ࡱ> }|9lbjbj1d6P P 8\F,2frr"ooo1111111$k3 61 oo  11$$$  1$ 1$$/h<0I^E!6h/p1102x/6K"6 <06<04ovT$9D}ooo11!#ooo2    6oooooooooP  d:Joaquim Inojosa e o jornal Meio-Dia (1939-1942) Joo Arthur Ciciliato Franzolin (UFRJ) Em 1989 e 1990, em meio agitao causada pela queda do Muro de Berlim, a reunificao da Alemanha e o fim do bloco sovitico, alm do trmino da ditadura militar brasileira, os reprteres Geneton Moraes Neto e Joel Silveira, que esteve presente na Europa como correspondente de guerra, lanaram Hitler/Stalin: o pacto maldito. Concebido como uma ampla reportagem sobre o pacto nazi-sovitico de 1939, Joel Silveira responsabilizou-se pela descrio dos acontecimentos europeus enquanto a Geneton Moraes Neto coube dar conta do contexto brasileiro. O livro parecia mais um volume sobre a guerra, a exemplo dos muitos produzidos a cada ano, no fosse por um pequeno detalhe: em suas pginas encontrava-se a obscura histria de um jornal brasileiro que teria se colocado ao lado da Alemanha, de Hitler e do seu regime. Alm disso, a trajetria do diretor do jornal, autor conhecido e considerado importante difusor dos ideais do movimento modernista no Nordeste e prximo de seus lderes, era, no mnimo, intrigante. Entretanto, a obra no suscitou debates ou reflexes mais profundas quando do seu lanamento e, em pouco tempo, foi praticamente esquecida. O referido jornal chamava-se Meio-Dia e foi fundado e dirigido por Joaquim Inojosa. O intuito da pesquisa foi o de esclarecer a trajetria do vespertino, identificar sua linha editorial e mapear as representaes difundidas em suas pginas a respeito do Estado Novo, da Segunda Guerra Mundial e dos pases em luta. Trata-se de tomar o jornal como fonte e objeto. As primeiras pistas foram fornecidas pelo j citado livro de Joel Silveira e Geneton Moraes Neto, que se referiram agncia de notcias alem Transocean como responsvel pelo financiamento de alguns jornais brasileiros, dentre eles o Meio-Dia. Entretanto, a afirmao no investigada em profundidade, razo pela qual se procurou esclarecer exatamente quando a agncia passou a ocupar as pginas do jornal e qual teria sido o seu significado para os rumos do vespertino. Vale lembrar que, embora o partido nazista no Brasil tenha sido proibido em 1938 (DIETRICH, 2007, p. 177), as atividades de empresas alems, como a Transocean, continuaram at 1942, quando o Brasil entrou efetivamente na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados. Na impossibilidade de dar conta da integralidade do vespertino, optou-se pela leitura sistemtica dos editoriais, que no eram assinados, e pelos artigos de Inojosa, que expressavam a opinio do cotidiano. A partir desses textos, foi possvel perceber as oscilaes no posicionamento do jornal durante o perodo em que circulou (1939-1942). O trabalho com a fonte peridica demanda cuidados especficos, j que sua estrutura, materialidade e contedo devem ser problematizados. Alm disso, importante no perder de vista que a matria-prima da pesquisa de contedo opinativo e, como bem destacou Capelato (1988, p. 15), todos os jornais procuram atrair o pblico e conquistar seus coraes e mentes. A meta sempre conseguir adeptos para uma causa, seja ela empresarial ou poltica, e os artifcios utilizados para esse fim so mltiplos. Na mesma direo, deve-se ter em vista que [...] jornais e revistas no so, no mais das vezes, obras solitrias, mas empreendimentos que renem um conjunto de indivduos, o que os torna projetos coletivos, por agregarem pessoas em torno de idias, crenas e valores que se pretende difundir a partir da palavra escrita. [...] Da a importncia de se identificar cuidadosamente o grupo responsvel pela linha editorial, estabelecer os colaboradores mais assduos, atentar para a escolha do ttulo e para os textos programticos, que do conta de intenes e expectativas, alm de fornecer pistas a respeito da leitura de passado e de futuro compartilhada por seus propugnadores.(LUCA, 2005, p.140, grifo da autora) Assim, os peridicos possuem um projeto poltico, apresentado diariamente aos seus leitores: enganam-se os que acreditam que um jornal tem contedo e misso puramente informativos. De fato, os editoriais e artigos de Inojosa no Meio-Dia exprimiam uma viso particular a respeito dos acontecimentos da guerra, e eram divulgados com fins determinados, ou seja, procuravam influenciar a opinio do pblico leitor. Da a importncia da anlise dos textos publicados. A pesquisa insere-se na interseo entre a Histria Cultural e a Histria Poltica e valeu-se da noo de representao, tal como apresentada Roger Chartier. De acordo com o autor, estas so construdas por grupos e vinculam-se aos interesses dos mesmos, razo pela qual no produzem discursos neutros (CHARTIER, 1990, p. 17). O historiador alertou, ainda, para o significado do suporte e enfatizou como a materialidade decisiva para capturar a ateno do leitor, sugestion-lo e prescrever leituras (CHARTIER, 1990). No caso especfico dos peridicos, importante destacar que [...] o contedo de jornais e revistas no pode ser dissociado das condies materiais e/ou tcnicas que presidiram seu lanamento, os objetivos propostos, o pblico a que se destinava e as relaes estabelecidas com o mercado, uma vez que tais opes colaboram para compreender outras como formato, tipo de papel, qualidade da impresso, padro da capa/pgina inicial, periodicidade, perenidade, lugar ocupado pela publicidade, presena ou ausncia de material iconogrfico, sua natureza, formas de utilizao e padres estticos. A estrutura interna, por sua vez, tambm dotada de historicidade e as alteraes a observadas no decorrer do tempo resultam de complexa interao entre tcnicas de impresso disponveis, valores e necessidades sociais. Observaes semelhantes aplicam-se aos anncios, que tem sido alvo de estudos individualizados (LUCA, 2008, p. 118). Vale ainda ressaltar que, devido falta de documentao relativa recepo do peridico pelo pblico leitor, tornou-se impossvel analisar quais teriam sido as apropriaes feitas por aquele a respeito da matria opinativa e da publicao em si. Meio-Dia - uma anlise de sua trajetria e materialidade: A trajetria do jornal Meio-Dia, que circulou de maro de 1939 a outubro de 1942, praticamente confunde-se com a biografia de seu diretor-proprietrio, Joaquim Inojosa. Para a compreenso do jornal, importante ter em conta a atuao de Inojosa enquanto jornalista durante os anos de 1930 a 1945, perodo particularmente turbulento tanto nacional quanto internacionalmente. Com o advento da Revoluo de 1930, conseguiu Inojosa, por meio de um salvo-conduto, abandonar o Nordeste e chegar ao Rio de Janeiro, onde se empregou em O Jornal, rgo da cadeia dos Dirios Associados de Assis Chateaubriand. Em 1934, reorganizou uma indstria de tecidos em Minas Gerais, a Companhia de Fiao e Tecelagem Industrial Mineira (SILVEIRA; MORAES NETO, 1990, p.355), que faliu em 1939. Em maro do mesmo ano fundou o vespertino Meio-Dia, que circulou at outubro de 1942, data a partir da qual Inojosa afastou-se da imprensa, atividade que retomou apenas em 1948. O Meio-Dia circulou em pleno Estado Novo e, por certo, teve que se registrar no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Para compreender a histria do vespertino necessrio retroagir a outubro de 1938, quando Inojosa firmou um contrato com a Linotipo do Brasil, representante da Mergenthaler Linotype Company, para a compra de equipamentos de impresso para um jornal (SILVEIRA; MORAES NETO, 1990, p.412). Este surgiu alguns meses depois, em 1 de maro de 1939 e contou, durante sua tumultuada existncia, com vrios colaboradores importantes: Oswald de Andrade, que escrevia a coluna Banho de Sol e De Literatura; Jorge Amado, encarregado da pgina Letras-Artes-Cincias, alm de Joel Silveira, j na poca um expoente do jornalismo carioca. Sua edio inaugural foi efusivamente saudada por vrias personalidades polticas e jornalsticas da poca, como o ministro da Justia Francisco Campos, autor da carta constitucional de 1937, o diretor do DIP, Lourival Fontes, Assis Chateaubriand, dono da cadeia dos Dirios Associados, Herbert Moses, ento presidente da Associao Brasileira de Imprensa (ABI). Pouco depois da estreia, chegou mesmo a receber uma mensagem de congratulao de Getlio Vargas. Segundo consta na reportagem de Geneton Moraes Neto, o jornal teve existncia conturbada, pois sua orientao pr-Eixo causou-lhe inmeros problemas e desentendimentos com o DIP e o Conselho Nacional de Imprensa, at o seu fechamento em outubro de 1942. O vespertino circulou, originalmente, em trs edies (surgindo s vezes uma quarta edio, chamada de extra pelo jornal), sendo que a primeira continha 16 pginas. A princpio, as edies subsequentes aumentavam o nmero de pginas at o final do dia, chegando a 20 ou 24 e, para tanto, se utilizavam de material proveniente das agncias telegrficas, bem como rearranjavam o contedo publicado na primeira edio a fim de ampliar o exemplar. Isso se modificou com o passar do tempo e, no incio de 1940, o jornal mantinha trs edies dirias (agora denominadas primeira edio, ante-final e final), com 8 pginas cada. Em dezembro de 1939, as dimenses do peridico foram alteradas para formato maior; o uso de caricaturas de personalidades foi artifcio utilizado unicamente em maro daquele ano, e no foi detectado seu emprego novamente em 1939. No ms de dezembro passou a ocorrer maior utilizao de fotos, que ilustraram todas as edies a partir de ento. O ano de 1940 trouxe, ainda, nova reorganizao, com o aparecimento de editoriais no assinados e uma profuso de articulistas alemes da Transocean, bem como o suplemento literrio do Meio-Dia, chamado Letras, Artes, Cincias, que, a princpio, esteve sob o comando de Jorge Amado. Ao mesmo tempo, as fotos passaram a ser fornecidas pela j citada agncia alem Transocean. Em 1941, j no contava o jornal com Jorge Amado ou qualquer outro colaborador da esquerda ou de tendncias esquerdistas, pois a invaso da Unio Sovitica por Hitler colocou novamente nazistas e comunistas em lados opostos, o que ps um fim ao dilema iniciado em agosto de 1939, com o pacto de no-agresso germano-sovitico. O expediente do vespertino, tal como nas suas edies, foi sempre alvo de mudanas, com inmeros secretrios de redao. Nele estampavam-se o nome do diretor-proprietrio no cabealho (no caso, Joaquim Inojosa) juntamente com o do secretrio (se houvesse) e o do gerente, cargo este ocupado por Mrio da Trindade Henriques durante o perodo j consultado. Jos Mandina era o responsvel pela publicidade, mas foi substitudo, por um curto perodo, em dezembro de 1939, por Oswaldo Soares de Pinho. A partir de 1941, passaram a figurar tambm naquele espao todas as sucursais do Meio-Dia, no Brasil e no exterior. Segundo dados presentes no prprio jornal, a sucursal do exterior localizava-se em Berlim e seu diretor era Silva Monteiro, que tambm exercia a funo de articulista. J as filiais brasileiras localizavam-se em So Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Recife, Gois e Porto Alegre. A publicidade tambm apresentou significativas mudanas, alis, como todo o contedo do vespertino. Em maro de 1939, havia anncios da Tecelagem de Seda e de Algodo de Pernambuco S.A, que, conforme revelou a consulta aos arquivos, era propriedade do sogro de Joaquim Inojosa, Joo Pessoa de Queiroz; da Companhia de Fiao e Tecelagem Industrial Mineira, a j citada empresa de Inojosa; Casas Pernambucanas; Antarctica; Klabin Irmos & Cia., alm da Westinghouse, a nica empresa estrangeira. Tal situao transformou-se em 1940, quando os anncios tornaram-se, predominantemente, germnicos. Alguns exemplos: Linhas Areas Condor; Banco Germnico da Amrica do Sul; Banco Alemo Transatlntico; Bayer; Siemens; Merck, entre outras. Deve-se levar em conta que a publicidade foi pea importante para a averiguao do grau de envolvimento do peridico com a Transocean. O artigo de Joaquim Inojosa, publicado como editorial, localizava-se na primeira ou segunda pgina da primeira edio. Nas seguintes, podia figurar na terceira ou quarta pginas, j que os exemplares tinham sempre sua diagramao alterada no decorrer do dia. De forma mais frequente, o texto de Joaquim Inojosa era publicado na segunda pgina, no canto superior esquerdo, e variava de tamanho. Sua periodicidade era irregular, passando a ser publicado diariamente apenas a partir de 1940. Os editoriais, por sua vez, surgiram em 1939 e ocuparam geralmente a segunda pgina, embora sem lugar definido. Sua periodicidade tambm era inconstante, e tornaram-se correntes no vespertino apenas depois do ataque alemo Blgica, Holanda e Luxemburgo em maio de 1940. Outro dado importante a ser considerado o fato de que a orientao ideolgica do Meio-Dia no foi sempre nazista. Em maro de 1939, o jornal contava com uma linha editorial com alinhamento prximo s democracias ocidentais. Curioso notar que, nesse perodo, no havia extensa colaborao da Transocean, nem tampouco possua o peridico publicidade apenas de empresas alems, embora estivessem desde o princpio presentes esses dois elementos. Os dois fatores mencionados, alterados a partir de 1940, so indcios importantes da mudana de rumos que se processou. Para exemplificar a mudana na linha editorial, eis dois artigos de Joaquim Inojosa. O primeiro foi publicado em 23 de maro de 1939, chamado Princpio Democrtico, no qual se louvava a poltica inglesa: Eden, o simptico ex-secretrio do Foreign Office, uma das inteligncias polticas mais expressivas da Inglaterra. A sua palavra dia a dia se reveste de mais autoridade, sobretudo no instante em que os acontecimentos confirmam certas previses, feitas quando ocupava uma pasta no Gabinete. O nimo frio do ingls receou, ento, que o ministro precipitasse o pas numa guerra. Ele apenas reagia, no momento, contra o previsto desfecho dos fatos que atualmente sacodem os nervos da Europa. Eden tinha razo, se considerarmos o movimento de reao que ora se esboa entre as democracias europias. Mas os adversrios apresentavam, naquela poca, motivos ponderosos, dentre os quais o de se no encontrar a Inglaterra devidamente armada. E foi por isso que Chamberlain resolveu pacificar a Europa, enfrentando a tempestade com um guarda-chuva sem aspas... Nada, porm, como a experincia dos fatos... Para Eden, quando no poder, apresentava-se pouco sedutora qualquer aliana da Inglaterra com os pases totalitrios. Hoje, a interpretarmos bem o seu ltimo discurso, modificou-se-lhe a linguagem. No lhe importam mais os regimes. Podem ser estes branco, preto, cor de rosa ou vermelho. O que interessa velha Albion saber se esse governo est disposto a ligar-se a outros, caso se torne necessrio defender a paz. A expresso reflete bem o sentimento da democracia inglesa. Cada povo tem o regime que merece, embora, muitas vezes, seja digno de regime diferente... Mas a Inglaterra quer saber apenas da conduta internacional dos diversos pases, desprezando-lhes as formas de governo. Pensassem todos assim, traassem os ditadores essa norma de boa vizinhana (porque os continentes, hoje, so todos vizinhos), e talvez maior confiana mtua e certa tranqilidade reinasse entre os povos... Esse , porm, um princpio democrtico, que s encontra eco nos espritos formados em regimes de liberdade. As palavras de Eden no tm oportunidade na Amrica, onde a conduta internacional clara, tradicional e coerente; onde cada povo vive bem com o seu regime, que por sinal todo ele cor de rosa, e no inveja nem estranha o regime do vizinho. Na Europa, entanto, deveriam servir de paradigma, como remdio mais pronto cura de certas enfermidades polticas, que ameaam destruir civilizaes milenares [...] (INOJOSA, 1939, p.02, grifo meu). J em 1941, quando o peridico recebia farto material da Transocean, Inojosa editou Missa de 7 dia... em 30 de abril, cujo tom era particularmente virulento em relao Inglaterra: Winston Churchill proferiu palavras de desalento. Verdadeira missa de stimo dia, o seu discurso. Frases de um vencido, que no sabe por onde recomear a vida. Falou em situao moral quando essa, justamente, a que mais lhe deve pesar no nimo. Porque, prometendo vitrias ao seu povo, no lhe d seno sucessivas derrotas, de tal ordem que passa a no merecer f o que promete. esse, hoje em dia, o aspecto real de sua posio na poltica britnica: de um chefe de governo que de tanto fracassar no tem mais autoridade para prometer. Quando o homem pblico desce a um grau to persistente de descrdito, ele est com a sua carreira irremediavelmente encerrada. O povo ingls acha-se cansado de derrotas. Os polticos lhe ocultaram a verdadeira situao, que ele, somente agora, comea a compreender. Por isso mesmo, Churchill teve de proferir uma de suas arengas, no para justificar a estratgica retirada da Grcia, mas para anunciar que na frica e no Atlntico que ajustar contas com os inimigos da judiaria inglesa... Entanto, devemos convir em que para a Inglaterra no est esgotada a lista de vtimas. As seculares e afiadas garras do Leo Britnico ameaam erguer-se contra Espanha e Portugal, ou, do outro lado, contra a Turquia. O desembarque de tropas no Iraque entremostram que os ingleses querem mesmo combater, recuando, at os confins do seu Imprio... At l, porm, iro os exrcitos do eixo em perseguio tenaz aos seculares inimigos da humanidade. (INOJOSA, 1941, p.02, grifo meu). Tais excertos ajudam a exemplificar a mudana da linha editorial - a qual passou de uma posio pr-Aliados para a defesa incondicional do Reich alemo - e demonstram at que ponto o discurso do jornal foi permeado pela doutrinao de guerra nazista. Por conseguinte, foram essenciais para determinar a participao de empresas e da Embaixada Alem nas pginas da publicao. Concluses Os editoriais, como j se ressaltou, surgiram no final de 1939 e desde o princpio foram quase sempre publicados na segunda pgina, aparecendo, eventualmente, na primeira. Os textos eram sempre divulgados sem nenhum tipo de assinatura, e possuam ttulos diferentes a cada edio, de acordo com o desenrolar da guerra. No raro eram discutidas realizaes do Estado Novo, bem como era exaltada a figura do presidente Getlio Vargas. O que diferenciava o editorial do resto do contedo era o fato do mesmo ser publicado em um Box, que podia aparecer em qualquer parte da segunda pgina, porm, sempre em destaque. Em perodos nos quais os acontecimentos da guerra tomavam grandes propores, podiam ser publicados mais dois ou at trs editoriais que mantinham, no entanto, a mesma diagramao. Convm lembrar que o editorial deve ter sempre em vista a orientao da casa, para evitar freqentes mudanas de opinio (RAMOS, 1970, p. 97). O material analisado revelou que os editoriais coadunavam-se perfeitamente com a linha ideolgica dos artigos de Joaquim Inojosa nos anos de 1940 e 41, quando o escritor pernambucano passou a apoiar as foras do Eixo no Meio-Dia. Para exemplificar, eis alguns trechos do editorial Palavras de um vencedor, publicado em 05 de maio de 1941. Nele est escrito: O chefe da nao alem, Adolf Hitler, falou ontem perante o Reichstag, dando uma extensa explicao dos ltimos acontecimentos blicos que terminaram com a derrota da Iugoslvia e da Grcia, as duas ltimas vtimas de Londres. No s os homens que compem o Reichstag alemo ouviram com a mxima ateno as palavras do Fhrer e sim o mundo inteiro. Ali estava falando um homem que com mo frrea e vontade inquebrantvel devolveu ao seu pas, humilhado em 1918, o lugar de esplendor que lhe compete no concerto das naes. [...] Fechem seus olhos e tapem seus ouvidos aqueles que se negam, na sua falta de lgica, a acreditar nas palavras sensatas dum homem que se baseia em fatos e unicamente em fatos e que no obstante os inominveis ataques dirios de seus inimigos possui a grandeza de esprito de afirmar queles povos que foram instigados na luta contra a Alemanha que os alemes no lhes guardam dio ou rancor. Falou ontem um vencedor de batalhas travadas quer pelas armas quer por fecundo trabalho para reerguimento duma nao. Adolf Hitler mostrou-se mais uma vez um gnio criador, no um fantico, nem um poltico ambicioso, e sim um homem que o destino escolheu para salvar a humanidade para sempre do jugo daqueles polticos para os quais os povos apenas significam simples fatores de lucros que se condenam misria e mesmo ao extermnio, desde que os interesses dos capitalistas internacionais assim o determinem. (MEIO DIA, 1941, p.02, grifo meu). Em 1940 e 1941, o jornal continuou apoiando as foras do fascismo se utilizando de um artifcio prprio da propaganda nazista: a ideia de que seu inimigo no momento, a Inglaterra, era uma nao governada por uma plutocracia, sistema de governo no qual o poder exercido pelos mais ricos. Alm disso, foram veiculadas, a partir de 1941, pesadas crticas a respeito da Unio Sovitica (URSS), nas quais se ressaltava a desumanidade do regime comunista, algo que igualmente foi alvo de crticas por parte da propaganda alem. Como foi possvel observar, o jornal tornou-se, a partir de 1940, um baluarte do nacional-socialismo alemo e de seus ideais, devido constante participao de agncias de notcias da Alemanha, como a Transocean, que fornecia imagens, textos e fotos e at dinheiro para a manuteno do vespertino. Pode-se precisar o momento em que dinheiro alemo passou a financiar o Meio-Dia, uma vez que suas pginas foram inundadas com propaganda, editoriais e textos do proprietrio que glorificavam a Alemanha, suas conquistas na guerra e seu regime. As semelhanas entre o material publicado em revistas alems e o presente no vespertino carioca reforaram o argumento segundo o qual o Meio-Dia foi transformado em rgo difusor da propaganda nazista no Brasil, isso num momento em que o partido j fora proibido de atuar em terras brasileiras. No final de 1941, com o ataque japons a Pearl Harbor, e principalmente em 1942, com o rompimento de relaes do Brasil com a Alemanha (janeiro) e a posterior declarao de guerra ao Eixo (agosto), foi impossvel para o jornal manter sua linha editorial. Some-se a isso o fato da Transocean e da prpria embaixada alem terem sido fechadas logo no comeo do referido ano. Os editoriais e textos de Joaquim Inojosa podem ser classificados em trs fases distintas: a primeira, em 1939, na qual se defendeu o pacifismo e os pases democrticos; outra entre 1940 e 1941, marcada pela estridente adeso do jornal ao nazismo e um ataque feroz Inglaterra, que ento enfrentava sozinha a mquina de guerra alem e, por fim, uma terceira em 1942, quando minguaram os editoriais e os textos de Inojosa relativos guerra. Dessa forma, patente que a orientao poltica do jornal flutuou em funo do momento e que a opo pelos Aliados s se deu quando o peridico j definhava e no mais podia contar com o apoio dos alemes. Bibliografia: ABREU, Alzira Alves de et. al. (Coord.). Dicionrio Histrico-Biogrfico Brasileiro Ps-1930. Rio de Janeiro: CPDOC/FGV, 2001. BARBOSA, Marialva. Histria Cultural da Imprensa: Brasil, 1900-2000. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. CAPELATO, Maria Helena Rolim. Imprensa e Histria do Brasil. So Paulo: Contexto/EDUSP, 1988. CHARTIER, Roger. 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Char Char2LjL Assunto do comentrio"5\414  Char Char15\LBL Texto de balo$CJOJQJ^JaJ@Q@  Char CharCJOJQJ^JaJPK![Content_Types].xmlj0Eжr(΢Iw},-j4 wP-t#bΙ{UTU^hd}㨫)*1P' ^W0)T9<l#$yi};~@(Hu* Dנz/0ǰ $ X3aZ,D0j~3߶b~i>3\`?/[G\!-Rk.sԻ..a濭?PK!֧6 _rels/.relsj0 }Q%v/C/}(h"O = C?hv=Ʌ%[xp{۵_Pѣ<1H0ORBdJE4b$q_6LR7`0̞O,En7Lib/SeеPK!kytheme/theme/themeManager.xml M @}w7c(EbˮCAǠҟ7՛K Y, e.|,H,lxɴIsQ}#Ր ֵ+!,^$j=GW)E+& 8PK!.atheme/theme/theme1.xmlYMoE#F{om'vGuرhF[xw;jf7q7J\ʉ("/z'4IA!>Ǽ3|^>5.=D4 ;ޭªIOHǛ]YxME$&;^TVIS 1V(Z Ym^_Ř&Jp lG@nN&'zξ@F^j$K_PA!&gǬへ=!n>^mr eDLC[OF{KFDžƠپY7q~o >ku)lVݜg d.[/_^йv[LԀ~Xrd|8xR{ (b4[@2l z "&'?>xpxGȡIXzg=2>ϫPCsu=o<.G4& h`9Q"LI(q }93̲8ztzH0SE+$_b9rQkZVͣiV 2n*=8OSyZ:"⨹ppH~_/PŴ%#:viNEcˬfۨY՛dEBU`V0ǍWTḊǬXEUJg/RAC8D*-Um6]Ptuyz*&Q܃h*6w+D?CprloSnpJoBӁc3 chϿ~TYok#ހ=pGn=wOikZoiBs͜zLPƆjui&e E0EMl8;|͚ 64HpU0)L O3 e:(xfä)Hy`r~B(ؘ-'4g\вfpZa˗2`khN-aT3ΑV \4  o`v/] f$~p p@ic0As\ @THNZIZ[}i RY\qy$JyϣH9\,AZjyiǛ)D]n|%lڟX̦l熹EЀ > 6ljWY DK/eby_膖L&W`VcJT14fS!:UJ0A?y6Xg1K#[]y%[BTRlwvSLɟ)4.Xt|zx\CJ#Lw@,e_}֜aN}jHP؏T$فdfl,YdTI]Zd+zoPnI hYC=!kk|l1Qn6MBŊ]|-_Ǭf^ Mθڎ`R+Wh1,Q >H *:[䠙A@V_ .ap64+lt^7st G5;Mb8s9x<ڮjI~11qM2%M2K94uo%PK! ѐ'theme/theme/_rels/themeManager.xml.relsM 0wooӺ&݈Э5 6?$Q ,.aic21h:qm@RN;d`o7gK(M&$R(.1r'JЊT8V"AȻHu}|$b{P8g/]QAsم(#L[PK-![Content_Types].xmlPK-!֧6 +_rels/.relsPK-!kytheme/theme/themeManager.xmlPK-!.atheme/theme/theme1.xmlPK-! ѐ' theme/theme/_rels/themeManager.xml.relsPK] 9d 5558H -LQ[bfxjl9l79;<>?@BCDFFYb1k9l8:=AE /18!!8@0(  B S  ?f&fD_pfZpfYpfVpf"Y fl"Y fl Y 30+CHH:d9<+LHH:d>*urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags PersonNameC*urn:schemas-microsoft-com:office:smarttagsmetricconverter GHQ EL*1 n t ")%%&&b)i):-F-@.E...23444566a8e8D>N>II`JgJKKQLZLLLSSVVVVsW}WWWmYtYZZ=[B[:]>]]]______6`?``aaafaoaabgbibpbbb$c)cccccddddd d d dd7d:d #Y\t ##~&&''M9Z999CCDDPPK]M]B^D^__aa(b9b:b`bbbddddd d d dd7d:d333| = >ZZhZ-[j[[[F\[\__w``aaabbcdddddd d d dd7d:dDE&EPE]E.FIFaFjFjFzF{FIIIIZZgZhZhZiZiZYaaddddddd d d dd7d:dBsi7 PJ6T6r@\ ^80^8`0o() ^`hH. pL^p`LhH. @ ^@ `hH. ^`hH. 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