ࡱ> lnkIxbjbjBm]ppp,,l> DFFFFFF$5)Bjpj:ppl:::DppDJJJ&JppD: :DppDX Jf=y:DA dupla falta do editor de jornal, nos livros e cursos de jornalismo Beatriz Marocco e Christa Berger, professoras da Unisinos A edio de jornal como um conjunto de operaes relacionadas publicao e distribuio de jornais e como a evidncia do trabalho de um editor-chefe est inscrita em um quadro complexo de produo jornalstica que conjuga o gesto individual, as estratgias empresariais e as prticas jornalsticas a condies histricas de possibilidade. O que existe sobre o tema, entretanto, no d conta nem dos processos e tcnicas de produo nem dessa figura. De forma extremamente fragmentada diferentes autores que se dedicam redao jornalstica reduzem a edio a uma espcie de efeito colateral. Existe porque existe a notcia e a necessidade de constranger o acontecimento ao espao jornalstico. O que se evidencia com isso uma ateno aos processos de produo da notcia e da reportagem (nos mbitos do planejamento, coleta de dados e escritura) em detrimento da edio que ganhar certo vigor no tratamento dos ttulos e outros efeitos grficos, um dos aspectos das rotinas de edio. J o editor tem acumulado muito mais consistncia em tempos difceis sob a forma de um ato herico no cotidiano ordinrio, como pode comprovar a descrio de Dines (1986) sobre a edio da notcia da morte do presidente chileno Salvador Allende na primeira pgina do JB, nas telas do cinema, na literatura e, menos freqentemente, na televiso. Na TV, o ator espanhol Jos Coronado est inesquecvel no protagonismo da srie Periodistas, em que vivia um simptico gal/editor muito bem sucedido na profisso e junto s belas e experientes reprteres do jornal. O filo cinematogrfico localizou quase invariavelmente o poder do editor no bordo parem as rotativas. Na literatura a sua dimenso histrica anterior rotativa e ao paradigma da objetividade. Nas teorias exgenas do jornalismo (H. Hardt, 1979), o editor foi construdo como uma conexo entre o jornal e o mundo ou um sujeito de inmeras presses enquanto o gatekeeper das teorias modernas do jornalismo parece desvinculado das presses externas sobre o seu trabalho. No texto que segue nossa proposta revisar o que foi dito sobre prticas de edio nos estudos do jornalismo e em outros discursos, ensaiando uma descrio sobre o tema que aponta em direo a dois momentos: 1. A porosidade/impermeabilidade do editor frente s coisas que passam na realidade; 2. As rotinas produtivas da edio inscritas na dinmica das relaes profissionais em uma sala de redao e no interior de uma empresa jornalstica. As rotinas da edio difcil marcar os limites das rotinas de edio. As mltiplas posies que o editor ocupa na hierarquia de uma empresa jornalstica percorrem a histria dos jornais. At meados do sculo XX, editor e dono do jornal eram quase sempre o mesmo sujeito. Com a cristalizao das redaes e a posterior fragmentao do jornal em editorias, o editor passou a responder por reas especializadas, a tarefa simplificada cede lugar tarefa complexa, aparece a figura proeminente do editor-chefe, dos secretrios de redao e do diretor de redao, enquanto a propriedade dos veculos ser atributo de uma diretoria, que se ocupa mais da gesto do negcio do que se envolve com o cotidiano mido da redao. no Jornal da Tarde, segundo J. Bahia, que o editor passa a ser mais exigido, assumindo a um s tempo funes de pauteiro, chefe de reportagem, editor de texto, editor de fotografia, diagramador e redator. Alm disso, s vezes, tambm reprter (1990, p. 387). Dentro desse quadro, os tericos do jornal tm olhado a edio com uma certa reserva. Da mesma forma os cursos de jornalismo. O editor e a edio aparecem em diferentes disciplinas no mbito dos estudos universitrios de graduao. Os livros abordam o tema superficialmente. Essa dupla falta vem acompanhada por uma suspeita de que a formao de um editor se d, de fato, no mbito das prticas jornalsticas e das tenses naturais e necessrias que existem na organizao do jornal ou seja, o melhor aprendizado de edio jornalstica reside em uma bem sucedida carreira de reprter/redator, passando ele mesmo por todos os departamentos (Beltro, 1980, p. 51). Poder-se-ia arriscar a hiptese de que nos momentos em que se dedicam edio, as bibliografias que se situam no nvel das tcnicas e da redao jornalstica enfatizam 1. a qualidade de filtro do editor no processo de produo da notcia, 2. a diferena entre produo e a edio de notcia, e 3. as rotinas da edio. Em O que jornalismo, Clvis Rossi (1980) associa a edio jornalstica a uma srie de cinco filtros existentes entre o material produzido pelos reprteres e a pgina: o editor que determina a angulao, se uma determinada reportagem merece 60 ou apenas 20 linhas, o nmero de caracteres de um ttulo, o sentido do que esse diz e a sua importncia na pgina. Nesse sentido, Jos Marques de Melo (1985) identifica um evidente verticalismo na seleo das informaes que articula a propriedade da organizao s instncias da redao, desde o editor chefe at a chefia de reportagem ou as editorias especializadas. As decises fluem de cima para baixo... uma relao de ordem e obedincia, na qual as chefias decidem o que os seus subordinados vo fazer e cobram o cumprimento integral da execuo (p. 60). Segundo Marques de Melo, os proprietrios naturalmente exercem vigilncia sobre o andamento das atividades jornalsticas, controlando diariamente o produto final. Manuel Carlos Chaparro d voz ao editor Eduardo Lopes Martins Filho para evidenciar esse trabalho de cozinha sobre a reportagem intitulada A Sabesp mente sobre o rodzio, publicada em O Estado de So Paulo (9/11/1989). Como a reprter no fizera a abertura da mesma com coisas relevantes (a matria abria com uma casa onde no tinha faltado gua anteontem e faltara ontem), Martins Filho fez algumas alteraes no original, que se afinavam mais com o teor da pauta do diretor de redao Augusto Nunes, morador das Perdizes, uma das zonas em que houvera corte de gua no dia da reportagem. A argumentao da abertura foi sustentada por depoimentos, coerentes com o ttulo, que foram desmentidos pelas respectivas fontes e pelo assessor de imprensa da Sabesp. Editor existe para isso, argumentou o editor, caso contrrio cada reprter decidiria sua matria. ... a interferncia do editor comea na pauta e, em ltima instncia sai o que o editor aprova. Se o lead est no terceiro pargrafo, tenho que pass-lo para o primeiro (depoimento de Eduardo Lopes Martins Filho, citado em Chaparro, 1993, p. 29-33). Duas dcadas antes, Cremilda Medina havia identificado a edio como segunda componente estrutural no processo de produo da notcia e o editor como o jornalista que marca a crescente especializao do jornal, a descentralizao do antigo pauteiro ou do chefe de reportagem, que determina os assuntos a serem cobertos e que coordena os reprteres que trabalham na sua rea. Por definio, o sujeito bem informado, sensvel demanda, que antev a oportunidade de determinadas coberturas, que sabe selecionar as informaes essenciais que o reprter traz, que sugere perguntas e, acima de tudo, que angula a matria. Neste momento, editoria e angulao mantm uma relao estrutural indiscutvel. O editor est em perfeita sintonia com a angulao da empresa, com a angulao-massa ou seja, age como elemento regulador da oferta e da demanda (Medina, 1978, p. 92). Em suas memrias, Cludio Abramo sugere uma diviso entre jornalistas e jornalistas. Basicamente, diz ele, ser jornalista significa trabalhar em uma dessas duas grandes reas: Ou voc produz, ou voc edita. (...) Alguns jornalistas so excelentes para produzir, imaginar matrias, reportagens, artigos, bolar ligaes entre um fato e outro (...). Outra coisa, diferente e at oposta, a edio, o trabalho de editar o que o produtor oferece. O sujeito que edita precisa ter concepes claras sobre o tipo de jornal e revista que edita e sobre o que se pode fazer ao editar uma histria, um conjunto de histrias, ou vrias matrias correlatas. Ele deve ter um tipo de imaginao e de noo espacial e visual. Deve trabalhar com a realidade, com as narrativas, os comentrios, as anlises, as fotos e as charges, isto , coisas materiais. Deve transformar tudo isso num conjunto inteligvel para o leitor, tanto intelectualmente quanto fisicamente (1988, p. 177). Um conjunto de respostas do livro Respondendo 1000 perguntas (2005) esquadrinham as rotinas de edio das diferentes editorias: poltica (p. 63), economia (p. 73), esporte (p. 83), cultura (p. 93), polcia (p. 102), cincia (p. 110), internacional (p. 120), cidade/geral (p. 166), entre elas, determinar o enfoque das matrias, se podem ser apuradas somente por telefone ou se a apurao exige o deslocamento do reprter, escolher as matrias que sero publicadas, reescrev-las se necessrio, organizar e hierarquizar as matrias na pgina. A tudo isso pesa sobre o editor a responsabilidade de cada editoria. A de um editor de caderno cultural, por exemplo, em uma editoria onde se valoriza to pouco a cultura, redobrada. Talvez seja esse o motivo de tantas crticas funo (p. 93). Segundo Mrio Erbolato, o editor (responsvel por um dos setores ou assuntos) faz a previso das matrias que devero ser publicadas no dia seguinte, calculando inclusive o espao total de que necessitar. Diariamente h reunio dos editores com o editor geral onde feito o loteamento do espao que caber a cada editoria (1978, p. 193). A dupla face do editor Canalha ou heri. A imagem do editor geralmente ocupa esses dois extremos. Sob a pele de Loberant, o editor esboado por Lima Barreto o todo-poderoso artfice de uma diviso infinitesimal de interesses de todo tipo de gente que forma filas da manh noite em frente sua sala e que, em nome da proximidade com o pblico, traduzir uma forte diminuio de todos os laos morais no jornal (1995, p. 52). Floc, um dos editores de O Globo, jactava-se de publicar o que queria no modelo de redao barretiano, mas o que podia publicar com a indiferente do diretor eram artigos literrios. Na redao era assim: escrevia-se mediante ordem do Diretor, hoje contra e amanh a favor. Floc, entretanto, gabava-se de ter autonomia nos seus artigos. Eram puramente literrios, ou tinham esse propsito, e, luz da inteligncia de Loberant, era-lhe perfeitamente indiferente que o naturalismo fosse elogiado e o nefelibatismo detratado; que a Academia de Letras tivesse referncias elogiosas ou recebesse epigramas acirrados (Lima Barreto, 1995, p. 48). O pequeno dirio balzaquiano situado na rua Saint-Fiacre, segundo Blondet, era uma loja em que se vendiam palavras da cor que se pedisse; ao invs de ser um sacerdcio, o jornal de Finot era um meio de expresso para os partidos polticos, um comrcio, e, como comrcio, como todos os comrcios, no tinha nem f nem lei (Balzac, 2001, p. 387). Baudelaire escreve com desdm sobre a autonomia do editor de jornal: So pessoas sem personalidade, seres sem originalidade nascidos para a domesticidade pblica. Havia um acordo entre literatos e tericos em relao venalidade do editor. Um conjunto de teorias reunidas por H. Hardt nas social theories of the press deram mais preciso figura do editor. Small e Vincent (1894) e K. Bcher (1915) esboaram com agudeza a figura que ocuparia, mais tarde, o bojo do conceito de gatekeeper. Nela descreveram o editor de telgrafo, que recebia e selecionava o material produzido pelas agncias de notcias nacionais e internacionais que, por sua vez, faziam chegar at os jornais os relatos dos correspondentes que mantinham em todo o mundo (citados em Hardt, 1979, p. 203). O editor, na viso de Small e Vincent, era uma conexo entre o jornal e o mundo: The telegraph editor is the connecting link between the paper and the outside world. He reads the messages sent from the head office of the general press association, and selects such matter as he deems desirable. The general manager of this press service, sitting in his office in New York or Chicago, receives reports from his special correspondents in all parts or the country. These he sifts and then transmits to several central distributing points, whence they are telegraphed to the various papers in the association. Now and then, a cable message arrives from an international agency in London or Paris, where news from all over the world is being collected and distributed to meet the demands of different countries. Thus the report of an anarchist outrage in Seville finds a ready channel via Madrid, Paris, London, and New York or Chicago to any American city or large town (citado em Hardt, 1979, p. 200). Bcher acreditava que esse mesmo editor, no comando do telgrafo, estava exposto propaganda de guerra, aos interesses nacionais, de grupos de presso ou de seu patro, e que, em sua posio de filtro do noticirio no levava nada disso em conta. Ao conduzir o processo de seleo, considerava as suas primeiras impresses que no iam alm de uma avaliao da veracidade do noticirio. As condies de produo das notcias no eram avaliadas. E assim, no controle do telgrafo, o editor suprimia as notcias que considerava desagradveis dando importncia as agradveis. Essa atitude, que dava espao no noticirio explorao continuada de materiais que exploravam vises parciais e/ou distorcidas do que acontecia na realidade (one-sided materials), principalmente em poca de guerra, poderia causar mais estragos na opinio pblica do que um ataque armado em campo de batalha. Knies ainda no havia relacionado a mquina com o poder das agncias de notcias; refletiu separadamente sobre o telgrafo e o jornalista. A imprensa, dizia, ao contrrio do que ocorria entre duas pessoas, introduziu um mensageiro na transmisso das mensagens e foi esse terceiro elemento que acabou abrindo os portes para os mal-entendidos, at a introduo dos sistemas tcnicos, como o telgrafo, que deram uma dimenso impessoal ao processo (citado em Hardt, p. 80-82). Por outro lado, Knies sugeriu que o processo de seleo das notcias em outras condies, ou seja, sem a interferncia do telgrafo e do noticirio produzido pelas agncias internacionais, podia fornecer as pistas para descobrir como os editores tentavam dirigir a ateno dos leitores privilegiando, dando tratamento diferenciado ou silenciando certos acontecimentos (citado em Hardt, p. 89). Na esfera da produo jornalstica, as figuras dos gates (portes) e dos gatekeepers (jornalistas) que David Manning White elaborou em 1950 em artigo publicado na revista Journalism Quarterly, do conta do processo de seleo das notcias pelo editor. White observou, acompanhando as prticas de um jornalista, que as notcias passam por uma srie de portes que so os momentos de deciso em relao aos quais o jornalista deve escolher o que ser publicado. Mr. Gates, como chamou-o White, vivia e trabalhava h 25 anos em um jornal de uma de 100 mil habitantes do meio oeste americano. Sua funo: selecionar entre o grande volume de despachos das agncias de notcias que chegavam diariamente as notcias que o jornal publicaria no outro dia. A seleo, segundo White, seguia critrios subjetivos. Em seu livro de anotaes, o jornalista classificava o material rejeitado como demasiado vago (26 notcias foram rejeitadas por esse motivo), ou como composio aborrecida (51), ou sem interesse (61). O processo de seleo subjetivo e arbitrrio, com as decises dependendo muito de juzos de valor baseados no conjunto de experincias, atitudes e expectativas do gatekeeper (White, 1993, p. 149). Warren Breed (1993) alargou a perspectiva do gatekeeper. Ele estudou o controle social nas redaes, analisando os mecanismos de manuteno da linha editorial e poltica dos jornais. O autor observou que o jornalista conforma-se com as normas da poltica editorial da organizao independente de qualquer idia que ele tenha trazido consigo. Breed (1993, p. 157-161) apresentou seis motivos que fazem com que o jornalista se conforme com a poltica editorial da organizao: a autoridade institucional e as sanes; os sentimentos de dever e estima para com os superiores; as aspiraes mobilidade profissional; a ausncia de fidelidade de grupo contrapropostas; o carter agradvel do trabalho; o fato de a notcia ser transformada em valor. Na sua atividade diria, explica o autor, o jornalista redefine seus valores ao nvel mais pragmtico da redao (Breed, 1993, p.157-161). Os estudos posteriores consideram a necessidade de integrar o papel do jornalista anlise das rotinas produtivas e da organizao burocrtica do jornal, ou seja, deslocam o processo de seleo da manipulao explcita da informao para a hiptese de uma distoro inconsciente, que pode ocorrer na cobertura jornalstica (Wolf, 1994, p.166). Molotch e Lester (1974, citados em Traquina, 2000) vo flexibilizar a noticiabilidade da esfera de deciso do jornalista para outras esferas da sociedade e, mais concretamente, para trs tipos de pessoas (news assemblers, news promotors, e news consumers) que sero relacionadas posteriormente, no esquema apresentado por Rogers, Dearing e Bregman (1988, citados em Traquina, 2000), agenda jornalstica, agenda da poltica governamental e agenda pblica. Na sua interface com a agenda jornalstica, os news assemblers determinam quais so as notcias importantes, os news promotors estabelecem a agenda da poltica governamental e tambm so agentes especializados e membros do campo poltico, que ganham o direito de figurar na agenda jornalstica, e os news consumers correspondem s pessoas sujeitas influncia das mdias e que vo ajudar a construir a agenda pblica (Traquina, 2000, p. 20). Mais recentemente, Alberto Dines mostrar a face herica do editor. Em setembro de 1973, no dia em que Salvador Allende foi derrubado da presidncia do Chile, suicidando-se em seguida, a censura proibiu os jornais brasileiros de dar em manchete, como seria natural, o trgico desenlace. A recomendao chegou quando j havia uma primeira pgina clssica armada. Que fazer? Para no cometer o erro primrio de colocar o fato principal em segundo plano e para evitar complicaes da empresa com o rgo, Dines inverteu a frmula de uma primeira pgina sem manchete nem ttulo, com apenas um texto sobre o acontecimento, composto em tipos grandes e fortes. A edio mesmo sem ttulos despertou a ateno pelo contraste e foi um sucesso (Alberto Dines, 1986, p. 52). Alberto Dines, no fragmento acima, retirado de O papel do jornal, relatando um dia difcil de sua experincia como editor-chefe do Jornal do Brasil, deixa a descoberto a possibilidade de um ponto de estabilidade que a edio deveria criar entre as presses externas ao campo do jornalismo desencadeadas por uma rede de instituies da sociedade, as idiossincrasias do campo jornalstico em si (prticas de edio, a linha editorial da empresa e a normatizao jornalstica), e o gosto do leitor. A estrutura da redao A literatura tem se dedicando historicamente figura do editor em seu meio de trabalho. Primeiro Balzac. Em Iluses perdidas, o porteiro do pequeno dirio na rua Saint-Fiacre, soldado aposentado de Napoleo, descreve a redao para Lucien como se essa fosse uma extenso da rua, da grfica e da casa dos autores" e os jornalistas como uns tipos extravagantes, gentinha que no teria sido aproveitada nem como soldado de retaguarda e se acha com direito de olhar com desdm para um antigo capito dos drages da Guarda Imperial aposentado como chefe de batalho. Na redao havia uma mesa redonda coberta por uma toalha verde, seis cadeiras de cerejeira recobertas de palha ainda nova; sobre a mesa, jornais velhos, um tinteiro com tinta seca enfeitado por penas deformadas pelo calor. Isaas, protagonista de Lima Barreto, entra na redao de O Globo quando essa se cristaliza em um espao com autonomia da grfica, hierarquizado e controlado por um diretor: Era uma sala pequena, mais comprida que larga, com duas filas paralelas de minsculas mesas, em que se sentavam os redatores e reprteres, escrevendo em mangas de camisa. Pairava no ar um forte cheiro de tabaco; os bicos de gs queimavam baixo e eram muitos. O espao era diminuto, acanhado, e bastava que um redator arrastasse um pouco a cadeira para esbarrar na mesa de trs, do vizinho. Um tabique separava o gabinete do diretor, onde trabalhavam o secretrio e o redator-chefe; era tambm de superfcie diminuta, mas duas janelas para a rua davam-lhe ar, desafogavam-no muito (idem, p. 37). Na redao de O Globo transitavam, entre outros, o proprietrio e diretor, o bacharel em direito Ricardo Loberant, de inteligncia duvidosa e saber inconsciente, Aires dvila um monstro geolgico com prematuros instintos de raposa, Leporace, um secretrio mecnico, automtico, ser sem alma, sem defeitos nem qualidades, que recebia os seus movimentos do exterior e os comunicava s outras peas da mquina, Alberto Pranzini, o gerente, um calculador de nqueis, que trazia para as gavetas do jornal os tostes da populao e Floc, que tinha o grande prestigio de ter estado em Paris e fazia a crnica literria, as crnicas teatrais dos espetculos de todas as celebridades, as informaes sobre literatura e pintura, alm do planto semanal em que ajeitava frases lindamente literrias, dados da Psicologia chic, as noticias de assassinatos perpetrados por soldados brios na Rua de So Jorge, no esquecendo nunca de dizer que o criminoso o tipo acabado do criminoso nato, descrito pelo genial criminalista italiano Lombroso. Floc jactava-se de publicar o que queria em um modelo de redao em que se escrevia mediante ordem do diretor. Na redao era assim: escrevia-se mediante ordem do Diretor, hoje contra e amanh a favor. Floc, entretanto, gabava-se de ter autonomia nos seus artigos. Eram puramente literrios, ou tinham esse propsito, e, luz da inteligncia de Loberant, era-lhe perfeitamente indiferente que o naturalismo fosse elogiado e o nefelibatismo detratado; que a Academia de Letras tivesse referncias elogiosas ou recebesse epigramas acerrados (Lima Barreto, 1995, p. 48). Robert Darnton examina a estrutura da sala de redao do New York Times e o sistema hierrquico em que funcionava no final do sculo passado para acolher a complexidade dos processos jornalsticos modernos: o editor-chefe, agora isolado em um escritrio, os editores separados por editoria e uma divisria de pequena altura dos respectivos reprteres, que eram distribudos em quatro setores: os grandes jornalistas, os revisores e preparadores de texto, os veteranos de meia idade, de confiana para qualquer reportagem, e um bando de jovens redatores em incio de carreira. Com algumas variaes, que ora reduzem ou ampliam as funes editoriais, ora aproximam geograficamente os editores de seus reprteres e os reprteres entre si, a sala de redao contempornea segue esse diagrama que se reproduz no jornal apresentado ao leitor em suas divises por sesses e zonas de privilgio, historicamente ocupadas pelos reprteres e editores de maior prestgio. No The Times, segundo Darnton, cada editor domina uma determinada parcela do jornal, de modo que, num nmero com n colunas, o editor de Cidades pode esperar um controle sobre x colunas, o editor de Exterior um controle sobre y colunas, e assim por diante. As propores variam diariamente, conforme a importncia dos acontecimentos, mas a longo prazo elas so determinadas pela capacidade de cada potentado em defender e ampliar o seu domnio. As mudanas na territorialidade ocorrem freqentemente na conferncia dos quatro no escritrio do editor-chefe, onde o jornal do dia toma a sua forma. Aqui, cada editor resume o que fez sua equipe e, dia aps dia, firma sua defesa da cobertura de sua rea. Um editor de Cidades enrgico capaz de conseguir mais espao para os reprteres e inspirar-lhes uma sensao renovada da importncia jornalstica de seus temas. Ainda com o auxlio de Darnton, poder-se-ia identificar no jornal um sistema de outro nvel montado sobre um jogo de interesses entre editores e reprteres. Um sistema de controle da produo, que paira sobre o espao da redao e inclui recompensas desde o tapinhas nas costas a almoos e ocasionais notas de congratulaes dos editores aos reprteres. Para entrar nesse jogo, os reprteres acabam escrevendo para agradar os editores. O poder do editor sobre o reprter, assim como o do diretor sobre o editor, realmente gera uma tendncia na maneira de redigir as notcias, observa Darnton (p. 77). Enquanto brigam pela aprovao dos editores, os reprteres desenvolvem um sentimento de solidariedade contra os editores. Para eles, um editor uma pessoa que, mais do que qualquer outra coisa, tenta melhorar sua posio dentro de sua prpria hierarquia parte, subindo com idias brilhantes e fazendo com que sua equipe escreva de acordo com elas (p. 76-77). A descrio de Darnton remete a um cotidiano que vem fornecendo mais elementos e personagens para roteiros de fico do que para livros didticos. Com ela possvel apontar que essa impossibilidade terica sobre a edio e a figura do editor decorrem da porosidade das aes jornalsticas, de sua estreita ligao com gestos hericos e calhordas e com os smbolos que vem dando consistncia ao jornalismo capitalista. Nesse quadro, o bordo herico parem as rotativas e a insinuao que o editor algum que nasce pronto ou algum que se forma escalando algumas funes de uma redao tm relevncia. De algum modo esse texto pretende reconhecer essas muitas verdades que existem sobre a edio e o editor nos mais diferentes discursos para ocupar a dupla falta que lhe corresponde nos livros didticos e nas salas de aula. Referncias bibliogrficas ABRAMO, C. 1988. A regra do jogo. So Paulo, Companhia das Letras. BAHIA, J. 1990. Jornal, histria e tcnica. Histria da imprensa brasileira. So Paulo, tica. BALZAC, H. 2002. Ilusiones perdidas. Madrid, Punto de Lectura. BARRETO, L. 1995. Recordaes do Escrivo Isaas Caminha. 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Neste momento, uma mensagem de cabo chega ao editor de uma agncia internacional de Londres ou Paris, onde as notcias de todas as partes do pas esto sendo coletadas e distribudas para diferentes pases. Uma reportagem sobre uma ao anarquista em Sevilha encontra um canal via Madri, Paris, Londres, Nova Iorque ou Chicago para uma pequena ou grande cidade americana (traduo livre das autoras).  As editorias do jornal Granma, rgo oficial do Comit Central do Partido Comunista de Cuba (PCC), esto loteadas de outra forma. Segundo relato de Flvia Tavares, estudante do 3 ano de jornalismo da Casper Lbero ( HYPERLINK http://www.facasper.com.br/jo/reportagens.php?tb_jo=&id_noticias=225 http://www.facasper.com.br/jo/reportagens.php?tb_jo=&id_noticias=225 acessado em 15/4/2006), editores e seus respectivos reprteres ocupam diferentes andares de um edifcio situado na Plaza de la Revolucin, bairro residencial de Vedado, em Havana. O subdiretor, que tambm redator-chefe do dirio, Lino Oramas, ocupa sala separada. A seo de esportes localiza-se em uma sala ampla. O cheiro de cigarro na redao torna o ar seco e quente da Havana, de 40 graus, ainda mais pesado. Mesmo sem ar condicionado, as vidraas permanecem fechadas. Os mveis, em tons de bege e marrom, e os computadores de antepenltima gerao do um ar de anos 80 ao espao, que combina perfeitamente com as feies dos jornalistas que ali trabalham: barbas por fazer, culos quadrados, roupas pudas. E  J &tp%%)5+6+++Y-Z-31=12A6B6D6E6==lM}MMMOORRqUxUXX[[[[^^y____%`&`W`X`j!jUjjjkJkKkkkkkk l"lll#mCmum0JjU jU j0JUmH j0J@CJUmH  @CJmH NH6B*B*65CJLEIev 34IJ!!8"9"M%N%i()$$$EIev 34IJ!!8"9"M%N%i())))',(,--B022D6E69%=AAAAF=J=M-O.OFOGO SaUbUcUYY[[v_bfiijEjjjk7llmbmm)nnn=ooo&pp,q-q.q/q0q1q2q3q4q5q6q^))))',(,--B022D6E69%=AAAAF=J=M-O.OFOGOd$$$$GO SaUbUcUYY[[v_bfiijEjjjk7llmbmm)nn$$$ummmn)n9n{nnnno(oNojooooo3psptpupppppqq,qBqCqttttttvuwuuuu vvx0JjU jU0J60J j0JU6mH mH 6,nn=ooo&pp,q-q.q/q0q1q2q3q4q5q6q7q8q9q:q;qq?q@q$$ @$6q7q8q9q:q;qq?q@qAqBqtxxxx @qAqBqtxxxx$$/ =!"#$%DyK Ohttp://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/autores/limabarreto/isaias/isaias.htmlyK http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/autores/limabarreto/isaias/isaias.htmlDyK Ehttp://www.facasper.com.br/jo/reportagens.php?tb_jo=&id_noticias=225yK http://www.facasper.com.br/jo/reportagens.php?tb_jo=&id_noticias=225 [$@$NormalmH2@2Ttulo 1 $$@&62@2Ttulo 2 $$@&CJ6A@6Fonte parg. padroB@BTexto de nota de rodap@&@@Ref. de nota de rodapH*JC@JRecuo de corpo de texto $4B@"4Corpo de textoB* X@1 nfase6(OA( Hiperlink>*B*8P@R8Corpo de texto 2$(U@a( Hyperlink>*B*JT@rJTexto em bloco$7dh@CJRR@RRecuo de corpo de texto 2 $8Q@8Corpo de texto 3B*8V@8HyperlinkVisitado>*B* A2ZtZZZZt !      8%3GYit]|umx?D)GOn@qx@BCEG6qxAFJgggtX4X _Hlt134118620 _Hlt134027838ggtggtHN. w$$%5.5/585BBRRRRZR SSTTUUaUkUsUWWWWWWffffffffhhhh$h*h-h5hii:iCiPiVij j]jcjfjnjvkkkk llul|l~llllm$m&m*mBmpp2q8qgqmqnqtqrrrrrrrstBEATRIZ3E:\tese\textos\edio de jornal texto sem dines.docBEATRIZ3E:\tese\textos\edio de jornal texto sem dines.docBEATRIZ3E:\tese\textos\edio de jornal texto sem dines.docBEATRIZUC:\WINDOWS\TEMP\Salvamento de AutoRecuperao de edio de jornal texto sem dines.asdBEATRIZUC:\WINDOWS\TEMP\Salvamento de AutoRecuperao de edio de jornal texto sem dines.asdBEATRIZUC:\WINDOWS\TEMP\Salvamento de AutoRecuperao de edio de jornal texto sem dines.asdBEATRIZ3E:\tese\textos\edio de jornal texto sem dines.docBEATRIZUC:\WINDOWS\TEMP\Salvamento de AutoRecuperao de edio de jornal texto sem dines.asdBEATRIZ3E:\tese\textos\edio de jornal texto sem dines.docBEATRIZUC:\WINDOWS\TEMP\Salvamento de AutoRecuperao de edio de jornal texto sem dines.asd@eeeetp@G:Times New Roman5Symbol3& :Arial"q夦 Fcm;R*"0ddA edio de jornal  como conjunto de atividades relacionadas com a publicao e distribuio de jornais e evidncia da ao de um editor chefe  est inscrita em um quadro complexo que articula o gesto individual a estratgias empresariais, prticas jorBEATRIZBEATRIZ Oh+'0L    ,4<DA edio de jornal como conjunto de atividades relacionadas com a publicao e distribuio de jornais e evidncia da ao de um editor chefe est inscrita em um quadro complexo que articula o gesto individual a estratgias empresariais, prticas jor edBEATRIZEATNormalBEATRIZ23TMicrosoft Word 8.0@ʗ1@$N8k@N0=ym;R ՜.+,D՜.+,, hp|   /*d  A edio de jornal como conjunto de atividades relacionadas com a publicao e distribuio de jornais e evidncia da ao de um editor chefe est inscrita em um quadro complexo que articula o gesto individual a estratgias empresariais, prticas jor TtuloT(RZ _PID_GUID _PID_HLINKSAN{200E160E-C623-11DA-9AE5-000AE6546CAD}A s=Ohttp://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/autores/limabarreto/isaias/isaias.htmlhvEhttp://www.facasper.com.br/jo/reportagens.php?tb_jo=&id_noticias=225  !"#$%&'()*+,-./0123456789:;<=>?@ABCDEFGHJKLMNOPRSTUVWXYZ\]^_`abdefghijmRoot Entry Fn?\cZ=yoData I1TableQkWordDocumentSummaryInformation([DocumentSummaryInformation8cCompObjo  FDocumento do Microsoft Word MSWordDocWord.Document.89q