Capacidades Dinâmicas: o que são e como identificá-las

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RAC, Rio de Janeiro, v. 18, Edi??o Especial, art. 3, pp. 41-64, Dezembro 2014



Capacidades Din?micas: O Que S?o e Como Identific?-las?

Dynamic Capabilities: What Are They and How to Identify Them?

Dim?ria Silva e Meirelles E-mail: dmeirelles@ Universidade Presbiteriana Mackenzie Rua da Consola??o, 896, Consola??o, 01302907, S?o Paulo, SP, Brasil. ?lvaro Ant?nio Bueno Camargo E-mail: camargo.alvaro@ EPCM Gest?o de Projetos e Com?rcio Ltda Av. Irai, 2189, 04082-006, S?o Paulo, SP, Brasil.

Artigo recebido em 30.01.2013. ?ltima vers?o recebida em 21.08.2014. Aprovado em 22.08.2014.

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Resumo

O fen?meno das capacidades din?micas nas organiza??es constitui um ramo de grande interesse para pesquisadores na ?rea de administra??o, em campos diversos do conhecimento, desde gerenciamento estrat?gico, empreendedorismo, marketing, gest?o de recursos humanos, gest?o de opera??es, at? sistema de informa??o. A partir da a proposta original de Teece, Pisano e Shuen (1997), v?rios t?m sido os esfor?os te?ricos no sentido de desenvolver o conceito de capacidades din?micas. Todavia, ao realizar um levantamento desses esfor?os, constatase uma mir?ade de defini??es, algumas at? bastante semelhantes, e, principalmente, notam-se fortes controv?rsias sobre os condicionantes e os elementos componentes das capacidades din?micas. Verifica-se que a evolu??o do entendimento do que ? capacidade din?mica est? associada a dois aspectos fundamentais: elementos componentes e mecanismos pelos quais a empresa desenvolve capacidades din?micas. O artigo prop?e um modelo integrador das v?rias defini??es apresentadas pelos autores pesquisados em que os elementos determinantes da exist?ncia de capacidades din?micas incluem o conjunto de comportamentos, habilidades, rotinas, processos e mecanismos de aprendizagem e governan?a do conhecimento, voltados para a mudan?a e a inova??o. Esses elementos s?o desenvolvidos ao longo da trajet?ria organizacional, num processo cumulativo de conhecimento e aprendizagem.

Palavras chave: capacidades din?micas; compet?ncias; habilidades; rotinas; processos.

Abstract

The phenomenon of dynamic capabilities in organizations is of great interest to researchers in various fields of knowledge in the area of administration, including strategic management, entrepreneurship, marketing, human resource management, operations management, and even information systems. Since Teece, Pisano and Shuen's (1997) original proposal, several theorists have made efforts at developing the dynamic capabilities concept. However, analysis of these efforts shows that there is a myriad of definitions, some quite similar, and there is definite controversy about the conditioning elements and components of dynamic capabilities. Note that the evolution of understanding of what is dynamic capability is associated with two main aspects: components and mechanisms by which a company develops dynamic capabilities. This article proposes an integrative model of the various definitions given by the authors surveyed, in which the determinants of the existence of dynamic capabilities include the set of behaviors, skills, routines, processes and governance mechanisms of learning and knowledge focused on change and innovation. These elements are developed along an organizational trajectory, through a cumulative process of knowledge and learning.

Key words: dynamic capabilities; competences; skills; routines; processes

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Capacidades Din?micas

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Introdu??o

O estudo das capacidades din?micas constitui um ramo afluente nas atividades de pesquisa em administra??o. De acordo com levantamentos bibliom?tricos recentes (Barreto, 2010; Stefano, Peteraf, & Verona, 2010; Vogel & Gutel, 2013), houve um r?pido crescimento dessa literatura nos ?ltimos cinco anos, em campos diversos do conhecimento, desde gerenciamento estrat?gico, empreendedorismo, marketing, recursos humanos, opera??es, at? sistema de informa??o. A import?ncia desse conceito reside no fato de que ele trata da capacidade adaptativa da firma frente ao dinamismo do ambiente, ou seja, como as organiza??es podem alcan?ar e sustentar vantagens competitivas em um ambiente em muta??o (Dosi, Nelson, & Winter, 2000; Nelson, 1991; Teece & Pisano, 1994; Teece, Pisano & Shuen, 1997).

Em termos pr?ticos, o tema capacidade din?mica ganha relev?ncia sobretudo em mercados cada vez mais globalizados e din?micos, em que a mudan?a tecnol?gica ? r?pida e sist?mica (Teece, 2007, 2009). Do ponto de vista t?orico, o tema emerge e ganha for?a na medida em que a manuten??o da vantagem competitiva em ambientes complexos e din?micos (Teece et al., 1997; Teece & Pisano, 1994) exige mais que apenas o desenvolvimento de recursos estrat?gicos e compet?ncias internas ? firma, tal como proposto pelos autores seminais no campo da Teoria Baseada em Recursos (em ingl?s, Resource Based View [RBV]), como Wernerfelt (1984), Grant (1991) e Barney (1986).

A abordagem de capacidade din?mica aponta a import?ncia de se incorporar o papel do dinamismo do ambiente ? determina??o da vantagem competitiva e, principalmente, o modo como as empresas reagem a esse dinamismo ao longo do tempo (Helfat & Peteraf, 2009), seja por meio de rotinas (Dosi, Failo, & Marengo, 2008; Winter, 2003; Zollo & Winter, 2002) e processos (Bygdas, 2006; Eisenhardt & Martin, 2000; Teece 2007) ou mesmos por outras capacidades (Collis, 1994; McKelvie & Davidson, 2009; Pavlou & El Sawy, 2011; Wang & Ahmed, 2007; Zahra, Sapienza, & Davidson, 2006) pelas quais a organiza??o alcan?a novas configura??es de recursos e capacidades (Ambrosini, Bowman, & Collier, 2009; Helfat & Peteraf, 2003, 2009; Helfat & Winter, 2011).

Desde a proposta original de Teece, Pisano e Shuen (1997), v?rios t?m sido os esfor?os te?ricos no sentido de desenvolver o conceito de capacidades din?micas. Todavia, ao realizar um levantamento desses esfor?os, nota-se uma mir?ade de defini??es, algumas bastante semelhantes, e, principalmente, observam-se fortes controv?rsias sobre os condicionantes (antecedentes) e elementos componentes das capacidades din?micas. Alguns autores concentram a an?lise de capacidades din?micas nos aspectos internos da firma. Para estes, a exist?ncia de capacidades din?micas est? relacionada com processos estrat?gicos e organizacionais (Eisenhardt & Martin, 2000), ou ainda com a habilidade da firma em desenvolver novas estrat?gias mais r?pido que os concorrentes por meio do reconhecimento de diferentes recursos de valor (Collis, 1994; Teece, 2007).

Outros autores associam a exist?ncia de capacidades din?micas ao dinamismo do ambiente, ou seja, a ambientes de muta??es r?pidas e constantes (Teece et al., 1997; Wang & Ahmed, 2007). H? alguns que focam no desenvolvimento das capacidades, isto ?, na trajet?ria de acumula??o de recursos e compet?ncias e nos mecanismos e dispositivos que configuram a exist?ncia de capacidades din?micas (Zollo & Winter, 2002). Existem empresas que integram, constroem e reconfiguram suas compet?ncias mesmo em ambientes pouco din?micos e com baixas taxas de mudan?a (Zollo & Winter, 2002). Nesse sentido, o importante, na fundamenta??o de capacidades din?micas, ? a exist?ncia de mecanismos rotineiros que permitam a reconfigura??o das capacidades das empresas, ou seja, o uso de mecanismos autom?ticos de mudan?as de capacidades (Winter, 2003).

Nota-se ainda que, para v?rios autores, as capacidades din?micas s?o resultado de uma combina??o de capacidades, ou seja, o construto capacidades din?micas seria definido a partir de uma hierarquia de capacidades mais simples e rotinas relacionadas (Andreeva & Chaika, 2006; Collis, 1994; Wang & Ahmed, 2007; Winter, 2003).

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Os v?rios recortes e perspectivas na abordagem de capacidades din?micas deram margem a uma s?rie de cr?ticas relacionadas, sobretudo, ao indeterminismo, ? tautologia e ? pr?pria incoer?ncia de determinados pressupostos (Arend & Bromiley, 2009). Al?m disso, por ser uma abordagem eminentemente interdisciplinar (Teece et al., 1997), o tema se confunde com v?rias outras teorias, principalmente aquelas relacionadas ? mudan?a organizacional, o que reduz o car?ter de novidade e ineditismo t?picos de uma nova abordagem (Arend & Bromiley, 2009).

Em fun??o do exposto, questiona-se, afinal, o que ? uma capacidade din?mica? Quais s?o seus elementos componentes? Como a firma desenvolve capacidades din?micas?

O objetivo deste artigo ? apresentar as respostas a essas quest?es a partir das v?rias contribui??es te?ricas j? desenvolvidas sobre o tema capacidades din?micas, notadamente a partir da an?lise das defini??es de capacidade din?mica, seus elementos componentes e os mecanismos pelos quais as empresas a desenvolvem.

O artigo est? estruturado a partir das respostas a essas quest?es, ou seja, o que s?o e como identificar as capacidades din?micas. S?o tr?s se??es, al?m desta introdu??o. Na se??o de revis?o bibliogr?fica s?o apresentadas inicialmente as v?rias defini??es e classifica??es de capacidades din?micas. Em seguida, s?o apresentados os elementos componentes das capacidades din?micas e os mecanismos pelo qual se operam essas capacidades. Ap?s a revis?o bibliogr?fica, ? proposta uma sistematiza??o dessas.

Revis?o Bibliogr?fica

A discuss?o conceitual de capacidades din?micas apresentada a seguir est? baseada em duas subse??es. Na primeira, busca-se responder a quest?o: o que s?o as capacidades din?micas? Nesse sentido, s?o apresentadas as v?rias defini??es e classifica??es de capacidades din?micas, buscando identificar as semelhan?as e os contrapontos entre elas. Na subse??o seguinte, busca-se responder a quest?o: como identificar as capacidades din?micas? Para isso, s?o apresentados os elementos componentes e os mecanismos de desenvolvimento das capacidades din?micas apontados nas v?rias propostas conceituais demonstradas.

Capacidades din?micas: o que s?o?

O termo Capacidades Din?micas ? uma tradu??o aproximada da express?o Dynamic Capabilities em ingl?s. A palavra capability significa a capacidade ou o poder de fazer algo por meio do uso de compet?ncias e habilidades (Oxford University Press, 2010). Uma m?quina pode ter certa capacidade de produ??o, mas n?o ter? a capacidade de produzir algo sem que seja operada por algu?m com compet?ncia e habilidades para tal. Por isso a palavra capability n?o deve ser confundida com o conceito de capacidade de produ??o. Uma ind?stria pode, por exemplo, ter certa capacidade instalada, mas n?o poder? produzir se n?o houver pessoas com habilidades e compet?ncias atuando num determinado contexto e fazendo uso de rotinas institucionalizadas na organiza??o.

Na defini??o inicial proposta por Teece et al. (1997, p. 516), a capacidade din?mica ? definida como a habilidade da firma em integrar, construir e reconfigurar compet?ncias externas e internas em ambientes de mudan?a r?pida. As compet?ncias s?o entendidas como o conjunto de rotinas e processos organizacionais (espec?ficos ? firma), cujo desempenho ? proporcionado pela posse de ativos espec?ficos (dif?ceis ou imposs?veis de imitar). A din?mica ? entendida como situa??es em que h? mudan?as r?pidas na tecnologia e for?as de mercado que exercem efeitos retroalimentadores na firma.

Essa defini??o inicial ? marcada por uma perspectiva fortemente multidisciplinar, que vai al?m dos limites tradicionais da ?rea de estrat?gia, incluindo autores de ?reas variadas, como inova??o e aprendizagem organizacional. De acordo com Teece et al. (1997), os autores de refer?ncia s?o:

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Schumpeter (1942), Penrose (1959/2006), Nelson e Winter (1982), Prahalad e Hamel (1990), Teece (1976, 1986, 1988), Hayes, Wheelwright e Clark (1988), Leonard-Barton (1992) Teece, Rumelt, Dosi e Winter (1994).

Conforme ressaltam Augier e Teece (2008), a estrutura conceitual de capacidades din?micas ? baseada na combina??o de elementos conceituais da vis?o baseada em recursos (Barney, 1986; Penrose, 1959/2006; Peteraf, 1993; Rumelt, 1984; Wernerfelt, 1984) e da vis?o neoschumpeteriana da firma (Nelson & Winter, 1982; Winter, 1964), nas quais se integram as ideias da din?mica de inova??o propostas por Schumpeter (1942) e as de rotinas e compet?ncias apresentadas pelos autores da teoria comportamental da firma (Cyert & March, 1963). De um lado, a for?a dos recursos estrat?gicos e compet?ncias na gera??o de um diferencial competitivo (Amit & Schoemaker, 1993; Barney & Hesterly, 2011; Grant, 1991; Wernerfelt, 1984). De outro, a evolu??o e a renova??o desses recursos e compet?ncias (Collis, 1994; Leonard-Barton, 1992) por meio de rotinas (Winter, 2003). Essa combina??o tem como prop?sito a compreens?o tanto da mudan?a tecnol?gica quanto da organizacional, a qual ? baseada em processos que s?o moldados tanto pela evolu??o do ambiente quanto do design organizacional. Neste sentido, a abordagem de capacidade din?mica ? vista como uma potencial integradora da vis?o de recursos e compet?ncias na compreens?o n?o s? da cria??o como tamb?m da sustenta??o da vantagem competitiva das empresas (Lin & Wu, 2014; Makadok, 2001; Wu, 2010).

De acordo com Teece et al. (1997), a abordagem de capacidades din?micas vai al?m das especificidades das capacidades da firma como fonte de vantagem competitiva. O foco est? no processo pelo qual a firma desenvolve e renova suas compet?ncias, processo este que ? condicionado tanto pelas escolhas passadas da pr?pria firma como pelo dinamismo do ambiente. Sob essa perspectiva, as capacidades din?micas s?o baseadas no trip?: processos (rotinas ou padr?es de pr?ticas correntes e aprendizado), posi??es (ativos, estrutura de governan?a, base de consumidores e rela??es externas com fornecedores e parceiros) e trajet?ria (hist?rico de decis?es e oportunidades tecnol?gicas e de mercado). Os processos organizacionais s?o moldados pela posi??o da firma em ativos e pela trajet?ria, a qual define alternativas estrat?gicas dispon?veis. Esses tr?s aspectos determinam a "ess?ncia da capacidade din?mica da firma e a sua vantagem competitiva, ou seja, determinam a sua compet?ncia" (Teece et al., 1997, p. 518).

Ap?s essa defini??o inicial, o conceito de capacidade din?mica evolui em bases variadas. Ao longo da evolu??o do tema, notam-se distintos recortes te?rico-anal?ticos, os quais resultam em diferentes concep??es do que s?o capacidades din?micas e em como identific?-las, ora marcadas pela ?nfase no car?ter homog?neo das capacidades (Eisenhardt & Martin, 2000), ora pelo car?ter deliberativo destas (Wang & Ahmed, 2007; Winter, 2003) e nos seus mecanismos de desenvolvimento (Salvato, 2009; Zollo & Winter, 2002). Embora haja relacionamento entre essas defini??es, ? comum cada autor enfatizar algum aspecto particular das capacidades din?micas (Tabela 1).

Tabela 1

Defini??es de Capacidade Din?mica

Autores Teece et al. (1997) Collis (1994) Eisenhardt e Martin (2000)

Defini??o

Habilidade da firma em integrar, construir e reconfigurar compet?ncias internamente e externamente, para endere?ar ambientes em r?pida mudan?a.

Capacidade em inovar mais rapidamente ou de forma melhor do que a concorr?ncia.

Processos da firma que usam recursos para corresponder ou criar mudan?as de mercado.

Continua

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Tabela 1 (continua??o)

Autores Zollo e Winter (2002)

Winter (2003) Andreeva e Chaika (2006) Helfat et al. (2007) Wang e Ahmed (2007)

Bygdas (2006)

Dosi et al. (2008) McKelvie e Davidson (2009)

Teece (2007, 2009)

Defini??o

Padr?o aprendido e est?vel de atividade coletiva, baseado em mecanismos de aprendizagem, por meio dos quais a organiza??o sistematicamente gera e modifica suas rotinas operacionais em busca de melhoria na efetividade.

Capacidades para operar, estender, modificar ou criar capacidades comuns.

Capacidades din?micas s?o aquelas que habilitam a organiza??o a renovar suas compet?ncias-chave conforme ocorrem mudan?as no ambiente operacional.

Capacidade de uma organiza??o criar, estender ou modificar sua base de recursos propositadamente.

Comportamento constantemente orientado a integrar, reconfigurar, renovar e recriar seus recursos e capacidades e melhorar e reconstruir as capacidadeschave em resposta ?s muta??es do ambiente, para atingir e sustentar a vantagem competitiva.

Processos de ativar estruturas distribu?das de conhecimento e redes fragmentadas de procedimentos e entendimentos soltos que desenvolvem pr?ticas mais eficientes que n?o s?o facilmente imit?veis.

Heur?sticas gerenciais e as ferramentas de diagn?sticos constituem o cerne das capacidades din?micas.

Capacidades din?micas como um feixe de outras capacidades (capacidades de gera??o de ideias; de introdu??o de rupturas no mercado; e capacidades de desenvolvimento de novos produtos, servi?os inovadores e novos processos).

Capacidade de sentir o contexto do ambiente; aproveitar oportunidades; gerenciar amea?as e transforma??es.

No artigo de Eisenhardt e Martin (2000), ao contr?rio do proposto inicialmente por Teece et al. (1997), a vantagem competitiva ? proporcionada pela configura??o de recursos e n?o pelas capacidades. A ?nfase no car?ter espec?fico das capacidades din?micas e no dinamismo do ambiente d? lugar a uma ?nfase no car?ter homog?neo das capacidades (a sua funcionalidade pode ser duplicada em v?rias firmas) e na sua varia??o, conforme o dinamismo do ambiente, n?o necessariamente empresas que atuam em ambientes din?micos possuem capacidades din?micas. S?o fundamentos das capacidades din?micas: a capacidade de criar mudan?as no mercado e a capacidade de rea??o ?s mudan?as externas.

Todavia, grande parte dos autores de capacidades din?micas enfatizam o diferencial competitivo. Um dos pioneiros a tratar o tema, Collis (1994) define capacidade din?mica como a capacidade da firma em inovar mais rapidamente ou de forma melhor do que a concorr?ncia. Numa perspectiva mais ampla, que inclui as mudan?as em geral, Andreeva e Chaika (2006) associam capacidades din?micas ?s habilidades da organiza??o em renovar suas compet?ncias-chave conforme ocorrem mudan?as no ambiente no qual a empresa opera.

Mas, na vis?o de alguns autores, n?o basta mudar e/ou inovar, ? preciso que a mudan?a seja sistem?tica e repetitiva, baseada em processos e ou rotinas (Eisenhardt & Martin, 2000; Winter, 2003; Zollo & Winter, 2002).

Segundo Winter (2003), para que uma capacidade possa ser considerada din?mica, a organiza??o deve ser capaz de us?-la de forma repetida e confi?vel: solu??es ad hoc ou talento criativo de pessoas empregadas numa organiza??o n?o s?o consideradas capacidades din?micas. Uma organiza??o que se adapta de forma criativa a uma sucess?o de crises, buscando solu??es ao acaso, n?o est? fazendo uso de capacidades din?micas. Uma capacidade din?mica ? "um padr?o aprendido e est?vel de atividade coletiva por meio da qual a organiza??o sistematicamente gera e modifica suas rotinas operacionais buscando melhorar sua efetividade" (Zollo & Winter, 2002, p. 340).

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Conforme definido por Helfat et al. (2007), capacidade din?mica ? a capacidade de uma organiza??o criar, estender ou modificar sua base de recursos propositadamente. Segundo esses autores, o conceito de capacidade din?mica inclui tr?s fun??es: (a) identifica??o de necessidades ou oportunidades de mudan?a; (b) formula??o de respostas adequadas para essas necessidades ou oportunidades; e (c) desenvolvimento de cursos de a??o. Observe que esses autores afirmam, por?m, que nem todas as capacidades din?micas servem ?s tr?s fun??es. Existem capacidades din?micas que servem para prop?sitos diferentes. Helfat et al. (2007) colocam tamb?m que as capacidades din?micas suportam duas fun??es principais com rela??o ? base de recursos de uma organiza??o: (a) busca, sele??o e cria??o de recursos; e (b) implanta??o dos recursos.

Tamb?m enfatizando a mudan?a de recursos e as capacidades de forma sistem?tica, Wang e Ahmed (2007) definem capacidades din?micas como o comportamento organizacional constantemente orientado a integrar, reconfigurar, renovar e recriar seus recursos e capacidades e, mais importante, melhorar e reconstruir suas capacidades chave em resposta ?s muta??es do ambiente para atingir e sustentar a vantagem competitiva.

As v?rias defini??es de capacidades din?micas v?o ao encontro daquilo que Helfat et al. (2007) afirmam: as capacidades din?micas surgem em diversas formas. Algumas capacidades din?micas, por exemplo, permitem que a empresa entre num novo neg?cio e estenda sua base de neg?cios, outras capacidades ajudam a empresa a criar novos produtos e processos de produ??o. Finalmente existem capacidades din?micas relacionadas com a capacidade dos gestores em tornar a empresa mais lucrativa e a faz?-la crescer de forma consistente.

Dosi, Faillo e Marengo (2008) colocam que as heur?sticas gerenciais e as ferramentas de diagn?sticos constituem o cerne das capacidades din?micas. A ?nfase nas heur?sticas gerenciais marca o trabalho mais recente de Teece (2007) sobre capacidades din?micas. Partindo da defini??o inicial de capacidades din?micas proposta em Teece et al. (1997), em que estas est?o baseadas na habilidade da firma em integrar, construir e reconfigurar compet?ncias interna e externamente para endere?ar ambientes em r?pida mudan?a, o autor prop?e que existem tr?s capacidades de sustenta??o das capacidades din?micas: (a) capacidade de sentir o contexto do ambiente; (b) capacidade de aproveitar oportunidades; e (c) capacidade de gerenciar amea?as e transforma??es.

A associa??o de capacidades din?micas com a explora??o de oportunidades e a gera??o de ideias tamb?m est? presente em McKelvie e Davidson (2009). Os autores definem capacidades din?micas como um feixe de outras capacidades, como: (a) capacidade de gera??o de ideias; (b) capacidade de introdu??o de rupturas de forma a criar dinamismo no mercado no qual a empresa atua; (c) capacidade de desenvolvimento de novos produtos e servi?os inovadores em quantidade e qualidade superior em rela??o aos concorrentes; e (d) capacidade de desenvolvimento de novos processos superiores em rela??o aos concorrentes.

No ?mbito das v?rias defini??es de capacidades din?micas apresentadas, nota-se que alguns autores advogam a exist?ncia de uma hierarquia de capacidades, sendo a capacidade din?mica o n?vel mais elevado (Tabela 2).

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Tabela 2 Capacidades Din?micas e Hierarquia de Capacidades

Autores Collis (1994)

Winter (2003) Wang e Ahmed (2007)

N?veis de capacidades

N?vel 1: Capacidades funcionais; N?vel 2: Melhoramento din?mico dos processos de neg?cio; e N?vel 3: Capacidade criativa.

N?vel 0: Capacidades Operacionais; N?vel Superior: Capacidades Din?micas.

N?vel 0: Recursos e capacidades; N?vel 1: Capacidades comuns; N?vel 2: Capacidades chaves; N?vel 3: Capacidades din?micas.

Nota. Fonte: Elaborada pelos autores.

Collis (1994) define uma hierarquia de tr?s n?veis de capacidades: (a) n?vel 1: capacidades funcionais, que s?o as capacidades operacionais que fazem com que a empresa exista; (b) n?vel 2: capacidades de melhoramento din?mico dos processos de neg?cio; (c) n?vel 3: capacidade criativa ou empresarial; esta ?ltima ? a que caracteriza a capacidade din?mica.

Eisenhardt e Martin (2000) afirmam que as capacidades din?micas s?o produto da combina??o de capacidades e rotinas simples e relacionadas entre si, algumas das quais podem ser fundamentos de outras e, por isso, devem ser aprendidas primeiro. Da mesma forma, segundo Winter (2003), uma capacidade organizacional ? uma rotina de alto n?vel, ou cole??o de rotinas que, junto com o fluxo de entrada, confere ? ger?ncia da organiza??o um conjunto de op??es para produzir resultados significativos. As capacidades din?micas s?o compostas por conjuntos de rotinas que criam mudan?as organizacionais, denominadas rotinas de busca (Nelson & Winter, 1982).

Winter (2003) classifica as capacidades organizacionais em capacidades de n?vel zero (capacidades operacionais) e capacidades de n?vel superior, nas quais se encontram as capacidades din?micas. Uma organiza??o baseada apenas em suas capacidades operacionais n?o cria mudan?as. Trata-se de uma organiza??o que sobrevive vendendo o mesmo produto ou servi?o para a mesma popula??o de clientes, sem capacidade de realizar altera??es em suas rotinas. Esse tipo de organiza??o n?o evolui e n?o apresenta um diferencial que confira uma vantagem competitiva. Na medida em que a organiza??o consegue mudar seus procedimentos, gerando novos processos, novos produtos e novos servi?os, e ampliando a escala ou a base de clientes servidos, ela possui capacidades din?micas. A exist?ncia desse conjunto de capacidades din?micas ? que permite que a empresa mantenha um desempenho superior no longo prazo.

Al?m destes tr?s n?veis, Wang e Ahmed (2007) refor?am a import?ncia de um n?vel inicial, constitu?do pelos recursos e capacidades que d?o os fundamentos para a exist?ncia da firma. Nesse sentido, os autores prop?em quatro n?veis hier?rquicos: (a) n?vel 0: recursos e capacidades; (b) n?vel 1: capacidades comuns, relativas ? produ??o de produtos e execu??o de servi?os seus servi?os, por meio da combina??o de recursos e capacidades; (c) n?vel 2: capacidades-chave, referem-se ao conjunto de recursos e capacidades que resultam em vantagem competitiva no curto prazo, isto ?, num dado momento do tempo; e (d) n?vel 3: capacidades din?micas. Na vis?o desses autores, embora recursos valiosos, raros, inimit?veis e n?o substitu?veis possam constituir elementos de vantagem competitiva em mercados din?micos, essa vantagem n?o persiste ao longo do tempo. Sempre existe a possibilidade de que as capacidades-chave de uma empresa se tornem obsoletas. Mas, se a empresa tem a capacidade de perseguir a renova??o, reconfigurar e recriar seus recursos, suas capacidades comuns e suas capacidades-chave, de forma a endere?ar as mudan?as ambientais, ent?o, essa capacidade, que ? de terceira ordem, ? uma capacidade din?mica.

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