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[Pages:75]Saga de Antadora

De: Jo?o Asseiceiro

SAGA DE ANTADORA ? MANEIRA DE PREF?CIO Aos guerrilheiros - Da Luta armada de Liberta??o Nacional de Mo?ambique - Que cumpriram o dever militar por imposi??o e honraram Portugal - ?s suas fam?lias Aos leitores Pode parecer-lhes estranho que de todas as hist?rias que ouvi contar em Cabo Delgado ? beira dos m?ticos Rios ? Muera, Messalo, ou Lago Ngouri, tenha escolhido Antadora da fam?lia Muera, para a ligar ao Chefe local Oasse, que deu depois o nome ao Largo do "A?o". Onde uma folha ao mover-se motivava uma rajada de metralhadora, hoje trabalham, vivem, estudam milhares de Mo?ambicanos e Mo?ambicanas. Um escrito que remonta desde os dias da I Guerra Mundial em Mo?ambique, e a premoni??o dos ventos da liberdade, protagonizada pelo Alferes Craveiro Lopes, o qual nas margens do Rovuma viu morrer camaradas de armas brancos e negros; Trinta anos depois Presidente da Rep?blica Portuguesa, regressou a Cabo Delgado; at? ao Primeiro Presidente da ent?o Rep?blica Popular de Mo?ambique Samora Mois?s Machel ? homenageando aqui a mulher mo?ambicana na pessoa de Josina Machel ? personalidades que me atraem de tal maneira, que vou dar largas ? verdade INTEGRAL no Cap?tulo XII e ? imagina??o nos restantes, o contarei a meu modo, baseado na verdade dos factos, na viv?ncia directa de Norte a Sul do novo Pa?s, no fasc?nio de ?frica e de Mo?ambique, no ano das celebra??es da Independ?ncia Nacional. As fronteiras de hoje, globais ? escala planet?ria, s?o piores e mais selvagens que nunca. Por isso, ? bom que se saiba que em Portugal e Mo?ambique existe entre o povo a convic??o de que as velhas fronteiras s?o uma coisa muito remota, apenas contida em hist?rias cheias de preconceitos e ju?zos de valor, acerca do que era melhor e agora pior ou vice-versa.

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Quando penso nisso, lembro-me imediatamente do 1? sargento GE Joaquim Sual?, com express?o iracunda e de punhal na vertical para suportar a queda do corpo da crian?a que a outra m?o tinha elevado ao ar.

Quando penso nisso, lembro-me imediatamente do enorme Tivane, prot?tipo do negro ou branco, sentado em atitude pensativa, com a cabe?a toda ligada, os olhos exprimindo ?dio pelos guerrilheiros de qualquer dos lados que o atingiram numa emboscada.

Dum lado e doutro, os pr?prios ou os descendentes, s?o um grupo de estranhos e incompreendidos portadores da hist?ria de Mo?ambique, cuja mata ? mais do que uma imensa estepe verde.

Foram e s?o ? eles e elas, que ao abandonarem os seus lares, nunca experimentaram um minuto de sossego ou sono tranquilo, at? se ter cumprido o imperativo legal e afectivo de devolver Mo?ambique aos Mo?ambicanos.

Com suor, p?lvora, ferro, sangue, fome, sede: E com muito amor feito. Agora, ontem, hoje, amanh?, pela m?o dum providencial europeu Jos? Arruda, o competente Juma aos comandos duma vetusta mas resistente Toyota Coaster assessorado pela disciplina t?ctica do Rato, ao ?rf?o da guerra civil mo?ambicana o esfor?ado carregador Agostinho, com todos os seus defeitos e qualidades, com ou sem apoios estatais, os guerrilheiros de ambos os lados, solid?rios, ser?o sempre lembrados percorram ou n?o os antigos cen?rios de guerra ? em paz, sem minas nem emboscadas. E porque respeitar os l?deres acima citados ? honrar o povo que os segue, Muera e Oasse ? m?ticos seres do planalto que lado a lado conviveram com o sofrimento, a morte, a guerra, a fome e a sede e tal como milhares de reais mo?ambicanos e portugueses, devolveram Mo?ambique a Mo?ambique, e Portugal a Portugal, aqui se elevam ao mesmo n?vel.

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ROTAS MAR?TIMAS E A?REAS (I) O aeroporto militar de Figo Maduro era e ? um conhecido ponto de partida e de chegada de diversas guerras, anexo ao da Portela, este (na ?poca da guerra colonial) para quem tinha dinheiro para vir de f?rias ? Metr?pole, foi agora utilizado no regresso a Mo?ambique. Naquele, nos idos de 4/12/1974 finda a Comiss?o de Servi?o Militar por imposi??o em Mo?ambique o choque da temperatura de Inverno em Lisboa, contrastou com a amena temperatura tropical da ex-Louren?o Marques, onde cerca de doze horas antes, tinha descolado, ao transpor a porta da aerogare, prometeu a si pr?prio regressar. Foi preciso passarem trinta longos anos para que o Jo?o e a Manuela transportados pelos filhos Ricardo e Cleide, chegassem ao Aeroporto da Portela integrando-se num grupo de ex-combatentes e familiares rumo a Maputo, Cabo Delgado e Nampula; desconhecidos entre si, cedo se identificaram com os companheiros face ? multiplicidade de motiva??es, fossem elas do Turismo ? Miss?o, do Lazer ? Terap?utica, da Aventura a Estudos de Mercado... Longe iam os tempos de inf?ncia e adolesc?ncia do Jo?o, quando no Entroncamento, promissora vila ribatejana fervilhante de gente, ? beira da linha do caminho de ferro, os comboios idos e destinados de Norte a Sul, passaram a partir dos anos sessenta em que os militares algazarreavam os gritos de passagem ? "peluda" a um sil?ncio algo misterioso. Porque seria, que se deixaram de ouvir os militares que agora iam no interior das composi??es, silenciosos em direc??o a Lisboa? A pouco e pouco as coisas foram evoluindo nos jornais e na televis?o, e chegava a ideia que os militares portugueses passaram em ?frica a estar envolvidos em guerra. Na Escola, os desenhos e fotografias dos livros de hist?ria mostravam Gungunhana e Mouzinho, e o tal fasc?nio de ?frica e das Africanas nas suas vestes tradicionais ou despidas como nunca se via na Europa, iniciavam a atrac??o pelo desconhecido. ? verdade que a como??o dos adultos e as hist?rias dos militares que regressavam encaixotados e nos funerais, a guarda de honra e as salvas de tiro contrariavam a atrac??o pela aventura africana, mas a vez do Jo?o chegou com a marcha inexor?vel do tempo. E se o tempo passa depressa! O Mote foi dado pelo chefe de grupo e organizador Jos? Arruda, quando recomendou que chegados a Mo?ambique, as Doa??es deveriam ser feitas na m?o, em atitude frontal de

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igual para igual, e nunca arremessadas para os magotes de crian?as que ir?amos encontrar nas diferentes aldeias, vilas e cidades.

Ao sobrevoar o Continente Africano, a admir?vel e extensa paisagem do deserto SubSariano parecia antecipar a chegada.

Mavalane, aeroporto de Maputo e as inerentes formalidades de fronteira evidenciavam que est?vamos noutro Pa?s; o controle de bagagens - bagagens essas ? sa?da arduamente disputadas pelos carregadores a fazerem jus ao termo "desenrasca" que caracteriza a economia paralela que predomina; ("desenrasca" ? uma heran?a muito portuguesa que ficou) mas como o Hotel ?bis providenciou com efic?cia o transfer, poucos minutos depois, est?vamos instalados com todo o conforto e seguran?a, perto da antiga Rua Ara?jo, das fant?sticas noitadas de Louren?o Marques.

Em Mar?o de 1915 d?-se a declara??o de guerra entre Portugal e a Alemanha, pelo que receando-se um ataque a Mo?ambique vindo da col?nia alem? do Tanganica (Malawi), ? organizada uma expedi??o a Mo?ambique sob o comando do Coronel Moura. Dessa expedi??o faz parte

- Alferes Monteiro. ? chegada a Louren?o Marques, este recebe um estandarte bordado pelas senhoras, para o conduzir como porta-estandarte da expedi??o. O comando, recebe ordem para tomar Kionga, uma pequena faixa de territ?rio junto ? Baia do mesmo nome a sul do rio Rovuma, que tinha sido ocupada ? for?a pelos alem?es em 1894 Regressemos ? viagem dos ex-combatentes, os quais no dia seguinte, bem cedo, depois dum lauto pequeno-almo?o, de novo ao aeroporto de Mavalane em direc??o a Pemba, antiga Porto Am?lia. A actual LAM ? Linhas A?reas de Mo?ambique, distribuiu bon?s a todos os passageiros desse voo, pois comemorava o 25? anivers?rio em 14/5/2005, com um servi?o de bordo a dar " me?as " a qualquer Companhia de Avia??o Europeia, propiciou que admir?ssemos dumas vezes o fant?stico interior ? doutras, a magn?fica Costa Mo?ambicana, sucedendo-se Bazaruto, Beira, Quelimane, escalando depois Nampula das montanhas, para rapidamente chegarmos ? denominada P?rola do ?ndico, PEMBA.

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O Il?dio, do alto dos seus quase 2 metros de altura, cedo reconheceu no terra?o do Aeroporto o condutor do vetusto mas impar?vel autocarro Toyota Coaster, pelo que da pista gritou com o seu vozeir?o: JUMA! Recebendo de imediato a resposta com gritos de contentamento n?o s? do Juma, como tamb?m do Rato transportador e respons?vel pelas bagagens no tejadilho, e do Agostinho que assumiria o trabalho de carregador e acompanhante atento, nomeadamente nos momentos mais dif?ceis de compra de meticais em condi??es vantajosas.

? que o Il?dio, no ano anterior tinha j? percorrido Cabo Delgado. Por agora, ? Beira do Oceano ?ndico no Complexo Nautilus, o desfrute do conforto a contrastar com as dificuldades econ?micas e sanit?rias que grassam num Pa?s em reconstru??o, ? ainda com sequelas da Guerra Colonial e da Guerra Civil terminadas, mas em paz total.

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MARGENS DO ROVUMA (II) O Alferes Monteiro executa a ac??o com sucesso sem encontrar resist?ncia, por retirada do inimigo. Estabeleceram-se ent?o v?rios postos de observa??o ao longo do rio Rovuma, a partir dos quais se faziam reconhecimentos em territ?rio hostil. Nestes reconhecimentos tornou-se not?vel a sua ac??o no contacto com o inimigo, sustentando vivo combate com intrepidez digna de louvor. Monteiro, comanda o servi?o de reconhecimento e observa??o e mais uma vez ? ele que primeiro troca tiroteio com o inimigo, e f?-lo de tal forma que mereceu os maiores louvores. Infelizmente o comandante do destacamento ? morto por fogo inimigo e as for?as tiveram que voltar para Newala, sob o comando firme e sereno do Alferes. N?o sabia qual o som que tinha ecoado primeiro. O barulho dos disparos ou os gritos lancinantes dos feridos? Qualquer que fosse a resposta, n?o esperou por mais nada e deu logo um salto. Agarrou na Mauser e saiu a correr da sua pequena tenda de tr?s panos para o meio da clareira na floresta. Dos enormes tufos de vegeta??o que rodeavam a ?rea, estavam a sair alem?es de arma na m?o mas tamb?m francamente assustados. Monteiro tinha na cabe?a o pequeno bon? de oficial do ex?rcito e aproximou-se de um batedor nativo. ? Alem?es por todo o lado, ouviu sem que tivesse chegado a perguntar. O jovem nativo mal podia falar. ? Com c?es! Quantos eram? ? Muitos! Acertaram em dois soldados e no comandante! O erro j? n?o se podia evitar, tinha de sair dali j? com os seus homens. A acrescer ? forma deficiente como foram organizadas as expedi??es pelos comandos na Metr?pole, nomeadamente a falta de rendi??o das tropas doentes, as faltas de abastecimentos e medicamentos, e os transportes para suprir as necessidades das tropas, Tamb?m nos anos sessenta e setenta, o planeamento era deficiente, O que tornava in?til ou quase in?til todo o esfor?o desprendido nestas gloriosas ac??es: Newala foi cercada de novo pelos alem?es e as tropas Portuguesas tiveram que retirar por falta de efectivos, falta de muni??es, falta de mantimentos e devido ?s doen?as que grassavam entre os sobreviventes. N?o era uma guerrilha, mas o terreno j? o sugeria. Anos mais tarde, a guerrilha foi o meio de luta armada de liberta??o nacional de Mo?ambique.

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J? no princ?pio do s?culo XX Macuas e Macondes trabalhavam arduamente com os militares portugueses; a Norte de Mo?ambique lutava-se em conjunto pela liberdade contra o invasor alem?o, no Sul o Capit?o Mouzinho de Albuquerque e o R?gulo Gungunhana, tinhamse travado de raz?es. As guerras t?m sempre destas l?gicas!

A av? da Mina, de nome Taoala, estava na praia em Moc?mboa a ensacar as sapateiras pescadas, quando um enorme barco aportava ao largo vindo do mar alto, um barco estranho, diferente dos grandes paquetes que de vez em quando se vislumbravam no horizonte a pouco e pouco as gentes da vila vieram para a praia, murmurando ainda mais quando um pequeno bote descia do conv?s seguido do lan?amento duma escada de corda pela qual desceram seis militares, pelo que o povo se aproximou mais do passadi?o que servia de cais onde pouco depois entraram os militares armados at? aos dentes.

Entretanto, o administrador chegava montado a cavalo. A frente dos militares vinha um oficial, logo cumprimentado pelo Administrador, que seguiu com eles numa galera at? ao posto administrativo. O terreno diversificado em termos geol?gicos, argilo- arenosos onde a floresta se adensava, a parecerem as forma??es calc?rias da Metr?pole onde a floresta se adensava. Nos vales apertados onde aflorava a humidade era muita savana e capim a acentuar os mosquitos e o calor. O capim ro?ava-lhe no rosto ? medida que ele avan?ava, suando, para a torre de transmiss?o cuja silhueta de madeira j? vislumbrava; as palhotas de bambu que alojavam os soldados de infantaria e, por tr?s disso, as sombras esbatidas de algumas palhotas da aldeia. A partir de certa altura sempre de rastos, fez sinal aos militares que o seguiam para que parassem. - Devagar e em sil?ncio, rapazes ? murmurou, dando assim in?cio ? opera??o. Num abrir e fechar de olhos, os homens lan?aram-se e confundiram-se com o campo de mandioca que rodeava a entrada principal para a torre. Na manh? desse dia, uma chuva persistente tinha inundado a plan?cie tornando-a num p?ntano f?tido, e obrigando-os a terem especial cuidado para que os seus corpos, num rastejar r?pido, n?o fizessem o mais ligeiro ru?do. A trinta metros da entrada, o grupo que tinha por objectivo arranjar sarilhos aos alem?es, estava pronto para

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atacar a torre de transmiss?o, que servia todos os grupos de combate inimigos a operar nas margens do Rio Rovuma.

Esmagando um mosquito que acabava de lhe picar no ombro, Castilho estudava a ?nica sentinela de guarda ? entrada. Quase que via o rosto insens?vel do alem?o por baixo do seu elmo oval. ? De repente ouviu-se um ru?do. O alem?o tamb?m o ouviu e virou imediatamente a sua arma para a planta??o de mandioca. Instintivamente os portugueses enterraram o rosto na lama e Castilho encostou-se mais ao ?spero capim. ? Que diabo vem a ser este barulho? Interrogou-se a sentinela; levantou a cabe?a deu com os olhos num gato. Riu-se descontraindo. Castilho ao ver isto pensou: Est? a viver os ?ltimos momentos. Passado algum tempo, o ind?gena afecto ao alferes Castilho acertou-lhe com uma seta conforme planeado, seguindo-se o assalto ao fortim completamente de surpresa.

Nesta altura quem diria que atitudes similares se repetiriam muitas vezes durante a guerra do Ultramar?

- Se estes tipos se mant?m atr?s de n?s n?o temos muitas possibilidades. Disse Monteiro para si pr?prio. O suor escorria-lhe pelo rosto queimado do sol enquanto tentava n?o deixar pistas ao inimigo. Queria atravessar o Rovuma, mas s? havia um processo: trocar os caminhos aos alem?es. J? conheciam melhor a floresta desde os reconhecimentos pelo que podiam usar essa vantagem para os enganarem e surpreender. De repente parou, ? Agrupemse atr?s de mim, e sigam-me! Embrenharam-se no meio duma planta??o de palmeiras. Quando sa?ram do outro lado, estavam no meio de nova clareira. Com Monteiro sempre ? frente andaram mais de meia milha at? ao seu t?rminos. ? sua volta, os bambus cresciam entrela?ados com v?rias plantas espinhosas. Sentiu que uma se enterrara no seu bra?o, por onde corria um fiozinho de sangue. Um calor insuport?vel fazia o suor correr em bica e quase se tornava imposs?vel respirar. Mas sabia que todo esse desconforto seria muito pior se os alem?es lhes ca?ssem em cima. Avan?aram um pouco mais para o interior da floresta. Por fim, deram com um pequeno curso de ?gua na qual entraram imediatamente, mas seguindo em direc??o oposta ?quela em que tinham vindo.

? A meio do caminho parou para explicar: Eles v?o seguir-nos. Como n?o encontram as nossas passadas do outro lado da ?gua v?o voltar por onde vieram. Agora com uma excep??o.

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