ࡱ> `b_b `jbjb{x{x .zIWFFF P ,$$,R !hwwwww2F\pwww 3ww$0$w!w!ww Da teoria da embalagem transparncia total de Julian Assange Resumo: este texto analisa a hiptese radical da supremacia da embalagem em relao ao embalado. Relaciona essa possibilidade hiper-real com o papel de Julian Assange e do seu site wikileaks na possvel superao de um tipo de jornalismo baseado no controle da emisso logo dos contedos difundidos e, paradoxalmente, cada vez mais submetido lgica da aparncia (embalagem) e da imagem. Palavras-chave: mdia, imaginrio, hiper-realidade, Julian Assange, wikileaks, jornalismo Juremir Machado da Silva 1. As trs fases da embalagem sabido que cada poca tem a embalagem que merece. Karl Marx fez a crtica da economia poltica. Jean Baudrillard foi alm e realizou a crtica da economia poltica do signo, que parece to mais estupenda na medida em que poucos a entendem. preciso contribuir para o conhecimento com uma crtica da economia poltica da embalagem como signo. A histria mundial da embalagem poderia ser dividida em trs etapas, assim como existem trs fases da moral segundo Gilles Lipovetsky (2004): fase teolgica, fase racional e fase ps-moralista. As trs etapas da embalagem so complementares. Na primeira fase, discreta, a embalagem sempre envolve um objeto. Apesar de ser exterior, como toda embalagem que se respeite e cumpra a sua funo, ela no aparece. bvio? Nem sempre assim. Mesmo o discurso acadmico pode suportar algumas imagens menos formais. Talvez seja, de resto, a nica forma de renovar um procedimento argumentativo que tende a se repetir como citao da citao e legitimao por autores consagrados. Cada campo tem as suas regras. Mas preciso ampliar o campo da luta, transgredindo ou alterando, sempre que possvel, o conjunto de regras, sob pena de o jogo no poder mais ser jogado. Bourdieu nunca teve iluses: A anlise da luta das classificaes traz luz a ambio poltica que atormenta a ambio gnoseolgica de produzir a boa classificao, ambio que define de modo prprio o rex, aquele a quem pertence, segundo Benveniste, regere fines e regere sacra, traar, por meio do dizer, as fronteiras entre os grupos e tambm entre o sagrado e o profano, o bem e o mal, o vulgar e o distinguido (1991, p. 151-2). bem disso que se trata, especialmente na vida acadmica com seu mercado dos conceitos. Classificar no preciso, mas definitivo. Na literatura, Houellebecq ampliou do domnio da luta classificatria tomando o sexo como sistema de hierarquia e organizao social (2002). A grande luta classificatria, a luta capital ou por capital, ou em defesa do derradeiro capital, como se ver mais adiante, ser travada entre jornalismo e no jornalismo, jornalistas e no jornalistas, em tempos de internet. Questo de embalagem, de contedo, de meio, de linguagem ou de suporte? No custa arriscar, por agora, certa dose de irreverncia ou, modestamente, de inusitado. A cueca e a calcinha podem ser vistas como embalagens. So internas cala ou ao vestido, mas externas ao que embalam. Originalmente era assim. Nos ltimos tempos, no entanto, por causa da moda, deixaram de ser discretas e vivem mostra, desrespeitando a funo e gerando signos. Na segunda etapa da longa histria da embalagem, cuja trajetria no poder ser apresentada aqui e talvez ainda necessite de um historiador abnegado, etapa que poder ser conhecida como fase obscena ou do design, o invlucro d-se cada vez mais a ver, atraindo o olhar como artifcio para revalorizar o objeto embalado. Essa fase pode ser tambm conhecida, em linguagem popular, que serve normalmente de pista para as boas intuies intelectuais e cientficas, como fase da obsolescncia programada conceitual ou sacanagem. Quanto menos se v o produto e mais se v a embalagem, mais cresce o interesse pelo objeto invisvel. Baudrillard teria certamente classificado isso como estratgia fatal: Essa obscenidade, esse parti pris exibicionista do terrorismo, contrariamente opo inversa do segredo no sacrifcio e no ritual, explica sua afinidade com os meios de comunicao estgio obsceno da informao (1996. P. 39). Ter Baudrillard sido ultrapassado por Julian Assange? Tero os meios convencionais aderido tardiamente ao segredo? O terrorismo seria qualquer ao de divulgao, de retirada da embalagem? a seduo que morre por excesso? A seduo, segundo Jean Baudrillard, era enfraquecer: Seduzir desfalecer. atravs da nossa fragilidade que seduzimos, jamais por poderes ou signos fortes (1991, p. 94). O fim da seduo chegaria com a supresso da embalagem. Salvo se, por inverso, s restasse o invlucro. Na terceira fase da embalagem, que se poderia chamar de hiper-real ou atual, a embalagem toma o lugar do objeto. a autonomia da imagem ou supremacia da aparncia. Tome-se o exemplo de um programa de televiso. Na primeira fase da embalagem, ele adota um cenrio e uma forma para exibir um contedo. H muito a dizer e pouco a mostrar. Logo o pblico fica saturado de informao e formao. Nada mais convencional. Corresponde primeira fase da publicidade. O anncio descreve o produto, fala das suas caractersticas intrnsecas, afasta-se da aparncia, busca revelar a essncia, aposta na substncia contra a imagem, que sempre, obviamente, exterior e, portanto, incompleta. Na segunda fase da embalagem, o programa renova e amplia a embalagem, diminuindo o contedo, para realar a aparncia capaz de revelar a ponta do iceberg da profundidade. Fica mais divertido. Na terceira fase, o programa fica apenas com o cenrio. A embalagem envolve o vazio. Fim do contedo. Adeus chatice da mensagem. A calcinha de fora no embala mais nada. Quando tudo pode ser visto, nada mais h para desejar. A burka, que tanto choca o Ocidente, est na pr-histria da embalagem: cobre totalmente um contedo que pode se revelar assustador. No h a um paradoxo: a burka uma embalagem que envolve um contedo desejado. A soluo obscena para a questo da burka, soluo tpica da liberao dos anos 1960, deixaria a mulher nua. A sada hiper-real, da embalagem como signo supremo, elimina a mulher e conserva apenas a burka. O desejo cresce na falta. A embalagem decisiva no imaginrio contemporneo. Ela se torna, enfim, autnoma. O efeito de cenrio impe-se como fundo. chegada definitivamente a era da embalagem sem embalado. Assim como um anncio publicitrio no precisa mais falar de um produto, ficando livre para evocar as mais diversas situaes, especialmente aquelas que em nada remetem ao produto, liberando-se de qualquer cobrana ou de qualquer compromisso, tambm a embalagem tornou-se, enfim, independente do contedo. o ps-humano, o ps-orgnico, o apogeu das cirurgias plsticas, a fase da barriguinha de fora, o triunfo do silicone. Alguns resqucios do passado permanecem. Existe uma nostalgia crescente relativa aos bons tempos das embalagens discretas. Ao mesmo tempo, surgem as barrigonas de fora como distopias da embalagem. 2. O controle da emisso Pressionado pela era da publicidade, o jornalismo obrigou-se a saltar do contedo para a forma. Os jornais impressos buscam parecer-se cada vez mais com a televiso. Vitria da imagem. Triunfo da frmula publicitria por excelncia: dizer mais com menos. Imposio do senso comum ilustrado: uma imagem vale mais do que mil palavras. Em princpio, o jornalismo pautava-se pelo dever de informar, a primazia do contedo, o primado da verdade. Aos poucos, no entanto, foi engolido pela lgica do entretenimento. Nada de novo no front. O jornalismo um produto venda. Informar apenas uma das atribuies do jornalismo. Distrair passou a ser certamente uma estratgia de sobrevivncia. A distrao no suporta muito contedo. O jornalismo converteu-se em mdia. Esta no passa de uma modalidade da sociedade do espetculo teorizada por Guy Debord. O jornal era um suporte que, antes de embalar peixe, conforme a expresso coloquial dominante, servia para embalar um contedo. A funo mxima do jornalismo investigativo, porm, era, para usar uma expresso francesa popular, de tout dbaler: revelar, descobrir, desocultar, dar a ver, tirar o vu ou, simplesmente, cobrir, de acordo com o jargo, cobertura, para descobrir. O jornalismo existia para tirar a embalagem. Os brasileiros usam muitas palavras coloquiais para tratar de situaes obscuras. Diz-se de algo pouco claro que est enrolado. O trabalho do jornalista era desenrolar. Ou seja, tirar a embalagem. O poder do jornalismo moderno encontrava-se nessa capacidade de tirar a embalagem, de mostrar e contedo e, principalmente, no controle da emisso. A lei do mercado jornalstico obedecia a uma espcie de padro ouro: meios raros, informaes abundantes. Os donos dos meios de comunicao tinham o poder supremo de classificar e revelar. Tinham um poder ainda maior: o de esconder. No bastava algum ter uma informao. Era preciso encontrar um meio para divulg-la. O sistema tradicional, um emissor, muitos receptores, representava o poder concentrado que podia filtrar os contedos. Chegou-se ao apogeu da filtragem radical com a supremacia de embalagem sobre a substncia, do invlucro sobre o embalado. Estratgia fatal e radical: dizer cada vez mais sem dizer nada. Dizer mais com menos ainda era uma vontade moderna de dizer algo, um resqucio da crena iluminista na verdade e no esclarecimento. Dizer menos com mais foi o grande salto. O surgimento da internet foi um golpe letal para o controle da informao pelos meios que deveriam divulg-la. De repente, cada um pode ser emissor. Todo mundo pode ter o seu meio de comunicao. Com o twitter e o facebook, para ficar em apenas duas ferramentas em moda, cada ser humano converte-se em dono de jornal. No o jornalismo que desaparece. o jornalista que j no est sozinho. Pode sofrer a concorrncia de qualquer um. A internet, com suas redes sociais, impe-se como contrapoder, um novo poder. O jornalista continua sendo necessrio. Mas qualquer um pode habilitar-se. Quem diz agora quem pertence ao campo? Quem pode barrar a entrada de algum no campo? No h mais pagamento de ingresso para entrar no campo jornalstico? No Brasil, durante muito tempo, o ingresso nesse campo foi assegurado por dois mecanismos de controle: o diploma universitrio e a propriedade dos meios por empresrios. Como fica o campo com a queda da exigncia do diploma universitrio, que era quase uma exclusividade brasileira? Como fica a entrada no campo quando qualquer um pode ser dono do seu prprio meio de comunicao? No s o jornalismo em papel que est ameaado, tambm o papel exclusivo do jornalista legitimado por credencial, por emprego ou certificado que falece. De uma hora para outra, percebe-se que havia mais embalagem do que algo embalado. Por toda parte, levantam-se vozes pedindo o controle da internet. Dominique Wolton (2009) defende abertamente esse controle. As perguntas so inevitveis: controle de qu? Do contedo? Do que pode ou no sair? Estaria em ascenso uma nostalgia dos bons velhos tempos do controle pela raridade dos meios de emisso? Com a internet, sem dvida alguma, uma modalidade de fazer jornal chega ao fim. Houve um tempo em que existiam muitos jornais, de pequena tiragem e poucas pginas. Depois, veio o tempo da concentrao dos meios, especialmente em funo dos altos custos de meios tecnolgicos como a televiso. Tudo isso est ficando para trs. Qualquer um pode gravar uma reportagem com boa qualidade de imagem e coloc-la na rede. A produo da informao, porm, continua tendo um custo. A iluso da gratuidade total a quimera dos internautas. Como dizem os liberais, no existe almoo grtis. Em contrapartida, imprimir jornais e transport-los at os leitores um procedimento oneroso e ultrapassado. Custa caro e sempre chega atrasado em relao ao on-line. No de duvidar que muitos lamentem a inveno da internet. Um mundo chega ao seu fim. O mundo do controle da emisso. Um mundo do controle da informao pelo emissor. Um mundo que se tornara, com a televiso, mais embalagem do que embalado, mais forma do que contedo, mais imagem, mais aparncia, do que revelao. Neste ano em que se comemora o centenrio de nascimento de Marshall McLuhan talvez seja adequado parafrase-lo: a embalagem era a mensagem. A embalagem ainda para muitos a mensagem. O reino da embalagem como mensagem, no entanto, parece condenado. Julian Assange fez dobrar os sinos do controle da informao pelo emissor concentrado e todo-poderoso. O wikileaks um divisor de guas. Assange provou que se pode ser dono de jornal sem mdia convencional. Colocou a reboque a grande mdia mundial. Retomou o princpio clssico do tout dbaler. 3. O papel de Julian Assange O australiano Julian Assange, nascido em 1971, tornou-se o inimigo nmero dois dos Estados Unidos, superado apenas por Osama Bin Laden. Um Osama Bin Laden do ciberespao. O seu site wikileaks fez mais estragos do que vrios atentados terroristas convencionais. Depois de ter estudado matemtica e fsica, Assange resolveu investir em atividades talvez mais rentveis e certamente mais emocionantes. Ingressou no campo minado dos hackers e dos divuladores de informaes sigilosas. Em pouco tempo, alcanou o topo da sua atividade. Quando botou a mo em milhares de documentos dos servios secretos americanos, deixou para trs o anonimato. Jogou tudo na rede. O que mostravam esses papis sigilosos da diplomacia americana? Mostravam, antes de tudo, que os diplomatas so, em geral, pessoas fteis e grosseiras como todo mundo. Falam besteiras, contam vantagens, julgam os outros muito rapidamente, esbanjam preconceitos e fazem relatrios repletos do que se chama no cotidiano de baixarias. Um diplomata um espio engravatado. A principal revelao de Assange foi devastadora: a diplomacia americana hipcrita. Ningum duvidava disso. A prova sempre provoca um choque. Ficou-se sabendo que os americanos desconfiam, por exemplo, da comunidade libanesa brasileira, vista como um ninho de terroristas em potencial. J o ministro da Defesa do governo Lula, o gacho Nlson Jobim, aparecia no papel de fofoqueiro e amigo dos americanos, dando com a lngua nos dentes sobre um tema altamente sensvel, um cncer do presidente boliviano Evo Morales. Compreende-se que tudo o que se fala na frente de um diplomata americano vai direto para relatrios enviados aos servios de inteligncia dos Estados Unidos. Aprende-se que os diplomatas dos Estados Unidos andam pelo mundo fazendo perguntas indelicadas: a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, toma medicamentos psiquitricos? Assange publicou documentos sobre os crimes de guerra dos americanos no Afeganisto e no Iraque. O horror! Mais uma prova de que todo guerra suja. Os americanos mentiram para invadir o Iraque e continuaram a mentir sobre como libertaram o pas. Eis o milagre da internet. O trabalho de Assange pode ser considerado obsceno. O material que ele divulgou pode tranquilamente ser rotulado de pornogrfico. Um dos maiores segredos revelados por Assange dizia respeito ao ditador da Lbia, Muamar Kadafi. O todo-poderoso adora viajar escoltado por uma enfermeira ucraniana fisicamente desconcertante. O site de Assange revelou que o mundo, segundo o olhar dos Estados Unidos, governado por um punhado de homens pouco confiveis, cada um com uma mania bizarra. Assange passou a ser caado. Mexeu com um tabu: os segredos de Estado. Graas a ele se ficou sabendo que a diplomacia no passa de uma de espcie de fofoca com ritual e protocolo. No popular, muita pompa e pouca compostura. Ultrajados, os Estados Unidos encontraram a acusao perfeita contra Assange: estupro. Teria sido uma maquinao contra ele? 4. Transparncia obscena Deixar o sistema nu um ato obsceno. As acusaes de crime sexual feitas contra Assange na Sucia soaram como pretextos para puni-lo por ter feito aquilo que era, at ento, prerrogativa de jornalistas: divulgar documentos sigilosos vazados por algum informante. Assange, em certo sentido, exerceu o papel de dono de jornal: divulgou o que lhe foi passado pelo soldado Bradley Manning. O prprio Manning, obviamente, poderia ter criado um site. Preso, ele no teria como aliment-lo. Ficaria exposto acusao de ter-se apossado de documentos sigilosos. Curiosamente no faltaram jornalistas para criticar e condenar Julian Assange. Qual o seu crime? Qual a sua revoluo? Assange no cometeu crime. Exerceu o direito garantido na Constituio dos Estados Unidos liberdade de expresso. Atuou como jornalista. Qual a sua diferena em relao aos jornalistas que trabalham para a grande mdia internacional? tica? Responsabilidade? Falta de comprometimento com os interesses nacional? Nenhuma. Assange agiu como qualquer meio de comunicao poderia ter agido. De resto, sete veculos de comunicao mundiais, entre os quais o brasileiro Folha de S. Paulo, aceitaram divulgar informaes sigilosas vazadas por ele. A revoluo de Assange o que importa. Pela primeira vez, em escala universal, um cavaleiro solitrio divulgou documentos secretos numa escala jamais vista antes. Assange tomou o lugar tradicional dos jornalistas. Wikileaks tomou o lugar tradicional dos jornais. A embalagem foi rompida. O contedo reapareceu. Em lugar de negociar, por exemplo, patrocnios, como talvez fizessem meios convencionais, sempre dispostos a no dizer tudo em nome de interesses maiores, Assange optou pela divulgao. Seria uma estratgia para tornar-se famoso? Seria o preo do seu ingresso no campo? Seria o seu passaporte para a glria? Pouco importa. Assange mostrou que o jornalismo j no est mais exclusivamente nas mos dos jornalistas e dos proprietrios de jornal. As conseqncias disso ainda repercutiro. Por toda parte, o controle da emisso funcionava como um selo de qualidade. Ainda assim. At quando? No mundo acadmico, ter acesso a uma publicao de qualidade era distino. A raridade dos meios servia de critrio de classificao. Havia os que conseguiam publicar e os que no chegavam l. Acabou. Todos podem publicar. O que valer mais a partir de agora? O selo de qualidade garantido pelo controle da emisso, mesmo quando todo pode ser emissor? Ou o julgamento dos contedos por todos? A questo de legitimidade. E de credibilidade. Quem legitima o qu? Quando o contedo devastador, a legitimao pelo emissor se torna uma mera embalagem dispensada. No universo acadmico, a legitimao pelo emissor, pela dificuldade de acesso publicao, escondia certa incapacidade de julgar objetivamente contedos e de admitir que as avaliaes esto impregnadas de subjetividade e de lutas pelos poderes. A legitimao pela autoridade dos pares, assim como a legitimao pelo poder do emissor de decidir o publicvel e no publicvel, acabou. Quando todo mundo pode ser emissor, tudo pode ser publicado. Cada julgamento de autoridade pode ser posto em dvida. Quando todo mundo pode ser Assange, a embalagem transforma-se numa burka sem fantasia. Quando tudo se torna obsceno, no h mais obscenidade. Ser a volta do contedo? H novos clubes no planeta. O clube dos donos do poder migrou para a internet. Mark Zuckerberg e Julian Assange foram os homens de 2010. A lei de Assange simples: quem tem um bom contedo (informao), no precisa mais da legitimao, da embalagem ou da autorizao da mdia convencional para emplacar. A internet passou algo tempo reproduzindo contedos jornalsticos da mdia tradicional. Assange virou o jogo definitivamente. Lei de Zuckerberg a mais velha do mundo: quem um bilho de amigo (mesmo virtuais) pode se fazer alguns inimigos presenciais. Uma lei maior, porm, envolve Assange e Zuckerberg, a lei da embalagem ou de Casablanca, a lei de As time goes by: sempre a mesma histria, a luta pelo amor e pela glria. Ou, no caso do fundador do Facebook, a mais antiga lei balzaquiana: Cherchez la femme. Nada de novo sob o sol. Os dados esto lanados para o jornal em papel. Os dias esto contados para o reinado absoluto e aparentemente insupervel do livro impresso. O Napster mudou o destino da indstria fonogrfica. Assange alterou o rumo dos jornais. Ningum resiste a avassaladora imposio de uma lei universal: fazer mais, melhor e mais rpido por menos. Alguns espectros, porm, continuaro a vagar por um tempo. O tempo de uma gerao desaparecer e outra envelhecer. Uma gerao sem papel. A realidade acabou. 5. Referncias Baudrillard, Jean. Tela total - mito-ironias da era do virtual e da imagem. Porto Alegre: Sulina, 1999. BAUDRILLARD, Jean. Por uma crtica da economia poltica do signo. Lisboa: Edies 70, 1995. BAUDRILLARD, Jean. As estratgias fatais. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. BAUDRILLARD, Jean. Da seduo. Campinas, Papirus, 1991. BORGES, Jorge Luis. Obras completas. Buenos Aires: Emec, 1974. Bourdieu, Pierre. Sobre a televiso. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. BOURDIEU, Pierre. O poder simblico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. Debord, Guy. A Sociedade do espetculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. Derrida, Jacques. Margens da filosofia. Campinas: Papirus, 1991. Durand, Gilbert. Les Structures anthropologiques de limaginaire. Paris: Dunod, 1992. Feyerabend, Paul. Contra o mtodo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. HOUELLEBECQ, Michel. Extenso do domnio da luta. Porto Alegre: Sulina, 2002. Lyotard, Jean-Franois. O Ps-moderno. 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Juremir Machado da Silva, doutor em Sociologia pela Sorbonne, Paris V, escritor, historiador, jornalista e tradutor, pesquisador 1B do CNPq, coordenador do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da PUCRS e autor, entre outros livros, de A misria do jornalismo brasileiro (Petrpolis, Vozes, 2000), As Tecnologias do imaginrio (Porto Alegre, Sulina, 2003), O que pesquisador quer dizer (Porto Alegre, Sulina, 2010), Histria regional da infmia, o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras, ou como se produzem os imaginrios (Porto Alegre, L&PM, 2010) e dos romances Getlio (Rio de Janeiro, Record, 2004) Solo (Record, 2008) e 1930: guas da revoluo (Record, 2010). I#$=>]^ -LVJ!c!d!7777CCI,V-V=VﺭёttllaWh~h455^Jh|h45OJQJh45OJQJh3h455CJOJQJaJh456CJOJQJaJh45CJOJQJaJh oh455CJOJQJaJh455CJOJQJaJ,jhHh450J5CJOJQJUaJh oh45CJOJQJaJhHh45CJOJQJaJhHh455CJOJQJaJ@A$%?@^k zuJ!c!:$+'*r.1$d`a$gd45 $da$gd45 $da$gd45 $da$gd45I]`1i46 7/777;V?CClFIMP  kr@A$%?@^k z uJc:+!$r(+i.0 1/1115V9==l@CGJ >>>:?A?B?I?U?\?:@A@m@t@AABB2C9CeCnCcDjD EE[JbJJJ8KTBTKTQTRT[T^TdTeTgTlTxTTTTTTTTTTTTTTT{UUUU@]^jk y z jdtuIJbd9;*!,!$$q(s(++h.j.00 1 1.101111155U9W9====k@m@CCGGJJ8KrK;N=NlNmNNNNN"O#OOOOOOPPP*P-P;P=PPPQQGQHQQQQQRRSRTRRRRR5S6SSSSSTT;TeTgTTTT+U,UUUUU4V5VVVVVGWIWKWZZ:::VIWZZ@GKGK@jGKGKlZ@ @UnknownGTimes New Roman5Symbol3 Arial7Courier? 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