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LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS - II

(1º semestre / 2012)

ALUNO: R.A.

CURSO: UNIDADE:

TURMA: SEMESTRE/ANO:

PROFESSOR:

APRESENTAÇÃO VISUAL DA REDAÇÃO

• O aluno deve preencher corretamente todos os itens do cabeçalho com letra legível.

• Centralizar o título na primeira linha, sem aspas e sem grifo.

• Pular uma linha entre o título e o texto para então iniciar a redação.

• Fazer parágrafos distando mais ou menos três centímetros da margem e mantê-los alinhados.

• Não ultrapassar as margens (direita e esquerda) e também não deixar de atingi-las.

• Evitar rasuras e borrões. O erro deverá ser anulado com um traço apenas.

• Apresentar letra legível, cursiva ou de forma.

• Distinguir bem as maiúsculas das minúsculas, especialmente no uso de letra de forma.

• Não exceda o número de linhas pautadas ou pedidas como limites máximos e mínimos.

• Escrever apenas com caneta preta ou azul. O rascunho ou esboço das idéias podem ser feitos a lápis e rasurados. O texto não será corrigido em caso de utilização de lápis ou caneta vermelha, verde, etc. na redação definitiva.

Lembretes

• Antes de começar a escrever, faça um esquema de seu texto, dividindo em parágrafos as idéias que pretende expor. Isso evita repetição ou esquecimento de alguma idéia.

• Cheque se os pontos de vista que você vai defender não são contraditórios em relação à tese.

• Não tenha preguiça de refazer seu texto várias vezes. É a melhor maneira de se chegar a um bom resultado.

• Enquanto escreve, tenha sempre à mão um dicionário para checar a grafia das palavras e descobrir sinônimos para evitar repetições desnecessárias.

• Escreva o que você pensa sobre o tema dado e não o que você acredita que o corretor do texto gostaria que fosse escrito. Jamais analise os temas propostos movido por emoções exageradas. Nunca se dirija ao leitor.

• Não escreva sobre o que você não conhece, arriscando-se a incorrer em erros e imprecisões de conteúdo.

• Não use a 1a pessoa do singular ou plural; use a 3a pessoa do singular ou plural. Abandone de vez expressões como “Na minha opinião”, “Eu acho que”, “Bom, eu...”.

• Não empregue palavras cujo significado seja desconhecido para você. Evite utilizar noções vagas, como “liberdade”, “democracia”, “injustiça”, “conscientização” ─ termos que têm um significado tão amplo que chegam a não significar nada.

• Evite expressões do tipo “belo”, “bom”, “mau”, “incrível”, “péssimo”, “triste”, “pobre”, “rico” ─ são juízos de valor sem carga informativa, imprecisos e subjetivos.

• Evite o lugar-comum: frases feitas e expressões cristalizadas, como “a pureza das crianças” e “a sabedoria dos velhos”. Há crianças e velhos de todos os tipos.

• Evite também gírias e a palavra “coisa” (procure o vocabulário adequado a cada idéia). Não use o “etc.”, nem abrevie palavras.

• Procure não embromar, tentando preencher mais algumas linhas. Cada palavra deve ser fundamental e informativa na redação.

• Não repita idéias tentando explicá-las melhor. Se você escrever com clareza, uma vez só basta.

• Cuidado com o uso inadequado de conjunções. Elas podem estabelecer relações que não existem entre as frases e tornar o texto sem nexo.

• Se formular uma pergunta na tese, responda-a ao longo do texto. Evite interrogações na argumentação e jamais as utilize na conclusão. Para aprofundar seus argumentos, suas afirmações, use exemplos, fatos notórios ou históricos, conhecimentos geográficos, cifras aproximadas e informações adquiridas através de leitura, estudo e aquisições culturais.

• Respeite os limites indicados: evite escrever demais, pois você corre o risco de entediar o leitor e cometer erros.

• Evite orações demasiadamente longas e parágrafos de uma só frase.

• Dê um título coerente ao assunto abordado em seu texto.

• Releia o texto depois de rascunhá-lo, para observar se você não “fugiu” ao tema proposto.

• Passe o texto a limpo, procurando aprimorar o vocabulário.

UNIDADE 1

TIPOLOGIA TEXUAL - DESCRIÇÃO

(Partes deste capítulo foram extraídos de SOBRAL, João Jonas Veiga. Redação: escrevendo com prática. São Paulo: Iglu, 1997.)

A descrição é uma espécie de retrato verbal de um determinado objeto. É descritivo o texto que tem por finalidade retratar algo, de forma que o interlocutor possa, por meio das palavras, criar mentalmente a imagem do objeto descrito. É importante ressaltar que como não há escrita sem intenção, descreve-se para atingir determinados objetivos, tais como:

• exaltar ou criticar.

• analisar conteúdos.

• fazer conhecer, direta ou indiretamente, o objeto descrito.

Ao descrever, a pessoa seleciona as palavras que pretende usar para que possa convencer o interlocutor. Se há um desejo de convencer, de fazer com que o interlocutor enxergue de acordo com a visão de mundo do enunciador, o texto descritivo possui uma função argumentativa.

Sendo assim, a descrição pretende ser um retrato verbal. Todavia, pretende retratar aquilo que os olhos do enunciador vêem, que muitas vezes pode não corresponder à realidade. A descrição pode ser:

|Objetiva: quando se retrata a realidade como ela é. |

|Subjetiva: quando se retrata a realidade segundo nossos sentimentos e emoção. |

Descrição objetiva:

“A cômoda era velha, de madeira escura com manchas provocadas pelo longo tempo de uso. As três gavetas possuem puxadores de ferro em forma de conchas, nas duas laterais há ornamentos semelhantes àqueles de esculturas barrocas, os pés são redondos e ornamentados.”

Descrição subjetiva:

“Dona Cômoda tem três gavetas. E um ar confortável de senhora rica. Nas gavetas guarda coisas de outros tempos, só para si. Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fechada, egoísta.’’

(QUINTANA, Mário. Sapo amarelo. Porto Alegre: Mercado Aberto. 1984, p. 37).

Na primeira descrição, houve um retrato fiel do objeto; já na segunda, houve o ponto de vista do autor, o objeto foi descrito conforme ele vê.

| Observação: |

|Não confunda descrição e definição. |

|Definir é explicar a significação de um ser. |

|Descrever é retratar a partir de um ponto de vista. |

Veja a definição de uma cômoda:

CÔMODA: móvel guarnecido de gavetas desde a base até a parte superior, que serve para guardar coisas.

Na definição, não há ponto de vista, o objeto é descrito de maneira geral e serve para qualquer cômoda; já nas descrições prevalecem a particularidade; cada cômoda foi descrita de forma diferente.

Descrição sensorial

A descrição sensorial, também conhecida por sinestésica, apóia-se nas sensações. Este tipo de descrição faz com que o texto fique mais rico, forte, poético; nele o leitor interage com o narrador e com a personagem. As sensações são:

Visuais: relacionadas à cor, forma, dimensões, etc.

“Era um olho amendoado, grande, dum azul celestial, de traços suaves...”

Auditivas: relacionadas ao som.

“O silêncio tornara-se assustador, o zumbido do vento fazia chorar as janelas...”

Gustativas: relacionadas ao gosto, paladar.

“Tua despedida amarga, o sorriso irônico, insosso; deixaram-me angustiado.”

Olfativas: relacionadas ao cheiro.

“O cheiro de terra trazido pelo vento úmido era prenúncio de chuva.”

Táteis: relacionados ao tato, contato da pele.

“As mãos ásperas como casca de árvores, grossas, ríspidas, secas como pedra.”

Observe como as descrições sensoriais são trabalhadas neste belo texto da poetisa Cecília Meireles:

NOITE

Úmido gosto de terra,

cheiro de pedra lavada,

- tempo inseguro do tempo! –

sobra do flanco da serra,

nua e fria, sem mais nada.

Brilho de areias pisadas,

sabor de folhas mordidas,

- lábio da voz sem ventura!-

suspiro das madrugadas

sem coisas acontecidas.

A noite abria a frescura

dos campos todos molhados,

- sozinho, com o seu perfume!-

preparando a flor mais pura

com ares de todos os lados.

Bem que a vida estava quieta.

Mas passava o pensamento...

- de onde vinha aquela música?

E era uma nuvem repleta

Entre as estrelas e o vento.

(MEIRELES, Cecília. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.)

Descrição técnica

A descrição técnica deve apresentar precisão vocabular e exatidão de pormenores. Deve esclarecer, convencendo. Pode-se descrever objetos, mecanismos ou processos, fenômenos, fatos, lugares, eventos. Determinar o ponto de vista e o objetivo do texto é muito importante na construção do texto descritivo, deles depende a estrutura do texto:

• que será descrito?

• que aspecto será destacado?

• quais são os pormenores mais importantes?

• que ordem será adotada para a descrição?

• a quem se destina o texto: ao técnico ou ao leigo?

Observe o seguinte exemplo:

“O motor está montado na traseira do carro, fixado por quatro parafusos à caixa de câmbio, a qual, por sua vez, está fixada nos coxins de borracha na extremidade bifurcada do chassi. Os cilindros estão dispostos horizontalmente e opostos dois a dois. Cada par de cilindros tem um cabeçote comum de metal leve. As válvulas, situadas nos cabeçotes, são comandadas por meio de tuchos e balancins. O virabrequim, livre de vibrações, de comprimento reduzido, com têmpera especial nos colos, gira em quatro pontos de apoio e aciona o eixo excêntrico por meio de engrenagens oblíquas. As bielas contam com mancais de chumbo-bronze e os pistões são fundidos de uma liga de metal leve.”

(Fonte: Manual de instruções [Volkswagen]. In: Comunicação em prosa moderna. GARCIA Othon, Rio de janeiro: Editora FGV, 1996, p.388.)

1. O que está sendo descrito?

2. Que aspecto está em destaque?

3. Que pormenores parecem mais importantes?

4. Que ordem é adotada? Do geral para o particular (dedutivo) ou do particular para o geral? (indutivo)

5. A quem se destina o texto?

Descrição de ambiente e paisagem

Espaço é o lugar físico onde se passa a ação narrativa, e ambiente é o espaço com características sociais, morais, psicológicas, religiosas, etc. Ao se descrever um ambiente fechado, escuro, sujo, desarrumado, normalmente é sugerido um estado de angústia, ou solidão, ou desleixo. Já os lugares abertos, claros, coloridos, sugerem felicidade, harmonia, paz, amor. Portanto o ambiente descrito em seu texto deverá fazer com que o leitor perceba o rumo da história. Veja um exemplo:

“A Praça da Alegria apresentava um ar fúnebre. De um casebre miserável, de porta e janela, ouviam-se gemer os armadores enferrujados de uma rede e uma voz tísica e aflautada, de mulher, cantar em falsete a “gentil Carolina era bela”, doutro lado da praça, uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de madeira, sujo, seboso, cheio de sangue e coberto por uma nuvem de moscas, apregoava em tom muito arrastado e melancólico: “Fígado, rins e coração!” Era uma vendedeira de fatos de boi. As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhargas maternas, as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventrezinhos amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel. Um ou outro branco, levado pela necessidade de sair, atravessava a rua suando, vermelho, afogueado, à sombra de um enorme chapéu-de-sol. Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos, movimentos irascíveis, mordiam o ar, querendo morder os mosquitos. Ao longe, para as bandas de São Pantaleão, ouvia-se apregoar: “Arroz de Veneza! Mangas! Macajubas!” Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente. O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso e espalmado pé descalço. Da Praia de Santo Antônio enchiam toda a cidade os sons invariáveis e monótonos de uma buzina, anunciando que os pescadores chegavam do mar; para lá convergiam, apressadas e cheias de interesse, as peixeiras, quase todas negras, muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as tetas opulentas.”

(AZEVEDO, Aluísio de. O Mulato. Apud Curso de Redação, Harbra. J. Miguel, p. 67.)

Note como todas as descrições procuram mostrar para o leitor um ambiente em decadência, miserável, fúnebre:

“A praça da alegria apresentavam um ar fúnebre, de um casebre miserável, de porta e janela, ouviam-se gemer os armadores enferrujados de uma rede...”

“Os cães, entendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos...”

EXERCÍCIOS

1. Identifique os objetos descritos:

a) Máquina frigorífica adaptada a uma espécie de armário onde se produz gelo, sorvetes, e onde se conservam alimentos, etc.

b) Instrumento com lentes que amplificam os objetos distantes do observador e que lhe permitem uma visão nítida dos mesmos.

c) Veículo de duas rodas, sendo a traseira acionada por um sistema de pedais que movimentam uma corrente transmissora.

2. Diga se é descrição objetiva, subjetiva ou definição:

a) GELADEIRA: espécie de armário, geralmente branco, de metal e plástico, com máquina frigorífica embutida para gelar e conservar alimentos e bebidas.

b) A geladeira era branca, com puxadores de plástico azulado, com manchas provocadas pelo longo tempo de uso. Na parte superior, um compartimento bem menor que a inferior, mas com um detalhe: era forrado de ímãs com figuras de frutas e flores. Os pés eram redondos e de metal azinhavre.

c) Maria Geladeira tem duas partes. Uma, imponente, longa e esquálida. Outra, mimosa, alegre, com um ar de criança brincalhona colhendo maçãs e flores. Abro a porta de cima, lá estão as cartas de quem se foi – geladas como meu coração.

(Baseado em Mário Quintana. Sapo amarelo. 1984, p. 37).

3. Observe a bela descrição de uma casa e comente se é objetiva ou subjetiva. Justifique com trechos do texto:

“Encosto a cara na noite e vejo a casa antiga. Os móveis estão arrumados em círculo, favorecendo as conversas amenas, é uma sala de visitas. O canapé, peça maior. O espelho. A mesa redonda com o lampião aceso desenhando uma segunda mesa de luz dentro da outra. Os quadros ingenuamente pretensiosos, não há afetação nos móveis, mas os quadros têm aspirações de grandeza nas gravuras de mulheres imponentes (rainhas?) entre pavões e escravos transbordando até o ouro purpurino das molduras. Volto ao canapé de curvas mansas, os braços abertos sugerindo cabelos desatados. Espreguiçamento. Mas as almofadas são exemplares, empertigadas no encosto de palhinha gasta. Na almofada menor está bordada uma guirlanda azul. O mesmo desenho de guirlandas desbotadas no papel sépia da parede. A estante envidraçada, alguns livros e vagos objetos nas prateleiras penumbrosas.”

(TELLES, Lygia Fagundes. Ap. Missa do Galo. São Paulo: Summus, 1977.)

4. Leia o texto a seguir e responda:

FUNERAL

“Uma cena me ficou na memória com uma nitidez inapagável. Parado no meio-fio duma calçada, no Passo de la Reforma, vejo passar o enterro de um bombeiro que se suicidou. Os tambores, cobertos de crepe, estão abafados e soam surdos. Não se ouve sequer um toque de clarim. Atrás dos tambores marcham alguns pelotões. Os soldados de uniforme negro, gola carmesim, crepe no braço, marcham em cadenciado silêncio. E sobre um carro coberto de preto está o esquife cinzento envolto na bandeira mexicana.

Plan-rata-plan! Plan-rata-plan! Lá se vai o cortejo rumo do cemitério. Haverá outro país no mundo em que um velório seja mais velório, um enterro mais enterro, e a morte mais morte?

Plan-rata-plan! Adeus bombeiro. Nunca te vi. Teu nome não sei. Mas me será difícil, impossível esquecer o teu funeral. Plan-rat-plan!”

(VERÍSSIMO, Érico. México, Apud J.F. Miranda, Arquitetura da redação.)

a) O texto é objetivo ou subjetivo? Justifique retirando trechos que comprovem sua opção;

b) Qual o tema do texto?

c) Qual a mensagem?

d) Qual o processo descritivo usado para descrever? (Ver descrição sensorial)

e) Explique o uso da onomatopéia (palavras que imitam sons).

f) A história apresenta uma ironia. Qual é? Comente-a.

5. Classifique os versos ou frases abaixo quanto à descrição sensorial:

a) “Há perfumes saudáveis como carnes de crianças

doces como oboés, verdes como as campinas,

e outros, corrompidos, ricos, triunfantes.”

(Baudelaire)

b) “Mãos de finada, aquelas mãos de neve,

De tons marfíneos, de ossatura rica,

Pairando no ar, num gesto brando e leve,

Que parece ordenar mas que suplica.”

(Alphonsus de Guimaraens)

c) “Nasce a manhã, a luz tem cheiro... Ei-la que assoma

Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz, a manhã nasce

Oh sonora audição colorida do aroma!

(Cruz e Souza)

d) A DOCE CANÇÃO

Cecília Meireles

Pus-me a cantar minha pena

com uma palavra tão doce,

de maneira tão serena,

que até Deus pensou que fosse

felicidade – e não pena.

Anjos de lira dourada

debruçaram-se da altura.

Não houve, no chão, criatura

de que eu não fosse invejada,

pela minha voz tão pura.

Acordei a quem dormia,

Fiz suspirarem defuntos.

Um arco-íris de alegria

da minha boca se erguia

pondo o sonho e a vida juntos.

O mistério do meu canto,

Deus não soube, tu não viste.

Prodígio imenso do pranto:

- todos perdidos de encanto,

só eu morrendo de triste!

Por assim tão docemente

meu mal transformar em verso,

oxalá Deus não o aumente,

para trazer o Universo

de pólo a pólo contente!

6. Leia o texto abaixo e responda às questões:

O DISJUNTOR

O disjuntor é um equipamento destinado a detectar as sobrecorrentes de um circuito elétrico energizado. É composto internamente por dispositivos que atuam com a passagem de correntes superiores às nominais do equipamento, interrompendo a passagem da corrente elétrica.

Externamente é composto por uma caixa plástica retangular moldada. De cor preta com dimensões de 9,0 x 1,5 x 60, cm e, nesta, dois terminais situados um em cada extremidade. Na sua parte frontal, possui um dispositivo de rearme, devendo este ser acionado após a detecção de correntes nominais acima daquelas admissíveis pelo equipamento supracitado.

Os disjuntores são equipamentos de alta tecnologia, muito eficientes e relativamente baratos, adequando-se às mais diversas situações de uso predial ou industrial, tornando-se, assim, indispensável em qualquer instalação.

(Fonte: CHAMADOIRA, J. B. N. Uma modalidade de texto técnico. cefetsp.br/edu/sinergia.html)

1. Em que tipo de descrição se classifica este texto?

2. O que está sendo descrito?

3. Que aspecto está em destaque?

4. Que pormenores parecem mais importantes?

5. Que ordem é adotada? Do geral para o particular (dedutivo) ou do particular para o geral? (indutivo)

6. Delimite descrição e definição.

7. A quem se destina o texto?

7. Analise o seguinte texto quanto ao tipo de descrição:

RECADO DE PRIMAVERA

Meu caro Vinícius de Moraes :

Escrevo-lhe aqui de Ipanema para lhe dar uma notícia grave: a Primavera chegou. Você partiu antes. É a primeira Primavera, de 1913 para cá, sem a sua participação. Seu nome virou placa de rua; e nessa rua, que tem seu nome na placa, vi ontem três garotas de Ipanema que usavam minissaias. Parece que a moda voltou nesta Primavera - acho que você aprovaria. O mar anda virado; houve uma Lestada muito forte, depois veio um Sudoeste com chuva e frio. E daqui de minha casa vejo uma vaga de espuma galgar o costão sul da Ilha das Palmas. São violências primaveris.

O sinal mais humilde da chegada da Primavera vi aqui junto de minha varanda. Um tico-tico com uma folhinha seca de capim no bico. Ele está fazendo ninho numa touceira de samambaia, debaixo da pitangueira. Pouco depois vi que se aproximava, muito matreiro, um pássaro-preto, desses que chamam de chopim. Não trazia nada no bico; vinha apenas fiscalizar, saber se o outro já havia arrumado o ninho para ele pôr seus ovos.

Isto é uma história tão antiga que parece que só podia acontecer lá no fundo da roça, talvez no tempo do Império. Pois está acontecendo aqui em Ipanema, em minha casa, poeta. Acontecendo com a Primavera. Estive em Blumenau, onde há moitas de azaléias e manacás em flor; e em cada mocinha loira, uma esperança de Vera Fischer. Agora vou ao Maranhão, reino de Ferreira Gullar, cuja poesia você tanto amava, e que fez 50 anos. O tempo vai passando, poeta. Chega a Primavera nesta Ipanema, toda cheia de sua música e de seus versos. Eu ainda vou ficando um pouco por aqui - a vigiar, em seu nome, as ondas, os tico-ticos e as moças em flor. Adeus.

(BRAGA, Rubem. Recado de Primavera. Record, setembro, 1980.)

8. Leia o texto a seguir e responda:

RETRATO

Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro,

nem estes olhos tão vazios,

nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

tão paradas e frias e mortas;

eu não tinha este coração

que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,

tão simples, tão certa, tão fácil:

- Em que espelho ficou perdida a minha face?

a) O texto é objetivo ou subjetivo? Justifique retirando trechos que comprovem sua opção;

b) Qual o tema do texto?

c) Qual a mensagem?

d) Qual o processo descritivo usado para descrever? (Ver descrição sensorial)

9. Escolha um dos objetos e elabore uma descrição objetiva e subjetiva:

a) um guarda-roupas; b) uma sombrinha ou c) um lápis.

10. Complete as frases, formando um parágrafo descritivo. Escolha (a) ou (b ):

a) Era tão bonita; b) Não era muito bonita

11. Redija os seguintes anúncios usando os processos descritivos. Escolha (a) ou (b ):

a) Vendendo um vestido de noiva; b) Um carro

12. Elabore duas descrições de ambiente. Lembre-se de que a originalidade tornará seu texto mais bonito, evite frases feitas, comuns e repetições desnecessárias. Escolha (a) ou (b ):

a) Um local triste, desolado, abandonado; b) Um local alegre, festivo.

13. Complete as frases, formando um parágrafo descritivo. Escolha (a) ou (b):

a) Tinha um físico atlético; b) Era mau-caráter.

14. Redija os seguintes anúncios usando os processos descritivos. Escolha (a) ou (b):

a) Uma fazenda com casa e piscina; b) Um a bicicleta

UNIDADE 2

TIPOLOGIA TEXTUAL - NARRAÇÃO

Contar histórias é uma atividade comum nas relações humanas, faz parte do ato de comunicação, não só na vida particular, mas também na profissional. Usamos aspectos da narração quando precisamos produzir relatórios, textos técnicos, e-mails e outros textos que fazem parte do cotidiano de qualquer profissional. Escrevemos para contar o que acontece, com quem, onde, como, por quê e para quê. Esses são os elementos do processo narrativo. Veja:

Quem narra a história? Identificação do narrador.

O que é narrado? Resumo do enredo.

Quem participa do conflito? Reconhecimento das pessoas ou personagens.

Por que elas estão em conflito? Procura dos motivos.

Onde (em que lugar) a história ocorre? Especificação do espaço e/ou do ambiente.

Quando ocorre o conflito? Especificação do tempo.

Como eram e são agora as personagens? Compreensão das mudanças ocorridas.

Obs.: a diferença entre narração e relato é que este não tem conflito. Na narração, a personagem tem que sofrer mutação, devido ao conflito.

A narração, assim como qualquer texto, também pode ser objetiva e subjetiva (veja a unidade DESCRIÇÃO)

Narração objetiva

Narração objetiva é aquela que costumamos ler em jornais, em livros de História etc. Veja um exemplo:

ÁRVORE CAI COM A CHUVA

“Ontem, na rua Colômbia, nos Jardins, desabou uma enorme e antiga árvore sobre dois carros. A tempestade e o forte vento que caíram sobre a cidade são os causadores do acidente.”

Observe que o narrador está em terceira pessoa; não toma, pois, parte da história, apenas relata de maneira imparcial, contando os fatos sem que sua emoção transpareça na narrativa. Resumindo, a narração objetiva apenas informa o leitor.

Narração subjetiva

Narração subjetiva é aquela em que o narrador deixa transparecer os seus sentimentos, sua posição diante do fato é sensível, emocional. Exemplo:

O CAJUEIRO

O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do morro atrás da casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu.

Eu me lembro do outro cajueiro que era menor, e morreu há muito tempo. Eu me lembro dos pés da pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de-são-jorge (que nós chamávamos simplesmente “tala”) e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de flores humildes, beijos, violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde.

No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amarelos, trêmulo de sanhaços. Chovera: mas assim mesmo fiz questão de que Caribé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo de outras terras um parente muito querido.

A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num fragor tremendo pela ribanceira; e caiu meio de lado, como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa. Diz que passou o dia abatida, pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram, mas depois foram brincar nos galhos tombados.

Foi agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores.

(BRAGA, Rubem. Cem crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: José Olympio Ed., 1956.)

O narrador, neste texto, conta a princípio uma história banal: a queda de um cajueiro. No entanto, traz à tona suas recordações de infância, suas últimas visões da árvore e por fim a ironia: apesar de ser fins de setembro, primavera, o cajueiro que estava “tombado de flores” caiu. De forma tocante, o narrador nos faz sentir um certo sentimento de compaixão e carinho pelo cajueiro. A narração subjetiva tem esta finalidade.

O narrador

Ao produzir um texto, você poderá fazê-lo de duas maneiras diferentes, contar uma história em que você participa ou contar uma história que ocorreu com outra pessoa. Essa decisão determinará o tipo de narrador a ser utilizado em seu texto.

NARRADOR EM 1a PESSOA: Conhecido também por narrador-personagem, é aquele que participa da ação. Pode ser protagonista quando personagem principal da história, ou pode ser alguém que presenciou o fato, estando no mesmo local.

Exemplo: Narrador-protagonista:

“Era noite, voltava sozinho para casa, o frio estava insuportável, não havia ninguém naquela rua sombria, ouvi um barulho estranho no muro ao lado, assustei- me...”

Exemplo: Narrador 1ª pessoa

“Estava debruçado em minha janela quando vejo na esquina um garoto magro roubando a carteira de um pobre velho...”

NARRADOR EM 3ª PESSOA: Conhecido também por narrador-observador, é aquele que não participa da ação.

“João estava voltando para casa, à noite, sozinho, quando ouviu, próximo ao muro, um barulho estranho.”

Estrutura do Enredo

Geralmente, toda história tem um princípio (introdução), um meio (desenvolvimento), e um fim (desfecho). Contudo, em alguns casos esta estrutura não é obedecida. Veja-se a estrutura de uma história que apresenta começo, meio e fim:

Introdução: o autor apresenta a idéia principal, as personagens, o lugar onde vai ocorrer os fatos.

Desenvolvimento: é a parte mais importante do enredo, é nele que o autor detalha a idéia principal. O desenvolvimento é dividido em duas partes:

Complicação: quando há uma ligação entre os fatos levando a personagem a um conflito, situação complicada.

Clímax: é o momento mais importante da narrativa, a situação chega em seu momento crítico e precisa ser resolvida.

Desfecho: é a parte final, a conclusão. Nessa parte o autor soluciona todos os conflitos, podendo levar a narrativa para um final feliz, trágico ou ainda sem desfecho definido, deixando as conclusões para o leitor.

EXERCÍCIOS

1. Analise o enredo a seguir de acordo com os elementos do texto narrativo:

O HOMEM NU

Ao acordar, disse para a mulher:

- Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

- Explique isso ao homem - ponderou a mulher.

- Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar - amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:

- Maria! Abre aí, Maria. Sou eu - chamou, em voz baixa.

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço de escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

- Maria, por favor! Sou eu!

Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal-ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com embrulho do pão. Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.

- Ah, isso é que não! - diz o homem nu, sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido. Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime de Terror!

- Isso é que não - repetiu, furioso.

Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão de seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: “Emergência: parar.” Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.

- Maria! Abre esta porta! gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si. Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

- Bom dia, minha senhora - disse ele, confuso. - Imagine que eu...

A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:

- Valha-me Deus! O padeiro está nu!

E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

- Tem um homem pelado aqui na porta!

Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:

- É um tarado!

- Olha, que horror!

- Não olha não! Já para dentro, minha filha!

Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

- Deve ser a polícia - disse ele, ainda ofegante, indo abrir. Não era: era o cobrador da televisão.

(SABINO, Fernando. O Homem nu. 24 ed. Rio de Janeiro, Record, 1984. p. 65-8).

a) Introdução

b) Desenvolvimento (complicação e clímax)

c) Desfecho

2. Diga se é narração subjetiva ou objetiva. Justifique.

TELEVISÃO MUDA ROTINA DO INTERIOR

Com a chegada da televisão à cidade de Cachoeiro de Itapemirim, ES, a população observou que sua rotina vem sendo alterada de forma irreversível. As pessoas dizem que, antes, brincava-se nas praças, conversava-se nas ruas, ia-se ao cinema. Agora, com a televisão, o que se vê na praça principal é um coreto apagado e bancos vazios.

3. Diga se é narração subjetiva ou objetiva. Justifique.

ELA TEM ALMA DE POMBA

Que a televisão prejudica o movimento da pracinha Jerônimo Monteiro, em todos os Cachoeiros de Itapemirim, não há dúvida. Sete horas da noite era hora de uma pessoa acabar de jantar, dar uma volta pela praça para depois pegar uma sessão das 8 no cinema. Agora todo mundo fica em casa vendo uma novela, depois outra novela.

O futebol também pode ser prejudicado. Quem vai ver um jogo do Estrela do Norte F.C., se pode ficar tomando cervejinha e assistindo a um bom Fla-Flu, ou a um Inter x Cruzeiro, ou qualquer coisa assim?

Que a televisão prejudica a leitura de livros, também não há dúvida. Eu mesmo confesso que lia mais quando não tinha televisão. Rádio a gente pode ouvir baixinho, enquanto está lendo um livro. Televisão é incompatível com livro – e com tudo mais nesta vida, inclusive a boa conversa, até o making love.

Também acho que a televisão paralisa a criança numa cadeira mais do que o desejável. O menino fica ali parado, vendo e ouvindo, em vez de sair por aí, chutar uma bola, brincar de bandido, inventar uma besteira qualquer para fazer.

Só não acredito que televisão seja máquina de fazer doido. Até acho que é o contrário, ou quase o contrário: é máquina de amansar doido, distrair doido, acalmar, fazer doido dormir.

Quando você cita um inconveniente da televisão, uma boa observação que se pode fazer é que não existe nenhum aparelho de TV, a cores ou em preto e branco, sem um botão para desligar. Mas quando um pai de família o utiliza, isso pode produzir o ódio e rancor no peito das crianças e até de outros adultos.

Quando o apartamento é pequeno e a família é grande, e a TV é só uma – então sua tendência é parar de ser um fator de rixas intestinas.

- Agora você se agarra nessa porcaria de futebol...

- Mas, francamente, você não tem vergonha de acompanhar essa besteira de novela?

- Não sou eu não, são as crianças!

Mas muito lhe será perdoado, à TV, pela sua ajuda aos doentes, aos velhos, aos solitários. Na grande cidade – num apartamentinho de quarto e sala, num casebre de subúrbio, numa orgulhosa mansão – a criatura solitária tem nela a grande distração, o grande consolo, a grande companhia. Ela instala dentro de sua toca humilde o tumulto e o frêmito de mil vidas, a emoção, o suspense, a fascinação dos dramas do mundo.

A corujinha da madrugada não é apenas a companheira de gente importante. É a grande amiga da pessoa desimportante e só, da mulher velha, do homem doente... É a amiga dos entrevados, dos abandonados, dos que a vida esqueceu para um canto... ou que no meio da noite sofrem o assalto de dúvidas e melancolias ...mãe que espera filho, mulher que espera marido... homem arrasado que espera que a noite passe, que a noite passe, que a noite passe...

(Ela tem alma de pomba. BRAGA. R. In: 200 Crônicas Escolhidas. 5 ed. RJ: Record, 1978, p. 318-319).

4. Complete a narração a seguir:

“O Consumidor acordou confuso. Saíam torradas do seu rádio-despertador. De onde saía então – quis descobrir – a voz do locutor? Saía do fogão elétrico, na cozinha, onde a Empregada, apavorada, recuara até a parede e, sem querer, ligara o interruptor da luz, fazendo funcionar o gravador na sala. O Consumidor confuso sacudiu a cabeça, desligou o fogão e o interruptor, saiu da cozinha, entrou no banheiro e ligou seu barbeador elétrico. Nada aconteceu. Investigou e descobriu que a Mulher, na cama, é que estava ligada e zunia como um barbeador. Abriu a torneira do banheiro para lavar o sono do rosto. Talvez aquilo tudo fosse só o resto de um pesadelo. Pela torneira jorrou café instantâneo.”

(Luís Fernando Veríssimo)

5. Reescreva o poema abaixo em prosa narrativa:

POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL

João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da

Babilônia num barracão sem número.

Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro

Bebeu

Cantou

Dançou

Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

(BANDEIRA, Manuel. Libertinagem)

6. Troque o narrador (de 1a pessoa para 3a) do texto a seguir:

NINGUÉM

A rua estava fria. Era sábado ao anoitecer mas eu estava chegando e não saindo. Passei no bar e comprei um maço de cigarros. Vinte cigarros. Eram os vinte amigos que iam passar a noite comigo.

A porta se fechou como uma despedida para a rua. Mas a porta sempre se fechava assim. Ela se fechou com um som abafado e rouco. Mas era sempre assim que ela se fechava. Um som que parecia o adeus de um condenado. Mas a porta simplesmente se fechara e ela sempre se fechava assim. Todos os dias ela se fechava assim.

Acender o fogo, esquentar o arroz, fritar um ovo. A gordura estala e espirra ferindo minhas mãos. A comida estava boa. Estava realmente boa, embora tenha ficado quase a metade no prato. Havia uma casquinha de ovo e pensei em pedir-me desculpas por isso. Sorri com esse pensamento. Acho que sorri. Devo ter sorrido. Era só uma casquinha.

Busquei no silêncio da copa algum inseto mas eles já haviam todos adormecido para a manhã de domingo. Então eu falei em voz alta. Precisava ouvir alguma coisa e falei em voz alta. Foi só uma frase banal. Se houvesse alguém perto diria que eu estava ficando doido. Eu sorriria. Mas não havia ninguém. Eu podia dizer o que quisesse. Não havia ninguém para me ouvir. Eu podia rolar no chão, ficar nu, arrancar os cabelos, gemer, chorar, soluçar, perder a fala, não havia ninguém para me ver. Ninguém para me ouvir. Não havia ninguém. Eu podia até morrer.

De manhã o padeiro me perguntou se estava tudo bem. Eu sorri e disse que estava. Na rua o vizinho me perguntou se estava tudo certo. Eu disse que sim e sorri. Veio a tarde e meu primo me perguntou se estava tudo em paz e eu sorri dizendo que estava. Depois uma conhecida me perguntou se estava tudo azul e eu sorri e disse que sim, estava, tudo azul.

(VILELA, Luiz. Tremor de terra. 4 ed. São Paulo: Ática, 1977, p.93).

7. Leia o seguinte trecho retirado do romance Capitães da Areia, de Jorge Amado. Capitães da Areia são um grupo de menores abandonados que vivem de pequenos golpes. Este trecho mostra como foi a fuga da polícia de um dos integrantes do grupo após um assalto:

“[...] o Sem-Pernas ficou encurralado na rua. Jogava picula com os guardas. Estes tinham se despreocupado dos outros, pensavam que já era alguma coisa pegar aquele coxo. Sem-Pernas corria de um lado para o outro da rua, os guardas avançavam. Ele fez que ia escapulir por outro lado, driblou um dos guardas, saiu pela ladeira. Mas em vez de descer e tomar pela Baixa do Sapateiro, se dirigiu para a praça do Palácio. Porque Sem-Pernas sabia que se corresse na rua o pegariam com certeza. Eram homens, de pernas maiores que as suas, e além do mais era coxo, pouco podia correr. E acima de tudo não queria que o pegassem. Lembrava-se da vez que fora à polícia. Dos sonhos das suas noites más. Não o pegariam, e enquanto corre este é o único pensamento que vai com ele. Os guardas vêm nos seus calcanhares. Sem-Pernas sabe que eles gostarão de o pegar, que a captura de um dos Capitães da Areia é uma bela façanha para um guarda. Essa será a sua vingança. Não deixará que o peguem, não tocarão no seu corpo. [...] Pensam que ele vai para junto ao grande elevado. Mas Sem-Pernas não pára. Sobe para o pequeno muro, volve o rosto para os guardas que ainda correm, ri com toda força de seu ódio, cospe na cara de um que se aproxima estendendo os braços, se atira de costas no espaço, como se fosse um trapezista de circo.”

a) Reescreva esse trecho com narrador em 1ª pessoa, sob o ponto de vista da personagem Sem-Pernas

b) Reescreva este trecho com narrador em 1ª pessoa, sob o ponto de vista de um dos guardas.

UNIDADE 3

TIPOLOGIA TEXTUAL – DISSERTAÇÃO

Título, tema, delimitação de tema

O título e o tema no texto dissertativo

(Partes deste capítulo foram extraídos de SOBRAL, João Jonas Veiga. Redação: escrevendo com prática. São Paulo: Iglu, 1997.)

É muito comum a confusão que se faz entre título e tema. Observe a diferença e importância desse tópico na produção do texto dissertativo.

Título: é uma vaga referência ao assunto abordado; normalmente é colocado no início do texto.

Tema: é o assunto abordado no texto, a idéia a ser defendida.

Dependendo da proposta, podemos escolher diversos temas e títulos para o texto. Exemplos:

Tema: Família

Título: A ditadura dos filhos

Idéia central: As famílias sofrem ultimamente com a ditadura dos filhos consumistas que tudo pedem movidos pela onda de consumo propagada pela televisão; e os pais, perdidos nas novas tendências educacionais, permitem que os filhos mandem e desmandem na hora de comprar determinado produto.

Tanto o título quanto o tema poderiam ser outros, a proposta é muito ampla, permitindo várias opções de escolha. É importante que você seja criativo na escolha do título e que não use expressões simplórias.

Delimitação do tema

Antes de iniciar um texto, pense, primeiramente quanto à delimitação do tema, ou seja, às vezes, você se defronta com um tema muito amplo para ser desenvolvido e sente dificuldade em escrever, pois já que ele é amplo demais, as idéias também serão múltiplas. Tome como exemplo o tema “Poluição”. Dá para escrever não só um texto, mas uma enciclopédia sobre o assunto... Se for solicitada, por exemplo, uma redação de 25/30 linhas, o resultado de seu texto será uma reunião de frases desconexas e genéricas, e o assunto teria um tratamento superficial. Numa redação, as idéias devem ser delimitadas para que a argumentação possa ser, no mínimo, convincente. Veja algumas possíveis delimitações para o tema escolhido como exemplo – “Poluição”:

• Poluição dos rios

• Poluição sonora

• Poluição e saúde pública

• Poluição sonora e o sono

• O que a sociedade deve fazer perante o problema da poluição

• A poluição do ar e a saúde dos nossos pulmões

• A poluição do solo e o futuro dos campos férteis

Observe-se que nesses exemplos o tema será poluição, mas seu campo de extensão é delimitado, marcado. Seu texto será muito mais profícuo e interessante, pois você terá mais chances de fazer valer seu ponto de vista quanto à questão abordada. Delimitado o tema, veja um exemplo de como planejar um texto. Tome como parâmetro o tema “poluição nos rios” – observe que ele já vem delimitado: você vai escrever sobre a poluição, especificamente a dos rios.

Tema: poluição dos rios

- morte de vários peixes;

- desequilíbrio na flora e fauna aquática;

- indústrias despejam poluentes nas águas;

- nenhum controle por parte das autoridades responsáveis;

- com o aumento da poluição, o que será de nós daqui a algumas décadas?

- poluição da água que bebemos;

- na Inglaterra recuperaram um rio que era totalmente poluído, o Tâmisa;

- não existe só poluição dos rios, há também poluição do ar e do solo;

- o rio Tietê, em São Paulo, é totalmente poluído; é só passar nas suas margens que a gente sente o cheiro;

- antigamente as pessoas até tomavam banho no Tietê;

- contaminação dos peixes que comemos;

- campanhas educativas para a população;

- destruição dos rios = destruição do planeta = destruição da nossa casa = destruição de nós mesmos;

- contaminação de plantações irrigadas por água poluída;

- desequilíbrio ecológico;

- desenvolvimento de projetos para reaproveitar o lixo que é lançado nos esgotos;

- detergentes biodegradáveis;

- despejo de esgotos nos rios

- maior fiscalização por parte das autoridades responsáveis

Com um bom número de idéias levantadas, ficará mais fácil redigir seu texto !!!.

ORGANIZANDO AS IDÉIAS

A proposta agora é agrupar as idéias, separando as causas, conseqüências e soluções. Procure selecionar somente as idéias que sigam uma linha de pensamento, isto é, que estejam interligadas.

FATO: Poluição desmesurada dos rios

CAUSAS: Por quê?

- indústrias despejam poluentes nas águas;

- nenhum controle por parte das autoridades responsáveis;

- despejo de esgotos nos rios

- detergentes biodegradáveis

CONSEQÜENCIAS: O que acontece em razão disso? (por isso, logo)

- morte de vários peixes;

- contaminação dos peixes que comemos;

- poluição da água que bebemos;

- contaminação de plantações irrigadas por água poluída;

- desequilíbrio ecológico

SOLUÇÕES:

- seguir o exemplo da Inglaterra, onde recuperaram um rio que era totalmente poluído, o Tâmisa;

- desenvolvimento de projetos para reaproveitar o lixo que é lançado nos esgotos;

- campanhas educativas para a população;

- maior fiscalização por parte das autoridades responsáveis

Feito isso, veja como ficará mais fácil produzir um texto coeso e coerente:

“A poluição dos rios está se tornando desmesurada e incontrolável, pois despejam-se poluentes e esgotos nas águas e, além disso, detergentes não-biodegradáveis ainda são produzidos e jogados nos rios. Tudo isso gera a morte de peixes, poluição da água que bebemos, e o acúmulo de detritos no leito dos rios provocam inundações. Se seguíssemos o exemplo da Inglaterra, que recuperou o rio Tâmisa, e se fossem criadas campanhas educativas para a população, bem como uma maior fiscalização por parte das autoridades, esse problema seria facilmente resolvido”.

Observe que as idéias foram reelaboradas, e só algumas foram utilizadas, aquelas que tinham a ver com o raciocínio do autor.

EXERCÍCIOS

1. No texto abaixo, indique: a) tema; b) delimitação do tema; c) causas; d) conseqüências;

e) introdução; f) conclusão.

“O nariz é vítima de muitas alergias – algumas causadas por fatores que o atacam diretamente. ‘Muitas vezes’, explica o alergista Laércio José Zuppi, ‘os próprios medicamentos para gripes e rinites irritam a mucosa olfativa, levando a uma perda temporária do olfato. A poluição, cada vez maior nas grandes cidades, também ajuda a enfraquecer o olfato’. Em certos casos, os danos à mucosa são irreversíveis: mesmo recuperado da alergia, o paciente não volta a sentir bem os odores.

Conservantes de alimentos podem causar alergias a longo prazo, que por sua vez podem causar a anosmia (perda ou enfraquecimento do olfato). Os medicamentos, porém, encabeçam os fatores que provocam esse tipo de problema, em especial os remédios para hipertensos, os diuréticos e o ácido acetilsalicílico, o mais popular analgésico”.

(Revista Superinteressante, no. 1, 1988)

2. No texto abaixo, indique: a) tema; b) delimitação do tema; c) introdução; d) conclusão.

“Nos Estados Unidos, cientistas desenvolveram um robô que jamais perde o equilíbrio, mesmo que alguém tente derrubá-lo com uma rasteira. Como um João-bobo de borracha, ele balança, balança, mas não cai. O segredo é um programa de computador que calcula, num abrir e fechar de olhos, a velocidade e a direção do robô, de modo a corrigir qualquer movimento que o faça perder o equilíbrio. A correção se faz como num pêndulo – o contrabalanço restabelece o centro de gravidade. Com tamanha estabilidade, esse robô ainda sem nome pode segurar uma câmara com a mesma firmeza que o homem. Magro e forte, não lhe faltará trabalho em lugares apertados como espaçonaves”.

(Superinteressante, no. 2, 1988)

3. Quanto aos textos abaixo, diga o que é tema; título; introdução; há conclusão? O título condiz com o texto?

a) O esporte

b) Apoio para os menores

c) No país do futebol, o esporte amador sofre com falta de patrocínio. A natação, a canoagem, o judô, o atletismo, entre outros responsáveis por muitas medalhas olímpicas, vivem desesperados atrás de um minguado patrocínio, enquanto clubes e atletas profissionais de futebol nadam num mar de dinheiro.

4. O tema abaixo está delimitado. Organize-o em causas, conseqüências e soluções

Trânsito caótico nas grandes cidades

- violência e morte no trânsito;

- as pessoas não respeitam a sinalização;

- à noite ocorrem muitos acidentes;

- o transporte coletivo é muito precário;

- na Europa o transporte é feito basicamente por trem e metrô;

- as pessoas preferem transporte particular a coletivo;

- o trânsito deixa as pessoas nervosas e violentas;

- as ruas estão muito estreitas;

- há poucos viadutos e vias de acesso rápido;

- a poluição é muito grande devido ao número excessivo de carros no centro da cidade;

- deveria ser limitado o número de veículos no centro da cidade, porém esta medida não agrada aos comerciantes;

- a prefeitura não tem verbas para melhorar o transporte coletivo;

- o transporte poderia ser privatizado e a prefeitura poderia fiscalizar o serviço.

5. Crie uma introdução para os seguintes desenvolvimentos, delimitando o tema no tópico frasal:

a) ... Preços disparando nos supermercados, salários perdendo seu valor aquisitivo, greves pipocando pelo país, são exemplos desta situação.

b) ... Por exemplo, enquanto existe a pronúncia culta de “palha”, “problema”, “homem”, existe a pronúncia popular em “paia”, “pobrema”, “hômi”.

6. O tema “Drogas” está delimitado; escolha um deles e selecione algumas idéias:

• Drogas lícitas

• Drogas ilícitas

• Drogas entre os adolescentes

• As drogas e a violência

• Por que se procuram as drogas na vida moderna

• O que a sociedade deve fazer perante o problema das drogas

• Drogas e pobreza

7. Agora, redija um parágrafo sobre o tema delimitado e organizado em (6).

8. Crie uma introdução para os seguintes desenvolvimentos, delimitando o tema no tópico frasal:

a) ... Podemos citar alguns exemplos: carros estacionados sobre as calçadas ou avançando semáforos, pedestres que não atravessam a rua na faixa de segurança.

b) ... Talvez a maior novidade, que começa a preocupar os observadores, seja a “revolução informática” e suas conquistas mais recentes: videogames, videocassetes e, principalmente, os microcomputadores, que começam a fazer parte do nosso cotidiano e cuja manipulação já é acessível não só aos adultos leigos, mas até às crianças.

9. Escolha um dos itens a seguir e delimite o tema, selecione e organize as idéias com relação aos seguintes temas:

a) Discriminação; b) Ensino; c) Saúde; d) Felicidade e) Trabalho.

10. Produza parágrafo dissertativo sobre um dos temas escolhidos em (9)

UNIDADE 4

DISSERTAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO

(Partes deste capítulo foram extraídos/adaptados de SOBRAL, João Jonas Veiga. Redação: escrevendo com prática. São Paulo: Iglu, 1997; FIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2000; PACHECO, Agnelo C. A dissertação. São Paulo: Atual, 1993 e da apostila da Profa. Ana M. Ziccardi).

Dinâmica argumentativa

Há inúmeras maneiras de convencer alguém de algo. Podemos tentar impor nossa vontade usando a violência. Ou recorrendo à demonstração científica. Ou simplesmente ganhando no grito.

Podemos, no entanto, argumentar. Quem argumenta parte do princípio de que não vai ganhar uma discussão no grito ou na base da força (física, de sua autoridade, de seu status).

Argumentar exige debate aberto e ético. Não manipulativo. Com todos os argumentos a nosso alcance abordados, mesmo os avessos à nossa opinião. Ou não seria argumentação. Seria publicidade (apresentar as vantagens do que nos interessa sem exibir contrapontos), manipulação psicológica ou mera sedução (desviar-nos do principal, pela aparência dos fatos, não pelos fatos).

Seria buscar eficácia a qualquer preço.

A comunicação argumentativa parte do princípio de que a opinião pode ser defendida com rigor e abertura ao debate. Por isso, quem argumenta procura um acordo prévio com seu interlocutor. Como quem deseja estabelecer uma ligação a partir desse acordo.

  Há, enfim, uma dinâmica argumentativa. Porque argumentar não é só emitir opinião. Para o francês Philippe Breton, em A Argumentação na Comunicação (Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1998), a opinião existe antes de ser formulada. E mal formulada já entra no debate para não convencer ninguém.

Não podemos defender a descriminalização das drogas a uma platéia de policiais sem antes derrubar seu asco natural pela questão. Sem esse esforço prévio, nem teriam sequer paciência em nos ouvir. Por isso, devemos criar um terreno para que se reduza a resistência natural da platéia à nossa opinião.

Quem alimenta esperança de ser ouvido precisa transformar sua opinião em um argumento adequado a um auditório. Por isso, precisa prever o contexto em que sua opinião será recebida, aquele conjunto de valores e opiniões pré-concebidas já partilhado pelo público. Sua opinião inicial deve integrar-se ao contexto de recepção.

A retórica antiga sugeria preparar o terreno antes de emitirmos diretamente nossas opiniões. Descrever uma situação facilmente assimilada pelo ouvinte, antes de emitir pra valer o que pretendemos. Breton batiza o recurso de "enquadramento".

Enquadrar é tentar modificar o conjunto de opiniões e valores prévios, partilhados por quem nos ouve, para só então abrir espaço para a nossa opinião.

(Fonte: Revista Língua Portuguesa, ano iii, 29, 2008, p. 43)

Responda às perguntas relativas ao texto lido:

a) Como se ganha uma discussão?

b) A ideia de “aberto” está relacionada a “ético” ou “manipulativo”? Explique.

c) O quarto parágrafo está ligado a argumentação ou a manipulação? Explique.

d) O que procura quem argumenta?

e) O que é “contexto”?

f) O que é “auditório”?

g) O que é “enquadrar”?

Dissertação x argumentação

Dissertar é exercer nossa consciência crítica, questionar um tema, debater um ponto de vista, desenvolver argumentos.

Existem dois tipos de dissertação: a dissertação expositiva e a dissertação argumentativa. A primeira tem como objetivo primordial expor uma tese, analisar e interpretar idéias e pode ser identificada como demonstrativa: não se dirige a um interlocutor definido, constitui-se de provas, as mais impessoais possíveis. Na dissertação argumentativa, identificada como texto argumentativo, além de demonstrativo, tentamos, explicitamente, formar a opinião do leitor ou ouvinte, procurando persuadi-lo de que a razão está conosco.

"Argumentar é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. Etimologicamente, significa 'vencer junto com o outro' (com + vencer) e não contra o outro. Persuadir é saber gerenciar a relação, é falar à emoção do outro". A origem dessa palavra está ligada à preposição ‘per, 'por meio de, e a 'Suada, deusa romana da persuasão. (... ) Mas em que 'convencer' se diferencia de ‘persuadir'? Convencer é construir algo no campo das idéias. Quando convencemos alguém, esse alguém passa a pensar como nós. Persuadir é construir no terreno das emoções, é sensibilizar o outro para agir. Quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realize".

(ABREU, A. S., A arte de argumentar - gerenciando razão e emoção. SP: Ateliê, 1999)

 

Para a argumentação ser eficaz, os argumentos devem possuir consistência de raciocínio e de provas. O raciocínio consistente é aquele que se apóia nos princípios da lógica, que não se perde em especulações vãs, no “bate-boca” estéril. As provas, por sua vez, servem para reforçar os argumentos. Os tipos mais comuns de provas são: os fatos exemplos,  os dados estatísticos e o testemunho.

A estrutura dos dois tipos de composição é a mesma: introdução, desenvolvimento e conclusão.

FORMAS DE INTRODUÇÃO DO PARÁGRAFO

A introdução situa o leitor quanto ao que será discutido. Funciona como uma apresentação do texto. Por isso, ela deve ser interessante, chamar a atenção do leitor, assim como o fez o título. Observe alguns tipos de introdução:

Introdução-roteiro: Nela, o autor refere-se ao tema a ser discutido e à forma como o texto será organizado. Exemplo:

“Discutem-se muito, atualmente, as causas e conseqüências da poluição dos rios”.

Introdução-tese: Menciona-se de pronto o que se pretende provar. Obviamente a tese será retomada na conclusão, que funcionará como confirmação do que foi exposto no começo, apoiada no desenvolvimento. Neste, a tese deve ser comprovada. Exemplo:

“A poluição nos rios é uma questão que envolve toda a comunidade: população, indústrias, governo”.

Introdução com exemplos: talvez seja a que mais atrai a atenção de quem lê, pois colocam-se exemplos de como a situação exposta ocorre, dando ao leitor toda a dimensão do problema. Exemplo:

“Milhares de peixes mortos boiando nos rios. Espumas alvas decolando da superfície da água. Um cheiro insuportável de enxofre na avenida Marginal do rio Tietê. Este é um quadro que revela toda a dimensão do problema que é a poluição nos rios”.

Introdução-interrogação: Apresenta questões relacionadas ao tema, as quais devem ser respondidas ao longo do texto. Exemplos:

“Com a crescente poluição dos rios, como chegaremos ao próximo Milênio?” Ou

“É possível combater os efeitos da poluição nos rios?”

DESENVOLVIMENTO DO TEXTO DISSERTATIVO (Recursos argumentativos)

Pode-se desenvolver o texto dissertativo de diversas maneiras: enumeração, causa/ conseqüência, exemplificação, confronto, dados estatísticos e citações, além de outros. Vejamos como trabalhar com esses tipos de desenvolvimento:

1) Enumeração: Consiste em especificar a idéia central através de pormenores, de enumerações.

“Como as pessoas podem se livrar da tirania da aparência? (...) O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno”.

(R.Shinyashiki. Entrevista a IstoÉ, 19.10.05)

Note que o autor foi enumerando e explicitando cada item de seus argumentos.

2) Causa/conseqüência: É freqüentemente usado este recurso no desenvolvimento dos textos dissertativos; o autor apresenta a causa do problema para em seguida mostrar as possíveis conseqüências.

“Entre as causas da poluição dos rios, encontramos o despejo de esgotos e de poluentes industriais nas águas. Este fato agrava-se mais porque o controle por parte das autoridades responsáveis é muito pequeno. A poluição pode ser explicada também pelo descaso da população, que acaba por não se preocupar com o problema, o que se revela, por exemplo, pelo uso de detergentes não biodegradáveis.

Como efeito da poluição dos rios, temos notadamente a morte dos peixes, gerando um profundo desequilíbrio ecológico. Ainda como conseqüência, ocorre a contaminação de plantações irrigadas por água poluída. A transmissão de doenças infecciosas aos indivíduos surge também como resultado da contaminação da água e dos peixes por eles ingeridos. Por fim, inundações decorrem também do acúmulo de detritos no leito dos rios”.

Observe que as palavras em negrito/itálico enfatizando a forma de desenvolvimento por causa/conseqüência.

3) Exemplificação: Outro meio de argumentação que facilita o trabalho do autor; nele mostram-se exemplos que comprovam a defesa dos argumentos. Observe que, com relação ao vício do tabagismo, a repórter usou o Brasil como exemplo de sua tese, de que as empresas lucram muito com o vício.

“O mercado mundial de cigarros movimenta 300 bilhões de dólares anuais. As fábricas geram empregos e impostos que vão direto para os cofres públicos, argumentam. No Brasil, por exemplo, o cigarro propicia uma arrecadação anual de 5,5 bilhões de reais em impostos. Em torno de 2 bilhões são gastos com o tratamento de saúde dos fumantes. Ou seja, sobram aos cofres públicos 3,5 bilhões.”

(Buchalla, A. Paula. Fonte desconhecida)

4) Confronto: Consiste em comparar seres, fatos ou idéias enfatizando as igualdades e desigualdades entre eles.

“A leitura é muito mais enriquecedora no processo criativo do que o ato de assistir à televisão. No livro o leitor cria, organiza imagens; enquanto na televisão a imagem já vem construída, limitando o trabalho de criação do receptor.”

Veja que o autor confrontou duas idéias para defender a idéia central.

5) Argumento de existência: É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas provável. Incluem-se provas documentais (fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concretas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica.

“Segundo pesquisa do IBGE, publicada na Veja desta semana, de cada dez crianças nascidas no sertão do Norte e Nordeste do Brasil, cinco morrem antes de completar sete anos de idade. Não é possível que um país que acena para a modernidade deixe suas crianças morrerem por doenças facilmente curáveis ou de inanição. Nossos governantes devem dar condições para que a população menos favorecida tenha direito à vida.”

Importante: Dados estatísticos só podem ser usados mediante comprovação

6) Argumento de autoridade: Consiste em citar frases, máximas, trechos ou obras de escritores, intelectuais, políticos, etc.

“A mídia consagra e destrói pessoas num instante com o aval do público, que, como gado, segue a marcha da maioria; ídolos são trocados com rapidez absurda, políticos esquecidos são ressuscitados, vota-se por programa de governo. A maioria esmagadora é a representação cega e surda da mídia. Nelson Rodrigues, grande fazedor de frases já dizia: ‘Amigos, a unanimidade é burra.’ Está certo, o Nelson.”

7) Tempo e espaço: Apesar de serem mais comuns na narração, muitos temas de dissertação permitem uma organização em termos de tempo, ou de espaço ou ainda de tempo e espaço.

“Para viver, necessitamos de alimento, vestuário, calçados, alojamento, combustíveis, etc. Para termos esses bens materiais é necessário que a sociedade os produza. (...) Mas o desenvolvimento das forças produtivas está condicionado pelo desenvolvimento dos instrumentos de produção. Primeiro, os grosseiros e primitivos instrumentos de pedra. Depois, arcos e flechas, que possibilitaram a passagem da caça à domesticação de animais e à pecuária primitiva. A esse estágio seguiu-se o dos instrumentos de metal, que permitiram a passagem para a agricultura (...) Em traços rápidos, é esse o quadro do desenvolvimento das forças produtivas no decorrer da história da humanidade”.

A. G. Galliano, Introdução à sociologia)

CONCLUSÃO DO TEXTO DISSERTATIVO

O texto não termina quando os argumentos foram expostos, é necessário atar as idéias da introdução com os argumentos. O parágrafo de conclusão tem por finalidade amarrar todo o processo do texto por meio de síntese ou confirmação dos argumentos. A conclusão pode ser, entre outras:

1) Conclusão-síntese: É a mais comum entre as usadas, tem por finalidade resumir todo o texto trabalhando em um parágrafo; no entanto, deve-se tomar cuidado ao usá-la para que o texto não se torne repetitivo. Em relação ao texto sobre poluição nos rios (Desenvolvimento por causa e conseqüência), pode-se concluí-lo assim:

“Dessa maneira, observamos que o problema da poluição nos rios envolve um série de variáveis que incluem a população, as indústrias e o Estado”.

ou

“Portanto, o problema da poluição nos rios não é tão simples quanto possa parecer. Afeta-nos diretamente e faz-se necessária uma ação conjunta que envolva toda a comunidade”.

Note que a conclusão resume as idéias trabalhadas ao longo do texto.

2) Conclusão-solução: Esta conclusão apresenta soluções para o problema exposto. Ainda com relação à poluição dos rios, uma conclusão-solução poderia ser:

“Como se nota pela dimensão do problema, algumas medidas fazem-se urgentes: é necessário investir em projetos de recuperação dos rios, tal como se fez na Inglaterra com o rio Tâmisa; por outro lado, devem-se desenvolver projetos que visem ao reaproveitamento dos esgotos. Ao lado disso, devem-se fazer maciças campanhas educativas para a população. Finalmente, há necessidade de uma ampla fiscalização por parte das autoridades responsáveis”.

Note que, neste caso, o autor mostra o que deve ser feito: indica uma proposta.

3) Conclusão-surpresa: É o tipo de conclusão que exige mais trabalho e talento do autor, pois nela pode-se apresentar uma citação, um fato pitoresco, uma piada, uma ironia, um final poético ou qualquer outro que cause um estranhamento no leitor, deixando-o surpreso. Ainda sobre o mesmo tema de poluição dos rios, pode-se concluir assim:

“O grande físico inglês Isaac Newton disse: ‘A natureza não faz nada em vão’. E assim, os rios vão reagindo à ação destruidora dos homens”.

Ou

“Talvez possamos no futuro sentar à beira de um rio, beber da sua água cristalina, banhar-nos nas suas águas puras. Então descobriremos que o homem primitivo não era tão primitivo assim!”

Note que o autor usou, no primeiro exemplo, uma citação e, no segundo, um final poético.

DISSERTAÇÃO SUBJETIVA

Nas páginas anteriores, lemos textos cuja temática foi escrita objetivamente. Vejamos como pode se desenvolver uma dissertação subjetiva. Nela, o autor tem por objetivo comover o leitor, despertar-lhe alguma emoção. Diferente da dissertação objetiva, a subjetiva apresenta um texto mais leve, carregado de impressões pessoais do autor, a linguagem é trabalhada com delicadeza e lirismo, muito próxima da linguagem poética. Exemplo:

DA SOLIDÃO

Cecília Meireles

Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta que em redor delas se arme o silêncio, que não se manifeste aos seus olhos nenhuma presença humana, para que delas se apodere imensa angústia: como se o peso do céu desabasse sobre a sua cabeça, como se dos horizontes se levantasse o anúncio do fim do mundo.

No entanto, haverá na terra verdadeira solidão? Não estamos todos cercados por inúmeros objetos, por infinitas formas da Natureza, e o nosso mundo particular não está cheio de lembranças de sonhos, de raciocínios, de idéias, que impedem uma total solidão?

Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com a vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a escutar, porque muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como aquele Sultão Mamude, que entendia a fala dos pássaros, podemos aplicar toda a nossa sensibilidade a esse aparente vazio de solidão: e pouco nos sentiremos enriquecidos.

Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos à procura de ângulos, jogos de luz, eloqüência de formas, para revelarem aquilo que lhe parece não só o mais estático dos seus aspectos, mas também o mais comunicável, o mais rico de sugestões, o mais capaz de transmitir aquilo que excede os limites físicos desses objetos, constituindo, de certo modo, seu espírito e sua alma.

Façamo-nos também desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos sem maiores pretensões. Não procuremos neles a beleza que arrebata logo o olhar, o equilíbrio de linhas, a graça das proporções: muitas vezes seu aspecto – como o das criaturas humanas – é inábil e desajeitado. Mas não é isso que procuramos, apenas: é o seu sentido íntimo que tentamos discernir. Amemos nessas humildes coisas a carga de experiências que representam, e a repercussão, nelas sensível, de tanto trabalho humano, por infindáveis séculos.

Amemos o que sentimos de nós mesmos, nessas variadas coisas, já que, por egoístas que somos, não sabemos amar senão aquilo em que nos encontramos. Amemos o antigo encantamento dos nossos olhos infantis, quando começavam a descobrir o mundo: as nervuras da madeira, com seus caminhos de bosques e ondas e horizontes; o desenho dos azulejos; o esmalte das louças; os tranqüilos, metódicos telhados... Amemos o rumor da água que corre, os sons das máquinas, a inquieta voz dos animais, que desejaríamos traduzir.

Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências. A rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa o nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos de quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado, presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou distraídos. Mundo delicado, que não se impõe com violência: que aceita a nossa frivolidade ou o nosso respeito; que espera que o descubramos, sem se anunciar nem pretender prevalecer; que pode ficar para sempre ignorado, sem que por isto deixe de existir; que não faz da sua presença um anúncio exigente “Estou aqui! estou aqui!”. Mas, concentrado em sua essência, só se revela quando os nossos sentidos estão aptos para o descobrirem. E que em silêncio nos oferece sua múltipla companhia, generosa e invisível.

Oh! se vos queixais de solidão humana, prestai atenção em redor de vós, a essa prestigiosa presença, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversará convosco interminavelmente.

(Escolha Seu Sonho. Rio de Janeiro: Record, p. 35-38.)

a) Delimite o tópico frasal

b) Divida o texto em Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Identifique as formas de introduzir, desenvolver e concluir.

c) Justifique por que o texto é subjetivo. Use trechos do texto.

d) Como começa a angústia? (Parágrafo 1)

e) Há solidão, de acordo com os 2o e 3o parágrafos?

f) O que procuram os fotógrafos e pintores? (Parágrafo 4)

g) O que devemos fazer em relação às coisas? Para quê? (Parágrafos 5 e 6)

h) Como é o mundo, segundo a autora? (Penúltimo parágrafo)

i) A que conclusão chega a autora com relação à solidão?

j) O texto tenta persuadir ou convencer? Justifique.

EXERCÍCIOS

1. Diga que tipo de introdução foi usado nos seguintes trechos:

a) “A poluição nos rios é um problema muito sério que afeta todos nós. Analisaremos suas causas e conseqüências.”

b) “Por que o homem está matando seus rios?”

c) “O ser humano está preparado para enfrentar os danos que ele mesmo causou à natureza?”

d) “O menor C.A.C.M., 13 anos, está internado na Santa Casa de Misericórdia. Motivo: intoxicação por mercúrio, devida à ingestão de peixe contaminado. Este é apenas um dos casos que evidenciam as conseqüências da poluição nos rios”.

e) “O humor, numa concepção mais exigente, não é apenas a arte de fazer rir”. (Ziraldo)

2. Diga que forma de desenvolvimento foi usado nos seguintes trechos:

a) “O aumento da natalidade parece resultar, em certas sociedades, de transformações psicossociológicas. Havia antigamente, no esquema tradicional, certo número de costumes cujo efeito, voluntário ou não, era limitar a natalidade: interdição do casamento das viúvas, importância do celibato religioso, poliandria, interdição das relações sexuais em certos períodos, interdição da exogamia. Esses fatores que de algum modo limitavam a natalidade estão hoje sensivelmente esfumados. (...) Porém, no essencial, o aumento da natalidade resulta das melhorias sanitárias que foram realizadas nos países subdesenvolvidos, os antibióticos fazem recuar as causas de esterilidade devidas a moléstias infecciosas”.

b) “A mítica brasileira procede de três fontes étnicas: influência negra, abrangendo a área da cana-de-açúcar, da mineração e grande parte da cafeeira; influência indígena, envolvendo o extremo norte e o oeste, isto é, a Amazônia Legal; e influência branca, predominantemente no sul do país. Note a presença da Ecologia Humana.

(J.C. Rossato. Rev. Pau-Brasil, no. 11)

c) “De certa maneira, instintivamente, se conhece a ação das cores. Ninguém associa emoções fortes, que fazem disparar o coração, com tonalidades suaves e, muito menos, escuras. A paixão, por exemplo, é eternamente simbolizada por corações vermelhos. Já quando se está desanimado, a tendência é usar roupas de cores frias. Nas pesquisas sobre preferências de cores, invariavelmente a maioria das pessoas que vive em grandes cidades escolhe o azul – talvez numa busca nostálgica de tranqüilidade”.

d) (...) Treze milhões de brasileiros já deixaram a linha de pobreza. As classes D e E diminuíram 17%, e as classes A e B cresceram 21%. O rendimento dos 10% mais pobres da população dobrou. (...) Carne bovina, ovos, congelados, iogurte e conservas passaram a freqüentar mais a mesa dos brasileiros. As classes D e E são responsáveis por 30% de produtos como biscoitos, iogurte e macarrão instantâneo. Aumentou também o número de residências com geladeira, TV em cores, freezer, produtos eletrônicos e eletrodomésticos (...). As vendas de cimento cresceram 12% em 1995 e 21,5% no primeiro semestre deste ano. (...) Nestes dois anos de governo, 100 mil novas famílias tiveram acesso à terra. (...). Já desapropriamos, neste período, 3 milhões de hectares (...). Na Previdência Social, o aumento real médio dos benefícios foi de 39% entre 94 e 96 (...). Conseguimos reduzir, de maneira sensível, os índices de mortalidade infantil (...).

(Fernando Henrique Cardoso: Folha de S. Paulo, 29/12/1996)

e) “De acordo com a comunidade, a oposição linguagem do homem/linguagem da mulher pode determinar diferenças sensíveis, em especial no campo do vocabulário, devido a certos tabus morais (que geram os tabus lingüísticos). Essa oposição, no entanto, vem perdendo, gradativamente, sua significação, em especial nas grandes cidades, onde os meios de comunicação de massa (também o teatro em proporção menor) e a transformação dos costumes e padrões morais (atividades exercidas pela mulher fora do lar; novas profissões; condições culturais mais recentes como, por exemplo, os colégios mistos, os movimentos feministas, etc.) têm exercido um papel nivelador importante.

(Dino Pretti, Sociolingüística – Os níveis da fala)

f) “É provável que minhas palavras incomodem as leitoras da Super que estão folheando a revista ao lado de seus rechonchudos bebês. Ou mesmo desperte a sanha dos cristãos mais fervorosos que lembrarão a célebre frase bíblica ‘crescei e multiplicai-vos’. Acontece que quando tal frase foi dita, a humanidade vivia num mundo completamente diferente. Ainda não havia recenseamento populacional preciso e a Terra parecia pronta para receber todos que aqui chegassem. Hoje, isso não é mais verdade. Dados internacionais mostram que há mais de seis bilhões de seres humanos sobre o planeta. O pior é que, em 2050, esse número deve saltar para nove bilhões. Ou seja, em pouco menos de 50 anos, adicionaremos no planeta a metade da população que temos hoje – e não custa nada lembrar que levamos cerca de 100.000 anos para atingir esse número.

(GIMENEZ, Karen. In: Superinteressante, set. 2002)

g) “Os regimes autoritários odeiam quem escreve, esta é a verdade (...). No Marrocos, por exemplo, o poeta e crítico literário Abdelkader Chaoui foi condenado a 20 anos de prisão por ‘conspirar contra a segurança do Estado’. Na Jordânia, o escritor Mazin Abd al-Wahid al- As’ad recebeu pena de 3 anos por ‘pertencer a uma organização ilegal’. (...) No México, o jornalista Jorge Enrique Hernandez Aguilar está preso em Chiapas, desde maio de 1986, por seu envolvimento, como jornalista, em protestos de camponeses. (...) Mas a prisão não é o único mal que se abate sobre esta gente odiada – e temida também – pelos inimigos da liberdade. Há o medo, a intimidação, a tortura”.

(Rodolfo Konder, O Estado de S.Paulo, 5/2/88)

3. Diga que forma de conclusão foi usado nos seguintes trechos:

a) “Para que o aluno sinta-se motivado a estudar, a escola deve oferecer uma série de condições favoráveis. Um prédio amplo, espaçoso, cria um conforto físico facilitando o aprendizado, pois é praticamente impossível assimilar algo com desconforto. Atividades constantes e diversificadas quebram a monotonia da classe, aguçando a curiosidade do aluno e por sua vez motivando-o para a aprendizagem. Relacionamento amistoso entre diretoria, professores e alunos proporciona um clima ameno e favorável para o trabalho. (...)

“Sendo assim, faz-se necessário que a escola crie meios para que o aluno sinta-se motivado a fim de que seu rendimento seja satisfatório.”

b) “Grande parte da população não confia nos políticos, pois a maioria vive discutindo meios que favorecem a perpetuação do próprio poder; e os problemas que atrapalham a vida do povo geralmente são esquecidos.”

“Portanto, nossos parlamentares devem dar prioridade aos problemas da população, como saúde, habitação e educação. Itens básicos que ainda não foram solucionados; e, acima de tudo, devem procurar trabalhar mais em vez de criar “lobbies” para proveito próprio.”

c) “A pena de morte não deve ser aprovada, pois não é eficaz no combate contra o crime. Em países como os Estados Unidos, onde a lei existe e é aplicada com freqüência, o crime não diminuiu; e, inclusive, ele é maior que em alguns países em que não há esta lei. A Suécia é um exemplo, onde o índice de criminalidade é muito pequeno.

“É uma pena que pessoas ainda procurem soluções utilizadas há centenas de anos que nada ajudaram a modificar a criminalidade, métodos bárbaros que ferem a inteligência humana. Na verdade, essas soluções são uma pena e de morte.”

4. Leia o texto a seguir e responda às questões:

DROGA PESADA

Fui dependente de nicotina durante 20 anos. Comecei ainda adolescente, porque não sabia o que fazer com as mãos, quando chegava às festas. Era início dos anos 60, e o cigarro estava em toda parte: televisão, cinema, outdoors e com os amigos. As meninas começavam a fumar em público, de minissaia, com as bocas pintadas assoprando a fumaça para o alto. O jovem que não fumasse estava por fora.

Um dia, na porta do colégio, um amigo me ensinou a tragar. Lembro que fiquei meio tonto, mas saí de lá e comprei um maço na padaria. Caí na mão do fornecedor por duas décadas; 20 cigarros por dia, às vezes mais.

Fiz o curso de Medicina fumando. Naquela época, começavam a aparecer os primeiros estudos sobre os efeitos do cigarro no organismo, mas a indústria tinha equipes de médicos encarregados de contestar sistematicamente qualquer pesquisa que ousasse demonstrar a ação prejudicial do fumo. Esses cientistas de aluguel negavam até que a nicotina provocasse dependência química, desqualificando o sofrimento da legião de fumantes que tentam largar e não conseguem.

Nos anos 1970, fui trabalhar no Hospital do Câncer de São Paulo. Nesse tempo, a literatura científica já havia deixado clara a relação entre o fumo e diversos tipos de câncer: de pulmão, esôfago, estômago, rim, bexiga e os tumores de cabeça e pescoço. Já se sabia até que, de cada três casos de câncer, pelo menos um era provocado pelo cigarro. Apesar do conhecimento teórico e da convivência diária com os doentes, continuei fumando.

Na irresponsabilidade que a dependência química traz, fumei na frente dos doentes a quem recomendava abandonar o cigarro. Fumei em ambientes fechados diante de pessoas de idade, mulheres grávidas e crianças pequenas. Como professor de cursinho, durante quase 20 anos, fumei nas salas de aula, induzindo muitos jovens a adquirir o vício. Quando me perguntavam: “Mas você é cancerologista e fuma?, eu ficava sem graça e dizia que iria parar. Só que esse dia nunca chegava. A droga quebra o caráter do dependente.

A nicotina é um alcalóide. Fumada, é absorvida rapidamente nos pulmões, vai para o coração e através do sangue arterial se espalha pelo corpo todo e atinge o cérebro. No sistema nervoso central, age em receptores ligados às sensações de prazer. Esses, uma vez estimulados, comunicam-se com os circuitos de neurônios responsáveis pelo comportamento associado à busca do prazer. De todas as drogas conhecidas, é a que mais dependência química provoca. Vicia mais do que álcool, cocaína e morfina. E vicia depressa: de cada dez adolescentes que experimentam o cigarro, quatro vezes, seis se tornam dependentes para o resto da vida.

A droga provoca crise de abstinência insuportável. Sem fumar, o dependente entra num quadro de ansiedade crescente, que só passa com uma tragada. Enquanto as demais drogas dão trégua de dias, ou pelo menos de muitas horas, ao usuário, as crises de abstinência da nicotina se sucedem em intervalos de minutos. Para evitá-las, o fumante precisa ter o maço ao alcance da mão; sem ele, parece que está faltando uma parte do corpo. Como o álcool dissolve a nicotina e favorece sua excreção por aumentar a diurese, quando o fumante bebe, as crises de abstinência se repetem em intervalos tão curtos que ele mal acaba de fumar um, já acende outro.

Em 30 anos de profissão, assisti às mais humilhantes demonstrações do domínio que a nicotina exerce sobre o usuário. O doente tem um infarto do miocárdio, passa três dias na UTI entre a vida e a morte e não pára de fumar, mesmo que as pessoas mais queridas implorem. Sofre um derrame cerebral, sai pela rua de bengala arrastando a perna paralisada, mas com o cigarro na boca. Na vizinhança do Hospital do Câncer, cansei de ver doentes que perderam a laringe por câncer, levantarem a toalhinha que cobre o orifício respiratório aberto no pescoço, aspirarem e soltarem a fumaça por ali.

Existe uma doença, exclusiva de fumantes, chamada tromboangeíte obliterante, que obstrui as artérias das extremidades e provoca necrose dos tecidos. O doente perde os dedos do pé, a perna, uma coxa, depois a outra, e fica ali na cama, aquele toco de gente, pedindo um cigarrinho pelo amor de Deus.

Mais de 95% dos usuários de nicotina começaram a fumar antes dos 25 anos, a faixa etária mais vulnerável às adições. A imensa maioria comprará um maço por dia pelo resto de suas vidas, compulsivamente. Atrás desse lucro cativo, os fabricantes de cigarro investem fortunas na promoção do fumo para jovens: imagens de homens de sucesso, mulheres maravilhosas, esportes radicais e a ânsia de liberdade. Depois, com ar de deboche, vêm a público de terno e gravata dizer que não têm culpa se tantos adolescentes decidem fumar.

O fumo é o mais grave problema de saúde pública no Brasil. Assim como não admitimos que os comerciantes de maconha, crack ou heroína façam propaganda para os nossos filhos na TV, todas as formas de publicidade do cigarro deveriam ser proibidas terminantemente. Para os desobedientes, cadeia.

(Drauzio Varella, In: Folha de S. Paulo, 20.05.2000)

a) Dr. Varella inicia seu texto apresentando-se como um “ex-dependente da nicotina”. Por que faz isso? Qual é a sua intenção com essa apresentação inicial?

b) O fato de se apresentar como médico apenas depois de ter se apresentado como ex-fumante é importante para a argumentação que ele constrói em seu texto? Por quê?

c) Qual é a relação que o médico estabelece, em seu texto, entre a propaganda tabagista e a juventude?

d) Qual é o ponto de vista defendido a respeito da proibição da propaganda de cigarros?

e) Quais os argumentos utilizados pelo autor para defender seu ponto de vista e como se classificam?

f) Você considera o texto convincente ou persuasivo – ou ambos? Por quê?

g) Identifique no texto as formas narrativas, descritivas, dissertativas e de definição presentes no texto.

5. Desenvolva os tópicos frasais de um dos itens abaixo:

a) A programação das emissoras de televisão contribue para o aumento da violência nas ruas.

b) Muitos acontecimentos danosos em nossas vidas podem contribuir para o nosso crescimento enquanto ser humano.

c) A partir de 85 decibéis, o som agride as células auditivas; quando isso ocorre com certa freqüência ou por tempo prolongado, a pessoa começa a sentir dificuldades para perceber, primeiro, sons médios, depois os mais agudos e os mais graves.

(Rev. Superinteressante, no.1, 1988)

d) Viver é mesmo uma ginástica.

(Rev. Superinteressante, no.2, 1988)

6. Baseando-se na proposta a seguir, elabore o tópico frasal. Depois, desenvolva um parágrafo dissertativo continuando a idéia central.

a) Proposta: As diferenças sociais no Brasil.

Tópico frasal (roteiro):

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Desenvolvimento (enumeração):

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

b) Proposta: A falta de diálogo entre pais e filhos.

Tópico frasal (tese):

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Desenvolvimento (confronto):

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. Escreva uma introdução-roteiro para o seguinte texto:

As enormes geleiras que fluem do interior da Groenlândia para o mar vêm aumentando seu escoamento. Nos últimos anos, a água transportada por elas para o oceano seria suficiente para criar uma inundação superior a 3 metros de altura numa área correspondente ao estado de Alagoas e o Distrito Federal juntos. Quando se mede a massa, velocidade ou volume das geleiras, pode-se detectar uma aceleração de seu movimento. De fato, as últimas medições de gravidade mostram que as geleiras perderam aproximadamente 101 bilhões de toneladas de gelo anualmente entre 2003 e 2005, de acordo com um artigo publicado online pela revista Science.

8. Baseando-se nas exposições teóricas sobre desenvolvimento do texto dissertativo e conclusão, faça o que se pede.

a) Elabore um texto sobre o trabalho escravo, usando: dados estatísticos e conclusão-solução.

b) Elabore um texto sobre violência nos estádios, usando: exemplificação e conclusão-síntese.

c) Elabore um texto sobre intolerância das religiões, usando: enumeração e conclusão-surpresa.

PRESSUPOSIÇÃO E INFERÊNCIA

(Fonte: XAVIER, Antônio C. dos Santos. Como se faz um texto. A construção da dissertação-argumentativa. Campinas: ed. do Autor, 2001, p. 19-24 e 35-37)

A pressuposição é “a informação não expressa no enunciado que deve ser aceita indiscutivelmente como verdadeira pelo leitor, para que haja continuidade na leitura ou na discussão de um tema”.

Exemplo 1: As Universidades pararam de pesquisar por falta de verbas.

Para dar prosseguimento à leitura, o leitor deve aceitar como verdadeiro o pressuposto: as universidades pesquisavam antes.

Exemplo 2: As Universidades não pararam de pesquisar por falta de verbas.

Mesmo com o enunciado negado, o pressuposto está garantido, ou seja: as universidades pesquisavam antes.

A inferência “é um processo de raciocínio através do qual se estabelece uma relação não explícita entre dois enunciados e deles se chega a uma conclusão. É um dos tipos de raciocínio mais utilizados no processo interpretação, já que o texto, por ser um mecanismo de economia lingüística, não pode nem deve dizer tudo. Como disse o escritor italiano Umberto Eco, o texto é uma ‘máquina preguiçosa’ e, por isso, sempre há lacunas a serem preenchidas pelos leitores com seu conhecimento de mundo e sua capacidade de inferir”.

Exemplo: Apesar das severas leis brasileiras contra manifestações de preconceito, ele continua ocorrendo de forma velada.

Inferências possíveis:

1. Há preconceito no Brasil;

2. Há leis brasileiras que punem manifestações de preconceito;

3. As leis não são suficientes para acabar com o preconceito velado;

4. Para eliminar totalmente o preconceito, devem-se criar maneiras de punir também o preconceito velado (inferência possível, mas não necessária).

EXERCÍCIOS

1) Quais os pressupostos possíveis para as seguintes sentenças?

a) As universidades públicas ainda são as melhores do país, segundo o último Provão.

b) As universidades públicas continuam as melhores do país, segundo o último Provão.

c) Você tem relógio?

d) O que você vai fazer hoje à noite?

e) “Há cerca de 30 ou 40 anos, as melhores escolas de nível médio eram as públicas, onde estudavam ricos e pobres. Preparados da mesma maneira, todos tinham possibilidades de ingressar no ensino superior”.

f) “... isso está na Constituição brasileira”.

2) Qual a diferença entre as duas sentenças abaixo?

a) As universidades, que só querem garantir faturamento, não fazem pesquisa.

b) As universidades que só querem garantir faturamento não fazem pesquisa.

3) Aponte algumas possíveis inferências nos textos abaixo:

a) “Da ‘salvação’ que o Cristianismo supostamente representaria, impulsionando cruzadas e jesuítas, à liberdade de culto e à, ao menos teórica, demarcação de terras indígenas, esboçou-se a decência”.

b) “Descobriu-se a importância da diferença e ministrou-se a redução dos degraus da injustiça. Entretanto, não se sabe, ainda, viver sem tal escada”.

c) “O repúdio aos bárbaros, bem como o escárnio aos mouros ‘infiéis’ são a gênese dos sentimentos que hoje explodem em skinheads, com promessas de morte a negros, judeus, homossexuais e outras minorias”.

d) “... do mercantilismo ao capitalismo neoliberalista constitui-se a necessidade da pobreza para untar a fôrma que se criou para o lucro”.

UNIDADE 5

TEXTOS JORNALÍSTICOS

Os textos jornalísticos são, com freqüência, expositivos, ou seja, apresentam fatos e suas circunstâncias, com análise de causas e efeitos, de forma aparentemente neutra ou não. Em geral, as redações recomendam que as idéias sejam apresentadas de forma clara e objetiva.

Para a publicação de uma notícia, leva-se em conta: proximidade do fato, impacto proeminência, aventura, conflito, conseqüência, humor, raridade, sexo, idade, interesse pessoal humano, importância, utilidade, oportunidade, suspense, originalidade, repercussão. Na divulgação do fato noticioso, é necessário reconhecer três aspectos: a informação, a interpretação e a opinião. Freqüentemente, a informação baseia-se no quê, a interpretação no porquê, e a opinião apóia-se em juízos de valor.

Geralmente, respondem-se às seguintes perguntas: quem, o quê, onde, quando, como, por quê.

Nota

Notícia que se caracteriza pela brevidade do texto. Pequena notícia que se destina à informação rápida.

MÃE MATA GATO DAS FILHAS NA MÁQUINA DE LAVAR

Duas garotas inglesas, uma de cinco anos e outra de 15, foram obrigadas a assistir na Quarta-feira 7 à morte de seu gato de estimação. O bichano chamava-se Fluffy e morreu dentro de uma máquina de lavar roupas – em funcionamento. Quem fez essa crueldade com o animal, e com as meninas, foi nada mais nada menos que a própria mãe delas, Holly Thacker: “Eu quis puni-las porque elas andam desobedientes”. Fluffy levou dez minutos para morrer e as filhas não podiam, sequer fechar os olhos. Holly poderá ser condenada à prisão pela Justiça da Inglaterra.

Revista IstoÉ, 1874-14/9/2005, p. 23

Responda: Quem? O quê? Onde? Quando? Como? Por quê?

Notícia

Deve ser recente, inédita, ligada à realidade, objetiva, de interesse público, os fatos relatados devem estar próximos do público, provocar impacto, ter interesse pessoal e humano, ser relevantes para a sociedade, ser originais.

MODELO RELATA ATAQUE DE GAROTOS

Cláudia seguia para o Anhembi, quando ficou presa no trânsito e foi assaltada por menores

Cláudia tem 21 anos. Modelo de uma das mais importantes agências do país, ela foi vítima de um assalto semana passada, na Avenida Prestes Maia, quando seguia para o Anhembi, para trabalhar num estande da Fenasoft. “Precisei tomar calmante e até hoje não me esqueço do que aconteceu.”

Ao contrário do que normalmente faz, Cláudia tinha baixado o vidro da porta do seu Uno naquele dia, depois de demorar mais de 20 minutos para atravessar o túnel do Anhangabaú. Na saída do túnel, um rapaz de 16 anos encostou e começou a oferecer barras de chocolate. Em seguida chegou um garoto, de cerca de 14 anos, com um pano cobrindo a mão. “O rapaz do chocolate ficou bem perto da janela e o outro mostrou um vidro pontudo e comprido e mandou entregar o dinheiro e o relógio pois iria me cortar.”

Cláudia, nervosa, não conseguia pegar a carteira na bolsa. “As pessoas nos carros por perto não se importavam e o garoto do chocolate começou a instigar o outro, dizendo para cortar o meu rosto e espetar o vidro no meu pescoço.” Quando ela conseguiu pegar a carteira, o garoto mais jovem pegou o dinheiro, atirou os documentos no banco de trás, e o outro tirou o relógio.

Cláudia contou o que ocorrera a um marronzinho da Companhia de Engenharia de Tráfego parado na Prestes Maia, antes da Senador Queirós, “disse que todos os dias acontecem assaltos ali e a polícia não dá a mínima.” Com medo de represálias, ela não apresentou queixa à polícia e pediu para que seu sobrenome não seja revelado. (R.L.)

(Estado de São Paulo, 26/7/95.)

Responda:

a) Quem; b) O quê; c) Onde; d) Quando; e) Como; f) Por quê;

g) Observe a data da publicação e o nome do veículo: o que é a sigla R.L.?;

h) Como se chama e qual a função do parágrafo logo abaixo do título?

Reportagem

Enquanto a notícia sintetiza o fato e pode ser ou não ampliada, a reportagem trata de assuntos não necessariamente relacionados a fatos novos. Na reportagem, busca-se certo conhecimento do mundo, o que inclui investigação e interpretação. A reportagem exige conhecimento de antecedentes, adição de minúcias complementares à notícia e adequação da linguagem ao leitor. Exemplo:

SAÚDE ADIA DECISÃO SOBRE LIBERAÇÃO DA MACONHA PARA USO MEDICINAL

Da Sucursal de Brasília e da Reportagem Local

Os Ministérios da Saúde e da Justiça vão consultar os oncologistas – médicos que tratam de câncer – antes de decidir sobre a liberação de uma das substâncias ativas da maconha, o THC (o tetrahidrocanabinol), para uso terapêutico.

O secretário nacional de Vigilância Sanitária, Elisaldo Carlini, disse ontem, em Brasília, em um simpósio sobre o tema, que consulta aos médicos será em outubro, durante congresso de oncologia que ocorre em Belo Horizonte.

O ministro Adib Jatene, da Saúde, poderia liberar a substância com uma portaria, mas preferiu esperar. “Queremos antes que o assunto seja discutido pela sociedade”, disse, na abertura do simpósio.

Não está em discussão a liberação de cigarros de maconha. O THC só será consumido dentro de hospitais, em cápsulas, por quem faz quimioterapia contra câncer. O único efeito terapêutico do THC comprovado pela ciência é eliminar vômitos e náuseas, efeitos colaterais da quimioterapia. Há outros usos em estudo em vários países, como o glaucoma, epilepsia, certas doenças neurológicas e espasmos. A bibliografia da homeopatia menciona várias utilidades da maconha.

Carlini é a favor de que o THC seja autorizado para o uso médico. “É uma posição pessoal. Não há posição oficial do ministério.”

O reconhecimento da utilidade terapêutica do THC pela Organização Mundial de Saúde, em 91, foi acatado pelas Nações Unidas, com o voto do Brasil.

O oncologista Rene Gansl disse que, quando o THC foi liberado nos EUA, no início dos anos 80, “era competitivo, mas hoje há drogas mais eficazes e com menos efeitos adversos, como o Plasil”. Ele admite que o THC poderia beneficiar pacientes em alguns casos. “Mas, antes, o THC era útil em 30% dos casos; hoje, para menos de 1%. Acho que não se justifica a liberação”, disse.

Em São Paulo, Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital da Clínicas, defendeu a liberação do THC. “Ele não leva à dependência física e pode beneficiar muitos doentes. O THC pode e deve ser vendido sob rigoroso controle.”

O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, do Proad – Centro de Prevenção e Estudos da Escola Paulista de Medicina – defendeu a liberação para uso terapêutico. “Estudos nos EUA mostram que 90% dos que fumam maconha não ficam dependentes”, afirma. “Controlado, o THC traria benefícios, não riscos.”

Arthur Guerra , que coordena o Grea - Grupo de Estudos em Álcool e Drogas do HC -, não concorda. “A discussão é uma jogada em marketing para a liberação da droga”, disse.

(Aureliano Biancarelli e Paulo Silva Pinto, Folha de S. Paulo, [s.d.])

Responda:

a) Quem; b) O quê; c) Onde; d) Quando; e) Como; f) Por quê?

g) Qual a diferença entre esta reportagem e a notícia lida acima?

h) Onde foi produzida a reportagem?

Artigo

Tipo de texto em que prevalece uma opinião pessoal baseada em análise da situação ou dos fatos. Se consistente, apresenta naturalidade, densidade e concisão. Em geral, o artigo procura explicar um fato, e sua motivação apóia-se no desejo do jornalista em informar, ou interpretar, ou convencer/persuadir. O artigo, como opinião pessoal, vem assinado pelo autor.

FILHOS DE ESTIMAÇÃO

Li em algum lugar que uma entidade protetora de animais está oferecendo cães e gatos abandonados a pessoas de bom coração que queiram adotá-los. Os animais passaram por veterinários, estão ótimos de saúde, não oferecem perigo. Por que foram atirados à rua? Quem sabe, porque as pessoas enjoam dos bichos quando eles crescem. Ou porque o bicho dá trabalho. Não sei, porém, se vocês repararam que os cachorros e gatos vagabundos estão diminuindo nas ruas. Era comum antes topar com dezenas de vira-latas perambulando pelas calçadas, cheiriscando muros e latas de lixo. Agora pouca gente usa lata para guardar lixo. O próprio lixo emagreceu, não tem mais a atração da fartura de desperdício de tempos atrás. Inflação, custo de vida, essas coisas. A captura municipal se aprimorou. A campanha de prevenção da raiva alertou os donos dos bichos. E os automóveis não perdoam cachorro e gato distraído.

Para substituir esses animaizinhos desvalidos surgem novos bandos de crianças desgarradas em São Paulo. Se antes uma criança pedindo esmola chamava nossa atenção, hoje nós a olhamos com naturalidade e indiferença. Dar ou recusar uma esmola, uma moeda, tornou-se um gesto maquinal.

Suponho que o destino desses guris está selado: eles acabarão na cadeia. Ou nos encostarão contra a parede, a qualquer momento, o revólver em nosso peito.

É possível que amanhã, com outro governo, o Brasil não seja um grande exportador de armas, mas passe a ser conhecido no mundo como um país de brio que deu às crianças esquálidas e tristes não direi diploma de doutor, isso seria um enorme milagre inútil. Mas uma oportunidade de trabalho, ao menos isso, com um pagamento que lhes permita, depois de aprender uma profissão prática, ganhar a vida com o coração limpo e honestidade. Podemos sonhar acordados.

(Lourenço Diaféria, Jornal da Tarde, 26/9/84.)

Responda:

a) A que fato se remete o articulista?

b) Com que compara seu objeto de análise?

c) Qual a intenção dessa comparação?

d) Qual a mensagem expressada pelo texto?

Editorial

Texto jornalístico que analisa um assunto de forma valorativa, a partir do ponto de vista da empresa jornalística. Há certo dogmatismo em todo editorial que, em conseqüência, é marcado pela adjetivação, por juízos de ponderação, reclamação ou indignação. O texto não é assinado, pois reflete a opinião do veículo de comunicação.

O lixo, sua coleta e destinação final, transforma-se a cada dia em São Paulo num problema que tem atormentado tanto as autoridades como a população em geral. A produção de lixo numa sociedade de consumo indisciplinada como a nossa, é cada vez mais farta e constante. Não nos incomodamos quando adquirimos produtos em embalagens descartáveis; mesmo sabendo que essas embalagens possivelmente irão fazer parte de nossa paisagem; não nos constrangemos em usar e desperdiçar papel, plástico e vidro, numa quantidade cada vez maior, mesmo sabendo do prejuízo que causamos à natureza com essa atitude.

Caso não criemos novas destinações para o lixo urbano e não modifiquemos nossos hábitos de consumo e nossas atitudes frente ao problema do lixo, teremos dentro de bem pouco tempo uma situação verdadeiramente caótica na Grande São Paulo.

Cada paulistano produz diariamente um quilo de lixo, que na sua totalidade transforma-se em uma montanha de 12 mil toneladas, o que é, convenhamos, um grande obstáculo para qualquer administrador público.

Essa quantidade monumental de lixo precisa ser recolhida e despejada em algum lugar, longe de nossas vistas e de nossa saúde. E não é com um passe de mágica que vamos fazer desaparecer essas toneladas diárias de entulho sujo e malcheiroso.

A um custo altíssimo para os cofres públicos e para nossos bolsos de contribuinte, grande parte dessa sujeira é destinada a aterros sanitários, usinas de compostagem e usinas de incineração. Somente uma parcela muito pequena - apenas 10 toneladas diárias é recolhida como "lixo-limpo", passível de ser reciclado.

O reciclamento desse lixo limpo, que é constituído de metal, vidro, plástico e papel, se não representa uma solução definitiva para o problema do lixo urbano, é, no entanto, o melhor caminho para uma mudança de comportamento da população.

(Folha de São Paulo, s.d.)

Responda:

1) Qual o tema do editorial?

2) Qual o tema delimitado?

3) Qual é a opinião do jornal sobre o tema?

4) Segundo o texto a afirmação MAIS correta sobre o lixo em São Paulo é:

a) nossa sociedade de consumo produz farta e constante quantidade de embalagens recicláveis;

b) além de muito cara, a reciclagem do lixo urbano não é lucrativa para as autoridades;

c) no lixo das cidades há muita matéria aproveitável que em grande parte é desperdiçada;

d) as autoridades públicas enfrentam sérios problemas com o recolhimento do "lixo limpo" nas grandes cidades;

e) a quantidade monumental de dejetos que se encontra no lixo urbano não pode ser incinerada.

De acordo com o texto pode-se afirmar sobre o lixo de São Paulo que:

a) não é totalmente reciclado, pois seu custo é muito alto para o bolso do contribuinte;

b) é todo incinerado e depois reciclado, apesar do desperdício que isso representa;

c) apenas uma parcela muito pequena é incinerada;

d) apenas uma parcela muito pequena é reciclada;

e) todo o lixo recolhido é incinerado.

Carta do leitor

Neste tipo de texto jornalístico, é o receptor – o leitor do jornal, da revista – quem se manifesta e dá sua opinião sobre qualquer fato anunciado ou comentado pelo veículo de comunicação. Comentando o noticiário relativo às manifestações da juventude no período em que se discutia a possibilidade de impeachment do Presidente Collor, o Sr. E. B. M enviou ao jornal Folha de S. Paulo a seguinte carta:

É irritante ler, nas últimas semanas, a cobertura das manifestações contra o poder central por parte da “juventude”. Excluindo qualquer juízo de valor sobre o processo, o que se deve ter como verdade é que é extremamente fantasioso se admitir que a nossa juventude tenha toda essa capacidade de percepção. É notória a cretinice da juventude brasileira. O “zeitgeist”, o espírito da época, submerge a atual geração num mar de hedonismo e irresponsabilidade. É lindo fazer revolução com tênis Reebok e jeans Forum. O que eu gostaria de ver, mesmo, é como essa juventude vagabunda, indolente e indisciplinada como a brasileira se comportaria diante de um grupo de choque, como nos confrontos que ocorreram em Seul.

(E.B.M., Painel do Leitor, Folha de S. Paulo, 1/09/92).

A leitura atenta da carta do Sr. E.B.M. permite identificar algumas de suas opiniões sobre os jovens, expressas mais ou menos diretamente.

Crônica

Tipo de texto jornalístico que se caracteriza particularmente pelo estilo descontraído que a faz situar entre o jornalismo e a literatura. De um lado, o jornalista interessa-se pela atualidade da informação (o termo crônica provém de cronos, que significa tempo); de outro, tem em vista superar a fugacidade da notícia e, portanto, ultrapassar os fatos. Tradicionalmente, crônica é relato de fatos dispostos em ordem cronológica.

Tipos de crônica

As crônicas podem ser didaticamente classificadas em narrativas, descritivas, narrativo-descritivas, líricas, metalingüísticas, reflexivas e críticas. Apesar dessa classificação, as crônicas são geralmente híbridas (mescla de modalidade), não prescindindo da reflexão e do comentário. Leia a seguir a definição de cada tipo de crônica:

a) Crônica descritiva: predomina a caracterização de elementos no espaço. Utiliza-se dos cinco sentidos, adjetivação abundante e linguagem metafórica.

b) Crônica narrativa: predomina uma história envolvendo personagens e ações (enredo) que transcorrem no tempo.

c) Crônica narrativo-descritiva: predomina a narração, e os trechos descritivos caracterizam o cenário e os personagens.

d) Crônica lírica: apresenta linguagem poética e metafórica, predominando a emoção e os sentimentos.

e) Crônica metalingüística: é a crônica que fala sobre o próprio ato de escrever, o fazer literário, o ato de criação.

f) Crônica reflexiva: o autor tece reflexões filosóficas, isto é, analisa subjetivamente os mais variados assuntos e situações.

Veja um exemplo:

QUEM ESCREVE AS BULAS?

Mário Prata

Quando me perguntam a profissão e eu digo que sou escritor, logo vem outra em cima: de quê? De tudo minha senhora. De tudo, menos de bula. Romance, cinema, teatro, televisão, poesia, ensaios, tudo-tudo, menos bula!

Não que eu não aprecie as bulas. Pelo contrário. Adoro lê-las. E com atenção. E, sempre, depois de ler uma, já começo a sentir todas as reações adversas.

Admiro, invejo esse colega que escreve bulas. Fico imaginando a cara dele, como deve ser a sua casa. Que papo tal escrivão deve levar com a mulher e com os vizinhos?

Tal remédio é contra-indicado a pacientes sensíveis às benzodiazepinas e em pacientes portadores de miastenia gravis (sic). Dá vontade de telefonar para o autor e perguntar como é que eu vou saber se sou sensível e portador.

Quanto ele ganha por bula? Será que leva os obrigatórios 10 por cento de direitos autorais? Merecem, são gênios.

Jamais, numa peça de teatro, num roteiro de filme ou mesmo numa simples crônica, conseguiria a concisão seguinte: é apresentado sob forma de uma solução isotônica (que lindo!) de cloreto de sódio, que não altera a fisiologia das células da mucosa nasal, em associação com cloreto de benzalcônio. Sabe o que é? O velho e inocente Rinossoro.

Vejam o texto seguinte e sintam na narrativa como o autor é sádico: você poderá ter sonolência, fadiga transitória, sensação de inquietação, aumento de apetite, confusão acompanhada de desorientação e alucinações, estado de ansiedade, agitação, distúrbios do sono, mania, hipomania (?), agressividade, déficit de memória, bocejos, despersonalização, insônia, pesadelos, agravamento da depressão e concentração deficiente. Vertigens, delírios, tremores, distúrbios da fala, convulsões e ataxia. Pronto, tenho que ir ao dicionário ver o que é ataxia, já sentindo tudo isso descrito acima.

Quem mandou ler?

E quem tem úlcera pélvica não pode tomar remédio nenhum. Está condenado à morte. Toda bula odeia tal úlcera pélvica. As demais úlceras entram como coadjuvantes nos textos dos autores buláticos (tem a palavra no Aurélio).

E as gestantes (é como os buláticos chamam a grávida)? Elas não podem tomar nenhum remédio. Os nobres coleguinhas odeiam a gravidez. E, se você tem intolerância conhecida aos derivados pirazolônicos, te cuida, irmão. Deve dar em gente nascida em Pirassununga e região.

Para todo remédio uma bula diferente, um estilo próprio, um jeito de colocar a vírgula diferente.

Tudo isso para dizer que outro dia, na cama, com a parceira amada, pego uma camisinha na mesinha e abro. Sabe o que estava escrito lá dentro? Parabéns! Você adquiriu o mais avançado e seguro preservativo do mercado brasileiro. Era uma bula. Escrita por algum tarado sacana, é claro, dentro da camisinha. Claro que me entusiasmei e segui a leitura deixando a amada de lado. Broxei, é claro. Mas fiquei sabendo que o agente espermicida monoxinol 9 é contra as DSTs.

Depois dessa informação, aí, sim, voltei para a alcova. Mas e a amada, onde estava?

E lembre-se sempre: todo medicamento deve ser mantido fora do alcance das crianças. E não tome remédio sem o conhecimento do seu médico. Pode ser perigoso para a sua saúde.

E pra cabeça!

1. Que característica de estilo pode-se perceber nesta crônica?

2. É um assunto atual?

3. Por que o texto difere de uma notícia?

4. Que tipo de crônica foi lida?

Cartum, charge, tira, história em quadrinhos

Cartum (do inglês cartoon) - "Desenho caricatural que apresenta uma situação humorística, utilizando, ou não, legendas." (Aurélio). Retrata de forma sintética algo que envolve o cotidiano de uma sociedade.

Charge - Representação pictórica, de caráter burlesco e caricatural, em que se satiriza um fato específico, em geral de caráter político e que é do conhecimento público.

Tira - Segmento de uma história em quadrinhos, usualmente constituído de uma única faixa horizontal, contendo três ou quatro quadros.

História em quadrinhos - Arte de narrar uma história através de seqüência de desenhos e legendas dispostos em quadros.

Veja um exemplo de tirinha de jornal. Analise-a.

[pic]

Além desses textos, existem, nos veículos jornalísticos, muitos outros tipos, tais como: entrevista (divulga-se informações sobre o entrevistado, na forma de perguntas e respostas), anúncios publicitários ou institucionais, classificados (anúncios e diversão), horóscopo, Palavras Cruzadas, Sudoku, etc.

EXERCÍCIOS

1. Leia o texto a seguir e responda às questões:

A ÚLTIMA CRÔNICA

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu queria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se numa das mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidades ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão num pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples amarelo escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de coca-cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa a um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a coca-cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais juntam, discretos: “ parabéns pra você, parabéns pra você...” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

(SABINO, Fernando. A companheira de viagem. 10 ed. Rio de Janeiro: Record, p. 169-171.)

a) Como texto jornalístico, como se classifica A última crônica?

b) Dentro desta classificação, qual é o subtipo desse texto de F. Sabino?

c) Qual o motivo de o narrador usar várias expressões no diminutivo?

d) Qual o problema que o narrador enfrenta, logo no início de seu texto?

e) Existe algum preconceito do narrador em relação à família? Justifique.

g) Explique a reação do narrador e do pai no fim do texto.

2. Identifique os tipos de textos jornalísticos abaixo:

1) Todos ficam sempre atentos quando se fala de mais um casamento de Elizabeth Taylor. Casadoura inveterada, a atriz já está em seu oitavo casamento. Agora, diferentemente das vezes anteriores, seu foi com um homem do povo que ela encontrou numa clínica para tratamento de alcoólatras, onde ela também estava. Com toda pompa, o casamento foi realizado na casa do cantor Michael Jackson, e a imprensa ficou proibida de assistir ao evento. Ninguém sabe se será seu último casamento.

a) Quem; b) O quê; c) Onde; d) Quando; e) Como; f) Por quê?

2) EUTANÁSIA

E se o “pai” de Jheck de Oliveira, Jeson de Oliveira, estivesse no lugar do filho, gostaria que fosse desligada a aparelhagem que, bem ou mal, o manteria vivo? À parte toda convicção religiosa, basta um pouco de raciocínio no que se refere à vida. não sendo o homem o seu autor, também não lhe cabe cortá-la.

(MARS, Olinda-PE, IstoÉ, 1874-14/9/2005)

a) Quem; b) O quê; c) Onde; d) Quando; e) Como; f) Por quê? g) É possível responder a todas as perguntas?

3) “NÃO DOU ESMOLA NEM PARA MULHER GRÁVIDA”

Ao parar seu Fiat Tipo no semáforo da esquina da Avenida Prestes Maia com a Rua São Caetano, a estudante de Direito Helena Miquelina, de 20 anos, foi abordada por um garoto de aproximadamente 14 anos. Ele limpou o pára-brisa do carro e Helena, moradora em Santana, deu- lhe R$ 1,00.

O garoto a chamou de “pão-dura”, tirou um punhal do cabo do limpador e disse para Helena entregar- lhe a carteira. “Achei que ele estava brincando”, contou a estudante no 2º Distrito Policial, no Bom Retiro. “Mas ele encostou a ponta do punhal no meu pescoço, tirou o dinheiro – cerca de R$ 100,00 – e depois jogou a carteira vazia no meu colo.”

Chocada com o assalto, a estudante não passou mais pela Prestes Maia. Sai de Santana, vai até a Ponte Casa Verde e depois pega a Avenida Rio Branco para chegar ao Centro. “Não abro mais o vidro do carro para ninguém”, diz Helena. “Depois da situação em que estive, não dou dinheiro nem para mulher grávida ou com criança pequena no colo.”

(Estado de São Paulo, 27/7/95.)

Responda: a) Quem; b) O quê; c) Onde; d) Quando; e) Como; f) Por quê

4) ESTUDO LEVA À CRIAÇÃO DE MINIFÍGADO

Cientistas britânicos anunciaram nesta terça-feira que conseguiram criar em laboratório um fígado humano em miniatura, medindo menos de três centímetros. O mini órgão, na verdade parte do tecido de um fígado normal, foi reproduzido artificialmente a partir de células-tronco de um cordão umbilical, por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Newcastle, Inglaterra.

Segundo os cientistas, o tecido poderá ser utilizado para testar drogas e produtos farmacêuticos, o que evitaria o emprego de cobaias humanas ou animais neste processo. Em algumas décadas, eles acreditam, será possível reproduzir um fígado de tamanho real, para ser usado em transplantes.

Os coordenadores da pesquisa, Nico Ferraz e Colin McGuckin, disseram que, em 10 ou 15 anos, a técnica que eles utilizaram poderá ser aplicada na recuperação de partes do fígado de pacientes doentes. O tecido foi criado com um chamado biorreator, equipamento desenvolvido pela Nasa para simular a ausência de gravidade. O efeito da falta de peso permite que as células se reproduzam a um ritmo mais acelerado.

O professor Ian Gilmore, especialista em fígados no Royal Liverpool Hospital, levantou também o aspecto ético do estudo. "Os pesquisadores conseguiram criar o fígado a partir do sangue colhido no cordão umbilical, sem precisar de embriões. Isso é um grande avanço ético", afirmou o professor à BBC.

No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido até que a ciência possa reproduzir um fígado inteiro. De acordo com Gilmore, "o fígado tem seu próprio fornecimento de sangue, seu próprio esqueleto fibroso, e os pesquisadores estão apenas produzindo células individuais de fígado. Mas qualquer coisa que dê esperança aos pacientes que aguardam um transplante, mesmo em um período de dez anos, é motivo para celebração", disse.

(Copyright © Editora Abril S.A. - todos os direitos reservados Fonte: Revista Veja On line . 31.10.2006)

Responda: a) Quem; b) O quê; c) Onde; d) Quando; e) Como; f) Por quê? g) Qual a diferença entre esta reportagem e a notícia lida acima? h) Qual o tema? i) Qual o tema delimitado?

5) MACONHA

A maconha (Cannabis sativa) foi provavelmente a primeira planta que o homem usou para fabricar fibras e também – a carne é fraca – para embriagar-se. Ao que tudo indica, ela surgiu no norte do Himalaia. Escritos antigos apontam que já em 2.800 a.C. os chineses a utilizavam. Há indícios de que a planta já era conhecida na Pré-História.

A erva rapidamente se popularizou. Na Índia é conhecida como “bhang”, “charas” ou “ghanga”; no Egito e Ásia Menor, haxixe; no norte da África é “kif”. O português “maconha” vem do quimbundo (língua banto africana) “ma’kaña” (erva santa).

A fértil imaginação dos brasileiros e africanos criou uma rica lista de sinônimos para designar essa variedade de cânhamo: liamba, aliamba, diamba, riamba, bagulho, benge, birra, dirígio, erva, fuminho, fumo, fumo-de-angola, mato, pango, soruna, manga-rosa, massa, tabanagira. Há o mais universal, marijuana.

Apesar de antigo, o hábito de embriagar-se com “Cannabis sativa” muitas vezes foi visto com maus olhos. Um grupo de cruzados europeus teve de enfrentar – com pouco sucesso, acredita-se – uma seita islâmica bastante valorosa em combate. Eram os “hashshsshin” (“bebedores de haxixe”). Atribuindo a ferocidade da seita à droga, os europeus retornaram em menor número à sua terra natal e trouxeram de quebra a palavra “assassino”.

A idéia do Ministério da Saúde de liberar o mais importante princípio ativo da Cannabis sativa, o tetrahidrocanabinol (THC), para uso medicinal – em que pese os resultados frustrantes do seminário de ontem – é mais do que oportuna.

Os próprios EUA, os inimigos número 1 do tráfico, já incluíram o THC em sua farmacopéia. A ONU, sobre recomendação da OMS, retirou o THC da lista 1 – a das drogas proscritas – para incluí-lo no rol dos medicamentos controlados.

A droga já revelou grande valor no combate às náuseas e vômitos dos pacientes de câncer submetidos a sessões de quimioterapia. Também está comprovada sua ação no tratamento de glaucoma. Estudos ainda inconclusivos indicam que o THC pode ter algum valor terapêutico para epilépticos.

Permitir que médicos recomendem a seus pacientes que procurem um traficante para obter uma droga que pode fazer bem à sua saúde ou melhorar a sua qualidade de vida é um contra-senso. A liberação do THC como substância médica controlada é um imperativo. A morfina, estupefaciente do grupo das opiáceas muito mais poderoso que o THC, circula pelos hospitais sem que isso se tenha transformado num problema de saúde pública.

Seria ridículo que falsos moralistas e a hipocrisia impedissem que uma droga que pode ajudar muitos seja comercializada legalmente.

(Folha de S. Paulo, s.d.)

6) Como se classifica a figura abaixo, quanto a texto jornalístico?

1) O texto abaixo chama-se, numa publicação jornalística “olho”. Geralmente, acompanha uma reportagem mais longa e vem à direita, no meio, à esquerda da página para ressaltar um ponto de vista, algo importante da matéria, etc. Leia o olho abaixo e responda:

a) Qual é o tema

da reportagem?

b) O texto apresenta

um ponto de vista

de quem?

c) Os argumentos

usados são convincentes?

Para quem?

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