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Boaventura defende reforma da universidade junto com projeto de país

05/04/2004 19:36

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos defendeu hoje, 5, durante o debate A Universidade no Século XXI, promovido pelo Ministério da Educação, no auditório do Ministério das Relações Exteriores, que a reforma da universidade pública deve ser feita junto com um projeto de país, caso contrário, ela será contra a universidade. “A universidade é um bem público fundamental, mas está ameaçado”, diz Boaventura, doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e professor titular da Universidade de Coimbra, em Portugal. Para ele, o Brasil já tem acumulado um grande acervo de análises sobre a reforma da universidade, “uma sobrecarga de experiências”, e o que falta é executar a reforma.

Para um auditório lotado por reitores, estudantes, professores, secretários de Educação, parlamentares e embaixadores de vários países, o professor Boaventura começou sua exposição dizendo que estava ali com dois fortes sentimentos. Um, de solidariedade com o povo brasileiro, e outro, de solidariedade política com o governo do presidente Lula, em quem deposita toda a sua esperança. Na sua avaliação, a universidade pública passou, nos últimos dez anos, por três crises: de hegemonia, porque deixou de ser a única; de hierarquização de saberes; e institucional, forçada pela contradição entre autonomia e liberdade acadêmica. As crises afetaram a universidade pública no mundo inteiro, disse, mas as respostas dadas foram e são diferentes na Europa, nos Estados Unidos e nos países periféricos, entre os quais estão os latino-americanos e africanos. Os países periféricos, explicou, ainda sofrem a grande pressão do Banco Mundial, que força a retirada de investimentos na universidade pública porque não tem interesse no pensamento crítico e nem no fortalecimento da idéia de nação.

Alternativa à globalização – Para se contrapor ao pensamento dominante da globalização, imposto, especialmente, pelo grupo que está em torno dos Estados Unidos, a alternativa oferecida por Boaventura de Sousa Santos é reforçar o projeto de país, centrado em escolhas políticas que levem a um projeto nacional e global. Nacional porque deve incluir as populações esquecidas – mulheres, negros, índios –, e global porque, no caso do Brasil, pode abranger o Mercosul e a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) – que, juntos, somam mais de 200 mil habitantes –, além da Espanha, que pode trazer para este nicho o grupo andino.

O caminho da reforma da universidade pública proposto pelo sociólogo português começa por uma reforma institucional que tem como base cinco pontos: 1) democracia interna e externa, ao mesmo tempo; 2) avaliação participativa que combine formas de auto-avaliação e avaliação externa da universidade pública; 3) regulação, pelo Estado, do sistema privado em dois aspectos: direto, com certificação e avaliação; e indireto, fomentando a universidade pública; 4) transnacionalização, buscando mercados, no caso do Brasil, no Mercosul e na CPLP; 5) trabalhar em redes, para democratizar e multiplicar os efeitos dos investimentos, a exemplo do que está fazendo a União Européia.

Ao encerrar sua palestra, o professor Boaventura disse que a universidade do século XXI será menos hegemônica, mas não menos necessária, e que é preciso investir a médio e longo prazo. “Não cabe ao Estado fomentar a universidade privada, mas regular esse mercado”, disse.

Repórter: Ionice Lorenzoni

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