arsenal pelo tenente-coronel Bittencourt do 1o e alferes Gonalves, do 23o, onde expirou momentos depois; sendo conduzido mais tarde para a capela do mesmo edifcio. Ao saber-se na Cmara do acontecimento em virtude do qual faleceu o Sr. Ministro da Guerra, a sesso foi suspensa e mais tarde levantada, depois de falarem os srs. Irineu Machado, Nilo Peanha, Serzedello, Augusto Montenegro e Arthur Rios. Foi nomeada uma comisso de vinte e um membros, representando os estados da Unio, para comparecer aos funerais. No haver sesso noturna." Folha da Tarde, 5 de novembro de 1897 "No podia ser mais profunda nem mais dolorosa a impresso produzida no esprito pblico pelo ignobil atentato que teve ontem por teatro o arsenal de Guerra. Um grito de justa indignao percorreu a cidade, e cobriu-se a alma nacional de luto diante do pavoroso crime. Um soldado, mentindo honra de sua farda e conspurcando as tradies gloriosas do exrcito brasileiro, ousou erguer o brao homicida contra o honrado chefe do Estado, que encarna a soberania nacional, e, como lhe falhasse este golpe, tirou a vida ao ilustre general Carlos Machado Bittencourt - um benemrito da ptria, brasileiro dos mais dignos do respeito e da estima de seus cocidados. (...)" Gazeta de Notcias, 6 de novembro de 1897 "Num s movimento de surpresa e de indignao o povo brasileiro estremece ante a pungentssima tragdia de ontem. A mesma dolorosa impresso fere de sul a norte todos os coraes, abatendo todos os espritos, mergulhando-os na mesma treva de dor e de apreenses. (...) A atitude da imprensa, unnime hoje em protestar contra os crimes ignbeis que ontem ensangentaram o Brasil, a melhor expresso do quanto profunda a revolta que em todas as almas bem formadas vieram eles provocar." "A Gazeta da Tarde, externando o seu doloroso pezar pela morte do bravo e dedicado marechal Machado Bittencourt, associando-se ao luto justssimo do exrcito e de toda a nao, congratula-se ao mesmo tempo com o Brasil por ver ileso no seu alto posto o Sr. Dr. Prudente de Moraes, o velho e honrado republicano, que desde os mais rduos tempos da propaganda toda a gente se habituou a respeitar." "Continuaram hoje as manifestaes de pezar pela morte do marechal Machado Bittencourt. Todas as classes sociais tem demonstrado o seu sentimento; geral o luto na cidade. Muitas casas comerciais cerraram as suas portas; as reparties pblicas encerraram o expediente, conservando-se hoje fechadas; as redaes de todos os jornais iaram bandeiras a meio pau; deixaram de funcionar os teatros." Gazeta da Tarde, 6 de novembro de 1897 "Escrevemos ainda sob a emoo da tragdia que ontem se desenrolou diante da sociedade fluminense, enchendo-a de indignao e luto. O que se passou no Arsenal de Guerra foi to rpido, to imprevisto, to fulminante que no h talvez esprito que no se sinta atordoado ainda pela violncia do golpe e do absurdo da catstrofe. (...) O que moveu o brao desse obscuro soldado e transformou em miservel assassino um defensor da bandeira nacional, ainda para o povo um mistrio que precisa ser completamente esclarecido, para honra da Ptria, a bem da segurana social, a bem da dignidade do poder." NAO: "`As 2 horas da madrugada foi para o Dirio Oficial o manifesto do Sr. Presidente da Repblica nao. S.Ex. declara que, ferido profundamente nos seus sentimentos de homem e de brasileiro pelo atentado contra a sua pessoa premeditado e que vitimou um dos mais dedicados servidores da Nao, o Marechal Carlos Machado Bittencourt, afirma do modo o mais solene que esse horroroso crime no ter o efeito de demover uma s linha do caminho do dever e da defesa da lei, do princpio da autoridade e das instituies republicanas." O Paiz, 6 de novembro de 1897 "Se o abismo tem o encantamento da atrao, o crime um ensinamento e um incitamento para outro crime. Oxal que o nefando atentado de ontem encerre com o seu pesado luto este ano nefasto em que nas ruas desta capital assaltaram-se e saquearam-se casas particulares, se tinha opinies adversas s instituies, era garantido em seu direito de trnsito pelas leis da Repblica. (...)" Jornal do Commrcio, 6 de novembro de 1897  9) Bezerra de Menezes (1900) "Succumbiu hontem, s 11 horas da manh, aps longos e dolorosos padecimentos, que foram a ultima prova imposta sua resignao verdadeiramente christ, o eminente brazileiro cujo nome, encimando estas linhas, como homenagem posthuma s virtudes da sua vida, por tantos annos fulgurou nos annaes da poltica do imperio e hoje, apenas vive na tradio dos que o amaram, ou da inexhaurivel fonte da sua bondade receberam inesqueciveis beneficios. Foi esta a caracteristica essencial do venerado extincto. Politico militante, filiado mais adiantada parcialidade do antigo Partido Liberal, deputado, vereador da extincta Camara deste municipio, a cujos destinos por longos annos presidiu; escriptor - que o era com raro merecimento e brilho - em todas essas manifestaes da sua actividade deu sempre o Dr. Bezerra de Menezes as mais brillhantes provas da sua capacidade de do seu valor moral e intellectual; mais foi sobretudo no abnegado sacerdociu da sua clinica e na doce penumbra da sua vida intima que mais refulgiram os peregrinos dotes de seu espirito, multiplicando-se em desvelos, em solicitude, em carinhoso desinteresse por todos os que soffriam. E jamais bateu um desses, enfermo ou necessitado, inutilmente sua porta. Tempo houve em que, fascinado pelo desejo de servir sua ptria, em cargos publicos, exclusivamente de confiana popular, como acabamos de alludir, substituiu o exercicio da medicina pela tribuna parlamentar ou pelos onerosos encargos de chefe da Municipalidade, em que se conservou perto de vinte annos. (...) Passou atravs das grandezas deste mundo e do fastigio do poder sem lhes sentir a vertigem, sombranceiro, indifferente, alheio a ambioes, tendo pelas seduces da fortuna um desprezo que tanto contrasta com o culto hoje incondicionalmente rendido a essa mesquinha preocupao, cujo cultivo, em certas camadas da sociedade contemporanea, tanto rebaixa o espirito da nossa nacionalidade. realmente edificante, no meio das ambies que na hora presente se disputam entre ns a posse das melhores posies, para a ostentao de insperadas opulencias, oppor o exemplo desse grande cidado, que no mera figura - encaneceu no servio da Ptria e da humanidade e, tendo entrado para a vida publica com fortuna, della se retirou pobre, depois de haver exercido gratuitamente por um largo perodo, o cargo de vereador, que no era ento remunerado, em de ter tido em suas mos, como seu presidente, as chaves da Municipalidade, de que no se utilizou seno para assegurar-lhe as condies de prosperidade, de que rezam as tradies desse tempo. (...) Assim, de facto, viveu esse grande homem, mixto de interesse, de abnegao, de f e de grande moral, e que, de sessenta e oito annos, voltados actividade constante do trabalho, extreme de ambies vulgares, sae da vida, deste charco, que o no conspurcou, cercado de uma aureola de virtude e atraves de uma glorificadora apotheose de bnos e lagrimas. (...) A sociedade brazileira, particularmente a sociedade fluminense, contraiu com o venerando morto uma divida que, revertendo em beneficios de sua familia, honrar a memoria daquelle que tantos servios lhe prestou. Resta que a pague, provando assim que a ingratido no a nica moeda com que o povo costuma retribuir os sacerdocios dos que serviram patria e humanidade. (...)" O Paiz 12 de abril de 1900 "Falleceu hontem, s 11 horas da manh o dr. Adolpho Bezerra de Menezes. O finado foi chefe politico do antigo partido liberal, no regimen monarchico, na freguezia de S. Christovo, onde gozava de real influencia; occupou os cargos de eleitor especial e vereador, foi por muitos anos presidente da camara municipal, e diversas vezes foi eleito deputado geral, pelo 3o districto do municipio neutro. Possuidor de grande fortuna, a politica e a pratica da caridade empobreceram-no. A sua morte deixa um grande vacuo no corao daquelles que tiveram ocasio de admirar de perto quanto valia alma privilegiada. Medico e medico habil, a sua vida foi, nos ultimos tempos um continuo labutar em beneficio da pobreza; jamais recusou os seus servios queles que a elle recorriam. Dos pobres nada aceitava; dos ricos recebia o que queriam dar-lhe. Por isso morreu pauperrimo. Para poder avaliar bem a grandeza d'alma do dr. Bezerra, basta expor o seguinte facto, de que temos conhecimento, entre muitos outros factos. Era o dr. Bezerra presidente de uma companhia, com escriprorio a rua Sete de Setembro, quando lhe appareceu um conhecido seu communicando-lhe o fallecimento de um filhinho e dizendo-lhe, com as lagrimas nos olhos, que, achando-se desempregado, no tinha recursos para fazer o enterro. O dr. Bezerra chamou-o a um canto e meteu-lhe na algibolsa todo o dinheiro que possuia. No momento em que se propunha a retirar-se para a casa (morava ento na Tijuca) reconheceu que, tendo dado tudo nada lhe restava para a passagem do bond, e pediu a um amigo trezentos ris emprestados! As bnos da pobreza, que ele soccorria o acompanharo para a morada celeste." Jornal do Brasil, 12 de abril de 1900 "Depois de longos e crueis padecimentos, falleceu hoje o sr. Antonio Bezerra de Menezes, antigo e estimado clinico desta Capital. Exerceu entre ns o dr. Bezerra de Menezes varios cargos de eleio popular, sendo considerado por muito tempo um dos mais prestigiosos chefes do partido liberal do antigo Municipio Neutro, durante a monarchia. Por vezes escolhido pelo corpo eleitoral da cidade do Rio de Janeiro seu representante na camara municipal do Rio de Janeiro, por fora da lei que outrora vigorava, foi o seu presidente, e nesse caracter exercia grande influencia sendo muito respeitado e considerado pelos chefes de sua parcialidade politica, e gosando tambm de prestigio verdadeiramente popular. (...) Tendo exercido grande influencia como politico e homem de aco, como mdico que dispunha de clinica extensissima, ha muito tempo que desaparecera da vida publica. Estava retirado mas no esquecido. No esqueceram seus companheiros de luctas que nele tiveram um bom e leal camarada, nem poderiam duvidar tantos quantos receberam os muitos beneficios de que era prodigioso seu excellente, bondoso e meigo corao." Cidade do Rio, 11 de abril de 1900 "Falleceu hontem nesta capital o Dr. Adolpho Bezerra de Menezes, influencia poltica do partido liberal do antigo regimen. Nascido no Estado do Cear, fixou residncia aqui logo depois de formado na Faculdade de Medicina, sendo por vezes eleito Vereador e Presidente da Cmara Municipal. Na Cmara dos Deputados foi representante do Municpio Neutro e de sua provincia natal, em varias legislaturas. Intelligente, activo e dedicado ao seu partido o Dr. Bezerra de Menezes, gozou de grande popularidade e prestigio chegando a ser elevado a chefe incontestado do partido liberal nesta Capital, depois da morte do Dr. Dias da Cruz. Ha muito tempo que abandonando a politica entregou-se ao exerccio de sua profisso de mdico, onde tambm se distinguio pelo seu desinteresse e actos de caridade. Muitos foro os amigos que teve quando no vigor de todo o seu prestigio, do seu talento e de toda a sua popularidade. Morreu, entretanto, muito pobre aps longa enfermidade e apenas rodeado do grupo de amigos que nunca o abandonou." Jornal do Commrcio, 12 de abril de 1900 "Faleceu hontem s 11 horas da manh o dr. Adolpho Bezerra de Menezes, conhecido mdico, residente nesta Capital, onde gosava de geral estima. Era natural do Cear, tendo, durante o imprio, representado por diversas vezes o Municpio Neutro na Cmara dos Deputados. Occupou tambm, o logar de presidente da antiga Cmara Municipal. famlia enlutada apresentamos as nossas condolencias." A Imprensa, 12 de abril de 1900  10) Revolta da Vacina (1904) "O governo arma-se desde agora para o golpe decisivo que pretende desferir contra os direitos e liberdades dos cidados deste pas. A vacinao e revacinao vo ser lei dentro em breve, no obstante o clmamor levandado de todos os pontos e que foi ecoar na Cmara dos Deputados atravs de diversas representaes assinadas por milhares de pessoas. De posse desta clava, que o incondicionalismo bajulador e mesureiro preparou, vai o governo do Sr. Rodrigues Alves saber se o povo brasileiro j se acanalhou ao ponto de abrir as portas do lar violncia ou se conserva ainda as tradies de brio e de dignidade com que, da monarquia democrtica passou a esta Repblica de iniqidade e privilgios. O atentado planejado alveja o que de mais sagrado contm o patrimnio de cada cidado: pretende se esmagar a liberdade individual sob a fora bruta..." - Correio da Manh, 7 de outubro de 1904 "Foi extrema a indignao que o projeto do regulamento da vacina obrigatria excitou no nimo de todos os habitantes de Rio de Janeiro, cuja sensibilidade ainda no embotaram interesses dependentes do governo e da administrao sanitria." "Durante o dia de ontem foram distribudos boletins convocando o povo para um meeeting no largo de S. Francisco de Paula, contra os demandos do Conselho Municipal e da execuo da lei da vacina obrigatria." Correio da Manh, 11 de novembro de 1904 "Parece propsito firme do governo violentar a populao desta capital por todos os meios e modos. Como no bastassem o Cdigo de Torturas e a vacinao obrigatria, entendeu provocar essas arruaas que, h dois dias j, trazem em sobressalto o povo. Desde ante-ontem que a polcia, numa ridcula exibio de fora, provoca os transeuntes, ora os desafiando diretamente, ora agredindo-os, desde logo, com o chanfalho e com a pata de cavalo, ora, enfim, levantando proibies sobre determinadas pontos da cidade." Correio da Manh, 12 de novembro de 1904 " (...) As arandelas do gs, tombadas, atravessaram-se nas ruas; os combustores de iluminao, partidos, com os postes vergados, estavam imprestveis; os vidros fragmentados brilhavam nas caladas; paraleleppedos revolvidos, que servem de projteis para essas depredaes, coalhavam a via pblica; em todos os pontos destroos de bondes quebrados e incendiados, portas arrancadas, colches, latas, montes de pedras, mostravam os vestgios das barricadas feitas pela multido agitada. a viao urbana no se restabeleceu e o comrcio no abriu suas portas. (...)" Jornal do Commrcio, 15 de novembro de 1904 "Como ante-ontem, repercutiram-se ontem as correrias e arruaas dos dois dias anteriores. Como na vspera, tiveram princpio no largo de S. Francisco. Desde que se manifestou o conflito, deu-se a interveno da fora armada, segundo ordem do Dr. Chefe de Polcia, que, por intermdio de seus delegados, determinara que a interveno s se desse em caso de conflito ou atentado propriedade. Na rua do Teatro, do lado de Teatro So Pedro, estava postado um piquete de cavalaria da polcia. Ao aproximar-se o grupo de populares, a gritos e a vaias, a fora tomou posio em linha, pronta a agir, caso fosse necessrio. A movimentao do piquete de cavalaria aterrorizou um tanto os populares que recuaram. Depois, julgando talvez que a cavalaria se opussesse passagem, avanaram resolutos, hostilizando a fora a pedradas. O comandante da fora mandou avanar tambm, dando-se o choque. (...) Serenado mais ou menos o nimo popular naquele trecho, seguiu a fora a formar na praa Tiradentes, fazendo juno com outro piquete que ali se achava postado." Gazeta de Notcias, 13 de novembro de 1904 "Seria preciso no conhecermos a vida da cidade do Rio de Janeiro, mesmo nos seus dias anormais, para no compreendermos os acontecimentos de ontem que encheram de pnico e pavor toda a populao. Houve de tudo ontem. Tiros, gritos, vaias, interrupo de trnsito, estabalecimentos e casas de espetculos fechadas, bondes assaltados e bondes queimados, lampies quebrados pedrada, rvores derrubadas, edifcios pblicos e particulares deteriorados." Gazeta de Notcias, 14 de novembro de 1904 MANH DE ONTEM: "Pela Rua Senhor dos Passos, s 7 horas da manh, subia uma grande massa de populares, dando morras vacina obrigatria. Pelos indivduos que a compunham foram atacados alguns bondes da So Cristovo. Ao entrar na Praa da Repblica foram virados os seguintes bondes: ns. 140, 95, 113, 27, 55, 105, 87, 101, 38, 41, 85, 56, 31, 13, 130, 101 e 129. Em alguns casos os populares atearam fogo. A Jardim Botnico sofreu tambm prejuzos. seus carros no Catete e Larangeiras, foram atacados. BOMBAS DE DINAMITE: "J ontem apareceram as terrveis bombas de dinamite, como elemento de guerra. A 3a Delegacia foi alvejada por inmeras bombas atiradas pelos populares; estes, ao fim de algum tempo, conseguiram repelir a fora de polcia, que foi substituda por praas do corpo de marinheiros. "A cada passo, no centro da cidade, erguiam-se barricadas e trincheiras de onde os populares atacavam as foras militares. as ruas da Alfndega, General Cmara, Hospcio, S.Pedro, Av. Passos etc. foram ocupadas pelo povo." "Os alunos da Escola Militar do Brasil, depois de deporem o general Costallat do comando desse estabelecimento, elegeram, em substituio, o sr. general Travassos e em sada saram em grupos, naturalmente para se reunirem na praia de Botafogo. Ao seu encontro seguiu do Palcio o 1o de infantaria do exrcito, sob o comando do coronel Pedro Paulo Fonseca Galvo." Gazeta de Notcias, 14 de novembro de 1904 Interrompemos a nossa narrao s 3 horas da manh. Pouco antes foi-nos telefonado do palcio que um delegado viria ver as provas da nossa folha para se certificar de dvamos notcias alarmantes. respondemos que as nossas notcias eram smples narrao de fatos. Foi-nos ento pedido para retirar algumas das notcias que enumerara e que entretanto foram publicadas por outros colegas." Gazeta de Notcias, 16 de novembro de 1904 "A evidente prova de que toda esta agitao em torno da vacina artificial e preparada com intuitos meramente perturbadores, est em que as arruaas comearam, justamente quando reiteradas declaraes do Sr. Ministro do Interior, feitas a todos os jornais,levavam convico de que o que indiscretamente se publicou como sendo regulamento da lei no s o no era como o no seria nunca. A discusso sobre a questo da vacina tinha se conservado no terreno doutrinrio. (...) "Continuaram ontem infelizmente as assuadas e correrias da vspera no largo de S. Francisco de Paula, sendo necessria a interveno da fora de polcia para dissolver os grupos de turbulentos. Alguns gaiatos deram largo curso ao boato de que tarde havia um meeting naquele largo para o fim de se protestar contra a obrigatoriedade da vacina, o que no aconteceu; mas, no obstante, desde as 5 horas comeou a afluir ao lugar indicado vrias pessoas, que se aglomeraram prximo esttua de Jos Bonifcio. Eram 6 horas. Notava-se no largo de S. Francisco de Paula desusado movimento, quando principiou a assuada. No havia orador, todos se olhavam admirados sem saber porque ali se estacionavam. Afinal, dentre os populares surgiram os indivduos Francisco de Oliveira e Lcio Ribeiro, os quais, subindo ao pedestal da esttua de Jos Bonifcio fingiram que iam falar as massas. Os dois pandegos, porm, embatucaram diante da grande multido e limitaram-se a gesticular estupidamente, sendo isso motivo de datisfao para a garotagem que os aplaudia frenticamente. (...)" O Paiz, 12 de novembro de 1904 "Como nos dois dias anteriores, arruaas comearam ontem tardinha. No esta convocado meeting, entretanto, desde 5 horas da tarde o largo de So Francisco de Paula esteve repleto de gente em sua maioria curiosos." "Enquanto se perde tempo e se despende energia nessa agitao injustificvel a pretexto da vacinao obrigatria, vamos deixando de lado as questes que realmente nos interessam e que afetam vivamente a situao do pas. (...) O Paiz, 13 de novembro de 1904 "No h que se esconder a gravidade da situao que, desde alguns dias j, se vinha desenhando no aspecto da cidade e que tos os espritos anunciavam porque a pressentiam e apalpavam.(...) Verdadeiras lutas foram travadas a peito n entre populares e as foras policiais de infantaria e cavalaria, distribudas por fortes contingentes nos pontos onde maior era a aglomerao e onde as desordens mais se pronunciavam. Na execuo das ordens recebidas e conforme um edital da polcia publicado pela manh, a polcia interveio na disperso do povo, acometendo-o com cargas de espada e lana e no raro travando verdadeiros tiroteios; o povo repelia-a a pedradas, entricheirando-se como podia, e a fora despejava os revlveres. Iso mesmo sente-se da relao publicada dos feridos, a maior parte por armas de fogo." "Os estragos que a cidade apresentou na manh de hoje, rvores derrocadas, combustores retorcidos, quebrados, e postes por terra, , edifcios com as vidraas estilhaadas, bondes quebrados uns, incendiados outros, tudo isso d idia da intensidade dos conflitos de ontem e do desespero e anarquia que reinaram nas ruas, que mais ttricas e cheias de perigo se tornaram quando a noite caiu, privadas grandes trechos de sua iluminao costumada." "Jamais podiamos imaginar que da vacina obrigatria pudessem surgir os distrbios de ontem, iniciados na vspera, depois dos breves mas violentos discursos pronunciados na Liga Contra a Vacinao. Combatendo a obrigatoriedade desta providncia, o fizemos sempre de acordo com a lei, em nome dos princpios constitucionais e da liberdade individual, sem jamais aconselhar a resistncia mo armada, que condenamos com a maior energia porque a desordem no pode governar e o prestgio da autoridade constituda no pode parecer diante da subverso da ordem." BARRICADAS: "Na rua Senhor dos Passos, esquina da rua Tobias Barreto, Sacramento e Hospcio foram levantadas barricadas, havendo em alguns pontos atravessado correntes e arames de lado a lado da rua. Junto a essas barricadas os populares varavam a polcia." A Tribuna 14 de novembro de 1904 AS MANCHETES Vacina ou Morte (Correio da Manh) O Monstruoso Projeto (Correio da Manh) Arruaa Policial - Novas Violncias - Bondes Atacados - Prises - O Comrcio Paralizado (Correio da Manh) A Revolta dos Alunos Militares - Gravssimo Os Fatos de Ontem - Combate em Botafogo - Tomada de Delegacia -Montins na Sade - Barricadas - Trincheiras - Assaltos a Casas Populares - Morte e Ferimentos (Gazeta de Notcias) Estado de Stio - A Conspirao - Discursos do Senador Rui Barbosa - Rendio de "Porto Arthur" - Ataque Fbrica Confiana - Priso do General Olympio de Oliveira - Fechamento da Escola Militar - Priso de Alunos da Escola de Realengo (Gazeta de Notcias) Graves Sucessos - Os Acontecimentos de Ontem - Barricadas e Tiroteios - Conflitos, Ferimentos e Mortes - Providncias do Governo - (A Tribuna)  11) Avenida Central (1905) "Hoje deve ser entregue ao trnsito pblico a primeira Avenida construida no rio de Janeiro, que recebeu o nome de Central. Como igualmente sabido, esta grande artria ser oficialmente inaugurada hoje pelo Sr. presidente da Repblica, que cortar as fitas que a fecham. Quase todos os prdios concludos tero as suas fachadas ornamentadas com bandeiras e garlhadetes. Dentre estes, destacam-se os do Sr. Eduardo Guinle, posto disposio da comisso construtora da Avenida e do qual o Sr. presidente da Repblica assistir ao desfilar das tropas, e da Rio Light and Power. O primeiro acha-se internamente decorado com muito gosto, tendo nos vastos sales, alm de escudos com bandeiras encimadas por guirlandas de flores, muitos festes cruzando os tetos assim como nas sacadas que do para a Avenida. O outro prdio que se destacar pela sua ornamentao o em que se v instalada a Light, que alm de outros enfeites ter a fachada iluminada por 500 lampadas eltricas incandescentes multicores, tendo no centro uma estrela formada pelas mesmas lmpadas. esse prdio pertence ao Sr. Conde Sucena. (...) Os mastros fincados ao longo da Avenida, em nmero de 348, tero galhardetes e sero ligados por festes. Em 41 desses postes sero colocados escudos com os nomes dos engenheiros da comisso da Avenida, assim como tambm alguns com os nomes de vrios construtores. Os coretos, em nmero de sete, acham-se colocados nos seguintes pontes da grande artria: um em frente Casa Guinle; dois na praa circular; um em frente ao 1o Barateiro, em forma de aafate de flores (este coreto ser o mais belo); um em frente ao Teatro Municipal e dois no trecho entre a rua do Passeio e Santa Luzia. (...)" Gazeta de Notcias, 15 de novembro de 1905 "Nem mesmo o mau tempo, to inclemente e to enfadonho desde a noite da vspera, conseguiu arrefecer o jbilo e o intenso enthusiasmo com que o povo acorreu a festejar o aniversrio da Repblica, to bem caracterizado pela inaugurao dessa monumental Avenida, que agora se oferece no somente nossa admirao, mas de todo o pas e do estrangeiro, como um exemplo do poder de vontade do governo federal, auxiliado fortemente pela nossa engenharia e pelos capitais e fortuna dos que viram na construo da grande artria um emprego remunerador, do mesmo passo que uma contribuio pedida a todas as individualidades para o engrandecimento moral e material desta terra. A Avenida surgiu diante dela como uma maravilha, como a aurora luminosa de um futuro grandioso. E todos esperavam o dia ansiosos para levarem ao Sr. Rodrigues Alves, nas palmas de suas aclamaes, o testemunho do seu reconhecimento. O tempo foi ingrato, injusto, impediu na sua crueldade que o entusiasmo popular fosse o que ia ser, um longo e estrepitoso grito de saudao ao governo, representado nesse homem puro e bondoso, que na paz de sua convivncia sente a grande ventura do dever cumprido. Realizou-se ontem, s 6 horas da tarde, a inaugurao oficial da iluminao da Avenida Central. A essa hora achavam-se no escritrio da Light os Srs. Drs. Tefilo de Almeida, inspetor geral da iluminao pblica, conselheiro Camelo Lampria, ministro de Portugal, Pearson, Drs. Rego Barros e Paulo de Frontin, Brisson e vrios engenheiros da comisso construtora da Avenida. Os diretores da light convidaram os Srs. ministro de Portugal e Drs. Paulo de Frontin, Tefilo de Almeida e Pearson a abrir os circuitos para estabelecer a comunicao s lampadas, que em ato contnuo derramaram sobre a Avenida intensa luz. Depois desta cerimnia foi servido s pessoas presentes profuso lunch, fazendo todos em seguida o percurso da Avenida em carros e automveis. Apesr da chuva, a iluminao produziu esplendido efeito." A Tribuna, 16 de novembro de 1905 "A chuva interrupta que cae sobre a cidade, desde ante-ontem, noite, no permittiu que a inaugurao da Avenida Central, tivesse o brilhantismo anunciado... A inaugurao apesar do nmero de pessoas presentes, esteve fria. O conselheiro Rodrigues Alves foi, durante longo tempo, acompanhado por uma enormidade garotos, que pulavam de um lado para outro lado, formando um sequito incomodo e alverecido. O povo, divorciado por completo das festanas e pagodes oficiais, no teve uma aclamao, no teve um viva, para o presidente da Repblica. Na sacadas e janelas dos prdios j construdos, j por concluir, em alguns dos quais foram improvizados pavilhes viam-se muitas famlias. 9:00 foi lanada pelo vigrio de So Jos, a beno Avenida, assistindo a essa solenidade os membros da comisso construtora, alm de convidados. 9:50 Chegada do Presidente da Repblica acompanhado do Almirante Julio de Noronha, ministro da Marinha, marechal Argolio, ministro da Guerra e Dr. Lauro Muller, ministro da Indstria, Viao e Obras Pblicas. O landau do chefe da nao era escoltado por um piquete de 40 praas do 9o Regimento de Cavalaria. chegada na Avenida, no extremo da Prainha, o chefe da nao e sua comitiva foram recebidos pelo Dr. Frontin e toda a comisso construtora. O Dr. Rodrigues Alves desfez o lao de fitas que interceptava a passagem pela grande avenida. Foi ento tocado o Hino Nacional pela banda de msica da Companhia Luz Stearica. O presidente da Repblica, seguido de sua comitiva, dos membros da comisso da Avenida, representantes da imprensa e convidados dirigiu-se ento para um dos edifcios. Dali, de uma sacada adornada especialmente para o ato, Sua Exel. junto com os ministros assistiu ao desfilar das foras, que contornavam o prdio, pela rua Acre. (...) Hontem, enquanto ao espoucar do champagne festivo e o mastigas das festivas empadas, a gente do governo inaugurava a Avenida, sob o hospitaleiro tecto dos felizardos Guinle, centenas de famlias abandonavam os lares nos carros dos benemeritos bombeiros buscando abrigo onde se refugiar da massa d'gua que lhes invadiu s casas. O dinheiro do contribuinte foi esbanjado, foi desperdiado em indenizaes vergonhosas, em que se abarrotou a advocacia administrativa, foi distribuido em negociatas e arranjos.(...)" Correio da Manh, 16 de novembro de 1905 "Raras vezes um acontecimento publico ter attrahido a uma extensa rea da cidade mais gente do que a inaugurao da Avenida Central attrahio hontem desde pela manh zona urbana, vulgarmente conhecida pelo nome de "centro". evidente que a affluencia maior se localizou na nova via de comunicao, mas todas as transversaes entre o largo de S. Francisco e o Rocio, de um lado, o largo do Pao e a rua Direita, do outro, foram, desde as 7 horas da manh, outros tantos carreiros por onde se agitou num fluxo continuo e animado um dos mais vastos formigueiros humanos que a actual gerao ser dado presenciar. O facto demonstra o grande interesse da populao pelo importante melhoramento que o actual Governo lega Capital do paiz. Esse interesse, apressamo-nos em dizel-o, de todo justificado. O extrangeiro que visitar agora a nossa Capital ja tem na Avenida um bello exemplo do progresso material que o Rio de Janeiro se sente resolvido a realizar. Est de vez morta a exlusividade de seduco que a naturaleza, e s ella, exercia sobre quantos extranhos nos visitavam. Subsistir sempre a seduco das bahias, das arvores e dos morros, mas a Avenida j prova que estamos resolvidos a construir outras joias que ns mesmos fabriquemos sem nos limitarmos to smente a exhibir aquellas em que de modo algum trabalhamos. Foi porque o animava esta mesma convico, que o povo durante toda a manh e parte da noite se escoou constantemente entre os dous flancos da Avenida em ondas compactas que s cessaram depois das dez da noite, ante a necessidade imperativa do descanso. O tempo no quiz collaborar com a populao na consagrao do melhoramento novo, mas, considerada a verdadeira avalanche humana que com dia feio encheu a Avenida, quasi se pode abenoar o acaso do tempo, pois sem elle o estadio na nova arteria principal da cidade se teria tornado intoleravel. Ao demais, ante a m vontade do tempo, os cariocas souberam encolher desdenhosamente os hombros. As senhoras, s janellas dos prdios j concluidos, em palanques improvisados no arcabouo dos em construo, ou pelas ruas chapinhando na lama aristocratica da grande rua elegante, pareciam affirmar que esse documento de progresso valia bem o holocausto de um vestido, de elevado preo que fosse. Do lado dos homens, uma ou outra cartola foi naturalmente votada perdio, como tributo expontaneo commemorao grandiosa. Os proprios soldados, marcises e serenos, pareciam elles proprios indifferentes ao gottejar da chuva sobre ou dourados e alamares das fardas e deram Avenida a nota sympathica da sua presena. (...)" Jornal do Commercio, 16 de novembro de 1905 "A esperana de um bello dia sagrando uma bella data e uma bella obra desfez-se, infelizmente; o sol no veiu, e foi sob um aguaceiro impertinente e odioso, fino e pulverizado a comeo, grosso e encharcante depois, que se fez hontem a inaugurao da formosa avenida que foi, no dia da festa da Repblica, a concretizao mais evidente e irrecusavel das suas promessas de melhores dias. O ceo amanheceu turvo e torvo se conservou at a noite, como uma carranca de sebastianista impenitente. A despeito disto, a inaugurao da Avenida Central e as commemorativas que se confundiram nesse facto, tiveram um brilho consolador. No houve sol, mas houve enthusiasmo; e a multido que veiu para a rua e que a despeito do chuveiro se derramou pela grande via, enchendo-a de vida e movimento, nela se conservou ate dessaparecer no angulo da rua do Passeio o ultimo soldado da desfilada militar, valeu como consagrao e calor pelo mais claro sol destes claros dias de novembro. (...) Para toda essa gente a avenida era como uma noiva linda, de que uns querem apanhar bem o geito, a maneira, a impresso das ultimas horas de solteira, e a quem outros se contentam de olhar, de alma aberta, felizes e radiosos unicamente de vel-a radiosa e feliz. (...) s 9 horas resoava para os lados da Ajuda a vibrao marcial de uma banda de cornetas. Houve um fremito na multido, j densa. Pouco depois apontava no extremo da avenida o brilhante estado-maior da diviso militar, a cuja frente se destacava, pequeno e incisivo, o perfil napoleonico, como escreveu um reporter das ultimas manobras, do general Hermes da Fonseca, e aps elle as pontas reluzentes e as bandeirolas vermelhas do piquete de cavallaria. Mais um pouco se surgia o estado-maior da brigada da marinha, chefiado pelo contra-almirante Rodrigo Rocha, e apos este, em uma longa fila, admiravelmente alinhada, de gorros brancos, o primeiro corpo de marinheiros nacionaes. Seguiu-se o outro logo e immediatamente os pelotes flammantes do batalho de infanteria de marinha appareceram, movendo-se como uma successo de faixas vermelhas que os guias mantivessem pelos extremos impeccavelmente distendiadas... (...) A fita inaugural da avenida fra rota; a grande via estava aberta officialmente para o Rio de Janeiro; e por entre a massa popular, vibrante, exaltada, movida por um explicavel e justo enthusiasmo, a carruagem presidencial, onde se alliavam as figuras do chefe do Estado e do ministro que fizera a construco admirada, desfilava vagarosamente diante das continencias da diviso e das acclamaes do povo. (...)" O Paiz, 16 de novembro de 1905 AS MANCHETES: Luxo e Misria (Correio da Manh) As Festas Da Repblica (A Tribuna)  12) Machado de Assis (1908) "O Brasil acaba de perder o filho que mais alto o elevou no mundo das letras. A Morte, sempre impecvel era a sua triste misso, ceifou ontem a vida preciosa de Machado de Assis - o Mestre querido e respeitado da literatura ptria. (...) Machado de Assis nasceu inteiramente pobre e foi no seio da pobreza que ele se criou e deu os primeiros passos na sua vida. A struggle for life tornou-o artista e foi na qualidade de smples compositor que ele entrou um dia para as oficinas da Imprensa Nacional. mas dotado de um invejvel talento e de uma vasta erudio, - esprito observador por excelncia - Machado de Assis no tardou a revelar-se o escritor primoroso, cujo passamento acaba de trazer a dor e o luto a todo o pas. (...) Morreu Machado de Assis. hora em que escrevo esta frase, nesta mesma seo, em que h apenas algumas semanas, acusava a recepo de Memorial de Ayres, o livro de afeto, que lhe prolongou a vida, ele jaz embalsamado, no salo da Academia de Letras, aguardando a hora solene que que todos os que, nesta terra, prezam e amam as manifestaes de esprito, lhe vo render as ltimas e supremas homenagens, que restritamente, lhe so devidas. Machado de Assis atravessou trs geraes literrias e por todas elas foi considerado o que era realmente: um mestre desta difcil arte de escrever. Em face de seu corpo inanimado, pode-se lhe fazer a justia plena; e essa justia deve-se traduzir num apoteose. Transformando os seus funerais numa glorificao, o povo brasileiro no rende apenas o preito devido ao pensamento e arte, glorifica-se a si mesmo, porque , de fato, uma glria que constitunamos o meio superior, indispensvel existncia, ao desabrochamento, evoluo de um esprito to primoroso, como o do autor do Braz Cubas. (...)" A Imprensa, 30 de setembro de 1908 "No uma smples perda. A morte de Machado de Assis uma catstrofe no mundo das letras nacionais. Era impossvel de resto guardar por mais tempo uma vida que se prendia nossa por um fio delgado. Machado de Assis desde que se foi a sua companheira de tantos anos, j no vivia seno a vida da saudade, a vida da recordao, daquela que fora o conforto da sua existncia, o arrimo da sua velhice e a suprema inspiradora de toda a sua generosa obra literria. O desaparecimento do Mestre tanto mais irreparvel quando ele cai de uma altura literria qual ningum entre ns atingiu antes dele. (...) Porque Machado de Assis no foi nenhum filho da fortuna, ele teve de lutar incessantemente contra todos os obstculos da vida. No gozava sade, no tinha meios para se desvencilhar das amarguras em que seu esprito sossobraria de certo, se ele no tivesse a couraa de uma energia que ningum adivinhava na serenidade e na doura daquela alma de criana. Entrou lutando e tombou vencido pela dor e pela saudade. (...) Era poeta, publicista, cronista, conteur. O seu nome em literatura era Legio. Valia por um peloto de estrategistas. Era mais forte do que uma guarda de escolhidos. (...) Descrevia coisas ordinrias extraordinariamente bem. O estilo o homem. Na naturalidade da obra do Mestre descobre-se sem esforo a simplicidade do homem na sua vida pblica e particular. E era esse o maior encanto dos muitos amigos do pranteado morto. (...) Daqui a muitos anos, talvez a muitos sculos, as geraes que substituirem as que se forem mergulhando para o outro lado do mundo terreno, ho de ir buscar obra do Mestre ensinamentos preciosos. Porque os gnios no desaparecem; transformam-se apenas em anjos de guarda das naes de que foram figuras precipuas. (...)" O Sculo, 29 de setembro de 1908 "O homem que hoje desapareceu de entre os vivos no era apenas um fino cultor das letras, um romancista de nomeada, um conteur exmio, um cronista encantador - era acima de tudo isso o mais alto, mais delicado e pertinaz amigo da literatura nacional. Consciente de seu valor, do prestgio de seu nome na arte Machado de Assis no se isolava na legendria torre de marfim dos orgulhosos e misantropos, o que ele buscava no era a glria e o respeito para o seu nome unicamente, o que ele queria ver aureolada de venerao, reconhecida como uma fora sublime, como um fator da grandeza nacional era a literatura, a profisso de homem de letras, que amava acima de todos e cultivava com fervor de sacerdote. (...) Da a sua preocupao to ardente, to fantica, que foi quase ingnua, de formar academias, criar um ncleo que atrasse o olhar de todo um povo, fundar a aristocracia das letras. (...) O grande escritor Machado de Assis sofria h muito tempo e veio a piorar rapidamente depois da morte de sua idolatrada esposa. Domingo ltimo mais se afirmaram os padecimentos at que hoje s 3,45 da madrugada, a arterio-sclerose teve o seu termo final. (...) Foi agraciado com os ttulos de cavalheiro e oficial da Ordem da Rosa e pelo seu valor literrio mereceu a eleio presidncia da Academia Brasileira de Letras." A Tribuna, 29 de setembro de 1908 "A literatura nacional acaba de sofrer, com a morte de Machado de Assis, seu chefe incontestado, uma perda verdadeiramente irreparvel, e que no podia ser maior nem mais dolorosa. Sem falar nos seus dotes de imaginao, que no eram extraordinrios, Machado de Assis foi um dos escritores mais puros da lngua portuguesa no sculo XIX e o seu nome ser repetido a par de Garrett, Camillo e outros mestres ilustres. Favorecido por uma cultura literria formidvel e pela faculdade do trabalho abundande e fcil, Machado de Assis deixa uma obra considervel, a maior, talvez, que ainda saiu da pena de um homem de letras brasileiro. Na poesia, que foi a primeira manifestao do seu talento, no romance, no teatro, no conto, na fantasia, na crnica, em tudo ele brilhou intensamente; nenhum trabalho, ainda o mais insignificante, lhe saiu das mos que no tivesse o cunho do definitivo, do bem acabado. (...) Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839 e era filho legtimo do operrio Francisco Jos de Assis e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis. Os seus estudos foram irregulares. Ao deixar a escola de primeiras letras, sabendo apenas ler e escrever, tratou de instruir-se a si mesmo, sem professores nem conselheiros, e assim adquiriu todos os conhecimentos indispensveis carreira com que devia ilustrar o seu nome. (...) Em 1858, Machado de Assis abraou a arte tipogrfica, mas no ano seguinte abandonou-a, para ser revisor de provas da famosa casa de Paula Brito e do Correio Mercantil. Em 25 de maro de 1860 encetou a sua vida jornalsica, ao lado de Saldanha Marinho, Quintino Bocayuva e Cesar Muzio, no Dirio do Rio de Janeiro. (...) Em 1867 o governo imperial agraciou-o com o grau de cavalheiro da Ordem da Rosa, por servios prestados s letras brasileiras; em 1888, a princesa D. Isabel elevou-o a oficial da mesma ordem; mas a honra maior que ele recebeu em vida, foi a presidncia da Academia Brasileira, que os seus confrades lhe deram por aclamao. Em 1869 casou-se Machado de Assis com D. Carolina Augusta Xavier de Novaes, irm de Faustino Xavier de Novaes, a qual faleceu h trs anos. A viuvs foi para o grande escritor um golpe terrvel, que o aniquilou, agravando os seus antigos padecimentos. Pode-se dizer que, depois da morte da querida esposa, Machado de assis no viveu mais: morria aos poucos. Sozinho no mundo, sem filhos, sem parentes, no resistiu perda da extremosa companheira de tantos anos. (...)" O Paiz, 30 de setembro de 1908 "Morreu Machado de Assis. Perde a nossa lngua um de seus mais vigorosos e profundos escritores. Com ele desaparece a mais leve e a mais encantadora das nossas prosas, a mais completa e a mais perfeita das organizaes literrias que possuimos. Poeta, romancista, dramaturgo e jornalista, era Machado de Assis o tipo culminante e o mais simptico do nosso mundo de letras. Sua perda irreparvel. Num pas como o nosso, j to pobre de espritos brilhantes como o seu, esse desaparecimento mais importante do que parece. (...) No mais nos ser dado ler novos primores da pena que escreveu Quincas Borba e Dom Casmurro. Machado de Assis desaparece e embora cubram-lhe a tumba de flores e a sua memria da mais profunda saudade, do seu estro s nos restar a lembrana que nos seus livros, no entanto, palpitar sempre luminosa e forte como o sol. (...) Quem entrasse, s 4 horas, no Guarnier havia de ver, invariavelmente, um homem pequeno, franzino, de barba curta e quase branca, sempre numa das cadeiras que correm a fila das brochuras francesas, entre as pernas um indefectvel guarda-chuva. Tinha um ar cansado, se bem que a fisionomia lhe sorrisse todas as vezes que um chapu se erguesse ou uma mo apertasse a sua, sempre com grande interesse e respeito. Era Machado de Assis. Fechada a sua repartio, subia ele Ouvidor acima, caminho do Guarnier, quela mesma hora, sempre com o seu passo rtmico e nervoso de quem vai ao cumprimento de um dever sagrado. (...) E velhos e novos, acadmicos e poetas que surgissem, culos e cabeleiras, cercavam-no com interesse, com curiosidade ou admirao. De toda a grande nave da livraria, era a figura, a mais vista e a mais admirada. (...)" Correio da Manh, 30 de setembro de 1908  13) Inaugurao do Teatro Municipal (1909) VISITA AO TEATRO MUNICIPAL: "Realizou-se ontem noite uma visita ao Teatro Municipal, para que o Dr. Oliveira Passos enviou convites vrias pessoas e imprensa. Desde 7 horas da noite comearam a chegar convidados quele teatro, dirigindo-se todos para a platia, camarotes e galerias. Quando o teatro se achava cheio, tiveram incio as experincias, que agradaram imensamente. A iluminao de todo o edifcio belssima e farta, distribuda por focos eltricos os mais modernos. Pela eletricidade so obtidos todos os efeitos teatrais, como relmpagos, chuvas, trovoadas, etc. As vrias dependncias do teatro, como sejam platia, camarote, galerias, botequim, camarins etc. agradaram tambm muito enfim uma obra bem feita luxuosa, de gosto." O Sculo, 13 de julho de 1909 "Est oficialmente inaugurado o Teatro Municipal, obra em que se gastou muito dinheiro, mas est suntuosamente levantada. (...) A inaugurao oficial efetuou-se ontem, s 2 horas da tarde, com a presena do vice presidente da Repblica, prefeito do Distrito Federal, intendentes municipais, engenheiros construtores e outros membros da comisso construtora, superintendente do teatro e jornalistas. O chefe da Nao percorreu todas as dependncias do edifcio e depois assinou a ata da inaugurao. Foi servido champagne, orando o vice presidente da Repblica, o Dr. Oliveira Passos e o intendente Eduardo Raboeira. noite realizou-se o espetculo inaugural, com a presena do chefe do Estado, prefeito, intendentes municipais, ministros, deputados, senadores e o alto funcionalismo pblico. Antes das 8 horas da noite j era crescido o nmero de pessoas que nas imediaes do teatro aguardavam a chegada dos que deviam assistir brilhante festa. O espetculo comeou pelo hino nacional, executado por uma orquestra de 64 professores, sob a regncia do maestro Francisco Braga. Em seguida Olavo Bilac, em um discurso magnificamente burilado, fez uma rpida e interessante histria do teatro nacional e estrangeiro, sendo, ao concluir, delirantemente aplaudido e chamado ao proscnio. (...)" O Sculo,15 de julho de 1909 "Entre a Avenida Central e a Rua Treze de Maio, voltado a sua fachada - imponente nas puras linhas do reu estilo do Renascimento - para o mar - o Teatro Municipal avulta num deslumbramento de ouro e mrmore, de cristais e vitraux. E, para todos ns, ele, ali est, como uma esperana de melhores dias para a nossa arte dramtica, que a incoerncia de uns, a m compreenso de outros deixam cair at a degradao do momento atual. (...) O Teatro Municipal que hoje inauguramos bem um bemplo em cuja nave esperamos ver um dia - no muinto longe - o ressurgimento dessa arte que ser para ns tambm, como outrora para os helenos, a escola de energia de que tanto carecemos. O programa para esta tarde o seguinte: 1a Parte: Hino Nacional, Discurso Oficial do Sr. Olavo Bilac, Insomnia - Poema Sinfnico do Maestro Francisco Braga. 2a Parte: Noturno, da pera Condor de Carlos Gomes , Bonana - Pea de Um Ato de Coelho Netto, Desempenhada Pelos Atores Nacionais. 3a Parte: Moema - pera Lrica em Um Ato de Delgado de Carvalho, Cantada por Artistas do centro Lrico Brasileiro." A Imprensa, 14 de julho de 1909 "A sociedade fluminense vai hoje assistir inaugurao do suntuoso monumento de arte que o Teatro Municipal e, ao mesmo passo, assistir a um espetculo exclusivamente nacional. (...) Coelho Netto era decerto imprescindvel neste espetculo, que bem se pode considerar o incio de uma nova era para o teatro nacional, e o grande escritor escreveu um ato que a revelao de um ideal novo na nossa literatura profundamente original: Bonana marca uma nova fase de seu teatro como o verificaro os que logo tiverem a ventura de a ouvir. Para interpretar essa nova produo do fecundo autor nacional veio de So Paulo a companhia dramtica Arthur Azevedo, de que a primeira figura feminina a distinta artista Lucilia Peres. Com Coelho Netto aparecem tambm neste espetculo genuinamente nacional dois musicistas brasileiros: Francisco Braga e Delgado de Carvalho. O primeiro apresenta o poema sinfnico "Insomnia", com texto de Escragnolle Doria. O segundo a sua pera Moema. Mas a eloqncia oratria devia ter tambm uma alto representante nessa festa intelectual. Essa representada por um dos maiores poetas e prosadores brasileiros, Olavo Bilac, que far o discurso inaugural. Tomam parte na interpretao da Bonana as atrizes Lucilia Peres, Gabriella Montani e Luiza de Oliveira e os atores A. Ramos, Nazareth e Joo de Deus. A Moema ter como intrpretes a sra. Laura Malta e os srs. Americo Rodrigues, Oswaldo Braga e Mario Pinheiro. A orquestra dirigida por Francisco Braga composta de 64 pessoas, muitas das quais professores do Instituto. o cenrio da Moema trabalho do distinto cengrafo Chrispim do Amaral." A Notcia, 14 de julho de 1909 " (...) Contudo o efeito da sala era deslumbrantssimo. A fina elegncia, o rigor de toilette foi mantido e as linhas dos camarotes apresentavam um belssimo golpe de vista. A sala um encanto cheio de pblico. As localidades bem dispostas, o forrado cautchouc abafando o rumor dos passos, todos os pontos com boa vista para o palco do uma impresso agradabilssima. A acstica excelente como ontem se pde verificar com a audio dos dois g6eneros teatrais, o musical e o declamado. Longe do que poderia se esperar pelas suas dimenses, a sala parece pequena e os espectadores mais afastados como se sentem prximos do palco. O espetculo correu magnificamente. O hino nacional, a sinfnia Insomnia, de Francisco Braga, o Noturno da pera Condor, Carlos Gomes, bem como a partitura da pera Moema, de Delgado de Carvalho, foram excelentemente executados pela orquestra de 64 pessoas, regida pelo maestro Francisco Braga. A pea de Coelho Netto, Bonana, tambm teve excelente interpretao, sobretudo por parte das sras. Gabriella Montani e Luiza de Oliveira e do sr. A. Ramos. (...) O discurso de Bilac foi mais uma dessas oraes de que o seu talento to prdigo, em tudo altura da magnificncia e do esplendor dessa soberba festa de arte que foi a inaugurao do suntuoso monumento." A Notcia, 15 de julho de 1909 "Foi ontem inaugurado o Teatro Municipal. O ato revestiu-se da maior solenidade: era numerosa a assistncia, notando-se o presidente da Repblica, o prefeito, senadores, deputados, membros do Conselho Municipal, pessoas gradas e representantes da imprensa. O presidente da Repblica chegou ao Teatro Municipal s 2 horas da tarde, acompanhado do seu secretrio e do chefe da csa militar. Esperavam-no, no topo da escada, o prefeito, o Dr. Passos, engenheiro construtor, e vrias pessoas. S. Ex. percorreu o edifcio, examinando-o atentamente e mostrando-se maravilhado e satisfeito. O termo de inaugurao foi lavrado e assinado na sala da biblioteca. Depois passaram-se as altas autoridades e os convidados para o restaurant, onde, ao servir-se de champagne, o presidente da Repblica felicitou o engenheiro Passos, que agradeceu a saudao. Falou tambm o intendente Raboeira, em nome do Conselho Municipal. J em tempo descrevemos o edifcio, que imponente e suntuoso." Folha do Dia, 15 de julho de 1909 " hoje finalmente a inaugurao do Teatro Municipal, com o programa j divulgado. Ontem noite conferenciou com o presidente da Repblica relativamente ao assunto o prefeito do Distrito Federal deliberando que o sr. Nilo Peanha visitar s 2 horas da tarde, aquele teatro em companhia do prefeito e dos intendentes municipais, assinando, nessa ocasio a ata inaugural. Ficou assentado, ainda, nessa conferncia, que disposio dos intendentes sero postos os camarotes de gala do presidente da Repblica e do prefeito para que eles possam da assistir ao espetculo em companhia do chefe da Nao e do representante do poder executivo municipal." Correio da Manh, 14 de julho de 1909 "Realizou-se ontem, com todo brilho, a inaugurao desde monumento nacional. Concorrncia da mais seleta, toilettes de muito bom gosto, enfim um verdadeiro sucesso, sucesso este que s se pode comparar com o que est tendo a casa Colombo com a sua colossal liqidao." Correio da Manh, 15 de julho de 1909 " (...) A platia completamente cheia de cavalheiros e senhoras deixava destacar estas pelo luxo, riqueza de adereos, formosura das cabeas e colorido variado dos trajes dos cavalheiros na sua uniforme e correta casaca preta. Nas luxuosas frisas e camarotes, como nos balces e galerias nobres superiores era a mesma encantadora beleza de contraste, to comum, e sempre admirvel e pomposo, espandindo-se at a orla ltima - a galeria - onde curiosa, embevecida, a nossa mocidade acadmica, misturada com o povo de todas as classes, fechava o ambiente que a cpola ilustrada por Visconti coroava." O Paiz, 15 de julho de 1909 "Inaugurou-se ontem o suntuoso monumento com que a prodigalidade municipal dotou a cidade. O edifcio colossal e soberbo parecia uma imensa mole de granito, mrmore, ouro, bronze e vidros, resplandecendo luz branca que jorrava do seu bjo numa fulgurao que deslumbrava. A multido olhava para o teatro como tomada de assombro ante aquela grandeza, fruto de uma megalomania e abria alas para os que l dentro iam assistir ao espetculo de inaugurao. (...) Carros e automveis, numa fila interminvel, chegavam apressados, desde oito horas da noite, e despejavam na rua Treze de Maio e Avenida Central homens encasacados e enluvados e senhoras que escondiam sob vistosas capas e amplas mantas o luxo das toilettes, a riqueza das jias, as nvens de rendas, as ondas de perfume." Jornal do Commrcio, 15 de julho de 1909 "A noite de ontem foi de grande, de intenso jbilo para a alma carioca, alguma coisa de uma noite verdadeiramente de gala, associada grande data que a Frana e o mundo comemoram, a inaugurao do belo e opulento Teatro Municipal, com muito poucos rivais nas grandes capitais europias. (...) Tudo ali falava no nosso progresso, do nosso adiantamento, da nossa cultura espiritual, da civilizao dos nossos costumes, do apuro do nosso gosto: o edifcio que se harmoniza com a nossa sociedade, a sociedade que faz honra ao grande sacrifcio do poder municipal, dotando a cidade com aquele rico monumento e fazendo calar os velhos reclames de no possuir o Rio de Janeiro uma casa de espetculos digna do seu desenvolvimento, capaz de abrir caminho idia que o malogrado Arthur Azevedo to longamente acariciou, na pertincia beneficiadora da arte dramtica brasileira, de que ele foi o esteio mais poderoso, como escritor e amigo dos artistas, que perderam com a sua morte o mais desinteressado de seus protetores, o mais leal dos seus amigos. (...) Noite de opulentas galas, dissemos, pelo aspecto ofuscante de todas aquelas belezas de arquitetura em foco, pela resplandecncia daqueles mrmores custosos, esbatidos e faiscantes s lmpadas e candelabros eltricos; noite de arte pela magia da palavra de Olavo Bilac na sonoridade de seu discurso historiador e potico, pela msica e pela cena brasileira em que se casaram, para celebrar a fausta inaugurao, a linguagem e a urdidura da leve Bonana de Coelho Netto, e as gammas dos nossos musicistas, em poemas de harmonias sensibilizadoras." A Tribuna, 15 de julho de 1909  14) Euclides da Cunha (1909) "Varado de balas, num suburbio distante e ermo, a que o conduzira a perturbao de uma ida fixa e o aguilho mordente de uma suspeita allucinadora, morreu hontem Euclides da Cunha, o escripror poderoso que a publicao dos "Sertes", o seu primeiro livro, deu ao Brazil a goloria de um novo estylista e a segurana de uma alta capacidade de estudo e de trabalho posta ao servio constante do paiz. Hoje no ha em toda a vasta extenso da nossa terra pessoa medianamente culta, que lhe no conhea o nome. Foi como a arraiada radiosa de um sol; e desde ento, aureolado de um prestigio que augmentava com o tempo, ficou sendo na vida contemporanea um vulto inconfundivel e um consagrado. (...) Seriam pouco mais ou menos 10 horas da manh, quando repetidos estampidos de tiros de revolver, alarmaram os raros e pacatos moradores da estrada Real de Santa Cruz, no trecho de Inhauma, pondo-os em sobresalto. vidos de curiosidade e passada a primeira impresso, procuraram averiguar de que se tratava; e dirigiram-se para os lados de onde lhes parecia ter partido o tiroteio, que era na casa n. 214, residencia de dois moos estudantes militares. Ahi, alguns populares mais animosos, penetraram no pequeno jardim, deparando-se-lhes estendido ao cho, com dorso inclinado sobre os degros de uma pequena escada que d saida da casa, o corpo de um homem, todo ensanguentado, e que no momento estava sendo carregado para o interior, por dois outros, tambem ensanguentados, e em cujas physionomias se espelhavam grandes dores physicas e moraes. Estupefactos com o que presenciavam, no lhes occorreu logo, mente a ida de penetrarem na casa; conservaram-se em uma atitude de mixto de mdo e respeito, at que um dos do grupo falou, lembrando chamar-se a policia, ida a que logo outro accedeu, partindo a correr em demanda da delegacia. Enquanto isto se passava, chegava ao local uma senhora acompanhada de um rapaz que carregava nos braos uma criana; e apressada, arfando de cansao, rompia o aggrupamento de curiosos, e penetrava tambem na casa. A esse tempo o comandante da guarda nocturna, que havia recebido pelo telephone aviso do que occorria chegava casa e penetrava-lhe no interior, encontrando sobre uma cama de ferro um homem arquejando, e ao lado deste dois outros feridos, prostrados, e mais um rapaz, uma senhora e uma criana. O seu primeiro cuidado foi chamar um mdico, acudindo o Sr. Capanema de Souza que pensou os dois feridos sem poder fazer mais nada, em relao ao outro, que fallecia sua chegada. Apurou a autoridade em um ligeiro interrogatorio feito aos feridos que estes eram os irmos Dilermando Candido de Assis, de 21 annos, aspirante do exrcito, e Dinorah Candido de Assis, de 20 annos, alumno paisano da escola da marinha; que o morto era o Dr. Euclides da Cunha, lente da cadeira de lgica do Externato Nacional, ex-Gymnasio Nacional, e que a senhora era sua esposa D. Anna Solon da Cunha, que ali estava com os seus dois filhos, Solon e Luiz. Depois de saber dos nomes dos personagens tratou a autoridade para a elucidao do caso, de orientar-se sobre as suas causas. (...) Hontem pela manh, estava Dinorah, janela da sala em frente, que d para o jardim, e Dilermando deitado em seu quarto, com a porta fechada, a lr, quando appareceu o Dr. Euclides da Cunha, que perguntou a Dinorah se a sua esposa e filhos no se achavam ali, e como Dinorah respondesse negativamente, elle abriu a cancella do jardim, entrou na sala e dirigiu-se pelo corredor, em direco sala de jantar. Ao chegar em frente porta do quarto de Dilermando, que se achava fechada, elle abriu-a a ponta ps, e entrando no aposento, sacou rapido de um revolver, dizendo ao rapaz: - Agora, miseravel, vais pagar-me. Este quiz levantar-se, mas o dr. Euclides detonou a arma, ferindo-o na virilha direita, e ainda o alvejou por duas vezes mais, perdendo-se, porm, as balas, que foram se alojar na parede. Dinorah, vendo seu irmo ferido, correu para defendel-o, tentando colher os braos do que atirava; mas o Dr. Euclides da Cunha, sentindo-se preso pelas costas, voltou o revolver contra o rapaz, que o abandonou, fugindo pelo corredor. O escriptor ento alvejou-o, attingindo-o na regio dorsal. Nesse interim Dilermando tirou um revolver, que se achava sobre uma prateleira e deu dois tiros seguidos para a parede, afim de intimidal-o, o que no conseguiu, virando-se o Dr. Euclides para elle, atirando repetidamente e ferindo-o na regio estomacal e mamelo direito. Dilermando, nesta situao, atirou com pontaria, ferindo-o no pulso direito, no brao esquerdo e na regio infra-clavicular direita, ferimento este que lhe occasionou a morte. Sentindo-se sem foras para luctar e sem mais uma bala no revolver, o Dr. Euclides ganhou porta da rua para sair a ahi ao descer os poucos degros, cambaleou e caiu. Aproximaram-se delle, Dilermando e Dinorah, e custo, o carregaram para a cama, onde o collocaram, perguntando-lhe o primeiro, porque fizra tal loucura, sem motivo algum. Ao ouvir essas palavras o Dr. Euclides da Cunha encarou-o e balbuciou: - Odeio-te, mas te perdo. Meia hora depois era cadaver. Foi esta, como dissemos j, a narrativa feita pelos irmos Dilermando e Dinorah, ao delegado, Dr. Alcantara. (...)" O Paiz, 16 de agosto de 1909 "Acontecimento doloroso e que dolorosamente echoou em todas as nossas camadas sociaes, especialmente nas mais cultas, foi, sem duvida, essa terrivel tragedia, esse fnebre drama de familia que se desenrolou em um dos suburbios desta cidade e roubou Patria e Familia um homem de grande, de inestimavel valor moral e intellectual, um espirito superior, o Dr. Euclides da Cunha. Euclides da Cunha tinha um nome feito na sciencia e nas lettras nacionaes. J era grande o circulo das suas relaes e vasto o horizonte em que fulgurava como um astro de primeira grandeza. Nada, absolutamente nada fazia suppr que to cedo e em plena mocidade desappareceria do scenario da vida onde tinha um brilhante papel a desempenhar esse teimoso e cultivadissimo espirito que era uma gloria do nosso paiz. E, por isso mesmo que foi traioeiro e inesperado o golpe do Destino que o roubou existencia terrena que mais sensacional e dolorosa foi a noticia de sua morte. No grande a sua obra, facto; no enorme a sua bagagem, mas de primeira qualidade. O que elle fez, o que elle escreveu, o que elle deixou bastou para dar-lhe a gloria e a immortalidade. Certo elle tinha ainda muito a fazer e a produzir, e agora que o seu espirito comeava a mostrar todo o seu valor e todo o seu brilho. Mais alguns annos e a sua obra seria immensa e do que ha de superior em valor scientifico e litterario. E, entretanto, com 42 annos incompletos, desapparece da arena esse valente e emerito luctador, esse espirito de eleio, esse corao que era um cofre de todas as bondades e de todas as virtudes. No nos deteremos aquiem narrar o triste e sangrento episodio que tanto commoveu a sociedade brazileira. Todas as folhas diarias o narraram em todos os seus pormenores. O nosso objectivo unicamente lamentar essa perda enorme para a nossa Patria que, agora no Campo Santo, deplora a perda de mais um filho dilecto. Foi no domingo proximo passado que se deu o tristissimo acontecimento e o enterro do mallogrado escriptor, feito a expensas da Academia de Lettras e immensamente concorrido por tudo quanto temos de mais distincto, realisou-se na tarde de segunda-feira desta semana, 16 de Agosto corrente, sendo o corpo do saudosissimo finado, sepultado no carneiro n. 3.026 do cemiterio S. Joo Baptista. ahi que dorme para sempre o erudito, o pensador, o poeta, o scientista, o notavel litterato e escriptor que escreveu Per Versus Bolivia, Contrastes e Confrontos, e esse formosissimo livro Os Sertes, tendo j em preparo ou promptos outros trabalhos de igual ou talvez maior importancia. Com immensa tristeza registramos nestas columnas to infausto acontecimento, apresentando no s familia do querido extincto como nossa Patria as mais sinceras e profundas condolencias." Rua do Ouvidor, 21 de agosto de 1909 "H muito j que no se registrava o acontecimento de uma tragdia de sangue e h muito mais que nenhuma havia atingido a importncia da que temos hoje a noticiar, dado o valor pessoal da sua principal vtima, um notvel da engenharia militar e nas letras. A vtima da morte trgica, que o principal assunto desta notcia, era gloriosamente conhecida nas rodas literrias do nosso pas, engenheiro militar distinto e membro da Academia de Letras, para onde entrava com brilhantssima bagagem literria. Levado pela suspeita de que a deshonra houvesse invadido o seu lar, esse homem de alto prestgio premeditara o cometimento de um crime, a isso induzido, de certo pela exacerbao que tal suspeita naturalmente lhe atribulava o esprito. E foi no momento em que punha em prtica o desforo, que desde a vspera premeditara, que caiu varado por uma bala, disparada por um daqueles a quem pretendia extinguir, para a defesa de sua honra. Esse que assim acabou a sua existncia de glrias, de modo to trgico, era o dr. Euclides da Cunha, 2o tenente reformado e engenheiro militar." A Imprensa, 16 de agosto de 1909 "Finou-se um grande espirito. Moo, vitorioso, em pleno trinfo de sua colossal cerebrao, que o tornava um dos tipos mais representativos dos assomes surpreendentes de uma possante intelectualidade e, talvez por isso mesmo, pelo refinamento de nervos e suscetilidade delicadissima, uma fibratura levemente, impressionvel, Euclides da Cunha, que observava a Natureza em seus mais speros aspectos, iluminando as regies do norte com as rutilaes eruditas de um talento analtico e severo e tivera de guerreiro, como oficial do Exrcito que era, pela pena de escritor, que se esmerara em desvendar as misrias e sofrimentos que tiveram por expoente a campanha de Canudos e o seu ardor em contribuir para as solues amistosas, como o arauto da documentao de fronteiras e o protesto, revelados de uma coragem pasmosa, com que em artigo memorvel se ops idia de sufocar-se uma revolta de presos por meio de sacos de cal. (...) O prprio egosmo nacional deplora essa morte, porque Euclides, com seus 42 anos de idade, estava em plena exuberncia de ativa produtividade e muito teria ainda a dar do seu talento inovador e progressivo. (...) De algum tempo a esta parte, comearam a murmurar a Euclides da Cunha umas suspeitas a cerca do procedimento de d. Anna para com um dos rapazes. Euclides, ao que parece, deixou-se impressionar pelos murmurios, chegando mesmo a interpellar a esposa, que, conhecedora do estado de esprito de seu marido, tratou de afastar de sua casa os rapazes. Fez-se tudo na melhor harmonia. D. Anna, porm, continuou a visitar os moos, que moravam na Estrada de Santa Cruz no 214. Nessas visitas, fazia-se acompanhar pelos seus filhos. Afirmaram alguns que aos ouvidos de Euclides da Cunha chegaram novamente, nestes ltimos dias, rumores a cerca das visitas da esposa aos dois rapazes, que so os Srs. Dilermando de Assis, aspirante a oficial do Exrcito, e Dinorah de Assis, tambm aluno aspirante, porm da Escola Naval. O estado de esprito do ilustre escritor, fortemente alterado como se achava, parece que favoreceu para que a terrvel suspeita assumisse propores de realidade, tanto que, conforme declarou seu filho Solon, falra em matar Dilermando de Assis." O Sculo, 16 de agosto de 1909 "Na triste tarde de ontem correu pela cidade, entre espanto e magoa, a notcia do assassinato de Euclides da Cunha. s primeiras informaes, vagas e falhas, seguiram-se detalhes dolorosos: Euclides da Cunha tombara varado por bala, no rpido desenrolar de ena ntima, quando procurava desafrontar a honra, que julgava ofendida. Torturado pelo sofrimento que lhe deprimia o esprito alanceiado pelo desgosto de um sonho desfeito, o querido autor de "Os Sertes" premeditara a desafronta e de calcular a cruel amargura que para ele foram as ultimas horas de existncia. E assim, desapareceu, em minutos esse homem cheio de vida e de talento que tanto honrava a nossa cultura. (...) No seu livro "Peru Versus Bolvia" com proficincia estudou a questo de limites entre esses dois pases, sendo o seu livro citado como documento de grande valia. Literato, a esta o "Sertes", obra que causou o maior sucesso, atestado imorredoiro de seu valor: pureza impecvel de estilo vigoroso, junta-se o colorido forte da paisagem, a observao profunda do meio, a psicologia superiormente feita dos tipos, o completo estudo geolgico, da zona descrita. Esse livro abriu-lhe as portas da Academia de Letras - de que era membro. (...)" Folha do Dia, 16 de agosto de 1909 "Ainda no voltamos a ns do espanto horrivel que nos causou a noticia do absurdo e tragico assassinato de nosso prezado e eminente collaborador Euclydes da Cunha. Um telegramma expedido de Cascadura s 12 horas e 30, da tarde de hontem, dizia-nos laconicamente: "Euclydes da Cunha, assassinado Estrada Real 214. (Assignado) Solon Cunha." Assassinado por que? Como? Por quem? parecia inverosimel a noticia. (...) Nada, absolutamente nada fazia prever a tragdia de hontem. Todos os tinham na conta de um homem heroico e intemerato. O autor de obras to fortes devia ser naturalmente um espirito robusto, um homem armado de rude coragem contra os equivocos da vida contra os absurdos do destino. Infelizmente assim no acontecia. Euclydes da Cunha era uma cerebrao de rara fora, servido por um corao vibratil e fragilimo. s grandes coleras vingadoras do seu poderoso estylo evocador, correspondia, no seu trato social e na sua existencia domestica, uma extraordinaria delicadeza de sentimentos. Tinha por vezes certos milindres de uma candura verdadeiramente angelica. Dava, no raro, uma impresso de profunda timidez pessoal, revelando acanhamentos e humildades que tocavam pelo desazo, apparencias curiosas que primeira vista nos autorizavam a sup-lo um homem em contradio com a sua prpria obra. A verdade, porm, que essas duas feies de seu espirito e de seu caracter se casavam maravilha, imprimindo um vigoroso relevo sua personalidade. Homem de uma integridade moral a toda a prova, experimentado em provaes de todo genero, com uma alta comprehenso dos seus deveres civicos, pelejador como poucos, intrepido at a temeridade, Euclydes da Cunha conservara da mathematica a disciplina mental formidavel, da poesia a ida da belleza e o gosto da perfeio, da philosophia o sentimento da justia, a vibrao continua e generosa, alguma cousa acima das miserias da terra.... E tudo isto a vida cortou hontem brutalmente, num golpe de tragedia inenarravel. (...)" Jornal do Commercio, 16 de agosto de 1909 AS MANCHETES: A Morte De Euclides Da Cunha - Um Doloroso Drama De Sangue - As Causas E Os Factos - As Declaraes Policia - O Transporte Do Corpo - As Manifestaes De Pesar - O Enterro ( O Paiz ) Sensacional Tragedia - O Assassinado Do Dr. Euclides Da Cunha ( A Imprensa ) O Assassinato Do Dr. Euclides Da Cunha - Os Antecedentes E O Crime O Enterro Do Mallogrado Escriptor Efetua-se Hoje, s 5 Horas - As Manifestaes De Pesar Da Academia de Lettras ( O Sculo ) Uma Perda Nacional - Euclides Da Cunha - Fim Tragico - Drama Em Familia ( Folha do Dia ) O Assassinato Do Dr. Euclides Da Cunha ( Jornal do Commercio )  15) Revolta dos Marinheiros (1910) "Terminou felizmente com a entrega dos navios ao domnio do governo a revolta de parte da nossa marinhagem na baa do Rio de Janeiro. No obstante a terrvel trucidao de alguns dos nossos oficiais de marinha e outros danos causados, no h como negar que os pobres marinheiros desesperaram, por insuportveis, com os rigorosos castigos que lhes eram inflingidos a bordo, deprimentes do carter humano e atentatrios dos princpios de humanidade, liberdade e justia, garantidos pelas nossas leis disciplinares. So sempre assim os abusos do poder e autoridade, acabam por desorientar a razo e transformar o homem em fera. Foi-lhes concedida a anistia pelo Congresso como a condio sine qua non da rendio. De outra forma no poderiam de fato os revoltados se entregarem a menos que sassem de bordo, presos em flagrante, para as prises militares. S anistiados poderiam os oficiais com eles se entender sem quebra do respeito lei. A quantas humilhaes mais desta natureza no nos levar o esprito de indisciplina reinante hoje em todas as classes?" O Democrata, 4 de dezembro de 1910 "Logo pela manh do dia 23 foi o deputado Sr. Jos Carlos de Carvalho procurado por diversos polticos em evidncia que, a pedido do Sr. Pinheiro Machado, lhe iam rogar fosse a bordo entender-se com os marinheiros. Recebendo a comunicao de que fra escolhido para desempenhar a delicada misso o Sr. Capito de Mar e Guerra Jos Carlos de Carvalho vestiu o seu uniforme e dirigiu-se para o Arsenal da Marinha. Uma vez nessa praa de guerra, o Deputado riograndense dirigiu-se Casa da Ordem visitando a cada um dos oficiais vtimas da revolta, que se achavam ali depositados. Em seguida S. Ex. procurou o Ministro da Marinha e, como este no se achasse, resolveu partir para o que tomou lugar em uma lancha em que foi arvorada a bandeira branca. (...) A lancha, largando, tomou a direo do Minas Gerais. Avistando a lancha, os revoltosos relutaram se deviam ou no consentir que ela se aproximasse, respondendo finalmente pela afirmativa pergunta que de bordo fazia o comandante Jos Carlos sobre se podia atracar. Recebido a bordo com todas as honras inerentes ao seu posto pelos marinheiros revoltosos, o Deputado Jos Carlos falou com o que assumira o comando da esquadra e que, segundo a verso corrente, o marinheiro de 1a classe Joo Cndido. Disse-lhe o "comandante" da esquadra que os marinheiros se haviam desgostado com os maus tratos, com os castigos corporais, que lhe eram barbaramente infligidos, com a m alimentao e com o trabalho excessivo a que eram obrigados. presena do do Deputado Jos Carlos foi mandada vir uma praa da guarnio do Minas, que havia sido chibateada dias antes, e que apresentava as costas cortadas de chibata. Essa praa tendo vindo para terra na lancha do parlamentar, foi recolhido ao Hospital da Marinha. (...) Do Minas Gerais o Capito de Mar e Guerra Jos Carlos de Carvalho passou-se para o So Paulo, onde foi recebido com as mesmas honras, ao som da banda de msica de bordo. (...)" O Universo, 23 de novembro de 1910 "A Rua do Ouvidor compartilha sinceramente a justa e enorme dor que neste momento domina a briosa marinha nacional pela perda dos valentes oficiais que foram vtimas da revolta dos marinheiros das guarnies dos couraados Minas Gerais, So Paulo, Bahia e Deodoro, e que tanto emocionou a populao desta capital. Foi um deplorvel acontecimento essa revolta que, enchendo do mais justificado pnico a quase todos os habitantes desta vasta e populosa cidade, pode em futuro no remoto, ter ainda mais lastimveis conseqncias. (...) Oxal que os tristssimos fatos de que foi teatro a baa de Guanabara nos tragam proveitosos ensinamentos. Infelizmente, foi para ns crudelssima a lio, no s pela prpria revolta de parte da marujada nacional, o que j bastante deprimente para os nossos crditos de povo adiantado e culto, como porque, arrebatando a vida a distintssimos oficiais da nossa marinha de guerra, enlutou para sempre alguns lares at ento plenos de alegria e ventura. (...) , pois, com o corao sangrando, com a alma profundamente abatida que escrevemos estas linhas lamentando a perda dos briosos oficiais de marinha vitimados pela revolta dos marinheiros." Rua do Ouvidor, 3 de dezembro de 1910 "A cidade amanheceu com uma notcia tremenda: a revolta dos marinheiros. As guarnies de alguns navios de guerra, alegando maus tratos, castigos corporais, excesso de servio, etc., revoltaram-se a bordo. A insubordinao comeou pela guarnio do Minas Gerais, que logo teve adeso das do So Paulo e Bahia, seguindo-se durante a noite a adeso de outros vasos de guerra. A causa da revolta foi sabida por um radiograma, passado pelos marinheiros revoltados ao Sr. Presidente da Repblica e concebido nos seguintes termos: - No queremos volta chibata. Isso pedimos presidente, ministro marinha. Queremos resposta j e j. Caso no tenhamos, bombardearemos a cidade e navios que no se revoltarem. - Guarnio Minas, So Paulo, Bahia. - (...) O governo fizera sentir aos revoltosos, - no sabemos se por meio de radiograma ou outro qualquer meio - que de modo nenhum atenderia as reclamaes dos marinheiros, enquanto estes no deixassem a atitude revoltosa. No caso dos mesmos deporem as armas, seriam convenientemente estudadas essas reclamaes para que o governo pudesse agir com justia." A Notcia, 23 de novembro de 1910 "A precipitao com que se pode apreciar, tarde da noite, o espetculo sinistro de uma ameaa mortfera voltada contra a cidade entregue ao sono descuidado, a deficincia de detalhes resultantes da falta de comunicao com os navios revoltados no permitem um juzo completo sobre as origens desses sucessos lamentveis. (...) A primeira vtima da sedio naval foi o tenente Alvaro Alberto da Silva. Esse oficial acompanhava o comandante Batista das Neves quando esse foi desacatado ao chegar a bordo do Minas. O tenente Alvaro Alberto foi esfaqueado pela marinhagem de depois de tombar esvado em sangue foi posto a bordo de um escaler e mandado levar para o dreadnought So Paulo. Ali o tenente Alvaro Alberto recebeu um grande curativo feito pelo Dr. Catanheda, sendo remetido para o Arsenal da Marinha. Seu estado gravssimo." Folha do Dia, 23 de novembro de 1910 "No houve exagero nos meios de que lanaram mo os marinheiros nacionais, para extinguir o execrando e inveterado uso de casigos ilegais. Foi transportado ontem para o Arsenal da Marinha, horrivelmente martirizado por 250 chibatadas, o marinheiro que deu causa revolta. - Gama Rosa -" Folha do Dia, 24 de novembro de 1910 "Pelas folhas da manh ficou toda a populao sabedora dos primeiros fatos ocorridos a bordo dos grandes couraados Minas Gerais e So Paulo e de mais navios da armada nacional. A causa predominante, nica, assinalada pelo desenrolar dos graves acontecimentos, conhecidos nas suas primissas, emana do rigor excessivo que imperava a bordo do primeiro couraado, onde a marujada era obrigada a trabalhos excessivos, tendo de dobrar e triplicar todo o servio, devido falta deplorvel de tripulao. Os castigos eram por demais pesados, sendo a chibata a arma predileta de que usavam e abusavam alguns oficiais. No se fizeram esperar os resultados: homens, os marinheiros revoltaram-se, facilmente conseguindo a solidariedade de todos os camaradas." A Repblica, 23 de novembro de 1910 "(...) Hoje pela manh novos radiogramas: Ao governo: - Queremos soluo imediata sobre a abolio dos castigos corporais e aumento de soldo. Do contrrio arrazaremos a cidade. - Queremos a nomeao de um parlamentar que venha a bordo para se estabelecerem as condies de rendio. O governo intimou a rendio imediata e incondicional. Em caso de resistncia, far torpedear os couraados. (...) Tambm sobre o palcio do governo foi feito um disparo, sem mais consequncias, alm de algumas palmeiras do parque destrudas. (...) Alm do S. Paulo aderiram tambm revolta o "scout" Bahia, os cruzadores Timbira e Tamoio, tendo as oficialidades desses navios se retirado para terra, apresentando-se s autoridades navais. (...) Por uma notcia chegada ao gabinete do Dr. Belisrio Tvora, sabe-se que toda a oficialidade do Minas Gerais que se achava a bordo quando se deu o levante est morta. Essa notcia terrvel causou, como era natural, a mais dolorosa impresso entre as pessoas que se achavam na repartio central de polcia." A Tribuna, 23 de novembro de 1910 "O governo, convencido embora de que, no fundo das reclamaes repousavam motivos justos e disposto a atender a essas reclamaes, precisa salvar, entretanto, a sua honra e a honra da nao constituida. Pode prometer aos revoltados que lhes far o que eles pedem, mas no pode prometer que o far porque eles o exigem sob pena de bombardeamento da cidade." A Tribuna, 24 de novembro de 1910 "Decreto Legislativo N. 2280 de 25 de novembro de 1910 - O presidente da Repblica dos Estados Unidos do Brasil faz saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte resoluo: Art 1 concedida anistia aos insurretos de posse do navio dos navios da Armada Nacional se os mesmos dentro do prazo que lhes for marcado pelo governo, se submeterem s autoridades constituidas; Art 2 Revogam-se as disposies em contrrio. - Presidente Hermes da Fonseca" - A Tribuna, 26 de novembro de 1910 "Agora, porm, julgamos poder assegurar que o movimento, iniciado a bordo do Minas Gerais, com o cruel assassinato do bravo comandante Batista das Neves, vtima do dever militar, caracteristicamente e exclusivamente uma sublevao da marinhagem, acusando os oficiais de maus tratos, de excesso de trabalho, de insuficincia de alimentao, tornando-lhes, dess'arte, insuportavel a vida e levando-os a essa exploso de desespero. A autoridade pblica no foi, de nenhum modo, contestada pelos sublevados: antes a ela se dirigiram, explicando-lhe que eram esses os moveis da sua conduta." A Imprensa, 24 de novembro de 1910 AS MANCHETES: Revolta No Mar - Os Boatos da Tarde - Causas Provveis - A Indisciplina na Marinha - Oficiais esfaqueados - Oficiais ao Mar - (Folha do Dia) Marinheiros Revoltados Assassinam O Comandante do Minas Gerais e o Capito- Tenente Joo Claudio Junior (A Notcia) Marujada em Revolta em Plena Baa nos Grandes Couraados - A Populao No Se Alarma - Os Fatos Principais (A Repblica) Sublevao da Esquadra (A Tribuna)  16) Baro do Rio Branco (1912) "Faleceu hoje, s 9 e 10 da manh o nosso ilustre ministro do Exterior, baro do Rio Branco. A despeito dos grandes esforos empregados pelo seu distinto mdico assistente sr. Pinheiro Guimares, a morte teve mais poder que a cincia e robou vida e ptria o mais notvel dos brasileiros contemporneos. S. Ex. foi vitimado por uma insuficincia renal, que resistiu a toda medicao empregada. Com o passamento do baro do Rio Branco, perde o Brasil um dos seus mais diletos filhos e um dos seus mais dedicados servidores. A Repblica, principalmente, deve-lhe os mais relevantes e inestimveis servios. (...) O Baro do Rio Branco foi o estadista que mais tempo exerceu o cargo de ministro do Exterior, tendo assim a oportunidade de servir ininterruptamente a quatro governos da Repblica, cujos presidentes o honraram sempre com a mais completa e at incondicional confiana. Nenhum brasileiro atingiu mais alto o culto da venerao popular. O Baro do Rio Branco era verdadeiramente um patrimnio nacional. A nao que o amou em vida h de idolatrar-lhe reverentemente a sua venerada memria. (...) A ele deve a Repblica, entre muitssimos outros servios de no pequena relevncia, a reivindicao de 290.622 kilmetros quadrados de territrio litigioso e o aumento da sua superfcie com 200 mil kilmetros quadrados adquiridos por compra e que constituem hoje esse uberrimo solo do Acre. (...) Fundou nesta capital um vespertino com o ttulo A Nao, onde defendeu com ardor as idias abolicionistas. (...)" A Repblica, 10 de fevereiro de 1912 "Ontem o telgrafo nos trouxe a triste e dolorosa notcia de haver falecido o benemrito brasileiro Baro de Rio Branco, Ministro do Exterior. O Baro do Rio Branco personalizou a maior figura de estadista na Amrica do Sul. desde o regime monrquico da nossa Ptria, que o ilustre brasileiro vem prestando inmeros servios ao Brasil obstando o derramamento de sangue e tirando de todas as dificuldades em que se achou muitas vezes a nossa Ptria. A morte do Baro do Rio Branco, nesse momento, representa um desastre para a Nao, porquanto, agora, mais do que nunca, eram necessrios os seus servios. As prprias naes estrangeiras, os prprios jornais argentinos, que no olhavam o Sr. Baro do Rio Branco com bons olhos, proclamam os seus mritos de estadista e de bom patriota. O Baluarte, que composto de brasileiros que desejam a felicidade e prosperidade da Nao, nesse momento de luto nacional exparge flores imersas da mais profunda saudade, sobre o tmulo do ilustre morto. Paz sua Alma! Assim que recebemos da repartio dos Telgrafos comunicao de ter falecido s 9,15 da manh o Sr. Baro do Rio Branco, imediatamente fizemos cerrar as portas da nossa redao e hasteamos o nosso pavilho em funeral. O comrcio de nossa cidade cerrou as suas portas e hastearam os seus pavilhes. O club Indiano Goytacaz, em sinal de pezar pelo falecimento do Sr. Baro do Rio Branco, transferiu a sua passeata que devia ter lugar hoje. Todas as reparties pblicas desta cidade hastearam os seus pavilhes em funeral. Os proprietrios do Moulin Rouge, suspenderam o espetculo que estava anunciado para ontem em sinal de pezar pela morte do Baro do Rio Branco." O Baluarte, 11 de fevereiro de 1912 "Morreu ontem o Baro do Rio Branco. H dias a sua vida era a agonia prolongada pelos recursos da cincia. A cidade, os estados, o pas inteiro, as naes vizinhas, a Amrica, o mundo indagavam anciosa da sade do grande homem. E o grande homem cara para no se levantar. Fora com um imenso soble, que resistindo anos e anos ao vendaval e a terperie, dominando a vida, de repente estala e cai. Dizer do Baro do Rio Branco uma rpida impresso de dor, de luto, de lgrimas, quando o pas inteiro solua bem difcil. E sua obra foi enorme e grandiosa. Ele teve duas vidas: a do jornalista de talento que se fez cnsul e a do cnsul que se transformou no maior dos brasileiros pelo seu desinteressado amor ptria, e no maior dos diplomatas contemporneos pelo seu alto esprito, pela alta compreenso da funo que exercia. Ele foi o dilatador do Brasil alargando-o e aumentando-o em terras, graas ao seu engenho, sem um leve ataque justia e ao seu direito. (...)" Gazeta de Notcias, 11 de fevereiro de 1912 " (...) O Baro do Rio Branco tivera a ltima convulso s 3 horas da madrugada, entrando depois num estado de perfeita imobilidade. Foi nessa situao que precisamente 9 horas e 10 minutos S. Ex. exalou um quase imperceptvel suspiro, expirando-se. (...) O baro no teve sequer uma contoro de msculo, extinguindo-se calmamente. Segurou a vela no momento supremo um dos netinhos do extinto e que estava beira do leito. As outras pessoas estavam ajoelhadas em volta da cama. (...) Logo que foi rapidamente conhecida a tristssima notcia comearam as demonstraes de pezar. O comrcio cerrou portas imediatamente, iando muitos estabelecimentos bandeiras de meio haste. O mesmo sucedeu nos bancos, nas agncias, nos escritrios de todas as empresas e nas reparties pblicas, tendo sido a bandeira do palcio do Catete posta em funeral por ordem do prprio presidente da Repblica. Os cinematgrafos que j haviam posto os seus affichs s portas, retiraram-nos cerrando os estabelecimentos que no funcionaro hoje. Tambm no funcionaro os teatros e outros centros de diverses, os bailes, todos os divertimentos de club e associaes enunciadas para hoje esto adiados. (...) O Sr. presidente da Repblica convidou hoje todos os seus secretrios de Estado para uma conferncia em palcio, que se realizar hoje s 4 horas da tarde. Parece que nessa conferncia ficar assentado que se prestem ao grande brasileiro as honras fnebres de chefe de Estado." A Notcia, 10 de fevereiro de 1912 "Durante todo o dia de ontem esteve exposto, no Itamarati, o corpo do baro de Rio Branco - e, desde a manh at noite, milhares de pessoas desfilaram em frente ao grande morto, cujos servos e cujo nome ficaro eternamente vivos na gratido brasileira. (...) Muitos suspiros ouvimos, de grande mgoa, e soluos que rebentavam convulsivos, vista desse corpo, agora exanime e outrora animado pelo esprito incomparvel, a quem mais deve a grandeza nacional. Dir-se-ia tambm que, consternao popular, ainda se juntava uma espcie de assombro, como se a todos custasse acreditar na dura verdade. A multido subia e descia as escadas do Itamarati como levada ao peso de uma mudez angustiosa - e eram mais os olhos magoados, que exprimem o doloroso sentimento dessa perda que avassala o Brasil e a fraternidade sul-americana. No vasto salo onde cisma a tristeza de amigos e filhos do eminente estadista e por onde peregrinava o pezar do povo brasileiro, ns tambm estivemos um momento, olhando o catafalco, em torno do qual seis brandes acessos derramavam as suas lgrimas de cra. Mas o aspecto profundamente impressionante, que nos feria os olhos, era demasiado forte para ns, que sempre veneramos no grande ministro o mais fiel, o mais seguro, o mais vigilante guarda da ptria, que ele estremeceu sobretudo neste mundo. E, alquebrado tambm pele dor do grande infortnio, afastamo-nos dali, trazendo a impresso da pena alheia, que se veio juntar nossa desconsolao." A Imprensa, 12 de fevereiro de 1912  17) A Carestia (1913) A Repblica (diversas datas) "... A carestia da vida um problema que merece a ateno do governo e todo o movimento que se fizer para resolv-lo deve ter o apoio da imprensa; para isso, porm, preciso que a ao do "comit" seja razovel, se mantenha dentro da ordem e do respeito s autoridades constitudas, sem o que nenhum resultado dar." - 20 de fevereiro de 1913 "Teve lugar ontem s 8 horas da noite, na sede do Centro Cosmopolita, Rua do Senado n. 215, o primeiro comcio popular organizado pelo "Comit de Agitao Contra a Carestia da Vida" para protestar contra o encarecimento da vida nesta capital. a esse "meeting"compareceu extraordinrio nmero de operrios, comisses de associaes trabalhadoras, alm de regular elemento popular." - 21 de fevereiro de 1913 "(...) A carestia de vida, sem contudo ser um problema nacional, pois ela afeta neste momento por muitas e diversas razes quase todos os povos, no pode deixar de merecer a ateno dos nossos dirigentes e induz-los a uma soluo equitativa e justa. Para que isso se d, porm necessrio que, como muito bem disse um dos membros do "Comit" de protestos contra essa carestia, no se d a esse momento, que deve ser nacional, um carter partidrio, desvirtuando-o do p em que foi habilmente posto pelo dr. Caio M. de Barros." - 25 de fevereiro de 1913. "Continua a agitao em torno deste problema, aguardando o povo as providncias que o governo est tomando para tornar mais fcil a vida entre ns. Hoje, realiza-se mais um comcio, s 5 horas da tarde, na praa da Repblica, em frente ao quartel general." - 4 de maro de 1913. "Como estava anunciado, realizou-se ontem, s 4 horas da tarde no largo de S. Francisco de Paula, o grande comcio promovido pela Federao Operria do Rio de Janeiro, para protestar contra o encarecimento dos gneros de primeira necessidade. Esse comcio foi extraordinariamente concorrido, sendo digna de registro a ordem que ele presidiu; que se deveu no s exhortao dirigida multido pelo delegado do 3o distrito dr. Muniz de Arago, como tambm aos interesses dos representantes das associaes operrias empenhadas em conservarem-se, para melhor xito da causa que defendem, dentro da ordem e do respeito s autoridades constitudas. A polcia, representada pelo delegado do distrito, dr. Muniz de Arago, esteve presente providenciando para que a ordem no fosse alterada. (...)" - 17 de maro de 1913. O Sculo ( diversas datas) "Continuam os comcios populares contra a carestia da vida. O povo diariamente se tem reunido nas principais praas desta capital e pela palavra inflamada de seus oradores tem erguido os mais solenes protestos contra o modo por que alguns indivduos valendo-se dos trusts ociosos o exploram. Conforme deliberao tomada no comcio de sbado, realizado no largo de S. Francisco, embarcou ontem para Petrpolis, uma comisso composta dos srs. Caio Monteiro de Barros, Luiz Franco, Raul Deueza, Francisco Pereira de Lima, Simo da Costa e Vicente Nunes Ferreira, que foi levar ao presidente da Repblica a moo do comit de agitao contra a carestia da vida aprovada naquele comcio." 3 de maro de 1913. "As providncias que o marechal Hermes prometeu dar, em benefcio do povo, devido agitao contra a carestia da vida, tiveram, ontem, incio com o esbordoamento, a priso e a violncia praticados por agentes de polcia, verdadeiros arruaeiros. To grande era o prurido de desordem entre os desordeiros investidos de funes policiais, que no comeo do tumulto que provocaram no largo de S. Francisco, um menor de 12 anos arrancou das mos criminosas de um deles um revlver. Essa criana, que evitou certamente mortes, pois o estado de agitao do agente fazia crer que ele disparasse todas as balas, avisadamente entregou a arma a um outro policial. E o agente foi preso. (...)" - 6 de Maro "Mais um meeting e vrios discursos provocou, ontem, o problema da carestia da vida. O meeting monstro, levado a efeito no largo de S. Francisco, do qual participaram muitas sociedades operrias, comeou e terminou na maior calma. A polcia fez, antes do seu incio, a declarao de garantir as manifestaes do povo, o que de resto levou a efeito, no perturbando, como de seus hbitos, a reunio do povo. Os oradores em discursos violentos combateram os "trustistas", lembrando os meios de combate aos exploradores e de destruio dos conchavos que tanto encarecem a vida. Depois dos discursos, a multido, tendo frente vinte e duas bandeiras vermelhas de assoiaes operrias, desceu a rua do Ouvidor, em direo da sede da Confederao Operria Brasileira, rua Baro de S. Gonalo. (...)" 17 de Maro Folha Do Dia (diversas datas) "Realmente viver no Rio de Janeiro um suplcio, porque a carestia de vida absorve todos os resultados do trabalho, por maiores que sejam a atividade do homem e sua inteligncia. Nem todos podem dizer que ganham o po no Rio, porque, mesmo trabalhando-se muito, s vezes no se ganha esse po. A maioria, com os maiores esforos, apenas consegue passar miseravelmente. A vida est insuportavelmente cara h j muito tempo, mas no momento chegou ao cmulo do abuso. No difcil, porm, torn-la mais suave; para isso s preciso boa vontade das nossas autoridades, nicas culpadas da carestia, porque cochilam, quando deviam velar. So gerais os clamores contra o prefeito da cidade, apelando-se tambm para o governo federal. O prefeito pode, verdade, obter a diminuio de taxas exageradas sobre o comrcio e cumprir posturas que obrigariam os taverneiros a ficar muito mais humanos. No o faz, talvez porqueno sinta a carestia." - 24 de fevereiro "O dia de ontem foi o dia do operariado nacional, que veio em grande comcio praa pblica protestar contra a terrvel crise de angstia que ora assoberba a populao de todo o Brasil. Digna de nota tornou-se a atitude ordeira da massa popular, na reivindicao dos seus direitos. Protestando, pela energia dos seus oradores francamente aplaudidos, contra a postergao de que vtima pelo aambarcamento e pelo trust, f-lo ainda assim patenteando as suas qualidades de populao ordeira, que confia na ao enrgica dos dirigentes da Nao. (...) Rarssimas vezes tem o largo de S. Francisco de Paula, o tradicional ponto da manifestao do sentimento popular, reunido to elevado nmero de pessoas como ontem, por ocasio em que se realizava o grande comcio, o "monstro", como foi cognominado por esse mesmopovo e organizado pela Confederao Brasileira do Trabalho e pela Federao Operria do Rio de Janeiro. Os lugares mais altos eram disputados a poder da fora bruta. O largo estava totalmente tomado de povo. De vez em quando atravessavam a grande e unida massa popular agentes de polcia, em atitude de quem esperava o momento de agir. Praas de cavalaria estavam postadas em todas as embocaduras das ruas, isto pouco distante do local, vendo-se fora de infantaria ao meio do largo. As sacadas dos prdios estavam todas apinhadas de pessoas que assim muito comodamente ouviam os oradores. Em todas as esquinas, em grupos, mais agentes de polcia. Na rua do Teatro, acompanhado do seu auxiliar, alferes Augusto, vimos o tenente-coronel Zeferino Costa, que superintendia o policiamento militar. Viam-se tambm no largo muitas senhoras, atenciosamente ouvindo as inflamadas oraes dos operrios, a quem no foram regateados aplausos. (...)" - 17 de maro A Notcia (diversas datas) "A alta sbita da gasolina na praa produziu em nosso meio, alis e infelizmente, no so raras aberraes comerciais, um certo pnico pela iminncia de um encarecimento dos transportes e como consequncia uma alta proporcional em todos os artigos de primeira necessidade, embora sem relao com a gasolina mas sujeitos ao jogo pela lei geral das compensaes que, como exercido, melhor, se diria dos pretextos gananciosos. (...)" - 18 de fevereiro "Nunca, talvez, a solicitude e o cumprimento dos deveres dos auxiliares da Prefeitura estiveram tanto prova, como neste momento em que a sua ao fiscalizada reclamada para debellar uma crise em que se debate a sade, o direito de subsistncia e os interesses pecuniios do pblico." 9 de maro "Nesta questo da carestia, decididamente o governo parece no ter tomado a srio o problema nem feito caso nenhum da situao em que se acha o povo. Num momento dado, ouvindo queixas que j se haviam feito clamor, o presidente em pessoa fez anunciar, por um jornalista que o entrevistou, que ia agir energicamente contra os trusts. Logo a esperana se estabeleceu. Mas providncias dessa ordem no podem ser demoradas, e o governo demora-se. Desvaneceu-se assim a esperana, que as palavras presidenciais tinham inspirado, e o povo continuou a reclamar." - 13 de maro "Realizou-se ontem, mais um "meeting" de protesto contra os esploradores da fome. Falaram vrios oradores, foram erguidos protestos e ... os gneros continuam em alta e o Sr. presidente da Repblica insiste em declarar que podia ser pior. A polcia, pelo que soube,os, portou-se bem. Entretanto, alguns dos oradores a acusaram de violncias, de cerceamento de liberdade e os colegas matutinos isso registraram. Por essa razo resolvemos hoje procurar o Dr. Paula Pessoa, 1o Delegado auxiliar para ouvi-lo. (...) A respeito do grande meeting convocado para ontem, e em que as classes operrias eram chamadas a lavrarem o seu protesto contra a horda salteadora dos aambarcadores dos gneros da alimentao, ficaram apreensivos muitos espritos que no ignoram a justia das queixas que se deviam formular nesse comcio, mas conhecem de sobra os nossos costumes policiais. (...)" 17 de maro A Tribuna (diversas datas) "A fim de combater a crise que avassala a classe proletria com o aumento constante dos preos dos gneros alimentcios de primeira necessidade e do aluguel dos humildes casebres, organizou-se ontem tarde no escritrio do Dr. Caio Monteiro de Barros, Rua do Ouvidor n. 159, um comit, que far no Rio, Campos, Juiz de Fora, S. Paulo, Santos e outros lugares comcios a fim de dar um franco combate aos monopolistas e diretores de sindicatos que tanto prejudicam a classe pobre. O primeiro comcio ter lugar hoje s 8 horas da noite, na sede do Centro Cosmopolita, rua do Senado n. 215, gentilmente cedida pela sua honrada diretoria, sendo orador o Dr. Caio Monteiro de Barros, presidente do Comit." 20 de fevereiro "Ainda bem que se vai conduzindo para um terreno prtico a magna questo do combate carestia da vida. Problema vital para a nossa populao, que v dia a dia encarecerem os produtos principais de sua alimentao, para ele se voltam as atenes do povo, que j iniciou os seus protestos, realizados sob a forma de "meetings" em diferentes pontos da cidade e aos quais se tem associado a populao, consciente dos seus direitos e deveres." 24 de fevereiro "Continua sendo objeto da cogitao pblica o problema tendente a baratear a vida. Clero, nobreza e povo se ismanaram nessa cruzada, concorrendo cada um com o seu mximo de esforo. de se esperar que dentro em breve tenhamos a crise definitivamente resolvida, pois as medidas tomadas so de toda presteza e oportunidade. 1o de maro "Realizou-se ontem, tarde, no largo de S. Francisco, o grande comcio promovido pela Federao Operria contra a carestia da vida. A concurrncia a essa reunio pblica foi considervel. Todas as associaes federadas compareceram com os seus scios, tendo havido tambm grande concurso de povo. Usaram da palavra diversos oradores, todos protestando contra o encarecimento da vida. Depois do comcio, os manifestantes foram a vrios jornais e prosseguiram nos seus protestos. a polcia manteve-se vigilante, tendo distribudo por vrios pontos os reforos necessrios para impedir qualquer perturbao da ordem." 17 de maro  18) Pereira Passos (1913) "A notcia da morte, a bordo do Araguaia, que partiu desta capital a 19 do ms prximo findo, com destino Europa, do Sr. Francisco Pereira Passos, causos profunda surpresa e intenso pezar, porque no se esperava que aquele combatente forte, bem disposto, sadio, apesr dos seus 77 invernos, tombasse to cedo, em pleno mar, quando com sua famlia demandava terras adiantadas que ele ia, de novo percorrer. (...) Aceitando o convite que lhe fra feito pelo governo do Sr. Dr. Rodrigues Alves, o ilustre engenheiro Pereira Passos, para as altas funes de prefeito do Distrito Federal, o seu primeiro cuidado foi pedir carta franca para dirigir a cidade, pois profissional que era, tinha em mente planos de sua remodelao completa, absoluta. (...) E o Sr. Dr. Pereira Passos, sem mais detena, ps em evidncia o seu plano de remodelao da cidade, dando trabalho a milhares de operrios, pondo abaixo pardieiros, prdios novos e velhos, mostrando que tudo que existia e estava de p no prestava, era um atestado do nosso atraso, da nossa vergonha, de falta de capacidade administrativa e de pusilanimidade. Um trabalho ingente, foi um movimento como jamais se viu o que se fez durante a administrao do grande engenheiro. O programa do Dr. Passos para sanear e embelezar a nossa hoje formosa cidade iniciou-se sob os melhores auspcios, tendo-se trabalhado com intensa afana na abertura de trs avenidas, no alargamento de doze ruas, no prolongamento de outras trs e de uma travessa e na canalizao dos rios Carioca, Berqu, Banana Podre, Maracan, Joana, Trapicheiros e Comprido. Os pessimistas, os retrgados, os estacionrios sorriam, zombeteiramente, dizendo ser impossvel transformar a cidade em um cu aberto, mostral-a outra, muito diferente do que era e que isso custaria a runa do pas, o empobrecimento das nossas finanas. E o Dr. Pereira Passos, sereno e surdo, mas apoiado, pelo governo e com os aplausos da populao, caminhava na sua obra, fazendo a Avenida Beira Mar, essa beleza e esse encanto, dando-lhe 5.200 metros de extenso com uma lagura de 39 metros. O trabalho foi indigente e porfiado." A Repblica, 3 de maro de 1913. "A morte tem sido cruel e impiedosa para o Brasil nestes ltimos tempos, roubando-lhe as suas maiores personalidades, os seus mais benemritos servidores. No ano que se findou, foram-se Rio Branco, Ouro Preto, Paranagu e j hoje somos surpreendidos com o desaparecimento do Dr. Francisco Pereira Passos, o extraordinrio velho, cujo nome ficou para sempre ligado cidade do Rio de Janeiro, que lhe deve a sua remodelao, a sua rpida e completa transformao. Um telegrama laconico e sinistro informa-nos haver ele falecido em viagem para Europa, para onde embarcara h dias, a bordo do paquete Araguaia. , pois, com o mais profundo sentimento que registramos o desolante sucesso. O nome do Dr. Pereira Passos no poder nunca ser esquecido. Prefeito desta cidade, nenhum administrador revelou ainda maior tenacidade, nem to elevada compreenso dos deveres que lhe impunham a lei e o momento. No perodo presidencial que ficou assinalado na histria como o iniciador dos melhoramentos que a capital brasileira estava a exigir, o Rr. Pereira Passos foi a sua figura mais operosa e destacada. Enfrentando com rara energia a oposio tremenda e desleal que lhe moviam os interesses feridos e a rotina, fez-se surdo a todos os ataques, aos apodos violentos, s agresses e s ingrias, levando a termo a obra de que o Pas hoje se orgulha. E assim abriu avenidas, ajardinou, com supremo gosto, as praas e largos, outrora em abandono, construiu esse passeio sem rival que a extensa Avenida Beira Mar, introduziu os calamentos asfaltados, cuidou das habitaes do proletariado, ergueu edifcios que atestam a nossa cultura de povo adiantado e transformou a nossa Capital Federal na mais bela cidade do mundo. Com assombrosa atividade, dirigia sempre em pessoa todos os servios, dando eloquente atestado de quanto pode uma energia de ferro, aliada competncia de superior mentalidade. Embora absorvido pela multiplicidade desses afazeres, o Dr. Pereira Passos no esquecia outras responsabilidades do seu cargo e, encontrando desacreditada e quase falida a Prefeitura, cheia de atrazos nos pagamentos, reabilitou-a, restaurando-lhe a situao financeira. escravo da lei, sem condescendncias, nem transigncias, conseguiu reorganizar escrupulosamente as arrecadaes, que lhe forneceram recursos para enfrentar os compromissos e p-los em dia. Ao deixar o governo, era reconhecidamente um grande benemrito. (...)" Folha Do Dia, 3 de maro de 1913 "A notcia da morte de Francisco Pereira Passos, a bordo do "Araguaia", em que viajava o grande remodelador da cidade do Rio de Janeiro, chegou como uma nota de luto e de dor, num domingo alegre e luminoso em que a sua linda, a sua encantadora, a sua estremecida cidade rebrilhava nos seus palcios e nas suas avenidas. Dos homens que ocupam altas posies na poltica e na administrao se costuma dizer, quando deixam a vida, que cedo para julgar a sua obra. Ela foi to discutida e apaixonou tantos espritos que s a anos, mais serenos e mais justos, podem estabelecer o seu veredictum inapelvel. de Francisco Pereira Passos no se pode dizer o mesmo. O julgamento da sua ao na pblica administrao estava h muito feito, quando o Dr. Rodrigues Alves, assumindo a presidncia da Repblica, o chamou Prefeitura do Distrito Federal, para remodelar a cidade colonial de Mem de S. (...) O Dr. Francisco Pereira Passos, nasceu em 29 de agosto de 1836, na cidade de So Joo Marcos, no Estado do Rio de Janeiro, e era filho dos bares de Mangaratiba. Formou-se na antiga Escola Central, hoje Politcnica, e foi logo aps nomeado adido legao brasileira em Paris, onde aperfeioou os seus estudos de engenharia, publicando, em seguida, em Londres, a "Caderneta Passos", trabalho tcnico de grande valor. Voltando da Europa foi nomeado engenheiro residente da Estrada Pedro II, de onde saiu para dirigir o estabelecimento de fundio da Ponta da Areia, ocupando depois o cargo de engenheiro da Diretoria de Obras Pblicas. Foi fiscal da Estrada de Ferro de S. Paulo e empreiteiro da estrada de Bag a Uruguaiana. Foi engenheiro chefe da Estrada de Ferro de Mau a Petrpolis, de cujo traado foi autor, assim como da linha eltrica da Santa Teresa. Como engenheiro da Estrada de Ferro Pedro II construiu o ramal de Porto Novo do Cunha, tendo projetado e realizado trabalhos de consolidao da Serra. Exerceu os cargos de presidente da Companhia Ferro-Carril de So Cristovo, da Estrada de Ferro de Maca e Campos, da Estrada de Ferro Sapuca, cujos trilhos estendeu at a fronteira de S. Paulo, e da Estrada de Ferro do Corcovado, sendo desta tambm o engenheiro construtor. Foi por duas vezes diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil, devendo-lhe a Estrada grandes e importantes obras, como sejam, os armazens da Maritma, estao de S. Diogo, ligao direta da Maritma com o interior por um segundo tnel, ponte da Maritma e seu prolongamento, alargamento da bitola da Estrada at Taubat, substituio de trilhos de ferro pelos de ao, estaes de Belm e de Mariano Procpio e, finalmente, a bela reconstruo da estao Central no Campo da Aclamao. Em 31 de dezembro de 1902 foi nomeado para o cargo de prefeito do Distrito Federal, cargo de que tomou posse no dia 2 de dezembro de 1903. Como prefeito do Distrito Federal realizou a remodelao da cidade pondo em prtica um vastssimo plano de embelezamento e transformando o velho Rio de Janeiro, de aspecto colonial, na bela cidade de ruas largas e esplndidas avenidas, de que hoje nos orgulhamos. Alm disso, aumentou a renda municipal e diminuiu a despezas de vrias reparties da Prefeitura, sem prejuzo do servio pblico: pagou todas as dvidas da Intendncia Municipal e conseguiu fazer com que ficasse em dia o pagamento de todo o pessoal e fornecedores." A Notcia, 3 de maro de 1913 "A notcia do passamento do Dr. Pereira Passos causou funda impresso na cidade. Engenheiro de reconhecida competncia, depois de administrar proficuamente por duas vezes a Central do Brasil, e de desempenhar outras funes e comisses, foi convidado para o cargo de prefeito do Distrito Federal (...) Era como que o administrador honorrio da capital,, pela sua ao benfica e inimitvel, toda de dedicao e ativiadde. Se discordamos do reformador do Rio, mais de uma vez, mesmo em sua vida reconhecemos a grandeza dos seus servios e agora, depois de morto, rendemos justa homenagem ao que fez em benefcio da cidade. O Dr. Francisco Pereira Passos deixa seu nome gravado a empreendimentos e a obras, que conseguiu ultimar nos quatro anos em que se multiplicou na Prefeitura. Assumindo as sua funes, o Dr. Pereira Passos projetou grande nmero de obras. (...) A obra mais importante que realizou foi a avenida Beira-Mar, por ele concluda; ela se estende do estremo sul da Avenida Rio Branco at Botafogo, sendo a sua extenso de 5.200 metros e a sua largura de 33. (...) Longa seria a enumerao de todos os seus servios, como as avenidas Mem de S, Salvador de S, o alargamento das ruas da Assembleia, Carioca, Visconde do Rio Branco, Frei Caneca, Estcio de S, Marechal Floriano, Visconde de Inhauma, Treze de Maio, que antes da atividade assombrosa desse patrcio ilustre s merecia louvores pela sua natureza. Este, sim, merece, como justa homenagem ao muito que fez, ter levantado a sua esttua no corao da cidade. Foi um brasileiro digno dessa comemorao." O Sculo, 3 de maro de 1913 "O Dr. Francisco Pereira Passos que ontem faleceu em caminho da Europa foi, no meio brasileiro, uma exepo e uma surpresa: excepo, pelo contraste fulminante com a nossa educao e com o nosso temperamento; surpresa, pela valentia com que, na sua idade, realizou obras a que geraes moas inteiras no se haviam aventurado. Na antiguidade pag e ingnua esse homem passaria a ser um heri ou um mito, pela sombra de trabalhos espantosos levados a efeito. No nosso tempo , com Rio Branco, um dolo nacional. So esses de fato os nomes mais populares da capital da Repblica. Com uma viso genial das coisas, com uma incomparvel capacidade de trabalho, esses dois homens agiram como duas encarnaes da ptria. No foram homens de partido. No tiveram paixes polticas a orient-los neste ou naquele sentido. Trabalharam pela grandeza nacional, acompanhados pela simpatia geral, prestigiados pelo apoio de todos. Por isso receberam as bnos de todos. O velho Dr. Pereira Passos, repetimos, era um tipo nico de nosso meio pela energia superior da vontade e pela viso segura e certa das coisas. Quando lhe coube assumir o governo da cidade, ningum acreditou realizvel a obra que sem dificuldades se realizou. (...) Em quatro anos esta feita uma reforma sem igual, transformada completamente a cidade. Deixando a administrao da cidade, as pedras que se atiravam sobre o demolidor implacvel se transformaram em flores ao incomparvel remodelador. A cidade estava uma jia. As rendas municipais aumentadas. O funcionalismo da Prefeitura pago em dia. E quando o grande homem tomou o vapor para ir descansar na Europa, para repousar da surpreendente atividade despendida, a populao carioca fez uma ardente apoteose. O Dr. Pereira Passos acaba de falecer gozando nesta cidade de uma popularidade s comparvel que cerca o nome de Rio Branco. Foi um homem." A Tribuna, 3 de maro de 1913. AS MANCHETES: Dr. F. Pereira Passos - O Grande Remodelador Da Cidade Morreu, Em Viagem A Bordo Do Araguaia (A Notcia) Uma Perda Nacional - Dr. Francisco Pereira Passos (Folha do Dia) Um Homem - O Dr. Pereira Passos (A Tribuna) O Remodelador Da Nossa Cidade - O Seu Falecimento (A Repblica)  19) Edu Chaves: Primeiro Vo sem Escalas So Paulo - Rio de Janeiro (1914) "A chegada inesperada de Edu Chaves, o simptico patrcio, a esta capital, pilotando o seu magnfico Bleriot depois de um percurso de 400 kilmetros, foi um ruidoso sucesso para a nossa aviao, tornando-se objeto de comemoraes, por toda a parte, o dia de ontem. (...) s 9,30, Edu Chaves, tendo disposto convenientemente o seu magnfico aparelho, partiu do prado da Moca, elevando-se, em seguida, bem alto, afim de melhor poder fazer a travessia de S. Paulo ao Rio. (...) Partindo, como dissemos, do prado da Moca, Edu Chaves elevou-se a 1.800 metros, viajando nesta altura cerca de 20 kilmetros, ascendendo ainda a 2.000, 2.400 e 2.800 metros. Ao chegar a esta capital Edu estava precisamente a 3.000 metros de altura. Para mais facilitar o "raid" do jovem patrcio o Telgrafo manteve troca de comunicao, ficando assim organizado um belo servio tendo a Estao Central recebido os seguintes telegramas: Rio, 5 - O aviador Edu Chaves partiu s 9,46 de So Paulo diretamente para esta capital, onde dever chegar s 14,30, aterrando no Campo dos Affonsos. Nem sem escala. Rio, 5 - Edu Chaves passou em Taubat s 11 horas. Rio, 5 - Edu Chaves foi visto em Cruzeiro s 13,50. Rio, 5 - Barra Mansa avistou Edu s 11,30 viajando em direo ao Rio. (...) Eram 14 horas e 10 minutos quando Edu Chaves aterrou no hangar da Escola Nacional de Aviao. Grande era a assistncia que enchia o Campo de Aviao e que anciosamente acompanhava, com interesse, as manobras arriscadas do arrojado aviador paulista. (...) O denodado campeo do espao conseguira cobrir o percurso de 480 kilmetros em 4 horas e 39 minutos, perfazendo uma mdia de 120 kilmetros por hora. O record de velocidade de percurso fra batido na Amrica do Sul pelo aviador paulista. No Campo dos Affonsos, onde se encontravam o Sr. presidente da Repblica e sua exma. esposa, foi o aviador Edu Chaves cumprimentado por S. Ex., que o felicitou pelo bom xito colhido na sua travessia. (...) O motor que um Gnome 80 HP trabalhou magnificamente, gastando durante o percurso 16 litros de gasolina e 45 litros de leo. O aparelho munido de hlice Chouvier e vela Oleo. (...)" A Repblica, 6 de julho de 1914 "O dia de ontem assinalou mais um trinfo para a aviao no Brasil. Coube ainda uma vez a Edu Chaves realizar um "raid" sensacional, vindo de S. Paulo ao Rio de Janeiro em 6 horas e meia, vencendo com admirvel segurana um percurso de 450 kilmetros. O arrojado aviador paulista, nessa prova de resistncia teve de vencer dificuldades que no chegaram para impedir a terminao do seu vo memorvel, desta vez terminado com um absoluto sucesso, aterrando calmamente no campo de aviao da fazenda dos Affonsos. Edu Chaves saiu do prado da Moca em S. Paulo s 9,30 da manh, tendo resolvido de surpresa renovar o "raid" que o tornara famoso, alguns anos atrs, quando uma falsa orientao do terreno o fez cair ao mar, nas proximidades de Mangaratiba. O aparelho de que se serviu Edu Chave foi um monoplano Bleriot, com um motor Gromo de 80 cavalos. O percurso realizado no "raid" de ontem foi de cerca de 450 kilmetros, vencidos em 6 horas e meia. Edu Chaves fez o vo na altura de 2000 metros, subindo a 3000 metros ao atravessar a Serra do Mar. A velocidade desenvolvida pelo Bleriot foi de cerca de 80 kilmetros por hora. Foi uma verdadeira surpresa a chegada de Edu Chaves no campo de aviao da fazenda dos Affonsos. Recebido com efusivas demonstraes de aclamao, por Darioli, Nicola Santo, Kirk e outros aviadores presentes, Edu Chaves foi felicitado entusiasticamente pelo "raid" que realizara com um sucesso to brilhante.(...)" O Dirio, 6 de julho de 1914 "Edu Chaves, o valoroso e pertinaz aviador brasileiro, conseguiu fazer num s vo, sem escalas, a travessia So Paulo a esta capital. Com essa audaciosa prova bateu ele o recorde da velocidade em longo percurso na Amrica do Sul. Ocultando dos amigos mais ntimos e da prpria famlia o seu intento, edu levantou ontem, s 9,30 da manh, o vo no aerdromo paulista no seu Bleriot. fazendo a maior do percurso na altura de 1800 metros, atingiu ele at os 2800 metros. Chegando ao Rio, Edu procurou dirigir-se para o campo do Aeroclube Brasileiro, no Campo dos Affonsos, onde aterrou s 2,10 da tarde. Em o nosso aerdromo achava-se vrias pessoas, inclusive o marechal Hermes, que, com sua esposa, haviam ido ali assistir aos exerccios aviatrios de Kirk e Darioli. Todos felicitaram calorosamente o aviador brasileiro pela sua brilhante vitria. A travessia foi feita sem o menor incidente desagradvel, tendo gasto 160 litros de gasolina e 45 de leo. (...) Depois de muito felicitado no Campo dos Affonsos, onde lhe foi oferecido uma taa de champagna, Edu veio, s 10 horas da noite, para a cidade, hospedando-se no Hotel Avenida. (...) O notvel vo de Edu Chaves revolucionou os meios aviatrios cariocas, onde a faanha de Edu tem causado assombro." O Sculo, 6 de julho de 1914 "Teve incio, ontem, a festa promovida pelo Aero Club, por um fato inteiramente inesperado, que foi a sbita apario de um aeroplano, de que no constava no programa a sua evoluo. De pequenino ponto, avolumou-se pouco a pouco at reconhecer-se o magnfico aeroplano Bleriot 80 HP de Edu Chaves, que s 9,35 partira do hipdromo da Moca, em S. Paulo. Aps 4 horas e 40 minutos de ininterrupta viagem, o nosso ousado patrcio, numa bela "aterrisage", tomava contato com o solo, descendo no campo da Escola Brasileira de Aviao. Foi uma exclamao unssona de pasmo e alegria ao ver-se a figura simptica do nosso patrcio, o precursor brasileiro da nossa aviao no pas. Edu partira, precisamente s 9,45 e aterrou s 2,10 levando, portanto, 4 horas e 25 minutos para vencer os 450 kilmetros que nos separam da capital paulista, fazendo, portanto, uma mdia de 104 kilmetros e 200 metros a hora. (...) Antes, porem, de descer, executou uma srie de voltas com os braos levantados, no tocando, portanto, no volante de direo. Esta proeza causou grande entusiasmo e levantou muitos aplausos. (...) Foi uma festa que obteve o mais franco sucesso, o que nos deixa prever a aceitao que tero as futuras provas institudas pelo Aero Club. Num dos intervalos foi servida uma fina mesa de doces e ao "champagne" foram feitos diversos brindes. Durante a festa tocou uma banda de msica militar. Enfim, todos que de l vieram trouxeram a melhor das impresses." A Tribuna, 6 de julho de 1914 "A comisso do Aero-Club Brasileiro reune-se amanh, em sesso extraordinria, afim de receber o grande aviador patrcio Edu Chaves, o arrojado piloto que acaba de realizar o maior vo sem escalas da Amrica do Sul. A extraordinria proeza de Edu veio fazer avanar de um ano a aviao nacional. justamente para registrar esse feito admirvel, que se inscrever entre as maiores cruzadas areas contemporneas, que o Aero-Club se reune amanh. Tomando conhecimento oficial do vo de Edu, O Aero-Club, como nico poder aeronutico no Brasil, comunicalo-a Fderation Aronautique Internationale, concedendo-lhe o ttulo de "recordman" de distncia no Brasil." A Rua, 8 de julho de 1914 MANCHETES "Aviao - Uma Grande Surpresa - Edu Chaves Faz Inesperadamente O "Raid" Rio-S.Paulo, Em 4 horas E 25 minutos - A Festa No Aero-Club (A Tribuna) De S. Paulo ao Rio Em Aeroplano - Edu Chaves Faz A Travessia (O Sculo) Os nossos homens-pssaros - Edu Chaves ser recebido amanh solenemente no Aero Club Brasileiro (A Rua)  20)Pinheiro Machado (1915) " (...) Seriam mais ou menos 4.35 horas da tarde. Um dos telephones da nossa redaco tilintou, rapido. - Que deseja? - o Correio da Manh? - Sim , senhor. - Quem fala um dos amigos do "Correio". Acaba um homem do povo, ao que parece, de assassinar o senador Pinheiro Machado. - Como sabe o senhor disso? - Agora mesmo saltei do bonde e penetrei no Hotel dos Estrangeiros, de onde lhe falo. O cadaver do senador Pinheiro Machado acha-se ainda aqui. E a ligao foi interrompida. Immediatamente tres dos nossos companheiros abandonaram a redaco, para colher informaes sobre a noticia que nos fra, to inesperadamenrte, communicada por telephone. Poucos minutos, porm, decorreram depois da saida daquelles representantes do "Correio da Manh", quando outro nosso companheiro varou precipitadamente a redaco, informando-nos de que j se vulgarizara, com insistente brutalidade, a noticia do assassinato do vice-presidente do Senado Federal. Essa noticia era grave demais, para ser acreditada para logo, deante das escassas minucias informadas. Espermos, por isso, e com explicavel anciedade, a sua confirmao, para a transmitir ao publico, em boletins. J por esse tempo - deviam ser 5 horas - compacta massa de povo, na qual se lobrigavam pessoas de representao social, detinha-se defronte da nossa redaco, espera dos nossos boletins. Recebemos, ento, pelo telephone, nova communicao do assassinato do senador Pinheiro Machado, feita por um quinto ou sexto companheiro de trabalho. - Viu o cadaver? - No. a noticia, porm, verdadeira. - Pois assim que vir o general Pinheiro confirme-a. E procure a confirmao, indo ao local. A massa de gente defronte da nossa redaco avolumava-se, porm, cada vez mais, presos instinctivamente de anciedade. que a noticia j corria por toda a cidade, em frma de boato. Um dos tres companheiros nossos que haviam partido para o Hotel dos Estrangeiros conseguiu, finalmente, communicar-se com a redaco pelo telephone official: - O senador Pinheiro Machado foi, effectivamente, assassinado, com uma punhalada nas costas, no saguo do Hotel dos Estrangeiros. O assassino um moo brasileiro, nascido em So Paulo. O cadaver do senador sul-riograndense acha-se numa das saletas de espera do andar terreo do hotel, cercado de amigos. Vi-o. Affixmos, ento, no "placard" os primeiros e minuciosos boletins do "Correio da Manh". O automovel conduziu-nos, celere. (...) Depois de percorrermos detidamente algumas dependencias do andar terreo do hotel, inclusive a saleta de espera onde se achava, sobre uma mesa, estendido o cadaver do senador Pinheiro Machado, voltamos sala contigua ao saguo, onde se verificara o assassinato, e palestramos com o dr. Bueno de Andrade, testemunha de vista do tragico sucesso. O deputado paulista achava-se succumbido. A sua physionomia revelava uma fadiga moral excessiva. Trocamos um ligeiro cumprimento com o parlamentar paulista e conduzimol-o para uma poltrona daquella sala. - Ento, dr. Bueno, como foi essa tragedia? Elle olhou-nos um momento e confirmou: - Diz bem: uma tragedia! - Como veiu o general Pinheiro aqui? - Elle veiu visitar o sr. Rubio Junior, que no se achava, ento, no hotel, pois que havia saido. Eu e o sr. Cardoso de Almeida achavamo-nos no saguo a cerca de oito passos da escada, que d accesso para o andar superior do edificio. Palestravamos os dois sobre a politica paulista. O senhor Pinheiro Machado, depois de ter sido informado da ausencia do Sr. Rubio Junior, appareceu na saguo e, lobrigando-nos, dirigiu-se para onde nos achavamos. - Houve sesso no Senado sr. Pinheiro? O senador riograndense retorquiu: - Houve sim. Mas nada houve de mais. Depois de uma curta pausa o senador Pinheiro convidou: - Mas venha c, bacharel Cardoso. Interrogueio o ento. - Como vai general? - Como vai voc, "seu"Bueno?, respondeu-me, interrogando o senador. Referiu-se ento, ausencia do Sr. Rubio Junior. Desse momento o Sr. Cardoso de Almeida disse: - Mas o sr. Albuquerque Lins est ahi. - Vamos conversar com elle, "seu"Cardoso. Vamos conversar com elle, vamos. E o sr. Pinheiro insistiu muito nesse convite, ao que se excusava o deputado paulista, por haver j visitado o sr. Albuquerque Lins. Estavamos a uns quatro passos da escada espiral do saguo. O senador riograndense achava-se de costas exactamente para a parte anterior da saguo, de frente, portanto, para os fundos dessa dependencia do hotel. O sr. Cardoso de Almeida e eu estavamos collocados de maneira que no podiamos avistar immediatamente quem penetrasse no hotel, pelas suas portas principaes. Foi precisamente no instante em que o vice-presidente do Senado insistira com o seu collega de bancada para uma visita commum ao dr. Albuquerque Lins, que o assassino surgiu. - E, como era esse assassino? - No pude guardar-lhe as feies, continuou o Sr. Bueno de Almeida. Pareceu-me, porm, que era moo, vestia roupas escuras, chapo de palha, paletot aberto, sem collete. Vi-o de relance. - E como praticou o assassinato? - Surgiu por detrs do senador Pinheiro e deu-lhe um murro nas costas. O general gacho estremeceu e exclamou: Canalha! O covarde correu. O sr. Cardoso de Almeida deitou a correr em sua perseguio. (...) Correio da Manh, 9 de setembro de 1915. "A politica nacional attingida em cheio pelo golpe de punhal que cortou abruptamente a existencia do general Jos Gomes Pinheiro Machado, transformou-se de subito numa formidavel interrogao para o paiz, colhido de surpresa por um violento extremeo da vertiginosa corrente em que se deixava arrastar, indolente e descuidado. O general Pinheiro Machado, a exemplo de todos os grandes dominadores das multides, nunca tomou em conta da sua obra publica as opposies infimas, as resistencias imponderaveis ao seu espirito de luctador affeito a enfrentar e vencer as maiores energias antagonicas; nem a molestia ou a sua morte entraram jamais em seus calculos como factores possiveis do insucesso de suas idas e das aspiraes que S. Ex. aggremiara, disciplinara e movia a seu talante com absoluta confiana na sua peregrina estrella. (...) Sempre guardado vista, o assassino Francisco Manso de Paiva Coimbra, passou a noite calmo, dormindo algumas horas, recusando, entretanto, qualquer alimentao, a no ser caf. Tem o aspecto abatido, pronunciadas olheiras e a barba mais crescida. Veste ainda o mesmo terno escuro com que foi preso e se deixa photographar sem a menor reluctancia. O maior temor que o criminoso manifesta o que lhe poder acontecer na Casa de Deteno, para onde no deseja ir. Sabe que o director desse presidio era amigo particular do general Pinheiro Machado, e se arreceia de ser maltratado ali. Isso mesmo j o criminoso hontem expandia ao dr. chefe de pollicia, quando interrogado. Na delegacia do 6o districto, quando, s 11 horas da manh de hoje estava sendo identificado, um dos nossos companheiros logrou falar ao criminoso. Apezar de se mostrar calmo, Francisco Manso de Paiva Coimbra ao assignar as fichas tinha a mo tremula. Interrogando-o, disse-nos o assassino que as suas declaraes so as de seu depoimento, j publicado em todos os jornaes em que affirmou estar satisfeito em haver cumprido um voto de que ha muito fizera. Disse-nos ter pae e me vivos, no Rio Grande do Sul, de onde filho; seu pae Francisco de Paiva Coimbra, portuguez e padeiro, e sua me D. Maria de Jesus, natural do Rio Grande. Seu parente apenas sua irm Conceio, tambem no Rio Grande, no tendo aqui no Rio seno ligeiros conhecimentos. Perguntando-lhe si havia j sido preso alguma vez, mesmo com o nome de Joo Dias Regis, respondeu-nos que nunca fora preso e se trocou de nome foi por ter desertado do Exercito. Dentre outras declaraes prestadas, quer policia, quer imprensa, o assassino disse no ser habito seu frequentar "meetings" nem reunies politicas, apenas tendo ido ao ultimo realisado nesta capital, que diziam ser contra o general Pinheiro. Fra este o nico "meeting" a que compareceu. (...) A policia tinha conhecimento de que se tramava um complot contra o Senado ou contra o proprio sr. senador Pinheiro Machado. Segundo declaraes feitas pelo sr. dr. Carlos Maximiliano, ministro da Justia, soubera a nossa policia que esse complot tinha por fim fazer saltar a dynamite o edificio do Senado, no dia do reconhecimento do Sr. Hermes da Fonseca. Esta noticia nos foi transmittida por um dos membros da bancada rio-grandense, que ouviu o sr. Ministro da Justia fazer tal declarao. Sobre o caso foi guardada, porm, a mais absoluta reserva e discreo, no sendo tomadas, mesmo, medidas ostensivas, para no causar o alarma muito natural que ellas iriam provocar. Entretanto, esta falta de uma iniciativa rigorosa causou estranheza enorme nos circulos politicos rio-grandenses. (...)" A Notcia, 9 de setembro de 1915 "A primeira impresso causada no espirito publico pelas noticias do assassinato de sr. general Pinheiro Machado foi a de um verdadeiro estupor. Chefe politico, de uma influencia to vasta, to poderosa e quasi podemos dizer to incontrastavel na vida da nao, a primeira ida ligada ao facto, quando o facto j no podia ser posto em duvida, foi a de que se tratava de um attentado politico. E, felizmente, esses processos violentos esto de tal modo afastados da nossa indole, que o movimento geral que se fez immeadiatamente em torno do lutoso acontecimento foi o de uma franca e geral condemnao. (...) Mais ou menos s 4,40 da tarde passava pelo Hotel dos Estrangeiros um bond da linha do Humayt. Varios vendedores de jornaes que por ali se achavam correram para o bond gritando: - Mataram o general Pinheiro Machado! Uma senhora disse aos pequenos: - Vocs no gritem essas mentiras. - Mas verdade, foi agora mesmo. E o pequeno, com outros companheiros, saltaram para os bonds que passavam pela rua Senador Vergueiro e pela rua Marquez de Abrantes, repetindo os mesmos gritos: - Mataram o senador Pinheiro Machado! A impresso, porm, era de incredulidade apesar de haver um desusado movimento junto porta do hotel, para onde varios guardas civis acudiram. (...) O sr. Pinheiro Machado almoou hontem, hora habitual, no seu palacete da rua Guanabara, depois do que recebeu varios amigos politicos que o procuraram. Depois, tomando o seu "laudaulet", dirigiu-se ao senado, onde deveria ser feita a votao do parecer reconhecendo o sr. marechal Hermes da Fonseca senador pelo Rio Grande do Sul. Na ausencia do sr. dr. Urbano dos Santos, assumiu S. Ex. a presidencia, demorando, propositalmente, a abertura da sesso at a 1 hora e 45 minutos, espera de conseguir numero para a votao. Como, porm, at s 2 horas no tivesse numero preciso, pediu uma lista da residencia de todos os senadores, determinando que se expedissem telegrammas a todos quantos se encontram presentemente nesta capital e em Petropolis, pedindo-lhes o comparecimento sesso de hoje. Depois demorou-se ainda no edificio do senado cerca de 20 minutos, conversando com alguns senadores, entre os quaes os srs. Indio do Brasil e Arthur Lemos. Deixando o Senado, S.Ex. tornou a tomar o seu automovel para fazer varias visitas, entre as quaes uma ao sr. dr. Rubio, chegado de S. Paulo e que se hospedara no Hotel dos Estrangeiros. Era a fatalidade do destino a chamal-o ao ponto onde o esperava a morte! Chegando ao vestibulo do Hotel dos Estrangeiros, o vice-presidente do Senado encontrou os srs. Cardoso de Almeida e Bueno de Andrade, deputados federaes pelo Estado de S. Paulo. Dirigindo-se a esses cavalheiros o sr. general Pinheiro Machado, convidou-os, galhofeiramente, para subirem aos aposentos do dr. Rubio Junior, "afim de visital-o e ouvirem historias engraadas", phrase textual, proferida pelo senador rio-grandense. Os srs. Cardoso de Almeida e Bueno de Andrade, seguindo uma verso subiram, ladeando o Sr. Pinheiro e recusaram-se subir consoante outra verso, dizendo em tom de pilheria: - Suba voc sosinho... O facto que o sr. Pinheiro Machado foi apunhalado pelas costas, quando atravessava o saguo para entrar na sala do hotel. O assassino, ao que parece, no conhecia o general Pinheiro Machado, tanto assim que perguntou a uma pessoa presente quem era o vice-presidente do Senado Federal. Ao sentir-se ferido, mortalmente, o sr. Pinheiro Machado, desceu tranquillamente as escadas e, encaminhando-se para a sala de visitas do hotel declarou estar ferido, sentando-se em uma cadeira, e expirando minutos aps. Como natural, o assassinato do vice-presidente do Senado divulgou-se com extrema rapidez e o Hotel dos Estrangeiros enchia-se de amigos e correligionarios de S. Ex. A primeira pessoa que chegou ao Hotel dos Estrangeiros foi o sr. ministro da Justia, que estava ligeiramente enfermo. Ferindo mortalmente o sr. Pinheiro Machado, o seu assassino, desceu as escadas e entregou o punhal homicida ao sr. Cardoso de Almeida. (...)" Gazeta de Notcias, 9 de setembro de 1915 "A impresso no primeiro momento foi a da mais completa surpreza. Ao circular a nota do assassinato praticado no Hotel dos Estrangeiros houve a sensao de pasmo, de duvida, de incerteza. A cida do homem hontem tombado estava de ha muito em perigo e entre os sucessos previstos figurava a possibilidade de sua eliminao. mas que caisse assim, daquella forma, em um momento de relativa calma, sem os prenuncios da dolorosa tragedia, eis o que no entrava nos dominios do admissivel. Entretanto tal aconteceu, manifestando-se a principio a incredulidade publica, para dar logar mais tarde, deante de informes positivos e seguros, ao peso da realidade, com toda a sua brutal e triste evidencia. (...) A hora adiantada da tarde em que foi perpetrado o assassinato do senador Pinheiro Machado, quando j havia saido a nossa segunda edio, s nos permittiu que em uma terceira edio dessemos em rapidas notas a noticia confirmadora do crime, quando ainda no se sabiam os pormenores da scena de sangue. Passamos por isso, a narrar, em breves linhas, como occorreu o crime. O senador Pinheiro Machado chegava, de automovel, ao Hotel dos estrangeiros onde ia visitar o dr. Albuquerque Lins, ex-presidente de S. Paulo. Nesse momento encontravam-se na portaria os deputados Bueno de Andrade e Cardoso de Almeida, que chegara pouco antes. Conversavam os dois congressistas quando viram o senador Pinheiro que interrogava o porteiro do hotel. Cumprimentaram-se os tres politicos. O sr. Cardoso de Almeida interrogou o general Pinheiro Machado: - Sr. chefe, como passa? O general respondeu brincando com esta expresso: - Adeus bacharel. Voc6e como vae? O sr. Cardoso de Almeida declarou, ento, sabedor de que o seu collega Bueno de Andrade no encontrara o dr. Rubio Junior, que tambem o dr. Albuquerque Lins se acha hospedado no hotel, o general Pinheiro Machado asseverou que ali fra visital-o. O senador Pinheiro recebeu ento communicao de que o dr. Albuquerque Lins o esperava. O sr. Cardoso de Almeida quiz se retirar para os seus aposentos, mas diante do convite insistente do sr. Pinheiro Machado, resolveu acompanhal-o. Ladeado pelos dois deputados, encaminhou-se o general do saguo para o interior do hotel. Ao se approximarem o general e os dois companheiros do salo de leitura no hotel, um individuo apunhalou pelas costas o chefe do Partido Conservador. Este virou-se, rapidamente, e exclamou, com indignao: - Canalha! O assassino saiu a correr para a praa Jos de Alencar. O dr. Bueno de Andrade, que no comprehendeu, ao primeiro momento a gravidade do facto, no presumindo que o general Pinheiro Machado houvesse sido ferido, interrogou: - Que quer dizer isto? - Estou apunhalado, respondeu o senador Pinheiro. O sr. Cardoso de Almeida saiu em perseguio do aggressor, em companhia de outras pessoas, prendendo-o logo adiante, sem a menor resistencia e confessando elle o crime. Dentro do hotel o senador Pinheiro Machado caiu sem pronunciar mais palavra alguma, expirando pouco depois, sendo inuteis os soccorros que lhe prestaram. (...) O Sculo, 9 de setembro de 1915 "Foi um verdadeiro estupr a sensao que causou, ao cahir da tarde de hontem, a noticia do assassinato do sr. general Pinheiro Machado, vice-presidente do Senado e chefe do Partido Republicano Conservador. O barbaro, o hediondo crime de hontem relegou para um plano muito remoto todas as cogitaes partidarias em torno do valoroso vulto republicano que cahia victima da sanha de um facinora. Crimes como o de hontem envergonham uma sociedade inteira, ao mesmo tempo em que a enxovalham e ameaam no que ella tem de mais nobre e mais elevado. Pode-se affirmar sem receio de exaggero que o gesto estupido que roubou a vida do general Pinheiro Machado no encontrou duas modalidades diversas de julgamento. A sociedade affrontada por essa erupo de barbaria inqualificavel, foi unanime na indignao que verberou o scelerado que descera pratica daquella hediondez sem nome. O que revolta particularmente no crime de hontem o risonho cynismo desse monstro humano, que vinha seguindo semanas a fio, a sua nobre victima, espreitando o momento propicio para traioeiramente, cravar-lhe o punhal pelas costas! Quiz a ironia do destino que o general Pinheiro Machado, homem cavalheiresco e altivo e possuidor de qualidades excepcionaes de coragem, experimentadas em muitos campos de batalha e em varias pendencias de honra, viesse cahir victima de um brao covarde e traioeiro, a servio da loucura de um cerebro inculto. As ultimas palavras do illustre vulto republicano mostram que elle apezar da fulminante rapidez da scena, percebera nitidamente o alcance do que succedia: - canalha! E nesta expresso, que precedeu de segundos as duas ultimas palavras que pronunciou, resumia-se todo um infinito desprezo pelo abjecto assassino que lhe cravara no corao a fina lamina de um punhal reluzente... No ha, em toda a sociedade, como diziamos, duas maneiras para julgar o assassinato do general Pinheiro Machado. Mesmo seus adversarios politicos mais intransigentes ververaram com indignao a criminosa loucura desse facinora que enxovalhou a nossa civilisao, dando largas aos seus instinctos selvagens e repugnantes. No este ainda o momento para falar da verdadeira significao politica do assassinado no complexo da vida nacional. A historia, expurgando-lhe a figura dos erros que commetteu, ha de fazer-lhe justia, colocando-o na plana dos seus melhores e mais devotados servidores. Mas o que parece innegavel que o crime de hontem pode aggravar de muito as difficuldades do paiz. (...) A Tribuna, 9 de setembro de 1915 AS MANCHETES: O Assassinato Do General Pinheiro Machado - Quem O Criminoso E Quaes Os Motivos Do Crime - As Foras De Terra E Mar Em Meia Promptido - As Homenagens Que Sero Prestadas Ao Morto ( A Tribuna ) Pinheiro Machado - O Seu Assassinato - A Repercusso No Paiz - O Crime E O Criminoso - As Providencias Do Governo - Demonstraes De Pezar - A Transladao Do Corpo - Notas E Informaes ( O Sculo ) Um Crime Sensacional -O Assassinato Do General Pinheiro Machado - O Dia De Hontem - A Visita Ao Hotel Dos Estrangeiros - O Crime - Notas Commoventes - A Aco Da Policia - Priso Do Assassino - Na Delegacia - O Auto De Flagrante - Depoimentos - No Morro Da Graa - No Palacio Guanabara - Providencias Da Policia - No Exercito - Diversas Notas ( Gazeta de Notcias ) O Assassinato Do General Pinheiro Machado ( A Notcia ) O General Pinheiro Machado Foi, Hontem, Tarde Assassinado No Saguo Do Hotel Dos Estrangeiros - O Criminoso, Natural Do Rio Grande Do Sul, Foi Preso, Declarando Ter Agido Por Conta Prpria - O Que Dizem As Testemunhas De Vista Da Tragica Scena - As Foras De Terra E Mar esto De Promptido ( Correio da Manh )  21) Alcindo Guanabara (1918) "Faleceu esta madrugada em sua residncia, rua Gustavo Sampaio o Senador Alcindo Guanabara. Esta triste notcia chegou-nos na hora que a nossa folha entrava na mquina. Foi absolutamente inesperada a sua morte. Sua Ex. faleceu de uma embolia cerebral." Jornal do Commrcio, 20 de agosto de 1918 "O Sr. senador Alcindo Guanabara h muitos anos tinha abalado o seu estado de sade. Diversas crises de um mal que no perdoa fizeram que seus amigos temessem srias consequncias. Mas ultimamente parecia que o mal estacionara e o seu aspecto geral j no impressionava ao largo crculo de suas relaes. (...) O Sr. Alcindo Guanabara gozava de forte prestgio e a sua palavra foi sempre acatada nos meios parlamentares. H cinco ou quatro anos, o Sr. Alcindo Guanabara se afastava por completo do jornalismo. (...) A politicagem prendeu e enlaou esse grande esprito, que uma poro de negcios tambm embaraou: mas, se essas preocupaes fizeram variar o agrupamento a quem pertencia, nunca alteraram o seu grande programa social e poltico. (...) Foi esse grande mestre da nossa arte de escrever em jornal, grande mestre que sempre honrou a profisso pela elevao dos conceitos, erudio poliforme e brilhde estilo, que anteontem faleceu. Foi dos maiores espritos da sua gerao e influiu como poucos na formao intelectual dos estadistas republicanos. (...)" Jornal do Commrcio, 21 de agosto de 1918 "A Prefeitura vai prestar a Alcindo Guanabara homenagem. O Dr. Amaro Cavalcanti assim que soube da morte do senador pelo Distrito Federal mandou o seu oficial de gabinete Dr. Mrio Cavalcanti casa do morto apresentar psames famlia e comunicar que o governo municipal se encarregar do enterro e das exequias do ilustre morto. O governador da cidade ser representado no enterro pelo seu oficial de gabinete. A prefeitura mandou hastear o pavilho municipal em funeral em todas as reparties municipais. repercutiu dolorosamente na Cmara Alta da Repblica a notcia do falecimento inesperado de Alcindo Guanabara, uma das figuras mais representativas daquela casa, onde o morto representava o Distrito Federal (...) O desaparecimento de Alcindo Guanabara, colhido subitamente pela morte, vem ferir e enlutar as letras e a imprensa nacionais de modo profundo (...) O falecimento do senador Alcindo Guanabara revestiu-se de todos os imprevistos. De domingo at ontem trabalhara excessivamente no parecer sobre o reconhecimento dos senadores esprito-santenses. Hontem, como de costume, saiu de sua residncia indo at ao escritrio, almoando em seguida num restaurante da Rua Sete de Setembro. Depois dirigiu-se ao Senado, onde procedeu feitura do parecer que tinha escrito. s 7 horas da noite, sentindo-se muito fatigado e passando mal, dirigiu-se casa de seu mdico, o Dr. Castro Barreto, que reside nas proximidades da rua Gustavo Sampaio. Ao entrar, pediu ao clnico que o medicasse. Aconselhado a repousar, antes que tudo, o senador Alcindo ia retirar-se quando foi acometido de uma syncope. Socorrido, ficou na residncia do Dr. Castro Barreto, onde veio a falecer s 2,5 da manh, vtima de um terceiro ataque de embolia cerebral. (...)" A Notcia, 20 de agosto de 1918 "Faleceu, ontem, inesperadamente, nesta cidade, o senador Alcindo Guanabara. Ainda ante-ontem o senador carioca dera o parecer que elaborara sobre as eleies do Esprito Santo, aos membros da comisso de Poderes, que o aprovaram. Deixando o Senado, s 15 horas daquele dia, o senador Alcindo Guanabara veio para a cidade, onde permaneceu at cerca de 21 . A esse tempo, tomou um automvel e dirigiu-se sua residncia no Leme. Quando o veculo transpunha a rua Gustavo Sampaio, naquela localidade, o senador carioca sentindo-se mal, deu ordens ao "chauffeur" para lev-lo casa do Dr. Castro Barreto, seu mdico assistente. Em ali chegando, o senador Guanabara piorou muito. O referido facultativo acomodou-o em um de seus aposentos, onde, horas depois, s 3 da madrugada, teve um colapso cardaco, falecendo, j ento cercado de pessoas da sua famlia. (...) Vindo para o Rio, o senador Alcindo Guanabara escreveu, entre outros, na Gazeta da Tarde, de Jos do Patrocnio, no Novidades, Correio do Povo, Jornal do Commrcio e, ultimamente, na Imprensa, que era de sua propriedade. Muitas vezes se arredou do seu posto para exercer mandatos polticos. Fez parte da Constituinte e, depois, na Repblica, foi eleito em vrias legislaturas Deputado Federal. (...)" O Imparcial, 21 de agosto de 1918 "Por circunstncias decorrentes talvez menos de sua prpria vontade que da nossa anarquia poltico-social, que se caracteriza justamente pela completa inverso de todos os valores, o maior jornalista brasileiro acaba de falecer, afastado do jornalismo militante, cujas fileiras so invadidas por "arrivistas" falhados em outras profisses. (...) De fato, enquanto vivesse o incomparvel mestre, cuja nica paixo era o jornal, havia a esperana consoladora de que, no obstante o abatimento de suas energias fsicas, ele voltasse, de um momento para o outro, atividade jornalstica, elevando, de novo, o nvel intelectual da nossa classe altura fulgurante em que ela pairou, durante o largo perodo em que sua pena pontificava em pleno vigor. Tombado, porm, o gigante, ns outros olhamos em torno dos que enxameam na cidadela invadida, no vendo quem possa sopesar a sua clava formidvel. (...) Mas , sobretudo como jornalista, que o nome de Alcindo Guanabara se perpetuar na nossa histria. A sua pena maravilhosa representava, por si mesma, o prprio jornal, porque produzia tudo de quanto ele precisasse, desde o artigo de fundo at ao noticirio de polcia. (...)" A Razo, 21 de agosto de 1918 "Na vertigem alucinante destes dias que passam, quando todos ns somos empolgados pelo espetculo prodigioso da transformao que se opera no mundo, a tendncia geral se acentua sempre no sentido de ningum se deter, com emoo duradoura, diante de acontecimentos que no se entrelaam com os fatos atuais e que mais nos falam do passado do que do presente. Mas, apesar disso, no h como sopitar a onda de uma emoo sentida e transbordante, que sobe dentro de ns, com a fora irreprimvel dos sentimentos inelutveis e profundos, ao sermos surpreendidos pela notcia da morte de Alcindo Guanabara. (...) Recordar os episdios culminantes dessa vida assinalar toda a nossa evoluo nacional nestes ltimos 30 anos. Porque raro sero os grandes acontecimentos de ordem social e poltica, ocorridos de 1888 para c, a que no esteja ligado o nome refulgente de Alcindo. (...) Como poltico e como parlamentar, Alcindo Guanabara foi um combativo e foi um construtor. (...) Alcindo Guanabara, que no domnio da atividade jornalstica, foi um grande doutrinador e um irredutvel liberal e republicano, como parlamentar no s confirmou essas qualidades como ainda se revelou socilogo e economista de altssimo valor. (...)" A Tribuna, 20 de agosto de 1918 MANCHETES: Alcindo Guanabara - O Brasil Sofre Uma Perda Irreparvel - Morre O Maior Dos Seus Jornalistas Contemporneos (A Tribuna) Uma Perda Insubstituvel No Nosso Patrimnio Moral - O Falecimento Do Maior Dos Jornalistas Brasileiros (A Razo)  22) Gripe Espanhola (1918) "O que se est passando na Saude do Porto da nossa capital simplesmente assombroso. Os navios entram infeccionados, os passageiros e tripulantes atacados saltam livremente contribuindo para contaminar cada vez mais a cidade, no soffrendo os navios o mais rudimentar expurgo! A Saude do Porto no tem conduco, no tem o pessoal necessario para as emergencias do momento e o material preciso para as desinfeces. A inepcia, o pouco caso criminoso do director de Saude Publica pelo cumprimento das attribuies que em m hora o governo lhe confiou, tocou hoje, as raias do incrivel. Telegrammas chegados ha dias de Estados do Norte, annunciaram detalhadamente dezenas de casos de "influenza hespanhola" occoridos a bordo da "Itassuc". Era o caso do Sr. Carlos Seidl tomar providencias energicas, para isolar os enfermos e expurgar o navio, mal chegasse elle Guanabara, si s.ex levasse a srio seus deveres. Nada disso, entretanto, aconteceu. O "Itassuc" chegou, foi desimpedido e os doentes desceram calmamente terra, sem que o director da Saude Publica mandasse tomar a minima providencia! O dr. Pereira Neves, medico, hoje de servio na Saude do Porto, viu-se em srias difficuldades para visitar o "Itassuc", por falta de conduco, isto porque o ineffavel sr. Carlos Seidl emprestou a lancha de servio a um amigo que queria ir a bordo desse navio buscar pessoas de sua amizade. O director da Saude Publica, est evidentemente, abusando da paciencia da populao. O governo est na obrigao de fazer sentir ao incompetente administrador, que mais de um milho de vidas no pdem continuar assim merc do seu formidavel desleixo, da sua extraordinaria inercia e da sua incommensuravel inaptido administrativa. (...) Rio Jornal, 11 de outubro de 1918 "O descaso do governo pela saude pblica est tomando um ar pilherico. At agora no se poz em pratica uma s providencia, digna desse nome, para debellar o epidemico mal ou, pelo menos, circumscrevel-o a propores reduzidas dentro das quaes a sua prophilaxia se tornasse possivel e facil sem desperdicios de tempo. Deu-se isto hontem com os passageiros do transporte inglez "Highland Lock". A molestia transmitte-se, propaga-se assim precipitadamente. As reparties publicas, as escolas, os escriptorios de empresas de toda a especie, as officinas dos jornaes, os estaleiros, as estradas de ferro esto ficando enormemente desfalcados de pessoal. Em todas as ruas, e a todas as horas, vemos cahir subitamente, tombar sobre a calada victimas do mal estranho. A Assistencia tem multiplicado o seu servio, os hospitais esto repletos. (...)" Rio Jornal, 14 de outubro de 1918 "A epidemia que de ha quatro dias vem assolando a cidade longe de enfraquecer tem recrudescido nestas ultimas vinte e quatro horas, a mais grave, que o seu caracter, que se apresentava benigno nos primeiros dias, tem peiorado, registrando-se continuamente casos fataes. Entre as dezenas de milhares de pessoas atacadas, j no so to raras quanto seria para desejar os casos de "grippe pneumonica". A interveno dos poderes officiaes torna-se urgente e necessario. O governo no pde continuar inactivo perante o affecto serississimo que vem assumindo o mal. Concertem-se e tomem-se providencias que urgem. As fabricas comeam a fechar, as officinas ficaram com as suas portas cerradas, grande numero de casas de commercio no funccionam. O governo no pde criminosamente ficar de braos cruzados, assistindo platonicamente ao desenrolar dos acontecimentos. O que se esperava desde as primeiras horas de hontem deu-se hoje: as pharmacias comearam a fechar. Desde as primeiras horas em que se declarou a epidemia que a romaria s pharmacias no parou nem um instante. Houve ento uma grande desorientao e uma ignobil explorao por parte de algumas pharmacias. Os preos variavam de pharmacia para pharmacia e de bairro para bairro. O tubo de bromo-quinino passou a custar de 1.500 a 8.000 e 9.000 ris. Uma limonada purgativa 4, 6 e 8.000 ris. Uma capsula com 25 ctgrs. de Sulphato de Quinino custava 400 ris, no maximo, custa 2 e at 3.000 ris! o furto, parecendo que nem se quer estamos numa cidade policiada! Mas a necessidade era grande e os doentes nos milhares, o que fez com que apezar do descabido escandaloso dos preos, os medicamentos se esgotassem. Vrias pharmacias, especialmente nos suburbios, allegam tambem a doena do seus pessoal. Que ser da populao sem ter sequer medicamentos? Ha mais ainda no capitulo pharmacia. Em algumas dessas casas a explorao na venda dos "preventivos e preservativos" attingiu as raias do inacreditavel. Tudo era preventivo. At a vulgar naphtalina! e como tal tudo era cobrado em dobro e em triplo. (...) A Avenida Central que costuma estar sempre to animada noite, hontem cerca das dez horas apresentava um aspecto desolador. Cerca de onze e meia raros eram os transeuntes e unicamente dois taxis estacionavam a todo o longo da Avenida deserta. Os bonds chegavam e sahiam da estao do Jardim Botanico com dois e trs passageiros, no maximo. (...) Nas proprias casas de familia, onde ha a felicidade de no haver nenhum membro doente, e so bem raros esses lares, nessas mesmas as normas de vida esto inteiramente alteradas. Nesta o padeiro que no vem entregar o po; na outra foi o leiteiro que no deixou ficar o leite. Mais logo, toca-se para o armazem e no possivel ser attendido. Se quizer alguma cousa necessario mandar buscar ao armazem, pois no ha mais quem leve as encommendas ao seu destino. Noutra casa ainda a lavadeira, o tintureiro, a costureira que no apparece. Emfim, um nunca acabar de pequenas difficuldades que fazem desesperar as donas de casa." A Rua, 15 de outubro de 1918 "Conselhos aos que se acham no inicio da infeco: Tomar um purgativo salino qualquer ou a formula seguinte: N.1 - Uso interno; Agua distilada... 120,0 Sulphato de Sodio... 30,0 Assucar q.s. para adoar. Para tomar de uma s vez. Em seguida fazer uso de capsulas com quinino, aspirina, salicylato de sodio, ou a formula seguinte, da Directoria Geral de Saude Publica: N.2 - Uso interno: Agua distilada... 150,0 Salicylato de Sodio... 4,0 Bicarbonato de Sodio... 2,0 Assucar q.s. para adoar. Para tomar uma colher de sopa de duas em duas horas. Para a tosse e facilitar a espectorao, usar a seguinte formula: N.3 - Uso interno: Agua distilada... 150,0 Benzoato de Sodio... 4,0 Acetato de Ammonea... 6,0 Assucar q.s. para adoar. Para tomar uma colher de sopa de tres em tres horas. Dieta: O uso do frango ou da gallinha no indispensavel. A dieta poder ser mantida por meio de leite, caldo de sopa de cereaes, de legumes, de lentilhas, de arroz, aveia, centeio, etc., etc. A Directoria Geral de Saude necessita ainda de medicos, doutorandos, pharmaceuticos e praticos de pharmacia. Conselhos para evitar o ataque da grippe ou influenza: Evita o uso e, com maior razo, o abuso de bebidas alcoolicas. Lavar a boca e gargarejar com uma soluo de sal de cozinha, na seguinte proporo: uma colher de sopa para um litro de agua fervida. Fazer diariamente uso de uma soluo de essencia de canela, conforme as seguintes dses: uma colherinha das de caf em meio copo de agua assucarada, de duas em duas horas, at desapparecer a febre. Depois tomar ua colherinha em meio copo de agua tres vezes ao dia. Evitar agglomeraes, principalmente noite. No fazer visitas. Tomar cuidados hygienicos com o nariz e a garganta: inhalaes de vaselina mentholada com agua iodada, com acido citrico, tannino e infuses contendo tannino, como folhas de goiabeira e outras. Tomar, como preventivo, internamente, qualquer sal de quinino nas dses de 25 a 50 centigrammas por dia, e de preferencia no momento das refeies. Evitar toda a fadiga ou excessos physicos. O doente, aos primeiros symptomas, deve ir para a cama, pois o repouso auxilia a cura e afasta as complicaes e contagio. No deve receber, absolutamente, nenhuma visita. Evitar as causas de resfriamento e de necessidade tanto para os sos, como para os doentes e os convalescentes. As pessoas idosas devem applicar-se com mais rigor ainda todos esses cuidados. (...)" O Paiz, 23 de outubro de 1918 "Emquanto o governo faz annunciar que a epidemia declina, o povo soffre as aperturas deste afflictissimo momento - tudo fechado! No ha po, no ha remedio, no existem os generos de primeira necessidade. Os donos dos armazens, apavorados com a tranquibernia do Comissariado entendem que o melhor ter os seus estabelecimentos fechados. E quaes foram at agora as providencias do governo em face da situao? Mandou, por exemplo, fabricar po? Providenciou sobre a remessa dos generos para esta Capital? Resolveu o problema do barateamento da vida? Organizou o servio de transporte? Tomou medidas preventivas sobre a entrada de navios empestados, em nosso porto? Cuidou da reorganizao dessa custosa e inutil repartio de Saude Publica, onde se gasta milhares de contos? Agiu com energia no sentido de forar a Santa Casa a ser uma instituio que lhe d o nome? Nada. O governo, ferozmente atacado da mania dos cartazes, continua dando conselhos ao povo sem ouvir o que lhe pede esse mesmo sacrificado povo, j faminto, sem dinheiro, supplicando trabalho e po. Abusando da inercia do governo e do desmantelo do Commisariado, o commercio no cumpre a sua tabella e recusa-se a receber os generos do interior porque elles so vendidos pelos productores por preos muito mais elevados que os da tabella governamental. Tivemos hontem o ultimo dia feriado. Vamos vr o que faz hoje o governo. (...)" A Razo, 23 de outubro de 1918 " (...) O mal da fome mais e mais se accentua na metropole brazileira, parecendo incrivel como no tivesse ainda despertado o governo, levando-o a tomar providencias energicas, no sentido de ser evitada uma situao que o povo no poder admittir. Avolumam-se os protestos nas tabernas contra a falta de diversos generos alimenticios, desculpando-se os taverneiros, deante do clamor popular, com a justificativa de que esses mesmos generos j no so encontrados nos grandes armazens atacadistas. Estes, por seu turno, argumentam com a situao dos mercados do interior, procurando demonstrar que os grandes productores no se sujeitam ao arbitrio dos novos preos, animando-se com a ida de que podero fazer bons negocios com numeroso grupo de agentes commerciaes estrangeiros, que pretendem conseguir do governo brazileiro permisso para exportao dos generos alimenticios para a Europa, o que, de resto, j tm conseguido, pela interveno delicada de autoridades diplomaticas. A situao dos nossos mercados complica-se imprevistamente. (...)" A Razo, 1 de novembro de 1918 "(...) Ha tres semanas que a mortandade no Rio de Janeiro vem orando por aquella terrivel cifra, cuja somma d um total aproximado de 12.000 obitos, o sufficiente para tornar bem negro o peso de conscincia dos culpados de tamanha desgraa publica. Pelas estatisticas officialmente auctorizadas hontem o numero de mortos superior a 10.000. No temerario adduzir um pouco esse algarismo para ter o obituario real e effectivo, supprimindo o que se occulta e nega. Temos pois perto de 12.000 casos fataes sobre os 600.000 accommettidos da peste reinante ou "simples grippe" como dogmatisa a pretenso da medicina official. (...) A A Razo visitou hontem todos os cemiterios do Rio de Janeiro, para obter uma estatistica exacta e completa de todo o obituario desde o dia 12 a 31 de outubro, primeira phase da grande calamidade que nos assola. damos abaixo o quadro geral do obituario e a seguir o resultado da nossa reportagem: Caju ... 6.312, S. Joo Baptista ... 1.587, Penitencia ... 49, Carmo ... 75, Catumby ... 30, Inglezes ... 7, Paquet ...6 , Ilha do Governador ... 54, Campo Grande ... 132, Inhauma ... 1.793, Iraj ... 579, Santa Cruz ... 143, Realengo ... 382, Jacarpagu ... 224 - Total: ... 11. 373 (...)" A Razo, 2 de novembro de 1918 "A noite foi chuvosa, fria e triste. E o dia que amanhecera com boas disposies, mostrando de vez em quando uma nesga azul do co, enfarruscou-se tarde e ameaou uma nova noite chuvosa, fria e triste. Decididamente o mo tempo alliou-se peste, para affligir e flagellar o Rio de Janeiro. As noticias officiaes continuam optimistas. A epidemia declina... Mas, quando e como acabar esse declinio? Que novas victimas a voracidade do flagello ainda far? At quando durar essa situao de incerteza e angustias? Dia de finados! Nunca o dia dos mortos foi to propriamente um dia de mortos como o de hoje! Com que tacto o Destino aggregou a data do luto official a essa srie de dias angustiosos, de luto intenso e geral, que vem vivendo a populao carioca. As bandeiras dos edificios esto a meio-po... No parece que o Destino quiz forar o governo a participar do luto do povo? (...)" A Noite, 2 de novembro de 1918 "O dia, que amanhecera cheio de um sol claro e tonificante, encheuse, dentro em pouco, de incertezas, chegando a chover sobre a cidade. Ora nebulosas e sombrias, ora claras e alegres, numa inconstancia permanente, as horas passaram, todavia, sem que o movimento da nossa capital diminuisse, ou pairasse nos rostos qualquer sombra de maiores e novos receios. Si certo que a epidemia ainda contina, embora em declinio, pois de notar que em sete delegacias de saude, nas ultimas vinte e quatro horas, apenas foi registrado um unico caso novo - no menos certo, porm, que a cidade j entrou definitivamente na sua vida normal, ha tanto desejada." A Noite, 4 de novembro de 1918 "Parece que estamos em pleno vero. Finalmente! Ora at que afinal o vero foi sincera e unanimemente desejado. E talvez por isso tenha custado tanto a chegar. E ter chegado mesmo? No teremos novas surprezas? Deus permitta que no... Mas, com vero ou sem vero, a epidemia vae passando ao rol dos factos consumados. Ella hoje j apenas um assumpto de conversas... O medo e as angustias j passaram, a no ser para quem ainda tem um ente querido de cama. O aspecto da cidade j quasi completamente normal." A Noite, 7 de novembro de 1918 AS MANCHETES: A Influenza Hespanhola - Registra-se O Primeiro Caso Fatal Da Nossa Capital O Sr. Carlos Seidl Est Abusando Criminosamente Da Paciencia Da Populao A Saude Do Porto Um Formidavel "Blague". ( Rio Jornal ) A Cidade Invadida Pela Epidemia Da Gripe Por Culpa Da Incompetencia Do Director Da Saude Publica - Uma Reportagem Completa Do Rio Jornal ( Rio Jornal ) O Rio Assolado Pela Epidemia - Urge A Interveno Dos Poderes Publicos Para Combater O Mal - As Pharmacias Comeam A Fechar - Faltam Os Medicamentos - As Exploraes - A Cidade Com O Seu Aspecto Inteiramente Alterado - As Casas De Commercio E De Diverses Inteiramente s Moscas ( A Rua ) O Governo Diz Que A Peste Declina, Mas O Povo Vae Morrendo Por Falta De Recursos ( A Razo ) O Rio Convalesce Ameaado Pela Devastao Da Fome - O Aspecto Desolador Do Nosso Mercado - Symptomas Alarmantes Da Fome - E O Commissariado Dorme... ( A Razo ) A Epidemia Entrou Na Sua Fase De Declinio - 11.373 Pessoas Morrem Em Toda A Capital Federal, De 12 A 31 De Outubro ( A Razo ) Nunca O Dia Dos Mortos Foi To Propriamente Um Dia De Mortos Como O De Hoje! ( A Noite ) Um Unico Caso Novo ( A Noite ) A Epidemia Vae Passando Ao Rol Dos Factos Consumados ( A Noite )  23) Final da Primeira Guerra Mundial (1918) " difcil descrever, em exatas palavras, o que foram as ltimas horas da tarde de hoje na Avenida. O entusiasmo do povo aglomerado na nossa principal artria no tinha limites. De momentos a momentos, apario de um smbolo das naes aliadas, vivas eram ouvidos, acompanhados de salva de palmas, de aclamaes ruidosas. Tambm os oficiais e soldados estrangeiros, atualmente no Rio, eram constantemente alvo do entusiasmo popular. As bandas de msica do exrcito, da Marinha e da Polcia, que percorriam a Avenida, eram solicitadas de instante a instante, a execuo dos hinos aliados, a cuja terminao o povo prorompia em aclamaes delirantes. pouco depois das 5 horas da tarde, marchando garborosamente, passou pela Avenida o Batalho Naval, que foi recebido por entre vivas da multido, no sendo esquecido o nome do Almirante Alexandrino de Alencar(...) E como esse, muitos episdios confortadores ocorreram, tarde na Avenida, numa demonstrao eloqente do sincero entusiasmo que a todos domina nesta hora histrica. (...)" A Noite, 12 de novembro de 1914 "Ainda ontem a cidade apresentava o mesmo aspecto festivo da vspera, tinha a mesma vibrao de entusiasmo pela vitria sem par dos exrcitos aliados, cheia de uma multido ruidosa, expansiva e delirante de jbilo, dando vivas s naes vencedoras e entoando canes patriticas. O comrcio, fechado em grande parte, desde pela manh, no concorreu para diminuir, como acontece aos domingos e feriados, o movimento das ruas. Pelo contrrio, veio aument-la, facultando liberdade aos seus auxiliares para tomarem parte nas manifestaes populares em regosijo da paz, que desponta, afinal, depois de quatro anos da mais sangrenta e terrvel carnificina. (...) Na Avenida Rio Branco e em todas as ruas principais era extraordinrio o movimento. De instante a instante passavam automveis embandeirados, conduzindo famlias e grupos de populares, uns aps outros, surgiam de toda parte, cantando alegremente. (...) s 4 horas da tarde, quando a nossa avenida estava no auge do entusiasmo patritico, apareceram, vindos do lado da Praa Mau, uns nove artilheiros navais franceses, empunhando bandeiras aliadas e entoando a Marselheza. Uns rapazes brasileiros, que na ocasio passavam, correram a abra-los, beijando-os no rosto e cobrindo-os de confeti. A multido acompanhou os nossos patrcios nessa manifestao de estima aos bravos marinheiros da gloriosa Frana. (...)" A Razo, 13 de novembro de 1918 "Entusiasmados com os festejos comemorativos do fim da guerra, vrios populares, formando resumido grupo, chefiado pelo Sr. Pdua Machado, alugaram um automvel, no Catete, e mandaram tocar para a cidade, a participar do corso. Ia o auto em vertiginosa corrida e, alegres, os rapazes erguiam vivas aos aliados, erguendo bandeiras vitoriosas nesse prolongado conflito. Ao chegar o auto clebre "curva da morte", devido grande velocidade, emborcou, atirando rua os passageiros, que ficaram ligeiramente feridos e foram pensados pela Assistncia. O "chauffeur", que no sofreu nenhum ferimento, fugiu, embora no lhe coubesse culpa alguma no desastre, que foi todo casual, segundo mesmo declararam os feridos, s autoridades do 6o distrito, presentes ao local do desastre." O Paiz, 13 de novembro de 1918 "Ainda ontem a populao caioca exultou pela celebrao do armistcio, entregando-se a ruidosas expanses. Continuou a cidade empavezada e as ruas mantiveram excepcional movimento de pees e automveis. tarde, o aspecto da Avenida, principalmente, era dos mais brilhantes, guardando ainda o ar de festa que desde sbado a alegra extraordinariamente." O Paiz, 14 de novembro de 1918 "A cidade despertou ontem sob o mais vivo entusiasmo. Os boatos de fuzilamento do ex-Kronprinz e a ratificao da fuga de Guilherme II vieram sacudir a alma do povo, que se movimentou, durante todo o dia, pelas principais ruas da cidade, improvizando cordes e cortejos, a fim de, em verdadeiro delrio, saudar as naes aliadas. 1 hora da tarde, a Avenida Rio Branco j estava completamente cheia. s 6 horas, ningum podia passar por ali. Dir-se-ia estar se assistindo a uma das nossas maiores festas populares. Com efeito, ao passo que os cordes de estudantes, empregados no comrcio e outras classes, desfilando pelos "trotoirs" vivavam as naes vitoriosas, uma multido de automveis garridamente enfileirados, percorria a Avenida, conduzindo famlias que trajavam as cores dos pases aliados, e, ento, de todos os lados sairam vivas ao Brasil, frana, Inglaterra, aos Estados Unidos, Blgica e aos demais povos que acabam de subjugar o orgulho alemo. (...)" O Imparcial, 13 de novembro de 1918 "A cidade continuou hoje com o aspecto deslumbrante de pleno delrio de que foi tomada hontem, s primeiras horas da noite, aps a iniciativa brilhante das colnias estrangeiras entre ns domiciliadas de festivamente comemorarem o mais memorvel dos memorveis acontecimentos de nosso tempo: a derrocada do militarismo prussiano. A nossa populao fria, como quase sempre, compreendeu por fim que deveria se associar a to justas e naturais manifestaes de regosijo. Um intenso frmito de entusiasmo sacudiu-lhe os nervos entorpecidos e despertou a conscincia do momento. Hoje, como ontem noite, o delrio era pleno. Em toda parte, em todos os semblantes, muito embora a triste quadra que acabamos de atravessar, a alegria era geral pela volta do imprio bemdito da Paz." Rio Jornal, 12 de novembro de 1918 AS MANCHETES: A Vitria Da Civilisao - O Povo Continua A Vibrar De Entusiasmo Percorrendo As Ruas Da Cidade (O Imparcial) Em Plena Folia (O Paiz) As Festas Da Paz Empolgam E Levantam O Povo Brasileiro (A Razo)  24) Revolta dos Anarquistas (1918) "Comeou ontem o movimento dos operrios a favor da greve geral. A polcia interveio, com o objetivo de impedir que algumas fbricas tivessem seu movimento paralisado. Logo depois, eram espalhados boatos alarmantes de que "os operrios anarquistas planejavam uma revoluo, estando, para isso, fortemente municiados". Em realidade, pelo que pudemos verificar, os operrios no tm pretenses polticas; disputam to somente a garantia de um direito, que assegurado aos operrios de todas as partes do mundo e que aqui, at agora, lhes tem sido negado. (...) O que querem os operrios suavisar suas condies de vida; a regulamentao das horas de trabalho; uma lei sobre os acidentes; a proteo s crianas e mulheres; , enfim, fiscalizar como compete a todos os cidados a ao do poder pblico, submetendo ao seu exame as solues desses problemas, entre ns, to retardado. Este movimento dos operrios era conhecido e esperado. Infelizmente, porm, no se revestiu de uma carter inteiramente pacfico. Houve srias consequncias a lamentar, talvez, devido ao das autoridades policiais, que se precipitaram em sua ao, efetuando prises a torto e a direito, utilisando da maior violncia, trancafiando no xadrez todo aquele que julga responsvel pela situao, sem atender sua condio social. Foi o que se deu ontem com o professor Oiticica, que antes de ser transferido para a Brigada Policial, esteve encarcerado nas enxovias do palcio da rua da Relao. (...) De sorte que o movimento operrio anunciado por todos os jornais, em favor da greve geral, assim de um momento para outro, assumiu o mais grave aspecto. (...)" O Imparcial, 19 de novembro de 1918 "Os acontecimentos que se passaram ontem nesta cidade devem ter trazido a todas as classes conservadoras da populao a convico de que no mais possvel transigir com os agitadores, que procuram arrastar o proletariado brasileiro a uma perigosa aventura, para repetir no nosso pas as cenas de anarquia que desorganizaram a Russia e eliminaram, politicamente, do convivio das naes o antigo imprio moscovita. Quando o movimento revolucionrio vem para as ruas lanar bombas e tentar assaltar os depsitos de material blico, no mais tempo de discutir reivindicaes e de argumentar sobre teorias sociolgicas. A hora de ao, de ao energica, de ao inflexvel, sem hesitaes e sem temores, para defender a ordem pblica, para proteger a propriedade particular, para assegurar a inviolabilidade dos lares, ameaados pelo saque e pela violncia da mashorca. (...)" "Era j h dias assunto cogitado pela polcia o esperado movimento operrio, que, segundo os boatos que corriam, teria as mais graves consequncias. Sabedora desse movimento hostil, a que no faltaria o elemento anarquista, a polcia comeou a desenvolver a sua atividade, no sentido de reprimir o movimento logo primeira manifestao de alterao da ordem pblica. Todo esse cuidado, entretanto, no s da polcia como das corporaes armadas, apesr da rigorosa prontido em que h dias se achavam os quarteis, no evitou a violncia do movimento operrio que ontem, tarde, se fez sentir com tiroteios de revlveres e bombas de dinamite. Atacados no primeiro momento, parece terem fracassado as intenes malevolas dos grevistas, mas, durante as duas horas, mais ou menos, em que reinou a desordem, houve tempo bastante para trazer um grande pnico populao, principalmente dos bairros onde a violncia do movimento mais se fez sentir. (...)" O Paiz, 19 de novembro de 1918 "Declararam-se ontem em greve, precisamente, s 3 horas da tarde, os operrios das fbricas de tecidos Carioca e Corcovado, situadas no bairro da Gvea. O nmero de operrios que ali trabalham aproximadamente de 4000. Os grevistas se mantiveram em atitude pacfica. A polcia imediatamente mandou fortes contingentes de fora para guardar as fbricas e as suas imediaes transformando o belo e pacato bairro proletrio numa verdadeira praa de guerra. (...) Como sabido, desde julho do ano prximo passado, os operrios teceles conseguiram, custa de grandes sacrifcios, a semana de 56 horas, que representavam 6 dias de servio. Os industriais sempre procuraram, por todos os meios, apesr dos acordos que faziam hipocritamente com a Unio, arrancar essa concesso por eles prprios oferecidos aos seus operrios. No ltimo acordo realizado em fins de agosto ltimo, sorrateiramente os industriais quizeram abolir esse horrio, querendo estabelecer o pagamento por horas e no pelos 6 dias da semana, conforme estava fixado. A comisso da Unio que fez parte do acordo por delegao dos operrios no aceitou tal sugesto. Os industriais continuam a persistir no seu intento, apesr de j estar aprovado o acordo aludido. (...) , pois, justificvel essa greve, que no representa seno um movimento de instinto de conservao, porquanto, com o novo horrio imposto pelos industriais, os operrios trabalhavam mais ou menos 28 horas por semana, equivalentes a 3 dias completos, fazendo menos da metade dos salrios que antes percebiam. Com a situao deplorvel a que foram reduzidos pela epidemia e pelo espectro da fome que paira sobre os seus lares, s a greve geral como nico recurso, poderia ser o protesto desses trinta mil trabalhadores espoliados." A Razo, 19 de novembro de 1918 "No h mais dvida que a greve, o movimento preparado pelos agitadores, est por pouco, esperando-se a todo o momento o estourar do petardo. A polcia cometendo agora verdadeiras violncias, vem, mesmo assim, tomando vrias providncias. Desde muitos dias, como se sabe, est a polcia de rigorosa prontido, pernoitando constantemente, no seu gabinete o respectivo chefe. Hoje, tarde, por determinao desta mesma autoridade, foram presos vrios individuos apontados como agitadores. E esses, cujo nmero atinge a cerca de 10, esto recolhidos, incomunicveis, ao Corpo de Segurana. (...) s 3 horas da tarde todas as fbricas paralisaram os servios, tendo os operrios abandonado o trabalho." A Rua, 18 de novembro de 1918 "Continua reforada a guarda do palacio do Catete por uma companhia de guerra do 56o de caadores, sob o comando do capito Gregrio da Fonseca. (...) uma medida cujos resultados tm sido os melhores possveis, esta tomada hoje pelas nossas autoridades. o caso que, dos trens procedentes de Bangu e adjacncias, em Deodoro, so os passageiros convenientemente revistados por soldados do exrcito que ali esto sob odem imediata de um oficial. At 1 hora da tarde, muitas eram as armas e outros apetrechos suspeitos apreendidos naquela estao. (...) De regresso paraa estao da Carioca, da estao de Neves, j madrugada, vinha o bonde no 21, conduzido pelo motorneiro Antonio da Silva, quando um forte estampido da exploso de uma bomba se fez ouvir sob as rodas. O veculo passava justamente em frente ao poste no 148 e com o choque veio at a frente do 146, j com o assoalho e o teto furados, desconjuntado, sendo necessrio o emprego de grande percia da parte do motorneiro, para que o carro no tombasse. Outra bomba, porm, estava colocada nas proximidades deste ltimo poste, que fica quase esquina da rua Silva Manuel e as rodas do lado contrrio do veculo tocaram-na tambm, explodindo o ptardo, com grande fragor. Mos terroristas haviam-na colocado al para que explodissem passagem dos eltricos. parado, enfim, o veculo, verificaram os que nele estavam que a linha estava minada de aparelhos explosivos. Do lado contrrio as rodas quase tocavam um novo ptardo e mais adiante, na linha contrria, em frente casa no 54, viam-se colocadas mais duas bombas. (...) A polcia, num clculo ao que parece errado, forneceu imprensa a nota de que se acham paralisados apenas 15 fbricas, estando em greve cerca de 15.190 operrios." A Rua, 19 de novembro de 1918 "Pelo movimento observado de hoje pela manh, em toda a capital est j extinta a agitao que ontem irrompeu em vrios pontos da cidade. Ningum mais ignora pelas notcias dos jornais da manh de hoje, as ocorrncias havidas. Assim s temos que registrar a mais, o aparecimento de bombas de dinamite em vrios pontos e ameaas constantes de grevistas a fbricas cujos operrios esto em nmero reduzido trabalhando. No mais, boatos, com o intuito de perturbar a ordem e manter acesa a agitao, que neste momento no serve aos interesses operrios e perturba a normalidade governamente, preparada, porm, para manter a tranqilidade pblica. A opinio pblica, acompanha sobressaltada a imprevista e injustificvel agitao e espera que tanto o patriotismo do proletariado, como as providncias do governo concorram para que a vida nacional volte o mais breve possvel normalidade." Rio Jornal, 19 de novembro de 1918 "Terminou a bernarda dinamite que deu ao povo uma impresso pouco favorvel do modo por que os anarquistas querem realizar a "nova sociedade". O governo, que agora reprimiu a desordem, deve saber quais so as justas reivindicaes operrias, para apoi-las. (...) A cidade voltou ao seu aspecto normal, estando completamente dominado o movimento que quizeram fazer em o operariado. Por precauo, a polcia mantm ainda o policiamento reforado, no permitindo reunies na praa pblica, nem nas associaes operrias. Algumas fbricas j comearam a funcionar, continuando em outras a greve pacfica. (...) Um perverso, de idias anrquicas, pela manh de hoje arremeou uma bomba de dinamite contra um edifcio da Rua Cndido Benicio, em Jacarepagu, onde funciona um orfanato. O estrondo foi enorme, alarmando todo o bairro, no fazendo, felizmente, nenhuma vtima. Preso o perverso individuo, foi levado delegacia do 24o distrito, onde deu o nome de Rodolfo Pereira Leal. ele um vagabundo conhecido na zona." Rio Jornal, 20 de novembro de 1918 "A polcia do 23o distrito apreendeu hoje, no morro da Carolina, na Vila Militar, duas bombas pequenas de dinamite, que se achavam colocadas sob um monto de capim sap. Essas duas bombas foram levadas para a delegacia, de onde o sr. delegado f-las remeter para a Central de Polcia. O policiamento de todo o subrbio continua com o mesmo nmero de praas, conforme tem sido feito, apesr do movimento grevista encontrar-se mais ou menos tranqilizado." Rio Jornal, 21 de novembro de 1918 AS MANCHETES Um Sussuro De Mashorca Politiqueira Explora A Greve Geral Dos Operrios Teceles - Na Iminncia De Uma Greve Geral - Rebentou, Ontem, A Parede De Todos Os Teceles Do Rio E De Niteri - Setenta Mil Operrios Em Greve - O Movimento Paredista Alastra-se Medida Que A Polcia Estabelece E Espalha O Terror - A Greve Dos Operrios Prossegue Intensa, A Despeito Da Barbariedade Alem Da Polcia. (A Razo) Os Operrios Das Fbricas De Tecidos Declaram-se Em Greve - Uma Delegacia Atacada Pelos Grevistas - Grande Conflito Na Fbrica Confiana - Um Delegado Ferido E Um Grevista Morto - O Litoral E Outros Pontos Da Cidade Policiadas Pelo Exrcito (O Imparcial) Estaremos Sobre Um Vulco? Procura-se Dar Greve Dos Teceles Um Carter Poltico Muito Srio - A Polcia Age Nas Trevas - Que Haver De Verdade? - Estar Sufocado O Movimento? - Gorou O Movimento Operrio? Tudo Em Paz? (A Rua) Bernarda Ou Greve? O Aspecto Da Cidade De Relativa Calma. As Fbricas Continuam Paralisadas, Estando Algumas Delas Ameaadas Pelos Grevistas. Bombas De Dinamite Encontradas Por Toda A Parte (Rio Jornal)  25) Olavo Bilac (1918) "A cidade despertou sob a emoo de uma notcia triste: Olavo Bilac, um dos seus filhos mais dilectos, poeta soberano, artista impecvel, acabava de falecer s 5.30 da manh. Uma pneumoccocia impenitente, agravada pelos malficos da miocardite crnica, de que sofria o autor de elevado nmero de obras scintilantes, fazia abater o o organismo do insigne patrcio. Diante do esquife que encerra os despojos de Olavo Bilac, sob a tristeza que suscita a sua morte, avulta-se o apreo ao prncipe da poesia brasileira, por ele elevada e dignificada em surtos de aprimorado gnio artstico. Ourives do verso, so jias de subido valor os "Panoplias", a "Via Lctea", a "Alma Inquirta", as "Sacras de Fogo", as "Viagens", o "Caador de Esmeraldas". Precursor da Escola Parnasiana no Brasil, teve como Leconte de Lisle e Hereclia, o brilho, a cor, o rtmo, a suprema beleza, a intuio do maravilhoso Tivesse nascido em Frana e escrito em francs e o seu nome seria universal. Mas, nascido no Brasil, expressando-se em portugus, idioma que ele cultuava com requintes no comuns, nem assim amesquinhou-se o seu prestgio. Dentre os quatro maiores poetas que introduziram o parnasianismo em nosso mundo literrio, o mais sugestivo, o mais brilhante, o mais impecvel. (...) A noite de ontem para hoje, passou-se mal. A morte avizinhava-se do poeta. Foram baldados todos os recursos mdicos adotados com proficincia pelo Dr. Henrique Roxo. Pela madrugada, instantes antes de morrer, o artista de muitos versos de ouro, levantou-se do leito. Suas pupilas brilhavam. - Dei-me caf; eu quero escrever! - exclamou com voz firme, mas um tanto fraca. s 5,30 da manh, em companhia da sua famlia, isto , de Alexandre Guimares, seu cunhado, de sua irm, de Corra Guimares e de seus sobrinhos Ernani e mademoiselle Corina, bem como de vrios amigos, cessou o ltimo alento do maior poeta patrcio. Poeta dos mais ardentes, Olavo Bilac celebrava com filosofia a volpia da vida. Morrer num dia cheio de sol, em terra moa regorgitante de flores, tendo ao seu lado uma mulher formosa, pareceu-lhe o horror da maior tortura espiritual (...)" A Rua, 28 de dezembro de 1918 "Morreu Olavo Bilac, o prncipe dos poetas brasileiros! A notcia assim dada desdobra logo imaginao de quantos a l os painis de uma vida toda voltada ao culto da Arte, Beleza e aos ardores de um patriotismo ardente e fecundo. No h, entre os poetas contemporneos patrcios, nenhum que tenha logrado o renome e a popularidade de Olavo Bilac. Nascido em 1865, o seu talento nasceu precisamente num perodo de transformaes literrias, filosficas e polticas, tendo Olavo Bilac conquistado a situao de maior relevo. Seus primeiros versos, que constituem a parte inicial das "Poesias", produziram sucesso excepcional (...) A sua poesia, aproveitando a plstica, proclamada pela escola, no perdeu a vivacidade, a exuberncia, o fervor que constituem a eminncia essncia dos nossos pendores artsticos. "Saras de Jogo" so um formoso exemplo. O seu "Julgamento de Phyna" uma obra prima, nessa feio. O aparecimento dessas poesias marcou desde logo rumo novo nas letras nacionais. Por aqueles tempos, obstinadamente romnticos, os escitores e poetas novos guardavam ainda a maneira bomia, aprendida nos romances de Murger. O grupo era numeroso. Fazia-se Arte no fundo dos botequins e cervejarias. Coelho Netto, Patrocnio, Aluisio Azevedo, Raul Pompia, Olavo Bilac, Guimares Passos, Luiz Murat, Arthur Azevedo, Valentim Magalhes e outros, compunham jornais e revistas boemiando. (...) Surgira a questo formidvel da Abolio, empolgando os espritos. No havia hesitar e Bilac, com seus companheiros, foi colhido no tumulto libertrio. (...) Republicano por temperamento, Olavo Bilac via na proclamao de 15 de novembro a realidade num sonho seu. Da empenhar-se nas lutas consequentes da Revolta de 6 de Setembro, fugindo - sob ameaa de priso, ou ainda pior - para Minas, de onde mandava logo depois as lindas crnicas que formam a melhor parte do seu livro "Crnicas e Novelas" e onde colheu o tema para esse admirvel, esse legtimo poema nacional "O Caador de Esmeraldas". (...) Cronista, Olavo Bilac deu "Notcia" o brilho inexcedvel da sua colaborao durante anos, escrevendo diariamente "O Registro". Ultimamente afastara-se de imprensa. Estavam errados os que acreditavam que a atividade maravilhosa de Olavo Bilac calara-se. No silncio do seu gabinete, o poeta admirvel comounha sem trguas. (...) Recordando aqui, nas atropeladas palavras que a notcia da morte de Olavo Bilac nos permite escrever, a personalidade excepcional desse grande poeta, queremos deixar nas pginas do jornal que ele tanto ilustrou com o ouro admirvel de seu talento, as provas legtimas da nossa dor e da nossa grande e irreparvel saudade. (...)" A Notcia, 28 de dezembro de 1918 "Aquela clebre frase de "vo-se os deuses!" o destino quiz contrapor, na maior das crueldades, a de "vo-se os poetas!". Hontem, foi Rostand que, com a sua morte, enlutou toda a Frana, que to gloriosamente cantara; hoje foi Olavo Bilac, que, no seu leito morturio, enche de sombras os cus da literatura brasileira, onde, com os fulgores do seu talento privilegiado, figurava como astro de primeira grandeza, intangvel e inconfundvel. Ourives da forma, esmerilhador de idias, lapidador de conceitos, era a sua cerebrao uma das mais raras que a poesia contempornea nos podia oferecer. Os seus versos correm de boca em boca, em lngua portuguesa e em vrias tradues, e os sonetos que o seu estro brilhante soube transmitir posteridade, envoltos em uma aureola de incomparvel esplendor e perfeio, sero o eterno movimento erguido sua memria, levantado por suas prprias mos, para seu maior renome e orgulho das letras patrias. (...) Foi realmente fecunda a vida do glorioso poeta. No verso como na prosa, na tribuna das conferncias como nas colunas dos jornais e ainda na fiscalizao do ensino - em tudo foi uma existncia brilhante e encantadora. (...) Bilac, sabe-se, trabalhava h dezesseis anos, em um dicionrio analgico, do qual, dizia o poeta, seria a sua grande obra final de poeta. (...) Estava resolvido hoje, pela manh, que a Academia de Letras faria o enterro. No entanto falava-se que tambm a Liga de Defesa Nacional tencionava oferecer-se para tal, como uma homenagem a quem despertou o corao da mocidade brasileira em S. Paulo, depois pronunciando discursos de pura f patritica e entranhado amor ao Brasil." A Noite, 28 de dezembro de 1918 "Embora esperada, pois de h muito se conhecia a extrema gravidade da molstia do grande poeta, a morte de Olavo Bilac, ocorrida na manh de hoje, causou uma impresso dolorosssima. No foram os meios propriamente literrios e jornalsticos aqueles em que a triste nova repercutiu de maneira mais consternadora. Toda a cidade sentiu, sinceramente, o desaparecimento do grande poeta, que era orgulho de sua gerao e que soubera incarnar, na ltima etapa de sua vida, todo o admirvel surto de renascimento cvico que se operou no Brasil. (...) Portanto, Olavo Bilac no foi apenas o poeta incomparvel, cuja obra a fica, como uma das mais ricas, e das mais belas da nossa literatura. Foi tambm, em um momento decisivo da vida nacional, o intrprete eloquentssimo das aspiraes brasileiras. A sua conferncia na Academia de Direito de S. Paulo, primeira de uma srie em prol da difuso do servio militar, foi um hino entusistico grandeza do Brasil. Bilac pregou ento a unio de todos os moos sob o ideal magnfico da Ptria renovada e forte. E o seu luminoso apostolado no foi em pura perda. O seu exemplo frutificou. Em pouco tempo, a semente que o seu gnio semeou se desdobrava. (...) Olavo Bilac guardava o leito h muitos dias, tendo, agora, seus antigos padecimentos agravados, por um ataque de "gripe", vindo, em consequncia, falecer, depois de esgotados todos os recursos da cincia, miraculosamente procurada pelo seu mdico assistente, Dr. Henrique Roxo, de quem o poeta era grande amigo.(...) Poeta por vocao, trovador por ndole, o morto ilustre deixa precioso acervo de poesia, das melhores que existem em nossa lngua. Pouco produziu, mas tudo quanto saiu da sua pena teve, desde logo, o carter de perpetuidade. (...) Alm de poeta-mestre, Bilac era tambm prosador elegante e, sobretudo, conferencista sem muitos competidores. (...) Suas obras literrias so: "Poesias Infantis e Poesias"; "Crtica e Fantasia"; "Conferncias Literrias". Em colaborao: "Cantos Patrios", "Livros de Leitura", "Teatro Infantil", "A Ptria Brasileira", "Tratado de Versificao", "Livro de Composies", "Atravs do Brazil". (...) Olavo Bilac pertencia a vrias instituies e academias. Era membro fundador da Academia Brasileira. Era tambm inspetor escolar aposentado." A Tribuna, 28 de dezembro de 1918 "O passamento de Olavo Bilac registrado s primeiras horas do dia de ontem era previsto por alguns dos seus amigos ntimos. Molstia impenitente vinha minando o seu organismo, asuumindo nestes ltimos dias uma feio de extrema gravidade. Lcido de esprito, calmamente esperou a morte redentora e, antes do derradeiro alento fsico, ainda se via deslumbrado pelas miragens de algum sonho de arte, que ele desejou exteriorizar em versos. Pediu, ento, caf e pretendeu escrever. (...) A obra de Bilac, sem dvida, comparativamente dos grandes poetas brasileiros, uma das mais brilhantes. Sua primeira srie de "Poesias", apesr das influncias flagrantes do parnasianos franceses, principalmente Theophile Gauthier, Franois Cope, Heredia Baudelaire, apresenta-nos pginas verdadeiramente fulgurantes, como as do n Extremis", "Inania Verba", as de muitos sonetos das "Viagens" e do "Caador de Esmeraldas", poemeto verdadeiramente modelar, pela harmonisao esttica da Forma e do Fundo. Mas de todos os parnasianos brasileiros, foi Olavo Bilac o que menos seguiu os preconceitos da impossibilidade caracterstica do esprito da escola decada. O seu verso, pessoal pelo estilo fundia o fundo e a forma numa liga perfeita de idias fortes, esplendidamente exteriorizadas. A "Tarde", volume de sonetos , porm, o mais expressivo da personalidade literria do poeta brasileiro. Em sua ltima obra revela-se Bilac liberto dos preceitos escolsticos, dentro do seu prprio sonho e para ele vivendo. certo, infelizmente, que o vcio da factura do soneto privou-o de expandir o talento a mais vastos surtos. Mas o artista revela-se columnal num pas que ainda no produziu um gnio primordial a Victor Hugo... (...) A sua campanha em prl do levantamento cvico da nossa nacionalidade foi uma das mais brilhantes e mais dignas. Est na sua vida social na razo direta dos seus sonetos com laivos de espiritualidade e pureza. (...)" A Razo, 29 de dezembro de 1918 AS MANCHETES: Morreu Bilac - "Dem-me Caf! Quero Escrever!" - Foi A Sua ltima Frase - A Resurreo Cvica Do Brasil E O Seu Otimismo (A Rua) Olavo Bilac Morreu - J Raia A Madrugada; Dm-me Caf, Vou Escrever! - As ltimas Palavras Do Prncipe Dos Poetas Brasileiros (A Noite) O Passamento De Olavo Bilac - O Patriota, Seu Momento Extremo E A Sua Obra (A Razo)  26) Campeonato Sulamericano de 1919 "Antes do campeonato, o football aqui j era uma doena: agora uma grande epidemia, a coqueluche da cidade, de que ningum escapa." A Rua, 7 de maio de 1919 "No "stadium", como estava anunciado, realizou-se ontem, o "training" de apuro dos "scratchmen" brasileiros. (...) Os chilenos deram esta manh, na rua Campos Salles, o seu "training" de apronto para o jogo de domingo. Os uruguaios treinaram, ontem, no campo do Botafogo. (...) Os argentinos estiveram ontem, tarde, na rua Payssandu, praticando "training" individual." A Rua, 8 de maio de 1919 "Iniciou-se hoje, s 15 horas, sob os melhores auspcios, o sensacional Terceiro Campeonato Sul-Americano de Football. Fazendo coincidir com esta temporada de "matches" internacionais, a festa de hoje teve ainda o seu brilho aumentado pela inaugurao do stadium do Fluminense Football Club, o glorioso campeo tricolor brasileiro. A cerimnia de inaugurao do stadium consistiu juntamente na inaugurao do "match" internacional, para o qual foi construdo o soberbo campo." Rio Jornal, 11 de maio de 1919 "Sob os olhares anciosos de uma multido superior a 40.000 pessoas realizou-se ontem no stadium do Fluminense, o 1o match do campeonato sul-americano. Esse match que foi disputado entre os quadros chilenos e brasileiros despertou como alis era natural o mximo entusiasmo e interesse levando mesmo a assistncia a interminentes exploses de jbilo e de contentamento. (...) O jogo transcorreu admiravelmente, vindo a terminar pela vitria do quadro brasileiro pelo score de 6 a 0." "O terceiro Campeonato Sul-Americano de Football decidiu-se ontem pela vitria dos jogadores brasileiros. Este acontecimento teve uma repercusso que se pde considerar bem como continental, apesr das grandes coisas que neste momento ocupam a ateno dos povos, como o problema da paz, a ser resolvido pela resposta da delegao alem proposta dos aliados e a travessia area do Atlntico. Aqui, a impresso causada pela vitria dos nossos jogadores foi de um entusiasmo delirante. Desde muito cedo a populao sentiu a sua ateno presa grande peleja, que se ia travar no campo do Fluminense, crescendo medida que se aproximava a hora do desempate sensacional. Havia tambm, para despertar a curiosidade pblica, uma eclipse do sol. Pouco se preocupou a cidade com isso. Um eclipse uma coisa to banal... (...) A Avenida Rio Branco, em um certo trecho, ficou literalmente cheia, com o trnsito perturbado. A febre com que se acompanhava o match era crescente. O jogo, indeciso no primeiro tempo, empolgava cada vez mais toda a gente. - Est duro! Zero a zero! - Mas vencem os uruguaios! -Qual! No venceram at agora, no vencem mais. Os brasileiros tomaram o pulso aos uruguaios. - Qual! - No! As vantagens agora so nossas. E assim decorreu toda a tarde, sem que o caso se decidisse. Afinal, quando o entusiasmo pblico j tinha chegado ao seu perodo agudo, chegou a grande nova: os brasileiros venceram por um contra zero. Foi um estrugir formidvel de palmas e de bravos, que eletrizou toda a cidade. - Acabou-se. Agora no perdemos mais a dianteira! Perdemos os campeonatos anteriores! Agora seguramos o cinturo de ouro e no o largamos mais. E, com essa convico, toda gente voltou para casa, depois de um grande dispendio de energia nervosa." A Razo, 30 de maio de 1919 "(...) S mesmo a falta de sorte nos remates no permitiu ao team brasileiro conquistar o ponto que lhe assegurasse o trinfo. Enfim, nova luta ser travada para o desempate do campeonato e, se desta vez, no desenvolvendo jogo bem aprecivel e tendo o adversrio obtido a vantagem de 2X0, o team brasileiro ainda conseguiu dominal-o e empatar a peleja, em condies normais deve produzir jogo mais eficiente e fazer figura mais brilhante." O Imparcial, 26 de maio de 1919 "(...) Pela primeira vez tivemos em nosso continente um embate travado com um ardor inacreditvel por parte dos combatentes e que findou do modo mais honroso e nobre para ns brasileiros. (...) Os brasileiros depois de uma peleja renhidssima, como at ento no se realizara, abateram, ontem pelo score de 1X0 o formidvel scratch uruguaio, que na opinio unnime dos entendidos representava o expoente mximo do football oriental." O Imparcial, 30 de maio de 1919 "A concorrncia, se no era colossal como a de domingo, era seletssima, notadamente pelo nmero de senhoras. A animao, extraordinria desde 11 horas, tornou-se como poucas vezes tem acontecido ao aproximar-se a hora do jogo. Um alarido unnime atroava e nos morros visinhos a multido agitava bandeiras nacionais, por entre vivas. (...) O jogo de hoje era j de desempate e, assim, de graves responsabilidades para ambos os teams. (...) Brasileiros: Marcos, Pindaro e Bianco, Sergio, Amilcar e Fortes, Millon, Nco, Friendenreich, Heitor e Arnaldo. (...) 1o Half Time: Brasileiros 0 goal Uruguaios 0 goal - 2o Half Time: Brasileiros 0 goal Uruguaios 0 goal - Nova Prorrogao: 1o goal brasileiro Hurrah! Friedenreich! Hurrah - Brasil! No havendo resultado nos trinta minutos de prorrogao foi pelo juiz ordenado a segunda prorrogao. A sada foi dos uruguaios e os brasileiros atacam, obrigando os adversrios a um corner. Pouco depois Arnaldo dado como off-side, mas os brasileiros no desanimam. Nco corre pela direita, centra, sendo a bola recebida de cabea por Heitor, que a passa a Friedenreich. Este, com um shoot de meia altura, ao meio do poste, marca o 1o goal brasileiro. Hurrah! Friedenreich! Hurrah - Brasil! (...) Final: Brasileiros 1 goal Uruguaios 0 goal - Com este resultado foram os brasileiros aclamados campees da Amrica do Sul. A Noite, 29 de maio de 1919 AS MANCHETES: A Sensacional Peleja De Ontem Entre Brasileiros E Uruguaios - Os Nossos Denodados Patrcios Assumiram O Visvel Domnio Da Pugna, Que Findou Com Empate De 2X2 (O Imparcial) Salve Footballers Brasileiros! Depois De Uma Peleja Emocionante, Os Nossos Patrcios Lograram, Ontem, Para O Nosso Pas A Supremacia Do Football No Campeonto Sul-Americano. A Nossa Inegvel Vitria De Ontem Sobre Os Uruguaios Pelo Score De 1X0. (O Imparcial) Bravos Aos Brasileiros! Vencedores Do 3o C.S.A De Football ! Friedenreich Marcou O Ponto De Vitria! (A Noite)  27) Joo do Rio (1919) "Uma noticia desoladoramente triste veiu surprehender, hontem, noite, quantos trabalhavam nesta casa - o passamento de Joo Paulo Barreto, ou melhor "Joo do Rio", pseudonymo com que se fez na literatura nacional e que o levou, afinal Academia de Letras. A vida de Paulo Barreto na imprensa carioca pode servir modelo aos que se dedicam rude profisso de escrever para o publico - ella foi uma serie longa de victorias, que grangearam para elle um justo renome. Estreando na "Cidade do Rio", onde pontificava Patrocinio, foi ao lado desse grande mestre do jornalismo e de collegas como Guimares Pessoa, Bilac e outros, que Paulo Barreto se revelou o jornalista, por excellencia, comeando a organizao das notas de reportagem, que foram compor o seu primeiro livro, "As Religies no Rio", que appareceu sob os applausos da critica e fez sucesso de livraria. A maneira por que o seu primeiro trabalho foi recebido estimulando-o, e dahi em deante, as obras de Paulo Barreto entraram de apparecer qual a mais bem recebida pela critica, ainda mais a dos mais severos commentadores. E registraram-se mais a "Alma Encantadora das Ruas", "O Cinematographo", a "Mulher e o Espelho", e outros trabalhos que apresentaram o autor como um typo fino de observador. Alm das obras de sua autoria, Paulo Barreto trouxe para o vernaculo a "Salom", de Oscar Wilde. Joo do Rio, que era um artista, tambem escreveu para o teatro, desde o genero brejeiro "Chique-chique", at comedia como a "Bella Mme. Vargas", que foi recebida com applausos pelos amantes da arte. Pde-se dizer a "Bella Mme. Vargas" a comedia pr excellencia escripta no Brazil por autor brazileiro. Na litteratura propriamente dita, no foi s nos volumes que deixou, bem assignalados, traos indeleveis da sua passagem. Tambem nos jornais, notadamente n' "O Paiz", elle collaborou ora como literato, na columna de honra, ora como chronista, ora como jornalista propriamente dito, discutindo ou commentando os assumptos com elevao e grande illustrao. Ha pouco tempo, aps uma viagem que fizera Europa, aqui chegado emprehendeu o morto de hontem a fundao de um jornal, o que conseguiu, montando o nosso collega "A Patria", do qual era seu director. (...)" A Razo, 24 de junho de 1921 "O passamento de Paulo Barreto, occorrido hontem noite, foi uma surpreza que impressionou profundamente o meio espiritual, as camadas litteraria e jornalistica, prolongando-se essa impresso a todas as rodas sociaes, onde essa individualidade, que o era, tinha um realce de admirao e de estima. E esse destaque bem frisante surge evidenciado, precisamente pela unanimidade das revelaes de pezar ante o desapparecimento do litterato, do jornalista e do homem, mrmente deste, que no podendo escapar fragilidade da perfeio humana, se tinha defeitos, bem os recompensava com o seu nucleo de virtudes. (...) Mas a sua feio saliente nas letras era o jornalismo, a sua espiritualidade pendia muito mais, e com relevo de valor, na columna do jornal, do que na pagina do livro; naquella elle era o jornalista completo, tudo fazendo com a mais cabal proficiencia, no lhe escapando a minima "ficelle" do mais simples facto tirando o preciso para o salientar, vibrar a pequena nota ou espiritualizar um "suelto", encher uma columna de chronica com actualidade de comentario e "verve" de narrativa. A sua primeira prova de jornalista elle a deu, cabal, na celebre reportagem sobre as differentes religies no Rio, que valeram "Gazeta de Notcias" um bom renascimento de popularidade. Paulo Barreto tinha pelo jornalismo uma affeio extrema, era a sua predileco bem manifestada desde tenros annos, inclusive no seu "debute" num modesto semanario, o "O Coi" - ahi por voltas de 97. Foi por essa poca que elle comeou a frequentar "A Cidade do Rio", levado por Emilio de Menezes e Henrique Cancio. Ahi se iniciou com uma chronica sobre as "grisetes no Rio", que Jos do Patrocinio classificou de "estupenda". (...) Foi na "Cidade do Rio", que Paulo Barreto se iniciou e revelou predicados de espirito especiallissimo para a profisso que abraou e em que incontestavelmente brilhou at a sua morte hontem. Depois, na "Gazeta de Notcias", no "O Dia", na "A Noticia", no "O Paiz", no "Rio Jornal" e n' "A Patria", essas revelaes de vinte e tantos annos de jornalismo intenso e por vezes fulgurantes, foram guindando-o posio que mantinha actualmente no jornalismo, que lhe fica devendo um bom incremento, quasi diriamos uma moderna remodelao. (...)" Boa Noite, 24 de junho de 1921 "Com o desapparecimento de Paulo Barreto perde o Brasil, sem duvida, uma das mais estranhas e por isso mesmo talvez, mais empolgantes, das suas organisaes literarias. Delle poder-se- dizer com justia que era em tudo e antes de tudo, como escriptor, um estheta na mais perfeita accepo do vocabulo. O que Olavo Bilac realizou na poesia, Joo do Rio o foi em nossa prosa contemporanea: a emoo feita estylo para dominio dos sentidos. No seria decerto um pensador, mas um artista, impondo-se menos pelo peso dos conceitos do que pela graa e leveza dos proprios pensamentos, a que a phrase incisiva, nervosa e scintillante, communicava, todavia, grande movimentao e emprestava sempre intenso brilho. Dahi, dessa arte que, at certo ponto, constituia uma originalidade em nosso meio, tirava o privilegiado publicista patricio o melhor dos seus effeitos literarios. (...) Joo do Rio no foi, em verdade, um commentador grave de homens e coisas, sendo muito embora um observador, por vezes agudo demais. Dir-se-ia que, a despeito da percuciencia da sua viso, elle se comprazia em deixar de lado, propositadamente, tudo o que no encontrasse de banal ou de grotesco no seu exame, para, assim, melhor dar expanso s suas tendencias incontrastaveis de espirito entre leve e picaresco, e sempre bem humorado de mais para desdenhar das glorias de critico de futilidades. A esta conformao comsigo mesmo deveu, sem duvida, Joo do Rio os seus inexcediveis triumphos de chronista mundano e reporter... (...) Onde a vibrao da massa pedisse alguem para transmittil-a, ahi estava Joo do Rio. No seio do povo colhia elle as emoes da sua fonte; registrava-as todas, com o poder retentivo sorprehendente e sem esforos mnemonicos se as transmittia a si mesmo, para, depois de processal-as, apurando-as, em seu engenho, communical-as a ns outros, harmonicas, luminosas e trepidentes. Nisto, os seus talentos no o trahiam nunca e elle o fazia com amor e convico. A sua arte era, assim, no s bella, mas sincera. A fantasia, conquanto sua collaboradora, entrava ahi apenas como elemento de realce; no lhe sacrificava a obra, sentida e verdadeira, mo grado os paradoxos que iam por ella para confirmar- quem sabe? - no fundo, a individualidade do seu autor. (...)" Rio Jornal, 24 de junho de 1921 "Ecoou dolorosamente, como era de esperar, em todo o pais a noticia da morte prematura do brilhante jornalista que foi Paulo Barreto. Durante todo o dia de hontem foi grande a romaria, de pessoas de todas as classes sociaes que affluiram a redaco d' "A Patria", e que ali deixavam os seus nomes por no ter sido ainda permitida a visitao ao corpo, velado por seus companheiros de trabalho. O dr. Josette procedeu ao embalsamento do corpo, trabalho que ontem no poude ser concluido e, motivo porque s hoje depois das 9 horas da manh poder Paulo Barreto ser exposto a visitas, em camara ardente, armada na sala da redaco. Ficou deliberado que o enterro do mallogrado jornalista seja realizado amanh, domingo, saindo o feretro s 15 horas da redaco do jornal de que era director. O Sr. A. Azeredo, vice-presidente em exercicio, na sesso do Senado de hontem, depois de communicar o fallecimento do Sr. Paulo Barreto, jornalista brasileiro e membro da Academia de Letras, de quem fez o elogio funebre, solicitou que o Senado permitisse que na acta dos seus trabalhos fosse inserido um voto de pesar pelo seu fallecimento. O requerimento foi approvado unanimemente. (...) O Jornal, 25 de junho de 1921 "As tocantes homenagens que a cidade tem prestado ao illustre escriptor que a morte arrebatou em pleno trabalho e em plena maturidade do seu espirito valem como a mais sincera e a mais justa das cortezias aos meritos singulares de sua obra de jornalista e de artista. possivel que uma analyse fria e tranquilla de sua longa e tumultuosa actividade mental demonstre o caracter apressado e um pouco superficial dos numerosos livros em que procurou concretizar as impresses, mais ou menos vertiginosas, que os aspectos da vida urbana do Rio e dos paises estrangeiros que visitou, lhe produziram. Mas ningum lhe contestar jamais o ouro puro da sua intelligencia e que elle to descuidadosamente prodigalizou em vinte annos de jornalismo. A sua lingua de impressionista, cheia de paradoxos, de imprevistos e de contrastes desconcertantes e de "trouvailles" de espirito, bastar para salvar na sua bagagem literaria o que, porventura, lhe falta de reflexo. A sua memoria ficar tambm como de um grande corao cheio de bondade em que a ironia apparente mal dissimulava a sensibilidade extrema, muitas vezes infantil, e como a de um amigo sincero e apaixonado da sua terra que elle procurou ardentemente servir dentro da sua orientao das suas concepes. O instincto popular no se illude; a romaria redaco de seu jornal que, hoje, se repetir, no seu enterro diz bem alto que com elle perderam o nosso jornalismo e os leitores um de seus elementos mais representativos. (...)" O Jornal, 26 de junho de 1921. " (...) Paulo Barreto no hesitou um momento na sua grande obra. Felizmente ha uma fora que anima os homens dominados pelos nobres messianismos. Paulo Barreto foi durante estes ultimos mezes de sua vida um condensador dessa fora. Graas a ella, a sua intelligencia dos homens e das coisas, tornou-se quasi milagrosa, a sua coragem affrontou todos os dios, a sua capacidade de trabalho multiplicou-se e a plasticidade de seu espirito fez prodigios nas columnas mais diversas deste jornal. Elle era para todos ns, os mais velhos como os mais novos companheiros, mais do que um director, um chefe. Era uma fora communicativa, um estimulo a que ninguem podia resistir; porque, como se no bastasse o seu escrupulo no trabalho, Paulo Barreto soube conquistar da juventude enthusiasta desta casa uma admirao, um respeito, uma estima, um culto que s o conseguem os santos ou os genios. Isto, alas, era natural. Ninguem privaria com esse homem, singularmente dotado, sem ser attrahido pelo fulgor impressivo, pela palavra, pela viveza de sua intelligencia repentina, pela graa do seu estylo, pela sua bondade espontanea, pela meiguice do seu trato e por sua despretenciosa e luminosa superioridade mental. Perdemos, pois, desde a sinistra noitada de ante-hontem, a maior intelligencia e a maior vontade que collaboraram para o exito excessivo que fez de "A Patria", em to pouco tempo, uma columna stoica dos humildes contra os humilhadores, do idealismo politico contra a mediocridade saciada, do Brasil jovem, progressista, impellido pela consciencia nova de sua finalidade na America e no velho Brasil, de cuja persistencia na arena das grandes actividades uteis pouco lucraria o presente e, muito menos, o futuro. (...)" A Patria, 25 de junho de 1921 AS MANCHETES: Paulo Barreto - A Morte Subita Do Director D' A Patria - Ligeiras Notas Sobre A Sua Vida Literaria e Jornalistica ( A Razo ) Paulo Barreto - O Desapparecimento Da Figura mais Original Do Jornalismo Brasileiro ( Boa Noite ) A Imprensa Enlutada - Como Repercutiu A Morte Repentina De Paulo Barreto ( Rio Jornal ) A Morte De Paulo Barreto - Homenagens Da Imprensa, Do Parlamento E De Varias Associaes - A Exposio Do Corpo E O Seu Enterramento Amanh ( O Jornal ) Paulo Barreto - O Rio Presta Memoria Do Nosso Director A Maior Homenagem Popular Que Fra Da Politica Algum J Mereceu - A Romaria Nossa Redaco - As Homenagens Collectivas - O Que Sero Os Funeraes Do Morto Querido - O Dever Dos Que Ficam ( A Patria)  28) Revolta do Forte (1922) "Desde a madrugada de ontem que entrou a cidade numa situao inquieta, com o pronunciamento militar iniciado pelo forte de Copacabana, que ficou sob a ao revolucionria do capito Euclides Fonseca, logo seguido do levante na Vila Deodoro. As primeiras notcias eram desorientadas, e muitas vezes contraditrias, o que no permitiu se fizesse um juzo seguro dos acontecimentos que se desenrolaram. O noticirio refletiu, como no podia deixar de refletir, esse 'brouhahada', levando um pouco de confuso aos espritos inespertos. (...) Cerca de 1 hora da madrugada o general Bonifcio Costa, com o seu ajudante de ordens e o capito Silva Barbosa, de artilharia, aproximou-se da porta das armas da fortaleza e anunciou-se ao oficial de dia, que foi chamado. Este, comparecendo, foi informado pelo general Costa que ia para falar com o capito Euclides Fonseca sobre um caso oficial e urgente. O capito Euclides, que estava recolhido no seu aposento, mandou que o oficial de dia introduzisse o general e o capito na sala de armas, pois recebel-os-ia logo. Poucos momentos aps, o capito Euclides aparecia na referida sala e recebia os dois oficiais, tendo o general Costa lhe comunicado a natureza de sua misso: receber a fortaleza e entregar o comando da mesma ao oficial que os acompanhava. O capito Euclides Fonseca declarou estranhar tal procedimento, acrescentando que no entregaria o comando naquele momento. Trocaram-se algumas palavras entre os dois interlocutores, at que o capito Euclides declarou ao general Bonifcio Costa que se considerasse prisioneiro, bem como o capito referido e o seu ajudante de ordens e ordenanas. Ato contnuo, o capito Euclides designou um oficial para olhar pelos oficiais presos, sendo-lhes indicado aposentos. Foi, ento, 1 e 35 da manh, que a fortaleza fez o primeiro disparo, de plvora seca, sinal, ao que parece, convencional, para os outros elementos sublevados. Foram logo distribudas vedetas para a avenida Atlntica e rua Nossa Senhora de Copacabana e, ao nascer do dia foi iniciado o servio de abertura de trincheiras, trabalho que s 11 horas da manh estava dado por terminado. O fosso aberto ocupa a extenso que fica em frente rua Copacabana e ao meio dia j se achava guarnecido. (...) O nmero de praas inferiores e oficiais sublevados atinge a 359 homens, incluindo o pessoal que estava no forte do Leme, e que pouco antes das 10 horas fora chamado e mandado recolher fortaleza de Copacabana, aderindo, assim, ao movimento. Antes, porm, de deixarem o forte do Leme retiraram as culatras das peas. No forte de Copacabana h munio de bocca para um ms. (...)" O Brasil, 6 de julho de 1922 "Foi s 21 horas de ante-ontem que o governo comeou a receber informes sobre o projetado movimento de revolta na Vila Militar. Recebendo dos seus agentes todas as comunicaes sobre o que ocorria, o governo imediatamente concertava as medidas de represso. Assim que foi ouvido o primeiro disparo no Forte de Copacabana, estourou na Vila Militar a insubordinao de um peloto do 1o Regimento. Estava este peloto com alguma munio. A outra parte do regimento que se manteve com a legalidade, conseguiu sufocar a rebelio. Conforme informaes que temos, das proximidades da Vila Militar, reina desde ontem ali completa tranquilidade depois da rendio das praas da Escola Militar e do 1o de Cavalaria. As foras da Polcia Militar que seguiram para ajudar a dominar a rebelio, j regressaram para esta Capital, tendo tambm regressado a 3a companhia de metralhadoras. Esta fora estacionou, depois de descer da Vila Militar em Cascadura. As novas notcias sobre o Forte de Copacabana declaram que o chefe dos revoltosos nesta praa de guerra pediu para parlamentar com o governo, informao esta que publicamos mais abaixo com os devidos esclarecimentos. (...) O despertar dos moradores dos lindos bairros atlnticos de Copacabana, Leme e Ipanema foi, na madrugada de ontem, terrvel. As famlias dispunham-se a abandonar as suas residncias apressadamente, na imminncia do forte que estava revoltado, ser bombardeado pelas tropas legais. Desde as primeiras horas do dia, um inumervel cortejo de todas as caractersticas sociais, em automveis, bonds, caminhes do Corpo de Bombeiros e carroas, desfilava pela rua Barroso, direo a Botafogo, pelo Tunel Velho. Os moradores do Leme cujo bairro estava sendo alvejado pelos 7 do forte de Copacabana retiravam-se a conselho da prpria autoridade. O forte de cinco a cinco minutos disparava para a antrada do Tunel Novo, onde estavam alojadas as tropas do 3o Regimento de Infantaria. O trnsito ficou, ento, interrompido neste trecho. Os bonds passaram a circular pelo Tunel Velho, at as 15 horas, quando no mais atingiram o bairro atlntico, por estar o mesmo sitiado pelas tropas e, na iminncia de ser bombardeado pela esquadra, pela aviao naval e pelas tropas de terra - o que talvez se d esta manh, segundo informaes que tivemos. (...) O Forte de Copacabana, o iniciador da rebelio, hontem, at a tarde, continuava atirando a esmo. Em certo momento os disparos passaram a ser feitos em direo do bairro de Copacabana, o que estava causando prejuizos aos prdios da Avenida Atlntica. (...) O governo tendo recebido uma intimao do forte de Copacabana respondeu a este documento dos revoltosos com a deciso tomada de que se a guarnio do forte no se render, dentro de um determinado prazo de horas, mandar o governo bombardeal-o por foras de mar e terra, sendo a rendio sem condies. (...) Ao assinar do decreto de estado de stio, ontem aprovado pelo Congresso Nacional, o sr. presidente da Repblica proferiu as seguintes palavras: - Nunca desejei e nunca pensei ter de assinar um ato como este, mas agora o fao gostosamente, certo de que estou prestando um servio Repblica e s instituies." A Ptria, 6 de julho de 1922 "Lamentamos o desvario dos espiritos que, por criminosa ambio poltica, arrastou homens de responsabilidade como os Srs. Nilo Peanha e marechal Hermes revoluo contra o governo constitudo do pas; limitamo-nos a nomear alguns fatos do movimento, felizmente dominado pelo governo, que teve a seu lado as foras armadas e a opinio conservadora do pas. (...) O movimento explodiu quase simultaneamente na Escola Militar do Realengo e na fortaleza de Copacabana. Os revoltosos acreditavam que o resto das foras da guarnio militar aderisse revoluo, mas essas esperanas felizmente fracassaram. As tropas, em sua grande maioria, conservaram-se fiis ao Governo e legalidade. Aquela Escola, sob o comando do tenente-coronel Xavier de Brito e tendo como oficiais vrios capites e tenentes revoltosos que, na noite de 4, iludindo a vigilncia da Polcia Militar conseguiram atingir o Realengo, saiu para o 1o batalho de engenharia, certo de ser este o nico obstculo que encontrariam para chegar ao contato com as tropas da Villa Militar, supostos tambm em estado de sublevao. O 1o batalho de engenharia, reforado imediatamente pelo 15o regimento de cavalaria, repeliu os revoltosos que se instalavam nas alturas que dominam, pelo lado de oeste, a Villa Militar, e a colocando seus canhes, abriram intenso fogo contra os quartis do 1o artilharia, 1a brigada de infantaria, Escola de Sargentos etc. A esse tempo, o general de brigada Ribeiro da Costa, na sua qualidade de chefe mais graduado da Villa Militar assumiu o comando de todas as foras e disps a defesa. (...) Na Villa Militar s houve um pequeno movimento subversivo, imediatamente abafado. Um peloto, s ordens de um tenente, atirou contra a sala onde estavam reunidos os oficiais. O capito da companhia a que pertencia esse peloto, de nome Barbosa Monteiro, oficial de extraordinrio valor moral e intelectual, saiu ao encontro dos soldados sublevados e recebeu uma descarga que o fez tomar morto. O peloto, imediatamente cercado pelo resto da companhia, que acudiu, foi, com seu comandante, feito prisioneiro e desarmado. (...)" A Unio, 9 de julho de 1922 "As foras que esto sitiando o forte de Copacabana, sob o comando do general Menna Barreto, tiveram ordem do governo para enviarem um 'ultimatum' fortaleza, intimando-a a render-se dentro de uma hora. Em caso contrrio ser bombardeada por foras legais de terra e navios de guerra." O Combate, 5 de julho de 1922 "Por ordem do governo, a fortaleza de Santa Cruz e o forte de Imbuhy desde ontem s 6 at hoje pela manh, que esto fazendo disparos contra o forte de Copacabana. (...) O Dirio Oficial publicou a seguinte nota: - Tendo se revoltado na madrugada de ontem a guarnio do forte de Copacabana, que se achava sob o comando do capito Euclides Hermes da Fonseca, e havendo aderido a esse movimento a Escola Militar, o sr. Presidente da Repblica adotou prontas e energicas providncias, fazendo cercar imediatamente aquela fortaleza e ordenando que as foras legais fossem ao encontro da Escola Militar. Entrando em contato com a Escola, as foras legais travaram com esta um tiroteio conseguindo em pouco tempo dominar inteiramente os sediciosos, que se renderam discreo do governo, sendo todos presos e desarmados e conduzidos para a Capital. Todos as demais foras da guarnio esto com o governo, estando a cidade em completa calma. (...) O Sr. Presidente da Repblica, no momento em que assinava a decretao do estado de stio, recebeu uma comunicao telefnica do Ministrio da Guerra, anunciando que os revoltosos do forte de Copacabana acabavam de solicitar a admisso de um parlamentar, ao que o Sr. Presidente da Repblica se negou terminantemente, adiantando mais, que s aceitaria a rendio discrecionria. (...) Hoje pela manh sob a serenidade do azul do cu passou, com destino a Copacabana, uma esquadrilha de aeroplanos 'Breguet' a fim de cooperar com as foras legais no assalto ao forte. bem possvel que as possantes mquinas do novo poder areo tenham entrado em ao com as suas bombas de assalto. (...) O governo intimou o forte de Copacabana a, dentro de um certo nmero de horas, render-se incondicionalmente, sem o que, bombardeal-o- por foras de mar e terra." O Combate, 6 de julho de 1922 "Segundo declaraes dos soldados presos, o tenente Siqueira campos e seus colegas resolveram enfrentar peito a peito os legalistas, no querendo bombardear a cidade, como tencionavam pela manh enquanto aguardavam a resposta do governo sobre as condies de rendio da praa. Rasgaram ento a bandeira do Forte, distribuindo um pedao a cada praa, colocando-o no peito, desceram do Forte, para virem atacar os 2000 legalistas que os sitiavam." O Combate, 7 de julho de 1922 "A cidade acordou tranquilla, tendo adormecido na sciencia de que o governo estava resolvido a fazer emmudecer, e render-se, o forte de Copacabana. Parte do commercio central abriu suas portas, num comeo de normalisao. Por volta das 8 horas, porm, seno precisamente entre s 7 horas e s 8, a populao ficou um pouco desorientada com a successo de uma meia duzia de fortes disparos, que abalavam os moradores. Os habitantes das vizinhanas, do mar notaram o movimento de navios de nossa esquadra que se dirigiam para o forte de Copacabana, regressando depois ao porto, para novamente tomar aquelle rumo, chegando mesmo o S. Paulo a transpor a barra. Por volta das 10 horas foram vistos alguns apparelhos de aviao voar na direco do forte de Copacabana, e logo depois se soube officialmente da rendio do forte, noticia esta que circulando, celere, por toda a cidade a attingindo, logo, todos os bairros, tranquilisou a familia carioca. Mas os suburbios, desde hontem noite se achava relativamente tranquillos, vista da retirada das foras, que protegiam a linha ferrea. E o Cattete, depois das 10 horas da manh, ficou tambem desguarnecido, o que produziu immediatamente uma impresso de que a cidade retomava de certo a sua normalidade completa. (...) As autoridades militares, pela manh, conseguiram, aps o ataque que foi dirigido contra o forte de Copacabana, communicar-se com o respectivo commandante, capito Euclydes da Fonseca, intimando-o a entregar-se, pois a sua resistencia seria inutil, uma vez que todas as foras, quer do exercito, quer da Marinha, estavam ao lado do Governo. O capito Euclydes, ante a evidencia desses factos, declarou que se entregaria; mas com a condio de ser respeitada a vida daquelles que com elle se achavam na fortaleza. Promettido ser atendido nesta imposio, o forte de Copacabana entregou-se s foras legaes, sendo o capito Euclydes preso, assim como os 18 homens que constituiam a guarnio do forte, pois as demais ja o haviam abandonado, no correr da noite. (...)" A Noite, 6 de julho de 1922 "Os graves sucessos da noite anterior foram o prenuncio de um movimento revolucionario que estalou, pela madrugada de hontem e que deixou a cidade grandemente alarmada. Conforme sabido, o movimento teve origem na Escola Militar, e as primeiras noticias para aqui transmittidas davam como frente da tropa revolucionaria o marechal Hermes. E, durante toda a noite, os boatos mais desencontrados corriam, deixando toda gente apprehensiva deante dos acontecimentos que se desenrolariam. O que se passou durante o dia no Cattete e no quartel-general, a imprensa relatou minuciosamente e a noticia do levante soube-se depois pela intercepo do Centro Telephonico de diversas communicaes para corpos da Villa, marcando o movimento para determinada hora. De posse de taes revelaes, facil foi ao governo organizar o seu plano de resistencia, entendendo-se antes com o general Carneiro da Fontoura e com o titular da pasta da Guerra. As notcias sobre os acontecimentos chegaram aqui desencontradas, sem que se soubesse ao certo o que de positivo havia ocorrido. Na cidade conhecia-se do plano apenas a adheso em definitivo do forte de Copacabana, de onde, de quando em quando, se ouviam disparos, que mais se accentuaram tarde quando circulou a notcia de que o 3o regimento iria tomar o forte de assalto, noite. Algumas baterias de canho de tiro rapido faziam disparos em direco ao Tunel Novo, na supposio de que as tropas legaes ali se encontrassem. O co formidavel dos disparos de tiro rapido, em Copacabana, dava a impresso de que o bairro todo estava sendo arrasado e, dahi, o exodo das familias que foram procurar outros pontos da cidade. (...) Ao que sabemos, at ultima hora o forte de Copacabana no se havia rendido ainda. Dizia-se que o commandante propuzera uma rendio com condies, mas que o governo a recusara. O ataque ao forte, por este motivo, fra resolvido e se realizaria pela madrugada simultaneamente pelas fortalezas proximas, por navios da esquadra e por foras do exrcito." Correio da Manh, 6 de julho de 1922 AS MANCHETES: A Revolta Do Forte De Copacabana E O Movimento Da Escola Militar O Congresso Concede A Medida Do Sitio, Pedido Com Urgencia, Pelo Governo - Varias Prises - Mortos E Feridos ( Correio da Manh ) Pronunciamento Militar - O Governo Informa A Rendio Discrecionria da Escola Militar E Do 15o Regimento De Cavalaria Da Villa Militar - O Estado De Stio Foi Ontem Mesmo Sancionado - O Forte De Copacabana Intimado Pelas Foras Legaes A Render-se Incondicionalmente - O Que Foi O Encontro De Tropas Em Deodoro - Algumas Granadas Caem Sobre O Quartel General Fazendo Vtimas ( O Brasil ) A Situao - Os Sucessos De Hoje - A Rendio Do Forte De Copacabana ( A Noite ) A Escola De Guerra Rendeu-se - O Levante Na Villa Militar Foi Dominado Esperava-se A Rendio Do Forte De Copacabana - Foi Decretado O Estado De Stio Por 30 Horas ( A Ptria ) Copacabana Prestes A Capitular! ( O Combate ) O Movimento Revolucionrio Que Explodiu Nesta Capital A Legalidade Vitoriosa ( A Unio )  29) Lima Barreto (1922) "Morreu Lima Barreto; esta expresso laconica tem uma grande significao nos meios cultos de nosso paiz, principalmente nesta capital. uma intelligencia robusta que se extingue, um romancista de temperamento singular que desapparece, justamente na edade em que as faculdades creadoras mais se accentuam e definem o literato, o artista, o psychologo: 42 annos de vida. (...) Era um romancista de indole; se se pudesse determinar a escola a que se filira mister era tambm dizer que elle mesmo, na sua viso minuciosa, na sua observao penetrante, fizera a sua propria escola; deixara-se nortear merc de sua imaginao fecunda e facunda. Lima Barreto, dizem-no os que sobre as suas obras fizeram juizos criticos, teria sido o maior romancista do seu tempo, se nas suas produces no revelasse as caracteristicas do seu "eu" artistico, a physionomia de sua propria individualidade, um superior desinteresse para os preciosismos sociaes, um descuidado desalinho, em que o seu genio creador, com uma malheabilidade prodigiosa, amoldava e distendia o typo e as sociedades dos seus romances. Lima Barreto deixa as seguintes obras impressas: "Triste Fim de Polycarpo Quaresma", "Vida e Morte de J. M. Gonzaga de S", "Numa e Nympha", "Memorias do Escrivo Isaias Caminha", "Sonhos e Contos", "Farras e Mafus", "Uma Provincia da Bruzundanga", as duas ultimas na livraria Schettino. "O Cemitrio dos Vivos", obra que comeou a escrever, quando, por doena, recolheu-se ao Hospcio, Lima Barreto no pde concluir; a sua saude abalada o impediu. Collaborou em varios jornaes e revistas desta capital, mesmo doente e abatido. (...) Ha tres dias recolhera-se casa e no mais saira. Ante-hontem, s 5 horas da tarde, uma de suas irms, em obediencia s prescripes mdicas, penetrra em seu quarto para dar-lhe uma colher de remedio; achou-o em estado de agonia. A familia pediu a Assistencia, que j o encontrou morto. Assim, morreu o filho extremoso, que, no arranco ultimo, teve ainda foras para conter-se numa sublime mudez, a fim de no causar dissabor ao pae, seu grande amigo. (...) O Jornal, 3 de novembro de 1922 " ultima hora, quando j se achavam quasi encerradas os trabalhos nesta redaco, surprehendidos com a dolorosa noticia do fallecimento de Lima Barreto. Nada mais podemos dizer, seno que a morte do grande escriptor carioca abre na literatura nacional um vacuo diddicilmente preenchivel. Lima Bareto era quasi uma tradio da cidade. O imprevisto e a hora do seu fallecimento no nos permittem, por ora, traar notas mais completas sobre o grande vulto que se apaga. Mas, nesta simples exclamao, de pasmo e de dr, resumiremos, sem duvida, toda a magua que enche, neste momento, as rodas intellectuaes e bohemias da cidade: Morreu Lima Barreto!" O Imparcial, 2 de novembro de 1922 "- O corpo vae para o S. Joo Baptista? - interrogou uma mulher de apparencia modesta e ar compungido. - Vae. l que elle sempre disse que desejava ser enterrado. Estavamos na casa de Lima Barreto, na estao da Piedade. Gente boa da visinhana cercava o esquife do romancista. porta, um grupo curioso de crianas olhava com atteno os que entravam, medindo todas as coisas com interesse e admirao. A terde cinzenta e chuvosa tinha uma expresso vaga de humildade infinita, como se sobre ella pairasse invisivel e terna, a alma humilde de Lima Barreto... Poucas flores. Grupos silenciosos e meditativos enchiam a pequenina sala, onde dormia, em seu leito final, o romancista bohemio dos nossos suburbios. Figuras do povo, dessas que a gente encontra a cada instante pelas ruas, anonymas em sua modestia trabalhadora e honrada, fitavam enternecidas o corpo inanimado de Lima Barreto, como que se despedindo de um companheiro querido, de um amigo, de um irmo... Depois, o caixo se fechava sobre a physionomia impassivel do morto. As janellas visinhas se enchiam de rostos curiosos, e o enterro saia. Breve, o rodar do trem, rumo Central. Mais alguns instantes, e o cortejo pequenito e pobre demandava o aristocratico recolhimento de S. Joo Baptista. E foi assim que, na tarde de hontem, desceu ao tumulo o corpo de Lima Barreto. (...)" O Imparcial, 3 de novembro de 1922 "A nota dolorosa destas ultimas horas foi a morte de Lima Barreto, o maior romancista da sua gerao. Escriptor singular e brilhante, Lima Barreto possuia a mesma alma cheia de colorido e vivacidade, por vezes radiosamente alegre, por vezes triste, desta tumultuaria e formosa metropole em que nasceu ha quarenta e dois annos, e onde viveu as horas bizarras, amargas ou gloriosas de sua existencia movimentada de bohemio e de artista. Chronista admiravel, jornalista notavel, tendo collaborado em varios jornaes dos Estados e desta capital, o autor das Memrias do Escrivo Isaias Caminha, deixa, sem duvida, uma obra profundamente humana, a qual, embora incompleta, ficar bella e eterna em meio da literatura nacional. O desapparecimento do intenso e forte escriptor provocou no espirito dos que com elle conviviam, ou simplesmente o leram, um sentimento de saudade imperecivel. Essa saudade j se traduz, no corao de seus amigos mais dilectos, pela ida de lhe erigirem um mausolo no cemitrio S. Joo Baptista, onde foi sepultado, sob a tarde humida e chuvosa de hontem, tendo o ataude, transportado em vago funebre, ligado ao trem de suburbios, chegado Central s 17 horas e um quarto, vindo da estao de Todos os Santos, da rua Major Mascarenhas, residencia do romancista, qual affluiram, ao saber da infausta nova, os amigos, varios representantes da imprensa carioca, e at gente do povo, desconhecida inteiramente, mas chorando o desapparecimento daquella alma bonissima. (...)" O Paiz, 3 de novembro de 1922 "Morreu, pela madrugada de hontem, o romancista Lima Barreto. Esse escriptor nascera em 1881, contando, portanto, 41 annos de edade. Nascera nesta cidade e aqui mesmo se diplomara em engenheiro geographo, pela Escola Polytechnica. Submettendo-se a concurso, em 1904, foi nomeado funccionario do Ministerio da Guerra. Lima Barreto, como todo mundo sabe, passou a vida na mais incorrigivel das bohemias. Essa forma de viver terminou por lhe abalar fundamente a saude, affectando-lhe differentes orgos. Ultimamente os seus males se aggravaram, vindo o jornalista e literato a fallecer pela madrugada de hontem. O romancista deixa varias obras publicadas, alem de algumas ineditas. Lima Barreto foi enterrado, hontem, tarde no cemitrio de S. Joo Baptista." Correio da Manh, 3 de novembro de 1922 "Falleceu em sua residencia, rua Major Mascarenhas, estao da Piedade, onde vivia ha muitos annos, um dos nossos mais festejados escriptores, Lima Barreto. Esse passamento, alas esperado, pois que, de havia mezes, elle apresentava serios symptomas de grave enfermidade, a que concorria a sua indole irreprimivelmente bohemia, veiu estremunhar numa dolorosa surpresa todo o nosso mundo mrntal, que via em Lima Barreto o verdadeiro escriptor typico do nosso povo, o impressionista admiravel da vida deste Rio de Janeiro, onde elle nasceu e de onde nunca saiu, o psychologo carregado e amargo das nossas ruas, dos nossos bairros pobres e de certos typos victoriosos e dominadores do nosso meio, que eram retalhados em complascencia pela sua ironia acre. (...) Entre as obras mais populares e mais vibrantes, pelo colorido forte da verdade que soe illuminar as paginas deste escriptor, est o "Triste Fim de Polycarpo Quaresma", de que reproduzimos, abaixo, um trecho lapidar, em toda a irregularidade que constituia uma das caracteristicas desse impressionante tecelo de romances vivos. Lima Barreto escreveu ainda: "Numa e Nympha", novella de grande sucesso escripta especialmente para "A Noite", que a publicou, ha alguns annos; "Memorias do Escrivo Isaias Caminha", em que ha criticas acerbas e desopilantes do nosso jornalismo; "Vida e Morte de J. M. Gonzaga e S", "Sonhos e Contos", e, ainda ineditos, "Uma Provincia da Bruzundanga" e "Farras e Mafus", livros cheios das mais interessantes observaes acerca da vida popular e politica desta gente com quem elle conviveu. Ha ahi quadros inesqueciveis que retratam a vida suburbana e a lufa-lufa das nossas baixas camadas sociais. Com o seu desaparecimento material, Lima Barreto encetar, por certo, uma nova existencia de gloria e de prestigio no seio deste povo de que elle tanto escarneceu quanto amou. (...) A Noite, 2 de novembro de 1922 AS MANCHETES: Lima Barreto A Sua Morte ( O Jornal ) Morreu Lima Barreto ( O Imparcial ) A Morte de Lima Barreto ( Correio da Manh ) Lima Barreto - A Morte Desse Observador Admiravel Da Vida Do Nosso Rio De Janeiro ( A Noite )  30) Rui Barbosa (1923) "Na vida da nacionalidade brasileira no h maior vulto do que aquele que acaba de desaparecer: Ruy Barbosa. To eminente era ele, que encarnava a prpria Nao, no que ela tem de mais alto, de mais nobre, de mais puro. Repetidas vezes o povo do Brasil sentiu essa estranha e rara impresso de ver Ruy Barbosa significando a prpria existncia da Ptria, na sua alma elevada e na sua mxima grandeza. Grande e incomparvel na organizao do regime republicano; grande e incomparvel em Haya, - a Ptria brasileira compreendera, enfim, a representao da sua personalidade como a da prpria representao. Ele era o pensamento mais alto; as suas aspiraes mais grandiosas. Toda a sua vida se devotara ao Brasil num afeto que no ser jamais ultrapassado por nenhum homem pblico deste pas. Toda a sua vida se desenrolou entre tremendas tempestades, e nas suas lutas e controvrsias ele foi sempre o grande alentador das nossas energias cvicas e morais. Combatendo, no imprio, pelas reformas liberais e pela democracia, ele foi o maior fator de impulso que levantou a Repblica e abateu a monarquia. Na Repblica ele foi o seu maior sustentculo; e o seu verbo divinizado consagrou-se glria das campanhas cvicas, em que a nao pulsou com o seu corao e o seu pensamento, ardentes e cintilantes do mais puro ideal republicano! O maior gnio da nacionalidade - a sua obra - confunde-se com a existncia nacional, as suas foras gastaram-se no devotamento incessante ao pas. (...) Ruy Barbosa ficar como a maior tradio da nacionalidade, e o fato da sua morte, agora que as paixes incendiadas vo aplacar os seus mpetos, far com que aparea imaculado e venerado, alto e intangivel como um deus. (...)" A Ptria, 2 de maro de 1923 "Entre as maiores desgraas que, nesta poca sombria, cheia de incertezas, vacilaes e temores, poderiam desabar sobre a Nacionalidade, nenhuma ser comparvel morte do conselheiro Ruy Barbosa. Na realidade, esse super-homem excepcional era numen tutelar que velava pelos destinos nacionais. (...) No h, no Brasil, outra personalidade que possa ser comparada a Ruy Barbosa (...) Moo ainda, no parlamento do Imprio, comea ele a agitar a sua mascula personalidade. Batalha pela eleio direta. um dos operrios mais prestimosos da campanha que derruiu o edifcio negro da escravido. Levanta o problema do ensino pblico e produz dois monumentais pareceres - at hoje consultados como orientadores seguros e firmes. Ergue a bandeira da Federao, para salvar as provncias da centralizao que as anemizava, e, por amor desse princpio, recusa uma pasta de ministro no gabinete Ouro Preto. Vem a Repblica, em cuja "pedra angular est embutido o seu nome", como ele mesmo disse, e vemol-o, ento, como o construtor mximo das instituies e formulas polticas que nos regem. A sua passagem pelo Ministrio da Fazenda ficou assinalada por providncias e medidas a que, anos mais tarde, os seus impenitentes adversrios e defratores tiveram de recorrer, como salvaterio das finanas nacionais. Da por diante, no houve grande momento da nossa vida de povo livre em que essa extraordinria figura moral no aparecesse, predizendo e mostrando ao povo o caminho certo e seguro da salvao pela liberdade. Na campanha civilista, em que no se poupou a cansaos e fadigas para poupar ao pas a implantao humilhante do militarismo em nossas instituies, Ruy Barbosa excedeu-se a si mesmo, conseguindo despertar, nas nossas populaes indiferentes, a chama sagrada da f cvica. E est na memria de todos o que foi essa campanha contra o obscurantismo da poltica nacional, coroada pela vitria nas urnas, fraudadas, em seguida, pelos malandrins da poltica oficial, que despojaram Ruy Barbosa da vitria que a Nao lhe conferira. Jurisconsulto de oracular sabedoria, orador de asssombrosos recursos verbais, mestre incomparvel do idioma de Cames, escritor dos mais completos da poca moderna, senhor d'um estilo que vibra em todas as gamas e d'uma foma que musculo e sangue, o conselheiro Ruy Barbosa uma destas figuras inconfundveis que mui raramente, de sculo em sculo, honram a Humanidade. (...) A Tribuna, 2 de maro de 1923 " O eclipse de um genio... Com este monoslabo se definia um mundo. Este mundo de fulguraes imprevistas se nos afigurava tanto mais raro, quanto se continha no pequeno espao do cerebro de um homem ... Rompida, porm, quase de sbito, a curva fechada da sua gravitao, em torno de um sol, que acreditamos fosse o genio da Justia, ele, se no veio desaparecer, propriamente, pelo menos entrou em conjuno com outras, eclipsando-se! (...) Enquanto existir pelo menos a lngua de Cames, Ruy, o seu maior poeta em prosa, no passar! (...) A cidade amanheceu enlutada sob a presso causada no esprito pblico pelo doloroso acontecimento. Cedo, ainda, o comrcio j apresentava o aspecto anormal dos dias tristes. Mais tarde, hasteadas as bandeiras a meio pau, aumentou, se possvel, essa tristeza. porta das redaes, o povo procurava informaes sobre as homenagens que iam ser prestadas ao eminente brasileiro, cujo corpo, j se sabia, deveria descer tarde, de Petrpolis para ser colocado em exposio no edifcio da Biblioteca Nacional. Ainda no passara a surpresa do sucedido. O ltimo comunicado da Agncia Americana, tranquilizava um pouco os admiradores do ilustre brasileiro, que s 9 horas, mais ou menos, receberam a notcia do desenlace. (...) Ruy Barbosa foi, todos o recordam, quase vitimado pela uremia, h poucos meses. O mal foi debilitado, mas deixou completamente perturbadas as funes do resistente organismo do eminente brasileiro. Adoecendo, agora, de outro mal, Ruy Barbosa veio ainda a morrer em consequncia do envenenamento produzido por aquele ataque de uremia, pois teve o bulho atingido pela infeco (...) A paralisia tomara todo o corpo de Ruy Barbosa. A agonia foi rpida. s 8,25 morriaplacidamente." Rio Jornal, 2 de maro de 1923 "Apagou-se ontem a grande vida de Ruy Barbosa. No se grafa esta frase friamente. Certos embora da condio extremamente delicada da sua sade, preparados para a dureza do golpe que, de ha muito, ameaava essa luminosa existncia, no soubemos afazer brutal realidade do seu desaparecimento. Profundamente consternados diante da evidncia sem remdio, no nos conformamos com a perda formidvel, seno para sentirmos ainda com maior dor a incidncia da cruel fatalidade. Desmorona-se, com ele, o acume da mentalidade brasileira; perde a Amrica o seu maior cidado vivo, e o mundo civilizado uma das raras cerebraes potenciais que iluminam de peregrino esplendor contemporneo a sua cultura poltica, jurdica e literria. (...) Sessenta anos consumiu ele lutando por todas as causas dignas de um gnio de mil faces e de um corao nutrido pelo blsamo da mais alta generosidade. (...) De uma vida to opulenta, vivida com tamanho fausto e glria, baldado seria tentar mesmo uma sntese, com a pretenso de fixar nos seus lineamentos mais tpicos e uma obra nos seus aspectos mais sensveis. Falece-nos o engenho ante a sombra do gigante. No temos seno nimo para pranteal-o, e participar do luto que assombra a alma inconsolvel da Ptria. (...)" O Paiz, 2 de maro de 1923 "Os genios escapam precacidade das coisas humanas. A imortalidade s para eles no uma palavra v, porque s eles podem viver, pela irradiao eterna da sua luz, para alm do perecimento da forma material em que se abrigaram. Por isso, a morte, que nos arrebatou ontem Ruy Barbosa, no n'o matou. Ele sobreviver fatalidade das leis que presidem os destinos hymanos e o seu grande esprito, que anda todo esparso na sua grande obra, viver conosco e viver com a histria pelos tempos adentro. (...) Revelou-se sobretudo na memorvel campanha civilista que agitou o pas em 1909 e 1910. So imortais - pode-se dizer - os discursos e conferncias que fez no Teatro Lyrico, da Bahia, em S. Paulo, em Campinas, em Santos, em Belo Horizonte, em Ouro Preto, em Juiz de Fora, a Plataforma do Polytheama Bahiano e os manifestos Nao. sem dvida, a grande obra de Ruy Barbosa, a "Repblica" ao professor Carneiro. o Ruy polemista, entre amargo e agressivo, gramtico e estilista. outro trabalho de flego do ilustre morto a reviso do Cdigo Civil, mil e oitocentos artigos, com longas e minuciosas notas. Como consequncia dele, nasceu a rplica. As duas obras se completam em perfeio. (...) Ser transportado hoje, ao meio dia, para esta Capital o corpo do eminente brasileiro. (...)" O Brasil, 2 de maro de 1923 AS MANCHETES: A Morte do Gnio da Raa - Ruy Barbosa Faleceu, Ontem, em Petrpolis, s 8,25 da Noite ( A Ptria ) Ruy Barbosa - Claro Extinto ( O Paiz ) O Eclipse de um Gnio ( Rio Jornal ) Um Golpe Irreparvel do Destino . Morreu Ruy Barbosa - Homenagens e Tributos de Gratido da Alma Nacional ( A Tribuna ) Finou-se O Expoente Mximo da Intelectualidade Brasileira - O Pis Inteiro Chora, Neste Momento, A Morte de Ruy Barbosa, O Maior De Seus Filhos Foi Decretado Pelo Governo Luto Nacional Por 3 Dias - Sero Prestadas Ao Grande Morto Honras de Chefe de Estado, Correndo As Despezas Dos Seus Funerais Por Conta da Nao. ( O Brasil )  31)Sinh (1930) " 'Sinh', o cantor de uma srie infindvel de canes, trovs e sambas, faleceu ontem, vitimado pela grave enfermidade que a muito lhe minava o organismo. Quem no conheceu o bomio incorrigvel, que foi o Jos B. de Lobo, o 'Sinh', ou melhor 'O Rei do Samba'? Toda a populao brasileira, e mesmo pelo exterior, o trovador que desaparece era asss conhecido. Os seus sambas, as suas marchas, as suas emboladas e caterets eram disputados pelos cantores. Tinha razo de ser. 'Sinh', fazendo a msica, compunha tambm os versos, da a cadncia e harmonia das suas composies. Dedilando o violo com maestria, ele empolgava desde que aparecia. No piano era apreciadssimo, quando tocando as suas composies. O reclame das suas composies fazia ele mesmo, chefiando conjuntos, ora tocavam em casa de msica e ora percorriam as ruas da cidade, muitas vezes iam parar em casa de famlias onde se realizavam festas. Teve sua poca. H muito, a tuberculose apoquentava-o. Ontem, quando saltava de uma barca, vindo de Niteri, 'Sinh' foi acometido de uma forte hemopthise e sucumbiu. O seu cadver foi levado para a residncia de onde hoje sair o enterro." Dirio Carioca, 5 de agosto de 1930 "A morte de Jos Barbosa da Silva, o popularssimo 'Sinh', j amplamente noticiada, compungiu verdadeiramente a cidade que se diverte, e mesmo a que se no diverte. Sirva-lhe de consolo ao esprito! Ele, que tanto concorrera para a alegria da nossa gente, com os seus sambas de expresso popular inegavelmente belas, vivia, de ha uns anos para c, doente e esquecido. No cantava mais, porque a tosse incessante no o permitia. E lutava com as maiores dificuldades para viver. Magro, de voz sumida, curvado ao peso da molstia implacvel que o minava dia-a-dia, o 'Rei do Samba', por todos proclamado, era um 'cadver vivo' a arrastar-se pelas ruas da metropole. Veio a morte, que todos os que conheciam 'Sinh' esperavam, e no houve quem no sentisse a perda do cantor. Todos, no. O governo, nem mesmo depois de morto o infeliz, lembrou-se de prestar-lhe uma homenagem, por singela que fosse, ao verdadeiro criador da cano brasileira, genuinamente brasileira, que tanto sucesso tem logrado aquem e alm das fronteiras do pas! O caixo de 3a classe, encerrando o corpo magerrimo do autor de 'Jura' saiu, hontem, s 17 horas, num coche de igual categoria, na capela do Hospital Hahnemaniano para uma cova rasa no cemitrio de S. Francisco Xavier. (...)" A Ptria, 6 de agosto de 1930 "Na barca que vindo da Ilha do Governador atraca ao Pharoux pouco antes das 18 horas, foi surpreendido pela morte de um homem que se a Fatalidade lhe tivesse cerrado os olhos na poca em que a cidade, ha uns seis anos, tinha ainda aos ouvidos o rumor da cano que fica sempre, palpitante, ainda do Carnaval que se foi, talvez tivesse um tero da populao rendendo-lhe, compungida, a homenagem ultima na visita ao seu corpo inanimado. Foi ele Jos Barbosa da Silva, ou simplesmente o 'Sinh', o popular musicista, cujas canes de uma modulao essencialmente carecterstica lograram, indubitavelmente, estupenda consagrao. Enfermo ha tempos, 'Sinh', que atualmente quase no produzia j, foi, por longo tempo, pode-se dizer, o mais popular dos nossos compositores de msicas carnavalescas. Empunhava com justia, o sceptio de 'Rei do Samba' como o chamavam, pois no genero bem poucos conseguiram ver as suas produes alcanarem o exito das suas que chegaram a varar fronteiras, logrando no estrangeiro o mesmo exito que aqui. Difcil tarefa seria catalogar-se, nesta nota apressada em que no dissimulamos a surpresa que nos causou a morte do popular compositor, quantas produes ele deixou. Foram muitas o que todos sabem, como bem poucos ignoram que numerica, embora mais por intuio do que por cultura, 'Sinh', principalmente na sua poca aurea, no s compunha como executava. A flauta, o violo e o piano lhe eram familiares. 'Sinh' morre aos 35 anos de idade. Residia com sua companheira d. Nair Silva rua Pio Dutra n. 44 na Ilha do Governador. E recolhido que foi o seu corpo capela do Hospital Hahnemaniano, deve o seu enterro sair da hoje tarde, para o cemitrio de S. Francisco Xavier." A Batalha, 5 de agosto de 1930 "A morte, numa das verdadeiras traies que constituem os bruscos epilogos que ela impe vida das criaturas, acaba de alienar do convvio da cidade uma das figuras mais conhecidas e mais queridas do Rio, principalmente o Rio que se diverte, fazendo-a desaparecer nos socaves sombrios do desconhecido. J. B. Silva, o 'Sinh', ou melhor, o Rei do Samba, como a cidade inteira o sagrou, faleceu, ontem, repentinamente, quando se achava em plena Praa 15 de Novembro. Ocorreu tudo num minuto. Um ataque que se ouviu, o baque de um corpo e as mos frias da morte cerrando os olhos daquele que foi o maior interprete da alma popular nos ltimos tempos. Que singularidade! 'Sinh', o Rei do Samba, o cantor das almas, das ruas, morreu ao contato da alma das ruas, que ele tanto amou e interpretou nos seus anseios, escrevendo canes populares que andaram de boca em boca, na mais larga extenso, correndo mundo. (...)" A Crtica, 5 de agosto de 1930 " 'Sinh' morreu, foi a triste nova que ontem compungiu a cidade inteira. Poucos sabiam-lhe o nome verdadeiro - Jos Barbosa da Silva - mas todos proclamavam 'Sinh', como o 'Rei do Samba' e - diremos ns - como uma expresso lidima da alma popular, nas suas alegrias, sambas alegres que muitos perpetrou, e samas sentimentais, que tanto souberam enternecer. Foi a implacvel tuberculose que vitimou 'Sinh'. A sua voz sumida, nos ltimos dias de sua agitada existncia - quanta luta pelo po nosso de cada dia! - no lhe permitia mais cantarolar, em rodas amigas, o seu 'ltimo samba', de era ele, sempre, to cioso; dava, porm, e com exatido, a certeza de que aquela carcassa, que se locomovia a custo, vibrava ainda, cheia de esperanas, para que vibrassem, tambm, o corao bem brasileiro da nossa gente e o esprito das nossas causas e dos nossos costumes. 'Sinh' esplendeu nas ruas, nessas ruas da nossa grande metropole, que recebem e acolhem os gritos dos que tm alma e f, gritos que os sales engalanados, por incomparvel vergonha, no querem ouvir, mas que so a expresso definida do nosso amor, dos nossos costumes, da nossa vida. E aqui ficam estas simples e rpidas palavras do seu necrologio. Para a tumba de 'Sinh', no campo santo, no desceu somente o corpo mirrado do tuberculoso, que se foi: desceu, tambm, a exuberncia de nossa alma nos ritmos brasileirissimos da msica nossa, expressiva, alegre, as vezes, sentimental quase sempre." O Globo, 5 de agosto de 1930 AS MANCHETES: A Morte do 'Rei do Samba' - O Pezar da Cidade, Pelo Desaparecimento de 'Sinh', O Seu Cantor Predileto ( A Ptria ) Os Imprevistos da Morte - 'Sinh', O Rei do Samba Faleceu Repentinamente ( A Crtica ) Faleceu, Ontem, Repentinamente, O Popular Compositor 'Sinh'(A Batalha ) Um Violo de Luto - O Falecimento de 'Sinh' ( O Globo )  32) Revoluo de 30 (1930) "Os primeiros boatos que circularam na cidade diziam que o movimento revolucionario rebentara em Bello Horizonte. Succederam-se outras noticias. O agitador Assis Chateaubriand, bem como o Sr. Nelson Paixo, redactor do "Diario da Noite", teriam sido presos. Momentos aps, a nossa reportagem era informada que a policia havia effectuado mais a priso de varios jornalistas pertencentes aos jornaes "Diario da Noite", "O Jornal", "A Batalha", "Diario Carioca" e "A Patria". Em todos os quarteis da cidade, a promtido era rigorosa. O quartel-general, do mesmo modo, mantinha-se guarnecido por um grande numero de sentinellas. Em varios pontos da cidade viam-se piquetes de cavallaria e a estao da Central do Brasil mantinha-se vigiada por um grande numero de agentes policiaes, que fiscalisavam a entrada e sahida de pessoas. (...)" A Crtica, 4 de outubro de 1930 "Apesar do terrorismo dos fantasiados pela imaginao exaltada de certos derrotistas, o rythmo normal da vida carioca no soffreu alteraes de natureza alguma. O mesmo movimento dos dias communs, a mesma calma imperturbavel que caracteristica no se modificou. A cidade quase no commentou o que os boatos vehiculavam. Nas casa de diverses a concurrencia foi normal. Os cafs e logares publicos apresentavam o aspecto de sempre, algo mais vivo por ser sabbado - dia ordinariamente consagrado a expanses maiores. A Avenida - mostruario da elegancia e da fitilidade do Rio - no se despovoou, nem, ao menos, seu ruidoso movimento envolvente. No se viam physionomias sobressaltadas, nem se ouviam commentarios reciosos. Estava sob a mais completa calma a cidade, hontem. E, o carioca, generoso, bom, nobre, e respeitador, teve seu somno absolutamente tranquillo." A Crtica, 5 de outubro de 1930 "Deante da situao anormal creadas pelos acontecimentos de Minas Geraes e do Rio Grande do Sul, despertando os appetites de alguns retalhistas inescrupulosos, que pretendiam explorar o povo, o governo da Republica resolveu tomar immediatas e energicas providencias, tendentes a evitar o assalto bolsa do povo. Apezar das difficuldades de transporte entre os Estados de Minas e Rio Grande, nada justificava o assalto dos "profiteurs" do momento (...)" A Crtica, 8 de outubro de 1930 "A impresso causada no espirito publico pelo manifesto do presidente Washington Luis prova a necessidade de um contacto permanente entre os governantes do paiz. Os moldes da nossa republica isolaram do povo os seus dirigentes. Desse isolamento se aproveitam os exploradores para a interpretao capciosa de certos actos governativos que permaneceriam inattingiveis ao desvirtuamento si a palavra presidencial os defendesse perante a Nao. (...) O presidente Washington Luis - si j tinha a confiana do Brasil que trabalha e deseja prosperar em paz multiplicou, com o seu manifesto, a efficiencia do apoio que a Nao lhe dava. Nada falar melhor do que esse documento sobre a indignidade do golpre desferido contra o Brasil quando os beneficios de um quadriennio honesto e laborioso se reflectiam em todas as classes. A magoa do patriota no diminue, porm, a sua f. Fortalece-a . politica do Rio Grande do Sul coube, para maior sorpreza do administrador probo, o papel de Brutus. A unidade sulina recebeu do governo Washington Luis os maiores auxilios e honrarias. Escolhido para ministro da Fazenda neste Governo, o Sr. Getulio Vargas habilitou-se presidencia do seu Estado graas ao prestigio que lhe adveio dessa escolha. A sua lealdade conhecida do paiz. Passando por cima de um documento garantindo a sua colaborao na questo da candidatura presidencial - elle candidatou-se revelia dos compromissos assumidos. Declarando acceitar o veredictum das urnas como epilogo da sua felonia, elle armou, ou consentiu que se armassem, os seus correliogionarios. Brutus em escala maior, o Sr. Getulio Vargas depois de apunhalar pelas costas o amigo, apunhalou pelas costas o Brasil. (...)" A Crtica, 11 de outubro de 1930 "O termo da intimao, dirigida ao presidente Washington Luis, estava redigido nos seguintes termos: Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1930 - Exmo. Sr. presidente da Repblica - A Nao em armas, de Norte a Sul, irmos contra irmos, paes contra filhos, j retalhada, ensanguentada, anseia por um signal que faa cessar a luta ingloria, que faa voltar a paz aos espiritos, que derive para uma benefica reconstruo urgente as energias desencadeadas para a entre destruio. As foras armadas, permanentes e improvisadas tm sido manejadas como argumento civico para resolver o problema politico e s tm conseguido causar e soffrer feridos, luto e ruina, o descontentamento nacional, sempre subsiste e cresce, porque, vencida, no pde convencer-se de que, o que teve mais fora, tenha mais razo. O mesmo resultado reproduzir-se- como desfecho da guerra civil, a mais vultosa que se viu no paiz. A soluo politica, a integridade da Nao, o decoro do Brasil e at mesmo a glria de v. ex. instam, urgem e imperiosamente commandam a v. ex. que entregue os destinos do Brasil, no actual momento, aos seus generaes de terra e mar. Tem v. ex. o prazo de meia hora a contar do recebimento desta para communicar ao portador a sua resoluo e, sendo favoravel, como toda Nao livre o deseja e espera, deixar o poder com todas as honras garantidas. (aa.) Joo de Deus Menna Barreto, general de Diviso, inspector do I Grupo de Regio; Joo Fernandes Leite de Castro, general de Brigada, commandante do 1o DAC; Firmino Antonio Borba, general de Brigada, 2o sub-chefe do EMB; Pantaleo Telles, general de Brigada, e varios generaes e almirantes de que no houve tempo de colher as assignaturas. Pela Avenida Rio Branco corria anormal o movimento. O povo - depois de longa tyrannia e liberto, saltava, pulava, dando expanso alegria immensa que o empolgava. Automoveis, repletos de militares, em fraternal mistura com o povo, passavam aos gritos de - Viva a Revoluo! - Viva Joo Pessoa! - Viva Getulio Vargas! quando um carro passa, repleto de elemento civil. Ha um movimento geral de curiosidade. O povo cala-se por instantes. Foi obra de um segundo. Immediatamente, um grito irrompe em todas as bocas: - Mauricio! Era o Mauricio de Lacerda que passava. O grande tribuno, notava-se sem sua phisionomia alegre, transpirando jubilo intenso, estava cansado e mantinha-se ali, com custo porque (talvez effeito dos rudes golpes por que passou nestas duas ultimas semanas) elle estava mais magro, e abatido, physicamente. O povo pediu, em altos brados, que Mauricio, o seu estremecido tribuno, falasse. Mauricio, entretanto, no poude fazel-o. Limitou-se a sorrir, enquanto dirigia um cumprimento ao povo e acenava com as mos pedindo-lhe calma. Depois, a massa popular que cercava-lhe o auto abriu alas, dando-lhe passagem, aos gritos de: - Viva Mauricio! Viva Getulio Vargas! Viva a Revoluo! Pouco atrs do carro em que vinha Mauricio, o povo agglomerava-se, aos gritos, incessantes, de "Viva a Revoluo", emquanto acenava com varios pedaos de pannos vermelhos ao ar. Approximmo-nos, e, ento, pudemos comprehender a causa do enthusiasmo do povo. Ali estava, parada, a "barata" n. 12.026. No seu interior uma moa gentil e bella rasgava o vestido de cr rubra, para distribuir os pedaos entre o povo. Quizemos falar-lhe, mas foi impossivel, to compacta era a massa popular que cercava a sympathica brasileira! (...) O povo suburbano, constituido na sua grande parte pelos menos favorecidos da fortuna, explodiu em vibrantes e enthusiasticas manifestaes, dando expanses ruidosas ao seu incontido jubilo pela victoria dos ideaes revolucionarios. Os sentimentos de revolta do povo, por tanto tempo suffocados pelos actos da mais torpe prepotencia, romperam tumultuosos, enthusiasticos e delirantes. (...)" A Esquerda, 24 de outubro de 1930 "Neste instante difficil fixar no papel, no torvelinho da hora historica que a Nao atravessa, as impresses extraordinarias que nos envolvem. O aturdimento da victoria inebria o povo. Defronte nossa redaco, povo e exercito, povo na sua mais ampla expresso, senhoras e crianas, em verdadeiro delirio, acclamam a liberdade. A Avenida toda uma viso alucinante. Os avies cortamn-a sob a vibrao das massas. As sirenes atordoam. Em outros pontos, defronte do Paiz e da Noticia as fogueiras improvizadas pelo povo consomem jornaes velhos, livros, escrivaninhas, cadeiras, tudo quanto o povo, no primeiro impeto arrancou de dentro daquelles jornaes atirando para a rua. Pelas ruas desfilam multides inebriadas. O espetaculo emocionante. A cidade est sob a impresso de desafogo. Apparecem retratos de Getulio Vargas, em quadros estampados, deante dos quaes o povo prorompe em vivas. Era de causar funda impresso o verem-se senhoras quando mais viva era a agitao distribuirem flores ao povo. Lenos vermelhos, bandeiras vermelhas, um delirio vermelho vermelho empolgou a capital. O povo victorioso explodia em vibraes permanentes. So 11,30. (...) Dirio da Noite publica com o jubilo natural o documento abaixo, dictado nesta redaco, hora em que chegava Avenida Rio Branco noticia da quda do governo, pelo capito Raymundo da Silva Barros, do Corpo de Intendencia, a valorosa corporao que se associou immediatamente causa do povo. So as seguintes as palavras do valoroso militar que falou ao povo de uma das janellas deste jornal, o primeiro militar que falou sobre o golpe definitivo da Revoluo. Pela madrugada de hoje, s 5,30, os officiaes, general Menna Barreto, Firmino Borba e Leite de Castro e Joo Gomes Ribeiro Filho, apoiados pelo 1o C/P de So Christovam lanaram um manifesto aos militares da 1a Regio, convidando para o pronunciamento militar que fizesse para de uma fez para sempre o modo impatriotico de governar o Brasil. Nesse momento o coronel Bastos, da Intendencia da Guerra, parlamentou com o 1o grupo para saber se se tratava de uma resoluo definitiva e no de um embuste. adheso do grupo depuzemos immediatamente o general Xavier de Barros que no oppoz resistencia. Esse official general tinha em seu poder um documento pelo qual lhe haviam sido adiantados para operaes 1.000 contos de ris pelo Banco do Brasil. Reuniu-se immediatamente o Conselho de Administrao para tomar conta dos dinheiros publicos, sendo presos e desarmados, quando se hasteavam a bandeira brasileira e revolucionaria o coronel Heitor Abrantes e tenente Ravedutti. o 1o de Cavallaria fez a guarda da revoluo, reaffirmando o valor patriotico de seus homens que vivavam a causa do povo e mantendo as suas tradies de heroismo, apoiados pelo 1o Grupo de Artilharia Pesada, disposto e prompto a proteger a marcha revolucionaria sobre a capital. So essas as palavras que nos ditou, entre vivas e acclamaes o capito Silva Barros que o povo pediu que falasse e que depois saiu carregado pela multido para reunir-se aos seus companheiros." Diario da Noite, 24 de outubro de 1930 "Aps um periodo de 21 dias de allucinante expectativa e fundas appreenses, os imperativos da alma popular determinaram os memoraveis acontecimentos que culminaram, hontem, nessa apotheose liberdade coroando a redempo de um povo nobre e altivo, que parecia pequeno porque permanecia de joelhos. Trazendo no peito o fogo sagrado que levou Joo Pessa ao sacrificio supremo da vida, abalado pelo enthusiasmo santo que o patriotismo communica a todas as almas bem formadas, o povo carioca saiu hontem para a rua, realizando galhardamente a conquista de seus direitos conspurcados. Vibrando em estos de civismo, delirante de alegria, na qual tomaram parte senhoras e creanas, ao tremular do Pavilho Nacional a ao aceno dos lenos vermelhos, symbolos e distinctivos da revoluo redemptora, soube o povo, usando de suas prerogativas de conscio de seus deveres, dar o merecido castigo a todos quantos tripudiavam sobre a caudal de sangue patricio, generoso e bom que a caricata de um Cesar de papelo desencadera sobre o solo da Patria. Castigou e purificou a fogo o ambiente emprestado pela covardia inonimavel dos lacaios agachados por traz dos communicados officiaes, supremo escarneo atirado s faces de um povo, cuja capacidade de soffrimento se esgotou, emfim. E no momento justo em que a Nacionalidade reclamava a sua collaborao decisiva, eil-o que entra em aco vibrando o golpe de misericordia, na tyrannia inconsciente e moribunda. Da sua actuao na jornada gloriosa de patriotismo e redempo, que hoje inicia a sua primeira etapa vitoriosa, damos a seguir detalhados informes. (...) Desde as sete horas da manh, que a aristocratica Avenida Atlantica, se encontrava em verdadeiro delirio e sob os impulsos incontidos de alegria sem par, que a todos causou a victoria da revoluo brasileira. Nas immediaes do Forte de Copacabana - o tradicional forte da immortal epopa dos dezoito heres - a massa popular era consideravel. Ali, como em todo o percurso da elegante praia, o enthusiasmo dos moradores, attingiu ao auge, e, passagem de carros conduzindo praas revolucionarias, todas com um lao vermelho no fuzil ou na farda, o povo prorompia em vivas ardorosos ao "Brasil Livre" e "Revoluo Victoriosa". Senhoras e crianas, populares e militares viveram horas da mais completa confraternizao. Foi um brilhante espetaculo, o da manh de hontem, na aristocratica avenida, espetaculo que se prolongou at noite. O povo na sua incontida expanso de vindicta contra os conspurcadores de sua liberdade, praticou varias depredaes. Os mais sacrificados com a ira do povo foram os jornaes que apoiaram o governo derrubado. Assim as sdes dos jornaes "A Noticia", "A Critica", "Vanguarda", "Gazeta de Noticias", "A Ordem", "O Paiz, "Jornal do Brasil" e "A Noite" foram violentamente alvejados. Destes, as redaces do "Jornal do Brasil", "A Noite" e "O Paiz" e as officinas da "Gazeta de Noticias", chegaram a ser incendiadas, sendo necessario o comparecimento do Corpo de Bombeiros para abafar as chammas. O edificio da "A Noite" ficou damnificado at ao 4o andar, alem das avarias da redaco. Enquanto isso, o povo victoriava "A Esquerda" e "A Batalha" e outros orgos das sympathias populares eram victoriados. (...) A Batalha, 25 de outubro de 1930 "Triumphou hontem em toda a linha, pela interveno dos generaes que intimaram o Presidente da Republica a deixar o poder, triumphou desde as primeiras horas nesta capital e pode-se considerar victoriosa em todo o paiz, a revoluo desencadeada por Minas Geraes, Rio Grande do Sul, Parahyba e elementos de outros Estados, contra o governo da Republica. Movimento de reivindicaes legitimas, necessarias normalizao do paiz, perturbado pelas injustias do poder - foi uma revoluo eminentemente civil, dos elementos politicos e populares dos governos estaduaes irmanados com o povo, a que as foras armadas do Exercito e da Marinha, confraternizadas com a Nao, como sempre, em todas as phases graves da nossa historia, dram o concurso indispensavel a uma deciso mais rapida. Minas Geraes teve, por seu governo e pelo seu povo, um papel preponderante nesta grande jornada civica. Ainda ao Rio Grande do Sul e a Parahyba, foi o nucleo central da resistencia e da offensiva contra o governo que, transviado da sua misso, tendo enveredado para os caminhos da prepotencia e da injustia, interveiu nos dissidios politicos, empregando em favor de um grupo todos os recursos que ao poder foram dados para garantia de todos, para tranquillidade e progresso da Nao. cedo nesta primeira hora, de paixes ainda candentes, cedo para julgar definitivamente da conducta que entendeu observar o ex-presidente, homem honrado, de qualidades sem duvida apreciaveis, probidade, caracter e patriotismo, mas violento e obstinado, que a ninguem ouvia, ou antes s obedecia s inspiraes da sua vontade discrecionaria. No lhe falaram com franqueza seus ministros e conselheiros, ou no os escutou. De que a norma por elle adoptada no exercicio da sua magistratura, que desviou de sua verdadeira misso pacificadora - prova a revoluo, ora victoriosa em todo o paiz e nesta Capital, por entre demonstraes de regosijo popular bem maiores do que as que assignalaram o advento da Republica. o regimen que sahe victorioso desta provao, a que o paiz inteiro se associou orientado e dirigido por um pugilo de patriotas destemerosos civis e militares, cujos nomes esto j inscriptos no kalendario republicano como regeneradora de uma poca, descortinando o futuro. Getulio Vargas, Olegario Maciel, Antonio Carlos, Arthur Bernardes, Oswaldo Aranha, Juarez Tavora, e seus bravos companheiros de armas, Flores da Cunha, Joo Neves, e tantos outros heroes, civis e militares, desta jornada de altivas repulsas e corajosas affirmaes, com os generaes e almirantes que hontem dram o golpe final da campanha, assumiram grandes compromissos com a Nao. Estamos seguros de que vo abrir para o Brasil um novo acto de garantias effectivas, de trabalho, de progresso, e civilizao. Liberdade e Justia sejam o lemma desse periodo historico, que se abre para a nossa patria, deante do olhar vigilante do continente e do mundo. Liberdade, autoridade, direito, justia - tudo isso temperado pela equidade, emanao da bondade constructora. Bondade que desarma e pacifica, fundando os alicerces do edificio social no corao do povo, fraternisado e feliz. Viva a Republica! Viva o Brasil unido e forte!" A Patria, 25 de outubro de 1930 "A populao do Rio de Janeiro sabe que o edificio da A Noite foi assaltado, que as suas officinas foram quasi totalmente destruidas, que os escriptorios e empresas installados no arranha-cu foram roubados, mas ainda no conhece os autores dessas brutalidades, que surprehenderam a todos, e ninguem attribuiu, nem poderia logicamente attribuir, ao generoso, ao culto povo carioca. As attitudes da A Noite no momento que passava no explicariam taes crimes, que tiveram origem no odio e na inveja, procurando aproveitar-se de uma situao anormal para destruir um jornal em cujas columnas tm amparo todos os desgraados e que despende uma mdia mensal de trinta contos para soccorrer os necessitados que batem sua porta. O jornal que tem aberto em favor dos humildes as subscripes mais vultosas, que d conta minuciosa, aos doadores dos donativos que lhe so entregues, que tem collocado nos hospitaes milhares de enfermos pobres, que levanta das ruas os infelizes sem tecto, que affronta os poderosos na defesa dos fracos, nunca seria, e no foi atacado pelo povo a que se devotou. Conforme declaraes espontaneamente feitas deante das novas autoridades, alguns communistas, auxiliados por individuos despedidos da A Noite, no momento em que se atacava O Paiz, conseguiam arrastar os elementos communistas e grupos de individuos fluctuantes, sem classificao,, nem idas, para atiral-os contra a nossa folha, cujos empregados, em grande parte, como adiante demonstraremos, estavam nas fileiras da revoluo, enfrentando os corpos que ainda no se haviam definido contra o governo. Na A Noite, hora do assalto, estavam, apenas, um dos directores da Sociedade Anonyma, o gerente, o redactor-chefe, alguns empregados do escriptorio e parte do pessoal das officinas. Quando os aggressores se aproximaram, suppondo-os revolucionarios, recebemol-os como amigos janellas e portas abertas. Um delles, porm, destacando-se exigiu que arriassemos a bandeira nacional, hasteada no terceiro pavimento, gritando-nos: - Arrie a bandeira burgueza! Outro exigiu: - Levanta a bandeira vermelha! Fizemos ento baixar as portas exteriores de ao. Uma dellas foi arrebentada com auxilio de um caminho. Arrancada de nosso fachada a bandeira do Brasil, foi pisada pelos communistas, que a rasgaram, levando um de seus pedaos como um tropho, a redaco do "Diario da Noite", como noticiou esse vespertino. Assistimos depois invaso do nosso edificio e depredao do nosso material. Pensamos no primeiro momento que soffriamos, apenas, a "revanche" do communismo e s mais tarde viemos a saber que outros elementos por despeito e inveja tinham-se reunido aos subversores da sociedade. (...)" A Noite, 4 de novembro de 1930 AS MANCHETES: As Ultimas Informaes Sobre O Movimento Subversivo De Minas Geraes e Rio Grande - Foi Decretado O Estado De Sitio Para Minas, Rio Grande, Parahyba, Districto Federal E E. Do Rio ( A Critica ) As Tropas Federaes Esto Senhoras Da Situao - Reina Completa Calma Em Todo O resto Do Paiz - Todas as Altas Patentes Do Exercito Solidarias Com O Governo ( A Critica ) Como Ser Feito O Abastecimento De Generos Alimenticios Cidade - O Governo, Attento, Ao Bem Estar Publico, Toma Energicas E Efficazes Providencias Para O Abastecimento De Generos Populao ( A Critica ) Brutus ( A Critica ) Num Gesto Que Bem Define A Sua Mentalidade E Tanto Ennobrece Os Seus Sentimentos, O Povo Da Capital Da Republica Acaba De Vibrar O Golpe Decisivo Nesse Monto De Miserias E Sordices Que Era O Governo Que Acaba De Cair, Afogado Na Propria Ignominia. Precipitando Os Acontecimentos E Dando A Victoria Causa Sagrada Da Patria, O Povo Carioca Pz Um Dique, Caudal De Sangue Desencadeada Pelos Moribundos E Avultou, Aureolado, No Corao Do Brasil - Salve Povo Carioca! ( A Esquerda ) Viva O Brasil! Viva A Republica Nova E Redimida! Os Ideaes Da Patria Venceram! ( Diario da Noite ) O Sr. Washington Luis Que, Diziam Os Seus Amigos, Era Destemido E Bravo, Teimoso E Valente, capaz De Morrer No Seu Posto, Sem Recuar, Teve Medo Do Povo. Teve Medo E At s 14 Horas De Hontem Permanecia No Palacio Guanabara, De Onde Teimava Em No Sair, Porque O Povo Estacionava Nas Immediaes. Doloroso Epilogo De Uma Fara; Triste Fim De Um Regabofe Indecoroso Que Se Esvae Por Entre Arrepios De Pavor E Temores De Medo... ( A Batalha ) Alliando-se Republica Triumphante, Os Generaes De Terra E Mar Apressam A Victoria. O Povo Carioca, Numa Confraternizao Commovedora, Tomou Parte Na Arrancada Final Em Que As Foras Armadas Depuzeram O Governo Que Nos Infelicitava E Desagradava. O Ex-Presidente Foi Conduzido, Preso, Para O Forte De Copacabana. A Victoria Da Revoluo ( A Patria ) As Attitudes Da "A Noite" ( A Noite )  33) Cristo Redentor (1931) "A cidade est em festa e com ela o Brasil inteiro, pela inaugurao, no pice da mais linda montanha da capital da Repblica, do esplendido monumento que a nao consagra ao Redentor da Humanidade. No h corao que deixe de vibrar da mais pura alegria pela celebrao do acontecimento grandiloquo. Cristo, do alto da colina magnfica, abena a cidade e abena o povo que lhe implora, ungido de f, conduza os homens ao caminho sublime da perfeio. Foi um espetculo soberbo, de inesquecvel majestade a bno do monumento ao Cristo Redentor, pela manh de hoje. Estavam presentes, no alto do Corcovado, as altas autoridades eclesiasticas e civis, e, enquanto se efetuava a bela cerimnia, uma esquadrilha de avies deslisando, tranqila, pelos ares macios da manh lanava braadas de flores sobre a imagem de Jesus. Os sinos de todas as igrejas bimbalhavam festivamente. Um momento de inenarvel emoo. (...) A CompanhiaRadiotelegrfica Brasileira e Marconi, ele mesmo, haviam guardado um profundo sigilo em torno da prova que o grande inventor deveria fazer ontem noite iluminando de Roma a esttua de Cristo Redentor. Marconi desde sexta-feira passada se comunicava com o Sr. Ren Bougl, diretor geral da Radiotelegrfica, dizendo-lhe que desejava fazer domingo, s 19 , uma experincia de transmisso de onda eltrica afim de acender os refletores que deveriam iluminar a esttua. O diretor geral da Radiotelegrfica deu conhecimento do desejo de Marconi apenas aos diretores dos Dirios Associados, Srs. Gabriel Bernardes, Paulo Rapaport e Assis Chateaubriand. Tratava-se de uma experincia e por isso mesmo os diretores da Radio no desejavam dar-lhes maior divulgao. (...) s 18 os diretores dos Dirios Associados j se encontravam na sala de aparelhos da Companhia, que fica no 4o andar do edifcio Hasenclever, na Avenida Rio Branco. (...) s 19 e 14 todos os coraes palpitavam. Faltava um minuto, e esse minuto era uma eternidade. Uma eternidade tanto mais imensa e angustiosa quanto ela durou, pelo relgio da sala, 120 segundos. s 19 e 16 minutos todos os olhares da sala que se fixavam para a janela donde se divizava o Corcovado viram o cu cortado de um halo luminoso. Dentro da massa de nuvens, as fulguraes de luz rompiam bravamente a escurido. Trs minutos aps, os rolos pardacentos se dissipam e o Cristo branco, com as suas mos imensas de perdo e de ternura, fulgia no topo da montanha, inundado de caridade boreal. O milagre de Marconi se tinha traduzido em todo o seu esplendor." Dirio da Noite, 12 de outubro de 1931 "A data de hoje transcorre, com as imponentes cerimonias liturgicas que se esto a celebrar, festejando a inaugurao do monumento do Cristo Redentor, ficar nos anais do catholicismo como um dia enaltecido por alta, significativa e eloquente afirmao de f. Do pas inteiro e ainda de vrios outros pontos do continente acorrem formosa capital do Brasil, guiadas pelos baculos pastorais de cinco dezenas de venerveis prelados, milhares de peregrinos cristos, os quais, nesta manifestao de crena que redunda tambm numa demonstrao de fraternidade, trazem a oblata das suas preces contrictas ao Cristo-Rei. (...) Hoje, s 16 horas, comear na praia de Botafogo, a inaugurao oficial do Monumento a Cristo Redentor. Nessa ocasio proferiro breves palavras, D. Joo Braga, Arcebispo de Curitiba; D. Jos Pereira Alves, Bispo de Niteri; Conego Dr. Henrique Magalhes, professor Alcebiades Delamare Nogueira da Gama, da Faculdade de Direito e Mario Michelotto, em nome dos operrios catlicos. Logo aps, a esttua monumental de Cristo Redentor ser iluminada da Itlia, pelo senador Marconi. Em seguida iluminao, haver um grandioso prestito luminoso em honra de Cristo Redentor. Desfilaro as Ligas Catlicas, podendo no mesmo tomar parte todos os catlicos, munidos de lanterna. O cortejo luminoso ser em terra e no mar, porquanto os pescadores fiis s tradies do nosso povo, daro o seu concurso, comparecendo em os seus barcos. Alm do mais tambm as lanchas e outras embarcaes aderiram. A nossa marinha tambm concorrer para o maior brilho da festa, iluminando especialmente alguns dos nossos vasos de guerra. (...)" A Esquerda, 12 de outubro de 1931 "Inaugura-se, hoje, o monumento a Cristo Redentor, ereto no cimo da montanha do Corcovado. Obra de arte que diz, eloquentemente, do acendrado esprito religioso dos catlicos no Brasil, fica a simbolizar, atravs da majestade da obra de arte, os anseios de f e de paz que animaram aqueles que empreenderam as cruzadas em prol do seu levantamento no alto da montanha mais elevada da Guanabara. (...)" Dirio de Notcias, 12 de outubro de 1931 "A semana do monumento a Cristo Redentor, que se ergue no alto do Corcovado, constituindo-se a maior esttua do mundo, encerrou-se ontem. A despeito da chuva que durante todo o dia caiu sobre esta Capital, as solenidades da bno da esttua e da missa campal no stadium do Fluminense nada perderam da sua pompa liturgica. O povo compareceu a ambas sem que o mau tempo lhe arrefecesse o entusiasmo com que nesses ltimos oito dias vem participando das festas realizadas aqui desde o dia 4 corrente. O ato culminante de domingo foi a Hora Santa do Brasil, realizada na matriz de Sant'Anna. Quando os relgios marcavam as 16 horas, todo o interior do templo tradicional se iluminou. E quem quela hora ali chegasse j no encontraria um lugar vago. A velha igreja fra decorada para que nela se realizasse a cerimnia. O altar-mr, ostentando a imagem de Sant'Anna, estava adornado com lrios brancos. Pela cpula, de espao a espao, panejavam-se bandeiras do Vaticano e do Brasil. Bem ao centro via-se uma grande cora dourada, forrada de prpura. Desprendiam-se dela quatro fitas largas de cor vermelha, descendo at ao meio de quatro colunas. Simbolizava essa cora a realeza de Cristo entre os homens. O povo se comprimia nas partes laterais e ao fundo, no recinto da igreja. Os bispos ocupavam as cadeiras do presbitrio. O clero regular e secular distribuia-se em boa parte do templo. Quinze minutos depois das 16 horas dava entrada no templo o cardeal Legado. Sua Eminencia dirigiu-se capela-mr, ocupando depois das oraes a curul cardinalicia que lhe fora destinada. (...)" Dirio de Notcias, 13 de outubro de 1931 "A cidade se reveste, neste dia, das mais sublimes galas espirituais, por motivo da bno solene da grandiosa imagem do Cristo Redentor, erigida no Corcovado. O caminho que vai das guas Ferreas ao Corcovado era hoje um ir e descer contnuo de catlicos e romeiros, que todos ansiavam por assistir cerimnia da inaugurao da esttua de Cristo, erguida no cume do monteque domina a cidade. Espetculo de f que no se costuma reproduzir muitas vezes na vida dos povos. Desde o Largo do Machado via-se o interesse que a festa de hoje estava despertando no corao e no esprito do povo. Os bondes despejavam centenas de criaturas, que disputavam, aos grupos, os carros da Estrada do Corcovado. Nas casas fronteiras, apalacetadas, viam-se colchas ricas de damasco cobrindo as janelas e sacadas, como uma homenagem aos prelados das vrias doiceses brasileiras que vieram assistir cerimnia. Trafegaram pela manh quatro trens especiais, destinados respectivamente ao transporte do chefe do governo e membros da administrao, do cardeal D. Leme, prelados e figuras do clero, da imprensa e dos convidados especiais. O carro do Sr. Getlio Vargas ia literalmente cheio, vendo-se alm de Sua Exma. esposa todos os ministros, membros da casa civil e militar da presidncia, e outras pessoas gradas. Em frente estao do Corcovado, numerosas pessoas do povo aguardavam as autoridades e dignatrios da igreja, estabelecendo-se grande movimento naquele trecho das Laranjeiras. No alto da montanha teve ento lugar a cerimnia da inaugurao da esttua de Cristo. Vrios oradores se fizeram ouvir, exaltando a figura do Messias, que se sacrificou pela humanidade. Houve inicialmente a bno do monumento, cerimnia em que oficiou o cardeal D. Leme, seguindo-se a missa solene, celebrada por D. Aloisio Masella, nuncio apostlico. Seguiram-se os discursos eloquentes do arcebispo D. Joo Becker, arcebispo de Porto Alegre; Dr. Pandi Calogeras, professor Fernando Magalhes, da Universidade do Rio de Janeiro. ltima hora, continuava a solenidade, fazendo-se ouvir os oradores do programa. D. Sebastio Leme leu na cerimnia uma bula declarando enthronisada a imagem de Cristo no Brasil." A Noite, 12 de outubro de 1931 "A cidade assistiu, ontem, deslumbrada, com a inaugurao do monumento do Redentor, mais uma experincia sensacional, realizada, da Itlia, por Guglielmo Marconi, na data histrica da descoberta da Amrica. Um gnio da cincia contempornea iluminou, de sua ptria distante, bero do Catolicismo, e onde nasceu o descobridor do novo continente, a imagem de Cristo, fazendo-a resplandescer no Corcovado hora exata que fora anunciada. (...) s dezenove horas, diante dos poderosos aparelhos da Companhia Radiotelegrfica Brasileira, o Sr. Bouguier, com os fones aos ouvidos recebe de Coltano a hora justa. Da a quinze minutos, Marconi enviaria atravs da estao italiana a centelha eltrica que deveria mover a alavanca para a iluminao do monumento a Cristo Redentor, no alto do Corcovado. (...) O Sr. Vittorio Cerrutti, embaixador da Itlia junto ao governo do Brasil, recebeu, s 19.20 horas, a seguinte mensagem de Guglielmo Marconi. - Sinto-me sobremodo satisfeito pelo fato de um feixe de ondas, por mim lanado no espao, iluminar a esttua gigantesca do Cristo Redentor, que os brasileiros acabam de erigir sobre o Corcovado, como smbolo de sua f, invocando a proteo divina para o seu pas e para a humanidade. Envio uma saudao fervorosa ao Brasil, a nobre nao na qual tantos compatriotas meus t6em encontrado uma segunda ptria. Comprazo-me em haver juntado um novo lo forte cadeia que estreita a Itlia ao Brasil e que permite s duas grandes naes latinas irms uma elevada colaborao em prol do progresso e da civilizao do mundo. Roma, 12 de outubro de 1931. (a) Guglielmo Marconi." O Jornal, 13 de outubro de 1931 "Apesar do tempo mau que reinou ontem, nesta cidade, correram imponentes as festas de inaugurao solene do monumento de Cristo Redentor, erguido no alcantil imponente do Corcovado. Pode-se dizer, que toda a populao carioca prestou, ontem, suas homenagens ao divino profeta do Bem, cuja religio, fecundada com o sangue generoso do martrio calvariano, j atravessou quase dois mil anos, resistindo das mais dolorosas vicissitudes s mais desenfreadas tempestades, s mais dramticas investidas da heresia e da mentira, para surgir, cada vez mais belo, mais sugestivo, mais radioso, na sua eterna pureza. Aquela imagem que se ergue no Corcovado no apenas a representao do fundador de uma religio. , acima de tudo, o smbolo de todo o idealismo de bondade, de amor, de perdo e de fraternidade. E todos ns, neste momento de incertezas, de dvidas, de apreenses que invade a Terra, precisamos ter a palavra do Mestre bem diante dos lhos, ritmando o nosso pensamento, lapidando a nossa f, inspirando a nossa conscincia. (...)" Dirio Carioca, 13 de outubro de 1931 AS MANCHETES Do Alto do Corcovado, Cristo Abenoa Povo do Brasil ( Dirio da Noite ) A Imagem Do Mestre Domina A Cidade, Na Imponncia Alcantilada Do Corcovado - Preciso Que Cristo, O Redentor Dos Indivduos E Das Sociedades, Proteja E Salve A Terra De Santa Cruz. Ele Pode E Quer Construir, Em Defesa Da Nao, Um Ante-Mural, Mais Resistente Do Que Aquela Muralha De Rochas Que Enfrenta A Fria Dos Vagalhes. ( Dirio Carioca ) Inaugurou-se Ontem Oficialmente, Em Presena De Altas Autoridades Do Clero E Da Repblica, O Monumento A Cristo Redentor, No Corcovado ( O Jornal ) Aberta Em Cruz Sobre A Cidade A Imagem Santificada Do Cristo Redentor ( A Noite ) As Festas Inaugurais Do Monumento Do Corcovado - A Vibrao De F Catlica Nas Homenagens A Cristo Redentor ( A Esquerda )  34) Intentona Comunista (1935) "Foi o capito Djalma Fonseca que com um contingente de 40 homens tomou o quartel do 3o RI. O Correio da Noite fazia parte desse grupo e pde assim focalizar os aspectos ainda quentes da refrega. Tudo ali dentro era um monto de escombros; no Casino todo o mobilirio estava destroado. Na parte principal do quartel o fogo destruiu tudo, e hora em que deixvamos o local uma turma do Corpo de Bombeiros abafava as labaredas. Todos os alojamentos estavam em destruio completa. Est ferido o coronel Affonso Ferreira, que, lutou, valentemente, para sufocar o movimento. O presidente Getlio Vargas visitou-o, no momento em que era transportado para o H. C. E. Dirigindo-se ao coronel Ferreira o presidente da Repblica teve para ele palavras de conforto. sada do quartel o presidente encontra-se com o ministro da Guerra. Trocam impresses e o ministro da Guerra diz, que no terminara s 12, mas s 13,15, pouco alm do prazo por ele marcado o combate aos revoltosos. Assim que o capito Djalma fonseca tomou o 3o RI deteve o capito Agildo Barata, que se rendeu sem resistncia. Incontinente esse oficial rebelado foi remetido para o Quartel General. O general Jos Pessoa visitou o 3o RI logo depois da cessao da luta e providenciou para a unificao dos trabalhos. sua presena vm os oficiais que no aderiram ao movimento; para os mesmos teve o general Jos Pessoa palavras de estmulo pela maneira por que se portaram. Tambm esteve naquela unidade militar o general Eurico Dutra tomando as providncias necessrias. (...) Na Vila Militar sublevou-se tambm a Companhia Extranumeraria. Para combat-la, as autoridades militares designaram os Primeiros e Segundos Regimentos de Infantaria e o Primeiro Regimento da Cavalaria Divisionrio. (...) O 3o RI foi tomado por tropas pertencentes ao corpo de guarda e do 2o B. C. sob o comando do capito Djalma Fonseca. (...) ltima hora, chegaram presos ao Quartel General o capito Agliberto Vieira de Azevedo e tenente Ivan, chefes do movimento do 3o RI." Correio da Noite, 27 de novembro de 1935 "O movimento extremista do 3o Regimento de Infantaria teve incio s 22 horas do dia 26. Parte da guarnio, dois dos batalhes, sob o comando do capito Agildo Barata, que revoltara a soldadesca, por ordem, segundo afirmou, de Luiz Carlos Prestes, saram rua, amotinados. Cientes, talvez, de que o governo legal os combateria sem trguas resolveram entrincheirar-se no prprio quartel da sua unidade e aguardar os acontecimentos. Parte das foras da unidade, porm, no pactuaram com os rebeldes, resultando, entre eles, srio choque que terminou pela vitria do nmero, isto ; dos amotinados, que estavam em maioria. Diante disso, as foras fiis ao governo ocuparam o andar superior do edifcio, onde ficaram como que encurralados. De posse da situao, entrou o capito Barata a irradiar, da estao do 3o RI comunicados s demais unidades concitando-as luta. Esses comunicados foram imediatamente contestados pelas demais estaes do Exrcito. Nada, entretanto, demoveu os cabeas do motim, resultando sa, as primeiras provid6encias, para o extirpamento do foco da rebelio. O alto comando da Regio tomou de incio medidas no sentido de serem sitiados os rebeldes o que foi feito com guarnio de tropas federais, conduzidas para o local, por grande nmero de nibus da Light. Cercados por todos os lados acessveis, foi, ento, iniciado o bombardeio do quartel na Praia Vermelha por trs peas de bateria do 1o grupo de obuses peas essas que foram colocadas uma nos terrenos do Fluminense Yacht Club e as demais em plena avenida Pasteur, em frente Faculdade de Medicina. Entrincheirados, os soldados do 3o RI resistiram, tenazmente, isto desde as 2 horas da madrugada at s 13,30 horas quando, ento, se renderam. (...) As tropas legais, diante da resistncia dos entrincheirados, usaram de um recurso fulminante: bombas incendirias. Em pouco, atingida a cpula do edifcio ardia, para ruir em breve, propagando-se o fogo lenta, mas progressivamente, pela ala esquerda e, depois, pela direita. Ao mesmo tempo eram lanados sobre as foras rebeldes gazes lacrimogeneos o que mais agravou ainda a sua situao. (...) Pelas 11 horas comearam a voar sobre posies inimigas cinco avies Corsrio, de reconhecimento, armados de metralhadora. Trs deles por vrias vezes fizeram fogo sobre o quartel, sendo, tambm alvejados. (...) O lance esperado mo se deu, entretanto. E, entre alternativas de intensa fuzilaria e descadas sbitas, prolongou-se a ao at s 13,30 horas, em que os revoltosos iaram a bandeira branca. (...) Correio da Noite, 28 de novembro de 1935 "Esta madrugada revoltou-se um batalho do 3o Regimento de Infantaria aquartelado na Praia Vermelha, sob o comando do capito Agildo Barata, que ali se encontrava preso. Dois batalhes do mesmo regimento continuam fiis ao governo, lutando contra os sediciosos. Tropas do Exrcito sob o comando direto do general Eurico Gaspar Dutra iniciaram, no amanhecer de hoje, o ataque aos rebeldes. Esse ataque est sendo feito com grande cuidado, a fim de que no sejam sacrificadas as vidas das tropas que no aderiram ao movimento, por isso que 2 batalhes, localizados na parte alta do edifcio do quartel, repeliram as propostas dos que solicitavam apoio ao movimento. O capito Agildo Barata, utilizando-se da estao-rdio do 3o RI, emitiu, durante as primeiras horas da manh de hoje, rdios concitando outras unidades do Exrcito a secundarem o golpe ali iniciado e declarando vitorioso o movimento naquele regimento. Esses rdios, porm, logo a seguir, foram desmentidos pelas estaes do Exrcito, reduzidos s suas verdadeiras propores. Na Escola de Aviao, um grupo de sargentos atacou os oficiais e assumiu o comando da tropa. O 1o Regimento de Aviao, comandado pelo coronel Eduardo Gomes, atacou imediatamente os rebeldes, enquanto tropas da Vila Militar, sob o comando do general Jos Joaquim Andrade, marchavam contra os amotinados. O Grupo Escola de Artilharia bombardeou a Escola de Aviao. Os rebeldes incendiaram os hangares. O movimento ali est praticamente dominado. Todos os corpos da Capital Federal, com exceo dos acima citados, se mantm fiis ao governo. A Chefatura de Polcia continua a receber manifestaes de solidariedade dos principais sindicatos e centros operrios desta Capital." A Noite, 27 de novembro de 1935 "O presidente da Repblica dirigiu ontem aos governadores o seguinte telegrama circular, comunicando-lhes haver sido inteiramente dominado o movimento subversivo, irrompido em Natal e Recife e ontem pela madrugada nesta capital: - Tenho satisfao comunicar-vos movimento subversivo, de carter comunista, irrompido noite 23 para 24 em Natal e Recife e hoje pela madrugada no Distrito Federal se acha inteiramente dominado. Revoltosos Rio Grande do Norte abandonaram capital Estado, onde ordem foi restabelecida. Diante impossibilidade oferecer resistncia foras se aproximavam embarcaram vapor Santos, nmero 500 mais ou menos, seguindo rumo ignorado. (...) Quanto ao Distrito Federal, ficou circunscrito Escola de Aviao de 3o RI Praia Vermelha. Irrompido esta madrugada teve imediata e energica represso. escola Aviao rendeu-se pela manh e 3o RI, de onde acabo de chegar, entregou-se, depois tenaz resistncia, tendo incendiado quartel. H vrios oficiais mortos pelos revoltosos, afora numerosas baixas ainda no identificadas resultantes luta travada com foras legais, se conduziram valorosamente, tanto aqui como em Recife e Natal. Embora existisse plano articulado outros pontos pas, fora de dvida que movimento de ntida finalidade comunista se acha dominado, enfrentado como foi resolutamente e sem perda de tempo. Impe-se agora sanear ambiente e afastar elementos cuja atividade anti-social tanto vem perturbando a vida do pas. Para levar a cabo essa patritica tarefa e continuar a garantir ordem governo federal se acha perfeitamente aparelhado e espero governo esse Estado mantenha todo vigilncia em torno elementos suspeitos, cooperando decisivamente como j o fez para restabelecer tranquilidade pblica. (...)" Dirio de Notcias, 28 de novembro de 1935 "A exploso de ferocidade e violncia de que foi ontem teatro a capital da Repblica, dizendo-se inspirada na ideologia comunista, no interessou direta ou indiretamente s classes trabalhadoras organizadas no pas e, servindo-se das armas da Nao, sofreu o castigo sangrento que lhe imps o Exrcito indignado. Pois se a tentativa sinistra se fez revelia do operrio pacificamente trabalhando nas suas oficinas, se os provocadores e rebeldes dentro dos quartis no obtiveram a solidariedade da tropa - que reivindio honesta poderiam ao menos alegar os criminosos? No foi uma idia social ou poltica, no foi um sentimento ou esprito de corporao que ceifou tantas vidas inocentes e acarretou tantos prejuzos morais e materiais ao pas. Responsveis pelo drama funesto so por um lado o orgulho e a presumpo da mediocridade desvairada, por outro a cupidez, o despeito, a perversidade de alguns agitadores profissionais. O comunismo ignaro do Sr. Luiz Carlos Prestes no uma convico nem uma aspirao do pas. No h nada no ambiente poltico, social e econmico da Nao que torne sequer admissvel a terrvel supresso do Estado jurdico e a subverso da ordem legal na sociedade em que vivemos. Longe de manifestar qualquer simpatia pelo credo moscovita sucedem-se no povo brasileiro demonstraes de apego liberdade e democracia e uma repugnncia profunda pelo regime de violncia. O comunismo s professado no Brasil por uma ridcula minoria de semi-analfabetos, de cabotinos e exibicionistas, de aventureiros e piratas. Jamais apareceu uma forte personalidade capaz de interferir nos nossos destinos polticos, endossando a responsabilidade de um movimento social que se prope fazer o milagre da felicidade humana.(...)" Dirio Carioca, 28 de novembro de 1935 "(...) Chegamos Praia Vermelha, depois de atravessarmos todo o largo terreno que fica por trs do Hospcio Nacional, justo hora em que o quartel do 3o Regimento comeava a sofrer as consequncias do bombardeio feito pela pea de grosso calibre localizada s proximidades da sede do Yacht-Club. Isolado como estava todo aquele trecho que vai desde o Pavilho Mourisco at Urca, no se via, na praia das Saudades, aqui e ali seno grupos de soldados em torno de canhes postados em direo do quartel revoltado. Ambiente de plena guerra, com as balas silvando no espao e de instante a instante cortando galhos de rvores, furando postes da Light, partindo fios telefnicos e da iluminao pblica, quebrando as vidraas das casas prximas e s vezes roubando a vida dos que se colocaram em defesa da ordem. De momento a momento viam-se as tropas abandonar as posies em que se encontravam para ocuparem outras logo adiante. Soldados se arastando pelo cho, artilharia em pleno funcionamento martelando a fachada da cidadela revoltada, e, l, em baixo, perto do mar, o canho de grosso ronco a despejar granadas no quartel dos amotinados. Cada assobio correspondia a um estrondo e logo as labaredas subiam do ponto visado. Os tiros eram dados com uma preciso notvel, notando-se que eram dirigidos por verdadeiros mestres na matria. L no quartel do 3o Regimento, vinha de quando em quando uma resposta atravs das rajadas de metralhadoras, que iam bater de encontro s casas vizinhas ou nos troncos das rvores, atrs das quais eram vistos os mais afoitos. distncia em que nos encontravamos, metidos entre duas paredes pouco alm do Hospcio Nacional, na avenida Pasteur, no nos permitia ver bem a extenso do incndio que grassava no antigo prdio da Escola Militar. O desejo de botarmos a cabea de fora para melhor enxergar as chamas era intenso, mas as balas que vinham de vez em quando assustar o nosso esprito impediam a realizao de tal intento. (...)" Correio da Manh, 28 de novembro de 1935 "A cidade trabalhava desde a vspera com a falta de notcias, muito claras, de vrios pontos do pas, onde rebentaram montins grandes e pequenos, mal definidos em suas finalidades, entrou ontem em verdadeiro terror - pnico, ferida a sua ateno pelos comunicados da polcia trazendo a notcia alarmante da amotinao de duas unidades de nosso Exrcito. Esse comunicado afixado porta dos jornais, transmitidos pelas estaes de broadcasting explicavam justamente os tiros ouvidos no romper d'alva e eram comentados de vrios modos, tomando, medida que o tempo ia passando, propores enormes. Nas palestras falava-se de um movimento articulado, esperando-se acontecimentos de grande monta para poucas horas. O pavor era grande e a expectativa ansiosa. Mesmo os mais ponderados temiam, tivesse maiores alcances o resumido comunicado que reduzia os motins a um batalho do 3o R.I. , na Praia Vermelha, e a um grupo do 1o Regimento de Aviao. Quem ontem assistisse, na Galeria Cruzeiro, a chegada da massa trabalhadora, a partir das 6 horas, teria uma impresso de que toda aquela gente, presa de pavor, tinha o ar de quem indagava o que estava acontecendo. O mesmo se poderia notar no largo de So Francisco, na multido ali despejada pelos bondes fa Light, que se espalhavam pela rua do Ouvidor, cujas casas se mantiveram fechadas at depois da hora de costume, dando apenas entrada aos seus auxiliares. Virtualmente, o comrcio esteve paralizado at quase s 10 horas. s oito horas, a Chefatura de Polcia, em comunicado que expedira informava que a Escola de Aviao, cercada pelas foras do governo, se havia rendido s 7 horas e que estava sendo preparado o assalto a baioneta ao 3o Regimento de Infantaria. Essas informaes trouxeram relativa tranquilidade ao comrcio e vrios estabelecimentos iniciaram o seu movimento. Ainda assim, os bancos comearam as suas operaes um pouco mais tarde e encerraram mais cedo o expediente, exceto o do Brasil. Conforme o comunicado da Polcia, o capito Agildo Barata, que se encontrava preso, sublevou um dos batalhes desse regimento, e tentara, pela estao de rdio, sublevar outras unidades. (...) E hontem, na hora H, para impregar a linguagem revolucionria, o capito Agildo Barata contava com a solidariedade de um batalho completo e muitos elementos de outro. Mantendo-se fiel ao Governo, um batalho, a luta se iniciou dentro do prprio regimento, tomando lugar na parte alta as foras fiis e na parte baixa os revolucionrios. A notcia se espalhou pelas redondezas, sendo logo levada ao conhecimento das altas autoridades do Exrcito e do Chefe de Polcia." O Imparcial, 26 de novembro de 1935 AS MANCHETES: O Movimento Subversivo Que Irrompeu Pela Manh Nesta Capital Foi Dominado - Uma Impresso Do Quartel Do 3o RI Aps A Cessao Da Luta ( Correio da Noite ) Todo O Brasil Em Estado de Stio - Ainda No H Comunicaes Com As Zonas Conflagradas - Luiz Carlos Prestes Anciosamente Procurado - No Se Conseguiu O Acordo Com O Sr. Flores da Cunha ( O Imparcial ) Declina, Parecendo Debelado, O Movimento Revolucionrio Do Norte ( O Imparcial ) Debelado O Movimento Revolucionrio No Norte - O Governo Reprime Energicamente Um Levante Nesta Capital - O Presidente Da Repblica Enfrenta A Situao Difcil Que Se Apresentou ( O Imparcial ) Dominada Nesta Capital Uma Grave Rebelio Militar - s Primeiras Horas Da Madrugada De Ontem Revoltaram-se O 3o Regimento De Infantaria E Parte Da Escola De Aviao - As Tropas Fiis Dominaram A Situao Aps Longas Horas De Luta, Na Qual Perderam A Vida Oficiais, Sargentos E Praas, Ficando Feridos Numerosos Outros ( Correio da Manh ) O Sr. Getlio Vargas Esteve Ontem Demoradamente Em Todos Os Pontos Em Que Perigosamente Se Combatia Em Defesa Da Ordem Legal, Penetrando No Antigo Recinto Do 3o RI Antes Mesmo Da Rendio Dos Oficiais Criminosos O Sr. Presidente Da Repblica Confortou Assim Com A Sua Presena As Autoridades E As Tropas Do Exrcito Em Luta Pela Paz, Segurana E Felicidade Da Nao ( Dirio Carioca ) Dominada A Rebelio Em Todo O Pas - Embora Existisse Plano Articulado Em Outros Pontos Do Pas, O Movimento Se Acha Dominado ( Dirio de Notcias ) Graves Acontecimentos Nesta Capital ( A Noite )  h1>35) Priso de Luiz Carlos Prestes (1936) "A priso do capito Luiz Carlos Prestes constitui, indubitavelmente, o acontecimento de maior sensao destes ltimos tempos. Quando, em novembro, o pas se abalou com as rebelies comunistas do norte e do centro, todas as atenes convergiram para esse personagem misterioso, chefe supremo do movimento da extrema esquerda no continente sul-americano. Em todo o territrio nacional, lanou-se a teia das investigaes severissimas, que se desdobravam dia-a-dia do litoral ao corao do serto. Hoje, a polcia carioca, em diligncia verdadeiramente notvel, prendeu Luiz Carlos Prestes, numa pequena casa solitria no Meyer. a primeira vez que, no mundo inteiro, se detm o chefe messinico de uma revoluo, como bem acentuou ao Correio da Noite o capito Filinto Muller. E isso honra sobremodo a organizao policial da Capital da Repblica. (...) Informam os moradores das vizinhanas da casa onde foi preso Luiz Carlos Prestes, que os seus moradores eram extremamente misteriosos. No saiam quase e evitavam, sempre, qualquer contato com outras pessoas. Em horas avanadas recebiam visitas de pessoas que viajavam, de ordinrio, em automveis. (...) Na residncia de Luiz Carlos Prestes a polcia apreendeu um caixote contendo livros, quase todos versando sobre a vida financeira da nao. Grande parte tida sobre a dvida externa do Brasil. (...) Entre a bagagem de Luiz Carlos Prestes, foi encontrada, alm de farto material de propaganda comunista, uma batina de padre. (...) Prestes antes de mudar-se para o Meyer, coisa que fez h dois meses, morou rua N.S. Copacabana, nmero 864, conforme afirmou, em depoimento o comunista Allan Baron. A casa referida de propriedade do senador Antnio Jorge Medeiros de Lima. (...) Estava instituido um prmio de 100 contos de ris a quem efetuasse a priso do chefe comunista Luiz Carlos Prestes. Com as diligncias realizadas hoje, ficou evidenciado que a priso do perigoso chefe vermelho foi efetuada pelo chefe de grupo da P.E. Joo Torres Galvo e tambm pelo auxiliar de gabinete da D.I.P.S. Francisco Menezes Juliano, com o auxlio de investigadores e soldados da Polcia Especial. Foi, entretanto, Joo Torres Galvo quem primeiro se confrontou com Luiz Carlos Prestes, dando-lhe voz de priso." Correio da Noite, 5 de maro de 1936 "s primeiras horas da manh a polcia efetuou no Meyer a priso do capito Luiz Carlos Prestes, chefe dos comunistas no Brasil. Daremos detalhes na prxima edio sobre a sensacional diligncia da polcia carioca, hoje realizada." Dirio da Noite, 5 de maro de 1936 - Primeira Edio "H cerca de um ms a polcia carioca vinha realizando ativas diligncias no Estado do Rio, em Nova Iguau onde, segundo denuncia recebida, estava localizado o ex-capito Luiz Carlos Prestes, chefe do movimento comunista da Amrica do Sul. Todas as diligncias ento realizadas, firmadas em documentos e cartas achadas em poder de Miranda, secretrio do partido Comunista, enviado do Komintern Amrica do Sul, mostraram que o chefe vermelho ainda se encontrava em nosso territrio, onde procurava concatenar elementos para uma nova investida contra o regime. no conseguindo deter Luiz Carlos Prestes em Nova Iguau, a polcia prosseguiu suas investigaes, prendendo o sargento de Aviao, Azor, revoltoso da Escola de Aviao Militar e guarda-costa do chefe vermelho. Prestes continuava no Rio, no restava dvida, e a polcia desta capital, seguindo elementos destacados do Partido Comunista, no tardaria, como no tardou, em localizal-o novamente. Dias depois nossas autoridades policiais ficaram cientes de que chegaria ao Brasil, em misso especial do Komintern, o individuo Victor Allan Baron, designado para entrar em entendimentos com o capito Prestes, a fim de que o mesmo o instruisse sobre as possibilidades de implantao do regime sovitico em nosso pas. Allan, recolhido Delegacia de Ordem Pblica e Social, informou s autoridades que o capito Luiz Carlos Prestes se encontrava de novo nesta capital, asilado em uma casa da rua Honrio, com o n. 279, em Todos os Santos.(...)" Dirio da Noite, 5 de maro de 1936 Terceira Edio "Desde os sucessos de novembro que as auroridades policiais vem diligenciando para deter o famoso comandante da "Coluna Invicta", capito Luiz Carlos Prestes, ex-chefe da Revoluo de 1924. Essa preocupao justificava-se na presuno das citadas autoridades de que o celebre desbravador dos sertes brasileiros estava implicado no movimento que irrompeu naquela data em vrios pontos do pas, culminando com a revolta do 3o Regimento desta capital. J algumas vezes a Polcia anunciava estar numa pista certa, sendo em vo, entretanto, seus esforos, de vez que se verificava sempre um insucesso. Desta vez, porm, os elementos da Polcia Central tiveram mais sorte. Como resultado de uma diligncia ruidosa, na manh de ontem, no bairro de Cachambi, ali na Estao do Meier e, portanto a vinte minutos da cidade, os policiais conseguiram prender o capito Prestes. (...) Para prender Luiz Carlos Prestes foram requisitados mais de noventa policiais, paisana, que foram distribudos pelas cercanias do prdio onde residia o famoso revolucionrio. Mais de trinta casas foram cuidadosamente revistadas. (...) A polcia ficou espantada, quando, aps seu movimentado cerco, penetrou na casa da Rua Honrio 297 a fim de prender o chefe da Revoluo de 1924, esperando encontrar, ali, grosso armamento, sucedendo o contrrio das apreenses, pois, na residncia de Prestes, apesar da minuciosa busca, no foi encontrada a minima arma, nem, sequer um projtil de revlver." O Radical, 6 de maro de 1936 "Preso h algum tempo j pela polcia carioca, o extremista Victor allan Baron, nas declaraes sucessivas que prestou, acabou por denunciar a estadia de Luiz Carlos Prestes no Rio. Entrando em diligncias a polcia terminou por localizar o ponto onde se encontrava o chefe da revoluo comunista, levando a efeito, hoje, numa diligncia aparatosa, a sua priso. Luiz Carlos Prestes foi capturado pela manh, rua Honrio no 279, sendo conduzido para a Polcia. O denunciante, ao ter a notcia da priso, suicidou-se, ao que fomos informados, saltando do 2o andar do palcio da rua da Relao ao patio interno. O Globo, 5 de maro de 1936 "A priso de Luiz Carlos Prestes, pela maneira por que se consumou, vem confirmar as suspeitas de que os chefes e inspiradores da mashorca vermelha de novembro ainda no haviam perdido as ultimas esperanas. Conforme sempre informaram as nossas autoridades mais responsveis, numa constante advertncia ao povo, o trabalho subterrneo dos agentes do Komintern prosseguia intenso nos vrios setores em que o Brasil fra dividido pelos "tcnicos" de Moscou. De outro modo, realmente, no se compreende que o principal daqueles agentes tivesse permanecido no Rio, afrontando os riscos do cerco em que o colocara a polcia, quando no lhe teria sido de todo modo impossvel, pelo menos transportar-se para outra cidade, talvez mesmo para outras terras, desconhecida como se tornara a sua fisionomia, no correr dos anos, para a quase totalidade dos brasileiros. Ele, com certeza, ainda sonhava com outro golpe..." O Globo, 5 de maro de 1936 - Sexta Edio "A priso do ex-capito Luiz Carlos Prestes, ontem nesta capital, veio por ponto final na tarefa da polcia encarregada de deter todos quantos se envolveram nos acontecimentos vermelhos de novembro, que to fundo magoaram a civilizao do pas. polcia do Distrito faltava, porm, a captura do verdadeiro cabea da rebelio para apresentar-se altura da confiana que o Brasil liberal-democrata dela exige. (...) O Chege revolucionrio foi intimado a render-se, o que fez sem palavra. Dali, o conduziram para a Polcia Central, juntamente com Olga Meirelles, a mulher de preto e companheira de Prestes. A chegada de Luiz Carlos Prestes ao palcio da rua da Relao, foi assinalada por um idescritvel movimento no interior da Polcia Central. Portas se abriam e fechavam com estrondo, investigadores tomavam todas as saidas da casa, no permitindo nela a sada ou entrada de quem quer que fosse. Ordens eram gritadas no segundo andar, onde est instalada a Delegacia de Ordem Poltica e Social, para os investigadores que, no palco central, corriam em todas as direes, a fim de guardarem as sadas do prdio. Ao tempo em que tudo isso era feito, os executores das ordens, muitos deles obedeciam-nas automaticamente, no acreditando na causa que motivara medidas to excepcionais. Com a priso de Prestes todo o Comit revolucionrio para a Amrica do Sul, se encontra preso. Um dos membros, se suicidou ontem, atirando-se do segundo andar do edifcio da Polcia Central, ao ptio. Era ele, Victor Allan Baron que denunciou polcia, o esconderijo de Prestes. Os demais so: Leon Valet, Harry Berger, Rodolfo Gioldi ou Luciano Bostero e agora, Prestes. Acompanhado de dois investigadores, Prestes foi levado cerca das 13 horas ao gabinete do delegado Bellens Porto, no cartrio do D.I.P.S. Prestes, entretanto, negou-se a prestar quaisquer declaraes, mantendo-se em imutvel silncio. O aspecto do chefe revolucionrio o de uma pessoa extremamente esgotada. O seu rosto tem a cor da terra, mostrando-se muito abatido." Gazeta de Notcias, 6 de maro de 1936 AS MANCHETES: A Priso do Antigo Comandante da Coluna Invicta ( O Radical) Preso Chefe Supremo da Revoluo Comunista no Brasil (Correio da Noite) Eplogo dos Acontecimentos Vermelhos no Brasil ( Gazeta de Notcias ) Condenado Aqui e Na Rssia - Luiz Carlos Prestes Preferiu Ser Preso A Ter Que Presar Contas ao Komintern? ( O Globo ) Todos Presos! Alm de Prestes, a Polcia Encarcera Os Cinco Membros do Comit Vermelho da Amrica do Sul ( O Globo ) Luiz Carlos Prestes Preso no Meyer ( Dirio da Noite )  36) Priso de Pedro Ernesto (1936) "Teve a maior repercusso como o facto sensacional do dia, a priso do Sr. Pedro Ernesto. Embora esperada a qualquer momento, a noticia estourou como uma bomba s primeiras horas da noite. A esse respeito o gabinete do chefe de Polcia distribuiu imprensa a seguinte nota: - A Polcia deteve, hoje, s 20,30 horas, o prefeito do Districto Federal, dr. Pedro Ernesto Baptista. Esta providencia foi tomada aps acuradas diligencias em virtude das quaes resultaram indicios vehementes, da culpabilidade do dr. Pedro Ernesto na preparao dos movimentos subversivos que abalaram a paiz, ultimamente. A Polcia, com serenidade e energia, prosegue no cumprimento da sua misso. A priso foi levada a effeito na Casa de Saude Pedro Ernesto, pelo tenente-coronel Domingos Ferreira Junior por ordem do general Lucio Esteves, commandante da Policia Militar. Em virtude da priso do Sr. Pedro Ernesto, assumiu, hontem mesmo, o governo da cidade, na qualidade de seu substituto legal, o conego Olympio de Mello, presidente da Camara Municipal. Momentos antes da sua priso, o Sr. Pedro Ernesto fez estampar nos jornaes da tarde, com grande destaque, a nota que reproduzimos abaixo, sob o titulo - O Prefeito ao Povo: - No considero uma diminuio a minha ida policia para depor. Cumpri apenas o meu dever de cidado. O governador do Districto Federal deve ser o primeiro a dar o exemplo da obediencia e do acatamento s autoridades e Ordem Constituida. Nem pode ser outro o espirito da democracia. No fui policia para me defender. No tinha e no tenho de que me defender. A minha defesa est no meu devotamento a esta cidade que eu tenho servido com enthusiasmo das causas sagradas. Dei o melhor de mim mesmo para o bem e a felicidade do Districto Federal." Dirio de Notcias, 4 de abril de 1936 "Desde as primeiras horas da tarde de hontem comearam a circular as notcias relacionadas com a situao do Sr. Pedro Ernesto em face das actividades extremistas que tanto vm perturbando a vida do paiz. A principio falou-se com insistencia que o prefeito havia enviado uma mensagem Camara Municipal convidando o conego Olympio de Mello, presidente do Legislativo carioca, a assumir as funces de chefe do Executivo municipal. Ao mesmo tempo que taes boatos era divulgados, informes de outra natureza eram tambem vehiculados, entre os quaes se assignalava, com maior persistencia, o que dizia respeito ao acto do governo federal decretando a interveno no Districto Federal. Chegou-se, mesmo, nessa ocasio, a citar nomes escolhidos para a misso de interventor. Embora no fosse possivel reportagem colher dados precisos dentro das multiplas noticias espalhadas, notava-se, entretanto, que qualquer acontecimento excepcional estava para verificar-se. Grande era a actividade nos corredores da Prefeitura e principalmente nas dependencias do gabinete do prefeito. Casa de Saude Pedro Ernesto chegavam a todo instante politicos e conhecidos amigos do chefe do Partido Autonomista. Alguns desses politicos por ns ouvidos pouco antes das 20 horas sobre o caso da propalada renuncia do prefeito ignoravam por completo que de tal se houvesse cogitado. No gabinete do ministro da Justia, quando ali estivemos tarde, procura de esclarecimentos, nada de anormal se observava. Tambem nenhuma informao segura foi possivel obter confirmando ou desautorisando as noticias correntes. Attendiam ao expediente commum o director Lacquitinie e os officiaes de gabinete. O ministro Vicente Ro, como se sabe, estava em Petropolis. Justamente da cidade serrana chegaram ao nosso conhecimento informes que induziam a crer que o governo federal cogitava de tomar alguma providencia de indisfaravel importancia. Afinal, pouco antes das 21 horas, a policia fornecia aos jornaes e fazia irradiar pelas estaes locaes o seguinte communicado: - A Policia deteve, hoje, s 20,30 horas, o prefeito do Districto Federal, dr. Pedro Ernesto Baptista. Esta providencia foi tomada aps acuradas diligencias em virtude das quaes resultaram indicios vehementes, da culpabilidade do dr. Pedro Ernesto na preparao dos movimentos subversivos que abalaram o paiz, ultimamente. A Policia, com serenidade e energia, prosegue no cumprimento da sua misso. (...)" A Noite, 4 de abril de 1936 "A priso do prefeito Pedro Ernesto foi effectivada pelo coronel Dominhues Jos Junior por ordem do coomandante Lucio Esteves. A Policia Central teve, hontem, uma noite movimentada. s 20 horas chegaram successivamente, ahi, o conego Olympio de Mello, o general Lucio Esteves, commandante da Policia Militar, coronel Zenobio Costa, commandante da Policia Municipal, vereadores Moura Nobre, Henrique Maggioli e Jorge Bhering de Mattos e o Sr. Luiz Aranha, vice-presidente do Partido Autonomista. Esses visitantes estiveram no gabinete do chefe de Policia. Preso o prefeito, o chefe de Policia tomou as medidas necessarias para que a sua familia o accompanhasse, prestando-lhe assistencia moral, to necessaria, sempre, em horas como esta. Com a priso do dr. Pedro Ernesto vae occupar a Prefeitura do Districto Federal o conego Olympio de Mello, presidente do Conselho Municipal. Embora na direco interina da Prefeitura, o padre Olympio de Mello, ao que estamos informados, far diversas modificaes nos cargos de secretarios e em outros postos de destaque do governo da cidade. O seu gabinete dever ficar constituido ainda hoje. O padre Olympio de Mello conferenciou, a proposito, hontem , noite, e na madrugada de hoje, com os vultos mais destacados do Partido Autonomista, notadamente com o Sr. Luiz Aranha. Os seus aposentos estiveram repletos. O padre Olympio de Mello, logo aps os acontecimentos que o conduziram Prefeitura, telegraphou ao Sr. Getulio Vargas e aos governadores dos Estados communicando-lhes que, como substituto legal do dr. Pedro Ernesto, assumira a chefia do governo do Districto. A impresso deixada no espirito publico pelas medidas decisivas da policia foi de que estavamos na imminencia de graves acontecimentos. Ante essa espectativa foi necessaria uma aco energica, sem vacillaes, embora serena, o que foi executado pelo capito Filinto Muller e seus auxiliares. Vale assignalar aqui que as autoridades cercaram o preso de hontem de todas as consideraes. Tornando-se necessaria, na opinio das autoridades, a recluso do Sr. Pedro Ernesto, esta se fez com toda a serenidade e com uma linha de rigorosa elegancia de attitudes e cavalheirismo. hora em que o dr. Pedro Ernesto foi detido, o conego Olympio de Mello se encontrava no gabinete do chefe de policia. Foi o capito Pilinto Muller quem avisou da occurencia, scientificando-o, em nome do governo, da medida posta em pratica ficando assim o presidente da Camara Municipal investido das funces de governador da cidade." O Imparcial, 4 de abril de 1936 "O Sr. Pedro Ernesto estava no seu gabinete da Casa de Saude, que tem o seu nome, escrevendo o discurso que deveria pronunciar, hoje, no banquete que as classes conservadoras lhe iam offerecer, quando foi avisado que o capito Riograndino Kruel solicitava uma audiencia. O prefeito carioca mandou-o entrar para a sala em que se achava. O capito Kruel fazia-se acompanhar do coronel Domingos Jos Pereira Junior. Foi este que passou s mos do Sr. Pedro Ernesto um officio. Dizia o documento que, por ordem do governo da Republica, o Sr. Pedro Ernesto devia se considerar preso, em virtude de "vehementes indicios contra sua pessoa, de ter cooperado no movimento subversivo de novembro." Estava assignado pelo general Lucio Esteves, commandante da Policia Militar do Districto. Segundo contam as pessoas que presenciaram a scena, o Sr. Pedro Ernesto leu o officio sem demonstrar a menor srpreza ou qualquer alterao. - Est bem, foram as sua palavras. E logo acrescentou: - Peo licena, apenas, para avisar, daqui pelo telephone, a minha familia. O coronel Domingos Jos Pereira Junior, ento, lamentou que lhe tivesse cabido a desagradavel incumbencia de prender um administrador do porte do Sr. Pedro Ernesto. Mas eram ordens superiores, que no podiam deixar de ser cumpridas. (...) No mesmo momento em que se effectuava a priso do prefeito, Dr. Pedro Ernesto, chegavam Policia Central, sendo recebidos no gabinete do chefe de Policia, o conego Olympio de Mello, presidente do Conselho Municipal, o general Lucio Esteves, commandante da Policia Militar, o coronel Zenobio da Costa, commandante da Policia Municipal, vereadores Moura Nobre, Henrique Maggioli e Jorge Bhering de Mattos, e o Sr. Luiz Aranha, vice-presidente do Partido Autonomista, que conferenciaram durante algumas horas com o capito Felinto Muller. O conego Olympio de Mello, fra conferenciar com o chefe de Policia, em virtude de uma communicao que deste recebera, scientificando-o, em nome do governo, da priso do Dr. Pedro Ernesto. Em consequencia da medida governamental, o executivo da cidade foi occupado, automaticamente, em caracter interino, pelo conego Olympio de Mello, chefe do legislativo municipal, de accrdo com a Lei Organica do Districto Federal. (...) Dirio da Noite, 4 de abril de 1936 "Informam-nos do gabinete do chefe de Polcia: - A Polcia deteve, hoje, s 20,30 horas, o prefeito do Districto Federal, dr. Pedro Ernesto Baptista. Esta providencia foi tomada aps acuradas diligencias em virtude das quaes resultaram indicios vehementes, da culpabilidade do dr. Pedro Ernesto na preparao dos movimentos subversivos que abalaram o paiz, ultimamente. A Polcia, com serenidade e energia, prosegue no cumprimento de sua misso. A priso do Sr. Pedro Ernesto verificou-se na Casa de Saude de sua propriedade, sendo effectuada pelo coronel Domingos Jos Pereira Junior, que lhe entregou um officio do commandante da Polcia Militar. (...) O dia de hontem foi de grande movimento na Central de Polcia. Entre as pessoas que estiveram no gabinete do chefe de polcia notamos o conego Olympio de Mello, o coronel Zenobio da Costa, os vereadores Moura Nobre, Ruy de Almeida e os drs. Mario Piragibe e Luiz Aranha. (...) Depois da priso do Sr. Pedro Ernesto, o chefe de Polcia communicou ao padre Olympio de Mello, presidente da Camara Municipal, a diligencia que acabava de ser effectuada, o que importava em ficar transitoriamente abandonado o cargo de prefeito do Districto Federal. Inteirado dessa communicao, o padre Olympio de Mello, na qualidade de substituto legal do Sr. Pedro Ernesto, dirigiu-se logo para a Polcia Central, onde hontem noite assumiu as funces de chefe do Executivo da cidade. A titulo de esclarecimento devido aos leitores, estamos informados que o presidente da Repblica no optou por uma interveno no Districto Federal, preferindo que a substituio do Sr. Pedro Ernesto se operasse normalmente, isto , recaisse no seu sucessor natural. O governo considerou que uma interveno neste caso importaria na convocao immediata e extraordinariamente do Congresso Nacional, alm de significar a dissoluo do Poder Legislativo da cidade. O facto do presidente da Camara Municipal entrar em exercicio do cargo de prefeito interino do Districto Federal, como entendeu o governo, parece que assegura a essa Camara a sua reunio e os seus trabalhos em tempo opportuno. Essas informaes, ns a obtivemos de fonte autorizada. (...)" Correio da Manh, 4 de abril de 1936 AS MANCHETES: A Priso Do Dr. Pedro Ernesto - Communicam-nos Do Gabinete Do Chefe De Polcia: - A Polcia Deteve, Hoje, s 20,30 Horas, O Prefeito Do Districto Federal, Dr. Pedro Ernesto Baptista. Essa Providencia Foi Tomada Aps Acuradas Diligencias Em Virtude Das Quaes Resultaram Indicios Vehementes De Culpabilidade Do Dr. Pedro Ernesto Na Preparao Dos Movimentos Subversivos Que Abalaram O Paiz Ultimamente. A Polcia, Com Serenidade E Energia, Prosegue Na Sua Misso ( O Imparcial ) Foi Preso Hontem O Sr. Pedro Ernesto - A Sensacional Diligencia Effectuou-se s 20,30 Horas Na Casa De Saude Da Esplanada Do Senado - Assumiu O Governo Do Districto O Conego Olympio De Mello, Presidente Da Camara Municipal ( Dirio de Notcias ) Preso O Sr. Pedro Ernesto! Assumiu O Governo Da Cidade O Padre Olympio De Mello - Como Se Realisou A Diligencia Sensacional ( A Noite ) O Sr. Pedro Ernesto Foi Preso Pela Polcia - Como Se Deu A Priso ( Dirio da Noite ) Detido O Prefeito Do Districto Federal - Os Acontecimentos E O Estado De Guerra - Em Communicado Official, A Chefatura De Polcia Informou Haver Sido Detido Hontem, Noite, O Dr. Pedro Ernesto - Acrescenta O Communicado Que Essa Providencia Foi Tomada Aps Accuradas Diligencias ( Correio da Manh )  37) Noel Rosa (1937) "Morreu Noel Rosa. Aps alguns minutos, a cidade inteira j sabia. Noel o popular cantor e compositor dos morros da cidade que sempre se destacou pelas suas produces, deixa a vida para ir de encontro a um novo mundo. De algum tempo para c, Noel deixou de apparecer nos meios radiophonicos e recolheu-se a um sanatorio atacado por terrivel enfermidade. Os seus "fans" reclamaram; porm, Noel no podia attend-los por ter necessidade de absoluto repouso. Suas melhores produces, alas, a que lhe deu nome, foi ha alguns annos o samba "Com Que Roupa". Depois, seguiram-se outros, e ultimamente "Joo Ninguem", "De Babado Sim" e outros. Encerra-se com o autor de "Pierrot Apaixonado", "Feitio da Villa", "Palpite Infeliz" e outras composies populares, uma etapa verdadeiramente brilhante do samba de nossa terra. Noel morreu subitamente em consequencia de um colapso cardiaco, quando na rua Theodoro da Silva n. 382, o querido compositor encontrava-se em companhia de sua progenitora; esposa e alguns amigos palestrando recostado no leito. (...) Cerca de 23 horas, o "sambista philosopho" pediu que fosse tocada uma das suas composies, no que foi attendido promptamente. Ento, cantando "De Babado Sim", Noel repentinamente deixou de viver desapparecendo da vida e deixando saudades. Porm, suas musicas no sero esquecidas e a sua memoria ser to venerada como a dos nossos maiores compositores da musica popular. O seu enterro ser realizado hoje tarde, saindo o feretro da rua Thedoro da Silva n. 382 em Villa Isabel." Dirio da Noite, 5 de maio de 1937 "O povo carioca perdeu hontem com a morte de Noel Rosa, um dos interpretes mais perfeitos da sua poesia. Poeta instinctivo, observador profundo da vida das populaes pauperrimas da cidade, Noel Rosa, compreendeu, logo no inicio de sua vida de homem a necessidade que havia de realar-se a lidima poesia popular da terra, a despeito de toda a miseria que assoberbava o modo de viver das populaes dos bairros mais afastados da cidade. E foi com a inteno perfeita de enquadrar no seio da musica folklorica do paiz as produces do povo da cidade, que esse menestrel moderno levou para o radio a melhor somma de suas composies, todas ellas feitas sobre motivos da vida real dos habitantes dos morros e dos longinquos suburbios do Rio. Noel Rosa deixa uma lacuna no seio da representao da musica popular do Rio de Janeiro. Elle, unicamente elle, compreendia e satisfazia o desejo do povo no tocante a arte dos sambas e das canes populares desta terra. O enterro de Noel Rosa realizou-se hontem, com grande accompanhamento, sendo o seu corpo sepultado no cemiterio de S. Francisco Xavier." Dirio Carioca, 6 de maio de 1937 "Morreu Noel Rosa. A cidade chora, nesta noticia, o desapparecimento do expoente maximo do sambista carioca. A letra era repleta de uma philosophia humana. Sentira a necessidade de ambientar a musica que vivia nos morros ao convivio da cidade. Fez letras onde o malandro e o jogo de chapinha no entravam. Traduzia a propria vida em ritmos e melodias. seu esse samba cano: "Naquelle tempo em que voc era pobre / Eu vivia como nobre / A gastar meu vil metal / E, por minha vontade / Voc foi para a cidade / Esquecendo a solido / E a miseria daquelle barraco./ Tudo passou to depressa, / Fiquei sem nada de meu / E esquecendo a promessa, / Voc me esqueceu, / E partiu, com o primeiro que appareceu / No querendo ser pobre como eu." Dizem que essa historia foi vivida. O morro era para elle motivo de verdadeiras chronicas musicais. "Mangueira" um exemplo disso. Seu primeiro sucesso foi "Com Que Roupa". Nesse tempo, prosseguindo os estudos, elle ingressava na escola de Medicina. Em pouco tempo, porm, abandonava os estudos, dedicando-se, inteiramente, arte que o empolgra. Venceu, em toda linha, plenamente, quer como autor quer como violonista. Costumava, constantemente, interpretar, frente ao microphone, suas produces. enorme a sua bagagem musical. Noel Rosa morreu, victimado por um collapso cardiaco, em sua residencia, rua Theodoro da Silva. E - suprema ironia do destino! -" A Noite, 5 de maio de 1937 "A cidade, principalmente, os meios bohemios, sentiram deveras a morte de Noel Rosa, o festejado sambista e cantor de radio, em plena mocidade. Sem obter melhoras no Piauhy, Noel Rosa regressou a esta capital para succumbir entre os desvelos de soa veneranda me e de sua esposa. Na hora da agonia, ouvindo os acordes de uma orchestra proxima ao seu leito de dr, mandou pedir a execuo de um samba de sua autoria e logo depois expirava. O autor de "Com Que Roupa", "Cidade Mulher", e outras canes que alcanaram sempre popularidade, era filho de Villa Izabel, tendo nascido em 1907, rua Theodoro da Silva n. 380, filho de Manoel de Medeiros Rosa, j fallecido e de d. Martha de Medeiros Rosa. Era casado com d. Lindaura Rosa. Na sua mesa de trabalho, no momento da morte, estava exposto que confeccionava d. Martha Rosa, a partir de 1929, contendo todas as criticas da imprensa s composies literarias e musicaes de Noel Rosa. Mesmo aquelles contendo irreverncias pessoa do vate nelle esto collecionados, contornados de vermelho, para maior realce. Noel, cercado de amigos e de companheiros de aventura, reconheceu a proximidade da morte e dirigindo-se a Orestes Barbosa advertiu: - Seu amigo est acabado... Momentos depois era fulminado por um collapso. O enterramento do festejado cantor e compositor teve grande acompanhamento tendo sido a sepultura aberta no cemiterio de S. Francisco Xavier." Correio da Manh, 6 de maio de 1937 "Noel Rosa era um de nossos mais conhecidos compositores populares. Suas musicas nunca deixavam de alcanar sucesso nas temporadas carnavalescas. Havia mezes vinha elle soffrendo de pertinaz molestia, que lhe tirava toda a alegria. Hontem, noite, em frente sua residencia, rua Theodoro da Silva, 382, em Villa Isabel, realizava-se uma festa familiar. Os rapazes, que compunham a orquestra, resolveram prestar uma homenagem a Noel, cantando em voz alta, o samba-desafio, de sua autoria, intitulado "De Babado Sim..." O compositor popular, que regressra havia tres dias, de Pirahy, onde fra mudar de ares, ao ouvir a musica, teve um estremecimento e morreu, talvez de emoo. O seu enterro ser realizado hoje tarde, sahindo o feretro do endereo acima." Dirio de Notcias, 5 de maio de 1937 " meia-noite de hontem falleceu, nesta capital, em sua residencia, rua Theodoro da Silva, 382, o compositor de sambas e marchas, Noel Rosa. Era uma figura sympathica das rodas radiophonicas e dos nossos musicistas mais populares. Muitas de suas produces como "Tarzan, O Filho do Alfaiate" e "Maria Fumaa", tiveram um exito extraordinario. Mas o seu samba que mais agradou, foi, sem duvida, "Palpite Infeliz". De alguns annos para c, no havia Carnaval completo sem musica de Noel Rosa. Encontrava-se elle enfermo ha varias semanas e os que o conheciam nada auguravam de bom, dado o seu physico franzino. Entretanto, ainda recentemente, concedeu uma alegre entrevista a uma de nossas revistas de radio, traando ento os seus planos para o futuro. No quiz o destino que se justificasse o seu optimismo. O enterro sae, s 16 horas, de hoje, do referido endereo, para o cemiterio de S. Francisco de Assis." O Jornal, 5 de maio de 1937 AS MANCHETES: Morreu Cantando Noel Rosa A Figura Mais Popular Dos Nossos Compositores ( Dirio da Noite ) Falleceu O Compositor Noel Rosa - Era Autor De Numerosas Musicas Populares ( O Jornal ) Falleceu Noel Rosa - O Conhecido Compositor Morreu Ouvindo Cantar Uma Musica De Sua Autoria ( Dirio de Notcias ) A Morte Prematura De Noel Rosa - Foi, Hontem, Sepultado, O Popular Cantor Do Radio ( Correio da Manh ) Morreu Noel Rosa ( A Noite ) Noel Rosa - Falleceu Hontem O Maior Cantor Da Alma Carioca ( Dirio Carioca )  38) Golpe de 1937 (1937) "A cidade recebeu, ontem, com calma os acontecimentos polticos que determinaram a entrada em vigor de uma nova Constituio para o Brasil, revogando-se implicitamente, a de julho de 1934. O presidente Getlio Vargas no discurso que pronunciou, noite, ao microfone do Departamento Nacional de Propaganda, falou Nao com franqueza e desassombro, mostrando os erros e os vcios que vinham deturpando a essncia do regime democrtico e a necessidade de dar nossa democracia uma nova forma, capaz de assegurar o prestgio da autoridade e dar ao governo maiores possibilidades de resolver os grandes problemas nacionais. O presidente da Repblica, com as intenes melhores de servir ao Brasil, deu-lhe uma nova Constituio, a Carta Magna, trabalho inteligente, de cuidadoso exame das nossas necessidades sociais, econmicas e polticas, possui uma uniformidade de pensamento que no foi possvel imprimir Carta efmera de 1934. A Carta fundamental do regime republicano ontem promulgada, conserva, nas suas linhas gerais, na perfeio do seu arcabouo, a viga mestra do esprito democrtico. As alteraes que ela apresenta visam, entre outras coisas fortalecer a representao nacional, criando uma formula nova para o sufrgio universal, dando aos municpios um prestgio que eles nunca possuiram, neles reconhecendo a clula mater da federao. Respeitando as liberdades pblicas e os direitos dos cidados, a Constituio tem os seus alicerces fundamentais no sentido democrtico, do qual a conscincia brasileira jamais se afastou e jamais se afastar. Organizando a disciplina, restaurando os princpios da hierarquia, opondo reprezas poderosas anarquia e desordem, a nova Carta Magna no cria crculos de ferro para oprimir e escravizar. A carta de 1934, a despeito das melhores intenes que inspiraram os seus autores, no conseguiu conciliar os ideais da Revoluo de 1930. Obra de polticos, por isso mesma cheia de defeitos e contrasensos, ela sacrificou muitas das promessas feitas Nao pelos revolucionrios que tiveram como chefe civil o Sr. Getlio Vargas. Dando ao Brasil outra Constituio o Sr. Getlio Vargas se reimveste na qualidade de chefe da Revoluo de 30 e retoma o ritmo interrompido de sua grande obra. , pois, na autoridade moral do presidente da Repblica, nos anseios da Nao que quer viver e prosperar sem os tropeos de formalismos irrealistas e no sangue dos brasileiros imolados por um Brasil maior, que vamos encontrar a legitimao da nossa nova Carta Poltica." Dirio Carioca, 11 de novembro de 1937 "O presidente da Repblica dos Estados Unidos do Brasil: Atendendo as legtimas aspiraes do povo brasileiro paz poltica e social, profundamente perturbada por conhecidos fatores de desordem, resultante da crescente agravao os dissdios partidrios, que uma notria propaganda demagogica procura desnaturar em luta de classes, e da extremao de conflitos ideolgicos, tendentes, pelo seu desenvolvimento natural, a resolver-se em termos de violncia, colocando a Nao sob a funesta imminncia da guerra civil; atendendo ao estado de apreenso criado no pas pela infiltrao comunista, que se torna dia-a-dia mais extensa e mais profunda, exigindo remdios de carter radical e permanente; atendendo a que, sob as instituies anteriores, no dispunha o Estado de meios normais de preservao e da defesa da paz, da segurana e do bem estar do povo; Com o apoio das foras armadas e cedendo s inspiraes da opinio nacional, umas e outras justificadamente apreensivas diante dos perigos que ameaam a nossa unidade e da rapidez com que se vem processando a decomposio das nossas instituies civis e polticas; resolve assegurar Nao a sua unidade, o respeito sua honra e sua independncia, e ao povo brasileiro, sob um regime de paz social, as condies necessrias sua segurana, ao seu bem estar e a sua prosperidade; decretando a seguinte Constituio, que se cumprir desde hoje em todo o pas: (...)" A Batalha, 11 de novembro de 1937 "Ontem pela manh, realizou-se no Palcio Guanabara, convocada pelo Sr. Presidente da Repblica, doutor Getlio Vargas, uma reunio coletiva do Ministrio. Terminada a reunio, o gabinete do Sr. Chefe de Polcia forneceu imprensa a seguinte nota: Regressando da reunio realizada hoje pela manh no Palcio Guanabara, o Sr. Ministro da Justia declarou aos representantes da Imprensa acreditados junto ao seu gabinete que acabava de ser promulgada a nova Constituio da Repblica, que ainda hoje ser publicada. Ipso facto acham-se dissolvidos o Senado e Cmara Federais, bem como as Assemblias Legislativas dos Estados e as Cmaras Municipais. s primeiras horas da tarde, foi dado igualmente, conhecimento aos jornais do seguinte telegrama-circular remetido pelo Sr. Ministro da Guerra, general Gaspar Dutra, aos Comandantes das Regies Militares: Urgentssimo - N. 1.352 - Acaba ser decretada nova Constituio Federal (vg) assinada pelo Presidente da Repblica e por todo o Ministrio (pt) Entrar em vigor desde j (pt) Segue Proclamao dirigida ao Exrcito pelo Ministro da Guerra (pt) Absoluta calma nesta Capital e em todo o pas (pt) Saudaes (a.) General Eurico Dutra - Ministro da Guerra." A Nao, 11 de novembro de 1937 "A convite do Sr. Francisco Campos, ministro da Justia, estiveram, ontem, no seu gabinete, os diretores de todos os jornais cariocas. O titular da Justia declarou aos diretores de jornais que o governo desejava a colaborao da imprensa na organizao do Estado novo, lembrando para isso a constituio de um Conselho de Imprensa atravs do qual pudessem se entender os poderes pblicos e os jornalistas. Est marcada para hoje, na ABI, uma reunio dos diretores de jornais para o exame das sugestes do ministro da Justia. Por decreto de ontem do presidente da Repblica, foi nomeado interventor no Estado do Rio de Janeiro, o capito Ernani Amaral Peixoto. S. Ex prestar compromisso, hoje, s 11 horas, no Ministrio da Justia e tomar posse s 15 horas, no Palcio do Ing. O embaixador Mario de Pimentel Brando, ministro das Relaes Exteriores, reuniu, ontem, no Palcio Itamaraty, os chefes de misses diplomticas acreditadas junto ao nosso governo, aos quais fez a seguinte exposio: Acredito que todos tenham lido nos jornais as notcias dos ltimos acontecimentos. Entendi o, comiudo, do meu dever concocal-os a fim de prestar-lhes mais alguns esclarecimentos e responder a quaisquer perguntas que entendam de formular. (...) Desde 1934, eramos regidos por uma Carta poltica que no mais respondia ao esprito da nossa poca. Essa carta restringia o poder do presidente da Repblica, quando, no mundo interno, o poder executivo tem sido reforado. A experincia mostrou que se tornara difcil o exerccio do poder, sobretudo quando as atividades comunistas se concentraram no Brasil e produziram consequncias que so de todos conhecidas. Em novembro de 1935, acontecimentos sangrentos se produziram na Capital e nos Estados do norte do pas. O esprito poltico, a habilidade e o tacto do presidente da Repblica encaminharam as coisas de modo em poucos meses tudo se pde normalizar. E nessa convico se abriu a campanha presidencial. E ento notou-se que elementos agitadores se immiscuiam e se infiltravam nos dois campos opostos, aproveitando da circunstncia da luta eleitoral, de mais a mais acirrada, desde que no fra possvel concentrarem-se as faces em torno de um nico candidato. Ao meio da luta, chegaram ao governo provas convincentes de que estavamos em vsperas de um grande abalo poltico de consequncias impossveis de prever. Apesr disso o governo no poupou esforos, atravs de todos os meios, pelos conselhos de prudncia e sabedoria a fim de encaminhar as foras polticas para um terreno de conciliao. Tudo porm foi em pura perda. E proporo que falhavam essas tentativas patriticas, o presidente da Repblica recebia de todos os cantos do Brasil manifestaes inequvocas de que se fazia em torno dele, por ele e para ele, um movimento que congregava a totalidade da opinio s do pas, e lhe pedia uma soluo para a crise manifesta. Depois de um longo e demorado exame da situao, durante o qual ouviu figuras representativas das foras vitais da nacionalidade, foi que o presidente decidiu a decretar a nova Carta poltica, para atender ao apelo da Nao. Creio que cada um dos srs. chefes de misso pde verificar que, de fato, a atitude de calma e de confiana do Pas, nesta Capital e nos Estados, demonstra que o ato do presidente da Repblica respondeu plena e auspiciosamente aos anseios do povo brasileiro. Tendo promulgado uma nova Constituio, de modo a no atingir nem Democracia e nem ao sistema representativo, o governo tem como base a sua poltica de realizaes, para a qual espera a colaborao das naes amigas, com cuja simpatia e amizade conta inalteravelmente. (...)" Dirio de Notcias, 12 de novembro de 1937 "Regressando da reunio realizada hoje pela manh no Palcio Guanabara, o Sr. ministro da Justia declarou aos representantes da Imprensa acreditados junto ao seu gabinete que acabava de ser promulgada a nova Constituio da Repblica, que ainda hoje ser publicada. Ipso facto acham-se dissolvidas o Senado e as Cmaras Federais, bem como as Assemblias Legislativas dos Estados e as Cmaras Municipais. s oito horas da noite o Presidente da Repblica falar Nao pelo rdio. (...) Acaba de ser fornecida Imprensa, para conhecimento do povo, cpia da nova Constituio promulgada para o Brasil em reunio realizada pelo Ministrio, sob a presidncia do Sr. Getlio Vargas, esta manh, conforme nota que divulgamos. Recebemos do Gabinete do Chefe de Polcia a seguinte nota: A nova Constituio foi promulgada. A transformao se operou de modo pacfico, e teve por fim assegurar a paz Nao. A Constituio ser submetida a plebiscito nacional. A nova Constituio assegura, de modo mais completo, a autoridade da Unio e arma o Governo de meios normais de defesa da Ordem. Haver Parlamento e um Conselho Consultivo de Ecocomia Nacional. So garantidos todos os direitos e contratos." Dirio da Noite, 10 de novembro de 1937 AS MANCHETES: Em virtude das resolues tomadas ontem pelo governo foram tambm dissolvidos a Cmara e Senado Federais, assim como Assemblias dos estados e as Cmaras Municipais. Todos os governadores com exceo dos Srs. Lima Cavalcanti e Juracy Magalhes, solidrios com o presidente da Repblica. Falam ao Pas e ao Exrcito o presidente da Repblica e o ministro da Guerra. Assumiram os governos da Bahia e Pernambuco os coroneis Villanova e Fernando Dantas. ( A Nao ) Brasileiros! A Defesa Social Brasileira um novo Arraial do Bom Jesus erigido como baluarte do Brasil contra a invaso vermelha. Nenhum patriota poder ficar alheio ao seu grande apelo. Alistai-vos! ( A Nao ) A Constituio hoje promulgada criou uma nova estrutura legal, sem alterar o que se considera substancial nos sistemas de opinio: manteve a forma democrtica, o processo representativo e a autonomia dos Estados, dentro das linhas tradicionais da federao orgnica (do discurso do Presidente Getlio Vargas) ( A Nao ) A Constituio Federal Promulgada - Tradies que permaneceram das Constituies de 1824 e 1936. Democracia, representao popular direta e indireta. Inexistncia de qualquer preconceito. Manuteno do habeas corpus. Irretroatividade das leis. Paz, Justica e Trabalho ( A Nao ) Acaba de Ser Promulgada, Em Reunio No Ministrio, Nova Constituio Para A Repblica ( Dirio da Noite ) A atmosfera de tranqilidade e de confiana em que se operou a transformao do regime a melhor prova de que o ato do governo no foi mais do que a sanco de um decreto do Povo. - Francisco Campos - ( Dirio da Noite ) Haver parlamento no regime da nova Constituio - Prorrogado o mandato presidencial at a renovao do plebiscito - Seis anos, o novo perodo presidencial - As candidaturas - Guarantidos todos os direitos e contratos. ( Dirio da Noite ) Decretada a Interveno Federal na Bahia, em Pernambuco e no Estado do Rio ( Dirio de Notcias ) Os Motivos que Determinaram A Decretao Na Nova carta Poltica ( Dirio de Notcias )  39) Revolta Integralista (1938) "A cidade amanheceu surpreendida com a notcia de um movimento sedicioso. Pouca gente ouvira o rdio, s primeiras horas da madrugada, quando foram ocupadas algumas estaes e transmitidas proclamaes rebeldes. S hoje, pela manh, a maioria dos cariocas teve conhecimento da rebelio integralista, sufocada, imediatamente, pelo Governo da Repblica. Embora completamente ineficiente, a revoluo direitista, por menos que tenha durado, abalou profundamente o povo da Capital. que o carioca se acha integrado com todo o povo brasileiro, numa fase intensa de atividade construtora. (...) A vigilncia da polcia poltica espalhada em todos os setores da cidade, permanentemente, deu a conhecer os primeiros indcios da intentona. que no bairro das Laranjeiras, cerca das 9h da noite de ontem, foram vistos muitos individuos moradores dos apartamentos dos edificios da Sul-Amrica, sairem isoladamente, para logo se juntarem a certa distncia. Provavelmente, tinham o ponto indicado para a organizao do bando que, momentos depois levava a efeito grande assalto armado. Logo, pelo telefonema ficavam o capito chefe de Polcia e o delegado especial de Segurana Pblica e Social conhecedores de tais passos suspeitos.. Mal acabava de ser feita a comunicao por um outro telefonema, a polcia poltica era informada do assalto levado a efeito de surpreza ao Palcio Guanabara. Foi um acontecimento violentssimo, pois, o grupo assaltante, armado e municiado conseguiu no primeiro momento estabelecer o pavor. Travou-se renhido tiroteio frente do jardim do Palcio. Foi um combate que durou pouco porque uma parte da guarda, composta de Fuzileiros Navais, aliando-se aos atacantes, colocou-se na mais franca rebeldia. Estava assim reforada a horda dos extremistas da direita. A outra parte da guarda que no quiz aderir aos rebeldes, colocando-se em situao de indiferena foi feita prisioneira e encurralada a um flanco do jardim da Guanabara. Com o primeiro aviso, foi determinada rigorosa prontido na Polcia Especial, de sorte que, verificado o assalto ao Palcio Guanabara, aquela fora civil saiu para entrar logo em ao. sua aproximao do Palcio, ouviu-se uma farta fuzilaria. Os rebeldes, j entrincheirados nas suas posies faziam fogo contra os seus adversrios. Houve necessidade de um recuo estratgico para tomada de posio, ao mesmo tempo que essa manobra favorecia a localizao das foras armadas fiis ao governo. J haviam sido tomadas providncias pelo alto comando do Exrcito. Assim que, imediatamente, a guarnio do Forte do Vigia teve ordem de marchar para o Guanabara, a fim de combater aos rebeldes. Identicas providncias foram tomadas com o Batalho de Guardas. Essas duas foras sob o comando do coronel Oswaldo Cordeiro de Farias, interventor do Rio Grande do Sul, entrando nas suas posies, ofereceram o primeiro combate. Prisioneiro que estava no Guanabara, j s escuras, o Presidente Getlio Vargas no perdeu a sua serenidade de esprito. Afeito a embates de tal natureza, aguerrido como se sabe, o Chefe da Nao manteve a sua atitude energica enfrentando com heroismo os rebeldes. Foi uma surpresa para S. Excia. quando se viu ladeado pelo coronel Joo Alberto e major Nelson Mello. Esses dois arrojados militares haviam saltado os muros do Guanabara para se colocarem ao lado do Presidente. Enquando se observava isso no interior do Palcio, fora, exposto s balas, o general Gaspar Dutra, Ministro da Guerra, dirigia em pessoa as operaes militares em defesa do Chefe de Estado. Em consequncia da forte luta, travada contra os rebeldes o general Gaspar Dutra, recebeu um ferimento produzido por estilhao de granada, na orelha esquerda. No dando importncia ao ferimento recebido, o Ministro da Guerra manteve a sua posio de comando. Apesar de senhores da situao, embora por poucos minutos, os rebeldes no tiveram coragem de prosseguir na investida at o interior do Palcio Guanabara. que, l dentro, o prprio Presidente da Repblica, de metralhadora em punho, engrentava o perigo que o ameaava. Essa atitude corajosa, contribuiu para impedir o avano dos rebeldes. (...)" Correio da Noite, 11 de maio de 1938 "O Brasil tem um grande, um magnfico destino a cumprir. E no pode mais admitir que brasileiros sem fibra sem o mais dignificante dos sentimentos humanos que o da honra, por simples ambio pessoal, por sectarismo ou por um desvio intelectual, se voltem contra a Ptria, perturbando a obra admirvel de reconstruo nacional. (...) Os acontecimentos da madrugada de ontem apresentam, j agora, uma significao altssima. A histria os registrar, mas a memria dos homens fixou, desde j, uma circunstncia idelevel. O presidente Vargas empolga, hoje mais do que nunca, o pas que lhe acompanha a magnfica trajetria de administrador, servido por um patriotismo incomum e por uma coragem excepcional, qualidade mais de uma vez postas prova, atravs dos acontecimentos que vm perturbando o ritmo da vida nacional. (...) A rua Pinheiro Machado, calma como sempre, nas primeiras horas de ontem, foi despertada por grossa fuzilaria. que a sentinela do Palcio Guanabara, vendo-se aproximar junto ao referido palcio um caminho cheio de homens, d um grito de alarme. Logo aps, um tiro partiu para o ar e teve como resposta uma fuzilaria, partida dos passageiros do caminho que saltaram rapidos do veculo penetrando no porto principal do Palcio Guanabara. A guarda tentou reagir, porm, foi dominada em parte, enquanto outros subiram ao andar principal do Palcio e comunicaram o ocorrido ao presidente Vargas. S. Ex. j de p, rodeado da Exma. Sra. Darcy Vargas sua esposa, de seus filhos Manoel e Alzira, de seu irmo Benjamin Vargas, e de seu cunhado Walter Sarmanho, alm de dois leais sentinelas, um fuzileiro naval e um guarda civil. No hall do Palcio, senhor de uma bravura sem limites, num gesto resoluto, arma sua famlia e disps-se o presidente Vargas a resistir os invasores. J tinham sido tomadas as providncias que o caso exigia, e, em breve ali compareciam o coronel Cordeiro de Farias, atual interventor do Rio Grande do Sul, ora nesta capital, que, com uma fora do Exrcito procurava penetrar no Palcio. A fuzilaria partida do interior do Palcio presidencial no permitiu de pronto o acesso ao jardim do Guanabara. Com a chegada da Polcia Especial e Militar, reforaram-se defensores do Governo que usando de um ardil penetraram pela porta lateral do Palcio passando pelos terrenos do Fluminense F. Club. A presena do Ministro da Guerra, com a coragem e energia que lhe peculiar, mais encorajou os soldados da lei que assim rechassaram os rebeldes, j de posse da parte trrea do Palcio Guanabara. Com a chegada inesperada dessas foras defensoras do governo, os assaltantes procuram fugir. Quinze assaltantes foram imediatamente presos e outros que fugiam s balas eram atingidos em parte na sua fuga. Assim terminou essa louca e ousada aventura dos rebeldes que ficaram desbaratados pela coragem pessoal do chefe da Nao e pelas providncias prontas das nossas autoridades. (...)" A Batalha, 12 de maio de 1938 "A grandiosidade tenebrosa do crime, que assombrou com a sua sequncia de tragdias a madrugada de ontem, no conseguiu sequer empalidecer, com os rios de sangue que derramou, a no menor grandiosa atitude do Presidente Vargas, cuja serenidade no traduz apenas a sua coragem fsica, mas, ainda e principalmente, a energia moral de um predestinado mais alta chefia da nacionalidade. No possvel que aquele sangue-frio, aquela calma admirvel, aquele controle absoluto que permitem providncias prontas e eficazes, se limitem a uma significao to pequena de um bravo que a si prprio no poupa na inconscincia da luta. A coragem pessoa de S. Excia., nunca desmentida, o resultado de uma envergadura moral que tem como cerne o complexo dos mais nobres anseios do povo brasileiro. Por isso, quando o Presidente Vargas defendia de armas na mo o Palcio Guanabara contra o assalto dos sediciosos ensandecidos, no defendia somente o seu lar ameaado de pavorosa chacina, mas tambm a tranqilidade brasileira, que no deu procurao a bandoleiros para lhe guardar a trilogia organicamente nacional. At que enfim, desde a madrugada de ontem, viram a realidade, os que ainda estavam ludibriados na sua boa f pela pregao de sentido, manso e evanglico, com que Plnio Salgado procurava mistificar o movimento de primarios, cujo nico impulso era a sede de sangue e nica finalidade o assalto liberticida do Poder Pblico. A est o que era o integralismo. Valhacouto de mashorqueiros, coclave nauseante de "parvenues" do mais baixo sub-solo moral. A farandula tragica dos ensandecidos que, na madrugada de ontem, quiz, a passos de almas penadas levar a efeito o ritual fnebre, frente mortalha da nao assassinada, como entrevia a imaginao delirante, no passou felizmente de um sonho que est a desafiar a psicanlise da etiologia do crime e da loucura. (...)" A Nao, 12 de maio de 1938 "O pas recebeu com tristeza e indignao a notcia da miservel agresso aos poderes pblicos, na qual o "integralismo" renegou mais uma vez as alegaes ordeiras de seu programa, desmascarando-se na ambio, no despeito e no rancor que so a realidade de seus intuitos. A tragicmico "putsch" integralista que salpicou de sangue brasileiro os jardins e as escadarias do Palcio Guanabara constituiu uma aventura repulsiva e sem precedentes na prtica de montins contra o governo local. Se at pouco tempo havia iludido os que de boa f acreditassem nos processos de purificao anunciados e prometidos pelos adeptos do Sr. Plinio Salgado, esses, certamente, tero visto, de ontem para c, o que realmente significava a sistematizao daqueles preceitos de Deus, Ptria e Famlia que acobertavam os propsitos faccinoras, e serviam de base a uma sedio cuja finalidade era crime contra a Ptria. (...) O movimento foi iniciado com uma requintada tcnica de perversidade. as casas dos mais eminentes homens pblicos e militares foram escaladas para assaltos brutais e sanguinrios. A paz dos lares e a sensibilidade pelo refugio sagrado das famlias foram violadas a horas altas da noite. Em seguimento ea esse prlogo de celeres matanas o drama da escalada do Palcio Guanabara, residncia do chefe da Nao. (...) Sobre as trgicas horas durante as quais a famlia do presidente da Repblica resistiu sem comunicaes e balda de reforos materiais fria dos assaltantes, ouvimos ontem um relato de um daqueles que condividiram o perigo e a incerteza daquele transe inesperado: Era uma hora da manh mais ou menos, quando dois caminhes repletos de indivduos disfarados em fuzileiros navais chegaram de chofre aos portes do Guanabara, declaramdo virem de ordem superior para completar a defesa do palcio, guardado insuficientemente pelo destacamento de costume. a primeira sentinela, no acreditando na alegao, deu alarma.. Os atacantes dirigiram-se rapidamente ao outro porto, chamando fala a outra sentinela que, ao se aproximar, foi morta incontinenti. Varando o porto j eles se dispuseram em ordem de ataque e se dividiram em grupos em torno do Guanabara, sendo que o mais numeroso tentou atingir a portaria e subir as escadas. alm da guarda normal cuja posio no era possvel identificar no momento, a nossa guarda interna era constituida por dois elementos de confiana que procuraram resistir com duas metralhadoras de que dispunhamos. Uma, porm, estava desmantelada. A outra que serviu de ponto de apoio nossa resistncia l no interior. Como entre os atacantes figurasse um sargento que parecia nos ser dedicado, um dos nossos investigadores a ele se dirigiu confiante, mas foi preso e dominado. Ficamos, portanto, reduzidos a um investigador manejando a nica metralhadora. Constituiu uma grande "chance" para ns, no atinarem os atacantes com o lugar em que nos encontravamos. Nessa emergncia s nos restava o recurso dos telefones. Os aparelhos da Light tinham sido, porm, desligados e nos cingimos aos telefones oficiais. Com esse nos comunicavamos para fora e recebiamos informaes dos nossos amigos. - Mas eesas informaes, perguntamos, eram de molde a tranquilizar? - Qual! Houve um momento em que nos avisaram que a casa do General Ges Monteiro fora assaltada, a do Ministro da Guerra idem, e que os revoltosos j se achavam de posse do Ministrio da Marinha. esse foi o momento mais cruciante, porque no nos falavam em reforos. O presidente, com a sua serenidade habitual, queria percorrer o palcio, para ver como poderia reforar a defesa. Ns todos lhe faziamos apelos a que ele no atendia. Foi ento que o nosso amigo Filinto Muller nos avisou que a Polcia Especial j penetrara nos jardins do palcio para nos socorrer. Estavamos todos alojados na ala esquerda, mergulhados na escurido, e procuramos divisar os elementos da Polcia Especial. De uma janela, pareceu-me ver, deitado, no manejo de uma metralhadora, algum que acreditei ser o tenente Queiroz. Queiroz, Queiroz, disse-lhe em voz baixa, mas em vez do reconhecimento amigo caiu sobre o palcio uma chuva de balas. depois soubemos das providncias do ministro da Guerra e da vinda do coronel Cordeiro de Farias, pelo lado do Fluminense. Um de ns abriu com cautela a porta secreta do palcio que d para o clube e os nossos amigos vieram se arrastando como crocodilos. Da em diante, as providncias se sucederam e a reao dos nossos aumentou. Foi um verdadeiro milagre se no fomos massacrados. As nicas armas de que dispunhamos eram seis revlveres de puco alcance. Ao todo eramos seis. J s quatro e meia, quando as luzes acenderam, que vimos os rostos dos que estavam ao nosso lado. depois de alguns minutos comeamos a ver tambm os prisioneiros, todos com caras desconhecidas. - E o Presidente? - Sempre o mesmo, concluiu o nosso informante. A sua preocupao durante todo o tempo consistiu em ver como poderia aumentar a nossa resistncia e como poderia dirigil-a. Como sempre imperturbvel. Com o seu exemplo, todos permanecemos calmos e confiantes. A coragem de um chefe vale tanto como uma boa trincheira. Ao lado do presidente, ns nos sentimos seguros." Dirio Carioca, 11 de maio de 1938 "A Polcia Civil tinha conhecimento de que elementos da extinta Ao Integralista vinham planejando uma revoluo. Providenciando, fez investigadores especiais juntarem-se s fileiras do sigma, a fim de melhor orientar-se a respeito do citado movimento. Ontem, s 21 horas, a Delegacia Especial de Segurana Poltica e Social vio a saber que no Quartel da Polcia Militar se apresentara um oficial acompanhado de dois civis, levando uma ordem assinada pelo dr. Israel Souto no sentido de ser posto em liberdade o coronel Euclydes de Figueiredo. O oficial de dia, no quartel, desconfiando, dirigiu-se sala da Ordem, e dali, pelo telefone, comunicou-se com o delegado Especial de Segurana Pltica e Social, tendo o dr. Israel Souto afirmado no ter dado tal ordem. Era evidente a cilada, e o oficial negou-se a atender. Diante do ocorrido, o delegado Israel Souto, imediatamente, tomou providncias, distribuindo investigadores armados por todos os cantos da cidade. Os policiais, logo de incio, notaram desusado movimento em casas residenciais da rua das Laranjeiras, moradias de integralistas conhecidos. Outros edifcios, onde entravam e saiam homens a toda hora, foram sujeitos a estreita vigilncia, sendo o dr. Israel posto a par de tudo que ocorria. A autoridade, tomando rpidas providncias, entendeu-se com os Ministrios de Guerra e da Marinha, Polcia Especial e Militar. Aos 4 minutos de hoje foram ouvidos os primeiros disparos, partidos de vrios pontos da cidade. era o incio do levante, e providncias para debelal-o foram tomadas com a maior urgncia. A ao repressora da Polcia Civil fez-se sentir mais energica no Palcio Guanabara, residncia do presidente da Repblica. No momento em que a guarda ia ser rendida, houve motim. (...)" Dirio da Noite, 11 de maio de 1938 AS MANCHETES: Cresce A Repulsa do Povo Brasileiro Contra A Odiosa Intentona Verde - O Crime Dos Renegados - O Assalto Ao Guanabara No Impressionante Relato De Um De Seus Defensores ( Dirio Carioca ) Resistindo E Dominando A Intentona Verde O Presidente Getlio Vargas Ofereceu Ao Brasil Provas eloquentes De Que A Nacionalidade No Podia Escolher Mais Bravo E Nobre Guardio De Sua Integridade! ( A Nao ) Jugulada A Infmia Verde ( A Nao ) Jugulada, Completamente, A Segunda Mashorca Integralista ( Correio da Noite ) Dominado O Levante Dos Integralistas ( A Batalha ) Os Revoltosos Sero Julgados Sumariamente Pelo Tribunal de Segurana - Golpe Integralista Irrompeu Meia Noite, Em Vrios Pontos da Cidade Um Movimento Sedicioso Prontamente Reprimido - Assaltados O Palcio Guanabara, O Ministrio E O Arsenal Da Marinha, Estaes Ferrovirias, Difusoras E Telefnicas, A Residncia Dos Generais Goes Monteiro e Valentim Benicio -Terrorismo No Centro Urbano - Incndios, Tiroteios E Correrias - Tentativa Contra O Tesouro E A Inspetoria de Veculos - Muitos Mortos E Muitos Feridos ( Dirio da Noite )  40) Vargas Deposto (1945) "O Brasil viveu ontem horas de intensa agitao provocada pela atitude de intransigncia do Sr. Getlio Vargas. O ditador, apoiado pelos "queremistas", planejou e executou o seu ltimo golpe, com a nomeao de seu irmo Benjamin, para a Chefatura de Polcia. Indiretamente, fez-se sentir um grande movimento de repulsa, que culminava com a sua renncia ao poder, consequncia de seu "ultimatum" que lhe foi feito pelas classes armadas. Logo aps ter transmitido a chefia de Polcia ao Sr. Benjamin Vargas, desde ontem titular do posto em substituio ao antigo coordenador, o Sr. Joo Alberto esteve no Ministrio da Guerra tendo-se feito acompanhar pelo comandante da Polcia Especial, o Sr. Eusebio de Queiroz. Ali estiveram em demorada conferncia com o general Ges Monteiro. Ao terminar a reunio, que durou mais de uma hora, pde ser notado intenso movimento naquele Ministrio, fato que ainda mais chamou a ateno em virtude de terem sido trancados os portes fronteiros e laterais, no sendo permitido, portanto, nem a entrada nem a sada de civis. Imediatamente foi proclamada rigorosa prontido para todas as tropas que servem ali. Enquanto isso, a cidade se enchia dos mais alarmantes boatos, e os nossos telefones no cessavam de tilintar todos vidos de informaes. Por volta das 18 horas, tropas do Exrcito ocupavam a praa da Repblica, colocando imediatamente nos principais entroncamentos metralhadoras. O trnsito ficou desde logo impedido para veculos, salvo os de carter forado. E quanto aos pedestres, s podiam passar os que se destinassem a suas residncias. s 18,30 horas, tivemos informaes de que as tropas motomecanizadas sediadas no Derbi Clube compostas de tanques, se dirigiam para o centro da cidade, certamente para reforar as que j se encontravam na Praa da Repblica. (...) Pouco depois das 19 horas, trs caminhes do Exrcito, com soldados armados, saiam do Ministrio da Guerra em direo ao Palcio do Catete, a fim de guarnec-lo. Tambm o Palcio Guanabara estava guarnecido por tropas que imediatamente interditaram o trnsito pelas ruas Paissand e lvaro Chaves. (...) A Avenida Presidente Vargas, em toda a sua extenso, ficou desde cedo ocupada por tropas do Exrcito, constitudas do 3o Regimento de Carros de Combate e, s 20 horas, chegava ao mesmo local o 1o Grupo de Obuzes. (...) Depois de tomarem conhecimento da exonerao do Sr. Henrique Dodworth, os secretrios da Prefeitura solicitaram tambm exonerao coletiva. Foi oficialmente noticiada a nomeao do Sr. Joo Alberto, novo prefeito do Distrito Federal. A comunicao da exonerao do Sr. Henrique Dodworth lhe foi dada por telefone pelo Sr. Agamenon Magalhes. (...) s 11,30 da noite de ontem, depois dos acontecimentos que so do domnio pblico, o Sr. Getlio Vargas renunciou, entregando o Governo ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Jos Linhares. s duas horas e meia, realizou-se, no Ministrio da Guerra, perante os chefes militares, a posse do Ministro Jos Linhares, como Presidente da Repblica Perguntado pelo representante de Resistncia, se haveria restabelecimento de censura imprensa, o Ministro Joo Alberto exclama: Os senhores esto proibidos de falar sobre esse assunto. No h, e jamais haver censura imprensa. Peo a todos, pois, uma colaborao leal e de sentido construtivo, dentro da mais ampla liberdade." Resistncia, 30 de outubro de 1945 "O general Pedro Aurlio de Ges Monteiro, em nome das Classes Armadas, declara que o Exmo. Sr. Presidente da Repblica, diante dos ltimos acontecimentos e para evitar maiores inquietaes, por motivos polticos se afastar do Governo, transmitindo o poder ao Presidente do Supremo Tribunal Federal (...) Cumprindo a 1a Regio Militar assegurar a ordem na Capital Federal e evitar qualquer explorao de elementos indesejveis, previne-se populao que, por medida de ordem, foi determinada a prontido rigorosa de todas as unidades. Medidas de segurana esto sendo tomadas, de combinao com a Marinha, Aeronutica e Polcia Civil e Militar. Todos os oficiais, sargentos e demais praas, ao terem conhecimento desde aviso devero se recolher aos respectivos quartis. No Ministrio da Guerra, ontem noite, o general Cordeiro de Farias, por incumbncia do general Gis Monteiro, falou aos jornalistas, informando-os a respeito dos acontecimentos do dia. O general Cordeiro de Farias comeou dizendo que ao serem informados da nomeao do Chefe de Polcia do Distrito Federal, os generais estiveram reunidos no Ministrio da Guerra, examinando a situao. A reunio foi presidida pelo general Gis Monteiro, ministro da Guerra, que se manifestou solidrio com os seus camaradas de armas, enviando ao presidente da Repblica o seu pedido de exonerao do cargo que vinha ocupando no seio do governo. Os generais dirigiram ento um aplo ao general Gois Monteiro para que, no j como ministro da Guerra, mas como Comandante Supremo do Exrcito, se colocasse testa do mesmo, tendo em vista os altos interesses da nao brasileira e da tranquilidade nacional. (...) O general Gis Monteiro, como Comandante do Exrcito, designou para chefe de seu Estado maior o general Cordeiro de Farias. mais tarde o general Cordeiro de Farias, em companhia do ministro Agamemnon Magalhes e do general Firmo Freire, dirigiu-se ao Palcio Guanabara a fim de informar o presidente Getlio Vargas, a cerca do que se estava passando. O presidente autorizou ento o general Gis Monteiro a dirigir ao pas a proclamao cuja cpia o general Cordeiro de Farias deu ali mesmo aos jornalistas. Nessa proclamao se anuncia que o presidente Getlio Vargas declarou que se afastaria do governo, transmitindo-o ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Jos Linhares. O general Cordeiro de Farias comunicou ainda que o Ministrio da Guerra manteve constante entendimento com os comandantes de todas as Regies Militares, as quais se manifestaram solidrias com a deciso dos generais nesta capital. O ministro Joo Alberto reassumiu a Chefatura de Polcia." A Manh, 30 de outubro de 1945 "O general Cordeiro de Farias reuniu os jornalistas, na madrugada de hoje, para expor os vrios fatos que de desenrrolaram ontem, nesta Capital, e que terminaram com a renncia do Presidente da Repblica, que passou o poder ao Presidente do Supremo Tribunal Federal. O general Cordeiro de Farias disse de incio: O general Gis Monteiro, quando se tornou pblica a nomeao do chefe de Polcia do Distrito Federal, deliberou renunciar ao cargo de Ministro da Guerra, dirigindo uma carta ao Sr. Presidente. No entanto, atendendo a um apelo dos generais, inclusive em radiogramas dos comandantes das diversas Regies Militares que secundaram com o seu apoio os colegas que aqui se reuniram, resolveu permanecer como Comandante Em Chefe do Exrcito Brasileiro, nomeando-me para Chefe de seu Estado Maior. Nesta ocasio - continuou Cordeiro de Farias - foram dadas ordens s Unidades do Exrcito para se deslocarem para as proximidades do Quartel General, o que teve incio aproximadamente s 18 horas. Estas foras ficaram em situao de poder executar qualquer ordem que se fizesse necessria. Continuando, disse: Desde o incio, estiveram presentes no Ministrio da Guerra os Srs. general Eurico Gaspar Dutra e brigadeiro Eduardo Gomes, tendo tambm comparecido o ministro Agamemnon Magalhes e o Chefe da Casa Militar do Presidente da Repblica, general Firmo Freire. s 21,30 horas - continuou o general Cordeiro de Farias - acompanhado do ministro Agamemnon Magalhes e do general Firmo freire, dirigi-me para o Palcio Guanabara, onde, em nome do general Gis Monteiro, dei conhecimento ao Presidente dos acontecimentos que estavam se desenrolando. Por essa ocasio, transmiti ao Sr. Presidente o apelo do general Gis Monteiro que, j nesse momento, falava em nome do Exrcito, Aeronutica e Marinha, para que, com o seu esprito de patriotismo, evitasse o ensanguentamento da famlia brasileira - declarando-lhe tambm a firmeza da deciso das classes armadas - que no desejavam a luta, principalmente nas regies onde estava sediado o Governo. Atendendo a esse apelo o Sr. Presidente da Repblica acedeu, dizendo-se pronto a entregar as funes do Governo ao Presidente do Supremo Tribunal Federal e dizendo que neste sentido poderia o general Gis Monteiro fazer uma proclamao ao pas. (...) O Radical, 30 de outubro de 1945 "Apesar das desesperadas tentativas dos polticos das oposies coligadas, que, com a constante confuso que estabelecem no esprito pblico, procuram insinuar que o pas est sendo governado por uma ditadura militar, o povo no deve iludir-se com essa manobra. O Chefe do Governo o Sr. Getlio Vargas e com ele esto as nossas foras armadas e Nao." Correio da Noite, 29 de outubro de 1945 "Resolveu-se em poucas horas, com a rapidez dos acontecimentos csmicos, a crise que nos ltimos meses ensombrava os horizontes da Nao, ameaando, na tarde de ontem, degenerar em guerra civil. A mudana de altos dignatrios do governo foi sinal decisivo para a mudana de ritmo nos fatos cujo lento desenrolar era um cauterio permanente sobre os nervos tensos da populao. A ao do Exrcito foi rpida. As tropas motorizadas desceram para a Cidade e tomaram posio nos pontos estratgicos, foram guardados os palcios do governo, ocupadas as estaes radiotelegrficas, alinhados os tanques ao longo da Avenida Presidente Vargas e ficaram de prontido as tropas no Campo de Santana. de justia ressaltar nesse momento o esprito de renncia e o bom senso com que o Sr. Getlio Vargas aceitou os acontecimentos, evitando com a sua pronta aquiescencia declarao dos generais, momentos de intranquilidade e de desordem na capital da Repblica. (...) Segundo informaes oficiais reina a mais completa tranquilidade em todo o pais. Nenhuma modificao foi feitas nas administraes estaduais, salvo no Par, onde o interventor Magalhes Barata havia se demitido, a fim de concorrer s eleies. Para no ficar o governo acefalo o gal. Alexandre Zacharias de Assuno, comandante da Regio, tomou posse interina daquelas funes acumulativamente. s 11 horas esteve no Palcio da Guerra, onde conferenciou com o General Ges, o Ministro Jos Linhares. O novo presidente da Repblica dever tomar posse s 15 horas, no Palcio do Catete. O general Ges Monteiro, na manh de hoje, convidou a todos os generais para assistirem cerimonia de entrada em exercicio do ministro Jos Linhares no cargo de Presidente da Republica, que ter lugar s 15 horas de hoje, no Palcio do Catete. s 11 horas de hoje, chegou ao Palacio do Exercito o ministro Jos Linhares, novo chefe do Governo. S. Excia. entrou logo em conferencia com o general Ges Monteiro e outras altas autoridades ali presentes. Essa conferencia prosseguia ainda s 12 horas. (...) Correio da Noite, 30 de outubro de 1945 "Aps a cerimnia de posse, no Ministrio da Guerra, A Noite procurou o presidente Jos Linhares. (...) A finalidade de minha misso fazer realizar as eleies j marcadas para 2 de dezembro prximo. E depois de tecer consideraes em torno da hora que o pas est vivendo, concluiu: A minha responsabilidade muito grande mas a das Foras Armadas ainda maior. Pouco depois da meia noite, o Sr. Getlio Vargas j havia assinado, no Palcio Guanabara, o ato de sua renncia formal. O ministro da Justia, Sr. Agamemnon Magalhes tomando-a em mos, deixou imediatamente o Palcio, dirigindo-se, de automvel, ao Quartel General, onde se encontravam reunidos os generais. O documento histrico foi entregue ao general Gis Monteiro alguns minutos depois. (...) Cerca de duas horas da madrugada ainda era bem grande o movimento de militares, autoridades e jornalistas no Palcio da Guerra, pois corria a notcia de que o ministro Jos Linhares, novo presidente da Repblica, dentro de poucos minutos tomaria posse no mais elevado cargo na administrao do pas e que a mesma teria lugar no gabinete do ministro da Guarra. (...) Antes de falar imprensa, por intermdio do general Oswaldo Cordeiro de Farias, o general Gis Monteiro, lanou a seguinte nova proclamao: O general Pedro Aurlio de Gis Monteiro, em nome das Classes Armadas, declara que o Exmo. Sr. Presidente da Repblica, diante dos ltimos acontecimentos e para evitar maiores inquietaes, por motivos polticos se afastar do Governo, transmitindo o poder ao presidente do Supremo Tribunal Federal. O Sr. Presidente far uma proclamao ao povo brasileiro, concorrendo com sua renncia e alto patriotismo para que a ordem publica no sofra a soluo de continuidade e se mantenha inaltervel o prestgio do Brasil." A Noite, 30 de outubro de 1945 AS MANCHETES: Nosso Governo Civil ( Correio da Noite ) Reina Ordem Em Todo O Pas ( Correio da Noite ) A Histria E O Tempo Falaro Por Mim, Discriminando Responsabilidades Despedindo-se Do Povo Brasileiro, Em Mensagem Antes De Embarcar O Ex-Presidente Getlio Vargas Diz Que No Guardar Nem dios Nem Prevenes Pessoais - A Integra Do Documento ( Correio da Noite ) Getlio Vargas Lanar Uma Proclamao Ao Povo Brasileiro - A Renncia Do Chefe Do Governo Para Evitar O Ensanguentamento Da Famlia Brasileira O Ministro Jos linhares O Novo Presidente - Volta Chefia De Polcia O Ministro Joo Alberto - O General Gis Monteiro Aclamado Chefe Do Exrcito - Empossado O Novo Governo - Outras Notas ( O Radical ) Os Acontecimentos De Ontem - Com A Renncia Do Sr. Getlio Vargas, Assumir O Governo O Presidente Do Supremo Tribunal Federal - A Reunio Dos Generais No Ministrio Da Guerra - O General Gis Monteiro No Comando Do Exrcito - O General Dutra E O Brigadeiro Eduardo Gomes Na Reunio ( A Manh ) Deposto Getlio Vargas ( Resistncia ) Dever Deixar O Rio, Amanh, O Sr. Getlio Vargas Empossado No Governo O Ministro Jos Linhares O Presidente Linhares Fala A A Noite ( A Noite ) Hoje No Catete O Novo Presidente ( A Noite ) Empossado No Governo O Ministro Linhares ( A Noite ) Partiu Para So Borja O Sr. Getlio Vargas ( A Noite )  41) Fechamento dos Cassinos (1946) "O ministerio esteve reunido hoje, pela manh, sob a presidncia do general Eurico Gaspar Dutra, chefe do Governo, com a presena de todos os secretarios de Estado e do chefe do Departamento Federal de Segurana Pblica. A sesso que teve inicio um pouco antes da 10 horas, prolongou-se at s 12,45. saida do ministro da Justia, dr. Carlos Luz, abordado pelos jornalistas presentes declarou que um dos principais assuntos tratados foi o concernente medidas de combate ao comunismo. O nosso redator indagou se havia sido deliberado o fechamento do Partido Comunista, tendo S. Excia respondido negativamente, declarando, ainda, que apenas se traara um plano geral sobre a questo. A seguir entregou aos jornalistas uma cpia do seguinte decreto-lei que manda extinguir o jogo em todo o territrio nacional, que hoje foi assinado e que foi o outro assunto importante ventilado na reunio: - O presidente da Repblica, usando da atribuio que lhe confere o artigo 180 da Constituio e considerando que a represso aos jogos de azar um imperativo da conscincia universal; considerando que a legislao penal de todos os povos cultos contem preceitos tendentes a esse fim; considerando que a tradio moral, jurdica e religiosa do povo brasileiro contrria prtica e a explorao dos jogos de azar; considerando que das excees abertas lei geral decorreram abrigos nocivos moral e aos bons costumes; considerando que as licenas e Concesses para prtica e explorao dos jogos de azar na Capital Federal e nas estancias hidroterapicas balnearias ou climticas, foram dados titulo precrio, podendo ser cassadas em qualquer momento; Decreta: Artigo 1 - Fica restaurada em todo o territorio nacional a vigncia do artigo 50 e seus pargrafos da lei de Contravenes penais, decreto-lei 3.688 de 2 de outubro de 1941. Artigo 2 - Esta lei revoga os decretos-leis nos 241 de 4 de fevereiro de 1938, no 5089 de 15 de dezembro de 1942 e no 5192 de 14 de janeiro de 1943 e disposies em contrrio. Artigo 3 - Ficam declaradas nulas e sem efeito todas as licenas, concesses ou autorizaes dadas pelas autoridades Federai, Estaduais e Municipais, com fundamento nas leis ora revogadas ou que de qualquer forma contenham autorizao em contrrio ao disposto do arigo 50 e seus pargrafos das leis das contravenes penais. Artigo 4 - Esta lei entra em vigor na data de sua publicao. O titular da Justia continuando a palestra com os representantes da imprensa informou que na prxima reunio ministerial prosseguiria o assunto relativo ao combate ao Comunismo e que seriam tratados outros assuntos de relevncia, pois, hoje no houvera tempo para isso. O general Gis, cercado pelos jornalistas fazendo blague, disse apenas: - Nada houve hoje do meu jogo." Correio da Noite, 30 de abril de 1946 "O presidente da Republica, general Dutra, reuniu o Ministrio e baixou o decreto que extingue o jogo, em todo o pas. A repercusso dessa providncia do govrno nesta capital e nos Estados foi mais do que impressionante, verdadeiramente sensacional. As edies dos vespertinos esgotaram-se rapidamente, sob o enthusiasmo dos comentrios populares. A deciso enrgica das altas autoridades da Repblica, a maneira como foi redigido o decreto, que nem ao mesmo adiou a aplicao de seus efeitos por um prazo qualquer, de vez que a lei entra em vigor, hoje mesmo, logo que o "Dirio Oficial" a publique - tudo isso mostra que o chefe do govrno est allertado e vigilante na defesa dos mais altos interesses nacionais. O povo brasileiro congratula-se efusivamente com o Presidente Dutra por essa lei que acaba de emitir. O Radical foi o nico jornal que, num longo perodo da vida pblica brasileira, jamais deixou de combater o jogo, vendo nele um mal social de efeitos terriveis. Da decorre a ntima satisfao com que vemos embora sem surpresa para ns, o gen. Dutra decretar a guerra de morte s tavolagens, que iam proliferando no Brasil como orelhas de pau em madeira podre. A onda da jogatina, partindo das estaes termais, passou s estaes balnerias, ganhou todo o interior do pas, nas suas vrias modalidades, havendo, como houve, homens do govrno que tiravam dessa tremenda infeco social verbas destinadas a despesas com a administrao. (...)" O Radical, 1 de maio de 1946 "Foi com indisfaravel surpresa e mesmo com ansiosa expectativa, que a cidade recebeu a notcia do decreto do presidente da Repblica, extinguindo o jogo em todo o pas. A medida, pela sua propria natureza, despertou varios comentrios, mas verdade que, se diga que a maioria viu com a maior simpatia o decreto governamental. Em ampla e oportuna "enqute", A Manh ouviu representantes de todas as classes sociais. O cardeal D. Jaime Cmara, com a autoridade de sua palavra, falou ao reporter sobre os beneficios que adviro dessas medidas. Tambm se fizeram ouvir expoentes do espiritismo e do protestantismo. No foi esquecido, igualmente o homem do povo que moureja, e que, mais facilmente, tentado batota, deixando ali, no raro, o produto de trinta dias de rduo labor. Nesse inquerito que fizemos, e que to bem compreendido foi pelos que nle depuseram, como de resto ser pelos nossos leitores, tivessemos esse mesmo objetivo para o qual foi feito o decreto de ontem: mostrar que o jogo, efectivamente, perverte o homem e corrompe a sociedade. E a reportagem de A Manh, dando incio sua "enqute", ouviu na tarde de ontem, algumas horas depois de divulgado o importante ato, sua Emminencia o Cardeal D. Jaime Cmara, chefe supremo da Igreja Catlica no Brasil. Nossa reportagem foi gentilmente recebida pelo eminente prelado, que se ps inteiramente ao dispor do reporter. Fala-nos sua Emminencia: - J estava esperando tal medida, dada a orientao que o Govrno manifestou h tempos passados. Entretanto, no trabalhei para isto. A medida se impunha para elevar o nivel moral e social dos brasileiros. Agora, se h problemas anexos extino do jogo... Com um bondoso sorriso de simpatia e tolerancia sua Emminencia concluiu: - Foi uma grande soluo. O Presidente no um govrno de precipitao. (...) Passamos pelo largo de S. Francisco quando o imenso sino da igreja do mesmo nome anunciava, com sonoras e compassadas pancadas a Ave Maria. Eis que o fotgrafo Horacio nos d uma grande idia: ouvir o sineiro. Subimos 110 degraus e chegamos ao cimo da torre. Jos Lamas, o sineiro de 59 anos de idade, foi tomado de surpresa, quando ainda acionava as cordas do sino. A pergunta foi-lhe feita. - Eu esperava este gesto do brigadeiro Eduardo Gomes, dono de minha simpatia, caso fosse eleito. Mas, vejo agora, mais do que nunca, que o Presidente Gaspar Dutra um grande presidente; no esperava a medida. Mas gostei. Nunca joguei. Tenho terrivel averso ao jogo. As vezes, em casa falam em jogo do bicho. Quando ouo isso, fico seriamente aborrecido. H 23 anos trabalho nesta Ordem e h 41 anos na Ordem de Terceira de Bom Jesus do Calvrio. E concluiu: - Nunca bati uma Ave Maria com tanto entusiasmo. (...)" A Manh, 1 de maio de 1946 "O recente ato do Governo Federal extinguindo o jogo em todo o territrio nacional atingiu decisiva e inapelavelmente um dos pais importantes setores da atividade social: o Teatro. No seria exagero acentuar que, realmente existiu de parte do Governo indesculpvel inadvertencia. As condies objetivas do meio social brasileiro no apresentam, como acontece na Inglaterra, por exemplo, condies prprias no incentivo do setor artistico do povo. Por isso julgamos inadvertido o Governo, atingindo exabrutamente os profissionais que, trabalhando nos casinos se encontram, da noite para o dia, ao desemprego e, - o que catastrofico - se viram desempregados: atores, cantores, bailarinos, musicos, enfim, um verdadeiro mundo onde o ingresso independe de simples desejo de ganhar a vida mas, exige, ao contrrio, vocao, estudo, perseverana e talento. (...) Abordando a questo nester termos, Resistncia, como a maioria da imprensa democrtica do pais, no poderia deixar de atender uma realidade a existncia de um problema cuja soluo se encontra nas prprias mos de quem, orientando-se num sentido respeitvel e mesmo louvvel, decretou o fechamento do jogo, como necessidade imperiosa diante problemas gravissimos na vida da nao. Queremos dizer que, o sr. Presidente Eurico Gaspar Dutra, usando de atribuies conferidas na transitoriedade da Lei vigente, poderia, alertado com as novas condies criadas pelo seu desejo de solucionar problemas sociais, agir rapidamente e eficientemente no sentido de que, o Teatro Brasileiro no sofra to rude golpe em seu futuro. (...) Coerente com as suas diretivas, Resistncia inicia um movimento de apoio s reivindicaes de todos aqueles que, por fora do decreto-lei que extinguiu o jogo, se viram em situao de inesperado desajustamento em sua atividade laboriosa. (...)" Resistncia, 5 de maio de 1946 " com verdadeira emoo e sem reservas nos aplausos devidos que, hoje, nestas colunas, onde tantas vezes profligamos a jogatina e outras tantas vezes nos vimos privados de combate-la, registramos o ato do Governo da Repblica determinando a pura e simples vigencia do sispositivo das leis penais proibitivo da explorao dos jogos de azar, que havia sido suspenso por um ato tpico da ditadura estadonovista. No hesitamos em trazer as mais calorosas congratulaes ao presidente, que o assinou, num assomo de dignificao do poder, verdadeiramente restaurados de linhas essenciais da moral publica do pas, e penetrado de corajoso nimo saneador e, em essencia, coerente com o pensamento do ministro da Guerra signatario de serena e enrgica recomendao aos seus comandados ao tempo em que a industria do pano verde era uma das colunas basilares do regime. Cumprimos o dever de ressaltar toda a significao do decreto-lei ontem assinado, recordando que, de inicio, no pudemos manifestar confiana na firmeza com que o atual presidente enxergaria o assunto. que, embora o passado limpo e a incontestada honradez pessoal de s. ex. autorizassem a crer na sua sincera averso ao jogo, no haviamos de subestimar a influencia das correntes que apoiaram a sua candidatura, entre as quais se encontraram fartos exploradores da roleta, em todo o pas, alarmados pela leal e clara definio do candidato adversario, o brigadeiro Eduardo Gomes. (...) Maior , pois, o entusiasmo com que assinalamos a medida ontem decretada, pois contem ela um inegavel sentido afirmativo contra certos entorpecentes da ao moralizadora atribuida ao Estado. Vem ela ao cabo de anos e anos de campanha tenaz, que este jornal sustentou, sozinho, seja recusando no s a publicidade ostensiva dos cassinos, como de suas roupagens artisticas e turisticas, seja profligando doutrinariamente o vicio, seja provocando pronunciamentos de vozes autorizadas, muitas vezes sofrendo vedaes e castigos. (...)" Dirio de Notcias, 1 de maio de 1946 "Apesar de no ser um ato politico no sentido restrito do termo, o Decreto-lei extinguindo os jogos de azar em todo o territrio nacional, ontem assinado pelo Presidente da Repblica, o , no sentido amplo da palavra, pois que marca de modo incisivo os rumos moralizadores do novo Governo. Nesse sentido compreende-se a grande e excelente repercusso que o mesmo causou em todas as classes sociais e, principalmente, na Assemblia Nacional Constituinte. Os comentarios que ali se faziam ao ato do General Eurico Gaspar Dutra eram os mais elogiosos. Nos aplausos deciso moralizadora do Poder Executivo confundiam-se governantes e oposicionistas. O sr. Lino Machado que se vem distinguindo pela energia e continuidade com que critica os atos do Governo passado e mesmo do atual, foi tribuna da Assemblia para dizer que, embora contrario aos Decretos-leis, queria, com a mesma sinceridade com que, por vezes, discordava do Governo, aplaudi-lo agora com entusiasmo, pelo seu ato, que considerava e proclamava um grande Decreto. E depois de emitir mais algumas consideraes, sempre apoiado pela Assemblia, o sr. Lino Machado abandonou a tribuna entre os aplausos unanimes da Casa." Jornal do Brasil, 1 de maio de 1946 AS MANCHETES: Extino Do Jogo E Combate Ao Comunismo ( Correio da Noite ) O General-Presidente Resgata A Palavra Dada Nao - Revestiu-se De Aspecto Sensacional A Providencia Do Governo Extinguindo A Jojatina Em Todo O Pais - O Boatejar Dos Exploradores Do Jogo Estava Comprometendo A Honra De Respeitaveis Autoridades Publicas - O Decreto Restabelece O Respeito Ao Cdigo Penal - O Povo Sempre Confiou No Presidente Dutra ( O Radical ) Todos Contra O Jogo - "A Manh" Ouve Representantes De Todas As Classes Sociais, Acerca Do Sensacional Decreto Do Govrno - Trs Religies, Por Seus Intrpretes, Opinam Na "Enqute" - Tambm Os Homens Do Povo ( A Manh ) Duro Golpe No Futuro Artstico Do Pais! ( Resistncia ) Extingue-se Uma Praga Social Que A Ditadura Havia Instituido No Brasil No Houve Tempo Para Despedidas... Ontem Mesmo Deixou De Funcionar A Batota - Os Cassinos No Abriram Os Sales Dos "Grills" - Decepo E Satisfao - Opina Um Empregado - Insulto Imprensa - As Que No Se Conformam Com A Extino Do Jogo ( Dirio de Notcias ) A Repercusso Na Assembleia Constituinte Do Decreto-Lei Que Extinguiu O Jogo ( Jornal do Brasil )  42) Copa do Mundo (1950) "Aqueles que compareceram ao Estdio Mendes de Morais, na tarde de ontem, cheios de f e alegria no onze brasileiro jamais poderiam imaginar que, numa partida decisiva, onde bastava o empate para nos dar o ttulo mximo, pudessemos deixar o gramado vencidos. E sobretudo vencidos por um quadro que, embora fazendo jus ao triunfo, por ter aproveitado as duas oportunidades que se lhe ofereceram, foi, no atual certame, menos produtivo e menos positivo do que a equipe brasileira. Por isso mesmo, o espetculo que se desenrolou aos nossos olhos, aps o apito final de Georges Reader, foi desses que, por suas caracteristicas impressionantes, to cedo no sairo da retina daqueles que tiveram o ensejo, o triste ensejo, digamos assim, de presenci-lo. Aquela multido de duzentas mil pessoas no teve coragem de deixar o estdio. Tinha-se a impresso que estvamos em um Dia de Finados, assistindo ao enterro de um ente querido. As dependencias do "Colosso do Derbi", pareciam lotadas por milhares e milhares de parentes e amigos do suposto defunto, que o pranteavam, num silncio s interrompido pelos soluos de muita gente que no resistiu intensidade da dr. L em baixo, no gramado, os jogadores uruguaios, ao comemorar o grande a grande conquista, pareciam ateus profanando um lugar sagrado... Quando, minutos depois, a massa comeou a deixar o estdio, a tristeza estava estampada em sua fisionomia. Por tdas as ruas, por tdos os cantos, a mesma decepo, a mesma dr. A cidade adormeceu de luto... (...) Tristeza geral causou a vitria do Uruguai sbre a seleo brasileira, na tarde de ontem, justamente no momento em que o campeonato do mundo estava ao alcance de nossas mos. Tristeza geral, repetimos, mas no a tristeza mansa dos que sabem perder; era antes uma espcie de revolta contra tudo e contra todos, a condenao inapelvel dos nossos jogadores, a severa crtica contra a nossa ttica de jogo e, finalmente, um mundo de acusaes desabando, implacvel, contra o tcnico Flvio Costa. Numerosas substituies de jogadores comearam, de repente, a ser apontadas como necessrias a uma vitria que j estava bem distante. Os mesmos jogadores que abateram com tremendas goleadas os selecionados da Espanha e da Sucia, j no se apresentavam aos olhos do pblico como os esforados "cracks" que tantos aplausos mereceram... Tudo estava esquecido, condenado, imprestvel. Zizinho, apenas, era o condutor das mais belas jogadas. Mas, Jair no passava de um fantasma danando na tarde triste do Maracan; e Ademir, o goleador em primeiro lugar na Copa do Mundo, era to intil quanto uma coisa morta. Esse o terrivel julgamento do nosso pblico aps soar o apito final... H, porm, muita coisa esquecida. Na pressa das concluses ditadas pela decepo da grande surpresa, foi esquecido o prprio valor dos jogadores uruguaios; o fator sorte, to importante em futebol, que favoreceu em todos os sentidos a seleo oriental; e, mais do que tudo, a prpria razo de todos os acontecimentos. Um dia, Napoleo, meio louco e meio soldado, saiu da Frana e comeou a dominar o mundo. Os seus exrcitos foram crescendo em entusiasmo e se transformaram numa gigantesca horda invencvel. A Histria narra os seus feitos mais incrveis, as suas conquistas quase impossveis, os seus lances de heroismo. Ningum podia vencer Napoleo e le, em seus sonhos de louco, j se considerava o senhor do mundo. Mas nasceu a derrocada do inesperado: Waterloo. Seria possivel a destruio dos exrcitos e dos planos do poderoso conquistador? Em Santa Helena, sozinho e amargurado, le prprio no encontrou a explicao que o universo inteiro procurava, atnito. Ele apenas perdera a batalha... A seleo do Uruguai equivale ao nosso Waterloo na "Copa do Mundo". Envolvidos pelo entusiasmo justissimo das vitrias iniciais, com a ntida superioridade sbre os jogadores europeus, esquecemos a possibilidade de uma surpresa to desagradvel e to inesperada. Comeamos, portanto, a procurar justificativas numa provvel e inexistente culpa dos nossos jogadores e do seu tcnico. Esquecemos tudo, at mesmo a nossa condio de "donos da casa", de organizadores, em 1950. Felizmente, no tiveram maiores consequncias os comentrios das rodas exaltadas. Pouco a pouco, vai nascendo maior ponderao nos julgamentos, menos apressados, e fazemos raciocnios. Vamos recebendo a amarga derrota como ela deve ser aceita e acatada: com a certeza de que, pelo menos, ontem, tarde, os uruguaios jogaram melhor futebol. E com les estava a sorte e o destino da Copa do Mundo..." Folha Carioca, 17 de julho de 1950. "E o que ningum previa aconteceu. O Brasil perdeu o campeonato do mundo na ltima partida, ficando o cobiado trofeu em poder dos uruguaios. Foi mais uma lio, dentre as tantas que j temos tido, deixando fugir o triunfo a hora decisiva. E agora no existe qualquer desculpa. Das outras vezes culpava-se o ambiente estranho, a torcida contrria, o juiz e tantas outras coisas que seriam de conslo s derrotas que tantas vezes j nos impuseram argentinos, italianos e os prprios uruguaios, de quem somos velhos fregueses. Domingo tinhamos tudo a nosso favor: o campo, a torcida e, alm disso, o "handicap"do empate que nos garantiria o titulo. O juiz Mr. Reader teve uma arbitragem perfeita e a le no se pode atribuir a menor responsabilidade pelo fracasso do nosso selecionado. Perdemos porque jogamos menos. Os uruguaios foram superiores na tcnica e no corao. A Taa "Jules Rimet" est em boas mos. Nas mos daqueles que na hora decisiva souberam disput-la com classe e com flama. So les os merecedores do ttulo de campees do mundo. Quem assistiu o quadro nacional jogar com a Sucia e com a Espanha, uma verdadeira orquestra sinfnica, nem por sombra reconheceria o mesmo quadro naquele que domingo jogou no Maracan contra os orientais. A sinfnica desafinou e diluiu as esperanas dos duzentos mil espectadores que madrugaram no estdio e dos milhes de torcedores de todo o pas que pelo rdio acompanhavam ansiosos o desenrolar da peleja. Muitos argumentam com o azar para explicar a derrota, mas no reside no impondervel a explicao do fracasso. Ele veio em consequncia do bom desempenho dos uruguaios e das falhas do nosso "onze". Falhas que sempre existiram e que nos cansamos de apontar desde os primeiros jogos. O nosso quadro jogou sempre, praticamente com trs homens na linha de frente - Zizinho, Ademir e Jair. Os pontas Chico e Friaa jamais tiveram condies tcnicas para integrar a seleo. Quando se tratava de enfrentar adversarios mais fracos e principalmente que adotam o sistema europeu de jogo, sem marcao pessoal sbre os jogadores, as falhas desapareciam e os elementos fracos eram esquecidos ante a virtuosidade e a eficincia do trio central. Mas com os uruguaios a coisa foi diferente. Eles adotam sistema de jgo semelhante ao nosso, marcando rigidamente os dianteiros, e, alm disso, sabiam que o "team do Brasil resumia-se, na linha atacante, a Ademir, Zizinho e Jair. Sbre stes trs homens, foi feita uma marcao eficiente, um verdadeiro bloqueio e o resultado no se fez esperar. Na final o "placard" acusava 2 a 1 para os uruguaios. A responsabilidade principal recai, pois, sbre o tcnico, teimando em incluir um Friaa bizonho e sem condies de jgo e insistindo com um Chico confuso e dispersivo, quando tinha um Rodrigues em plena forma para ser lanado. Adozinho, outro elemento de valor, ficou todos os jogos na crca quando poderia ser lanado no centro, deslocando-se Ademir para a ponta direita, como o prprio Flvio j fez uma vez com excelentes resultados, num sul-americano. Alm disso, faltou aos nossos jogadores, a flama necessria, coisa que sobrou aos nossos adversrios. Do naufrgio salvaram-se Zizinho, Bauer, Augusto e Juvenal. Os restantes deixaram-se levar pelo nervosismo e jogaram abaixo da critica, inclusive Jair, acovardado com a marcao severa do velho Obdulio Varela. E como se no bastasse tudo isso, Bigode, um jogador sempre eficiente, disputou uma partida sem qualificativo, fazendo asneiras a grande e deixando-se bater tdas as vezes pelo admirvel Gighia, o ponta direita do Uruguai. Tambm Barbosa esteve num dia negro, engolindo um autntico frango no "goal" que deu a vitria aos orientais. (...)" Dirio do Povo, 18 de julho de 1950 "Perdeu o quadro brasileiro, na tarde de anteontem, uma oportunidade que jamais teve qualquer outro, para o conquista do titulo mximo do fuebol mundial. No foi correspondido o sacrificio de milhares de torcedores. Para o quadro nacional, no mediram exigencias, aqueles que tudo receberam com abnegao as inmeras dificuldades. Desde noites ao relento at o perigo constante aps, a entrada no Estadio. Sofreu o torcedor contra todos os fatores, com um unico desejo. Vitoria do quadro nacional. E, infelizmente, no foi correspondido todo este sacrificio. Vimos um quadro sem a mnima noo do que significava aquela massa humana comprimida desde as primeiras horas da manh. Jogaram os nossos, com um completo desinteresse pelo resultado final da luta contra os uruguaios. No faltou ao quadro nacional, nada absolutamente nada para jogarem com mais estimulo. Assim, o resultado foi um "scratch" psicologicamente derrotado, se agigantar contra o pseudo campeo mundial confiante em goals que naturalmente viriam do cu. Sofreu o selecionado nacional, uma derrota, a perda de um titulo, contra um quadro que teve a seu favor, apenas noo de responsabilidade e desejo de vencer. Teve o selecionado uruguaio o prmio de uma vitoria que no pode sofrer contestao. Vencendo o Brasil, conquistaram o titulo pela segunda vez de campees mundiais. A les o nosso reconhecimento pela fibra e bravura demonstrada na peleja final do IV Campeonato Mundial de Futebol. Aos nossos, que a lio sirva de exemplo e em competies futuras recuperem o prestigio to tristemente perdido, numa batalha, que ao povo brasileiro smente trouxe a desiluso." Dirio do Rio, 18 de julho de 1950 "A derrota foi um golpe. Ninguem deixou de sent-lo. Quando o Uruguai marcou o segundo goal o silencio que se fez no Estadio - o silencio de duzentas mil pessoas - chegava a assustar. Era a desolao da derrota. A multido ficou parada sem querer acreditar no que via. O Estadio no se enchera para aquilo. No fra para aquilo que se travara a batalha das cadeiras, das arquibancadas e das gerais. No fra para aquilo que milhares de brasileiros tinham vindo ver o ltimo match do campeonato do mundo. Todas aquelas duzentas mil pessoas haviam marcado encontro no Estadio para saudar os brasileiros como campees do mundo. Por isso o Estadio se tornou pequeno: era o maior do mundo mas nele no podia caber todo o Brasil. As outras cincoenta milhes de pessoas que ficaram de fora, perto e longe, no centro, no norte e no sul do Brasil. Tudo parecia anunciar a vitoria final, embora desta vez os adversarios dos brasileiros fossem os uruguaios. Fosse, sobretudo, o corao dos uruguaios. Irresistivelmente se formou o pior dos ambientes para os brasileiros, o melhor dos ambientes para os uruguaios. O pior dos ambientes para os brasileiros porque parecia o melhor; o melhor dos ambientes para os uruguaios porque parecia o pior. Foi o que no se quis ver antes do match. Os uruguaios e no os brasileiros se tinham colocado numa posio nica. Podiam perder de cinco e estava bem. Voltariam para Montevidu de cabea erguida. Todos os uruguaios, os que tinham vindo animar a "celeste", os que no tinham podido vir, e que ficaram de longe a torcer por eles, seriam unnimes em reconhecer que eles haviam feito o mximo. Qualquer resultado era bom para os uruguaios que quase tinham perdido da Espanha e da Suecia, goleadas pelo Brasil. Para o Brasil s havia um resultado bom: a vitoria. O Brasil tinha tudo a perder, o Uruguai nada tinha a perder. Tudo explicava e justificava de antemo, uma derrota uruguaia. Nada parecia sequer explicar ou justificar a simples hiptese de uma derrota do Brasil. Tudo isso aumentava tremendamente a responsabilidade do scratch brasileiro. preciso levar em conta essa responsabilidade tremenda para que se compreenda a especie de inibio de alguns jogadores brasileiros. A inibio de Bigode que em certos momentos quase no podia caminhar em campo, a inibio de Barbosa que nos dois lances decisivos se movimentou sempre com atraso fatal. Quando os jogadores brasileiros foram surpreendidos pela possibilidade da derrotas no resistiram. Pouco se mostraram altura das circunstancias. A ameaa de derrota veio no pior dos momentos: quando a vitoria que se esperava parecia consagrada. Depois do goal de Friaa que valia por dois. O goal de Friaa, porm, no deu ao scratch brasileiro a tranquilidade necessaria para assegurar a vitoria. Os brasileiros, em vez de se guardarem, de repousarem mais na defesa, entregaram todas as esperanas no ataque. No se contentaram em vencer: queriam vencer por dois, por trs, queriam golear. Golear um adversario que lutava sobretudo para no ser goleado. E que, por isso, no um a zero, se concentrou mais na defesa. Aquele um a zero que surgira no inicio do segundo tempo servia aos uruguaios como um grande resultado. Assim os uruguaios no se perturbaram, lutaram para manter aquele um a zero que embora contra era sempre uma porta aberta para o empate. Se o um a zero era um grande resultado para o Uruguai um empate seria como uma vitoria. Os brasileiros, pelo contrario, viram no um a zero um placard pequeno demais para a festa da vitoria. E chegado o empate receberam-no como um desastre. Sem se lembrarem que o empate lher daria o campeonato do mundo. Aceitaram melhor o zero a zero. O zero no os perturbou. Mesmo durante todo um tempo. A medida que o tempo passava os brasileiros se sentiam melhor. Da o volume cada vez maior de ataques que realizaram. Houve um momento em que os uruguaios quase perderam a cabea. Mas no primeiro tempo. Voltaram mais tranquilos no segundo tempo. E voltaram mais tranquilos porque o resultado do primeiro tempo fra excepcional para eles. Depois do um a zero at o um a um se contentaram em conter a ofensiva brasileira que se tornava cada vez mais desesperada. E digo desesperada porque os brasileiros se deixaram empolgar pelo dominio e martelgram sempre no lugar errado. Na especie de ferrolho formado pela defesa uruguaia. Sem aprovitar a lio de um nico goal. A maneira de invadir a defesa uruguaia no era pelo centro aferrolhado, era pelas pontas. Tanto que Friaa no teve dificuldade em abrir o escore. Alem disso no centro s havia Ademir para invadir a area, e Zizinho para ajudar a invadi-la, para forar uma invaso. Jair ficou de fora da area, a ponto de forar Chico a deslocar-se para forar a defesa uruguaia com arrancadas corajosas. Enqando o placard esteve de um a zero os jogadores brasileiros se deixaram enganar pelo dominio parecido ao daquele com a Suia. S que desta vez os adversarios dos brasileiros no eram os suios, eram os uruguaios. (...) O que no estava nos calculos de ninguem era uma derrota contra o Uruguai. Por isso eu digo que se formou o pior ambiente para o scratch brasileiro. O ambiente da vitoria certa. No foi a certeza de vitoria que derrotou os brasileiros. Foi a imperiosidade da vitoria. A exigencia de vitoria. E de grande vitoria. Ninguem discute a superioridade do football brasileiro sobre o uruguaio. Nem mesmo os uruguaios, at depois da vitoria. Uma das maiores glorias da celeste h de ser esta: a de ter derrotado os melhores jogadores de football do mundo, o quadro que realizara as suas maiores exibies de que h memoria no football mundial. (...)" Jornal dos Sports, 18 de julho de 1950 "No vamos culpar ningum pelo que aconteceu. No justo, e, alm do mais, um menospreso ao adversri, que foi valente e fez js vitria. Depois, em nada adiantar. No nos devolver o ttulo. claro, que houve falhas. Falhas porm, que, para quem acompanha futebol sabe ser comum em pelejas como a disputada na tarde fatdica de domingo, no estdio Municipal. Perdemos um ttulo que parecia ajustado para ns. Perdemos, todavia resta-nos o conslo de termos perdido com dignidade, e para quem, na verdade, so autnticos campees, - os uruguaios. Mas deixamos de lado tudo isso. Passemos aos fatos. A peleja comeouem um ambiente demasiadamente otimista para os nossos rapazes. Imprensa, rdio, paredros, emfim, toda aquela imensa massa que se comprimia no estdio Municipal, inclusive os proprios delegados uruguaios, no pensavam em insucesso do Brasil. Os recentes feitos contra a Iugoslvia, Sucia e Espanha no podiam deixar dvida. O Brasil jogando em casa, com a assistncia a favor e com o mesmo quadro, no podia perder para o Uruguai, que vinha de um empate cavado contra os ibricos e uma vitria difcil sbre os nrdicos. Afirmar-se coisa diversa, querer ser profeta. O que se sabia, - e disso nunca discordamos de quem assim pensava, - era que os "celestes" nos obrigariam a lutar muito pela vitria. Jamais, porm, podia se supor em derrota, mesmo levando em conta que em trs outras vezes anteriores (24, 28 e 30), foram os nossos rivais os herois da jornada. Este otimismo, pois, justo sob todos os ttulos, foi a causa da derrota. Embora Flavio o combatesse energicamente, conversando com cada "crack" a quem explicava tudo; embora chegasse at a ser grosseiro com visitantes da concentrao que falavam aos atletas como se j fossem campees; nada disso valeu. O otimismo que tomara conta de todos, e passara-se tambm aos "cracks". E isso foi fatal para as nossas cores. Em partidas de futebol ningum ganha na vspera. O jogo jogado em campo, para onde vo onze atletas de cada bando lutar pelo mesmo objetivo: a vitria. Enquanto isso ocorria em relao aos brasileiros, no lado dos orientais tudo era diferente. Pensavam em vitria. Todavia, encaravam o prlio dentro do prisma certo. Tinham os uruguaios sobre os ombros a responsabilidade de o prestgio dos campees de 24, 28 e 30. Sabiam que um empate seria fatal. Medindo todas essas coisas foram para campo dispostos a vencer. (...)" A Manh, 18 de julho de 1950 "As lagrimas que humedeceram quase 50 milhes de olhos bem exprime a dr, a desolao do publico brasileiro pelo resultado imprevisto de domingo no Estadio Municipal. E sem desprestigio da verdade, pode-se dizer que, o publico no merecia to dolorosa recompensa pelo sacrificio, por tudo que fez no sentido de prestigiar o nosso selecionado e render-lhe as homenagens que fariam jus, no caso da conquista do titulo. As noites de vigilia por que passou na ansia de adquirir um ingresso para penetrar no estadio, as horas interminaveis que permaneceu na fila com tal proposito, amanhecendo ainda na porta do estadio, sem satisfazer as naturais obrigaes de uma alimentao regular, provou que o povo se mostrou indiferente a propria razo da normalidade, para presenciar o choque que consagraria onze jogadores e 50 milhes de brasileiros! Todos os sacrificios eram infimos de mais, para atender a to grandes anseios do corao. As duas jornadas anteriores no deixavam transparecer quaisquer duvidas, quanto a possibilidade de conquistarmos o titulo, porque a convico do torcedor no se baseava nas consideraes honestas da imprensa e outros veculos de informaes. Ele havia presenciado com os seus proprios olhos, as duas vitorias gigantescas que no davam margem a receios, quanto a batalha final, a que seria memoravel e gloriosa para as nossas cores. E quando chegou o domingo, nesso domingo de sol e de vida, que seria marcado na historia, como um dia de gloria para a nossa patria, notou-se uma agitao sem precedentes, porque o publico j as primeiras horas da manh, colocava-se em fila, na ansia de penetrar no estadio para assistir a um prelio que s seria iniciado 9 horas depois (!) Esse povo que esquecendo todas as agruras da vida, havia aprendido a sorrir em todos os instantes, trazendo nos labios aquela esperana convicta, emudeceu ao cabo dos noventa minutos de batalha, porque a decepo o deixou estremecido. Aquela imensa multido ficou imovel, paralizada, sem saber o que fazer, como quem ainda estivesse aguardando alguma coisa, a jornada gloriosa, o sonho dourado que durante varios dias, enriqueceu os seus coraes. S mais tarde, quando o sol se escondeu, foi que o povo compreendeu que a sua presena na Maracan de nada mais valia e assim comeou a retirar-se numa lenta e trsistonha prociso, acompanhando o fretro da iluso mais linda que viveu. (...)" O Jornal, 18 de julho de 1950 "No houve nem as correrias costumazes sada do estadio. Era uma autentica retirada que empreendia aquela torcida exausta, coberta, de p e tristeza. Esconderam as serpentinas. Jogaram fora os confetis, entregaram-se ao cansao. Parecia at a madrugada de quarta-feira de cinzas. Ninguem falava. S no bonde, passados os primeiros instantes, comearam os argumentos. Procurava-se justificar, ningum conseguia. Chegou por fim o desabafo: foi o azar. Azar de que? De muitas coisas. No viram que comeamos, hoje, pelo lado contrrio? No viram que pela primeira vez atacamos contra a avenida Maracan, de inicio? argumentou um. E logo outro: e tambem pela primeira vez o Ademir no abriu o escore? tudo isto deu azar. S isto, no. Vocs no viram o principal, argumentou um terceiro. O maior azar foi o Mendes de Morais. le que foi o culpado. Como d azar o nosso amigo... Surgiram os apartes. mesmo. comeou por chamar os uruguaios de campees do mundo... E o locutor: O Prefeito vos falou uma vez e o time venceu. O Prefeito d sorte. Puxa, vai para o olho mecnico a Ramona. Descemos, pensando na maneira original daquela gente humilde encarar uma adversidade. Mas tinhamos de continuar caminho. E l fomos de lotao para a zona sul. A conversa interrompida com a nossa chegada, retomou logo o fio: - Foi mesmo uma atitude infeliz do Mendes de Morais. Olhamos surpresos. Tambm ali a superstio vigorava? Mas no. Desta vez eram outras as razes. O Prefeito nunca deve ter ouvido em psicologia. Aquela historia das duzentas mil pessoas esperando pela vitoria e dos cinquenta milhes querendo o triunfo deveria ser dita numa situao justamente inversa a da nossa. Se nos sentissemos inferiorizados, se entrassemos em campo com o moral abatido, convencidos da impossibilidade de vencer. A sim um estimulo daquela natureza. Porm nunca na situao de hoje. O Prefeito aumentou-lhes a responsabilidade, trouxe mais encargos sbre seus ombros, aumentou o nervosismo, enfim enfraqueceu-os. O fato que no podia perder a oportunidade da demagogia... eram duzentas mil os presentes, sem falar nos radio-ouvintes..." Correio da Manh, 18 de julho de 1950 AS MANCHETES: Este "Goal" Eliminou O Brasil - Tristeza Na Face De Todos - Tombou De P O Brasil - Os Uruguaios Jogaram Melhor E Da A Derrota da Nossa Seleo No Prlio Efetuado Ontem ( Folha Carioca ) Venceram Os Melhores - Merecidamente Os Uruguaios Sagraram-se Campees Do Mundo - Ante Um Adversario Forte, Evidenciaram-se As Falhas Do Nosso Selecionado - A Culpa Do Tecnico - Novo record Mundial De Renda - Notas ( Dirio do Povo ) Faltou Fibra Aos Jogadores Nacionais Que No Corresponderam Espectativa de 200 Mil Torcedores Representando 50 Milhes De Brasileiros ( Dirio do Rio ) Mario Filho: O Segredo Da Vitria Dos Uruguaios: S Os Brasileiros Tinham Tudo A Perder ( Jornal dos Sports ) Vitria De Raa - Lutando Com Alma E Corao, Reconquistarm Os Uruguaios A Sipremacia Do "Soccer" Mundial - No Vamos Culpar Ninguem - Otimismo Fatal ( A Manh ) Ainda Nos Resta Um Ingrato Consolo: A "Copa" Ficou Na Amrica, Provando A Inconteste Supremacia Da Nossa Escola ( O Jornal ) Vai Para O Olho Mecnico A Romana ( Correio da Manh )  43) Francisco Alves (1952) "Num desastre de automvel ocorrido ontem, s 18,30 horas, na rodovia Presidente Dutra, morreu, em trgicas circunstncias, o popular cantor Francisco Alves, o "Rei da Voz". O acidente verificou-se na localidade denominada Un, municpio de Pindamonhangaba. Francisco Alves viajava com destino a esta capital, na "Buick" chapa nmero 11-65-80 D.F., de sua propriedade, em companhia de um amigo, de nome Haroldo Alves. No local mencionado, a "Buick" colidiu com o caminho chapa n. 11-58-84, R.G.S., que seguia com destino a So Paulo, dirigido pelo motorista Joo Valter Sebastiani. O choque dos dois veculos foi violentissimo, resultando ficarem ambos seriamente avariados e tendo a "Buick", a seguir, se incendiado. Ao que se presume, Francisco Alves pereceu imediatamente, pois as chamas que dominaram o carro carbonizaram-lhe o corpo tornando-o irreconhecvel. Seu companheiro foi projetado fora do carro, sendo recolhido, momentos depois, por um auto que passou no local, e conduzido Santa Casa de Taubat, onde ficou internado em estado de coma. O motorista do caminho sofreu ferimentos sem importncia. O delegado policial de Pindamonhangaba, retirou o cadaver de Francisco Alves dentre os escombros do carro, providenciando para seu transporte referida cidade, onde em diligncias posteriores foi levantada a sua identidade. O Dia, 28 de setembro de 1952 "A cidade rendeu ao filho que lhe traduzia a extenso da sensibilidade e do lirismo romntico, o culto pstumo que ele merecia. Francisco Alves, sem dvida, o cantor maior do canto popular nascido nestas plagas, o intrprete da poesia pura que brota das almas simples e se amplia em estrofes de sentido profundo. Da sua garganta privilegiada voaram as melodias mais lindas que se inventaram para exprimir as dores e as alegrias coletivas. E os discos que fixaram as harmonias do trovador magnfico permitiram o milagre dessa consagrao comovente. O homem pereceu no tremendo desastre que lhe cortou o fio da vida, mas o seu esprito, a sua alma, ficaram na voz maravilhosa gravada pela radiofonia para a durao quase ilimitada. As homenagens que as emissoras prestaram ao cantor prodigioso deram a impresso de que dos frangalhos da sua carcaa se desprendiam os sons esplendidos e vibrantes que encheram os ares da metrpole e do pas inteiro, como que afirmando a fragilidade da morte diante dos impetos do gnio. E Francisco Alves desceu ao tmulo no mesmo instante em que em todos os quadrantes da ptria se ouvia a sua voz sentimental e bem brasileira... Era impossivel ter-se uma idia exata do nmero de pessoas que formavam aquela fabulosa onda humana, que provocou colpso no trnsito, acompanhando os funerais de Francisco Alves. Cem, duzentas mil pessoas? Quem sabe ao certo, se a vista do reprter se perdia ao longo de ruas e avenidas da zona sul? Foi um espetculo comovente, o coroamento das manifestaes de dor popular pela morte trgica do Rei da Voz. Durante as ltimas 48 horas, a cidade se transformou de tal modo, ligando-se ao destino de um artista por vinculo do mais profundo sentimentalismo, que at parecia no ter morrido apenas um seresteiro de alta classe, mas um mistico de poderosa influncia sobre multido deslumbradas. Era o milagre do talento de um cantor, que soube interpretar, como ningum, as tristezas e as alegrias, as venturas e os infortnios da sua gente, dizendo no lirismo da sua voz harmoniosa e tropical o que no se pode expressar em meras palavras. (...) As filas em frente ao edifcio da Cmara Municipal, onde, at a manh de ontem, ficou exposto visitao pblica o corpo do artista, eram engrossadas a toda hora. Pessoas de todos os nveis sociais ficaram, pacientemente, a espera da oportunidade de chegar at a urna morturia, num tributo memria do inditoso cantor. Por toda a madrugada de ontem, a romaria no cessou: dos bairros e subrbios mais longinquos surgiam amigos e admiradores de Chico, que queriam render-lhe a ltima homenagem. Muitos levaram lgrimas e flores. Outros ficaram, silenciosos, com um n na garganta da ea armada no saguo do legislativo da cidade. L compareceram desde elementos dos meios artisticos e das camadas mais humildes a figuras representativas da nossa vida pblica, numa comunho de sentimentos que deu a justa medida da repercusso que o trgico acontecimento causou em toda a metrpole. (...)" O Dia, 30 de setembro de 1952 "So Paulo, 27 Asapress Urgente. Teve trgico fim esta noite, quando viajava em um automvel "Buick" de sua propriedade, desta capital para o rio, o popular cantor Francisco Alves, uma das figuras mais conhecidas do "broadcasting" nacional desde longos anos. Seu carros, altura do Municpio de Un, foi de encontro a um caminho do Rio Grande do Sul, dirigido por Joo Valter Sebastiani, que foi ligeiramente ferido. Tremendo choque causou a morte de Francisco Alves, cujo corpo foi retirado dos destroos quase irreconhecvel, totalmente carbonizado. Haroldo Alves, que viajava em sua companhia, gravemente ferido, foi internado no Hospital de Taubat em estado desesperador. Ao que apuramos, Francisco Alves seguia de So Paulo, onde obteve grande exito na Radio Nacional, para tomar parte no programa das 12 horas de amanh no Rio." Jornal do Brasil, 28 de setembro de 1952 "O que impressionou mais na morte trgica de Francisco Alves foi o ter sido vitimado no intervalo de duas audies, a que deu em S. Paulo e a que deveria dar no Rio, no espao de poucas horas. Esse corte brutal do destino, de quase um mesmo programa de radio transmitido pela mesma emissora, tornou ainda maior a emoo popular, que passou o dia inteiro a ouvir, por todas as estaes, pelo milagre dos discos - como se quisesse fazer reparar a tremenda injustia e a tremenda desgraa - a grande voz para sempre perdida. A Cidade, no seu luto, encheu-se, ento, da voz de seu cantor, que nunca lhe pareceu to bela, to comovedora e to triste, como se chorasse sobre si mesma o desaparecimento de su dono, daquele bom e simples Chico Viola, filho dos morros, irmo do samba e amigo das serenatas e do luar. Francisco Alves fra, realmente, um caso raro, como o de Chevalier na Frana. Desde os seus dias de estreante e, depois, de ascenso, nunca diminuira em prestigio. A suas gloria no conhecera intermitencias. Tinha chegado ao brilho do sol do meio-dia e parara, sem as ameaas do crepusculo. Subira, como o vo dos passaros, sem esforo, sem intrigas, sem protees e permanecia, nas alturas, com a naturalidade das flores alpinas, que l se encontram porque l o seu lugar, o seu clima e no poderiam viver na planicie. Assim, o "rei da voz" no perdeu nunca o seu reinado, porque ele se expandia pela fora, que perdura, da alma e do corao populares, tocados pelo timbre, a sonoridade e a beleza de uma voz consagrada s melodias simples e plangentes da musica sentimental brasileira. O seu tumulo deveria ser um grande violo, o seu "companheiro inseparvel", que tanto vibrou com as mesmas canes do grande Chico e que hoje, com as cordas emudecidas, guarda as ressonancias misteriosas e eternas da voz que foi a mais bonita do Brasil. - Benjamin Costallat" Jornal do Brasil, 30 de setembro de 1952 "Enorme massa, em que estavam representados todo o povo, estaes de rdio, clubes e outras entidades populares e esportivas, figuras de expresso dos meios artisticos, sociais e polticos, acompanhou, ontem, at o cemitrio S. Joo Batista, os restos mortais de Francisco Alves. Dos milhares de pessoas ali presentes, muitos comearam a chegar Cmara Municipal, de onde saiu o fretro, desde as primeiras horas da manh, ou fizeram parte do grande nmero de outras, que, desde domingo, principiaram a afluir ao salo onde estava armada a cmara morturia. O cortejo fnebre, cujo inicio estava marcado para s 11 horas, comeou pouco depois desta hora. Grande nmero de carros conduzindo flores e coroas, seguira a enorme massa que acompanhava o carro do Corpo de Bombeiros, onde foi colocada a urna funerria. Durante todo o trajeto pela avenida Rio Branco, Flamengo, Botafogo, etc., milhares de pessoas presenciavam a passagem do fretro. No cemitrio, cujos portes foram invadidos pela multido, no obstante as medidas tomadas pelas autoridades policiais, estabeleceu-se grande confuso, pois tda a imensa massa queria aproximar-se da urna funerria. Em consequncia, a cerimnia final foi perturbada, ficando os oradores praticamente impedidos de fazer uso da palavra. Cenas indiseritiveis de emoo se sucediam, homens, mulheres, velhos e crianas, que caiam, eram pisados, enquanto outros, presas de crises nervosas, eram socorridos. Doze pessoas tiveram que ser atendidas pelo servio mdico. Para fazer a urna funerria chegar at o local de sepultamento, foi preciso o trabalho de 12 atletas da Polcia Especial. Cerca de duas horas levou o cortejo funebre da Cmara Municipal at o cemitrio. O presidente da Repblica fez-se representar nos funerais de Francisco Alves pelo capito Jos Henrique Acili. A sesso de ontem, da Cmara Municipal, durante a qual reassumiu o Sr. R. Magalhes Jnior, representante do Partido Socialista, que se encontrava de licena viajando pela Europa, foi tda ela dedicada memria do cantor Francisco Alves, falecido tragicamente na tarde de sbado ltimo, num desastre de automvel, no Estado de So Paulo. (...)" Dirio de Notcias, 30 de setembro de 1952 "Vtima de um desastre de automvel, na Rodovia Presidente Dutra, entre Taubat e Pindamonhangaba, faleceu o cantor Francisco Alves, que viajava, desta capital para o Rio de Janeiro, em um "Buick"no 11-56-80. O carro em que viajava o artista nacional colidiu com um caminho, do Rio Grande do Sul. No desastre, saiu gravemente ferido o companheiro de viagem de Francisco Alves, Haroldo de tal. O corpo do "Rei da Voz" foi removido para a necrotrio de Pindamonhangaba, de onde dever sair para o Rio de Janeiro, hoje, domingo. Ao terem notcia do desastre colegas do cantor, das Rdios Nacional do Rio e desta Capital, viajaram para Pindamonhangaba. Francisco Alves nasceu na rua da Prainha no dia 19 de agosto. Comeou sua vida trabalhando em uma fbrica de chapus. Cantou no incio de sua carreira radiofonica no Pavilho do Meier, da emprsa Joo M. de Deus e ingressou posteriormente no elenco teatral do Circo Spinelli. Interrompeu sua carreira com a gripe de 1918, voltando, ento, mas para o teatro. Contratado pelo empresrio Batista, pai de Amlia de Oliveira, no Politeama de Niteri. Dissolvida a Companhia, Francisco Alves conseguiu um lugar de figurante numa revista que estava em cena no Antigo Teatro So Jos, da Emprsa Pascoal Secreto. Figurava no elenco a formosa chilena, Celia, que, apaixonada por Francisco Alves, a le se uniu e at hoje a esposa do grande cantor brasileiro. A consagrao real de Francisco Alves comeou de fato com o disco, desde "Ora Vejam S"de Sinh a "P de Anjo"." Dirio Carioca, 28 de setembro de 1952 "Contristadora a noticia infausta tomou conta da cidade: morreu Francisco Alves! A fatalidade roubou, assim, em pleno apogeu de sua carreira artistica aqule que foi o maior entre os maiores seresteiros do Brasil. Apagou-se a "Voz do Violo" e o pas inteiro chora a perda do seu astro maior, do que elevou a msica popular brasileira aos pincaros da glria, do que encheu todo o Brasil com a sua voz melodiosa, vibrante e viva. O destino tem dessas surprsas trgicas - Chico Alves morreu carbonizado no volante de seu carro, na estrada Rio- So Paulo, como carbonizado morreu tambm, num desastre, Carlos Gardel, outra figura do mesmo naipe e da mesma estirpe de cantores do nosso chorado Francisco Alves, o nosso querido Chico Alves das rodas bomias, o nosso ultra-popularissimo Chico Viola. (...)" A Manh, 28 de setembro de 1952 "Chora o povo carioca -o povo de todo o Brasil - a morte imprevista de Francisco Alves, o "Rei da Voz", o cantor popular que sempre fra a alma do violo, o homem de radio que soubera, dcadas aps dcadas, sustentar o rtimo de sua expresso nacional, como o maior seresteiro que o Brasil j produziu, em todos os tempos. Francisco Alves, ou Chico Alves ou ainda "Chico Viola"como chamavam os seus intimos. Foi arrematado pela morte quando dirigia o seu "Buick", na rodovia "Presidente Dutra", no trecho da estrada que atravessa o municipio paulista de Pindamonhangaba. O seu carro chocou-se com um caminho, transformando-se numa fogueira. Ferido de morte, Chico foi envolvido pelas chamas, o seu corpo ficou carbonizado. (...) Francisco Alves pertencia a modesta, mas boa familia lusitana. Ele, no entanto, era brasileiro e carioca, havendo nascido na rua da Prainha. Nasceu a 19 de agosto de 1898. Terminando seus estudos primrios, foi empregar-se numa fbrica. Ali, ao cantarolar enquanto trabalhava, foi notada a beleza de sua voz. Animado pelos companheiros, comeou a fazer serenatas e cantar em festas ntimas, at que resolveu ingressar prodissionalmente na vida artistica. Sua estria no Pavilho do Meier, e quando atuou no elenco teatral do Circo Spinelli foram indices do triunfo nacional que mais tarde conseguiria. Foi contratado pelo empresrio Batista, trabalhando ento no Politeama, de Niteri. Quando no havia regime de exclusividade artistica nas emissoras cariocas, Francisco Alves cantava em varias estaes, j ento lanando tambm as suas composies. Na Radio Cajuti teve ensejo de ser o descobridor de grandes valores radiofonicos, como Joo Petra de Barros, Linda e Dircinha Batista, Orlando Silva e inumeros outros que hoje so astros do nosso "broadcasting". Ha dez anos era exclusivo da Nacional, sendo que seus programas dominicais j se haviam tornado tradio. O numero de discos que Francisco Alves nos deixa imenso. S na manh de domingo at s 12 horas, mais de cem gravaes de sucesso foram retiradas da discoteca da emissora da Praa Mau, nesse programa pstumo e emocionante. Todos eram lanados com o mesmo sucesso, porque a voz de Francisco Alves no envelhecia. Ao contrrio, cada dia mais brilhante e firme se tornava, no obstante o trabalho intenso que dava s suas cordas vocais, quer no Rio, em So Paulo (onde ia semanalmente) e mesmo nas festas particulares, onde Chico Viola, em sua simplicidade e simpatia, jamais se fazia rogar. Uma de suas gravaes carnavalescas de maior sucesso foi a dos festejos de Momo, em l951, com a Marchinha "Retrato do Velho". Lembramo-nos que no baile do Municipal, no aludido Carnaval, que contou com o comparecimento do presidente Vargas, recm-eleito, foi entoada em uma s voz, pelos folies presentes, que se aglomeraram sob o camarote presidencial. E Getulio, sorridente, ouvia a vozearia que, na marchinha lanada por Francisco Alves reclamava musicalmente: "Bota o retrato do velho, outra vez, bota no mesmo lugar". (...) O ultimo disco gravado pelo cantor, cujo desaparecimento veio confirmar ser ele um idolo popular, foi a cano "Deixai Vir A Mim As Criancinhas", de sua autoria, cujos direitos autorais havia oferecido criana desamparada. Era um grande corao, sendo imensamente caritativo. (...)" Dirio da Noite, 29 de setembro de 1952 AS MANCHETES: Num Desastre De Automvel Morreu Chico Alves ( O Dia ) Cenas Comoventes Nos Funerais De Francisco Alves - Uma Multido Incalculvel Nas ltimas Homenagens Da Cidade Ao Seu Filho Querido - Desmaios De Emoo Durante O Cortejo Fnebre, Que Durou Mais De Trs Horas - O Esquife Foi Conduzido Ao Som Da Voz Do Inesquecvel Cancioneiro ( O Dia ) Morreu Tragicamente O Cantor Francisco Alves - Seu Automvel Chocou-se Com Um Caminho Quando Viajava De So Paulo Para Esta Capital ( Jornal do Brasil ) Silenciam Os Violes E Chora O Povo A Morte Do Seu Cantor Enorme Massa Popular Acompanhou O Fretro Do Cantor ( Dirio de Notcias ) Morre Num Desastre O Cantor Chico Alves ( Dirio Carioca ) Morte Trgica De Francisco Alves - O Carro Do Popular Cantor, Aps Chocar-se Com Um Caminho, Foi Presa Das Chamas - Ficou Carbonizado - Em Una, Prximo De Taubat, O Local Do Desastre - Haroldo Alves, A Outra Vtima, Acha-se Em Estado Gravssimo - Emudeceu A Voz Do Violo ( A Manh ) O Povo Chora A Morte De Chico Alves - Carbonizado O "Rei Da Voz" Em Tremendo Choque De Veculos Na Rodovia Presidente Dutra - 1 Violo De 2 Mts. ; Cordas De Prata, A Homenagem Do Povo Carioca - Camara Ardente, Lagrimas E Dramas Intimos ( Dirio da Noite )  44) Morte de Vargas (1954) "Sobre a Nao desce a sombra de uma tragdia. O gesto do Presidente Vargas pondo fim ao seu governo e aos seus dias, estendeu um crepe conscincia dos brasileiros, aos que o assistiram com compreenso, como aos que o combateram at o ltimo momento. a primeira vez que a histria republicana descreve pginas to trgicas, pois o homem forte e acostumado s lutas polticas no pde suportar a agressividade da circunstncia e sucumbiu ao peso do desalento. Todo o drama que o Presidente viveu nesta derradeira fase do governo quebrou sua tempera e, no silncio de seu gabinete, recordando a fisionomia cheia de interrogaes que ele considerava uma injustia ao homem como ao chefe que encarnava a soberania nacional, o desespero se apoderou do seu corao. (...) Depois de todas as reunies realizadas em Palcio, na calada da noite, depois de mirar face a face os seus amigos e auxiliares, vendo neles transparecer o desalento e a desesperana, observando que ja no havia ouvidos que o escutassem, sentiu-se desamparado e sem defesa para afastar o fantasma da suspeita. Sentindo todo o peso da incompreenso, o chefe do governo teve necessidade de ir buscar fora de lxico o argumento capaz de abrir os ouvidos e aclarar as conscincias. Selou com o sacrifcio de sua prpria vida o drama com que vinha lutando nos ltimos dias, deixando, conforme acreditava, "o legado de sua morte", para que se pudesse fazer ao morto uma parte da justia que o povo reclamou. (...) Todos clamavam por justia, mas o clima propcio justia cada vez se tornava mais conturbado. Tragedia atrai tragedia e, nesta hora melanclica que soa para o seu destino, o povo, sem foras para opinar, subjugado pela surpresa do ltimo lance, desfila diante do Chefe morto e, sem se recuperar do espanto, curva-se frente mgoa que o atingiu nos ltimos dias e que fez estalar o seu corao no sacrifcio supremo. (...)" Jornal do Brasil, 25 de agosto de 1954 "De nenhum setor, civil ou militar, pode vir garantia ou segurana para o Governo - afirmou ontem o Vice Presidente Caf Filho, dando conta ao Senado da demarche que realizou junto ao Sr. Getlio Vargas para propor ao Presidente a renncia de ambos para salvar a unidade nacional e impedir que o pas se precipite no caos. O Sr. Caf Filho se decidiu a promover a renncia do Presidente da Repblica e a dele prpria depois de uma segura sondagem junto aos lderes civis e militares, notadamente o lder da maioria na Cmara e os Ministros da Marinha e da Guerra." Dirio Carioca, 24 de agosto de 1954 "Com a cabea voltada para o quadro que representa o juramento da Constituio de 1891 e os ps para o quadro "Ptria", cuja frente se acha um crucifixo, o corpo do presidente Getlio Vargas recebe, desde s 17,30 horas de ontem, no salo do Gabinete da Casa Militar da Presidncia da Repblica, no Palcio do Catete, as despedidas de milhares de populares que lhe vo fazer a ltima visita. O embarque do corpo do Sr. Getlio Vargas para So Borja, onde ser enterrado, est marcado para as 9 horas de hoje, por via area. Tudo faz crer, entretanto, que ser adiado, diante do grande nmero de populares que desfila ininterruptamente ante o caixo que contm os despojos de S. Exa. Imediatamente aps a comunicao do falecimento do presidente, populares acorreram s proximidades do Catete, no af de saber de saber pormenores da trgica ocorrncia. Soldados do Exrcito e da Polcia Militar, no entanto, isolavam o Palcio, desde a Rua Pedro Amrico at a Correia Dutra, permitindo o acesso apenas aos jornalistas e altas autoridades. Antes das 13 horas, s estas podiam entrar no Palcio, ficando os representantes da imprensa defronte entrada do Catete. Enquanto isso, registravam-se alguns casos de exaltao no meio da multido, sendo frequente o encontro de homens e mulheres em lgrimas. s 13 horas a entrada do Palcio foi franqueada imprensa e, logo em seguida, ao pblico, que entrava lentamente e em fila. O suicdio do presidente Getlio Vargas, precisamente s 8,30 da manh, foi precedido de momentos em que se mostrava ele absolutamente tranquilo. - Nada fazia crer fosse o Presidente se matar - disseram-nos o general Caiado de Castro e Jango Goulart, com os quais ele conversara minutos antes de se recolher. O Sr. Getlio Vargas se recolheu ao quarto, sem mais uma palavra. passados uns minutos - o tempo normal para a troca de roupa, ouvia-se um disparo. Acudiu, incontinenti, o Sr. N. Sarmanho, que se encontrava na janela da sala contgua (a do elevador privativo do presidente). J o Sr. Getlio Vargas agonizava. Da janela, o Sr. Sarmanho fez um sinal para um oficial, pedindo fosse o general Caiado avisado de que o sr. Getlio Vargas se havia matado. Logo em seguida, o general Caiado chegava ao quarto, onde, no resistindo ao impacto da tragdia, foi acometido de forte crise de nervos, sofrendo uma sncope. A seguir, correndo escada acima, o Sr. Benjamin Vargas gritava: - Getlio se matou! O palcio ficou em pnico, a famlia do presidente acorreu, entre gritos e lgrimas. Tambm o Sr. Osvaldo Aranha logo chegou. Chegou junto cama e, chorando, exclamou: - Abusaram demais da bondade desse homem!" Dirio Carioca, 25 de agosto de 1954 "Neste nefasto Dia de So Bartolomeu, precisamente s 8, 35 horas, praticou o suicdio o Presidente Getlio Vargas, com um tiro de revlver no corao, quando se encontrava em seu quarto particular, no 3o andar do Palcio do Catete. O general Caiado de Castro, Chefe do Gabinete Militar da Presidncia da Repblica, correu para os aposentos presidenciais, ao ouvir o disparo, e ainda encontrou o Presidente Vargas agonizante. Chamou s pressas a assistncia pblica, que dentro de cinco minutos j se encontrava no Palcio do Catete. Mas o grande Presidente Vargas j estava morto. No pode ser descrito o ambiente no Palcio Presidencial. Tudo consternao. Membros da famlia do Presidente, serviais, militares que guarnecem o Palcio choram a morte do insine brasileiro. O povo em massa acorre para o Palcio do Catete, estando repletas as ruas que do acesso casa em que se matou, vtima da ignomnia e das campanhas infamantes de adversrios rasteiros, o maior estadista que o Brasil teve, neste sculo. Cenas de profunda dor esto sendo assistidas na rua. L-se o pesar no rosto do povo. O povo brasileiro chora a perda do seu Presidente, por ele escolhido, por ele eleito e que - na crise gerada por seus inimigos - s saiu do Catete morto." ltima Hora, 24 de agosto de 1954 "Com a morte trgica de Getlio Vargas perde o Brasil, sem dvida nenhuma, um de seus maiores vultos polticos de todos os tempos. Nesta hora em que os acontecimentos se sucedem vertiginosamente, quando a situao caminhava para um desfecho constitucional previsto e que teria de afastar do poder o presidente, o seu desaparecimento pela forma por que se verificou enche de tristeza a Nao, suspensa os espritos diante do irremedivel. Cobre-se de luto a alma brasileira diante do esquife que guarda o corpo de algum que a histria no esquecer, sejam quais forem os ngulos em que se coloque o observador sereno da vida do pas em quase meio sculo, tanto foi o perodo em que atuou com a sua presena o estadista de mltiplas facetas, empenhado, realmente, em realizar algo de til e permanente para o bem da sua terra. Inteligncia formada na escola que deu ao Rio Grande uma personalidade da estatura de Julio de Castilhos no alvorecer da Repblica, Getlio Vargas pertence gerao nova que abriu os olhos para as atividades fecundas do regime depois dos primeiros embates que sucederam queda do Imprio, e tomou a si as tarefas construtoras do sistema que deu ao Brasil o mximo de seu progresso. deputado Estadual em mil novecentos e nove, com projeo na Assemblia dos Representantes do Rio Grande durante vrios anos, a sua carreira se assinalou brilhantemente at ao movimento de renovao de valores operado no Estado em mil novecentos e vinte e trs, poca em que o elegeram para a Cmara Federal, cujos Anais guardam pginas vigorosas de seu mandato, na liderana de uma bancada. Nesse posto o encontrou o Governo de Washington Luis a que serviu na pasta da Fazenda, e da ainda o chamaram os seus coestadoanos para a suprema magistratura estadual de onde ascendeu Presidncia da Repblica em mil novecentos e trinta. A sua projeo no cenrio nacional, de ento para c, tamanha e to pontilhada de incidentes impressionantes, que no cabe seno em esboo nas linhas de um perfil traado em momento dramtico como o que atravessamos. Mas a considerao que lhe devem os brasileiros impe, mesmo que se recordem no tumulto dos fatos destes dias, aspectos inapagveis de iniciativas que traziam em si as sementes das suas altas e nobres preocupaes do bem pblico, principalmente no terreno econmico e no campo social, cujos problemas ele sentiu e compreendeu com sinceridade e com sinceridade procurou resolver. A Histria no recusar a Getlio Vargas o reconhecimento devido aos seus mritos indiscutveis, que ele os teve em proporo acima acima da mdia dos nossos condutores. Ele encheu com a sua situao enrgica e os seus propsitos de dar-se inteiro a determinadas empresas de finalidade patritica, uma longa fase da existncia do Brasil contemporneo, e manda a Justia, que adversrios lhe devem, se no esconda de um registro rpido como este, em que a emoo produzida pelo eplogo de um drama, no obstculo a que a verdade ilumine a nossa imensa tristeza. Esse que encerrou de forma inesperada o seu trnsito pelo mundo, era um autntico estadista, dotado de esprito pblico invulgar, com a cultura poltica necessria ao exerccio da sua misso. A seu modo, e enfrentando embaraos que as circunstncias opem constantemente aos que nos pases novos tentam forjar uma obra original que conduza os seus compatriotas a um destino menos atribulado e os liberte de preconceitos, Getlio Vargas fez o mximo que as contingncias permitiriam a um homem do seu temperamento e da sua formao. Desaparecido subitamente, nem por isso, e nem por ter preferido a morte a uma luta funesta, o seu nome ser esquecido. O futuro dir melhor da sua obra. O presente lastima a sua perda. Reverenciemos o seu tmulo." O Dia, 25 de agosto de 1954 "Quando o rdio anunciou o suicdio do Sr. Getlio Vargas, populares comearam a acorrer s imediaes do Catete. Foras do Exrcito, em rigoroso policiamento, mantinham-se em cordo de isolamento, em torno da sede da Presidncia da Repblica, procurando conter o povo. Muitas pessoas pretendiam penetrar no palcio, no que eram impedidos. Os grupos foram-se avolumando, com a chegada de gente de todos os lados. s primeiras horas da manh, em diversos pontos do centro da cidade, formaram-se grupos de populares. Muitos empunhavam retratos de Vargas e realizavam manifestaes de protesto contra os adversrios polticos do presidente. A carta deixada por vargas e redigida momentos antes de varar o corao com uma bala, denunciava, em termos bem claros, os responsveis pelo golpe, os imperialistas norte-americanos e seus seguidores do entreguismo. Pela manh, grupos de populares atacaram bancas de jornais e destruiram exemplares de jornais propagandistas do golpe. As sedes do O Globo e da Rdio Globo foram atacadas. Dois caminhes dessa empresa foram incendiados. Das 11 ao meio-dia foram feitas vrias investidas populares contra a Tribuna da Imprensa, contidas por elementos da Polcia Especial, guardas-civis e investigadores. Vrios jornais cmplices da propaganda golpista foram mantidos sob guarda de policiais." Imprensa Popular, 25 de agosto de 1954 " (...) s oito horas e quarenta minutos, o rdio anunciou o inesperado, o chocante, o brutal: o Sr. Getlio Vargas suicidara-se com um tiro no corao. No se descreve o abalo causado por esse acontecimento. A cidade inteira vivera no curso de uma noite uma tragdia Shakesperiana. Uma tragdia que transcorria com toda a intensidade do real, do pungente, sacudindo os nervos, minuto a minuto, em que mentalmente os espectadores viam os quadros, os personagens, o desenrolar dos dilogos e o explodir das crises, e que, finalmente, terminava exatamente como nas cenas ltimas do dramaturgo ingls, com a morte da personalidade em torno da qual se entreteciam os acontecimentos e as palavras. (...) O corpo do Sr. Getlio Vargas foi transportado por via area para sua terra natal, So Borja. Seguiram-no quatro avies, com pessoas de sua famlia e amigos mais ntimos. A famlia do Presidente dispensou as honras militares. (...) A preocupao do Sr. Caf Filho restaurar a ordem nacional e realizar um Governo de concentrao, solicitando o apoio de todos os Partidos nesta hora gravssima do Pas." A Marcha, 27 de agosto de 1954 "Pouco antes das 9 horas a reportagem de A Noite junto ao Palcio do Catete transmitia-nos uma informao extremamente dramtica: o Sr. Getlio Vargas acabava de suicidar-se. Com um tiro no corao, executara a deciso extrema. Foi chamada com urgncia uma ambulncia. Getlio Vargas exalara j o ltimo suspiro. A primeira pessoa a informar sobre o suicdio de Getlio Vargas foi o seu sobrinho, capito Dorneles. Ouvira um tiro. Acorrera aos aposentos presidenciais. E de l saa logo com a notcia impressionante: matara-se Getlio Vargas. A ambulncia do Pronto Socorro que foi ao Palcio era chefiada pelo Dr. Rodolfo Perric. Esse mdico informou, ao regressar, que j encontrara o presidente morto, na cama, em seus aposentos particulares, cercado de membros da famlia. Vestia pijama e apresentava uma perfurao no corao. Estava com as vestes empapadas de sangue. (...) Durante toda a noite se desenrolaram os episdios que viriam a culminar com o suicdio de Getlio Vargas. s trs horas o Palcio do Catete era cenrio de uma reunio que marcar um dos episdios mais dramticos da histria do Brasil atual. Convidado a renunciar, Getlio Vargas recusou-se a atender ao apelo. A crise se prolongou. e se acentuava. Veio finalmente a sugesto que foi redigida sem demora e com a qual parecia ter se conformado o ex-presidente: a licena, ao invs da renncia. Mas a verdade que Getlio Vargas ia cumprir a promessa que fizera de s morto deixar o Catete. (...) Aps os primeiros instantes de estupefao, dentro do Palcio do Catete, o general Caiado de Castro conseguiu entrar no aposento em que se encontrava o Presidente Getlio Vargas cado com uma marca de sangue altura do corao. No mesmo momento, dona Darcy Vargas que seguia atras do general Caiado, atirava-se para frente e segurando as pernas do extinto, puxava-as exclamando: - Getlio, por que fizeste isso?? Logo depois entrava no quarto o Sr. Lutero Vargas e sentava-se ao lado do corpo, em prantos. s 9 horas surgia a notcia emocionante. Estavam terminados os dias do ex-chefe da Nao." A Noite, 24 de agosto de 1954 "A nao inteira foi abalada na manh de ontem com a notcia da morte do Sr. Getlio Vargas, ocorrida em circunstncias patticas. Cerca de trs horas aps a histrica reunio da madrugada de ontem, encerrada com a deciso de licena, o presidente da Repblica se suicida, com um tiro no corao. Pouco depois das oito horas, o Sr. Getlio Vargas encontrava-se no seu quarto de dormir, no terceiro andar do Palcio. De pijama, fisionomia tranquila, ali foi surpreendido pelo seu velho camareiro Barbosa, que entrava no aposento presidencial, conforme fazia todas as manhs, para o servio de arrumao. Disse-lhe, ento, o Sr. Getlio Vargas, em voz serene: - Sai Barbosa, eu quero descansar ainda um pouco. Foram estas as suas ltimas palavras. Instantes depois, deitando-se no leito, o Sr. Getlio Vargas comprimia, com a mo direita uma pistola contra o peito, exatamente sobre o corao, e com a outra acionava o gatilho. desferido o tiro, no teve mais que uns poucos minutos de vida. A cidade viveu ontem horas de profunda tenso nervosa, em consequncia do suicdio do presidente Getlio Vargas. s 8,45 quando maior era o movimento de automveis nos bairros para o centro da cidade foi a informao do falecimento divulgado pelo rdio. Na praia do Flamengo carros particulares, txis e coletivos paravam em plena Avenida e seus passageiros estupefatos dirigiam-se aos passageiros dos outros carros, procurando pormenores informaes como se no quisessem dar crdito ao que ouviram nas rdios dos automveis. (...) Uma verdadeira multido acorreu ao Palcio do Catete, onde permaneceu de p espera do momento que lhe permitissem ver o corpo do sr. Getlio Vargas. E muitos choravam." Correio da Manh, 24 de agosto de 1954 AS MANCHETES: Vargas Ao Marechal Mascarenha De Moraes: No Renunciarei! - Fui Eleito Pelo Povo, Por Cinco Anos, E Cumprirei Meu Mandato At O Fim. No Me Deixarei Desmoralizar ( A Noite ) Desfecho Tremendamente Dramtico: Matou-se Vargas! Um Tiro No Corao! A Resoluo Extrema Executado Pelo Presidente Que Caia ( A Noite ) O Inesperado Desfecho Da Crise Militar ( A Marcha ) Protesta O Povo Nas Ruas Contra O Golpe E Pelas Liberdades Unio De Todos Os Brasileiros Para A Defesa Da Constituio Apoiado Pelos Ianques Caf Sucede Vargas ( Imprensa Popular ) Pus E Lama Escorrem Sobre A Nao Estarrecida Gregrio Explorava A Contraveno, Arrancando Dinheiro Dos "Bicheiros" ( O Dia ) Afasta-se Vargas Do Governo - s 4 Horas E 55 Minutos O Momento Decisivo - O Sr. Vargas Ainda Tentou Resistir, Recusando-se A Aceitar as Razes Apresentadas Pelos Seus Ministros - A Reunio Ministerial Durou Cerca De Quatro Horas ( O Dia ) Lamenta O Pas A Morte Do Presidente Vargas - Enorme Massa Popular, Numa Fila Interminvel, Na Visitao Do Corpo Do Presidente Da Repblica, Exposto, Em Cmara Ardente, No Palcio Do Catete ( O Dia ) A Multido Desfilou A Chorar Ante Vargas - O Presidente Morreu Impressionantes Os Aspectos Do Velrio No Catete ( Dirio Carioca ) Dramtico Desfecho ( Jornal do Brasil ) Vargas No Ceder Nem Violncia, Nem s Provocaes, Nem Ao Golpe "S Morto Sairei Do Catete" ( ltima Hora ) ltima Hora Havia adiantado, Ontem, O Trgico Propsito - Matou-se Vargas O Presidente Cumpriu A Palavra! "S Morto Sairei Do Catete!" ( ltima Hora )  45) Mineirinho (1962) "Depois de travar violento tiroteio com policiais cariocas, "Mineirinho", que se encontrava homisiado no Morro da Previdncia, onde fra receber um "auxlio" de um contraventor, conseguiu furar o crco policial, escalando uma barreira de aproximadamente 30 metros e tomou destino ignorado. Os policiais que provocaram a fuga do perigoso marginal, seguiram, imediatamente, para o Morro de Mangueira, onde esperam localiz-lo, num local onde o mesmo havia marcado com alguns de seus comparsas. O fato ocorreu s ltimas horas da noite de ontem. Na Rua da Amrica, por onde tem uma das entradas para o Morro de Previdncia, desde s primeiras horas da tarde de ontem, quando chegou a primeira informao de que "Mineirinho" ali se encontrava, transformou-se numa verdadeira praa de guerra: crca de 100 policiais, armados de metralhadoras e com ordem de captur-lo (de "qualquer maneira") vasculhavam as ruas da favela. J s primeiras horas da madrugada de hoje, os policiais deslocaram-se para o Morro de Mangueira, onde o marginal possui muitos amigos. Sua pris!ao poder ocorrer ainda hoje. Os policiais esto informados de quais as residncias ( barracos ) onde "Mineirinho" poder fugir ao crco policial." Dirio Carioca, 29 e 30 de abril de 1962 "Com uma orao de Santo Antnio no blso e um recorte sbre seu ltimo tiroteio com a Polcia, o assaltante Jos Miranda Rosa, "Mineirinho", foi encontrado morto no Stio da Serra, na Estrada Graja-Jacarepagu, com trs tiros nas costas, cinco no pescoo, dois no peito, um no brao esquerdo, outro na axila esquerda e o ltimo na perna esquerda, que estava fraturada, dado queima-roupa, como prova a cala chamuscada. A Polcia aps os primeiros exames periciais, afirma que o assaltante foi morto em outro lugar, pois no foram encontradas no local suas armas. Logo aps ter sido anunciado que Mineirinho tinha sido encontrado morto, centenas de pessoas compareceram ao Stio da Serra para v-lo e outro tanto foi ao Instituto Mdico Legal, para onde seu corpo foi removido tarde. (...) At s ltimas horas de ontem a Polcia ainda no havia esclarecido o tiroteio ocorrido domingo ltimo, s 22 horas, na Rua General Pedra, prximo esquina da Rua de Santana, onde se localiza a garagem da emprsa de transporte Santa Ceclia. Funcionrios desta garagem informaram reportagem que o tiroteio foi travado entre vrios indivduos que saltaram de um carro e trs elementos que fugiram. Pouco depois de acabado o tiroteio, apareceu uma viatura da RP que se retirou rapidamente, enquanto dois homens colocavam o cadver de um dos assaltantes num carro particular, levando-o para local ignorado. A reportagem encontrou no local do tiroteio inmeras cpsulas de balas calbre 45mm, usadas nas metralhadoras "Thompson"e "Ina", e um par de sapatos manchado de graxa. acredita-se que neste tiroteio tenha sido morto o assaltante Mineirinho. Dezenas de pessoas pobres compareceram ao local onde foi encontrado o cadver de Mineirinho. Ningum conseguiu aproximar-se do corpo, pois a polcia, por ordem do delegado Agnaldo Amado, do 23o DP, afastava a todos com violncia. Em geral, os moradores do morro se mostravam contrariados com a morte de Mineirinho, que consideravam uma verso carioca de Robin Hood. No Instituto Mdico Legal, para onde foi levado o cadver, tambm compareceu grande nmero de pessoas. A Polcia fiscalizou a todos que l foram, na esperana de identificar os que j pertenceram s suas quadrilhas. Quem identificou o corpo do assaltante foi seu pai, que o velou durante tda a noite. Ontem, antes de ter sido anunciada a morte de Mineirinho, o marginal Ren da Silva, "Negro", membro da sua quadrilha, que se encontrava prso na Delegacia de Vigilncia, declarou reportagem que somente morto le se entregaria e que le fugiu da priso para matar "Cabo Lus", a quem atribua sua priso. Milton Fernandes Carvalho, "Faquir", o outro assaltante da "gang" que se encontra prso na DV disse tambm que a inteno de Mineirinho era matar "Cabo Lus" e que sua grande paixo sempre foi Maria Helena." Dirio Carioca, 1 de maio de 1962 "A Polcia completou, ontem, o quinto dia de perseguio a "Mineirinho", travando demorado tiroteio com le e quatro comparsas, que se ocultavam no barraco onde sempre morou o delinqente no morro da Favela e de onde escaparam rolando por uma ribaneira de 25 metros de altura. Depois dsse episdio, ocorrido quase s 20 horas, as turmas da Delegacia de Vigilncia e da Sub-Seo de Olaria perderam todas as pistas do bandido, que as autoridades, apesar de tudo, ainda esperam encontrar, vivo ou morto, nas prximas 24 horas, contando com a traio de seus adversarios e com a vigilncia dos "olheiros" que mantm disfarados em todos os morros da cidade. (...)" Dirio de Notcias, 29 e 30 de abril de 1962 "Treze vezes varado por disparos de metralhadoras "Ina" e trajando bluso verde, cala preta e meias azuis, "Mineirinho" foi jogado morto no capinzal existente a 5 metros do meio-fio do quilmetro 4 da estrada Graja-Jacarepagu. Parece que seu ltimo duelo com a Polcia ocorreu na rua General Pedra, onde, batido em plena madrugada pela turma do detetive Daniel, procurou refgio sob um nibus e se tornou alvo fcil para as rajadas de balas que vinham de todos os lados, sobretudo porque seus gritos desesperados de socorro auxiliavam o ataque furioso dos policiais. O motorista Arclio Meneses ( rua "E" no 342, Juiz de Fora ) foi quem deu com o corpo atirado na mata. Parou o seu caminho na altura da Cachoeira Grande e, depois de constatar que o homem estava morto, chamou os guardas de servio da rodovia. Em questo de minutos, os policiais identificaram o homem que tinha uma bala na perna esquerda, trs nas costas, uma no brao esquerdo, uma no pescoo, uma no punho direito, uma no brao esquerdo, quatro no peito e uma no corao. Vrias delas ainda apresentavam marcas de plvora, indicando que os tiros haviam sido desferidos queima-roupa. Em volta do corpo no havia um nico sinal de sangue, evidenciando que a morte no ocorrera naquele local. Alm disso, os moradores dos barracos das vizinhanas asseguraram que ali no se travara nenhum tiroteio durante a madrugada. "Mineirinho" fra mesmo liquidado em outro lugar e removido para l. (...) Logo que se espalhou a notcia da localizao do corpo de "Mineirinho", verdadeira multido deslocou-se na direo do quilmetro 4 da estrada Graja-Jacarepagu. Foi necessario estender um cordo de isolamento sob a orientao do delegado Cecil Borer e do comissrio Amado. s 15 horas, o cadver chegou ao Instituto Mdico Legal. Novamente outra multido aglomerou-se para tentar ver o marginal e, no meio dela, as autoridades capturaram diversos meliantes. Hoje, os legistas faro a autpsia e, possivelmente, s 16 horas, ser feito o enterro. Desapareceu, assim, um dos criminosos mais famosos dos ltimos tempos. Moo ainda, tinha 107 anos de cadeia por cumprir. Preferiu a morte cela perptua. Por duas vzes escapara das grades e se ocultara nos morros quase inacessveis aos seus perseguidores. Mas descendo cidade, teve de enfrentar de igual para igual aqules que estavam na sua pista e terminou levando a pior. Quase 300 homens andavam no seu encalo desde o dia 23 de abril, quando escapara calmamente do Manicmio Judicirio jurando que nunca mais voltaria ao crcere." Dirio de Notcias, 1 de maio de 1962 "No foi a Justia quem decretou a morte do mais temvel assaltante do Rio de Janeiro, conhecido pela alcunha de "Mineirinho". le prprio a procurou, desafiando a tranqilidade pblica e um aparelhamento policial cujas metralhadoras sabia no lhe dariam trgua. Careregando 104 anos de priso, o facinora ainda brincou pelas ruas e favelas da cidade durante dias, assaltando e baleando - que estas eram sua razo de viver. No h pena de morte, muito menos os policiais tm carta de legtima defesa permanente, para matar sem dar as devidas satisfaes. Seja a vtima da mais alta periculosidade. Da seu corpo ter sido manhosamente transportado para local rmo, numa prova de que nem sempre os detetives sabem despistar. Mas isso outra histria. "Mineirinho" acabou para a crnica policial. Seu corpo, como outro qualquer, s mereceu do popular que aparece na foto o gesto de retirar o chapu de sbre a cabea, em sinal de respeito. Em sinal de respeito aos leitores, tambm evitamos focaliz-lo varado pelas balas. Crivado de balas, foi encontrado ontem margem da Estrada Graja- Jacarepagu ( K.4 ), o cadver do facnora "Mineirinho" (Jos Miranda Rosa). O marginal no fra ali assassinado. Pessoas que testemunharam um tiroteio nas fraldas do Morro do Pinto, na Rua General Pedra, ligaram os fatos e afirmaram que a Polcia metralhou "Mineirinho" na refrega. A verso diz que o marginal fra apanhado de surprsa, mas que, rpido, atirou-se ao solo, sob um nibus estacionado, e tentou ainda reagir. Uma nova rajada de metralhadora acabou com o assaltante. ainda a verso diz que um carro de c6or amarela recolheu "Mineirinho", levando-o para outro local. Jos Rosa, conforme noticiamos, fugiu h dias do Manicmio Judicirio e havia jurado vender caro a liberdade. Efetivamente, baleou dois policiais que o caavam, praticando, ainda, varios assaltos. (...) E "Mineirinho"morreu. Teve o fim de todos os seus iguais. Foi talvez, o bandido mais temvel de quantos a Polcia carioca j enfrentou. Fugiu, de maneira ainda no esclarecida, no dia 23 de abril ltimo, do Manicmio Judicirio, levando o propsito de eliminar diversos policiais, antes de ser abatido, pois dos seus planos fazia parte tambm, s se entregar morto. Por pouco no cumpria totalmente a promessa. Baleou dois policiais, um dos quais - gravemente, num "entrevero"em Tomazinho, no Estado do Rio. Ambos pertencem 2a Subseo de Vigilncia, que lhe movia a caada incessante. O delegado Agnaldo Amado solicitou o comparecimento de um tcnico do Instituto de Criminalstica. Os peritos Diamantino e Iv estiveram no local, recolhendo em poder da vtima a importncia de 8.120 cruzeiros e uma orao: "Cinco Minutos Diante De Santo Antnio". "Mineirinho", segundo a percia, recebeu um tiro queima-roupa na perna esquerda, fraturando-a. Apresentava mais duas perfuraes nas costas, perfazendo um total de 13 tiros. segundo, ainda, os tcnicos do IC, o famoso bandido no foi assassinado no local. Suas armas desapareceram. "Mineirinho" portava sempre duas pistolas "45mm". Dada a rigidez do corpo, e delinqente fra eliminado entre 4h30m e 5 horas. O corpo, com guia das autoridades do 23o Distrito Policial, foi removido para o necrotrio do Instituto Mdico Legal. (...)" Correio da Manh, 1 de maio de 1962 "Jos Rosa de Miranda, o Mineirinho, foi encontrado morto, ontem na Estrada Graja-Jacarepagu, no Rio, com 13 tiros de metralhadora em vrias partes do corpo - trs deles nas costas e quatro no pescoo - uma medalha de ouro de S. Jorge no peito e Cr$ 3.112 nos bolsos, e sem os seus sapatos marca Sete Vidas, atirados a um canto. A Polcia atribui o assassinato do ex-detento "a um seu rival". (...) Embora a Polcia afirme que nada tem a ver com a morte de Mineirinho, que fugira h oito dias do Manicmio Judicirio, apurou-se que foi Paulo Srgio dos Santos, conhecido por Gambota e informante do Detetive Daniel, Chefe do Setor de Vigilncia, quem indicou na noite de domingo o local em que le iria aparecer. Levantamento feito pelos jornalistas revelou pormenores que a prpria Polcia se nega a confirmar, embora existam pontos que indicam a sua participao no episdio. A hipotese de que le teria sido morto onde foi achado afastada pelo depoimento dos moradores de Cachoeira Grande, que no ouviram tiros ali. Segundo os indicios recolhidos pelos jornalistas, Mineirinho foi morto a 1h30m de ontem, na Rua General Pedra, esquina da Rua Santana, prximo Garagem Ipiranga. Dali foi colocado num auto e levado para a Estrada Graja-Jacarepagu. Os ocupantes do carro procuraram um lugar para deixar o corpo - precipicio entre os muitos das redondezas -, mas a aproximao de outros veculos fz com que voltassem e deixassem o corpo no quilometro 4. (...) O corpo de Mineirinho foi levado por volta das 14h30m para o Instituto Mdico Legal, mas a autpsia no pde ser feita porque havia muita gente querendo v-lo: uma fila de mais de mil pessoas se firmara pelas ruas adjacentes. Dessas, pelo menos sete foram prsas, por detectives da Delegacia de Vigilncia, pois eram fichados e estavam sendo procuradas. O legista Nlson Capareli utilizou o corpo para dar aulas a alguns estudantes de Medicina. O reconhecimento oficial do corpo de Mineirinho, at noite dependia de uma ordem do Chefe de Polcia: para identific-lo apareceu seu irmo, o Sr. Romeu Rosa de Miranda, funcionario da Cia. Siderrgica Nacional. Segundo o legista Capareli, a necrpsia ser feita s 9h. O entrro, custeado pelo Sr. Romeu de Miranda ser no Cemitrio do Caju, possivelmente s 15h. (...) Jornal do Brasil, 1 de maio de 1962 "Treze balas de metralhadora encerraram a existncia do mais atrevido e perigoso bandido que marcou poca nos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. Jos Miranda Rosa, o tristemente famoso "Mineirinho", foi encontrado morto, na manh de ontem, pela reportagem de O Dia e A Notcia, margem da estrada Graja- Jacarepagu. O cadver estava beira de um groto, em decbito dorsal, no lugar chamado "Pedra do Gamb", no morro da Cachoeira Grande, com a face esquerda encoberta pela mo do mesmo lado. Tinha dois balaos no pescoo, dois no maxilar, dois no rosto, dois no peito, dois nas costas, um na cabea, um na perna esquerda e o ltimo no brao direito. (...) A notcia do encontro do cadver de "Mineirinho" espalhou-se com incrvel rapidez pelos quatro cantos da cidade. Estaes de rdio e edies de jornais em 2o clich contribuiram para isso. Ao meio-dia, mais de duas mil pessoas se concentravam na estrada Graja-Jacarepagu. Para que se tenha uma idia da curiosidade popular, basta dizer que at lotaes foram alugadas especialmente para 6esse fim. Com "vista" de "especial", despejavam populares nas imediaes da "Pedra do Gamb". Todos queriam ver o corpo do bandido. A coisa chegou a tal ponto, que o delegado Amado viu-se na contingncia de ter que solicitar uma guarnio da Polcia Rodoviria para desinterditar o trfego. no havia veculo que rompesse a massa humana. (...) Ao que tudo indica, "Mineirinho" foi morto por uma turma de policiais, na rua General Pedra, ao findar a noite de domingo, defronte garage da "Emprsa Transportadora Santa Caclia Ltda". De que a Polcia matou um homem ali, crivando-o de balas, no h a menor dvida, conforme declaraes feitas a O Dia pelo mecnico Antnio Eli, daquele estabelecimento. Disse o seguinte: por volta das 22:30 horas, fazia reparos num nibus, quando viu uma viatura policial parar na esquina das ruas Marqus do Pombal e General Pedra. Saltaram vrios homens armados, espalhando-se e permanecendo em locais estratgicos. Pouco depois - continuou o mecnico - um indivduo moreno, franzino, alto (so os caracteres fsicos de "Mineirinho") apareceu e, percebendo que estava cercado, tentou fugir em direo ponte que d acesso ao morro da Favela, Os policiais, porm, fecharam o crco e o homem lanou-se debaixo de um nibus que ali estava parado, recebendo ento uma saraivada de tiros. Mesmo ferido, tentou saltar um muro, mas recebeu a descarga de misericrdia. Apavorado com o que assistia, Eloi escondeu-se tambm sob o nibus que consertava, mas ainda assim pde observar quando o sujeito alvejado era arrastado para dentro de um carro prto, que arrancou em louca disparada rumo Zona Norte. A reportagem de O Dia encontrou, naquele local, vrias cpsulas - algumas intactas. Como se v, se no foi "Mineirinho" o alvo da fuzilaria, um inocente foi morto em seu lugar. (...)" O Dia, 1 de maio de 1962 AS MANCHETES: Tiroteio: Polcia X Mineirinho ( Dirio Carioca ) "Mineirinho" Morreu Com Orao E Recorte No Bolso ( Dirio Carioca ) Polcia Perde Todas As Pistas Que Levam A "Mineirinho" ( Dirio de Notcias ) "Mineirinho" Foi Metralhado 13 Vzes E Atirado No Mato - Povo Afluiu Para Ver Bandido Morto ( Dirio de Notcias ) A Cidade Est Em Paz ( Correio da Manh ) "Mineirinho"Foi Crivado De Balas E Atirado Na Graja-Jacarepagu ( Correio da Manh ) "Mineirinho" Sem Sete Vidas ( Jornal do Brasil ) Delegado Admite Que "Mineirinho" Pode Ter Sido Morto Pela Polcia ( Jornal do Brasil ) Tombou O Inimigo Pblico N. 1 - "Mineirinho" Metralhado Pela Polcia! Facnora Levou Uma Carga De Chumbo . Ferido, Tentou Saltar Um Muro E Recebeu A Rajada De Misericrdia. O Cadver Foi Descoberto Pela Reportagem De O Dia e A Notcia. Estava Jogado Margem Da Estrada Graja-Jacarepagu Na Altura Do Km. 4, Com Treze Perfuraes Pelo Corpo - "Coisa Ruim", Amigo Do Bandido, Jura Vingana - Depoimento Impressionante De Uma Testemunha De Vista Do Fuzilamento - Fretados Lotaes Para Curiosos Verem O Corpo Do Famoso Marginal ( O Dia )  46) Comcio da Central do Brasil (1964) "Uma grande multido encheu a Praa Cristiano para ouvir o Presidente da Repblica. A manifestao transcorreu em ordem, apenas com ligeiros incidentes, no polticos; logo abafados. O acidente mais grave aconteceu quando uma faixa pegou fogo e, em consequncia do pnico, 140 pessoas se feriram. Antes de comear o comcio, a exploso de uma bomba feriu sete pessoas. (...) Cerca de cem mil pessoas ouviram, ontem, na Praa Cristiano Otoni, o Presidente Joo Goulart e doze outros oradores. A manifestao transcorreu em ordem, registrando-se apenas ligeiros incidentes, logo abafados. O acidente mais srio aconteceu quando uma faixa pegou fogo e se estabeleceu pnico. Sairam feridas 140 pessoas. Antes de comear o comcio, a exploso de uma bomba feriu sete pessoas. (...) s 19h40m, foi anunciada a presena, no palanque, dos trs ministros miltares, General Jair Dantas Ribeiro, do Exrcito, Brigadeiro Anisio Botelho, da Aeronutica, e Almirante Slcio Mota, da Marinha. Na oportunidade, tambm foi feita aluso ao Almirante Cndido Arago, comandante do Corpo de Fuzileiros Navais. s 19h44m, chegava ao palanque o Presidente Joo Goulart, acompanhado em primeiro plano do Sr. Eugnio Caillard, seu secretrio particular. No momento em que o Sr. Joo Goulart subiu ao palanque, discursava o Deputado Doutel de Andrade, em nome do PTB, criticando o capitalismo, e prometendo irrestrito apoio ao Presidente e aos trabalhadores. A Sra. Maria Teresa Goulart trajava um vestido azul-piscina, e apresentava um penteado que lhe prendia os cabelos no alto. Entrevistada pelos reprteres, afirmou que estava achando o comcio "maravilhoso" e que era a favor das reformas de base. (...) At depois das 20 horas, quando j estava presente o Presidente Goulart, continuavam chegando delegaes ao comcio, ficando totalmente tomado todo o quarteiro compreendido entre o Mercado do SAPS e o Panteon Caxias, passando pela primeira pista da Avenida Presidente Vargas. No lado oposto da Praa Cistiano Otoni, a massa se comprimia entre o edifcio da Central do Brasil e a ala lateral do Ministrio da Guerra, at as imediaes da entrada do Tnel Joo Ricardo. (...) Entre as faixas empunhadas pelos manifestantes da Praa Cristiano Otoni estavam a s seguintes: "Salve O Glorioso CGT", "Reconhecimento da China Popular", "PCB, Teus Direitos So Sagrados", "Viva O PCB", "Encampao de Capuava", "Abaixo Com As Companhias Estrangeiras", alm de vrias outras de saudao ao Presidente Joo Goulart. Outras diziam: "Jango Em 65 - Presidente da Repblica: Trabalhadores Querem Armas Para Defender O Seu Governo". "Sexta Feira, 13, Mas No De Agosto", "Brizola 65 - Soluo Do Povo", "Jango - Abaixo Com Os Latifndios E Os Trustes", "Jango - Defenderemos As Reformas A Bala". (...) O Prof. Darci Ribeiro, chefe do Gabinete Civil da Presidncia da repblica, por trs vezes chegou-se ao Presidente Joo Goulart, quando este discursava, falando qualquer coisa a seu ouvido. Quase imediatamente o Sr. Joo Goulart passava a abordar outro assunto ainda no ventilado no discurso. O Chefe da Nao, que iniciou seu discurso lendo o que fra preparado com antecedncia, entusiasmou-se com suas palavras e passou a falar de improviso, da os "sopros" do Sr. Darci Ribeiro, para que nada ficasse esquecido. D. Maria Teresa chegou sorrindo ao palanque, ficando sria logo aps. A cada pedido dos fotgrafos, ela sorria novamente. Quando comearam a soltar fogos de artifcio, ela preocupou-se e passou a olhar para os lados e para trs. Durante os 66 minutos do discurso presidencial, permaneceu ao lado do Sr. Joo Goulart, passando-lhe, a cada momento, o copo d'gua gelada. (...) Terminado o comcio, o Presidente Joo Goulart estava visivelmente exausto. Mal entrou no carro que o conduziria ao Palcio das Laranjeiras, recostou-se no colo de D. Maria Teresa, que lhe acariciou carinhosamente os cabelos." O Globo, 14 de maro de 1964 "Cerca de duzentas mil pessoas tomaram parte na concentrao realizada ontem, na Praa da Repblica, em favor das reformas. Desde as 15 horas, era acentuado o movimento de populares a caminho do local do comcio, pelas ruas centrais da cidade. A manifestao teve incio s 18 horas, quando foi lida a mensagem do povo e autoridades municipais de Porto Alegre, em nome de todo o Rio Grande do Sul, saudando o Presidente Joo Goulart e os lderes populares pela sua atuao em favor das reformas. A essa altura dos acontecimentos, j se encontravam no palanque vrias autoridades, entre as quais os senhores Darcy Ribeiro, Chefe da Casa Civil da Presidncia da Repblica, o Marechal Osvino Ferreira Alves, Presidente da Petrobrs, o Ministro Jlio Sambaqui, da Pasta da Educao e o Governador Seixas Dria, de Sergipe. (...) Antes de ser apresentado o terceiro orador, deputado Srgio Magalhes, foi anunciado ao povo que o Presidente da Repblica acabara de assinar, no Palcio das Laranjeiras, o Decreto da SUPRA, desapropriando as terras existentes num raio de dez quilmetros dos eixos das rodovias e ferrovias federais, alm das terras beneficiadas ou recuperadas por investimentos exclusivos da Unio em obras de irrigao, drenagem e audagem. Logo aps ser ouvida a palavra do Governador Miguel Arraes, foi anunciada a assinatura do decreto de encampao das refinarias particulares, como as de Capuava, Manguinhos, Matarazzo e outras. (...) s 19 horas e 50 minutos, foi anunciada a chegada do Presidente Joo Goulart, juntamente com a primeira dama do Pas, Sra. Maria Teresa Goulart. Afirmando ao povo que "a hora das reformas, pois as atuais estruturas ultrapassadas no mais podero realizar o milagre da salvao nacional de milhes de brasileiros", o Presidente Joo Goulart pronunciou incisivo discurso no "Comcio Pr Reformas de Base". Continuando, o Sr. Joo Goulart disse que "S conquistaremos a paz social, atravs justia social. A maioria dos brasileiros no se conforma com a ordem social vigente, imperfeita, injusta e desumana. Esse o motivo que me leva a lutar pelas reformas, de estruturas, de mtodos, de estilos, de trabalho, e de objetivos, pois no possvel progredir sem reformas." (...)" A Noite, 14 de maro de 1964 "Transformou-se numa autntica festa popular, o comcio ontem realizado na Praa Cistiano Ottoni. Ao encontro do presidente da Repblica, uma incalculvel multido deslocou-se desde as primeiras horas da tarde, entoando cantos e trazendo faixas e cartazes, alusivos s suas reivindicaes e indicativos do apoio com que pode contar o presidente Goulart nas medidas que vem tomando na defesa dos interesses nacionais. O entusiasmo que recebia as palavras dos lderes polticos, sindicais e estudantis mostrou uma firme determinao do povo de lutar unido e coeso pela implantao das reformas fundamentais de que o Brasil necessita para a consolidao do seu desenvolvimento. Foi uma evidncia, na repercusso que teve nos aplausos da grande massa popular, o sentimento da necessidade de uma efetiva e urgente modificao que reformule o arcaico estatuto da terra ainda vigente entre ns. Pacfica e ordeiramente, o povo compareceu ao dilogo democrtico com o presidente da Repblica e disse-lhe, pela voz dos seus lderes autnticos e pala eloqncia dos seus cartazes e faixas, o que o povo deseja que seja feito para o bem da Nao. Foi portanto o comcio de ontem, uma extraordinria demonstrao de pujana do regime democrtico, com o povo brasileiro unido ao seu presidente na praa pblica, em festivo ato de pleno exerccio da Democracia." Dirio Carioca, 14 de maro de 1964 "O Presidente Joo Goulart, depois de assinar, no Palcio das Laranjeiras, o decreto da Supra - o passo inicial para a reforma agrria - e o da encampao de refinarias particulares de petrleo, anunciou ontem no comcio da Central do Brasil o tabelamento, dentro de horas, dos aluguis, e prometeu lutar pela reforma da Constituio, a fim de promover o "desenvolvimento do Pas com justia social". - Nenhuma fora ser capaz de impedir que o Governo continue a assegurar absoluta liberdade ao povo brasileiro. E para isso podemos declarar, com orgulho, que contamos com a compreenso e o patriotismo das bravas e gloriosas Foras Armadas - disse o Sr. Joo Goulart em seu discurso na Praa Cristiano Otni, noite, perante multido calculada em 130 mil pessoas e ao lado de sua espsa Sra. Maria Teresa. Durante o meeting, cuja ordem foi garantida pela maior demonstrao de fra blica j vista em atos dessa natureza, esboou-se um momento de protesto, com a colocao de velas acessas nas janelas dos apartamentos da Praia do Flamengo, onde reside, o Governador Carlos Lacerda. A sugesto dsse protesto mudo foi dada atravs de telefonemas annimos, mas o movimento restringiu-se a apenas trinta apartamentos. Tambm falaram ao povo, no comcio, os Srs. Miguel Arrais e Leonel Brizola - este o orador mais aplaudido. O ex-Governador gacho pregou a necessidade de uma sada pacfica para "este impasse a que chegamos", sugerindo "uma Constituinte para a eleio de um Congresso popular, um Congresso onde se encontrem trabalhadores e camponeses, onde se encontrem muitos sargentos e oficiais nacionalistas". Em Braslia, os lderes oposicionistas Bilac Pinto e Pedro Aleixo consideraram subversivas e violadoras da lei as palavras do Sr. Leonel Brizola, estranhando que os Ministros militares, presentes ao palanque da Praa Cristiano Otni no o houvessem preso em flagrante. O Sr. Joo Goulart considerou "bom" o discurso do ex-Governador gacho. (...)" Jornal do Brasil, 14 de maro de 1964 "Falando a uma multido de centenas de milhares de pessoas, no palanque diante do qual se viam as fras militares, montando guarda ao povo, que conduzia cartazes exigindo sobretudo as reformas e a legalidade do PC, havendo inclusive o foice e o martelo, o presidente Joo Goulart afirmou que "os milhes de brasileiros que nada tm se impacientam com a demora j agora insuportvel, em receber os dividendos de um progresso tambm construdo pelos mais humildes". Depois de salientar que ali estavam trabalhadores, "vencendo uma campanha de terror ideolgico e sabotagem, cuidadosamente organizada para impedir ou perturbar a realizao do comcio", disse que, dentro de associaes de cpula, de classes convervadoras, "levantou-se voz contra o presidente pelo crime de defender o povo contra os que o exploram nas ruas, em seus lares, movidos pela ganncia". Passou, em seguida, a pregar a reforma da Constituio que tachou de "inadequada, porque legaliza uma estrutura scio-econmica j superada, injusta e desumana". Ao anunciar que acabava de subscrever o decreto da SUPRA, declarou que "ele no a reforma agrria pela qual lutamos, ainda no a carta de alforria do campons abandonado", acrescentando que "reforma agrria com pagamento prvio do latifndio improdutivo, vista e em dinheiro, no reforma agrria, negcio agrrio, que interessa apenas ao latifundirio". Voltando a atacar a Carta Magna, fisou que "em todos os pases civilizados do mundo j foi suprimida do texto constitucional, a parte que obriga, na desapropriao por intersse social, o pagamento em dinheiro". Revelou, ainda, o Sr. Joo Goulart que vai promover "rigorosa e implacvel fiscalizao dos exploradores" e advertiu: "Aqules que desrespeitam a lei, explorando o povo - no interessa o tamanho de sua fortuna, nem o tamanho de seu poder, esteja le em Olaria ou na rua do Acre - ho de responder perante a lei, pelo seu crime". Atacou a Associao Comercial e, ao concluir, disse que os funcionrios pblicos, mdicos e engenheiros tero atendido suas reivindicaes. (...)" Dirio de Notcias, 14 de maro de 1964 "Guerra civil, fechamento do Congresso, constituinte e at implantao da socializao crescente da economia do Pas foram os elementos essenciais utilizados pelos oradores do comcio de ontem pelas reformas de base, do presidente Joo Goulart ao deputado Leonel Brizola; do presidente da SUPRA ao representante do CGT. O Sr. Joo Goulart antecipou o quadro de rovoluo civil, ao creditar queles que se opem s reformas um possvel derramamento de sangue no Pas. O deputado Leonel Brizola pediu o fechamento do Congresso, seguido de constituinte e de plebiscito para as reformas de base que o parlamento no ter votado ao cabo da atual legislatura. O Sr. Miguel Arrais enfatizou o aspecto "altamente significativo" da encampao das refinarias de petrleo. E os demais oradores detiveram-se, entre as reformas e a revoluo. (...) "Falando Tribuna logo aps o comcio da Central, o governador Carlos Lacerda acusou o Sr. Joo Goulart de ter, desta vez, furado a barreira da Constituio, e conclamou o Congresso a "levantar-se e defender o que resta da liberdade e da paz neste Pas". - O comcio - declarou o Sr. Carlos Lacerda - foi um assalto Constituio, ao bolso e honra do povo. O discurso do Sr. Joo Goulart subversivo e provocador, alm de estpido. O pavor de perder o contrle sobre as negociatas e escndalos de toda a ordem, que abafa com a sua autoridade presidencial, f-lo perder a cabea. Esse homem j no sabe o que faz. (...)" Tribuna da Imprensa, 14 de maio de 1964 AS MANCHETES: Concentrao Servir De Senda Para Invaso De Terras - Comcio Inicia Agitao - 1) Lavradores Mobilizados Para Invases De Fazendas 2) Rebelies Marcadas Para Eclodir Aps Concentrao 3) Conselho De Segurana Faz Levantamento Da Situao O Comcio Contra A Guanabara ( Tribuna da Imprensa ) 1) O Discurso Do Sr. Joo Goulart, No Comcio Da Central Do Brasil, Deixou Claro Para Os Que O Ouviram Os Seus Propsitos Esprios De Continusmo - Leonel Brizola Voltou A Ser Cmplice 2) Concentrao Custou Trezentos E Cinqenta Milhes De Cruzeiros, Pagos Com Recursos Proporcionados Por Autarquias - O Instituto Do Aucar Participou Com Duzentos Milhes De Cruzeiros 3) Encampao Das Refinarias Foi Imposio De Brizola Para Comparecer Concentrao Sindical Pedido De Emenda Constituio Tem Fins Continustas Pregao Contra O Congresso Provoca A Reao Parlamentar Atmosfera Revolucionria No Ato Da Encampao E Desapropriao ( Tribuna da Imprensa ) Estado Toma Conta De Refinarias E Vai A Latifndios Constituio No Serve Mais ( Dirio de Notcias ) Goulart Decreta A Desapropriao De Terras, Encampa Refinarias E Pede Nova Constituio ( Jornal do Brasil ) Treze Oradores Falaram No Comcio Das Reformas ( O Globo ) No Comcio De Ontem Na Central Do Brasil O Presidente Formula O Seu Programa: Progresso Com Justia e Desenvolvimento Com Igualdade ( A Noite ) Pacto Do Povo Com Jango: Reformas A Qualquer Preo ( Dirio Carioca )  47) Revoluo de 1964 (1964) "O Presidente da Repblica sente-se bem na ilegalidade. Est nela e ontem nos disse que vai continuar nela, em atitude de desafio ordem constitucional, aos regulamentos militares e ao Cdigo Penal Militar. le se considera acima da lei. Mas no est. Quanto mais se afunda na ilegalidade, menos forte fica a sua autoridade. No h autoridade fora da lei. E, os apelos feitos ontem coeso e unidade dos sargentos e subordinados em favor daquele que, no dizer do prprio, sempre estve ao lado dos sargentos, demonstra que a autoridade presidencial busca o amparo fsico para suprir o carncia de amparo legal. Pois no pode mais ter amparo legal quem no exerccio da Presidncia da Repblica, violando o Cdigo Penal Militar, comparece a uma reunio de sargentos para pronunciar discurso altamente demaggico e de incitamento diviso das Foras Armadas. (...)" Jornal do Brasil, 31 de maro de 1964 "Quem chegasse s 8h30m da noite de ontem ao Edifcio do Jornal e da Rdio Jornal do Brasil no poderia entrar pois encontraria na porta, metralhadora em punho, um fuzileiro naval. E se olhasse pela parede de vidro dos estdios da Rdio teria a impresso de assistir a um filme de gangsters: quatro outros fuzileiros, comandados pelo Tenente Arinos, moviam-se como gorilas pelo estdio, seus movimentos tolhidos pelas metralhadoras que ameaavam microfones, painis de instrumentos e os funcionrios, estupefatos com aquela irrupo de selvajaria tecnolgica em plena Avenida Rio Branco. Era o Brasil regredindo ao estado de republiqueta latino-americana. Os fuzileiros navais, ao chegarem, dispararam dois tiros para o ar diante do prdio e entraram de metralhadoras em punho, pistolas na cinta, at o 5o andar. Tinham ordem de quem? indagamos. Do Ministro da Marinha, disseram. Onde est a ordem? Era verbal. Da Rdio, o Tenente telefonou a um Almirante, sem lhe dizer o nome. O prdio era muito grande, disse. Precisavam reforos. Deixaram dois de guarda na Rdio, outro na porta da rua e foram em busca dos tais reforos, sem dvida para ocuparem todas as dependncias do Jornal do Brasil. Mas deve estar em desespro o Govrno do Sr. Joo Goulart. Dentro de meia hora, em lugar dos reforos, veio a ordem de retirar. Amontoados no elevador, capacetes na cabea, metralhadoras se entrechocando e se apoiando nas costelas dles prprios, desceram. E passaram diante de populares boquiabertos, na calada da rua. Quem humilha assim os bravos Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil? Quem os transforma primeiro em gangsters violentos e os faz evacuar em seguida, confusos, um pugilo de homens envergonhados sob o pso de tanto material blico? Quem estimula a indisciplina de marujos e fuzileiros e depois os transforma em bandidos e em seguida em pobres diabos pilhados em flagrante? A partir de 13 de maro o Sr. Joo Goulart tem injuriado muitos, em muito pouco tempo. Agora, ao que tudo indica, j lhe resta muito pouco tempo para injuriar quem quer que seja." Ao primeiro minuto de hoje teve incio a greve geral em todo o pas, por determinao do Comando Geral dos Trabalhadores e em apoio ao Presidente Joo Goulart, paralisando de imediato os trens da Central do Brasil e da Leopoldina, o Prto de Santos e os bondes da Guanabara, com a adeso de universitrios. A deciso da greve foi precipitada pela priso ontem, no Sindicato dos Estivadores, de vrios lideres sindicais pela Polcia Poltica da Guanabara. A Federao Nacional dos Martimos, que decretou a greve ontem noite, denunciou o desaparecimento de quatro estivadores, um lder sindical de Vitria e do Dr. Antnio Pereira Filho, lder dos bancrios. O Partido Comunista Brasileiro responsabilizou ontem os grupos radicais pela precipitao da crise poltica, tachando de imprudente a ttica utilizada por lderes extremados. Acha o PCB que tal atitude conduzir unio do centro contra a direita, neutralizando assim a ao dos setores mais moderados da esquerda, e que, no seu entender, levar deposio do Presidente da Repblica, com lastro na opinio pblica." O Governador Carlos Lacerda, embora tenha dito ao seu Secretariado que no acredita na crise nacional, montou um esquema de segurana para o Palcio Guanabara e para as ruas a le adjacentes, com a qual pretende resistir contra qualquer interveno federal no Estado da Guanabara. s trs horas de hoje o Palcio Guanabara deu nota oficial informando que os fuzileiros para l se dirigiram e chamava o povo para defender o Governador. Crca de 500 homens da Polcia Militar, sob a ordem direta do Secretrio de Segurana, General Salvador Mandim, so empregados na defesa do Palcio do Govrno. Barricadas foram construdas com sacos de areia e os militares permanecem em regime de prontido." Jornal do Brasil, 1 de abril de 1964 "A Nao no mais suporta a permanncia do Sr. Joo Goulart frente do Govrno. Chegou ao limite a capacidade de toler-lo por mais tempo. No resta outra sada ao Sr. Joo Goulart seno a de entregar o Govrno ao seu legtimo sucessor. S h uma coisa a dizer ao Sr. Joo Goulart: saia. Durante dois anos o Brasil agentou um Govrno que paralisou o seu desenvolvimento econmico, primando pela completa omisso, o que determinou a completa desordem e a completa anarquia no campo administrativo e financeiro. Quando o Sr. Joo Goulart saiu de seu neutro perodo de omisso foi para comandar a guerra psicolgica e criar o clima de intranqilidade e insegurana que teve o seu auge na total indisciplina que se verificou nas Foras Armadas. Isso significou e significa um crime de alta traio contra o regime, contra a Repblica, que le jurou defender. O Sr. Joo Goulart iniciou a sedio no pas. No possvel continuar no poder. Jogou os civis contra os militares e os militares contra os prprios militares. o maior responsvel pela guerra fratricida que se esboa no territrio nacional. Por ambio pessoal, pois sabemos que o Sr. Joo Goulart incapaz de assimilar qualquer ideologia, le quer permanecer no Govrno a qualquer preo. Todos ns sabemos o que representa de funesto uma ditadura no Brasil, seja ela de direita ou de esquerda, porque o povo, depois de uma larga experincia, reage e reagir com tdas as suas fras no sentido de preservar a Constituio e as liberdades democrticas. O Sr. Joo Goulart no pode permanecer na Presidncia da Repblica, no s porque se mostrou incapaz de exerc-la como tambm porque conspirou contra ela como se verificou pelos seus ltimos pronunciamentos e seus ltimos atos. Foi o Sr. Joo Goulart quem iniciou de caso pensado uma crise poltica, social e militar, depois de ter provocado a crise financeira com a inflao desordenada e o aumento do custo de vida em propores gigantescas. Qualquer ditadura, no Brasil, representa o esmagamento de tdas as liberdades como aconteceu no passado e como tem acontecido em todos os pases que tiveram a desgraa de v-la vitoriosa. O Brasil no mais uma nao de escravos. Contra a desordem, contra a masorca, contra a perspectica de ditadura, criada pelo prprio Govrno atual, opomos a bandeira da legalidade. Queremos que o Sr. Joo Goulart devolva ao Congresso, devolva ao povo o mandato que le no soube honrar. Ns do Correio da Manh defendemos intransigentemente em agsto e setembro de 1961 a posse do Sr. Joo Goulart, a fim de manter a legalidade constitucional. Hoje, como ontem, queremos preservar a Constituio. O Sr. Joo Goulart deve entregar o Govrno ao seu sucessor, porque no pode mais governar o pas. A Nao, a democracia e a liberdade esto em perigo. O povo saber defend-las. Ns continuaremos a defend-las." Correio da Manh, 1 de abril de 1964 " partir da tarde de ontem, principalmente depois que desceram os tanques da Vila Militar, dez dos quais foram colocados em frente ao Ministrio da Guerra, onde tambm se encontram numerosos carros blindados e de combate, a crise poltico-militar pareceu assumir aspectos realmente perigosos, com a cidade sob o domnio de grande tenso e povo como que espera de uma revoluo a qualquer momento. margem dos preparativos da populao como que para prevenir-se, sacando nos bancos e adquirindo mantimentos, ocorreram diversos incidentes entre populares e policiais, e dos quais o de maior gravidade se verificou na Federao dos Estivadores, na rua Santa Luzia. esta altura, em consequncia da paralisao dos trens da Central e da Leopoldina, respectivamente, s 17h30m e s 19h30m, a cidade parecia em colapso no setor de transportes, com grandes filas se formando ao longo dos pontos de nibus e lotaes para a Zona Norte e cidades fluminenses. As sdes das ferrovias e os demais prprios federais passaram, ento, a ser guarnecidos por tropas do Exrcito. A tenso crescia medida que circulavam as notcias sbre a situao em Minas, onde j se teria iniciado a revoluo. Tda Minas, principalmente a capital e cidades como Governador Valadares e Juiz de Fora, j anteriormente agitadas, estavam, segundo os comentrios, "pegando fogo". As rodas de populares discutindo poltica se formavam e no eram poucos os incidentes registrados entre os mais exaltados." "A perspectiva mais alarmante da situao brasileira funda-se num dado concreto que no possvel obscurecer. o fato de que jamais em nossa Histria, e at o presente, as esquerdas radicais - nomeadamente o comunismo e suas clssicas correntes auxiliares - estiveram to vontade, desfrutaram tanto prestgio e aproximaram-se tanto do xito quanto no momento atual. Por mais que negaceie, tergiverse e dissimule, o Sr. Joo Goulart, ningum poder negar - porque est vista de todos, porque pblico e ostensivo - que os elementos chamados de "formao marxista" no somente conseguiram infiltrar-se fcilmente em todos os postos, como tambm so os preferidos pelo govrno para sses postos, sobretudo os de comando e de direo. Atualmente, no presente govrno, que ainda se diz democrata, a ideologia marxista e mesmo a militncia comunista indisfarada constituem recomendao especial aos olhos do govrno. Como se j estivssemos em pleno regime "marxista-leninista", com que sonham os que desejam incluir sua ptria no grande imprio sovitico, s ordens do Kremlin. (...)" Dirio de Notcias, 1 de abril de 1964 "Enquanto o Congresso Nacional iniciava, em plena madrugada, em Braslia, a votao do "impeachment" do Sr. Joo Goulart, homiziado no sul, numa sesso tumultuada pela oposio do PTB, que ameaava ir at o esfro fsico para impedir o debate da matria, o general Amauri Kruel chegava a So Paulo para conferenciar com o governador Ademar de Barros e ultimar os preparativos para os deslocamentos das tropas que devero seguir para o Rio Grande do Sul a fim de esmagar o ltimo foco de rebelio concentrado em Prto Alegre, sob o comando do Sr. Joo Goulart e Leonel Brizola. Ao mesmo tempo, devero ser abastecidos, hoje, em Santos, os trs navios da esquadra, Tamandar, Par e Amazonas, que segundo se anuncia, sob o comando geral do almirante Slvio Heck, rumam para o sul a fim de cooperar no completo esmagamento dos insurretos. Ao mesmo tempo, por ordem do Sr. Ademar de Barros, comea hoje em So Paulo, o racionamento de gasolina fixado em 70% para as indstrias e transportes coletivos e, em 30% para os carros particulares. A medida vai afetar profundamente o abastecimento de Braslia uma vez que o govrno do Estado requisitou todos os estoques que transitam em direo capital federal." Dirio de Notcias, 2 de abril de 1964 "Escorraado, amordaado e acovardado deixou o poder como imperativo da legtima vontade popular o sr. Joo Belchior Marques Goulart, infame lder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas. Um dos maiores gatunos que a histria brasileira j registrou, o Sr. Joo Goulart passa outra vez histria, agora tambm como um dos grandes covardes que ela j conheceu. Temos o direito de dizer tudo isso do Sr. Joo Goulart porque no lhe racionamos os adjetivos certos, por mais contundentes que fossem, na hora em que le dominava o poder, e posava de lder todo-poderoso da Nao. Como no nos intimidamos na hora em que Jango e os comunistas estavam por cima e amargamos at cadeia, no precisamos nem fazer a demagogia da generosidade. Mesmo porque no pode haver generosidade nem contemplao com canalhas. E Jango, Jurema, Assis Brasil, Arraes, Dagoberto, Darcy Ribeiro, Waldir Pires e toda a quadrilha que assaltou o poder no passam de canalhas. E alm de canalhas, covardes. E alm de covardes, cnicos. E alm de cnicos, pusilmines. E alm de pusilmines, desonestos. Bravatearam, fingiram-se maches, disseram que fariam isto e aquilo, mas aos primeiros tiros sairam correndo espavoridos e ainda esto correndo at agora. Alguns, como Arago, como Assis Brasil, como Crisanto de Figueiredo, como Arraes, como Cunha Melo, como todo o rebotalho comunista, no sero encontrados to cedo. (...) Nunca se viu homens to incapazes, to desonestos e to covardes. Agora que o Pas se livrou do fantasma da comunizao podemos repetir o que vinhamos dizendo exaustivamente: todo comunista covarde e mau carter. Os episdios de agora vieram provar que estvamos cobertos de razo. (...) O Povo brasileiro lavou a alma. O Carnaval que se comemorou ontem em plena chuva s poderia mesmo ter sido feito por um povo que estava precisando dessa desforra que lhe era devida precisamente h 30 meses. O povo que comemorou ontem a queda de jango foi o mesmo que votou contra le em 1960 e foi trado pela renncia de Jnio. A comemorao de hoje pois uma revanche e uma recuperao. Precisamos agora de organizar o mais rpidamente possvel o nvo govrno, pois os aproveitadores de sempre j cerram fileiras em trno dos cargos, j se apresentam como os heris de uma batalha que no travaram. Junto com a organizao do nvo govrno temos que providenciar, tambm urgentemente, para que os direitos polticos dos que foram ontem legitimamente banidos pelo povo, sejam cassados para sempre. (...) No se trata de vingana, nem estamos aqui defendendo o esquartejamento dos derrotados. Mas quando o destino do Pas est em jgo, quando se trata de decidir da sorte dos que queriam comunizar o Pas, no podemos ser generosos ou sentimentais. Para os civis, cassao dos direitos polticos. Para os militares como Assis Brasil, Crisanto, Cunha Melo, Napoleo Nobre, Castor da Nbrega e para todos os comuno-carreiristas das Fras Armadas, o caminho um s e inevitvel: a reforma pura e simples. No falavam tanto em reforma? Pois apliquemos a frmula a les. Enfim, comea hoje uma nova era para o Brasil. Confiemos no esprito pblico dos homens que salvaram a democracia brasileira, e no discernimento e superioridade com que o marechal Dutra se conduzir nos prximos 22 meses." Tribuna da Imprensa, 2 de abril de 1964 "O Sr. Ranieri Mazzilli, presidente da Cmara dos Deputados, poder assumir ainda hoje a Presidncia da Repblica, em virtude do que dispe o artigo 79 pargrafo 2o da Contituio, que declara: - Vagando os cargos de Presidente e Vice Presidente da Repblica, far-se eleio 60 dias depois de abertas a ltima vaga. Se as vagas ocorrerem na segunda metade do perodo presidencial, a eleio para ambos os cargos ser feita 30 dias depois da ltima vaga, pelo Congresso Nacional, na forma estabelecida em lei. Em qualquer dos casos, os eleitos devero completar o perodo dos seus antecessores. Em consequncia, o Sr. Ranieri Mazzilli dever exercer a Presidncia at a posse do novo presidnte, a ser eleito no dia 1o de maio prximo pelo Congresso Nacional." "Em face da absoluta normalidade reinante na cidade com a cessao dos motivos que a determinaram, terminou zero hora de hoje a greve geral decretada tera-feira. Todos devero retornar tranqilamente ao trabalho, evitando, contudo, aglomeraes pblicas nas ruas. Smente os bancos ainda permanecero fechados, hoje e amanh, em virtude de decreto." "Braslia, 1o - At s 22 horas de hoje o Sr. Joo Goulart ainda se encontrava na Granja do Torto, nesta capital, em companhia de sua espsa e filhos. No aeroporto militar, achava-se, pronto para decolar a qualquer instante um "Coronado", moderno jato da Varig, que tanto poderia se dirigir para Buenos Aires como para a Espanha, segundo afirmam fontes ligadas famlia presidencial. Aps chegar a Braslia, s 15 horas, o Sr. Joo Goulart estve no Palcio do Planalto uns 15 minutos, fechado em seu gabinete, retirando-se depois para a Granja do Torto, onde recebeu poucas pessoas, uma delas o deputado Ranieri Mazzilli, presidente da Cmara dos Deputados. Pessoas, que privam com o Sr. Mazzilli, afirmam que ste ouviu do Sr. Joo Goulart a declarao de que, antes de partir de Braslia, lhe transmitiria o cargo de Presidente da Repblica. Outras fontes adiantam que o Sr. Joo Goulart, durante a tarde, estve redigindo o documento de renncia, que ser enviado ao Congresso de Prto Alegre, para onde ir nas prximas horas." "Prto Alegre, 1o - O Sr. Joo Goulart, crca das 23 horas, chegou a esta capital em companhia de sua famlia e do Sr. darci Ribeiro. Antes de embarcar em Braslia, o Sr. Joo Goulart conferenciou novamente com o Presidente Ranieri Mazzilli." (...) "s treze horas o Sr. Joo Goulart deixava o Rio, indo para Braslia e, pouco depois, a Cadeia da Liberdade anunciava que o Sr. Goulart havia partido nim avio da Varig para destino ignorado. Todos os comandos militares haviam aderido s tropas do general Castelo Branco. Em recife soldados do IV exrcito cercaram o Palcio do Governador e prenderam o Sr. Miguel Arrais, por ordem do general Justino Alves. O ministro Lafaiete de Andrade enviou emissrio a Minas para decretar solidariedade ao Supremo Tribunal Federal revoluo. s 16 horas, foi lida esta ordem, firmada pelo general Castelo Branco: "Que as tropas do I Exrcito cessem todas as operaes e voltem aos quartis". Era o fim da resistncia e a vitria da Revoluo. As autoridades civis e militares esto lembrando a tda a populao que esto em vigor as leis e os cdigos. Os culpados por atos condenveis sero punidos. Aconselham que a populao se abstenha de participar de aglomeraes e movimentos coletivos. Avisam ainda que a normalidade voltou ao Pas e cessaram, imediatamente, todos os movimentos grevistas." "Dezenas de automveis trafegaram pelo centro da cidade, tocando suas businas, em sinal de alegria pela vitria da democracia em todo o Pas. As estaes de rdio e televiso, que estavam sob censura, iniciaram suas transmisses normais, pouco depois das 17 horas. Os contingentes de fuzileiros navais que ocupavam as redaes de alguns jornais, foram recolhidos aos quartis. Por volta das 17,15, o Forte de Copacabana anunciava, com uma salva de canho, a aproximao das tropas do general Amauri Kruel, que atingiria o Estado da Guanabara s ltimas horas da noite de ontem. A populao de Copacabana saiu s ruas, em verdadeiro Carnaval, saudando as tropas do Exrcito. Chuvas de papis picados caam das janelas dos edifcios enquanto o povo dava vazo, nas ruas, ao seu contentamento. (...)" O Dia, 2 de abril de 1964 "Montevidu - O Sr. Joo Goulart esperado neste pis com honras de Chefe de Estado - o telegrama da "United Press International" distribudo, ontem, aos jornais brasileiros. Grande nmero de parlamentares e jornalistas se dirigiu ao Aeroporto de Carrasco momentos aps ter a Rdio Farroupilha, do Rio Grande do Sul, anunciado aplo do presidente deposto no sentido de que cessasse a resistncia "para evitar derramamento de sangue". Decidiram as autoridades uruguaias que o presidente deposto seja recebido com honras de Chefe de Estado. Diz mais o telegrama da agncia norte-americana que a fronteira est patrulhada por fras leais ao Sr. Joo Goulart. Est garantido qualquer pedido de asilo, para tanto, sido enviadas tropas uruguaias linha demarcatria dos dois pases. Um destrier uruguaio foi enviado para as proximidades da costa brasileira, prevendo-se a possibilidade de conflitos na fronteira, onde as guarnies continuam leais ao presidente deposto. O Legislativo reuniu-se, extraordinariamente, para discutir a oportunidade de enviar uma mensagem ao Brasil. Ante a discusso no decisiva, entre as faces favorveis e contrrias, foi suspensa a sesso. (ANSA - UPI - DC) At o momento de encerrrmos os trabalhos desta edio no havia confirmao oficial da chegada do Sr. Joo Goulart a Montevidu. No se confirmaram, igualmente, as notcias de que o presidente Goulart havia se dirigido cara a capital Paraguaia, Assuno. Notcias de Prto Alegre informavam, entretanto, que Jango havia deixado aquela cidade na tarde de ontem." "Dando por encerrada a "Rde da Legalidade", s 13 horas de ontem, o prefeito de Prto Alegre, Sr. Sereno Chaise, leu a nota oficial alusiva ao ato, salientando em certo trecho que o presidente Joo Goulart, ao transitar pela capital sulina, dispensara o sacrifcio da populao gacha e de todo o Brasil na resistncia ao movimento que o derrubara do poder. o seguinte, na ntegra, a nota: "s primeiras horas de hoje, o presidente Joo Goulart chegou a Prto Alegre. Depois de ficar algum tempo, seguiu viagem. Antes examinou, com autoridades militares, amigos e correligionrios, as condies de resistir ao processo golpista e decidiu dispensar o sacrifcio do povo gacho e brasileiro. O deputado Leonel Brizola pede ao povo gacho e brasileiro, a todos os patriotas, que enfrentem com serenidade e calma esta difcil passagem. Encerramos a "Rde da Legalidade", agradecendo a todo o povo gacho e brasileiro que compareceu em massa sede da Prefeitura de Prto Alegre para resistir contra os golpistas. Fizemos tudo para manter a legalidade." "Confirmando que o esquema do golpe estava montado h algum tempo, o general Olmpio Mouro Filho, j nomeado pelo ministro da Guerra presidente da Petrobrs, falou, ontem, imprensa, do gabinete do general Costa e Silva. Afirmou aqule militar que antes de iniciar sua marcha teve de realizar trs operaes: silncio, gaiola e Popay. A primeira consistiu em articular todo o movimento para que no pudesse ser fracassada a marcha do Exrcito revolucionrio, a segunda para propiciar o clima de tranqilidade do povo, prendendo os lderes que atuavam nas massas trabalhadoras e, a terceira, operao guerra. As declaraes do novo presidente da Petrobrs foram assistidas por vrios chefes militares e personalidades do mundo politico-militar. "Se no ocorresse a priso dos lderes sindicais - afirmou - ns teramos a marcha dificultada, pois no conseguiramos rapidamente o apoio macio dos companheiros". O general Olmpio Mouro disse tambm que "samos para lutar, prontos para qualquer situao. Felizmente, em lugar do primeiro tiro, encontramos os abraos dos nossos companheiros de farda, porque les pensavam como ns" (...)" Dirio Carioca, 3 de abril de 1964 AS MANCHETES: Reincidncia ( Jornal do Brasil ) "Gorilas" Invadem O JB ( Jornal do Brasil ) Fora! ( Correio da Manh ) Carros Blindados Na Rua Deixam Povo Sob Tenso ( Dirio de Notcias ) Grave Perspectiva ( Dirio de Notcias ) Marinha Caa Goulart ( Dirio de Notcias ) Democratas Assumem Comandos Militares - 1) Costa E Silva Nomeado Para Pasta Da Guerra 2) I Exrcito Tem Urura Como Comandante 3) General Taurino Na Primeira Regio Militar Pela Recuperao do Brasil ( Tribuna da Imprensa ) Revoluo Terminou Sem Derramamento De Sangue - Jango Em Prto Alegre Magalhes Pinto Deu A Arrancada Final Contra A Comunizao Do Pas Mazzilli Poder assumir Ainda Hoje A Presidncia Da Repblica Terminou A Greve Geral - UNE Incendiada ( O Dia ) Uruguai Espera Jango Como Chefe De Estado ( Dirio Carioca ) Goulart Dispensou O Sacrifcio Do Povo Brasileiro ( Dirio Carioca ) Mouro: Golpe Estava montado E Priso De Lderes Ajudou Muito ( Dirio Carioca )  48) Edson Luis (1968) "A preparao de uma passeata de protesto, que se realizaria hoje, contra o mau funcionamento do restaurante do Calabouo, cujas obras ainda no terminaram, foi a causa da invaso daquele estabelecimento, por choques da Polcia Militar, e que resultou no massacre de alunos e na morte do estudante Edson Lus Lima Souto, assassinado com um tiro de pistola calibre 45, pelo tenente Alcindo Costa, que comandava o Batalho Motorizado da PM do local. Os estudantes foram surpreendidos com a invaso policial, tendo os soldados disparado rajadas de metralhadoras enquanto o tenente que comandava o choque gritava pelo megafone "parem de atirar, eu no dei ordem para ningum atirar". Logo depois, o mesmo oficial sacou sua arma e fz os disparos, um dos quais atingiu Edson Lus Lima Souto. O corpo de Edson ainda foi levado para a Santa Casa, na Rua da Misericrdia. Ali, o mdico Lus Carlos S Fortes Pinheiro anunciou que o aluno j estava morto. Seus colegas, em seguida, levaram-no para o saguo da Assemblia Legislativa, onde se formou uma fila de populares para velar o corpo, em meio a violentos discursos de vrios lderes polticos. O massacre policial continuou aps a morte de Edson Lus Lima Souto e outros estudantes e curiosos foram feridos por estilhaos de granadas e bombas de gs lacrimogneo indistintamente. (...)" "Estudantes reuniram-se, ontem, no Calabouo, para protestar contra as precrias condies de higiene do seu restaurante. Protesto justo e correto. O Correio da Manh, nesta mesma pgina, j condenou a inrcia em que o Estado vem-se mantendo diante das reiteradas reivindicaes estudantis. Apesar da legitimidade do protesto estudantil, a Polcia Militar decidiu intervir. E o fz bala. H um estudante (18 anos) morto, um outro (20 anos) em estado gravssimo. Um porteiro do INPS, que passava perto do Calabouo, tambm tombou morto. Um cidado que, na Rua General Justo, assistia, da janela de seus escritrio, ao selvagem atentado, recebeu um tiro na bca. ste o saldo da noite de ontem. No agiu a Polcia Militar como fora pblica. Agiu como bando de assassinos. Diante desta evidncia cessa tda discusso sbre se os estudantes tinham ou no razo - e tinham. E cessam os debates porque fomos colocados ante uma cena de selvageria que s pela sua prpria brutalidade se explica. Atirando contra jovens desarmados, atirando a smo, ensandecida pelo desejo de oferecer cidade apenas mais um festival de sangue e morte, a Polcia Militar conseguiu coroar, com sse assassinato coletivo, a sua ao, inspirada na violncia e s na violncia. Barbrie e covardia foram a tnica bestial de sua ao, ontem. O ato de depredao do restaurande pelos policiais, aps a fuzilaria e a chacina, o atestado que a Polcia Militar passou a si prpria, de que sua interveno no obedeceu a outro propsito seno o de implantar o terror na Guanabara. Diante de tudo isto, depois de tudo isto, possvel ainda discutir alguma coisa? No, e no. (...)" Correio da Manh, 29 de maro de 1968 "A morte do estudante dson Lus de Lima Souto, de 16 anos - baleado no peito, s 18h30m de ontem, durante um coflito da PM com estudantes no Restaurante do Calabouo - provocou a greve geral de vrias Faculdades do Rio e o movimento dever estender-se pelo Pas. O corpo da vtima, que est sendo velado na Assemblia Legislativa, sair s 16 horas de hoje para o Cemitrio So Joo Batista. Os acontecimentos agitaram a sesso noturna da Cmara dos Deputados onde o Sr. Lurtz Sabi pediu que o Congresso fique em sesso permanente, e o Deputado Brochado da Rocha sugeriu que as duas Casas do Congresso se transformassem em Comisso Geral para investigar os fatos ocorridos no restaurante dos estudantes. O Congresso Nacional e a Assemblia Legislativa da Guanabara decretaram luto. O Ministro da Justia, Sr. Gama e Silva, saiu de Braslia e voltou ontem noite ao Rio. O Governador Negro de Lima, numa reunio de mais de duas horas com o Secretrio de Segurana, General Dario Coelho, e outras autoridades, no Palcio Guanabara, decidiu afastar o General Osvaldo Niemeyer da Superintendncia da Polcia Executiva, para que os acontecimentos sejam apurados com tda a iseno. Ficou tambm decidida a instaurao imediata de inqurito policial a ser orientado por um membro do Ministrio Pblico. Todos os estabelecimentos de ensino do Estado no funcionaro hoje em sinal de pesar pela morte de dson Lus, por determinao do Sr. Negro de Lima. Alguns teatros do Centro e da Zona Sul, que estavam funcionando quando se verificou o atrito entre a PM e os estudantes, suspenderam os espetculos em sinal de solidariedade - e o pblico, ao ser inteirado do motivo, aplaudiu de p. O Sr. Carlos Lacerda no se alterou ao receber, em So Paulo, a notcia da morte do estudante. le falava no Painel de Debates da Assemblia Legislativa de So paulo, promovido pelo MDB, quando recebeu um bilhete sbre os acontecimentos do Rio. Fz uma pausa no discurso, leu o comunicado e declarou: "No acredito que o Sr. Negro de Lima seja o responsvel". Em seguida, prosseguiu no seu pronunciamento. Na Cmara Federal, as galerias ficaram lotadas de estudantes, que aplaudiram sucessivos pronunciamentos dos deputados da Oposio. O presidente do Congresso, Sr. Pedro Aleixo, ameaou vrias vzes de mandar retirar os manifestantes. Em defesa do Govrno - sempre atacado pela Oposio - falou apenas o Sr. ltimo de Carvalho. Leu um texto oficioso, afirmando que j estava prevista, h algum tempo, a passeata dos estudantes, "empunhando as bandeiras do Brasil e do Vietcong". H, por enquanto, duas verses para o atrito de ontem noite no restaurante dos estudantes: 1) estes jantavam, pacificamente, enquanto outros assistiam a uma aula, quando um choque da PM, chefiado por um tenente de nome Alcindo ou Costa, invadiu o restaurante e iniciou o espancamento, ao qual os estudantes reagiram com pedradas que, por sua vez, provocaram tiros; 2) os estudantes teriam sido colhidos pela PM, em plena manifestao contra o atraso na concluso das obras do restaurante. Alm do estudante morto, do outro ferido a tiro e de vrios espancados pela PM, houve mais uma vtima: o comercirio Telmo Matos Henriques, ferido na bca por uma bala quando estava sua mesa de trabalho, numa firma prxima. O choque da PM retirou-se do restaurante desfechando tiros para o ar - e na passagem por uma galeria deixou nas paredes marcas de balas que, segundo testemunhas, seriam de metralhadoras. O estudante dson Lus foi conduzido pelos companheiros, Santa Casa de Misericrdia, onde, constatada a sua morte, iniciou-se o cortjo rumo Assemblia Legislativa. O corpo foi erguido nos braos da multido que entoava o brado "polcia assassina" ao dar entrada na Assemblia. Ali houve, durante a noite, vrios comcios estudantis, de protesto violento contra o Govrno - e uma multido postou-se, at madrugada, na expectativa dos acontecimentos. Em visita Assemblia, o General Niemeyer defendeu os policiais. Indagado por que a polcia atirara, respondeu: - A polcia estava inferiorizada em potncia de fogo. - Potncia de fogo? arma? - tudo aquilo que nos agride. Era pedra." Jornal do Brasil, 29 de maro de 1968. "A ordem era "quebrar tudo" e foi cumprida. A PM cercou o Calabouo; depois, houve a invaso e o massacre. A princpio, foram os cassetetes; a seguir, os revlveres. O ataque s foi suspenso quando havia um morto no cho: Nelson Lus Lima, uma bala no corao. Outro estudante - Benedito Fraso Dutra, 20 anos - escapou com vida, fingindo-se de morto. Sriamente ferido, foi conduzido pelos companheiros juntamente com o corpo do estudante-mrtir, at o saguo da Assemblia Legislativa. As violncias no terminaram: a ordem era prender. Mais tarde vieram as bombas de gs lacrimogenio e o nmero de feridos multiplicou-se. O massacre virou crise. O Sr. Negro de Lima reuniu-se com todos os auxiliares. SNI presente. Aulas de hoje esto suspensas. Luto geral: escolas, diretrios, a prpria Assemblia. O general Osvaldo Niemeyer foi afastado; determinou-se abertura de inqurito. Parlamentares pediram a queda de tda a cpula da PM. A camisa do jovem morto foi erguida como estandarte por seus colegas: o protesto continua. Os diretrios acadmicos de tdas as faculdades decretaram greve geral e marcaram assemblia para hoje. Os teatros da Guanabara fecharam e os artistas hipotecaram solidariedade aos estudantes, ficando em luto oficial durante trs dias. Pedido o afastamente de Dario Coelho. O governador mandou prender o tenente assassino. O sepultamento ser s 16 horas, no Cemitrio de So Joo Batista, por conta do Estado." " "Vo l e quembram tudo": a ordem do comandante do choque foi cumprida e, minutos depois, no Calabouo, usando revlveres e cassetetes, a Polcia Militar iniciou o massacre dos estudantes, s parando de bater quando j havia um morto - Nlson Lus de Lima Souto, 16 anos - e vrios feridos, a bala, a socos e a coronhadas. Os jovens estavam reunidos no restaurante, quando foi ordenado o crco - seis carros da PM fechando tdas as sadas - e, logo que os policiais abandonaram suas posies, os moos saram em direo Assemblia, levando nos braos um companheiro morto e outro agonizante, para a manifestao de protesto, at a madrugada. s 18 horas de ontem, crca de 600 estudantes reuniam-se no Calabouo, esquematizando a passeata em que reivindicariam a concluso das obras do restaurante e do Instituto Cooperativo de Ensino. De repente, surgiram os carros da PM e o crco foi feito: dois na frente do prdio, quatro atrs. s 18h30m, os policiais avanaram, em direo entrada do restaurante. Quando ocorreu a invaso, os estudantes procuraram defender-se, usando pedras e sacos de areia. Comearam os disparos: os soldados da PM atiravam para o alto, de incio, mas logo passaram a acionar suas armas em tdas as direes, tanto que chegaram a atingir um comercirio que assistia a tudo, da janela de uma firma comercial. Nlson Lus de Lima Souto foi o primeiro a cair: uma bala no corao derrubou-o na hora. Logo depois, outro estudante recebia dois tiros: no brao e na cabea. S ento veio a ordem do comandante do choque: iniciar a retirada. (...)" Dirio de Notcias, 29 de maro de 1968 "O fuzilamento de estudantes no Calabouo, que provocou a morte do menor Nelson Luiz Lima Souto, levou o governador Negro de Lima a demitir o general Oswaldo Niemeier Lisboa do cargo de Superintendente da Polcia Executiva, como primeiro passo visando a que o inqurito que vai apurar os responsveis pelo massacre "no fique smente no mbito policial". Vrios outros feridos, entre populares que assistiam s manifestaes, estudantes e jornalistas foram medicados no Pronto Socorro, uns atingidos pelos cassetetes dos Pms, outros pelos estilhaos das bombas e balas. s 22 horas, o general Jos Horcio da Cunha Garcia, comandante do I Exrcito, decretava a prontido em tdas as guarnies da Guanabara. Os estudantes contrataram o advogado Sobral Pinto como seu patrono no processo de punio do autor ou autores da morte de Nelson Luiz. Enquanto isso o governador Negro de Lima lamentava a violncia policial e decretava luto oficial, hoje, em tdas as Escolas Pblicas, com suspenso das aulas. O governador acentuou tambm que os estudantes tero "toda a liberdade" para fazer o entrro de seu colega morto e, por sua ordem direta, foram soltos os 14 estudantes presos nos incidentes. O secretrio de Imprensa da Presidncia da Repblica, jornalista Herclio Sales, decretou, em Braslia, que o presidente Costa e Silva estava plenamente informado, atravs do Ministrio da Justia, de tdas as ocorrncias na Guanabara e que o Govrno estava "adotando as providncias necessrias para a manuteno da ordem". Ontem, noite, veio de Braslia para o Rio, com instrues do titular da Justia, o coronel Florismar Campelo, diretor-geral do Departamento Federal de Polcia, e hoje dever chegar ao Rio o ministro Gama e Silva. Os estudantes no concordaram em que o corpo de Nelson Luiz sasse da Assemblia Legislativa e a uma e meia da madrugada foi feita a autpsia no local onde o estudante est sendo velado. Em Belo Horizonte, universitrios reunidos no Centro Acadmico Afonso Pena fizeram uma srie de protestos, com comcios no recinto da Faculdade de Direito. Tambm os universitrios da Faculdade de Direito do Estado da Guanabara decretaram luto oficial por trs dias e propuseram s demais Faculdades o no comparecimento s aulas, hoje, em sinal de protesto. Os acontecimentos tambm tiveram pronta repercusso no Congresso, que, reunido noite, suspendeu o incio da discusso do chamado projeto dos ociosos, para que diversos oradores abordassem a situao na Guanabara. O Sr. Raul Brunini foi o primeiro orador, fazendo um relato das ocorrncias e condenando "o vandalismo e a covardia da Polcia". O Sr. Mariano Beck falou em seguida, para expressar a solidariedade gacha ao povo carioca, o mesmo fazendo o Sr. Pereira Pinto, em nome da bancada do Estado do Rio. Diversos outros oradores sucederam-se na tribuna, inclusive o lider do MDB, deputado Mrio Covas, que responsabilizou diretamente o governador Negro de Lima pelos acontecimentos. A sesso se prolongou at s duas horas da madrugada." O Jornal, 29 de maro de 1968 "O estudante Nelson Luis Lima Souto, de 17 anos tombou com um tiro no corao quando a polcia militar invadiu o Calabouo, na tarde de ontem, iniciando um massacre que resultou em grande nmero de feridos e provocou um clima de tenso em todo o centro da cidade. O comandante do choque da PM, Tenente Alcindo, acusado pelos estudantes de ter assassinado Nlson a sangue-frio, encostando a arma em seu peito. Grande rea do aterro foi transformada em campo de batalha, com os soldados da Polcia Militar disparando armas de fogo contra os estudantes, que denunciaram a participao de tropas da Aeronutica, utilizando metralhadoras." "Trs choques da PM e a guarnio de duas viaturas de patrulha chegaram ao Calabouo no momento em que os estudantes organizavam a passeata de protesto contra o aumento de precos das refeies e a demora na concluso do restaurante. Auxiliados por uma tropa da Aeronutica, entraram no restaurante disparando suas armas e dois estudantes cairam feridos: Benedito Frazo Dutra e Nlson Lima Souto. Este morreu pouco depois, nos braos dos companheiros. Outro tiro feriu o comerciante Talmo Henrique, em seu escritrio." ltima Hora, 29 de maro de 1968 "Milhares de pessoas desfilaram, das 6 s 15 horas de ontem, diante do corpo do estudante Nlson Lus Lima Souto, que foi velado na saguo da Assemblia Legislativa depois da autpsia feita pelo legista Nilo Ramos. O corpo estava envolto na Bandeira Nacional e se achavam sbre o peito dois tros, cravos e um caderno de Geometria, que pertencia ao extinto. Um representante da Casa do Par colocou sbre o corpo uma Bandeira do Par, terra natal do estudante. Mais de trinta coroas foram enviadas Assemblia por estudantes sindicais e estudantis. Crca de vinte pessoas, das quais apenas um homem, sofreram crises emocionais. Uma senhora idosa caiu em prantos. Um aluno do Pedro II disse reportagem: "Antes havia greves e no matavam estudantes". A jovem Carmem Santos Corra, que estava nos jardins da Cinelndia, teve mal sbito, sendo medicada no Hospital Sousa Aguiar. Cinco mil pessoas, aproximadamente, se aglomeravam em frente Assemblia, no se notando, nas proximidades, policiais fardados, mas apenas agentes do DOPS e do SNI. O trafgo foi desviado para a Avenida Rio Branco e Rua evaristo da Veiga. At s 15 horas, os estudantes haviam recebido, de donativos, trs mil cruzeiros novos, que se destinaro construo de uma esttua, em homenagem ao morto, em frente ao Restaurante Central dos Estudantes. o restante, segundo ficou deliberado, seria enviado famlia do estudante, em Belm do Par e custearia os funerais, pois foi recusado o oferecimento do Govrno estadual. A Srta. Clia Martins, prima, em segundo grau, de Nlson Lus e tambm comensal do Restaurante Central, disse que teve conhecimento da morte atravs do rdio. Com a presena de milhares de pessoas, na grande maioria estudantes, realizou-se, s 19h30m de ontem, no Cemitrio de So Joo Batista, o sepultamento do jovem Nlson Lus de Lima Souto, abatido a tiro durante um conflito ocorrido no Calabouo, quando membros da Cooperativa de Ensino estavam reunidos para acertar detalhes visando realizao de uma passeata de protesto. O fretro deixou o recinto da Assemblia Legislativa, onde o corpo foi velado, s 16h20m e seguiu por vrias artrias da cidade, onde ocorreram alguns incidentes sem gravidade. O enrme nmero de acompanhantes atrasou sensvelmente o entrro, j que o caixo teve de permanecer por mais de uma hora porta do Cemitrio, aguardando que a massa humana fsse retirada da frente. Com colegas do morto revesando-se na conduo da urna morturia, o cortejo fnebre tomou a Avenida Beira-Mar, seguindo, aps, pela Praia do Flamengo, onde em frente ao prdio da extinta UNE, um grupo de estudantes queimou uma bandeira americana, usando da palavra na oportunidade, os representantes da FUEG Flademir Palmeira e Lus Brito. Na Praia de Botafogo, utilizando-se de pedras, os participantes do fretro foram quebrando tdas as lmpadas dos postes. Na Rua da Passagem pediram a dois guardas que tirassem o quepi passagem do corpo. Os policiais se recusaram e os estudantes jogaram seus quepis longe, o que quse originou nvo conflito. Crca de 18,20 horas, o cortejo aproximou-se do Cemitrio So Joo Batista, onde j se encontravam duas tias da vtima, senhoras Virglia Souto e Enedina Souto Pauferro, esta ltima espsa do 1o Sargento da Aeronutica Manuel Pauferro. Dezenas de coroas, a maioria ofertadas por Diretrios Estudantis, foram depositadas na quadra 14, em frente gaveta 602, ltima morada do jovem Nlson Lus. Os gritos de "vingana" e de "assassinos" se sucediam, ao mesmo tempo em que faixas eram desfraldadas. Entre elas registramos uma dirigida s mulheres: "Senhoras, Nlson poderia ser seu filho". s 19,10 horas o caixo alcanou a entrada da quadra 14, um corredor com menos de dois metros de largura. No pde porm aproximar-se da gaveta 602, situada ao fundo, pois a massa humana invadiu o corredor, ansiosa por ocupar um lugar privilegiado, onde pudesse acompanhar as ltimas homenagens que seriam prestadas ao estudante assassinado. (...) Dez minutos mais tarde, a urna com o cadver de Nlson Lus foi depositado na gaveta. Grupos de estudantes continuavam a clamar pr vingana, enquanto rasgavam outra bandeira americana, com o fogo quase chegando multido. (...)" O Dia, 30 de maro de 1968 AS MANCHETES: PM Mata Estudantes Durante Invaso ( Correio da Manh ) Assassinato ( Correio da Manh ) Assassinato Leva Estudantes A Greve Nacional ( Jornal do Brasil ) Polcia Mata Estudante ( Dirio de Notcias ) A Ordem Era Quebrar Tudo: PM Acabou Massacrando Estudante ( Dirio de Notcias ) Negro Demite Superintendente Da Polcia E Promete Apurar Tudo PM Fuzila Estudante No Cabouo ( O Jornal ) Polcia Mata Estudante - Morte No Calabouo - Uma Patrulha Da PM Abriu Fogo Contra Os Estudantes No Calabouo - Com Um Tiro No Corao Morreu O Jovem Nlson Lima Souto De 17 Anos - Assemblia Reunida - O Corpo Do Jovem Foi Para A Assemblia Legislativa, Que Se Reuniu Em Sesso Permanente - A Tenso Deu Origem A Sucessivos Incidentes - Nego Pune Culpados - O Governador Negro De Lima Reuniu O Secretariado E Afirmou Que A Tranqilidade Ser Imediatamente Restaurada E Os Culpados Punidos ( ltima Hora ) PM Mata Estudante A Bala Na Rua ( ltima Hora ) Nlson Morreu Nos Braos Dos Companheiros ( ltima Hora ) Milhares De Pessoas No Funeral Do Estudante ( O Dia )  49) Passeata dos Cem Mil (1968) "Por seis horas, mais de 100 mil cariocas protestaram contra o Govrno, apoiando o movimento dos estudantes que, conforme o previsto, foi sem incidentes, com dezenas discursos de universitrios, operrios, professres e padres, que definiram "o compromisso histrico da Igreja com o povo". Com perfeito dispositivo de segurana, os estudantes garantiram a realizao da passeata, sem depredaes, chegando a prender e soltar um policial que incitava a que fsse apedrejado o prdio do Conselho de Segurana Nacional. A concentrao comeou s 10 horas, com os primeiros grupos de padres e estudantes, sem qualquer policiamento ostensivo. Entre os primeiros oradores estava o representante da Igreja, ressaltando que "Calar os moos violentar nossas conscincias". Presentes crca de 150 padres, inclusive o bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Castro Pinto, que acompanhou a passeata, durante os 32 minutos de travessia da Av. Rio Branco. Na Candelria, falou Wladimir Palmeira, lembrando o assassinato do secundarista edson Lus, "que um dia ser vingado". A manifestao seguiu para o Palcio Tiradentes onde houve novos discursos, inclusive de um representante dos favelados, o mais aplaudido, ao afirmar que agora les tambm "estavam na luta". No local foi queimada uma bandeira dos Estados Unidos, um policial tentou prender Wladimir Palmeira, mas no ocorreram incidentes. Ficou decidido dar o prazo de uma semana ao Govrno, para atender s reivindicaes, entre elas a de liberdade para todos os presos polticos. Marcaram tambm para hoje, encontro de tda a liderana estudantil, com o objetivo de analisar os resultados. Informou a Secretaria de Segurana que ningum foi detido, mas o DOPS prendeu cinco estudantes que destribuiam panfletos. A Polcia Federal pediu ao CONTEL que proibisse a exibio de filmes e transmisso de reportagens em rdio e televiso que "mostrem tumultos em que se envolveram os estudantes", e o governador Negro de Lima, cercado por 100 soldados da PM, acompanhou, atravs de informaes, todo o movimento, declarando-se satisfeito com os rumos da manifestao. (...)" "A Guanabara ofereceu ontem ao Govrno edificante exemplo de maturidade poltica. Estudantes, professres, intelectuais, artistas, jornalistas, clero, pais e populares realizaram na mais absoluta ordem sua manifestao. O governador Negro de Lima autorizou. Recolheu aos quartis a Polcia Militar e o DOPS. Entregou a segurana da Cidade aos prprios manifestantes. No houve incidentes. A ordem, a propriedade privada, os prprios federais e estaduais, a vida das pessoas foram assegurados. A primeira concluso a retirar-se dos fatos a de que a represso policial contra atividades polticas legtimas que gera os conflitos. Dir-se- que houve discursos radicais. Mas sses discursos no incitaram desordem. Alm disso, proferi-los direito garantido pela liberdade de pensamento. O importante no constat-los, mas saber se incitaram ou no ao tumulto. Ontem, no incitaram. No tiveram sequer o respaldo de faixas com os nomes de Guevara, Mao Ts-tung e Ho Chi Min, comuns nas manifestaes estudantis em todo o mundo. Elas foram substitudas por algo mais expressivo, para a inteligncia poltica do Govrno: o veemente entusiasmo dos que, no tendo descido s ruas, aplaudiram do alto dos edificios os manifestantes, emprestando-lhes decidida solidariedade. Essa solidariedade significa voto de repulsa popular, no s represso policial dos ltimos dias, como rejeio da conscincia nacional ao confinamento do Pas num sistema institucional restritivo de suas liberdades, mesmo quando para mostrar essa restrio no apela para a violncia ostensiva." Correio da Manh, 27 de junho de 1968 "Em gigantesca manifestao popular que se caracterizou pela ausncia de distrbios, no qual os nicos policiais presentes foram os guardas de trnsito, perto de cem mil pessoas realizaram ontem a anunciada passeata durante a qual o povo, fazendo causa comum com os estudantes, verberou a omisso do govrno nos problemas do ensino. Antes da passeata, foram presos quatro estudantes sob acusao de conduzirem material subversivo, e o ministro da Justia, noite criticou os responsveis pela queima de uma bandeira americana. Enquanto isso em Prto Alegre, as manifestaes de rua acusavam um saldo de seis estudantes feridos e hoje, em Fortaleza, anuncia-se a realizao de manifestao semelhante do Rio." "Uma multido calculada em 100 mil pessoas realizou ontem, durante mais de sete horas a anunciada passeata de estudantes, padres, artistas e mes pela liberdade dos estudantes detidos pela Polcia, pelo ensino superior gratuito e contra as Fundaes. O movimento, que no registrou qualquer distrbio, comeou com uma concentrao na Cinelndia, s 10,30 horas, ganhou o Largo da Candelria s 15 horas onde se deteve por 45 minutos para um comicio, e rumou pela rua Uruguaiana at a esttua de Tiradentes na Praa Quinze, onde foi encerrado, s 17 horas. Eram mais de 10 horas quando comearam a chegar Cinelndia os primeiros participantes da passeata, trazendo faixas e cartazes. As escadarias do Teatro Municipal comearam a encher-se de conhecidas figuras dos meios religiosos, artisticos e estudantis, entre les Paulo Autran, Djanira, Eneida etc. Aos gritos de "liberdade, liberdade" os estudantes deram incio aos discursos inflamados, clamando por mais verbas para as universidades, ensino gratuito, contra a tentativa de transformao das universidades em fundaes e em protesto contra a priso dos lderes estudantis. Poucos minutos antes do meio-dia chegou ao local o estudante Wladimir Palmeira que salientou em breve discurso "a derrota do govrno na realizao da passeata para a qual no foi pedida autorizao, mas que custou o sangue e muita pancada nos estudantes". Volta e meia, enquanto falavam os oradores estudantis faziam-se apelos contra tentativas de distrbios, constatando-se mesmo a presena de grupos de estudantes prontos a sufocar qualquer incio de quebra-quebra. A preocupao de no danificar automveis, vitrines e no dar pretexto a intervenes policiais foi uma constante em todo o movimento. s 13 horas, comearam a falar os sacerdotes e artistas, j com a presena de Dom Jos de Castro Pinto, que disse estar "muito emocionado com o esprito de unio do povo". Poucos minutos antes das 14 horas, teve incio a passeata em direo Candelria. Por todo o trajeto, enquanto as moas pintavam inscries com "spray"nas paredes, toneladas de papel picado brotavam do alto dos edifcios, emprestando manifestao um colorido festivo. Correspondentes estrangeiros comentavam a facilidade com que o povo debate os seus problemas mais srios e profundos. Por volta das 15 horas, os manifestantes chegaram Candelria, cuja praa ficou literalmente tomada. Em silncio, a multido ouviu os discursos dos lderes e rumou, 45 minutos depois, para a rua Uruguaiana, por onde desceu at a rua Sete de Setembro, at a Praa 15, ocupando as cercanias do Palcio Tiradentes. Novamente se ouviram discursos, inclusive de um favelado, e por fim o estudante Vladimir Palmeira, admitindo no existir qualquer estudante prso, deu por encerrada a manifestao, saindo sob proteo de um esquema de segurana at a rua da Assemblia, onde embarcou num carro particular. Em poucos minutos a multido dispersou. Estava terminada a passeata." O Jornal, 27 de junho de 1968 "Apesar de tdas as promessas, da parte dos estudantes, de que a passeata de ontem seria pacfica e das garantias, do lado do Govrno, de que o dispositivo repressivo no seria usado, a menos que ocorressem violncias graves, foi uma cidade conturbada e intimidada a que aguardou os acontecimentos. As portas de todo o comrcio se fechavam, as vitrinas se protegiam com madeirame colocado s pressas, o nmero de pessoas que afluiu ao centro era extemamente reduzido, como atestava o trfego desafogado. Nesse ambiente de mal disfarada ansiedade, realizou-se a passeata. Eram dezenas de milhares de pessoas que desfilaram perfeitamente organizadas, manifestando pelas faixas, pelos discursos, pelos aplausos e seus apupos os seus sentimentos. Assim, atravs dessa demonstrao, cuja importncia no pode ser negada, os manifestantes puderam trazer livremente s ruas a sua mensagem de revolta contra a inao do Govrno relativamente aos seus reclamos mais urgentes. Os organizadores da parada revelaram habilidade extrema e poder de liderana indiscutvel ao conseguir que tudo se passasse na mais perfeita disciplina e sem qualquer atentado maior ordem. A grande maioria silenciosa dos cidados que trabalham, que pagam seus impostos, que s desejam o bem-estar e o progresso do nosso povo, no pode deixar de sentir profundamente abalada pelo espetculo que uma pequena parcela da populao, organizada e atuante, deu ontem. Tda essa gente encheu a Avenida Rio Branco com o seu prado de protesto. Cabe agora a palavra do Govrno. Que far o Govrno para enfrentar essa insatisfao to eloqentemente demonstrada? Pensar o Presidente da Repblica que a triste fala tartamudeante e mal lida do Ministro Tarso Dutra na televiso, alinhando magros nmeros e anunciando transformaes menores na estrutura burocrtica do Ministrio da Educao bastar para contentar a massa da juventude ansiosa por qualquer coisa que signifique a verdadeira revoluo nos arraiais da Educao? Ou cuidar o Presidente Costa e Silva que seu discurso perante os representantes dsse partido feito em laboratrio, a ARENA, anunciando novas perspectivas para o desenvolvimento econmico, atravs de um miraculoso Plano Estratgico, levar tda essa gente para casa, a fim de esperar tranqila que o desenvolvimento traga como complemento o fim do descalabro educacional? O que abalou todo o Brasil ontem foi o sentimento da ausncia de segurana. Ficamos merc dos acontecimentos, que felizmente se desenrolaram de uma maneira que s honra organizao dos estudantes. Mas o Govrno no pode esperar que mais essa omisso, a primeira prudente o construtiva que praticou desde a sua instalao, resolva qualquer coisa. Se nada se fizer se repetiro as manifestaes e se extravasar o descontentamento qui por maneiras e mtodos menos tranqilos do que os empregados ontem. H um sentido de urgncia inadivel em tomar na devida medida a seriedade do problema com que se acha a braos a Nao, de examin-lo em profundidade, de procurar solues vlidas, de caminhar para atender aos reclamos justos, colocando de lado ressentimentos de orgulho mal ferido e bravatas de subdesenvolvidos mentais. Sem isso, sem restabelecer o ambiente de segurana indispensvel sobrevivncia do regime, quase cmico falar em planos mirabolantes de desenvolvimento econmico. O dia de ontem no rio de Janeiro foi carregado de destino e denso de significado poltico. Ou o Govrno acorda para a necessidade imediata de uma ao enrgica, organizada, unnime, para enfrentar a presente crise, ou caminhamos para momentos terrveis. A fisionomia grave, sria, quase temerosa com que o Centro da Cidade aguardou ontem os acontecimentos, contrastava com o ambiente de sorrisos otimistas e fraterno alvoroo que reinava em Braslia, quando o Presidente apresentava aos membros da ARENA seus planos para o futuro distante e grandioso do Brasil. preciso que os responsveis pelos destinos do Pas se dem conta de que sem um presente consolidado num mnimo de segurana no h nenhum futuro seno o caos. se o Senhor Presidente olhar para o cho em que pe os ps, ao invs de atentar para o tremeluzir de estrlas longnquas, talvez entenda a mensagem que a mocidade colorida do Rio de Janeiro estendeu ontem ao longo da Avenida Rio Branco." Jornal do Brasil, 27 de junho de 1968 "No s os estudantes marcharam. Foi todo o povo, num movimento que se estendeu das 10 s 17 horas. A polcia no compareceu. A ordem foi total. Uns poucos agentes do DOPS, em atitude de provocao, foram isolados e aps afugentados pelos manifestantes. Vladimir Palmeira e Elinor Brito - que estavam sendo caados - falaram em todo o trajeto. Havia mais de cem mil pessoas desfilando; um nmero muitas vzes maior aplaudindo. A bandeira mais alta, na concentrao final - foto acima - era a do Centro Acadmico dson Lus de Lima Souto. O Sr. Negro de Lima congratulou-se com os jovens e soltou a frase: - Foi uma goleada. O presidente Costa e Silva mandou liberar verbas para as universidades federais, o que representou a primeira vitria dos estudantes brasileiros." "Mais de cem mil pessoas - estudantes, representantes sindicais, professres, padres e freiras - participaram da manifestao de ontem que - sem interveno policial - transcorreu em perfeita ordem, embora os discursos fssem freqentes e as faixas conduzidas exigissem, entre outras coisas, a libertao dos jovens presos, em movimentos anteriores. Da Cinelndia, os manifestantes dirigiram-se, sempre aplaudidos entusiasticamente pelo povo, at o largo da Candelria, onde falaram dirigentes estudantis, entre les Vladimir Palmeira e Elinor Brito, depois de terem ouvido a Sra. Irene Papi proclamar, em nome das mes dos estudantes, que estaria sempre ao lado das lutas da mocidade. Os manifestantes comearam a chegar s 10 horas na Cinelndia e, formada a primeira concentrao, partiram em direo Candelria. O esquema de represso s provocaes funcionou com perfeio. Ao entrar na avenida Rio Branco, o cortejo foi saudado por uma chuva de papel picado, que continuou, at a chegada ao largo da Candelria. O nico incidente - minimizado logo pelos manifestantes - ocorreu na esquina de Rio Branco e Arajo Prto Alegre, quando um agente do DOPS procurar gerar confuso. Houve violenta reao popular, mas os prprios manifestantes impediram que o policial fsse massacrado, facilitando sua fuga em um taxi. Quando a passeata atingiu o prdio ocupado pelo Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, os funcionrios vieram para as janelas, lanando uma chuva de papel picado e aplaudindo delirantemente." "Agentes do DOPS prenderam ontem na praa da Repblica (Campo de Santana), dentro do Karmann-Ghia GB 15-13-00, Antnio Orlando Pinheiro Gomes (rua Airu, 79) , Ciro Flvio Salazar de Oliveira (rua Hilrio Gouveia 74 apto. 301), Mrio Jorge Almeida de Toledo (rua Barata Ribeiro, 253 apto. 301), Julio Ribeiro (rua Barata Ribeiro 253, apto. 301) e Guilherme Gomes Lond (rua Saviana, 270 apto. 201). Os cinco foram levados para o DOPS, acusados de portarem panfletos que as autoridades consideraram subversivas, embora no revelassem seu teor. Os policiais apuraram, ainda, que o carro utilizado pelo grupo pertence a Artur S. Wetreg (rua Marques Canrio, 20) que est sendo procurado. (...)" "O ministro Gama e Silva, da Justia, transmitiu, ontem, seu ponto de vista pessoal sbre o comportamento dos manifestantes pelas ruas da cidade, salientando que, "em princpio, houve ordem e no ocorreram depredaes, embora se abusasse do pixamento de prdios e nibus, com o que caracterizavam o desrespeito pela propriedade particular, alm da distribuio de panfletos altamente subversivos". Lamentou o titular da Justia que "se tivesse permitido a queima de uma bandeira dos Estados Unidos, assim como a exibio de faixas com dizeres ofensivos ao govrno, inclusive nas mos de freiras e padres", mas constatou "o acrto com que o govrno federal decidiu permitir a realizao da passeata sem policiamento ostensivo nas ruas. (...)" Dirio de Notcias, 27 de junho de 1968 "Ao final de seis horas e meia de manifestaes, dos quais participaram mais de cem mil pessoas, os estudantes, professres, intelectuais, artistas, religiosos e populares decidiram voltar s ruas na prxima semana se o Govrno Federal no libertar os colegas presos, reabrir o Restaurante do Calabouo, liberar verbas para as Universidades e levantar a censura sbre as artes. A manifestao pacfica comeou com uma concentrao na Cinelndia, que se prolongou at as duas da tarde, quando a marcha saiu em direo Igreja da Candelria. De l, aps um segundo comcio, voltou para o Palcio Tiradentes, contornando pela rua Uruguaiana. De todos os edifcios por onde passaram os manifestantes caa uma chuva de papel picado, enquanto populares acenavam e batiam palmas das janelas. O lder Wladimir Palmeira, triunfalmente levado Cinelndia por seus colegas, conduziu tda a manifestao, pronunciando cinco discursos, nos quais, alm de reiterar as reivindicaes estudantis, pediu ordem aos colegas e exigiu o restabelecimento do clima de liberdade democrtica no Pas, a defesa dos intersses nacionais e melhores condies de vida para os trabalhadores. O Govrno Federal acompanhou as manifestaes, colocando agentes em todos os pontos da cidade e o ministro Gama e Silva, da Justia, fz um relatrio completo ao presidente Costa e Silva. As autoridades militares manifestavam-se preocupadas com o desenrolar dos acontecimentos, embora reconhecendo que os estudantes marcharam ordeira e disciplinadamente. Em So Paulo, uma viatura carregada de dinamite explodiu na porta do nvo QG do II Exrcito, causando a morte da sentinela. Foi instaurado inqurito, mas at as primeiras horas de hoje o Exrcito no tinha uma pista segura para determinar a autoria do ato terrorista." "Desde s 8 horas, com a chegada das primeiras faixas e cartazes, que a manifestao dos estudantes teve incio. Vamos narrar o que vimos e ouvimos durante e depois da passeata. 1) A concentrao do pessoal, na Praa Floriano, na Cinelndia, bem em frente Assemblia Legislativa, teve o seu ponto alto no justo momento em que Wladimir Palmeira comeou a falar (falou durante muito tempo, sempre apladidissimo). 2) Apesar do mundo de gente, e de ter sido em local sem a mnima cobertura, a voz de Wladimir Palmeira era ouvida por quase todos. O sem timbre muito forte e sua garganta poderosssima. 3) s 13,20 o pblico comeou a se locomover, com destino Avenida Rio Branco, da altura do Teatro Municipal. A chamada ala dos intelectuais estava frente. Os jornalistas Antnio Calado e Jnio de Freitas seguravam uma grande faixa, com os dizeres de solidariedade ao movimento estudantil. 4) Chico Buarque de Holanda cumpriu sua promessa: chegou Cinelndia s 11 horas, tendo sido muito cumprimentado. Chico, Edu Lbo, Norma Benguel, Odete Lara e outros vinham frente do pessoal artstico. 5) Quando o grupo atingiu a avenida, esquina da Sete de Setembro, um garto de 14 anos (fizemos questo de saber seu nome) Rubens Corra Magalhes, trepou numa banca de jornal e exclamou: "O Povo Armado Derruba A Ditadura." 6) Uma senhora vestida humildemente, com a cabea totalmente encoberta por um pano (no era um leno) , trazia sbre suas vestes um cartaz, cujos dizeres dispensavam qualquer adjetivao: "Por Deus, soltem meu filho!". 7) Em momento algum se verificou um incidente. Ficou patenteado que no so os jovens que vivem fazendo arruaas, atirando nos outros, matando, enfim... 8) Antes do incio da passeata uma garta de 16 anos de idade chamava a ateno de uma sua amiga para a fala do ministro Tarso Dutra na televiso, no dia anterior: "Ele comeou seu lenga-lenga (palavras da ma), dizendo "Senhores e Senhoras". E depois (foi ela quem completou) h gente que no entende o analfabetismo do povo"... 9) Os que presenciaram a passeata de 2 de abril de 1964 (como ste reporter) foram unnimes em afirmar: "a de ontem superou tudo em manifestaes pblicas. Em nmero, grau e finalidade, a passeata dos estudantes de ontem ficar para sempre na lembrana de todos". 10) Quando os manifestantes se encontravam na altura da Rua da Assemblia, um helicptero comeou a sobrevoar a avenida. O povo respondia com vaias e exclamava: "Assassinos! Assassinos!". 11) A solidariedade dos populares que se encontravam nos prdios situados por tda a Avenida Rio Branco, que atiravam papis picados e batiam palmas para as pessoas a p, foi tambm um espetculo belssimo, chegou mesmo a emocionar, por ter sido espontneo. 12) Para se ter uma idia do nmero de pessoas presentes, basta se citar um exemplo: s 14h25m, o grupo inicial da passeata se encontrava na avenida, na altura da Rua da Alfndega. Partimos dali com destino Cinelndia, onde ainda era grande o nmero de pessoas que se organizavam para ingressar nela. 13) O senador Mrio Martins, acompanhado de uma mulher, fz todo o cortejo. Os dois estavam com uma fisionomia muito carregada. Diversos garotos, todos manifestantes, insistiam em cumprimentar o representante carioca na Cmara Alta. 14) Indagamos de uma senhora de 65 anos de idade o motivo de sua participao naquele movimento. Resposta: "Sou pobre, no posso colocar meus netos em colgio particular, como no pude fazer com os meus filhos. Hoje, o povo resolveu se rebelar, na tentativa de encontrar uma soluo para a parte educacional. Deus est nos dando proteo, pois se trata de um movimento pacfico e honesto"." Tribuna da Imprensa, 27 de junho de 1968 AS MANCHETES: Marcha Do Povo Reune Cem Mil ( Correio da Manh ) Lio De Maturidade ( Correio da Manh ) Negro E Sizeno Satisfeitos Com A Manifestao 100 Mil Pessoas Na Passeata ( O Jornal ) Cem Mil Pessoas Clamaram Por Liberdade ( O Jornal ) Momento Grave ( Jornal do Brasil ) Sem Represso H Ordem ( Dirio de Notcias ) Todo O Rio Foi Rua Pedir Liberdade Para Os Estudantes ( Dirio de Notcias ) Justia Viu Subversivos Na Passeata ( Dirio de Notcias ) Marcha Pacfica Rene Mais De Cem Mil Na GB ( Tribuna da Imprensa ) A Marcha Da Paz ( Tribuna da Imprensa )  50) Sequestro do Embaixador Americano (1969) "Tda a Segurana Nacional encontra-se hoje mobilizada a fim de descobrir o paradeiro do embaixador norte-americano Elbrick, seqestrado por terroristas, ontem tarde, em Botafogo. Inicialmente os seqestradores entraram no prprio carro diplomtico - que prova de bala e no tem maanetas externas - onde esta a diplomata norte-americano e depois obrigaram-no a passar para a Kombi, j distante do ponto em que efetuaram a captura do embaixador. Durante a tarde de ontem, noite e esta madrugada, foi grande a movimentao na Embaixada dos Estados Unidos, pois at ento no havia a menor notcia a respeito do paradeiro de Elbrick. Por sua vez, o governador Negro de Lima, to logo teve conhecimento do fato, dirigiu-se ao Ministrio do Exrcito onde se manteve durante algum tempo em conferncia com o general Syseno Sarmento, num encontro que teve carter secreto, nada sendo divulgado. A essa hora j havia sido mobilizado um sistema de segurana nunca antes utilizado, pois dle participam os Servios Secretos do Exrcito, Marinha, Aeronutica e Servio Nacional de Informaes, o Centro de Informaes das trs Fras, alm da Polcia Federal e do DOPS. No local do seqestro os terroristas deixaram dois documentos: o primeiro, um manifesto que, segundo afirmam, deveria ser divulgado para conhecimento do Pas inteiro; o segundo, uma espcie de instruo de resgate, pois os seus autores pretendem que 15 elementos que so partidrios seus e que esto presos, devero ser conduzidos em segurana Arglia, Chile ou Mxico. Afirmam os seqestradores que smente assim o embaixador Elbrick poder ser libertado. Caso contrrio o representante norte-americano no Brasil "ser justiado"." Correio da Manh, 5 de setembro de 1969 "Na tarde de ontem, no Itamarati, os ministros Magalhes Pinto e Gama e Silva revelaram oficialmente que o Govrno brasileiro aceitava a exigncia dos seqestradores, decidindo soltar todos os quinze presos polticos exigidos para o resgate do embaixador Burke Elbrick. Os titulares das Relaes Exteriores e da Justia distriburam nota oficial, afirmando "estarmos decididos a fazer o que estiver a nosso alcance para evitar que se sacrifique mais uma vida humana e sobretudo um representante diplomtico". Grande nmero de jornalistas, fotgrafos e cinegrafistas estava aglomerado no Itamarati, quando os ministros Magalhes Pinto e Gama e Silva anunciaram a soluo, depois de reunio, a portas fechadas, que durou trs horas. Dos quinze presos polticos, cuja libertao o preo do resgate do embaixador dos Estados Unidos, 8 so de So Paulo, 5 da Guanabara, 1 de Pernambuco e outro de Minas Gerais. So os seguintes os presos a ser colocados em liberdade e transportados para fora do Pas: Gregrio Bezerra, Vladimir Gracindo Soares Palmeira, Jos Ibram, Joo Leonardo Silva Rocha, Ivens Marchetti de Monte Lima, Flvio Aristides Freitas Tavares, Ricardo Villas Boas de S Rgo, Mrio Roberto Galhardo Zaconato, Rolando Fratti, Ricardo Zaratini, Onofre Pinto, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Agnaldo Pacheco da Silva, Luiz Gonzaga Travassos da Rosa e Jos Dirceu de Oliveira e Silva. Por intermdio da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, o secretrio de Estado norte-americano, Sr. William Rogers, enviou mensagem ao chanceler Magalhes Pinto afirmando que, "em meu nome e em nome do govrno dos Estados Unidos da Amrica, desejo expressar a Vossa Excelncia os nossos agradecimentos pelas medidas que Vossa Excelncia e o Govrno brasileiro tm tomado para conseguir a restituio a salvo do embaixador Burke Elbrick". Dom Umberto Manzzoni, Nncio Apostlico no Brasil, entregou ontem carta ao ministro Magalhes Pinto, manifestando "a profunda satisfao do Corpo Diplomtico ao constatar que o Govrno faz de sua parte todos os esforos possveis para salvar a vida do ilustre colega, o senhor embaixador dos Estados Unidos. Permito-me acrescentar que, na vida dos povos, especialmente nos tempos atuais, h casos, como o presente, em que a concesso no sinal de debilidade, nem acarreta perda do prprios prestgio moral de quem a faz." O embaixador Elbrick dirigiu, ontem, dois bilhetes sua espsa, o primeiro dizendo estar bem e que poderiam ser perigosas tentativas para localiz-lo, e o segundo manifestando sua satisfao por ter o Govrno brasileiro aceitado as exigncias dos seqestradores, "pois significa que serei libertado to logo os 15 prisioneiros cheguem ao Mxico". o primeiro bilhete foi encontrado s 12h15min na caixa de donativos da Igreja de Nossa Senhora da Glria, no Largo do Machado, junto com um manifesto dos raptores, e o segundo numa caixa de sugestes do Mercado Disco, no Leblon. Revelou-se aos primeiros minutos de hoje que j se encontravam no Aeroporto do Galeo dois avies preparados para conduzir os presos liberados para o exterior, no se sabendo ainda para qual pas seriam levados (Mxico, Chile ou Arglia). Informou-se tambm que dois dos presos no desejavam deixar o Pas: Ricardo Villas Boas de S Rgo e Maria Augusta Carneiro Ribeiro, que entretanto seriam transportados de qualquer forma. O Mxico concedeu asilo aos 15 presos polticos brasileiros, segundo informou ontem noite a Secretaria de Relaes Exteriores. Em Santiago do Chile, porta-voz oficial do ministrio d6esse pas anunciou, tambm, a disposio de seu govrno em conceder o asilo. Chegou-se a informar que alguns dos presos chegariam ainda na noite de ontem a Santiago. Disse o porta-voz que "realmente ignoramos quantos viro, e quem so, mas o asilo extensivo a todos os que chegarem". (...)" Correio da Manh, 6 de setembro de 1969 "A posio do Govrno diante do seqestro do Embaixador Charles Elbrick ser divulgada hoje em nota oficial redigida pelos Ministros Magalhes Pinto e Gama e Silva. A deciso foi tomada ontem noite em reunio com a Junta do Govrno, no Itamarati. Nessa reunio se resolveu liberar a mensagem deixada pelos seqestradores, mas nada foi dito sbre uma das exigncias para que o Embaixador dos Estados Unidos seja psto em liberdade: a libertao de 15 presos polticos, ainda no nomeados, que devem ser conduzidos ao Mxico, Chile ou Arglia como asilados. O seqestro do Sr.Charles Elbrick deu-se depois do almo, quando o diplomata voltava de sua residncia oficial para a sede da Embaixada, no Centro. Quando seu Cadillac prto dobrou da Rua So Clemente para a Rua Marques, em baixa velocidade, foi fechado por um Volkswagen. Logo trs rapazes com revlveres renderam o motorista e o Embaixador, forando-os a seguir at a Rua Caio Melo Franco, onde uma Kombi j os esperava. Cloroformizado, o Embaixador Charles Elbrick foi mudado de carro, enquanto o motorista, liberado, corria ao telefone mais prximo para comunicar o seqestro. Tda a operao dos seqestradores, antes e logo depois da abordagem ao Cadillac, foi acompanhada pela Sra. Elba Souto maior, espsa de um capito-de-mar-e-guerra. Desconfiada da movimentao, ela telefonara Delegacia de Furtos de Automveis dando a placa dos carros; o policial disse que os carros no eram roubados; pouco depois os carros foram usados no seqestro. E mais tarde confirmou-se que pelo menos uma placa era roubada. Ainda ontem o Itamarati divulgou nota oficial afirmando que o seqestro "um ato de puro e smples terrorismo em detrimento do prestgio internacional do Brasil." Nos Estados Unidos, o Presidente Richard Nixon convocou o Secretrio de Estado, William Rogers, para uma conferncia, assim que foi informado do seqestro do Embaixador Charles Burke Elbrick." "O Embaixador Elbrick dispensou pessoalmente h crca de duas semanas a proteo especial que recebia de agentes da Secretaria de Segurana, alegando que estava h pouco tempo no Brasil e era pouco conhecido. Apesar de a Embaixada americana ter seu prprio corpo de segurana, a segurana pessoal do Embaixador era feita tambm com a colaborao de agentes estaduais, at que le mesmo solicitasse a sua desmobilizao. O Sr. Elbrick, segundo funcionrios da Embaixada, gostava de andar sozinho, principalmente quando saa pelo centro da cidade para ir ao barbeiro ou fazer compras. Tda a polcia carioca foi colocada de sobreaviso ontem a noite, por ordem expressa do Secretrio de Segurana, General Lus de Frana Oliveira, atravs de telex enviado a todos os rgos policiais que se mantm mobilizados intensamente na busca dos seqestradores do Embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Ao mesmo tempo, o Secretrio de Segurana determinou a mobilizao dos 50 integrantes do Grupo Especial de Operaes, recentemente criado, para se integrar nas investigaes e busca dos raptores em cooperao com as autoridades militares. Paralelamente, tdas as radiopatrulhas e o Departamento Motorizado da Secretaria recebeu instrues para informar ao comando policial qualquer informao que possa levar priso dos seqestradores. O General Lus de Frana Oliveira no quis comentar o rapto do Embaixador Charles Elbrick, afirmando apenas que o caso estava mais no mbito policial, e que todo o organismo policial do Estado sb o seu contrle, estava mobilizado para a busca. Por medida de segurana, 15 presos polticos que estavam no DOPS foram removidos ontem noite para a Polcia do Exrcito. Policiais da Secretaria de Segurana acreditavam que os seqestradores tivessem se dirigido para So Paulo. Tdas as barreiras entre a Guanabara e o Estado do Rio esto guardadas por policiais armados, conforme determinao dada pelo diretor-geral do Departamento da Polcia Federal. Mais de 4200 homens, em todo o pas, e crca de 450 apenas na Guanabara, com 120 viaturas mobilizadas e em permanente contato pelo rdio - cuja estao receptora est no 4o andar do prdio 70 da Rua da Assemblia - foram mobilizados poucos minutos depois que a Polcia Federal recebeu a comunicao do seqestro do Embaixador Burke Elbrick, logo aps s 15 horas. (...)" Jornal do Brasil, 5 de setembro de 1969 "O Chanceler Magalhes Pinto caracterizou como "inominvel atentado" o seqestro do Embaixador dos Estados Unidos e, em nome do povo brasileiro e do Govrno do Brasil, manifestou a repulsa do Pas a sse "ato de puro e smples terrorismo". Todos os dispositivos de segurana estavam, ontem, mobilizados para deter os subversivos que, tarde, seqestraram o Sr. Charles Burke Elbrick, deixando no local da investida dois documentos: um de crtica ao Govrno e outro fazendo descabidas e insultosas exigncias, como a de libertao e da divulgao de um manifesto nitidamente subversivo. A partir das 21 horas, realizava-se, no Itamarati, uma reunio com a presena dos Ministros Augusto Rademaker, Lira Tavares, Sousa Melo, Magalhes Pinto e Gama e Silva, presentes ainda os Generais Siseno Sarmento e Jaime Portela. O Presidente Nixon, em sua residncia de vero, j tomou conhecimento do atentado e recebeu do Govrno brasileiro a informao de que tudo est sendo feito para localizar o Sr. Elbrick e punir os criminosos." "s 13h50min de ontem. o Embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick saa, no Cadillac CD-23, da residncia oficial, na Rua So Clemente, 288. Logo depois de passar pelo Largo dos Lees, o carro foi interceptado pelos ocupantes de dois automveis Volkswagen - SP 40-05-61 e ES 96-35-8. Os homens, armados de metralhadoras, ordenaram ao motorista Custdio Abel da Silva que se dirigisse a uma ladeira nas proximidades. O Embaixador foi transferido para a Kombi ES 9-51-58, sendo liberado o motorista, depois de retirado o rdio e a chave de ignio do carro diplomtico. Abel, mais tarde, declarou que os bandidos usaram narcticos. Outro detalhe: um homem viu, da janela de sua casa, os primeiros lances do seqestro. No pde impedi-lo. O Cadillac CD-23 foi interceptado justamente quando atingia a Rua Marques. Os ocupantes dos dois carros entraram no automvel de diplomata e, imediatamente, arrancaram o rdio, ordenando ao motorista que dirigisse o veculo a um dos morros vizinhos, onde j se encontrava estacionada a Kombi. Aps terem retirado a chave do carro, transferiram o Embaixador Charles Elbrick para a Kombi, partindo para lugar ignorado. O motorista Custdio Abel da Silva, depois de descer o morro a p, telefonou para a Embaixada dos EUA, relatando a ocorrncia. Um dos automveis utilizados para interceptar o carro do diplomata foi localizado, pela RP 8-192, estacionado na Rua Ministro Joo Alberto, 191. Em seu interior foi encontrado um objeto estranho, levado para exame pericial. No carro da Embaixada, foram deixados dois documentos. O primeiro um manifesto de crtica ao Govrno brasileiro. O outro simplesmente uma exigncia de que o manifesto subversivo fosse entregue a um dos Ministros militares e fosse lido por autoridades constitudas, em tdas as rdios brasileiras. Davam um prazo de 24 horas para a libertao de 15 presos polticos, cuja relao seria enviada posteriormente, para que fssem entregues, pelo govrno, nas Embaixadas do Chile, Mxico e Arglia. Ameaaram no libertar o diplomata a no ser que todos esses itens fssem atendidos. Todo o dispositivo de segurana entrou imediatamente em ao. Alm das autoridades estaduais, foram mobilizados a Polcia Federal e at o Corpo de Bombeiro. Foi expedida ordem para fechamento das barreiras com adoo de contrle do mximo rigor. O Chanceler Magalhes Pinto, acompanhado do General Siseno Sarmento e do Chefe da Casa Militar do Palcio Guanabara, Coronel Alcir Miranda, estve no Laranjeiras e dirigiu-se, a seguir, Embaixada dos Estados Unidos. O motorista Abel da Silveira foi levado Secretaria de Segurana e, depois de prestar declaraes, foi encaminhado aos arquivos do DOPS, na tentativa de se conhecer, entre as fotos de subversivos, os autores do seqestro. Abel chegou a declarar que, pelo jeito, os bandidos usaram narctico, durante a operao. Mais tarde o motorista foi levado ao I Exrcito. le trabalha na Embaixada h cinco anos e foi, por sua conduta exemplar, escolhido para as funes de motorista do Sr.Charles Elbrick." Dirio de Notcias, 5 de setembro de 1969 "O govrno brasileiro, em comunicado dado divulgao s 13h30min de ontem, pelo chanceler Magalhes Pinto, concordou com a transferncia para o exterior, dos 15 presos polticos, cuja libertao foi exigida pelos seqestradores do embaixador Charles Burke Elbrick. Crca de duas horas antes, um telefonema annimo comunicara que numa das caixas de esmolas da Igreja de Nossa Senhora da Glria existia um bilhete do prprio punho do embaixador sua espsa, bem como um manifesto s autoridades. Realmente, tais documentos foram encontrados no lugar indicado e levados a quem de direito, sucedendo-se logo uma reunio de cpula, no decorrer da qual ficou acertado que seriam aceitas as condies impostas pelos seqestradores. Enquanto desde a vspera todo o dispositivo de segurana do Estado da Guanabara era movimentado no sentido de se conseguir uma pista que levasse aos autores do seqestro, com participao do Departamento de Polcia Federal e, j na manh de ontem, com o concurso de agentes do FBI, era dado um aviso por parte dos seqestradores a respeito da caixa de esmolas da Igreja de Nossa Senhora da Glria. Constatou-se a veracidade da informao e, no bilhete, do prprio punho do embaixador Charles Burke Elbrick, le avisava sua espsa de que estava fisicamente bem, esperando que sua libertao no demorasse muito, para poder v-la em breve. Dizia ainda estar tentando no ficar preocupado e que as autoridades deviam tentar localiz-lo, para evitar mal maior, j que o pessoal que o havia seqestrado era verdadeiramente decidido. No manifesto encontrado junto, os elementos da ALN referiam-se ao bilhete e exigiam que as autoridades suspendessem as diligncias no sentido de localiz-los., bem como o pronunciar-se publicamente at s 14h50min, concordando com a libertao de 15 prisioneiros, cujos nomes oportunamente fariam chegar ao seu conhecimento. S depois que as agncias noticiosas informassem que os 15 elementos j se encontravam em plena segurana no estrangeiro, que se procederia libertao do embaixador, mantido como refm. Cientificado o fato s autoridades superiores, antes da hora marcada, 14h50min, o chanceler Magalhes Pinto fz de pblico a seguinte comunicao: "So do conhecimento pblico as circunstncias ligadas ao seqestro do embaixador dos Estados Unidos da Amrica, Sr. C. Burke Elbrick, por terroristas empenhados na subverso da ordem pblica nacional. Em manifesto lanado na ocasio do delito, os terroristas exigem, sob ameaa de matar o embaixador Elbrick, que o govrno faa divulgar na ntegra aqule manifesto e envie para o exterior 15 indivduos atualmente detidos por atividade subversiva. Convencido de interpretar com fidelidade os sentimentos profundos e autnticos do povo brasileiro, o govrno decidiu fazer o que est a seu alcance para evitar que se sacrifique mais uma vida humana, sobretudo quando se trata da pessoa de um representante diplomtico, ao qual o Estado brasileiro, tradicionalmente hospitaleiro, deve proteo especial. O govrno j autorizou a divulgao do manifesto e determinar a transferncia para o exterior dos 15 detidos cujos nomes lhe forem indicados. Dsse modo, recair totalmente sbre os seqestradores a responsabilidade por qualquer dano incolunidade da pessoa do embaixador C. Burke Elbrick." (...)" Luta Democrtica, 6 de setembro de 1969 "Com desembarque previsto para as 14 horas (hora do Rio), chegam hoje ao Mxico os 15 asilados cuja libertao foi exigida pelos terroristas que seqestraram o embaixador norte-americano Burke Elbrick. O embarque no Rio, a que no tiveram acesso os reporteres, foi precedido de forte dispositivo de segurana, at que o Hrcules da FAB, prefixo 2456, levantou vo s 17,10, com destino a Recife, onde deveria recolher o ex-deputado Gregrio Bezerra. O Itamarati viveu ontem outro dia de intenso nervosismo, que atingiu climax quando o chanceler Magalhes Pinto foi informado de que, contrriamente ao que le j havia anunciado imprensa, o avio ainda no levantara vo, por "motivos tcnicos". O Departamento de Estado dos EUA confessou-se preocupado pela possibilidade do seqesto provocar uma onda de atentados similares no mundo." "Com chegada prevista para s 17 horas (14 horas do Rio) desembarcam hoje no Mxico os 15 ex-prisioneiros cuja liberdade foi exigida pelos terroristas que seqestraram o embaixador norte-americano Burke Elbrick. s 17h05m o "Hrcules" C-130.2456 da Fora Area Brasileira decolou rumo ao Mxico do Aeroporto Militar do Galeo levando em seu interior os prisioneiros polticos exigidos pelos seqestradores para libertarem o embaixador norte-americano Burke Elbrick. Soldados da Aeronutica exerceram severa vigilncia no permitindo a penetrao da imprensa. Os presos foram conduzidos para o Aeroporto Militar de helicpteros e carros blindados da radiopatrulha. Ricardo Villas Bas S Rgo foi o primeiro a chegar." "A imprensa manteve-se durante a manh de ontem em constante expectativa esperando a chegada dos prisioneiros ao Galeo. s 12,02 horas Ricardo Villas Bas S Rgo conduzido por policiais do DOPS e Secretaria de Segurana Pblica chegou ao local de embarque. Os carros de rdiopatrulha entraram pela pista comercial e ali permaneceram durante alguns minutos. Uma ordem dada fez com que o prisioneiro fosse transportado imediatamente para a Base Area. Ali a imprensa no penetrou ficando h crca de 1.200 metros dos avies parados na pista de pouso. Dois avies da Fora Area Americana estavam sendo abastecidos. s 12h25 minutos informava-se ter sido determinado o abastecimento do avio da FAB que levaria os prsos para o Mxico. A movimentao na Base Area do Galeo continuou e os reprteres permaneciam na sacada do Aeroporto Internacional utilizando teleobjetivas possantes. Mais trs carros da radiopatrulha chegavam s 12,28 horas dles desembarcando algumas pessoas. Dez minutos depois um helicptero pousava na pista da Base Area e segundo as informaes teria conduzido o jornalista Flavio Tavares. A movimentao de veculos policiais foi intensa. Novas viaturas chegavam, mas, em virtude da distncia em que estavam os reprteres no foi possvel identificar ningum. Dois "Hrcules" permaneciam parados e j estavam abastecidos. Soldados da Aeronutica guarneciam tda a rea adjacente. (...) s 16,35 horas pousava junto ao avio "Hrcules" um helicptero. Dle desceram, segundo apurou-se, quatro pessoas, uma das quais foi embarcada no avio. A partir da os carros que ainda permaneciam na pista foram se retirando gradativamente. Precisamente s 16,46 horas a primeira hlice da asa direita do "Hercules" comeou a girar. Seguiram-se as outras e logo depois o avio acionava todos os motores. Permaneceu parado durante 2 minutos e s 16,52 horas dirigiu-se cabeeira da pista, decolando s 17,05 horas." "Foi encontrada na escultura localizada em frente ao edifcio da revista "Manchete", na Praia do Russel, nova mensagem do embaixador norte-americano e de seus seqestradores. So os seguintes os textos: "Nota da Ao Libertadora Nacional e do Movimento Revolucionrio 8 de Outubro - Tomamos conhecimento das declaraes do Chanceler Magalhes Pinto segundo as quais nossos 15 companheiros partiram para o Mxico. Solicitamos s emissoras de rdio que confirmem no Ministrio das Relaes Exteriores e na Embaixada do Mxico se os que partiram so os constantes na lista j divulgada. Aguardamos, como nos comprometemos, apenas a confirmao da chegada atravs das agncias internacionais para liberar o embaixador dos Estados Unidos, que envia sua mensagem final at o momento de reencontrar a famlia. Rio, 6/9/69 - ALN - MR8" A nota dos raptores est acompanhada da seguinte carta do embaixador Burke, sua espsa, escrita em ingls: "Estou bem ansioso para v-la brevemente. Li nos jornais de hoje que voc recebeu minhas duas cartas de ontem e fui informado pelos que me prendem, que les esto esperando confirmao do Govrno brasileiro e da Embaixada mexicana sbre o nome dos 15 presos, que foram libertados e que esto agora presumivelmente a caminho do Mxico. Espero que receba uma confirmao para que eu possa ser libertado a qualquer momento, amanh. Com todo o meu amor, Burke." "Falando, crca das 22,30 horas de ontem, o Chanceler Magalhes Pinto confirmou que treze elementos subversivos, libertados no Rio, j haviam partido com destino ao Mxico, alm de um de Recife, devendo o outro ser apanhado em Belm. A declarao do Ministro constituiu uma resposta a nova mensagem dos raptores do Embaixador Burke Elbrick ao Govrno que reclamavam esclarecimentos sbre o embarque. As palavras do Sr. Magalhes Pinto foram prviamente gravadas e em seguida, irradiadas para conhecimento dos terroristas." O Jornal, 7 de setembro de 1969 "77 horas e 55 minutos depois de haver sido seqestrado, o Embaixador norte-americano Charles B. Elbrick regressou ontem a sua residncia oficial, num txi, apanhando inteiramente de surprsa a Embaixada, sua famlia e os jornalistas de planto na Rua So Clemente. Fra abandonado momentos antes prximo ao Largo da Segunda-Feira, na Tijuca. To logo as autoridades tomaram conhecimento do regresso do diplomata, foi desencadeada uma vasta operao de crco, na tentativa de localizar os seqestradores. Tdas as barreiras nas estradas foram fechadas e a Polcia passou a investigar. O Embaixador, ao regressar, trajava terno cinza escuro, camisa azul clara, sem gravata, e apresentava um ferimento na testa, produzido por uma coronhada. Segundo seu relato, foi a nica violncia fsica dos seqestradores, que o trataram "muito bem". Eram todos jovens, segundo disse, e no usavam disfarces." "s ltimas horas da noite de ontem, o Secretrio de Imprensa da Presidncia da Repblica, Sr. Carlos Chagas, informou sbre o teor de uma carta em que o Presidente Richard Nixon agradece ao Presidente Costa e Silva e aos trs Ministros militares no exerccio do govrno os esforos desenvolvidos para a libertao do diplomata: "Desejo expressar - diz a carta - a minha mais profunda gratido, e a de meu govrno, pelos bem sucedidos esforos a fim de assegurar a liberao do Embaixador Elbrick. Estou plenamente ciente da complexidade da tarefa e das difceis decises adotadas." "Os quinze prisioneiros libertados pelo govrno brasileiro em troca da devoluo do Embaixador chegaram ao Mxico ontem tarde e foram encaminhados a um hotel." "Num txi Volkswagen, placa GB 5-11-43, o Embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick regressou sua residncia s 19h45m de ontem, exatamente 78 horas e 55 minutos depois de haver sido seqestrado prximo Rua So Clemente. Cercado imediatamente pelos reporteres e fotgrafos de planto, o Sr. Elbrick entrou imediatamente em sua casa, onde falou com a esp6osa. Quinze minutos mais tarde pelo telefone, fz um relato completo ao Presidente Nixon, a quem disse que "felizmente acabou tudo bem". Logo em seguida, ainda pelo telefone, foi cumprimentado pelo Ministro Magalhes Pinto, que a seguir mandou Rua So Clemente o Secretrio Geral do Itamarati, Embaixador Gurgel Valente. Em todos os relatos, disse o Embaixador que no foi cloriformizado, como se anunciara. Recebeu uma coronhada na cabea, que sangrou um pouco. - Mas a partir da fui muito bem tratado. les at me deram charutos e lavaram minha camisa. Revelou ainda o Embaixador que durante todo o tempo em que permaneceu seqestrado foi mantido num quarto pequeno, com pouca luz. E tanto no trajeto de ida para esse refgio, como quando de l foi retirado mantiveram-no de olhos vendados. Por isso, no pode precisar onde estve. As primeiras palavras do Embaixador, ao chegar sua residncia, foram estas: - Sinto-me feliz por estar de volta. Alegra-me que meus captores tenham mantido a palavra, deixando-me partir. Estou muito grato ao Govrno brasileiro por haver tomado tdas as medidas necessrias para levar a cabo minha libertao. O Sr. Elbrick foi deixado pelos seqestradores em frente ao nmero 40 da Rua Eduardo Ramos, prximo Rua Conde de Bonfim e Largo da Segunda-Feira, na Tijuca. Recebeu ordens para aguardar quinze minutos, mas aproveitou a passagem do txi para voltar sua residncia. O motorista Jos Mateus de Sousa, que o recolheu imediatamente, perguntou-lhe se no era o Embaixador norte-americano. E acrescentou: - Pobrezinho... (...)" "A notcia da libertao do Embaixador Burke Elbrick foi recebida na sede da Embaixada por volta das 20 horas. O Encarregado de Negcios, Sr. William Belton, e o Conselheiro John Mowinckel, tomaram imediatamente o carro placa CD-818 e seguiram para a residncia do Embaixador, na Rua So Clemente. Dez minutos depois, um funcionrio do Setor de Informaes transmitia aos jornalistas as primeiras declaraes do Embaixador Burke e sua explicao para o ferimento que mostrava no lado direito da testa: - les no tinham a inteno de me fazer mal algum, mas eu ignorava isto e por ste motivo resisti quando me disseram para fechar os olhos enquanto me transferiram para outro carro. Eu no estava disposto a fechar meus olhos para ningum naquele momento. O Embaixador resistiu e tentou afastar as armas apontadas para le e nesse momento foi fortemente atingido. (...)" ltima Hora, 8 de setembro de 1969 AS MANCHETES: Govrno Faz Mobilizao Geral Para Salvar Embaixador Dos EUA ( Correio da Manh ) Govrno Libera Presos Polticos E Preserva Vida Do Embaixador ( Correio da Manh ) Govrno Fixa Hoje Sua Posio Sbre O Seqestro ( Jornal do Brasil ) Elbrick Dispensara Segurana Pessoal Oferecida Pelo Estado H Duas Semanas ( Jornal do Brasil ) Seqestro De Embaixador Inominvel: Pas Revoltado ( Dirio de Notcias ) Govrno Salva Vida Do Embaixador - Terroristas Atendidos - Tudo Agora Depende Dos Raptores ( Luta Democrtica ) S Falta Agora A Volta De Elbrick - Asilados Hoje Tarde No Mxico ( O Jornal ) Raptores S Aguardam Chegada Dos 15 Presos ( O Jornal ) Embaixador Salvo E Terror Cercado ( ltima Hora ) Nixon Grato ( ltima Hora ) Por Que le Foi Ferido ( ltima Hora )  OS 62 JORNAIS CONSULTADOS: O BALUARTE - A BATALHA - BOA NOITE - O BRASIL - O CARBONRIO - O COMBATE A CRTICA - CIDADE DO RIO - CORREIO DA MANH - CORREIO DA NOITE - CORREIO DA TARDE - CORREIO DO POVO - O DEMOCRATA - O DIA - O DIARIO - DIRIO CARIOCA - DIRIO DA NOITE - DIRIO DE NOTCIAS I - DIRIO DE NOTCIAS II - DIRIO DO COMMRCIO - DIRIO DO POVO - DIRIO DO RIO - A ESQUERDA - FOLHA CARIOCA - FOLHA DA TARDE - FOLHA DO DIA - GAZETA DA TARDE - GAZETA DE NOTCIAS - O GLOBO - O IMPARCIAL - A IMPRENSA - IMPRENSA POPULAR - O JORNAL - JORNAL DO BRASIL - JORNAL DO COMMRCIO - JORNAL DOS SPORTS - LUTA DEMOCRTICA - A MANH - A MARCHA - A NAO I - A NAO II - A NOITE - A NOTCIA - NOVIDADES - O PAIZ - A PTRIA - O RADICAL - A RAZO - A REPBLICA - REPBLICA BRAZILEIRA - RIO JORNAL - RESISTNCIA - A RUA - RUA DO OUVIDOR - O SCULO - O TEMPO - A TRIBUNA - TRIBUNA DA IMPRENSA - LTIMA HORA - A UNIO - O UNIVERSO - VIDA FLUMINENSE  Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro http://www.bibvirt.futuro.usp.br A Escola do Futuro da Universidade de So Paulo - Permitido o uso apenas para fins educacionais A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro est em busca de patrocinadores e voluntrios para ajudar a manter este projeto. Se voc quer ajudar de alguma forma, mande um e-mail para bibvirt@futuro.usp.br e saiba como isso possvel. RocketEdition TM eBooksBrasil www.ebooksbrasil.com Dezembro - 1999     Trial version of ABC Amber Rocket eBook Converter http://www.processtext.com/abcrocketebook.html Trial version of ABC Amber Rocket eBook Converter http://www.processtext.com/abcrocketebook.html &'()QRSbceijko iaVGVa8h*B* CJOJQJ^JaJphsH*'jh*B*mH phsH *jh*B*mH phsH *jh*B*mH phsH *#j9hhh*B*mH phsH *jh*B*mH phsH *#j?h*B*mH phsH *jh*B*mH phsH *#jEh*B*mH phsH *jh*B*mH phsH *#jKh*B*mH phsH *jhfIIkKK*PEPGPTPRRRR[[a^^efggjEjLmomottttuuu7uxx@|l|π ?֓-N!jZh2UmH sH jWh2UmH sH jnTh2UmH sH h>>l?@qA;CC!FGIIKK}LTM&NNdOEPGPTPPQWQ~QR ii1$7$8$H$RRRRR"TV&WZZ[[]]^,`abddfffggi$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$iEjGjkkQlomqmmn-oonpqrrttuu7uu"wxx/z$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$/zl|o| ~~4ACnPڌZi_xPR ii1$7$8$H$#%BT%z` ]}˭$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$MڻܻGMO%':< ii1$7$8$H$ڻ%Md#t: 4}"-()*LCl 7 *H       I!""##**\.|.jah2UmH sH h< ii1$7$8$H$|.)1J1d4455889 :<><@AeAgAhAiAACCEEIJnJLPLMMjNNhOOPPUS}STTUV8WbWcWdWWb6bggjjoohttv2v4v5v6vSv]x ڒdj}jh2UmH sH j[gh25U\mH sH h<@<k=?G@@gAiAACCEEEG InJpJRL_LMNNOOQ$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$QQ?RRR}SS!TTTaUVVVbWdWWYY[G]^^_`xa$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$xa6b9blccdueYfJggg ijjkl>nooCqNrWrt4v6vSv$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$Svx'{_|}wxzمކ "x*$ڒܒ_$ii1$7$8$H$a$ ii1$7$8$H$1$7$8$H$  ;qۤLw(=\:Uvxʿsf ;<K$   *e#jwh2UmH sH jsh2UmH sH jph2UmH sH h!*$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$*B57> ;<K ii1$7$8$H$KmA osZ^$&  $ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$  T  8h*-B^ Z!)"$$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$#$)6)-*-//01p3366=$=&='=(=E=QQ\\a$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$>?@AHCnDCEkF GmIKKLMNxO PMQQQ\STTU`VQWXQYZ ii1$7$8$H$Z[\\aeiilnno>pqtvvvwwx yIyKyny$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$ny}}~qsW8;$VY Mln ii1$7$8$H$H')b "-?A`Ƥsud"%$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$ķ (H_Rnf'hG$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$ (Vt6UVWqRr  5TVe|}~*$J$)*./447777888 9u[[jkkwwo-jh2UmH sH jh2UmH sH j҉h2UmH sH jh2UmH sH h?6@ BBDpGG7HH IKKMNPFRSTTSU{V-WXXXYZ ii1$7$8$H$Z[[]^_`acOdSeffg?hhiejjkkymQnoprrsu ii1$7$8$H$u?vvwwyxylz{}~e-ӄ-VX$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$-,V×_}LlnzfghHjڬŸ\z1P7bvwx1Q\{ "1    Tjh2UmH sH jbh2UmH sH hh2UmH sH h24468:;;:@wA$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$wADDLLNL]LLfMMMMNNPPRRS XXYZZ\\^$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$^^add)ddeIfKfbfeg7hijklEn2o4oqs``bbdefg ii1$7$8$H$$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ggyh{h icij%kkk-llmnKoMo\oopppqWqYqrq/r$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$/rsuvMx8zn{p{{')"ߊP3tv]HJ ii1$7$8$H$JL[*?WHJjˢ2T :=$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$3wJLξa`EfS~l%' ii1$7$8$H$'%,/>;nX' $ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$,/>Srr $LKjm|&&,,g77>>FFNKrKtKKOOOPppw6wMt iը /jB`(Pj2h2UmH sH jh2UmH sH jh2UmH sH h2334c57798:\<=>>%BqDFFGsHH ii1$7$8$H$H5IJrKtKKK-M NBNOOOPQJS"UUmXZ[{^V`e#fg$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$gj+lm-opprGu6w8wz4|ZFˊtvԏD}   ii1$7$8$H$ Ƥܥ< ȩL]ڬ/1ƺ$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$ƺ`be !RTlr ii1$7$8$H$P 0P<dfuCDE`-R}Fe''A.g.l.{.4444Z99DDKGxGsQQY^}^nggrrrrUwVwWww҆Ĝ 2#İjh2UmH sH jzh2UmH sH h?^ABCDDExGzG`HI$ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$IL4MFNWOQQDSUVX8[A\}^^ `Jab ͘ B l n } ۰  j.h2UmH sH j h2UmH sH jh2UmH sH h @ D @ m 4 u q L q > ii1$7$8$H$>  ݧ ҫ l n } خ 0 d  ? ۰ $ii1$7$8$H$a$1$7$8$H$ ii1$7$8$H$ ] o < " ھ  '  L c 4 q ! ii1$7$8$H$ J D T K ;  G   ii1$7$8$H$  | | p   j    J   ? 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