Agostinho a Marte nas próximas décadas? Isso é e P
[Pages:9]Rui Agostinho Ir a Marte nas pr?ximas d?cadas? "Isso ? romance puro e duro" P a 5
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Entrevista
'A guerra
come?a
pelo espa?o"
Rui Agostinho H? um c?u que ? perfeito, o do Chile.
"Quest?es t?cnicas." 0 espa?o inspira romantismo e
cren?as, alimenta doses vari?veis de optimismo. O assunto, aqui, n?o ? o l?dico. O ex-director do
Observat?rio Astron?mico de Lisboa lembra em que
ponto estamos, na aventura do espa?o e quais s?o,
hoje, as suas expectativas
Por B?rbara Sim?es
IIIIII^^
IIII
a casa onde Rui Agostinho viveu na inf?ncia, em
Mo?ambique, havia uma
luneta para
espreitar o c?u.
Mas n?o havia
televis?o e, portanto, ele n?o p?de ver, h? 50 anos, os astronautas a chegar ? Lua. Hoje acredita que n?o ter? outra oportunidade de
assistir a uma aventura desse tipo. "A Lua ? j? ali e Marte n?o ?."
Professor do Departamento de F?sica da Faculdade de Ci?ncias da
Universidade de Lisboa e
investigador do Instituto de Astrof?sica, foi director do
Observat?rio Astron?mico de
Lisboa durante quase 20 anos, at? ao final de 2018. A conversa ?
sobre o espa?o, mas com os p?s
assentes na Terra.
Quando ? que come?ou a olhar a s?rio l? para cima?
Fui para a Universidade da
Carolina do Norte no final da
d?cada de 80, para o doutoramento. Em 1988, j? estava a passar tr?s semanas nos telesc?pios americanos do Chile, no Cerro Tololo, a fazer observa??es. S?o muitos anos de
telesc?pios.
Qual foi a coisa mais extraordin?ria que viu? As pessoas t?m a ideia rom?ntica de que o astr?nomo se p?e ao telesc?pio para ver coisas lindas. E isso n?o existe desde os in?cios
do s?culo XX. Por uma raz?o
muito simples: o olho humano ? um sensor individual. Ao medir o
brilho de uma estrela, a medi??o atrav?s do meu olho ser? diferente da sua. Quando, no final
do s?culo XIX, apareceu a
astrofotografia, percebeu-se que seria uma revolu??o. Deixava de ser pessoal? O que ? ?ptimo. Pass?mos a ter uma medi??o correcta da quantidade de luz que entra pelo
telesc?pio. Pode ser o brilho total, pode ser seleccionar apenas uma
- tonalidade de azul, ou de verde,
ou outra no infravermelho e
sabem-se assim os detalhes das
estrelas. Para o astr?nomo, a imagem mais linda pode ser medir a risca espectral de um determinado ?tomo, que est? excitado num certo n?vel que ? o indicador da temperatura da estrela, com aquela metalicidade
pr?pria... Eu n?o usei a palavra "lindo"... Mas eu estou a usar, porque existem os dois extremos: uma
coisa ? a pessoa fazer uma descoberta cient?fica com os
dados que tem em m?os, e isso ? maravilhoso; outra ? olhar para o c?u. Se me perguntar o que ? que me ficou na mem?ria, da muita coisa eu fiz, h? dois momentos
interessant?ssimos e n?o t?m que ver com o telesc?pio, mas com observa??o a olho nu.
A olho nu?
A olho nu. Estava l? nos Andes, j? tinha lido que era poss?vel ver V?nus durante o dia e com o Sol
ao lado, e um dia fui ? procura. Eram para a? tr?s da tarde, sabia qual era a localiza??o de V?nus no c?u naquele momento, fiz o
esfor?o com a vis?o e l? estava o pontinho, que ? muito fugaz, rodeado do mar azul do c?u. O
c?rebro d? prefer?ncia ao mar azul, temos de focar a vista e mal
fazemos um piscar de olhos V?nus desaparece. Continua l?, mas o c?rebro ? que constr?i a imagem e aquele ? um pixel "estragado", para utilizar linguagem de hoje. Temos de fazer um esfor?o, n?o ? f?cil. Essa foi a primeira vez que consegui. ? uma coisa
espectacular.
E qual foi a outra experi?ncia que reteve? Ver a Gal?xia de Andr?meda sem
aux?lio de qualquer aparelho. Poder olhar para o c?u e ver que est? ali um objecto nebuloso. A nossa lente de entrada, que ? a pupila, ? pequena de mais para
ver detalhes, mas percebe-se que h? ali algo difuso e que tem uma certa extens?o. Tamb?m marca a
pessoa.
O c?u do Chile ? mesmo
especial? ?. E a? est?o quest?es t?cnicas. Quem gasta milh?es num telesc?pio quer escolher um local que garanta a maior quantidade de noites limpas por ano e a qualidade de imagem que a atmosfera d?. Em geral pensa-se na polui??o luminosa, mas esse
n?o ? o ?nico par?metro. Outro, mais importante, ? que a atmosfera treme. Uma cidade, uma localidade, ? uma bolha de calor que aquece a atmosfera por cima. Ao passar numa estrada quente, olha-se atrav?s do calor e aquilo treme tudo. A cidade pode
apagar as luzes, mas o calor est? l?. A imagem pontual da estrela passa a ser um borr?o de luz. O Chile junta os dois factores: muitas noites limpas por ano e uma qualidade de c?u
excepcional. O c?u perfeito? O c?u perfeito.
Passou a inf?ncia em Mo?ambique. Onde ? que come?a este interesse pelos
astros?
A resposta ?: n?o sei. Existe um gosto pela ci?ncia, desde mi?do.
As coisas que eu gostava de ler, a fic??o cient?fica, as disciplinas ligadas com a ci?ncia... E depois tinha um pai que trabalhava nas electr?nicas, no aeroporto de
Louren?o Marques, hoje Maputo, e era um entusiasta da ida ? Lua
(ele delirava com aquilo) e da astronomia. Comprou uma luneta. Punha-se a luneta no
telhado da casa, a apontar para o c?u. Era um fasc?nio. Que idade tinha quando
pisaram a Lua pela primeira
vez?
Estava quase a fazer 11 anos. De que ? que se lembra? De ler os jornais. Mo?ambique n?o tinha televis?o e, por isso, eram os jornais e a r?dio. N?o integra os milh?es que assistiram em directo?
N?o, mas lembro-me de seguir desde a Apoio 8 (? de Dezembro do ano anterior). A NASA estava a fazer lan?amentos consecutivos,
as descri??es apareciam nos jornais. E eram muitas. Havia as infografias explicativas do que
estava a acontecer, as traject?rias das naves ? volta da Terra e da
Lua, quando ? que a nave ingressava numa traject?ria a caminho da Lua, depois quando ? que o m?dulo lunar se desprende do m?dulo de comando para voltar a prender ? frente (essa manobra tinha de ser feita). Era
dia ap?s dia. Estava ? espera dos jornais para ver o que ia acontecendo.
N?o assistiu ? chegada dos astronautas ? Lua. Acha que ainda vai ver a chegada a outro s?tio igualmente estonteante? Ou pensa: j? n?o vai ser no meu
tempo? N?o, n?o ?, porque a Lua ? j? ali e Marte n?o ?.
Tr?s dias para l? e tr?s dias
para c?, como j? tem dito?
?. Dependendo da dist?ncia entre a Terra e a Lua naquele momento, mas anda por a?. Numa semana, est? feito. O resto n?o ? assim.
Mesmo para Marte, se fizer a
?rbita dita de menor energia, isto ?, aquela que precisa de menos combust?vel, ent?o s?o oito
meses. Oito meses para l?, oito meses para c?, mas n?o pode sair de l? quando quiser. J? n?o bastam oito meses?
Exactamente. Eles [os dois
planetas] s? ficam alinhados em posi??es boas para fazer esta ?rbita de menor energia a cada 25
meses. Ir requer muitas toneladas
de suporte de vida: a ?gua para beber, o ar para respirar, todos os
equipamentos auxiliares, a comida. Neste momento n?o
existe tecnologia capaz de o fazer, nem vai haver durante os
pr?ximos 30 ou 40 anos, arrisco-me a dizer. Para n?o
obrigar a levar toneladas de ?gua
exige um sistema de purifica??o excepcional; para n?o ser preciso mais oxig?nio, h? que garantir
que se consegue reaproveitar tudo e fazer ciclos de reutiliza??o. J? para n?o falar do que ? escolher pessoas capazes de aguentar estar dois anos perdidas no espa?o. Existe o romanticismo de que j? amanh? vamos chegar a Marte.
Chega-se l? e regressa-se, como se
se fosse para a Lua, mas isso, hoje em dia, ? romance puro e duro.
N?o tem, portanto, planos para comprar l? uma casa? J? comecei a fazer, mas vou deixar
para os bisnetos dos bisnetos.
A prop?sito dos 50 anos da viagem da Apoio 11, um dos assuntos deste Ver?o foi
referido como, ao fim de algum tempo, a Lua deixou de ser interessante para a popula??o em geral. As pessoas
cansaram-se?
Foi, foi. Isso aconteceu com a Lua.
Foi um feito extraordin?rio, mas
as pessoas que n?o est?o envolvidas com o programa reagem dessa maneira. Acontece que ningu?m conseguir? ir para Marte sem passar pela Lua. Essa ?
que ? a quest?o... O renascer do interesse pela Lua tem tudo que ver com Marte? ? indissoci?vel?
?. A ?nica coisa que ? l?dica,
aqui, envolve a Space X. O Elon
Musk j? tem um foguet?o capaz de
ir ? Lua. Tem uma tecnologia que
mais ningu?m neste momento
domina. O Falcon Heavy ? capaz
de, por um pre?o barato, dar
umas voltas ? Lua (n?o ? pousar),
com turistas, fazer umas "selfies"
com a Lua l? atr?s e regressar.
Como aquelas voltas de
helic?ptero nalgumas cidades?
Isso ? uma coisa que ele
->
ser? capaz de fazer em pouco tempo. Mas a Lua n?o ? para abandonar. Para al?m de pensar nela como entreposto para ir mais longe, a NASA lan?ou, no in?cio do ano, um desafio a uma s?rie de
empresas: vamos explorar a Lua, e as firmas devem ter interesse
nisso. Isto n?o ? mais para pagar totalmente com os impostos. Est?o v?rias firmas envolvidas, a
ver como podem aproveitar este projecto para realizar dinheiro. E isso ir? movimentar esta m?quina toda.
Fazer dinheiro a partir da Lua pode significar coisas muito
diferentes?
Pode. A mais simples ? dizer que vou buscar rochas da Lua e vendo
aqui na Terra. S? porque s?o da Lua. Durante uns anos, dar? lucro.
Como os peda?os do Muro de Berlim?
Bocadinhos de rocha valer?o
muito. A venda de terrenos na Lua...
... um barrete tremendo...
...j? rendeu milh?es de d?lares
a quem teve a ideia e a registou. Cada hectare custa 25
euros...
H? uns anos, esteve muito na moda pagar para dar o nome a uma estrela. Havia firmas que diziam: agora aquela estrelinha, que voc? n?o v? o olho nu, tem o seu nome. D?o essa "alegria" ?s pessoas, mas o nome n?o ficar? para a hist?ria das estrelas.
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Existe o romanticismo
de que j?
amanh? vamos chegar a Marte.
Chega-se l? e
regressa-se,
como se se fosse
para a Lua,
mas isso, hoje em dia, ?
romance puro eduro
Ningu?m
conseguir? ir para Marte
sem passar pela Lua
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A guerra ? a m?e de muitas
coisas O medo
do inimigo
sempre foi um
catalisador de
vontades para financiar
projectos car?ssimos
A Guerra do
Golfo foi a primeira guerra do
espa?o, mas s? um dos lados tinha o poderio dos sat?lites
Voltando ao potencial de neg?cio da Lua... Poder? ser tamb?m fazer
minera??o para explorar qualquer coisa que geologicamente seja mais interessante na Lua. Fala-se nisso,
por exemplo, em rela??o a aster?ides; ir minerar aster?ides
ricos em qualquer coisa, para vender min?rio que comece a ser escasso no planeta Terra. O custo de minerar num aster?ide ?
alt?ssimo, mas se o pre?o desse min?rio na Terra subir muito, essa minera??o poder? ser rent?vel. E depois h? toda a parte de desenvolvimento tecnol?gico. Firmas das biom?dicas est?o a
fazer coisas na ISS [Esta??o Espacial Internacional], em microgravidade. Se fizer um laborat?rio permanente a pre?o decente, poder? vender o servi?o a outras entidades.
Para coisas de que depois podemos beneficiar, desde logo na medicina?
Pense que isto "come?a" com o programa Apoio para ir ? Lua. Quando a Apoio 11 pousou na Lua,
apareceram an?ncios, nos jornais, de firmas a dizer que estavam associadas. Uma que
fazia fibras de vidro indicava que constru?a a parte exterior do fato dos astronautas. A IBM p?s um an?ncio a dizer: somos uma das
20 mil empresas que permitiram a chegada ? Lua. Vinte mil
empresas!
Se tivesse de convencer um leigo da utilidade da
explora??o espacial, que argumentos usaria? H? tanta coisa que parece t?o ?bvia, t?o essencial e priorit?ria em termos de investimento...
Como ? que se argumenta que esta ? uma batalha que vale mesmo a pena?
A quest?o ?: se n?o houvesse a aventura do espa?o, as tais 20 mil empresas n?o desenvolveriam aquelas tecnologias, das
telecomunica??es ao hardware, que as condi??es do espa?o exigem: radia??o extrema, varia??es de temperatura
enormes, etc. E isto entra directa ou indirectamente no circuito
comercial, porque se desenvolvem novos m?todos de
fabrico, novas tecnologias ou m?todos de explora??o que depois se aplicam aos canais com liga??o ? sociedade do dia-a-dia e que vendem para o mundo todo. Isto ? de um valor extremo, porque d? um salto tecnol?gico a uma na??o. A chegada do homem ? Lua ? uma revolu??o. Tem havido
entretanto pequenas revolu??es ou o avan?o mede-se de outra forma?
A aventura do espa?o abriu fronteiras que n?o existiam. Existiam ideias. A Guerra Fria
levou a um desenvolvimento
acelerado da componente do espa?o. A guerra ? a m?e de muitas coisas. O medo do inimigo sempre foi um catalisador de vontades nacionais para financiar projectos car?ssimos. Vimos a utiliza??o do espa?o a ter impacto directo na nossa vida, por exemplo nas telecomunica??es. A constela??o de sat?lites Iridium permitia ter um telefone que comunicava em qualquer ponto do mundo. Era um telefone
grande, com antena grande, car?ssimo, mas justificava-se numa s?rie de ambientes de
trabalho, ou de guerra. Tamb?m serviu para distribuir sinal de televis?o com os sat?lites
geoestacion?rios (tivemos o
tempo das antenas parab?licas
nos telhados).
A outra quest?o ? a an?lise da Terra. Os sat?lites que a
monitorizam, que a fotografam em todos os comprimentos de onda, permitindo saber o deslocamento das grandes massas, os aluimentos, incid?ncia
dos fogos, tempestades, as temperaturas, as humidades...
? ao tentar conhecer o espa?o que se ganham instrumentos para conhecer a Terra? Ou para analisar a superf?cie do oceano. O sat?lite apanha-lhe uma
grande ?rea. ? crucial. Ora, essa tecnologia aparece por causa do
espa?o.
Em Julho deste ano, o Presidente franc?s anunciou a cria??o de um comando militar
do espa?o. E a NATO quer reconhecer o espa?o como dom?nio de guerra. A guerra do espa?o?
H? v?rias facetas a?. Nos anos 80, Reagan lan?ou o programa Guerra das Estrelas. Os sovi?ticos tinham
desenvolvido m?sseis
intercontinentais, cada vez mais poderosos e mais r?pidos. Era preciso um sistema que os detectasse o mais cedo poss?vel e os abatesse enquanto ainda estavam a subir. Isto exigiu o desenvolvimento de uma s?rie de
sat?lites-espi?es. Os americanos montaram, do
lado do Alasca, os sistemas de
radares e telecomunica??es para detectar os primeiros lan?amentos que fossem feitos. Tinham bombardeiros B-52 a voar
24 horas por dia, porque sabiam que o primeiro lan?amento seria feito para abater esses postos fronteiri?os de detec??o. Este era o ambiente da Guerra Fria. J? tinha amolecido, mas a guerra das armas, de melhorar a tecnologia das armas, n?o abrandou. A quantidade de armas constru?das diminuiu, fizeram l? uns
protocolos... Para dosear...
Sim, mas o desenvolvimento
tecnol?gico continuou, e com armas cada vez mais r?pidas, para n?o serem travadas pelo inimigo. ? neste ambiente que aparece a tal Guerra das Estrelas. A
tecnologia de telesc?pios que agora utilizamos em astronomia ? desenvolvida pelos militares americanos. Qual era o problema que eles tinham, de que j? fal?mos? Para ver um m?ssil
intercontinental a alta velocidade, h? um telesc?pio a segui-lo para marc?-10. O m?ssil hipers?nico que o vai abater n?o pode passar ao lado, tem de acertar naquele cilindro de dois metros de
di?metro. Isto ? muito
complicado, quando a imagem da atmosfera treme para a esquerda e para a direita. Necessitam dessa precis?o... Os militares americanos
inventaram a ?ptica activa, porque precisavam de estabilizar a imagem. Funciona assim: se a
turbul?ncia atmosf?rica puxa a imagem para a esquerda, no plano focal, orienta-se o espelho para desfazer esse movimento. Isto ? feito ? frac??o do segundo e a imagem fica parada, o que permite guiar o m?ssil que explodir? o outro. Paralelamente, assistiu-se ao desenvolvimento
das armas de laser nos anos 80.
Isto n?o ? de agora, come?ou na guerra do espa?o dos anos 80. N?o tem sido abandonada, mas
sim continuada. As armas est?o
cada vez mais perfeitas. O que ? que est? em jogo, nos dias de hoje? Temos os sovi?ticos e os chineses
a anunciar os m?sseis de
hipervelocidade e h? m?sseis para a terra e mar, para o ar e para o espa?o. Abat?-los ? complicado. Os americanos tiveram at? h? uns
anos m?sseis hipers?nicos de longo alcance que abatiam outras naves e eram lan?ados dos Fl4. Deixaram de faz?-los e agora s? t?m os de m?dio alcance. Mas
depois de os sovi?ticos e os chineses anunciarem este
desenvolvimento, parece que os EUA voltar?o a constru?-los. O
espa?o est? envolvido tamb?m, mas ? com as armas de laser,
ultra-r?pidas, de alt?ssima precis?o no tiro.
A Guerra do Golfo foi a primeira guerra do espa?o, mas s? um dos lados ? que tinha o poderio dos sat?lites, de dialogarem com os avi?es e com os homens em terra.
Se hoje houver uma guerra de grande escala, com duas pot?ncias militares, ela ser? feita nestes tr?s n?veis: o espa?o, o ar (n?vel interm?dio) e o solo/mar.
Tudo isto estar? em guerra. No espa?o haver? sat?lites a abater sat?lites. Da? ser importante p?r ordem no territ?rio?
Por exemplo, ao abater 16 sat?lites da constela??o GPS, Glonass ou Galileo, a obten??o de coordenadas diminui a precis?o e o m?ssil j? n?o cai no s?tio certo. Isto ser? a primeira coisa que o inimigo far?. A guerra come?a pelo espa?o. O que as na??es
est?o a fazer ? estabelecer o que ? o seu territ?rio do espa?o, onde n?o h? fronteiras.
Por isso ? que a palavra utilizada ? "dom?nio"?
?, ? o dom?nio do espa?o. Neste momento, n?o h? fronteiras no
espa?o, as ?rbitas dos sat?lites passam em todo o lado. Ora, ? preciso dominar o que est? ali por cima. Ningu?m conseguir? controlar tudo, mas ter? de destruir os outros sat?lites...
Passando para a guerra de palavras, h? precisamente um ano discutia-se a mudan?a da hora, depois de a Comiss?o Europeia ter anunciado o prop?sito de acabar com ela. ? o autor de um relat?rio
cient?fico que defende exactamente o contr?rio e que deu origem a um aceso debate.
Surpreenderam-no as reac??es, intensas, a veem?ncia das posi??es? N?o, porque ? tradicional isso acontecer todos os cinco anos
[quando s?o fixados o in?cio e o termo dos per?odos da hora de
Ver?o] .
H? ? mais coment?rios online, por exemplo, e as coisas t?m outro tipo de eco?
? mais isso. Tem-se notado que esses grupos que advogam uma certa posi??o, seja este caso ou outro qualquer, t?m meios de veicular as suas ideias, que chegam facilmente a um p?blico muito vasto. Isso n?o teria tal
impacto h? 10 ou h? 15 anos, porque a sociedade era mais fechada. Veja como ? que se fazia pol?tica h? 15 anos: imprimiam-se
panfletos, ia-se para a rua, faziam-se com?cios, etc. Agora n?o ? assim: h? grupos nas redes sociais e a coisa dispara... Com a super-Lua ? igual? ? a mesma coisa.
As fotografias, aquela excita??o toda... Mudou assim tanta coisa na Lua?
Nada, ? s? porque ? giro. Mudou o tnarketing, h? mais
tnarketing? Exactamente. A quest?o da
mudan?a da hora, em particular, tamb?m est? associada a uma
certa corrente, que ficou mais popular, que diz que, se n?o dormirmos bem, ent?o ficamos com a vida estragada, por completo. ? um extrapolar de uma quest?o que a humanidade, na pr?tica, n?o segue. Se a segu?ssemos, n?o andar?amos a fazer turnos esticados de trabalho
ou de outras actividades.
N?o trabalh?vamos 12 horas
por dia...
Nem far?amos f?rias na Tail?ndia, porque o voo at? l? teria um impacto muito negativo no ciclo circadiano. N?o ir?amos em
trabalho ? Alemanha, porque ficar?amos desregulados uma
s?rie de dias, e a viagem de tr?s
dias seria improdutiva, etc. A sociedade n?o funciona desta
maneira. Isto sai do corpo, mas a sociedade est? a preferir viver deste modo. Se quis?ssemos ter a hora legal pr?xima do sol, isto ?, quando as 12h00 de rel?gio coincidissem com o instante mais
alto do sol, ent?o ter?amos o sol a nascer ?s 4h30 e a p?r-se ?s 19h30 no 21 de Junho. Algu?m quer isso? Quem ? que iria trabalhar ? 4h30? Temos tradi??o disso? N?o. Desde
1911 o povo portugu?s j? experimentou v?rios regimes de hora e h? apenas um que colheu as prefer?ncias destes milh?es de pessoas que t?m vivido em Portugal: o regime actual. Uma das experi?ncias mais recentes foi nos anos 90. N?o se mudou para a hora de Inverno, havia luz at? bem mais tarde...
Cavaco Silva seguiu uma ideia que era (e ainda ?!) muito comum: acredita-se que a nossa economia melhorar? muito, e o bem-estar
do pa?s tamb?m, se formos para a hora de Bruxelas.
O Governo portugu?s actual manteve uma posi??o favor?vel ? continua??o da mudan?a de hora...
Manteve, mas isto ? uma decis?o
europeia.
A fiscaliza??o da hora legal, da compet?ncia do Observat?rio Astron?mico de Lisboa, ? outra
coisa?
Isso ? outra coisa. A quest?o da reformula??o das compet?ncias e infra-estrutura da Hora Legal
Portuguesa foi passada h? mais de dois anos a este Governo, porque a Uni?o Europeia exige um servi?o com granularidade no tempo ao microssegundo, atrav?s de uma directiva relacionada com
os mercados financeiros. Isto
implica mudar a legisla??o, criar uma nova estrutura, adquirir equipamentos para o nosso lado e clientes que t?m de se adaptar.
O que implica j? um tipo de
afina??o... ... muito grande com os mercados financeiros nacionais e
internacionais, para todas as firmas que trabalham. A proposta estruturada foi dada ao Governo, cham?mos ? aten??o, propusemos uma solu??o que envolve diversas entidades no
pa?s, com diferentes
compet?ncias. E?
Ainda n?o h? resposta alguma. O que se diz da influ?ncia astral em n?s ? inven??o? Total! Uma das mais engra?adas, e em que as pessoas ainda acreditam, ? que nascem mais beb?s com a Lua Cheia. Qual ? a ci?ncia por tr?s disso? Ci?ncia no sentido de: ? uma lei da natureza
ou n?o ?? H? uns anos, peguei nas datas de nascimento de 39 mil
alunos aqui da Faculdade de Ci?ncias da Universidade de
Lisboa. Atribu? ? sorte uma hora
de nascimento, de zero a 24, com probabilidade id?ntica para todas as horas e minutos do dia. Fiz
uma estat?stica, fiz outra e calculei o dia lunar que correspondia ao dia de nascimento de cada pessoa.
O que ? que deu? Ser? que estatisticamente nascem mais
pessoas na Lua Cheia? N?o! Porqu?? Porque n?o h? raz?o
baseada em lei f?sica alguma para que isso aconte?a. ? uma inven??o pura. O que existe ? a predisposi??o das pessoas para acreditar nesta coisa, e s? isso. Pode-se argumentar de outra maneira: se isto acontecesse mesmo, por ser uma lei da natureza, ent?o desde h? muitos milhares de anos que a humanidade o saberia, sem sombra de d?vida alguma. E qual o resultado disso no governo dos
hospitais?
Refor?o de equipas? Imediatamente. Toda a gente faria a escala do servi?o, num hospital, em fun??o da Lua Cheia. Algu?m faz isso? N?o. Fa?am a estat?stica de nascimentos no pa?s todo e concluir?o exactamente o
mesmo: os nascimentos est?o uniformemente espalhados em todos os 29,5 dias lunares.
barbara.simoes@publico.pt
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