O homem medieval vive numa situação economicamente ...



1. Com o que era relacionada a liturgia cristã no cristianismo primitivo?

r. No cristianismo primitivo, liturgia e comunidade relacionam-se estreitamente como exigência de fixar a profissão da religião e de manifestar seu conteúdo em formas visíveis. 

No tempo dos apóstolos onde celebravam a sua liturgia ?

R, Os primeiros cristãos de jerusalém participavam das orações dos israelitas nas sinagogas e nas suas casas realizavam a fração do pão, isto é a Eucaristia.

O termo liturgia aparece na didachè (se lê didaquê) . O era esta didaché e o que nos fala fala da eucaristia ?

R. A diadaqué é um pequeno catecismo antiguíssimo , onde contem várias orientações aos primeiros cristãos ainda do tempo dos apóstolos. E sobre a liturgia , tem várias citações : uma delas é esta:Ç

1Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro.

2Aquele que está brigado com seu companheiro não pode juntar-se antes de se reconciliar, para que o sacrifício oferecido não seja profanado.

3Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: "Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque sou um grande rei - diz o Senhor - e o meu nome é admirável entre as nações".

2. Inicialmente confundia a liturgia cristã com a hebraica , como se deu a renovação litúrgica nos primeiros séculos ?

Certamente, a primeira Igreja apostólica, ao renovar totalmente o conteúdo do culto litúrgico, pois acontece na nova realidade do sacerdócio de Cristo, não ficou sem sofrer influência de sua origem hebraica. Todavia, a primeira descrição importante da liturgia cristã é fornecida por Justino em meados do século II: já estão definidas as duas partes essenciais da missa, a dos catecúmenos, com leitura dos textos sagrados, e a dos fiéis, que compreendia o sacrifício eucarístico. "No dia do sol, todos se reúnem; lêem-se trechos dos escritos dos Apóstolos e dos Profetas; seguem-se a homilia e orações de intercessão; então trazem-se pão e vinho misturado com água e o presidente da assembléia pronuncia sobre eles, "do melhor modo que sabe", orações e agradecimentos, a que todos respondem com um AMÉM; os dons assim "eucaristizados" são distribuídos a todos" (Apol.I, 67).

3. Quando começaram a celebrar a memória dos mártires?

A partir da segunda metade do século II e, depois, no decurso do século III, já se celebram as memórias dos mártires no seu "dies natalis", com a celebração da eucaristia sobre a tumba deles, seguida de uma refeição em comum. No decurso do século IV, os termos bíblicos neotestamentários passam, por simples

4. Haviam várias ritos litúrgicos na Igreja?

Sim , A primeira reunião de fórmulas litúrgicas na Igreja ocidental remonta ao papa Símaco (498-514) e ao papa Leão (440-461). Ainda no decurso do século IV começam a se formar as famílias litúrgicas, que se diferenciam e se definem entre os séculos IV e VII e podem ser agrupadas em liturgias orientais e liturgias ocidentais. O primeiro elemento diferenciador fundamental foi a língua: do aramaico dos primeiros judeu-cristãos ao grego dos helenistas. As primeiras igrejas formaram-se nas grandes metrópoles do mundo de então: em Jerusalém e em Antioquia, onde os discípulos, pela primeira vez, foram chamados de "cristãos" (Atos 11,26), em Corinto e em Roma, em Alexandria e em Éfeso, bem como no norte da África latino, ou seja, Cartago. Tinham os Apóstolos constituído nessas cidades a base da nova religião; seus sucessores, muitas vezes grandes figuras de bispos santos, contribuíram para isso.

As liturgias orientais conservaram fielmente o aspecto primitivo tirado das Igrejas de Jerusalém e de Antioquia; o núcleo dessas liturgias constitui-se da "anáfora", oração de oblação, e do "prefácio", em que o conteúdo das fórmulas varia de acordo com as solenidades e os tempos festivos; a elas juntaram-se os sírios católicos e monofisistas, bem como os Maronitas que seguiram a liturgia antioquena interpolada com elementos do rito romano. A liturgia siríaco-oriental teve seu centro em Edessa e foi depois adotada pelos nestorianos. A liturgia egípcia, muito antiga, conservou-se entre os monofisistas e católicos coptas. Na Ásia Menor, nasceu o rito bizantino, que foi depois substituindo as liturgias orientais e é hoje o rito dominante; a ele pertencem todas as Igrejas ortodoxas. Esse rito passou também, traduzido nas respectivas línguas, para os eslavos católicos e descendentes, para os melquitas siríacos e árabes, para os georgianos e para os romenos. A liturgia armênia deve ser considerada à parte. As liturgias ocidentais que tiveram suas matrizes em Cartago e Roma mudaram, depois do século VI, sob a influência do ano eclesiástico. No lugar do formulário único das liturgias orientais, constituiu-se no ocidente o "sacramentarium", um livro completo que continha as missas de cada dia, e o "missal". Nascem os diversos ritos: o "galicano" do qual se separou na Espanha a liturgia moçarábica; na Itália setentrional, o rito galicano teve influência sobre o rito romano e o encontro das duas liturgias fica evidente no rito "ambrosiano".

5. Quando começou a buscar uma uniformidade litúrgica?

No século VII, busca-se uma certa uniformidade nos ritos, mas a exuberante infiltração de devoções populares altera a linha sóbria e tradicional da liturgia romana. A Idade Média carrega o peso de um forte obscurantismo, inclusive litúrgico. Pio V será o papa que, em 1570, pondo em prática os decretos do concílio de Trento (1545-1563), empreenderá a reforma litúrgica, que levará seu nome e será continuada por seus sucessores até Paulo V (1614).

HISTÓRIA DA LITURGIA CRISTÃ

 

No cristianismo primitivo, liturgia e comunidade relacionam-se estreitamente como exigência de fixar a profissão da religião e de manifestar seu conteúdo em formas visíveis. 

Uma sumária liturgia cristã já está contida nos Atos 2,46-47: conclui-se do texto que os primeiros cristãos de Jerusalém costumavam participar ainda das orações israelitas do templo, enquanto tinham em casa os ágapes eucarísticos.O termo liturgia reaparece nos escritos extrabíblicos de origem judeu-cristã, na Didaché 14, onde o vocábulo refere-se claramente à celebração da eucaristia unida às orações de agradecimento: "Todo domingo nos reunimos, partimos o pão e damos graças...", e na primeira carta do papa Clemente, que explica o culto cristão baseando-se no culto hebraico.

Certamente, a primeira Igreja apostólica, ao renovar totalmente o conteúdo do culto litúrgico, pois acontece na nova realidade do sacerdócio de Cristo, não ficou sem sofrer influência de sua origem hebraica. Todavia, a primeira descrição importante da liturgia cristã é fornecida por Justino em meados do século II: já estão definidas as duas partes essenciais da missa, a dos catecúmenos, com leitura dos textos sagrados, e a dos fiéis, que compreendia o sacrifício eucarístico. "No dia do sol, todos se reúnem; lêem-se trechos dos escritos dos Apóstolos e dos Profetas; seguem-se a homilia e orações de intercessão; então trazem-se pão e vinho misturado com água e o presidente da assembléia pronuncia sobre eles, "do melhor modo que sabe", orações e agradecimentos, a que todos respondem com um AMÉM; os dons assim "eucaristizados" são distribuídos a todos" (Apol.I, 67).

Ainda Justino, confirmado depois por Tertuliano e Hipólito, dá-nos notícias das primeiras liturgias cristãs a respeito da administração do batismo e da celebração da Páscoa cristã, já totalmente separada da judaica. A "Tradição Apostólica" de Hipólito conhece, ao lado da ceia comum, uma espécie de "lucernarium" ou culto vespertino. Alguns anos antes, Tertuliano fazia referência a momentos cotidianos de oração, que nós hoje chamamos de "liturgia das horas".

A partir da segunda metade do século II e, depois, no decurso do século III, já se celebram as memórias dos mártires no seu "dies natalis", com a celebração da eucaristia sobre a tumba deles, seguida de uma refeição em comum. No decurso do século IV, os termos bíblicos neotestamentários passam, por simples transliteração, do texto grego para o latino na Igreja oriental de língua grega. Ao contrário, na Igreja latina isso não acontece: de fato, ela permanece estranha à linguagem litúrgica latina e o termo "leitourgia" é traduzido por "officium, ministerium, munus...".

A primeira reunião de fórmulas litúrgicas na Igreja ocidental remonta ao papa Símaco (498-514) e ao papa Leão (440-461). Ainda no decurso do século IV começam a se formar as famílias litúrgicas, que se diferenciam e se definem entre os séculos IV e VII e podem ser agrupadas em liturgias orientais e liturgias ocidentais. O primeiro elemento diferenciador fundamental foi a língua: do aramaico dos primeiros judeu-cristãos ao grego dos helenistas. As primeiras igrejas formaram-se nas grandes metrópoles do mundo de então: em Jerusalém e em Antioquia, onde os discípulos, pela primeira vez, foram chamados de "cristãos" (Atos 11,26), em Corinto e em Roma, em Alexandria e em Éfeso, bem como no norte da África latino, ou seja, Cartago. Tinham os Apóstolos constituído nessas cidades a base da nova religião; seus sucessores, muitas vezes grandes figuras de bispos santos, contribuíram para isso.

As liturgias orientais conservaram fielmente o aspecto primitivo tirado das Igrejas de Jerusalém e de Antioquia; o núcleo dessas liturgias constitui-se da "anáfora", oração de oblação, e do "prefácio", em que o conteúdo das fórmulas varia de acordo com as solenidades e os tempos festivos; a elas juntaram-se os sírios católicos e monofisistas, bem como os Maronitas que seguiram a liturgia antioquena interpolada com elementos do rito romano. A liturgia siríaco-oriental teve seu centro em Edessa e foi depois adotada pelos nestorianos. A liturgia egípcia, muito antiga, conservou-se entre os monofisistas e católicos coptas. Na Ásia Menor, nasceu o rito bizantino, que foi depois substituindo as liturgias orientais e é hoje o rito dominante; a ele pertencem todas as Igrejas ortodoxas. Esse rito passou também, traduzido nas respectivas línguas, para os eslavos católicos e descendentes, para os melquitas siríacos e árabes, para os georgianos e para os romenos. A liturgia armênia deve ser considerada à parte.

As liturgias ocidentais que tiveram suas matrizes em Cartago e Roma mudaram, depois do século VI, sob a influência do ano eclesiástico. No lugar do formulário único das liturgias orientais, constituiu-se no ocidente o "sacramentarium", um livro completo que continha as missas de cada dia, e o "missal". Nascem os diversos ritos: o "galicano" do qual se separou na Espanha a liturgia moçarábica; na Itália setentrional, o rito galicano teve influência sobre o rito romano e o encontro das duas liturgias fica evidente no rito "ambrosiano".

O rito romano conservou invariável o "cânon", que, por conteúdo e forma, difere da anáfora oriental. A redação definitiva do cânon romano foi feita somente por São Gregório Magno; sobre as partes variáveis da missa romana têm-se diversas coleções dos tempos mais antigos. O "Sacramentarium Gregorii" foi enviado a Carlos Magno pelo papa Adriano I. Desse modo a liturgia romana adquiriu muitos elementos galicanos e dessas misturas nasceram variedades locais, suprimidas depois pelo concílio de Trento.

No século VII, busca-se uma certa uniformidade nos ritos, mas a exuberante infiltração de devoções populares altera a linha sóbria e tradicional da liturgia romana. A Idade Média carrega o peso de um forte obscurantismo, inclusive litúrgico. Pio V será o papa que, em 1570, pondo em prática os decretos do concílio de Trento (1545-1563), empreenderá a reforma litúrgica, que levará seu nome e será continuada por seus sucessores até Paulo V (1614).

A reforma protestante rompeu decididamente com a liturgia tradicional, procurando simplificar sua estrutura e tornar o culto mais popular, com a introdução da língua vulgar e uma participação mais direta dos fiéis no rito. Lutero, propondo-se a purgar a missa latina de qualquer acessório, manteve seu esquema geral, mas tirou o ofertório e transformou o cânon, embora tenha deixado as perícopes e as coletas; manteve as vestes sacras, o altar com os candelabros, o acesso à comunhão e sua administração, mas deu nova interpretação à elevação. Esse sistema enfraqueceu durante a guerra dos Trinta Anos. Também Zwingli suprimiu todas as partes integrantes latinas, abandonou todo o esquema da missa e separou, por princípio, a prédica da comunhão. Calvino, por sua vez, no regulamento por ele introduzido em Genebra, mostra-se dependente de Lutero e de Zwingli, mas sobretudo de M. Butzer. Constituiu um serviço religioso diferente do romano e do luterano: uma mesa no lugar do altar; separação entre a prédica e a comunhão e, nesta, o pensamento não deve se fixar no pão e no vinho, mas os corações devem se elevar ao alto, onde Cristo vive na glória do Pai, para sermos nutridos de sua substância e tornarmo-nos partícipes do Reino de Deus. Há, além disso, o ritual do serviço divino próprio da Igreja anglicana indicado no "Book of common prayer" (1549), em que se sente a influência luterana, oriental e católico-romana e que foi reformado em 1662.

A partir do final do século XIX, o movimento litúrgico suscita idéias novas no conhecimento litúrgico, exige aprofundamentos teológicos, tanto da parte protestante como da católica. Entre os protestantes, o movimento litúrgico foi promovido por F. Spitta e J. Smend e depois por R. Otto e F. Heiler, todos animados pelo desejo de fazer reviver o sentido da oração comunitária e a ativa participação dos fiéis no culto. Entre os católicos, o retorno a formas de liturgia antiga, em que esteja presente toda a comunidade, entrelaçou-se com a obra dos beneditinos de Solesmes, com o abade P. Guéranger, morto em 1875, e, na Alemanha, com a dos beneditinos Mauro e Plácido Wolter, fundadores da congregação de Beuron. Da liturgia, L. Beauduin dá uma definição tão breve quanto eficaz: "A liturgia é o culto da Igreja": "Igreja" absorve o sentido comunitário e ao mesmo tempo cristológico, sendo a continuação de Cristo no mundo. O beneditino alemão O. Casel de Maria Laach (1886-1948) insistiu sobre o valor da liturgia como "celebração" do mistério salvífico de Cristo, que se torna presente no rito, a ponto de a assembléia poder louvar e adorar a Deus "em espírito e verdade". O papa Pio X acolhe esse grande novo impulso que se localiza principalmente na Bélgica na universidade católica de Louvain, depois na Holanda, na Alemanha na abadia de Maria Laach, e na Áustria em Klosterneuburg. Todos esses fermentos de renovação e de aprofundamento litúrgico introduzem também "novidades" que incidem sobre os aspectos doutrinais, incorrendo em infrações disciplinares. Por meio da encíclica Mediator Dei, promulgada em 20 de novembro de 1947, o papa Pio XII interveio nessa situação de confusão, movido por preocupações pastorais e ao mesmo tempo de adaptação às exigências religiosas e culturais modernas.Nessa encíclica, a liturgia é definida em relação ao conteúdo como "a continuação do ofício sacerdotal de Cristo", ou mesmo "o exercício do sacerdócio de Cristo". Quanto à sua realidade completa de celebração, "é o culto público total do corpo místico de Cristo, cabeça e membros".

A liturgia, portanto, por sua natureza interna, é sacramental, sendo sempre sinal de uma efetiva presença de Cristo. Além disso, Cristo prestou um culto perfeito ao Pai, glorificando-o na total adesão à Sua vontade, na qual assumiu todos os redimidos, libertando-os das obras de morte. Por último, ela é exercida necessariamente nos ritos que realizam, por intermédio dos símbolos, a obra santificadora de Cristo em relação a cada um de nós. Em 1962, o concílio Vaticano II, convocado pelo papa João XXIII, oferece como seu primeiro documento justamente a constituição "Sacrosanctum Concilium", voltada para a reforma litúrgica, que obteve na votação dos Padres Conciliares, dia 4 de dezembro de 1963, 2147 placet contra 4 non placet e foi aprovada definitivamente pelo papa Paulo VI. Com essa constituição, reafirma-se o significado de liturgia expresso na constituição anterior, "Mediator Dei", ressaltando, porém, o aspecto "pascal", realidade e mistério, "lugar" coextensivamente teológico e litúrgico: o mistério pascal não é "um dia" no calendário religioso, mas é o plano de salvação divina tornado atual na revelação em Cristo. A Igreja, portanto, é continuamente "profecia" que anuncia o mistério e atualiza-o na ação litúrgica. Essa constituição aborda, além disso, aspectos normativos das celebrações festivas, dos santos, da administração dos sacramentos, da abertura às línguas locais com o objetivo de ajudar a "concelebração do sacerdote com os fiéis"

 

O homem medieval vive numa situação economicamente precária, sem segurança para o dia de amanhã. Mas isso não quer significar que vivesse no desespero. Há nele a certeza da existência de Deus, vive na fé em Deus, sente-se criatura de Deus. Antes do ano 1300 não havia ateus.

Uma das característica do cristão medieval é saber que vive no meio do combate entre o bem e o mal, na luta de São Miguel com Satanás. O cristão deve ser combatente do lado de Miguel.

Outra característica é aceitar-se num lugar social determinado: forte ou fraco, rico ou pobre, guerreiro ou trabalhador, religioso ou leigo. Nesta posição, ele vê a vontade de Deus. O homem medieval é obsessionado pelo pecado. Foi no século XII que foram fixados os sete vícios capitais: orgulho, avareza, gula, luxúria, ira, inveja, preguiça.

O mais importante, porém, é fixarmos os momentos vitais da espiritualidade medieval, seus gestos e ritos. Esta espiritualidade pode ser dividida em quatro momentos: as peregrinações, o culto das imagens e relíquias, a missa e a penitência.

AS PEREGRINAÇÕES

Faz parte da religiosidade universal considerar alguns lugares ou acidentes geográficos como sinais de manifestação do poder divino.

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|Jerusalém - Igreja do Santo Sepulcro, meta de|

|muitas peregrinações medievais |

No mundo cristão, estes locais foram associados a relíquias, a túmulos de santos, a acontecimentos miraculosos, tão abundantes no mundo medieval. É difícil imaginar o sacrifício empreendido pelo peregrino na sua ânsia de chegar a um local sagrado: perigos, despesas, empréstimos, às vezes anos de caminhada. E freqüentemente havia o perigo da aventura, da exploração dos peregrinos nos locais sagrados. Construíram-se grandes albergues para hospedá-los, o que não excluía um certo desejo de lucro.

A partir do século XI, há mais um motivo para peregrinar: a sensação de experimentar um contato mais íntimo com Cristo, sua Mãe e seus atos em determinados lugares, como também a grande esperança de conseguir uma cura ou a remissão de um pecado muito grave.

A mais antiga das peregrinações é visita aos Lugares Santos na Palestina; segue-se Roma, primeiro aos túmulos de Pedro e Paulo e, mais tarde, ao Vigário de Cristo, o Papa. No século IX, temos o santuário de São Tiago de Compostela na Espanha, o túmulo dos Reis Magos em Colônia, Alemanha, o túmulo de Santo Tomás Becket em Cantuária, Inglaterra.

Temos ainda as pegadas do Arcanjo Gabriel no Monte Gargano, Itália, a Virgem de Chartres, França, o Precioso Sangue na abadia de Hales, Alemanha, a casa de Maria em Loreto, etc. Mais tarde, o túmulo de Santo Antônio em Pádua, de São Francisco em Assis.

O espírito das Cruzadas também deve ser incluído aqui. Não se deve esquecer aqui o gosto medieval pelas relíquias, em bom número falsificadas. O homem medieval parecia acreditar em tudo o que se afirmasse como sobrenatural!

O CULTO DAS imagens E RELÍQUIAS. AS DEVOÇÕES

Diversamente da Igreja no Oriente, que teve o grande problema da veneração das imagens, no Ocidente esse culto logo se impôs. Via-se na imagem, esculpida, pintada ou retratada num vitral, um meio para instruir sobre o significado do anúncio da salvação àqueles que não sabiam ler. As imagens narram a história da salvação, reforçam a recordação e elevam a piedade. Sempre se estava atento para não cair na adoração das imagens.

O culto das relíquias dos santos chegou ao exagero do roubo de parte do corpo dos santos. Não se concebia fundar uma cidade sem o túmulo de um santo, havendo, deste modo, lutas violentas para garantir o corpo, como a que aconteceu entre Benevento e Bari na Itália. O santo era o protetor, a garantia. Possuir uma relíquia era estar em contato certo e miraculoso com o santo. Mesmo dentro da legitimidade deste culto, não se pode esquecer os abusos da falsificação, do comércio e da superstição.

A devoção a Cristo foi sempre a que se sobressaiu, primeiramente visto como imperador, depois, a partir das Cruzadas, como o Crucificado. Pelo ano 1050, tem início a devoção da Via-Sacra, às Cinco Chagas. São Francisco introduz a devoção do Presépio.

O carinho por Maria sempre teve destaque, sendo invocada sobretudo através da oração da Salve Rainha e da Ave-Maria, além da prática do Rosário que, após 1450, tem 15 mistérios e, a partir de 2002, 20 mistérios.

A SANTA MISSA

A Missa sempre foi o centro do culto católico, fundamento e vida da comunidade, celebração da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, comunhão dos fiéis com ele. No início da Idade Média, a Missa não era celebrada diariamente. Somente mais tarde teve início sua celebração diária, e as conseqüências nem sempre foram positivas, já que o culto dos santos milagrosos e das relíquias entrou em concorrência com a Missa. O importante para a vida presente é o Santo.

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|A missa (1.º metade do Séc. XIV) Biblioteca |

|Vaticano, Roma |

E a Missa? Ela fica reservada para a vida futura. Daí surge o interesse em ser sepultado perto da igreja ou dentro dela, participando assim dos “méritos” da celebração. Algo de estranho é introduzido nos mosteiros, a multiplicação de altares, de modo que, no mesmo tempo, eram celebradas diversas Missas. Para garantir celebrações “perpétuas”, havia ricos que deixavam grandes heranças aos mosteiros correndo o perigo de comercializar o sagrado.

Não entendendo o latim, língua usada na missa, os fiéis concentram sua atenção e devoção mais na presença real de Cristo na Hóstia consagrada. Momento fundamental, para o povo humilde, era a elevação da Hóstia, quando se tocava o sino. Pedia-se ao padre que mantivesse a Hóstia mais tempo elevada, pois assim se “participava” de mais Missas. Dessa forma, a Missa parece não ser mais uma celebração, mas um ato centrado na Hóstia.

A festa de Corpus Christi nasce neste período com a finalidade de fazer a adoração pública da Hóstia. Multiplicam-se os Milagres Eucarísticos, como os de Bolsena, Cássia, Orvieto, onde hóstias sangram. Também por isso multiplicam-se as genuflexões, os sinais-da-cruz e as orações particulares. Neste quadro, podemos afirmar que, a partir do século VI, a cristandade latina não alimentou sua vida espiritual na Escritura e nos Sacramentos, mas nas inumeráveis devoções que a piedade popular foi criando. Foi preciso esperar o século XX para o retorno às fontes da santificação.

A PENITÊNCIA

Na Idade Média se suprime o caráter público e comunitário da penitência. Os monges irlandeses, escoceses e anglo-saxões adaptam a confissão às necessidades pastorais. A realidade penitencial passa a ser estreitamente relacionada com a Missa e a peregrinação.

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|Milagre de Lanciano - acontecido no Séc. |

|VIII. Até hoje este pedaço de carne, fruto da|

|consagração do pão, mantém todas as |

|características de uma célula viva |

No século VIII, o penitente se confessava, ganhava uma penitência secreta, era absolvido e já podia comungar. No passado, a confissão era apenas a acusação dos pecados para se entrar no estado de penitente: agora a confissão já inclui penitência e reconciliação. Torna-se obrigatória a confissão três vezes ao ano.

Livros Penitenciais ajudam o confessor a fixar a penitência. Por exemplo: um dia de jejum a pão e água pode ser substituído por 50 Salmos recitados de joelhos ou 70 em pé, ou então por 200 genuflexões. O pecado passa a ser coisificado, podendo ser expiado com um número de Salmos, com dias de jejum, com algumas surras ou, pior ainda, com o pagamento de taxas.

O que importa a Deus, dentro do espírito germânico, é que a ofensa seja paga: assim, o empregado pode fazer penitência em lugar do patrão, o jejum pode ser convertido em tarifa financeira, etc., uma série da abusos que explodirá mais tarde na questão das indulgências.

CONCLUSÃO

Esse quadro da piedade medieval não pode ocultar uma grande realidade deste período: a busca da santidade entre os pobres, os monges, reis e príncipes. A Idade Média é a grande era dos santos. Qual foi seu sustento principal? A oração pessoal, e penitência e, especialmente, a caridade.

Pe. José A. Besen

Prof. de História da Igreja no ITESC

PARA REFLETIR

1 - O que mais caracteriza a religiosidade na Idade Média?

2 - Geralmente o que mais se critica sobre a ação da Igreja na Idade Média?

3 - Quais os aspectos positivos?

Missa e Adoração ao

Santíssimo Sacramento

APRENDENDO DA HISTÓRIA

por Frei José Ariovaldo da Silva, Ofm

hega a ser impressionante o retorno às manifestações de adoração e louvores ao Santíssimo Sacramento, nestes últimos anos, durante a celebração do memorial do sacrifício de Cristo, isto é, durante (ou imediatamente após) a missa. Há padres que, na hora da consagração, levantam devagar e solenemente, bem alto, a hóstia consagrada e, depois, o cálice, para adoração dos fiéis. E há pessoas que exclamam, sussurrando: “Meu Jesus, eu te adoro”.

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|Óleo sobre tela de Anton Maria Panico - 1560 - 1609, igreja de San Salvatore|

|- Itália |

Há padres que, logo após a consagração, chegam a interromper a Oração Eucarística, saindo com o Santíssimo Sacramento em procissão pela nave da Igreja – chamam essa procissão de “passeio” – para adoração dos fiéis com manifestações de aplausos, toques para receber a cura, etc. Há comunidades que, após a consagração, chegam a substituir a aclamação memorial (“Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição”) por cantos de adoração e louvor ao Santíssimo Sacramento: “Eu te adoro, hóstia divina”, etc.

Vi na televisão: um padre, assim que terminou a missa presidida pelo bispo, anunciou solenemente para a multidão reunida e para os milhões de telespectadores: “Meus irmãos, agora vamos receber e bênção do Santíssimo Sacramento... Não existe bênção mais importante do que esta!”. Pelo visto, deu a entender que a maior bênção de todas, isto é, a própria participação no sacrifício do Senhor, na missa recém-celebrada, não foi a mais importante!...

São alguns exemplos ilustrativos de como vem se resgatando por aí o sentido da missa, mais como momento de adoração ao Santíssimo do que como celebração do mistério pascal na forma de uma ceia. Inclusive com manifestações de adoração imediatamente após a missa, colocando-a em segundo plano... São costumes que tiveram uma origem, bem como um motivo pelo qual se originaram. Vejamos o que diz a história a respeito. Esta pode nos ensinar muita coisa e iluminar nossas práticas eucarísticas hoje.

A prática de adorar o Santíssimo Sacramento durante a missa se desenvolveu com toda força na passagem do primeiro para o segundo milênio. Em plena Idade Média, portanto. Antes, isto é, no primeiro milênio, sobretudo até o século 9, a eucaristia era vista e vivida, sobretudo como celebração memorial da páscoa de Cristo, em clima de ação de graças, da qual participava ativamente toda a assembléia, tendo como ponto alto desta participação a comunhão no corpo e sangue de Cristo.

Não havia adoração ao Santíssimo durante a missa, como se entende e se faz hoje. O ponto alto da vida cristã era a participação plena na celebração eucarística pela comunhão, e a festa mais importante do ano era a Páscoa. Aos poucos, porém, sobretudo a partir dos séculos 8 e 9, a missa vai se tornando cada vez mais “coisa do padre”. Os padres adotam o costume de rezar a missa a sós. E, mesmo havendo assembléia, eles vão fazendo tudo sozinho (orações, leituras, etc.), em voz baixa, de costas para o povo, em latim.

E o povo, por sua vez, assimila o costume de “assistir à missa do padre”. Não participa mais, como era antes. Deixa de participar, inclusive, da comunhão, esquecendo o que Jesus pediu, naquele seu dramático momento de despedida: “Tomai e comei... tomai e bebei”. Outro dado curioso: a partir do final do século 9, por influência dos povos franco-germânicos, os cristãos de nossa Igreja romana absorvem uma mentalidade quase doentia em relação a Deus, vendo nele um ser terrível, ameaçador, vigiando e controlando nossas atitudes.

Ligado a isso, acentua-se uma mentalidade obsessiva em relação ao pecado, ao castigo, ao inferno e purgatório. O clima era, pois, de temor e até de pavor. Resultado: o povo fica com medo de comungar, pois comungar significava aproximar-se do Juiz terrível e ameaçador e, possivelmente, correr perigo de castigo pelos pecados. Assim, no século 12, praticamente ninguém comungava mais. Comungar na missa deixou de ser importante e virou um costume que atravessou todo o segundo milênio.

O povo vai à celebração da ceia memorial do Senhor, mas não come nem bebe mais da ceia, como faziam os cristãos nos primeiros séculos do cristianismo. Como alternativa à participação plena na missa, o povo (enquanto o padre “faz a missa” lá no altar distante) passa a se entreter com rezas, novenas, devoções, etc. E a comunhão? O povo substituiu-a pela adoração da hóstia. Ver a hóstia, de longe, adorando-a, tornou-se uma forma de “comungar”. Por isso que, então, os padres adotaram o costume de levantar bem alto a hóstia e, mais tarde, o cálice, na hora da consagração, para o povo ver e prestar adoração ao Senhor terrível que “desceu sobre o altar”, na hóstia consagrada e no cálice de vinho.

O desejo de ver a hóstia tornou-se então uma verdadeira febre para os fiéis, o ponto alto, o momento mais importante da missa. Introduziram até o costume de tocar campainhas na hora da elevação, exatamente para chamar a atenção e enfatizar o momento. Bastava ver a hóstia e o povo já se dava por muito feliz e satisfeito. Tudo isso virou um costume... Outra informação: a partir do século 9, mas com maior vigor a partir do século 11, alguns teólogos de influência, dentre os quais se destacam Berengário de Tours, andaram espalhando idéias que colocavam em dúvida a presença real de Jesus no pão e no vinho consagrados.

A Igreja, em reação a esses movimentos heréticos, desencadeou toda uma campanha no sentido de afirmar a fé na presença real, reforçando e propagando a prática da adoração ao Santíssimo Sacramento, dentro e fora da missa. Fora da missa, através de procissões e bênçãos do Santíssimo, etc. Dentro da missa, através do costume de “ver a hóstia” e adorá-la. Resultado: a missa, na mentalidade de uma grande maioria de católicos romanos, distante do pensamento de Jesus e da prática dos cristãos dos primeiros séculos, transforma-se numa espécie de “fábrica de hóstia consagrada” para ser adorada.

Como se vê, o costume de adorar o Santíssimo Sacramento, inclusive durante a missa, foi desenvolvido na Idade Média, quando a Igreja havia perdido de vista o verdadeiro sentido da missa como celebração memorial da páscoa de Cristo e nossa páscoa (vale lembrar o que Jesus pediu: “Fazei isto em memória de mim”), e que tem seu ponto alto no momento da ceia (comunhão). A missa, em vez de ser em primeiro lugar um momento de adoração ao Pai, através do memorial do sacrifício de Cristo que se entrega, na força do Espírito Santo, transformou-se (da Idade Média para cá) simplesmente numa ocasião privilegiada de adoração à hóstia consagrada (ao Cristo presente na hóstia).

Hoje, com o Concílio Vaticano II, celebrado há 40 anos, somos convocados a colocar as coisas no seu justo lugar. Missa é missa. Adoração ao Santíssimo é outra coisa bem distinta (com seu reconhecido sentido e valor). A mistura é coisa da Idade Média que, como vimos, acabou colocando a adoração ao Santíssimo acima do verdadeiro sentido da missa. Hoje, com o Concílio, somos chamados a recuperar o distinto sentido e valor de ambas (sem misturar nem confundir!), devendo a missa ser compreendida como “fonte e ápice de toda a vida cristã” (Lúmen Gentil n.11).

Missa e Missão

Publicado 2009/05/14

Author: Pe. Caio Newton de Assis Fonseca, E.P

Sem o domingo não podemos viver!" - declararam os mártires de Abitinas aos juízes do Império Romano

A Eucaristia tem uma íntima ligação com a vocação de todo batizado: evangelizar. É o Papa que no-lo recorda, e o protomártir da Eucaristia, São Tarcísio, nos dá exemplo.

Pe. Caio Newton de Assis Fonseca, E.P

"Sem o domingo não podemos viver!" - declararam os mártires de Abitinas aos juízes do Império Romano. "No início do século IV, quando o culto cristão era ainda proibido pelas autoridades imperiais, alguns cristãos do norte da África, que se sentiam obrigados a celebrar o dia do Senhor, desafiaram tal proibição. Foram martirizados enquanto declaravam que não lhes era possível viver sem a Eucaristia, alimento do Senhor: Sine dominico non possumus - sem o domingo, não podemos viver" (Sacramentum Caritatis n. 95).

Com este belo exemplo, quis o Papa Bento XVI ressaltar a devoção ardorosa dos primeiros cristãos à Eucaristia, apesar das dificuldades e riscos daquela época, e estimularnos a imitá-los: "Exorto todos os leigos, e as famílias em particular, a encontrarem continuamente no sacramento do amor de Cristo a energia de que precisam para transformar a própria vida num sinal autêntico da presença do Senhor ressuscitado. Peço a todos os consagrados e consagradas para manifestarem, com a própria existência eucarística, o esplendor e a beleza de pertencer totalmente ao Senhor" (idem n. 94).

Na Eucaristia, a força para evangelizar

Como é diferente, hoje, a nossa situação no Ocidente, comparada com a dos primórdios da Cristandade! Talvez o maior risco que sejamos obrigados a enfrentar, para cumprir o preceito dominical, seja o de não conseguir fazer coincidir nossas conveniências pessoais com o horário da Missa. Ou o ter de suportar alguns minutos de automóvel para chegar até a igreja mais próxima. E a extrema facilidade de acesso à Eucaristia pode levar alguns a não dar o devido valor ao mais sublime dos sacramentos.

Porém, nos primeiros séculos do Cristianismo, como era arriscado, em épocas de grandes perseguições, participar do banquete eucarístico! Essas circunstâncias, tão adversas, certamente contribuíam para ressaltar o valor infinito da Eucaristia, naquelas primeiras comunidades de cristãos. Pois era no Pão Eucarístico que eles encontravam forças para cumprir sua missão evangelizadora na sociedade pagã e, tantas vezes, dar testemunho de Cristo com o derramamento do próprio sangue.

A "casa-igreja"

Quando se fala nas Missas da primeira era do Cristianismo, logo nasce o interesse de conhecer como e onde eram celebradas. Com freqüência se pensa que os cristãos só se congregavam nas catacumbas, parecendo até que essas estreitas galerias subterrâneas, onde eram enterrados os mortos, tivessem sido escavadas com a finalidade quase exclusiva de praticar o culto em segurança.

Nas épocas de perseguição mais sangrenta, certamente eram as catacumbas os lugares de reunião. Mas, quando o furor persecutório dos imperadores romanos amainava, a vida voltava a uma relativa normalidade, e eram as residências dos próprios cristãos que serviam de igreja.

Evidentemente, eram escolhidas as casas mais amplas, que pessoas abastadas cediam para a celebração do culto divino. Ainda hoje, os alicerces de algumas basílicas romanas conservam vestígios da antiga vivenda que desempenhou outrora a função de templo sagrado.

A própria disposição interna dos cômodos das residências ricas se prestava providencialmente a esse objetivo, pois

|[pic] |

|  Embora despojadas de seus preciosos tesouros, as relí- |

|  quias dos mártires, as catacumbas evocam intensamente, |

|  ainda hoje, o heroísmo indomável dos primeiros cristãos |

| Basílica inferior das Catacumbas de Santa Domitília, Roma |

nelas havia uma nítida separação entre a parte pública e a área íntima. E as primeiras igrejas construídas conservavam ainda uma distribuição de salões semelhante à dessas casas.

No pátio se reuniam os fiéis. Os catecúmenos, que não participavam de toda a liturgia da Missa, podiam ficar no vestíbulo. E a refeição eucarística podia ser celebrada no triclinium ou sala de jantar.

A celebração dominical dos primeiros cristãos

Os cristãos se encontravam no sábado, ao cair da tarde, para a vigília pela qual se preparavam, por meio de preces e da recitação de salmos, para celebrar a ressurreição do Senhor. A Celebração Eucarística iniciavase à meia-noite e encerrava-se com os primeiros fulgores da aurora. A nossa vigília pascal ainda é uma reminiscência dos tempos apostólicos.

Para finalizar a cerimônia, o diácono proclamava, tal como hoje: "Ite, missa est". O termo Missa, com o qual se denomina atualmente a Celebração Eucarística, tem aí sua origem.

O Santo Padre Bento XVI assim comenta o significado mais profundo desse último diálogo litúrgico: "Nesta saudação, podemos identificar a relação entre a Missa celebrada e a missão cristã no mundo. Na Antiguidade, o termo ‘missa' significava simplesmente ‘despedida'; mas, no uso cristão, o mesmo foi ganhando um sentido cada vez mais profundo, tendo o termo ‘despedir' evoluído para ‘expedir em missão'. Deste modo, a referida saudação exprime sinteticamente a natureza missionária da Igreja" (idem n. 51).

Da Missa para a missão

Esse aspecto missionário da sua vocação de batizados, tinham-no bem presente os cristãos dos primeiros séculos. O "ite missa est" proferido pelo diácono era um verdadeiro mandato, cumprido zelosamente no dia-a-dia, muitas vezes com o sacrifício da própria vida.

|[pic] |

|Na juventude da Roma Imperial era notório o |

|contraste entre os que se entregavam desen- |

|freadamente aos prazeres da vida e os que |

|voltavam  as costas aos deleites para entre- |

|garem a vida por Jesus Cristo |

|"Jovem Romano" Escultura Museus do Vati- |

| cano                        Fotos:  Victor Toniolo |

Para eles, a missão na sociedade pagã era uma decorrência da Missa, tal como continua a nos lembrar o Papa: "Não podemos abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da missão que, partindo do próprio Coração de Deus, visa atingir todos os homens; assim, a tensão missionária é parte constitutiva da forma eucarística da existência cristã" (idem n. 84).

A missão de Tarcísio

Um jovem acólito1 romano, Tarcísio, protomártir da Eucaristia, é um exemplo sublime dessa continuidade entre a Missa e a missão evangelizadora. Certamente, foi ao final de uma Missa, já perto do despontar da aurora, que ele recebeu uma importante missão do celebrante, talvez o próprio Sumo Pontífice: levar a seus irmãos encarcerados o Pão Eucarístico.

Na véspera do "combate" com as feras, era concedido aos condenados à morte na arena do Coliseu um certo abrandamento do regime carcerário, e eles podiam receber visitas. Os cristãos aproveitavam essas circunstâncias para levarem Jesus Sacramentado aos que iam travar o supremo "combate", dando testemunho de Cristo com o sacrifício da própria vida.

Ao receber das mãos do sacerdote a Eucaristia, envolta em tecidos preciosos, Tarcício deve ter sentido no mais profundo da alma um sobressalto de alegria: estava sendo convocado para arriscar sua jovem vida por Cristo! E, sem dúvida, sentiu também no seu interior o desejo intensíssimo de imitar aqueles que no dia seguinte iriam enfrentar o martírio, por amor a Deus. Guardou cuidadosamente no interior de sua túnica o inapreciável tesouro que acabava de lhe ser confiado e partiu em missão: "Ite, missa est".

Não se sabe com segurança o fator pelo qual se tornou descoberta a missão de Tarcísio. Talvez a alegria sobrenatural que transparecia de seu rosto, a limpidez de seu olhar virginal ou a pressa de alcançar o objetivo o tenham denunciado.

O certo é que ele foi interceptado por um grupo de pagãos que desconfiaram de suas intenções e suspeitaram que fosse cristão. Tarcísio preferiu morrer apedrejado a permitir que o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo fosse profanado pelos pagãos. Seu martírio é descrito, pelo Papa São Dâmaso, com a característica concisão latina, na lápide de seu túmulo, comparando-o a Santo Estevão.

A nós, não nos é solicitado arriscar a vida, pelo martírio, para cumprirmos nossa missão evangelizadora no mundo, como a Tarcísio, mas podemos pedir que ele, "juntamente com muitos outros santos e beatos que fizeram da Eucaristia o centro da sua vida, intercedam por nós e nos ensinem a fidelidade ao encontro com Cristo ressuscitado! Também nós não podemos viver sem participar no sacramento da nossa salvação e desejamos ser iuxta dominicam viventes, isto é, traduzir na vida o que celebramos no dia do Senhor" (Sacramentum caritatis n. 95).

1) Outros afirmam ter sido diácono.

(Revista Arautos do Evangelho, Nov/2007, n. 71, p 22 à 24)

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